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O pedagogo Freinet era, nesse sentido, um político. Sua contri-
buição específica foi ter querido implantar o materialismo histórico
no contexto da sala de aula. A renovação do ensino, indispensável
para a libertação do homem, não se dá mediante discursos e textos,
mas com práticas e meios técnicos que, de algum modo, tornem
real essa libertação. A imprensa é a técnica por excelência, é ela que
melhor materializa o pensamento e a comunicação escrita.
Não esperemos de Freinet textos acadêmicos em que a filosofia
de sua prática esteja formalmente teorizada, embora tenha lido e es-
crito muito, descrevendo sua maneira de pensar e agir: L’éducation du
travail (1949), Les dits de Mathieu (1949), L’Essai de psychologie sensible appliquée
à l’éducation (1950), L’École moderne française (1957), e outros livros. Nos
últimos anos de vida, desejou associar ao seu Movimento teóricos e
pesquisadores do campo educacional, entre eles eu, para que produ-
zíssemos uma revista, Techniques de Vie, que pouco durou. Como um
todo, sua obra é marcadamente concreta, cheia de vida e emoções.
De resto, é muito difícil delimitar sua filosofia profunda, pois
Freinet não cessava de evoluir e aprender, assimilando e, sobretu-
do, reelaborando as grandes correntes de pensamento do seu tem-
po: a reflexologia (cf. Élise Freinet, 1977, p. 143), a cibernética, o
ensino programado, o estruturalismo. Possuía uma boa cultura
pedagógica, adquirida em sua formação inicial e por ocasião dos
estudos que fez para o concurso de supervisão primária. Essa for-
mação enriqueceu-se ao longo dos anos, em congressos que fre-
quentou, entrando em contato com Ferrière, Decroly, Cousinet,
Claparède, Dottrens, Wallon, Barbusse, Politzer e outros. Não dei-
xemos de mencionar suas primeiras opções intelectuais, provavel-
mente marxistas, e, ao fim da vida, a inspiração que parece ter
recebido de Teilhard de Chardin. Um longo caminho percorrido!
A filosofia profunda de Freinet está implícita no que ele chama-
va as “técnicas de vida”, fórmula que exprime a ideia fundamental
de uma desconfiança com relação a tudo o que fosse formal
Cèlestin Freinet_fev2010.pmd 21/10/2010, 09:0628