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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC/SP
David Sergio Hornblas
Bullying na Escola:
Como crianças lidam e reagem diante de apelidos pejorativos
Mestrado em Educação: Psicologia da Educação
São Paulo
2009
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC/SP
David Sergio Hornblas
Bullying na Escola:
Como crianças lidam e reagem diante de apelidos pejorativos
DISSERTAÇÃO APRESENTADA À BANCA EXAMINADORA
DA PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO,
COMO EXIGÊNCIA PARCIAL PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO
DE MESTRE EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO
SOB A ORIENTAÇÃO DO PROF.º DR.º ANTONIO CARLOS
CARUSO RONCA.
SÃO PAULO
2009
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3
BANCA EXAMINADORA
_________________________________
_________________________________
_________________________________
4
DEDICATÓRIA
A todas as crianças que sofrem com apelidos pejorativos
5
RESUMO
O estudo que se segue, teve por objetivo investigar um dos recortes do bullying: O uso
de apelidos pejorativos, ou seja, como sentem e reagem crianças vítimas desse
processo. Sob a ótica da psicologia genética de Henri Wallon e seus pressupostos
teóricos sobre afetividade, engendrou-se um estudo de campo, de natureza qualitativa,
visando à compreensão amplificada do fenômeno. Os dados coletados indicam
sofrimento psicológico e por vezes reações destemperadas dos alunos apelidados,
circunscritos numa escola pública – região central de São Paulo – que se exime de
ações e procedimentos de contenção. A pesquisa foi realizada com alunos das 7ºs e
8ºs anos do ensino fundamental e idades entre 13 e 14 anos. O bullying é um fenômeno
mundial que acomete jovens sem distinção social, econômica ou política. Na presente
pesquisa, as reações dos sujeitos perante os apelidos pejorativos foram examinadas
com profundidade e sugeridos como o ponto de partida para outros eventos de bullying.
Palavras-chave: Bullying, Apelidos Pejorativos, Afetividade, Henri Wallon
6
ABSTRACT
The following research had as a main target the investigation of a bullying aspect –
Mean Names – “How children feel and react as victims of this process”. Under Henri
Wallon's genetic psychology and his theoretical presuppositions about affectivity, a field
study was engendered – qualitative nature – to amplify the understanding of this
phenomenon. The collected data indicate psychological suffering and even extreme
reactions from children with mean names, inside a public institution – São Paulo down-
town – exempted of actions and contention procedures. This research was done with
teenagers from the 7th and 8th grades, elementary school with ages between 13 and 14
years old. Bullying is a world wide phenomenon attacking young people without social,
economical or politics distinction. In the present research, the children’s reaction under
mean names were deeply examined and suggested as the starting point of bullying
occurrences.
Key words: Bullying, Pejorative Nicknames, Affectivity, Henri Wallon
7
SUMÁRIO
PRÓLOGO 11
CAPÍTULO 01 - INTRODUÇÃO 16
1.1 O que é bullying? 17
1.2 Os apelidos pejorativos 23
1.3 Etimologia, definição e origem 24
CAPÍTULO 02 – REVISÃO DA LITERATURA 29
CAPÍTULO 03 – REFERENCIAL TEÓRICO 36
3.1 Sobre a afetividade 37
3.2 Henri Wallon 38
3.3 Dan Olweus 45
CAPÍTULO 04 – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 49
4.1 Instrumentos para coleta de dados 50
4.1 Pré-teste 50
4.2 Questionário 51
4.2 Participantes e procedimento 51
8
CAPÍTULO 05 – APRESENTAÇÃO DOS DADOS COLETADOS 52
5.1 Introdução 53
5.2 Caracterização da escola 54
5.3 Dados obtidos no pré-teste 54
5.4 Segmentação para análise 55
5.5 Dados quantitativos obtidos no questionário 56
5.6 Descrição do instrumento de pesquisa – questionário 57
5.7 Unidades de Análise 58
5.8 Unidades de Registro 58
5.9 Unidades de Contexto 59
5.10 Categorias de Análise 59
CAPÍTULO 06 – ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS 66
CAPÍTULO 07 CONCLUSÕES 91
CAPÍTULO 08 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 98
8.1 Relação de sites consultados 110
ANEXOS
111
ANEXO A – Lista de apelidos encontrados 112
ANEXO B – Planilha analítica de apelidos 115
9
ANEXO C – Modelos: Pré-teste e Questionário 117
ANEXO D – Mapas de respostas por categoria 122
ANEXO E – Registros Fac Similes 132
10
O apelido pejorativo caracteriza alguém, descaracterizando-o.
DAVID SERGIO HORNBLAS
11
PRÓLOGO
12
“O Genião ainda é fraco, ainda é aluno, está dentro da
escola, frequenta as aulas e tem até cadernos e livros. Com
alguns professores, faz lições e até mesmo vai à lousa.
Difíceis mesmo eram a Fininha e o Casé: ambos eram da
escola e ambos, cada um a sua maneira, lideravam uma
gangue do tipo faz-tudo - assalto a ônibus, a bares e
padarias, tráfico de cocaína e fumo (o crack ainda não era
popular, nessa época). Casé, quando chegava à escola,
quase todos o temiam: porteiro, diretora, professores e
alunos. O mesmo ocorria com Fininha, que era uma franzina
garota de 15 anos, um verdadeiro marco do feminismo
underground. Quase todos a têm: idem, idem! Fininha foi
autora de uma proeza da qual se jactam, com muita
freqüência, todos os seus fãs, alunos da escola: prendeu
todos os professores numa sala, liberou os alunos, teve uma
conversa arrasadora com todos, ofendeu, gritou, deu um tiro
no chão e após fazer com que todos abaixassem a cabeça e
se ajoelhassem diante dela, liberou-os e decretou fim de
expediente na escola. Casé não deixava por menos:
administrava a justiça no pátio e nas salas de aula, cobrava
pedágio nos banheiros, comerciava seu fumo dentro da
escola à vista de todos e amedrontava professores com
muita facilidade. Casé e Fininha não se casavam, nem se
afinavam, antes se odiavam e todos na escola não deviam
tomar partido, deviam disfarçar. Ambos e suas respectivas
gangues não atrapalhavam ainda mais a escola porque
faltavam muito, estava sempre em outras, vinham para a
escola de vez em quando para um lazer rápido, para
assegurar a demonstração de poder, como fazem os cães
quando demarcam seus entornos com urina, para demarcar
13
território. Assim figuravam heróicos, diante da estupidez
parva dos “eugeniões” e dos alunos menores.
Mas, segundo alguns alunos e professores (que não são
loucos para se identificar!), há justiça neste mundo: Fininha e
Casé estão, ambos, bem mortos. Fininha foi capa do jornal
Notícias Populares, reagiu à ordem de prisão, foi alvejada
por algumas dezenas de balas. Casé apareceu morto no
campinho do bairro, assassinado com requintes de
crueldade: seu corpo foi dependurado na trave de futebol
com um grosso arame farpado (BELINTANE, 1998).
Estudos e pesquisas, de um modo geral, apresentam motivos científicos,
acadêmicos, políticos e também pessoais. Assim, pesquisar a violência escolar foi
antes de tudo uma decisão pessoal, em função da ampliação do problema em nosso
país e de minha própria experiência profissional na tentativa de gerenciar esta questão
em uma escola de ensino básico, no interior de São Paulo, onde trabalhei por alguns
anos. A violência de alunos contra alunos, de alunos contra professores e alunos contra
funcionários, transcendeu os muros da escola, alcançando ameaças e intimidações
virtuais. Contudo, restringir-nos-emos neste estudo, à violência real de alunos contra
alunos num recorte específico, qual seja, o uso de apelidos pejorativos.
Durante muitos anos, recebi em minha sala de trabalho, jovens com as mais
diferentes demandas psicopedagógicas. Uma, no entanto me chamava atenção, tendo
em vista sua freqüência e intensidade: relatos semelhantes de terem sido, de alguma
forma física ou psicológica, maltratados na escola.
Nesses atendimentos, os relatos eram tão dramáticos a ponto de alguns
deles solicitarem aos pais, mudança de escola ou até desistência do estudo. O
rendimento escolar, pouco a pouco se comprometia. Também foi observada a presença
de sintomas clínicos tais como insônia, sudorese excessiva, dificuldade de
concentração, tremores, estresse generalizado, dentre tantas outras, por vezes
incapacitantes e decorrentes do bullying. Algumas dessas questões eram trazidas à
14
discussão tais como, sofrimento psicológico, recusa em frequentar a escola,
dificuldades de relacionamento etc. As intervenções tinham por objetivo uma melhora
geral na qualidade de vida do jovem já que algumas pesquisas sugerem que vítimas de
bullying são ansiosas e inseguras. (Olweus, 1983)
Anos mais tarde, percebi que o fenômeno era muito mais agudo do que se
podia imaginar. Encontrei jovens amedrontados, insones, cabisbaixos, com baixa
produção escolar, atenção excessiva
1
nos intervalos e recreios, por vezes solitários,
quando não escondidos pelos cantos dos pátios, escadas e até nas próprias salas de
aula, e um índice de absentismo nada desprezível. Estas são algumas consequências
do bullying e os espaços onde é praticado.
Embora delimitado pelos muros da escola, o bullying também está presente
nos momentos de entrada saída da escola tais como, portões de acesso, pontos de
ônibus próximos, transportes escolares, bem como espaços considerados contíguos
aos limites da escola (bares, lanchonetes, padarias onde muitos se encontram ao
término das aulas).
Assim, observei de forma cautelosa, possíveis eventos de intimidação física
ou psicológica, frequentando intencionalmente as áreas da cantina e pátio, nos horários
de intervalo. Procurava estar atento a movimentos que pudessem ser caracterizados
como violentos
2
(ofensas, agressões físicas, furtos etc.). Desta forma, foi possível
presenciar algumas ações intimidatórias, com suas vítimas sofrendo caladas.
Raramente encontravam amparo de colegas, excetuando-se os casos de evidente
violência física – brigas – quando e se vistos recebiam a interferência de bedéis ou
funcionários da escola
1
Estado de alerta permanente; situação psicológica que pode produzir estresse generalizado
(Dalgalarrondo, 2000).
2
Há de se diferenciar agressão de violência. Agressão é um comportamento adaptativo entendido como
a utilização de força física ou verbal em reação a uma percepção de ameaça. Por sua vez, violência é um
comportamento mal-adaptativo, que consiste em uma ação direcionada ao alvo errado, no lugar errado,
no tempo errado e com a intensidade desmedida. (Skinner ,1974). A agressão pode ser considerada um
comportamento de defesa, enquanto a violência, de ataque.
15
Os eventos se caracterizam pela violência física e psicológica e para esta
pesquisa foi considerado o uso de expressões verbais violentas, depreciativas ou
humilhantes, relacionadas à determinada característica pessoal mais evidente (física,
comportamental, ideológica), ou seja, colocação de apelidos pejorativos.
Portanto, para esse estudo, o recorte escolhido do bullying foi: “Como
crianças lidam e reagem diante de apelidos pejorativos”, tendo como eixo teórico a
psicologia genética de Henri Wallon e os estudos de Dan Olweus.
16
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
17
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO
1.1 O QUE É BULLYING?
Bullying é uma palavra (expressão) de origem inglesa, adotada em muitos
países para definir o desejo deliberado de maltratar outra pessoa e colocá-la sob
tensão. A expressão foi construída a partir do substantivo bull – touro em inglês – e por
derivação bully (ou bullie), com alguns significados tais fortão, tirano, valentão e
briguento (corruptela para gíria). Termo que envolve comportamentos antissociais –
preferencialmente nas escolas – utilizado pela literatura psicológica nos estudos sobre
a violência (Olweus, 1999)
3
.
O termo Bully como substantivo, é traduzido por valentão, briguento, tirano
etc., e como verbo, brutalizar, tiranizar, amedrontar etc. (Fante, 2005). Ainda como
substantivo, bullying é definido como um subconjunto de comportamentos agressivos,
sendo caracterizado por sua natureza repetitiva e por desequilíbrio de poder. Esses
critérios nem sempre são aceitos como universais, mesmo sendo largamente
empregados. Alguns pesquisadores consideram serem necessários no mínimo três
ataques contra a mesma vítima durante o ano, para sua identificação como bullying
(Olweus, 1993). Há desproporção de força, onde o desequilíbrio de poder caracteriza-
se pela incapacidade da vítima de se defender: ser mais jovem, menor estatura ou força
física; apresentar pouca habilidade de defesa; falta de assertividade e pouca
flexibilidade psicológica perante o autor ou autores dos ataques (Fante, 2005).
Ainda como verbo, bullying pode ser traduzido como intimidar, agredir,
apelidar, ofender, fazer gozações, encarnar, humilhar, causar sofrimento, discriminar,
excluir, isolar, ignorar, intimidar, perseguir, assediar, aterrorizar, dominar, agredir, bater,
3
Os comportamentos bullying podem ocorrer de duas formas: direta e indireta, ambas aversivas e
prejudiciais ao psiquismo da vítima. A direta inclui agressões físicas (bater, chutar, tomar pertences) e
verbais (apelidar de maneira pejorativa e discriminatória, insultar, constranger); a indireta talvez seja a
que mais prejuízo provoque, uma vez que pode criar traumas irreversíveis. Esta última acontece através
da disseminação de rumores (fofocas, maledicências) desagradáveis e desqualificantes, visando à
discriminação e exclusão da vítima de seu grupo social (FANTE, 2005, p.50).
18
dar chutes, dar empurrões, causar ferimentos, roubar e ainda quebrar pertences (Fante,
2005).
Assim, por convergência entre autores (Fante, 2005; Olweus, 1983; Catini,
2004 e Guareschi, 2008), bullying é definido como um conjunto de atitudes violentas,
intencionais e repetitivas que ocorrem sem motivação aparente, adotado por um ou
mais alunos contra outro(s) causando dor, angústia e sofrimento físico ou psicológico,
Insultos, intimidações, apelidos cruéis, gozações que magoam profundamente,
acusações injustas, fofocas, atuação de grupos que hostilizam, ridicularizam e
infernizam a vida de outros alunos levando-os à exclusão, além de danos físicos,
morais e materiais, são algumas das manifestações do comportamento de bullying.
Portanto, as quatro características sempre frequentes nos episódios de bullying
segundo Olweus (1993) são:
1. Comportamento violento
2. Produção de danos
3. Ações repetidas e continuadas com o passar do tempo
4. Relação interpessoal caracterizada por um desequilíbrio de poder ou força.
O fenômeno bullying não é novo, por se tratar de uma forma de violência que
sempre existiu nas escolas onde valentões ou briguentos oprimem suas vítimas por
motivos banais e de forma sutil, sendo percebida por uma significativa parcela de
professores, coordenadores e diretores que pouco fazem, seja por omissão deliberada,
seja em decorrência das ameaças às quais também são frequentemente reféns.
No entanto, o estudo aprofundado do bullying é recente
4
e tem sido objeto de
investigação e estudos nas últimas décadas, despertando a atenção da sociedade para
suas consequências nefastas, já que se evidenciam pela desigualdade entre iguais,
resultando num processo em que “valentões” projetam, algumas vezes, sua
4
No dicionário de Psicologia de Henri Piéron, 1987, 7.ed., o termo bullying não é mencionado.
19
agressividade com requintes de perversidade e, por vezes de forma oculta, dentro do
contexto escolar.
O bullying é um tipo de comportamento, em que os mais fortes convertem os
mais frágeis em objetos de diversão e prazer através de brincadeiras que disfarçam o
propósito de maltratar e intimidar (Olweus, 1999) e pode ocorrer de diversas formas. As
mais comuns, segundo Olweus (1983) são:
52% apelidos pejorativos e discriminatórios
21% ameaças (reais e/ou virtuais)
12% furtos de pertences
9% agressões físicas
5% exclusões do grupo
O bullying é um fenômeno universal e os educadores devem estar atentos –
dentro dos limites da função e da instituição – à identificação de agressores e
agredidos, tendo em vista que estes últimos podem apresentar comportamentos que
trafegam desde a angústia e sofrimento intensos até a violência fatal. Os episódios
constantes de violência aguda (com graves lesões e mortes) nas escolas de ensino
médio, universidades americanas, européias e asiáticas, podem ter explicação no
bullying. Alguns dos agressores além de apresentar demandas psicopatológicas
estruturais, sinalizam indícios de terem sido vitimados por episódios de bullying em uma
determinada fase da vida escolar.
Dan Olweus – importante estudioso do fenômeno bullying na Escandinávia –
não estabeleceu relação entre jovens vitimizados pelo bullying e condição
socioeconômica, ao sugerir que situações semelhantes ocorrem em todas as categorias
sociais. Ele atribui este achado à homogeneidade relativa nos países escandinavos
onde seus estudos foram conduzidos. No início dos anos 70, Olweus iniciou seus suas
investigações nas escolas, embora não se verificasse um real interesse das instituições
sobre o assunto.
20
No entanto, diante de situações agudas, ocorridas na década de 80 – três
rapazes entre 10 e 14 anos, cometeram suicídio (Olweus, 1993) – um maior interesse
das instituições de ensino para o problema começou a ser despertado. Olweus
pesquisou inicialmente cerca de 84.000 estudantes, 300 a 400 professores e 1.000 pais
entre os vários períodos de ensino, concluindo que 28% dos jovens em idade escolar
sofreram alguma ação intimidatória.
Um fator essencial para a pesquisa, visando à prevenção do bullying, foi
conhecer com profundidade, sua natureza e frequência. Como as técnicas de
observação direta ou indireta são demoradas, o procedimento adotado foi a utilização
de questionários. Estes serviram para caracterizar e avaliar a dimensão do bullying,
além de melhor entender o impacto das intervenções já adotadas.
Nos estudos noruegueses desenvolvidos por Olweus (1983), utilizou-se um
questionário composto por 25 questões do tipo múltipla escolha
5
Com este instrumento
foi possível verificar a frequência, tipos de agressão e agressores, locais de maior risco,
dentre outras informações para compreensão do bullying. No entanto, Olweus (1983)
presume que, em outros países, como os Estados Unidos – onde a estratificação social
é mais evidente, assim como o fluxo migratório enlaçando culturas diferentes – as
ocorrências de bullying podem estar mais intensamente relacionadas aos indicadores
socioeconômicos, embora nenhum padrão tenha sido encontrado que relacione alunos
vitimizados e, por exemplo, renda familiar.
Um estudo feito pela UNESCO com estudantes entre 14 e 19 anos de cinco
capitais brasileiras (Brasília, Fortaleza, Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo) apontou
que 60% deles disseram ter sido vítimas de algum tipo de violência (física ou moral)
dentro da escola (Abramovay, M. & Rua, 2003).
Especialistas e educadores de todo mundo, com o apoio de instituições
públicas e privadas, têm proposto às autoridades educacionais a criação de programas
especiais de prevenção e combate e ao bullying nas escolas.
5
Hoje, esse questionário contém 77 questões do tipo multipla escolha denominado “Current School
Climate Student Survey Elementary School” (Pesquisa do ambiente escolar atual no ensino fundamental).
21
Diversas pesquisas e programas de intervenção
6
têm sido desenvolvidos na
Europa, América do Norte e também no Brasil, visando principalmente conscientizar a
comunidade escolar sobre o fenômeno e sensibilizá-la sobre a importância do apoio às
vítimas, da necessidade de extinção do problema, além da implantação de programas
de prevenção.
O educador é uma espécie de terceira visão neste processo silencioso,
temperado pelo sofrimento das vítimas que frequentam salas de aula, corredores e
pátios de recreação. Assim, a sociedade civil deverá ter seu quinhão de
responsabilidade na construção de modelos e procedimentos para controle e extinção
do bullying.
Em uma decisão judicial inédita, dois adolescentes de classe média, de 15 e
16 anos, foram obrigados a prestar serviços comunitários por seis meses, por terem
sido acusados de apelidar e insultar uma colega de classe em uma escola particular de
Ribeirão Preto (313 km de São Paulo). Eles foram também acusados de divulgar os
insultos na internet (Coisse, 2008).
A vítima, uma garota de 15 anos, disse à promotoria que os insultos
começaram há três anos. Um dos garotos colocou-lhe o apelido de bode, mas ela
afirmou que os xingamentos iam além: fedida, retardada, idiota, monga e esterco. Ao
promotor de justiça local, a estudante afirmou que, “... além de a rotularem de bode,
passaram a fazer barulhos com a boca, simulando berros do animal nas aulas...". No
início do ano letivo, a vítima reclamou ao pai que continuava a ser ofendida. Ele foi à
escola e depois registrou um boletim de ocorrência (BO) por injúria. A decisão de
aplicar a prestação de serviços foi do juiz da Infância e Juventude em audiência com os
acusados e seus pais. O juiz concedeu remissão judicial, um perdão para evitar que o
processo por injúria prosseguisse.
Na ocasião a mídia anunciava: A prática de constranger colegas por
xingamentos ou violência física é conhecida pelo nome de bullying (Coisse, 2008).
6
EUA: legislação específica, avaliação permanente nas escolas sobre a incidência do bullying. Reino
Unido: legislação específica, programas de combate, campanhas institucionais e centros de apoio às
vitimas de bullying. Brasil: Cartilha Antibullyng, legislação em construção e algumas iniciativas isoladas.
22
Por outro lado, a mãe do menino de 15 anos – da mesma forma o jornalista
que subscreveu a matéria – disse que aceitou o acordo na Justiça para que a história
tivesse fim (SIC), mas achou um exagero que a situação tenha terminado em uma
audiência, declarando:
“... Não vou dar razão para o meu filho, ele errou, mas apelido é uma coisa normal, é
levar na brincadeira...” (SIC)
Vários episódios de bullying são minimizados e seus desdobramentos
considerados pouco importantes na vida do jovem agredido. Para este estudo, foi
considerado especificamente o uso de apelidos pejorativos.
Uma maior atenção sobre esses eventos que alguns consideram
aparentemente inofensivos deveria servir como elementos de reflexão visando à
implantação de programas de prevenção e extinção a médio e longo prazo, ou seja,
ações antibullying. Na escola, alunos intimidando alunos, professores, funcionários e
diretores compõem uma realidade de difícil manejo, compreensão e intervenção.
Violência e bullying são comportamentos expressamente manifestos,
mensuráveis e modificáveis. Contudo, os processos mentais envolvidos são de
complexa verificação experimental e portanto, devem compor uma análise multifatorial,
levando em conta fatores biologicamente determinados e o processo histórico que
explica agressividade e violência. Assim sendo, a psicogênese de Henri Wallon, que
contempla fatores genéticos e influências sociais, oferece respostas consistentes no
entendimento dos fenômenos aqui apresentados.
O foco deste estudo foi o comportamento observável – adquirido ou herdado
– e não as inferências e interpretações decorrentes das intrincadas relações do ser com
o mundo. Algumas culturas são mais agressivas que outras, incentivando
competitividade, determinação e tomada de decisão. Outras são mais passivas,
cordatas e menos estimuladoras da competição entre seus pares. Isso significa que,
sob condições específicas, determinados comportamentos se fazem mais ou menos
presentes.
23
Nas sociedades mais utilitaristas, o fenômeno se agrava. Pela pressão do
consumo, alguns jovens em especial, não medem esforços para alcançar seus
objetivos, sejam eles legais ou ilegais. Nos países com índices de desigualdade mais
acentuados, o problema parece ser mais grave, embora Olweus (1980) não tenha
identificado relação entre condição socioeconômica e bullying. Esse utilitarismo cria um
padrão comportamental onde em alguns casos, são mais ou menos agressivos, mas
em outros, por demais violentos. Os altos índices de criminalidade nos centros urbanos
são a prova inconteste do que aqui se afirma
Outro desdobramento das sociedades que se organizam desta forma é a
determinação de padrões de comportamento, de constituição física (daí o aumento dos
transtornos alimentares, por exemplo), do belo e do feio, do bem e do mal, ou seja,
políticas maniqueístas do que deve e do que não deve ser aceito. Neste universo, o
bullying é mais um evento encontrado neste enquadramento.
1.2 OS APELIDOS PEJORATIVOS
As ofensas repetidas, sob a forma de exposição ao ridículo por meio de
apelidos pejorativos, configuram mecanismo perverso de discriminação identificado na
literatura psiquiátrica e jurídica como modalidade de assédio moral
7
.
Foi observado em uma pesquisa específica, que os apelidos pejorativos são
percentualmente os eventos de bullying mais frequentes entre jovens (Olweus, 1983),
correspondendo a 52% do universo total dessas ações intimidatórias. Tal constatação
culminou na decisão de aprofundar o estudo destes dados em um formato diferente,
qual seja, o qualitativo. Essa metodologia permitiu uma análise mais detalhada deste
processo, visando a entender como crianças se sentem e lidam com o apelido
pejorativo. Esses apelidos são na opinião deste pesquisador, o começo do bullying.
7
Acórdão Nº 20070594052 de Tribunal Regional do Trabalho - 2ª Região (São Paulo), de 09 Outubro
2007.
24
1.2.1.1 Etimologia
Do latim, appelitare, colocar pelo sobre algo.
1.2.1.2 Definição
Na versão dicionarizada (Houaiss, 2001), apelido significa na língua
portuguesa falada em Portugal, ter sobrenome ou atribuir a alguém nome de família. Já
no português brasileiro, o uso é informal e regionalizado. Significa por sinonímia,
alcunha – denominação ou qualificativo. Reconhecido popularmente como brincadeira
de criança, o apelido circula em todos os ambientes onde existem relações humanas:
na família, na escola, na rua, nos ambientes de trabalho, nos clubes, nos grupos de
amigos e em muitos outros meios (Vereda, 2008).
1.2.1.3 Origem
O apelido pode surgir com ou sem consentimento da pessoa. Quando ele
pega”, ou seja, solidifica-se, passa a fazer parte do indivíduo como um rótulo colocado
de fora para dentro (Vereda, 2008).
Diz Vereda (2008):
[...] “O apelido muitas vezes é uma transposição de
significados e [...] possui a capacidade de dizer coisas
diferentes daquelas que convencionalmente querem dizer”
25
[...] ”No caso dos apelidos, destacamos duas figuras de
linguagem usadas habitualmente, quando se trata uma
pessoa pelo apelido e não pelo seu próprio nome: metáfora e
metonímia “[...] Vereda (2008, P.24).
Essses recursos linguísticos são utilizados na aplicação dos apelidos com a
intenção de provocar o riso. Ocorre um jogo de palavras onde o apelidado ou aqueles
que estão na platéia compreendem o apelido em seu sentido amplo ou geral e aquele
que dá o apelido quer focar características específicas do outro; com isto, provoca-se
uma contradição e aí surge o riso, a chacota. O apelido é visto de forma natural pelas
pessoas do grupo, em virtude de ser aceito e repetido, sem reflexão sobre possíveis
conseqüências danosas, como se o apelido fosse o nome próprio da pessoa (Vereda,
2008).
Entre o consentimento e o não-consentimento em receber o apelido existe
uma linha tênue nos sentimentos de quem recebe o apelido, tornando esta forma de
tratamento repleta de indefinições.
O indivíduo pode aceitar o apelido por gosto e sentir-se lisonjeado e
valorizado; pode aceitar o apelido apesar de não aprová-lo; pode gostar, pois todos a
sua volta assim o fazem, sentindo-se constrangido em dizer que não aprova; pode
ainda, não gostar taxativamente, deixando claro aos apelidadores que não o aceita e
ainda assim, insistem contra a vontade do apelidado, até que o apelido acaba
“pegando” (Vereda, 2008).
Os apelidos pejorativos, algumas vezes cruéis, contemplam uma precisão
cirúrgica, nos aspectos concernentes aos seus objetivos de ferir alguém. O apelidador
percebe características físicas, etnias, modo de falar, de agir e constrói um nome ou
adjetivo cruel, com duas funções básicas, segundo estudos e constatações clínicas
pessoais:
A) Fazer-se perceber pelos outros.
B) Fortalecer-se diante de seu grupo. O bullying acontece preferencialmente na escola,
26
mas não somente nela: também pode ser observado em lugares como: condomínios,
clubes, áreas de lazer públicas etc. Isso torna o apelidador popular e bem aceito pelos
demais. Há também componentes erotizados, próprios da adolescência, para este tipo
de ação.
C) Colocar alguém sob tensão. O bully, dentro da escola, pode estar motivado por
razões de natureza social, psicológica e até psiquiátrica. A escola deve ter uma ação
primordial na identificação desses motivos, que modulam em função da subjetividade
de cada aluno. A escola é o caminho mais adequado para o enfrentamento do
problema seja na implantação de programas de prevenção, contenção e extinção, seja
na orientação de pais e responsáveis, quando o repertório deixar de ser pedagógico
.
O apelido pejorativo fere, magoa e humilha. Assim sendo, atinge os objetivos
do bully, especialmente quando revidado pela vítima. Na linguagem do dia a dia,
apelido que pega é aquele que a vítima reclama”.
O apelido é desagradável quando afeta o indivíduo, despertando no
apelidado sensações de mal-estar. Esses apelidos são frequentes e encontrados em
diferentes situações. Surgem pelos mais variados motivos e ocorrem quando o apelido
vem carregado de sentido pejorativo, torpe, depreciativo com a intenção de desprezar,
desvalorizar, menosprezar, desdenhar, zombar, ridicularizar, rebaixar o apelidado
(Vereda, 2008). Se acatado pelo grupo, seus efeitos se agigantam exponencialmente.
Em alguns países, o fenômeno é tão agudo que tem como consequência, inúmeros
eventos de suicídio. Só nos EUA foram 38 em 2007. (Nansel, 2008).
Não raro, professores, funcionários e até diretores, referem-se à vítima pelo
apelido. E entendem também como sendo “apenas uma brincadeira” e que o sofrimento
o qual nos referimos nesta pesquisa é excessivo.
De acordo com Fante (2005): [...] alguns professores se convertem em
agressores devido à sua postura de autoritarismo e intimidação na tentativa de obter
poder e controle diante do grupo-classe. Um exemplo clássico é a maneira de chamar a
atenção e corrigir o comportamento dos alunos, depreciando-os na frente dos colegas,
discriminando-os, mostrando preferências por outros, fazendo comparações,
27
ameaçando-os, perseguindo-os e intimidando-os. Não são poucos os professores que,
ao se referirem a alguns alunos, usam os apelidos (que, às vezes, eles mesmos
colocam), como Cascão, Tampinha, Fantasminha, Lunático, Esquisito, Burraldo,
fomentando assim, a vitimização desses alunos (p. 98-69).
Alguns professores não atribuem o uso de apelidos como um aspecto
relevante relacionado ao bullying
, sendo que eles próprios afirmaram que muitas vezes
referem-se aos alunos dessa forma e também aceitam apelidos que os alunos lhes
colocam. Alguns pais também concordam com esta postura, alegando que jovens,
como num ritual de passagem, colocam mesmo apelidos nos outros. Da mesma forma,
introduzem-se na vida social adulta que incluí comportamentos transgressores
(Szymansky, 2008).
Tendo em vista as considerações acima, este estudo procurou verificar, o
que os alunos sentem e como reagem diante do apelido pejorativo recebido. Esses
eventos levaram à construção de inúmeras iniciativas para estudar e combater a prática
de bullying no Brasil e no mundo
.
No Brasil, o Conselho Nacional de Procuradores-Gerais lançou uma
campanha educativa para combater o bullying nas escolas privadas e públicas do
estado, durante o I Fórum Paraibano Sobre Bullying Escolar e Incentivo à Cultura da
Paz, realizado no Centro de Convenções Cidade Viva, em João Pessoa e organizado
pela Curadoria da Infância e Juventude.
Os temas debatidos foram Bullying Escolar, Construção da Cidadania,
Causas e Consequências do Fenômeno do Bullying - Implicações Psicológicas,
Jurídicas e Legislação Pertinente.
Além desses fóruns, a ABRAPIA – Associação Brasileira Multiprofissional de
Proteção à Infância e à Adolescência – aparece como centro de referência ao estudo e
pesquisas sobre bullying.
28
O Centro Multidisciplinar de Estudos e Orientação sobre o Bullying Escolar-
CEMEOBES, com sede em Brasília, foi criado em maio de 2006, com o objetivo de
disseminar uma Cultura de Paz e Não-Violência. É uma Organização da Sociedade
Civil de Interesse Público (OSCIP), que se dedica exclusivamente ao estudo e
orientação sobre o Bullying Escolar, por considerá-lo questão de saúde pública, cujos
prejuízos incidem na aprendizagem, na socialização e na saúde emocional de crianças
e adolescentes envolvidos. Seu foco principal é atuar junto às instituições de ensino,
para que sejam capazes de identificar e intervir nas situações embrionárias de Bullying
e interromper seu processo reprodutivo e epidêmico, através de estratégias promotoras
da educação para a paz, da cidadania e dos direitos humanos – Programa Antibullying
– Educar para a Paz.
29
CAPÍTULO 2
REVISÃO DA LITERATURA
30
CAPÍTULO 2 – REVISÃO DA LITERATURA
De acordo com
o database PsycInfo, dos 843 trabalhos mundiais
encontrados com a palavra chave “bullying” de 1968 a 2004, 40 foram produzidos entre
1869 e 1989, 331 de 1990 a 1999 e 472 de 2000 a 2004. (Catini, 2004). Como se pode
perceber, houve um significativo incremento nas pesquisas nos últimos anos – até 2004
– possivelmente em função do agravamento do problema e aumento dos incidentes
fatais com jovens vitimizados pelo bullying.
Numa recente pesquisa, realizada pelo National Center for Juvenile Justice
Juvenile Offenders and Victims: 2006 National Report (Snyder, 2006), quase 30% dos
jovens em idade escolar estão envolvidos em situações de bullying, assédio ou ambos
e 24% dos estudantes das últimas séries do ensino fundamental, declararam ser alvo
de bullying e intimidação
Segundo a Associação Americana de Psiquiatria para Infância e
Adolescência (Maio, 2008), o bullying é uma experiência comum em metade dos jovens
com idade escolar e pelo menos 10% são intimidados de forma continuada. No Reino
Unido, sete em cada dez crianças relatam episódios de intimidação, em um universo
estudado de oito mil alunos (Catini, 2004
). O incentivo à pesquisa do bullying
possivelmente esteja atrelado aos episódios de grande proporção nos EUA e
agravamento da situação em outros países tais como a Inglaterra, País de Gales,
Suécia, Noruega Itália e Japão. (Olweus, 1993,1999).
No Brasil a situação não é diferente. Com base em estudo realizado pela
ABRAPIA (Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e
Adolescência, 2002), 40,5% dos 5.785 alunos participantes, admitem estar envolvidos
em episódios agressivos, sendo 16,9% como vítimas, 10,9% como autores/vítimas e
12,7% como autores (Catini, 2004). Indistintamente, o bullying está presente em
formatos específicos, tanto nas escolas públicas, quanto nas particulares.
31
Em seu estudo, Belintane (1998) enfoca a relação educativa no contexto da
escola pública das periferias dos centros urbanos, procurando distinguir certa
indisciplina e até mesmo certo tipo de violência inerente ao próprio entrechoque
civilizatório que o ato educativo, em geral, pressupõe, de outro tipo de violência social
mais contundente, arredia à escolarização. O autor lança mão de duas experiências
pessoais vividas em escolas distintas: uma escola da periferia da Grande São Paulo,
onde a violência no interior da escola, atinge níveis acima do tolerável, e outra escola,
tradicional de classe média, na qual também ocorre certo tipo de violência. Acrescenta
ainda ao esquema comparativo algumas reflexões oriundas de um enfoque
psicanalítico institucional, procurando demonstrar a conjunção de forças inconscientes
na construção do pacto mínimo para o estabelecimento de relações educativas.
Ao longo de sua análise, duas escolas, duas possibilidades civilizatórias,
uma conseguindo ainda manter seus níveis de indisciplina e violência dentro do pacto
institucional, contraposta à outra, cujo pacto encontra-se abalado, parecem apontar
para uma crise mais profunda, para uma possibilidade de a relação ser sustentada por
novos e estranhos objetos, muito diferente dos tradicionais conteúdos e objetivos
escolares
.
Tanto vítimas como agressores são na maioria meninos, sendo as meninas
responsáveis por ações voltadas preferencialmente para exclusão e difamação (Catini,
2004).
Foram analisadas e consultadas dissertações de mestrado e teses de
doutorado, encontradas nas bibliotecas da Universidade de São Paulo, Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, Pontifícia Universidade Católica de Campinas e
Universidade Federal de São Carlos, sob um tema genérico de “Violência e Escola”.
Durante a análise desses trabalhos, um em especial converge para o tema
aqui escolhido – colocação de apelidos pejorativos – de Maria de Cássia Vereda
8
num
recorte mais amplo, independente das características físicas das vítimas (Vereda,
8
Dissertação de mestrado que utilizou a técnica de incidentes críticos para estudar a visão dos
adolescentes a respeito do apelido pejorativo na escola.
32
2007).
Vereda (2007), em sua pesquisa, estudou a visão do aluno adolescente a
respeito do apelido pejorativo na escola. Segundo os jovens investigados, os apelidos
são rótulos negativos e cruéis e produzem grande sofrimento psicológico.
Outro estudo aprofundado sobre o tema realizado na Pontifícia Universidade
Católica de Campinas, “Problematizando o bullying para a realidade brasileira”, Catini
(2004) mostra que a violência escolar é um fenômeno mundial, apesar de suas
características específicas decorrentes da cultura a qual se inserem. Este trabalho
consiste ainda em uma investigação sobre bullying na realidade brasileira, a partir do
estudo em uma escola pública da periferia da região de Campinas – SP e envolveu 41
participantes entre oito e quinze anos.
Dos relatos obtidos, depreendem-se informações fundamentais para a
compreensão do fenômeno bullying, tais como decadência de valores, sentimentos de
impotência, ansiedade e insegurança, devido à expectativa de novas agressões,
produzindo revolta, auto-culpa e reflexos negativos na autoestima por parte das vítimas.
Mello (2008)
9
avaliou as condições de enfrentamento de experiências de
bullying, bem como o montante de estresse gerado por cobranças sociais quando
acometidas pela obesidade, tendo como consequência danosa, a colocação de
apelidos pejorativos. Além da complexidade do distúrbio em si, ocorrem
desdobramentos escolares, psicológicos e sociais. Para isso foi criado e realizado o
PACEP (Programa de Atenção a Crianças Com Excesso de Peso) onde foram
abordados, no geral, hábitos alimentares saudáveis, importância da prática de
atividades físicas, discussão sobre aspectos geradores de estresse vivenciados no
cotidiano e enfrentamento dos mesmos através de técnicas de habilidades sociais e
favorecimento à auto-aceitação e à autoestima.
9
Avaliação e intervenção psicossocial e nutricional com crianças em condições de sobrepeso e
obesidade, Dissertação de mestrado, UNESP/Bauru, 2008.
33
Os resultados mostraram que 60% das crianças revelaram-se socialmente
habilidosas e 40% revelaram características não-habilidosas socialmente. O PACEP
parece ter colaborado para mudanças significativas nos hábitos de vida das crianças
relativas à alimentação. De acordo com relatos da segunda entrevista conduzida com
os pais e com as crianças, após a intervenção, passou a haver maior ingestão de
alimentos do grupo vitaminas e minerais em detrimento de doces, massas e
gordurosos. Houve relato de melhora na convivência das crianças com os colegas, de
aquisição de habilidades sociais (como a expressão dos sentimentos pelo diálogo, em
situações envolvendo o bullying) e de autoimagem
.
Ao analisar o fenômeno da violência, Nogueira (2007) se coloca diante de
uma série de dificuldades, não apenas porque o fenômeno é complexo, mas,
principalmente, porque produz autorreflexão, revisão sobre nossas idéias,
pensamentos, sentimentos e atos. A captação de diferentes perspectivas possibilita
uma infinidade de compreensões de violência. Porém ,ao pensá-la, há que sempre se
lembrar de que a compreensão acompanha as mudanças através dos tempos e dos
lugares. As fronteiras da violência no tempo e no espaço tornam-se maleáveis, frágeis e
difíceis de serem definidas. É por isso que muitas vezes se confunde e se interrelaciona
com agressão e indisciplina, quando se manifesta na esfera escolar e os casos de
violência entre alunos, passam a ser banalizados. E o que se tem notado é que muitas
vezes os profissionais da educação não sabem tratar e distinguir os alunos agressivos
dos indisciplinados, arriscando diagnósticos equivocados, quando não imprudentes. Por
este motivo identifica-se a importância da reflexão sobre o assunto, ainda tão pouco
estudado: práticas de violência entre pares ou o bullying na escola.
Já Pupo (2007) investigou as representações que alunas e alunos têm sobre
a violência moral, no contexto escolar. Entende-se violência moral como as pressões
psicológicas presentes nas relações interpessoais entre os estudantes, que incluem as
humilhações, ofensas, as ameaças, a exclusão, as perseguições sistemáticas dentro de
uma situação desigual, ainda que circunstancial, de poder. Há uma região de
intersecção na acepção de violência moral assumidas
e os conceitos de incivilidade,
micro-violências e bullying, também abordados neste trabalho. No estudo dessas
34
representações, procurou-se compreender o universo das relações no interior da escola
e, particularmente, das relações entre meninos e meninas em sua interface com o
fenômeno da violência moral.
Esta pesquisa sobre apelidos pejorartivos, utilizou como parâmetro de
análise teórica e metodológica a Teoria dos Modelos Organizadores do Pensamento
10
e
foi desenvolvido em dois âmbitos diferentes e complementares: análise do referencial
teórico e pesquisa de campo.
A amostra foi composta por noventa e seis adolescentes, sendo quarenta e
oito meninas e quarenta e oito meninos, do 8º ano do Ensino Fundamental e do 2º ano
do Ensino Médio, estudantes de uma escola pública e de uma escola privada, ambas
localizadas na zona sul de São Paulo. Como instrumento, foi utilizado a resolução de
conflitos numa cena do cotidiano escolar envolvendo violência moral.
Com o objetivo de investigar as possíveis diferenças entre meninas e
meninos, o instrumento teve duas versões diferentes para ser apresentado a
estudantes de cada um dos sexos. A aplicação das questões, a partir da leitura da
cena, foi realizada em um único encontro com cada um dos grupos de sujeitos.
Diferenças significativas foram encontradas nas representações femininas e
masculinas em relação ao fenômeno da violência moral, especialmente no que diz
respeito à percepção da ação esperada do sexo oposto nessas situações.
Os atos intimidatórios, violentos e agressivos, ocorrem no fundo das salas de
aula, nas conversas paralelas durante a aula, nos intervalos ou nas trocas de aulas, nas
relações cotidianas entre os alunos. O apelido dado por brincadeira pode ser carregado
de objetivos preconceituosos e discriminatórios. Os alunos, diferentes em seus
aspectos físicos ou de sua origem, como o gordo, o magro, o alto, o japonês, o negro, o
baiano e outros, são constantes alvos de perseguições e gozações que humilham e
isolam.
10
Teoria dos Modelos Organizadores do Pensamento: Compreensão do funcionamento cognitivo na
elaboração de raciocínios morais diante de situações de conflito proposta por Leonardo Lemos de Souza
e Mário Sérgio Vasconcelos.
35
Segunda a autora (Nogueira, 2007), a pesquisa foi desenvolvida com o
objetivo de lançar um olhar sobre esta forma de tratamento entre os adolescentes de
uma escola pública, a fim de fornecer subsídios aos professores no enfrentamento das
questões relacionais de seus alunos.
Outra pesquisa, realizada em uma escola particular do interior do estado de
São Paulo (Martins 2000), mostra que o bullying não é um fenômeno exclusivamente
ligado à escola pública ou às camadas menos favorecidas na pirâmide de distribuição
de renda em nosso país. Os resultados indicaram que 32% dos alunos já foram, de
alguma forma, vitimados pelo bullying comprovando a tese de Olweus que, o bullying é
democrático e atinge em média, 30% da população jovem em idade escolar (Olweus,
1983).
De um modo geral, as pesquisas sobre bullying procuram investigar a
natureza do problema, quantificá-la e em alguns estudos, produzir reflexões sobre a
construção de mecanismos que possam eliminar os episódios de intimidação, seja
através da sensibilização de pais, professores e autoridades, seja através de
programas para capacitação e redução de danos nos jovens vitimizados pelo bullying,
bem como seus pares, pais e equipe pedagógica.
Um recente estudo sobre bullying foi conduzido pelo Núcleo de Análise do
Comportamento da Universidade Federal do Paraná. De acordo com a pesquisa
(Gonçalves, 2009), 66% dos alunos participantes disseram ter sofrido ou cometido
agressões, sobretudo verbais e físicas, contra seus colegas, nos últimos seis meses. É
mais um alerta para a importância da participação das escolas brasileiras e da mídia em
geral na divulgação do bullying, que se mostra tão frequente no Brasil como em outros
países.
36
CAPÍTULO 3
REFERENCIAL TEÓRICO
37
CAPÍTULO 3 – REFERENCIAL TEÓRICO
3.1 SOBRE AFETIVIDADE
A vida afetiva é a dimensão psíquica que dá cor, brilho e calor a todas as
vivências humanas (Dalgalarrondo, 2000). Sem afetividade, a vida mental torna-se
vazia, sem sabor. O termo afetividade é genérico, compreendendo várias vivências
afetivas como humor, emoções e sentimentos.
Segundo Myra y López (1974), quanto mais de perto os estímulos e fatos
ambientais afetam o indivíduo, mais aumenta nele a alteração e diminui a objetividade.
Quanto mais se diminui a distância (real ou virtual) entre quem percebe e o que é
percebido, mais o objeto da percepção se confunde com quem o percebe. Assim, vai
desaparecendo a possibilidade de configurar ou formar imagens delimitadas e uma
nova modalidade de experiência íntima surge, experiência essa que afeta a totalidade
individual e que, por isso mesmo, recebe o qualificativo de afetiva. Distinguem –se cinco
tipos básicos de vivências afetivas:
a) Humor ou estado de ânimo
b) Emoções
c) Sentimentos
d) Afetos
e) Paixões
Para Henri Wallon, a afetividade transcende a dimensão psicopatológica,
quando se refere a ela como sendo a disposição do ser humano de ser afetado pelo
mundo externo e interno por meio de sensações ligadas a tonalidades agradáveis ou
desagradáveis (Almeida, 2007). A seguir, discutir-se-á esse referencial teórico.
38
3.2 HENRI WALLON
Embora sejam inúmeras as áreas do conhecimento que estudam agressão e
violência, uma em particular forneceu base teórica para este estudo: Henri Wallon
focaliza a pessoa completa, sua natureza psicogenética, analisando as esferas afetiva,
cognitiva e motora de forma integrada, mostrando como se dá no transcorrer do
desenvolvimento, a interdependência e a predominância desses diferentes conjuntos
(Mahoney e Almeida, 2006), assim como seu entendimento sobre afetividade. Estes
eventos desenvolvimentistas estão contextualizados no espírito de cada época a qual
se inserem.
Henri Wallon nasceu e morreu na França (1879 – 1962). Antes de chegar à
psicologia, passou pela filosofia e medicina, e ao longo de sua carreira foi cada vez
mais explícita a aproximação com a educação. Em 1902, com 23 anos, formou-se em
filosofia pela Escola Normal Superior. Cursou também medicina, formando-se em 1908.
Viveu num período marcado por instabilidade social e turbulência política caracterizado
por duas guerras mundiais (1914-1918 e 1939-1945), avanço do fascismo, revoluções
socialistas e guerras para libertação das colônias na África que atingiram boa parte da
Europa e, em especial, a França.
Em 1914 atuou como médico do exército francês, permanecendo vários
meses no front de combate. O contato com lesões cerebrais de ex-combatentes fez
com que revisse posições neurológicas que havia desenvolvido no trabalho com
crianças deficientes. Até 1931 atuou como médico de instituições psiquiátricas.
Paralelamente à atuação de médico e psiquiatra consolida-se seu interesse pela
psicologia da criança.
Na 2ª Grande Guerra, fez parte da resistência francesa contra os alemães,
foi perseguido pela Gestapo, teve que viver na clandestinidade. De 1920 a 1937, foi o
encarregado de conferências sobre a psicologia da criança na Sorbonne e outras
instituições de ensino superior. Em 1925, fundou um laboratório destinado à pesquisa e
ao atendimento de crianças ditas deficientes. Ainda em 1925, publicou sua tese de
doutorado A Criança Turbulenta. Iniciou um período de intensa produção com todos os
39
livros voltados para a psicologia da criança. Seu último livro foi Origens do pensamento
na criança, em 1945. Em 1931, viajou para Moscou, convidado para integrar o Círculo
da Rússia Nova, grupo formado por intelectuais que se reuniam com o objetivo de
aprofundar o estudo do materialismo dialético e de examinar as possibilidades
oferecidas por este referencial aos vários campos da ciência. Neste grupo, o marxismo
que se discutia não era o sistema de governo, mas a corrente filosófica. Em 1942, filiou-
se ao Partido Comunista, do qual já era simpatizante e manteve essa ligação com este
até o final da vida. Em 1948 criou a revista Enfance. Neste periódico, que ainda hoje
tenta seguir a linha editorial inicial, as publicações serviam como instrumento de
pesquisa para os pesquisadores em psicologia e fonte de informação para os
educadores.
A teoria de Wallon (apud Almeida, 2006) permite compreender o indivíduo
em sua totalidade, indicando relações que originam esta dimensão total, mostrando
uma visão integrada da pessoa ou do futuro aluno. O desenvolvimento e a
aprendizagem na perspectiva de Wallon tem como pressuposto a interação da pessoa
com o ambiente (físico e social), indicando uma matriz interacionista. Para Wallon, “o
homem é geneticamente social”, ou seja, são as condições de existência do homem,
que proporcionam a base material para o desenvolvimento, tanto de ordem fisiológica
quanto social.
Wallon realizou um estudo centrado na criança contextualizada, o ritmo no
qual se sucedem as etapas do desenvolvimento é descontínuo, marcado por rupturas,
retrocessos e reviravoltas, provocando, em cada uma delas, profundas mudanças nas
anteriores. Os conflitos se instalam nesse processo e são de origem exógena, quando
resultantes dos desencontros entre as ações da criança e o ambiente exterior,
estruturado pelos adultos e pela cultura e endógenos, quando gerados pelos efeitos da
maturação nervosa.
40
Wallon propõe uma sequência de estágios
11
definidos por faixa etária, mas
há de se considerar época e cultura onde esses estágios de desenvolvem. O zeitgeist –
espírito de época – influencia todo o desenvolvimento científico, introduzindo valores,
normas e crenças em cada um desses períodos, assim como nos dias atuais. A pessoa
está sempre contextualizada e não pode ser entendida fora do meio na qual se insere.
Contudo, a emoção – fator primordial no desenvolvimento humano –
alimenta-se de ingredientes que possibilitam a compreensão adequada de que o
cotidiano é marcado por relações interpessoais, nas quais o conflito também está
presente, revelando o aspecto afetivo do grupo e seus componentes. Neste processo, a
psicogênese aliada ao contexto na qual se desenvolve, fornece os subsídios
necessários e suficientes para compreensão dos comportamentos violentos, em
especial, o bullying.
Na etapa da predominância funcional – adolescência – momento de vida
para este estudo, ocorre uma nova redefinição dos principais aspectos da
personalidade, desestruturados devido às modificações corporais resultantes da ação
hormonal, contextualizadas socialmente. O processo de desenvolvimento se sucede
pela alternância no predomínio dos conjuntos funcionais
12
diferentes em cada estágio.
Também é mediado pela variação de direção, seja para autoconhecimento – direção
centrípeta – seja para conhecimento do mundo exterior – direção centrífuga.
Na puberdade e adolescência, a direção é predominantemente centrípeta.
Wallon explica que, na passagem para este período, as categorias tornam possível
generalizar as circunstâncias, estabelecer a coincidência entre nomes e aspecto das
coisas e a perceber a reversibilidade de um processo para outro.
11
1) Impulsivo Emocional, 2) Sensório-Motor e Projetivo, 3) Personalismo e Categorial, Puberdade e 4)
Adolescência.
12
Os conjuntos ou domínios funcionais compõem, segundo Wallon, o psiquismo humano: forma um todo,
um sistema regulador da vida mental. Afirma Wallon: “os domínios funcionais entre os quais vai se
distribuir o estudo das etapas que a criança percorre serão, portanto, os da afetividade, do ato motor, do
conhecimento e das pessoas (Mahoney, 2007)
41
Mostra ainda que a passagem para o período da puberdade e adolescência
ocorre “Quando a amizade e as rivalidades deixam de se basear na comunidade ou no
antagonismo das tarefas empreendidas ou por empreender, quando procuram justificar-
se por afinidades ou repulsas morais, quando parecem interessar mais à intimidade do
ser do que colaborações ou conflitos afetivos” (Wallon, 2007,p.197-198).
Afirma ainda que [...] a nova idade (puberdade de adolescência) também vai
incidir simultaneamente em todos os domínios da vida psíquica. Um mesmo sentimento
de desacordo e de inquietude surge nos domínios da ação, da pessoa e do
conhecimento” (Wallon, 2007,p.198).
Visando reajustar-se ao novo corpo na adolescência, ao jovem é conferida
uma orientação centrípeta, ou seja, egocentrada, produzindo significativas alterações
em sua vida afetiva. Desta forma, a afetividade torna-se muito mais intensa, produzindo
ambivalência de atitudes e sentimentos. Essas necessidades podem ser satisfeitas
tanto por ações imaginárias como por ações reais. E podem subsidiar a compreensão
do bullying. A ambivalência de atitude trafega pelos extremos das manifestações
afetivas, revelando fantasias do mundo interior de variadas formas, tais como, registros
em diários, cartas e até na utilização dos espaços virtuais
13
. É também no espaço
virtual protegidos pelo anonimato, que as manifestações afetivas apresentam-se
intimidatórias, produzindo o bullying.
Para os agressores surgem, então, os elementos necessários e suficientes
para ações intimidatórias, já que a impossibilidade de equilibrar o afeto surge conforme
a demanda adaptativa, exigida na esfera social. E os agredidos, passam a ser alvo
desse processo de maturação afetiva na adolescência, representada pelo que Wallon
chama de “... experiências novas, ainda confusas e desejos poderosos e vagos...”
(Wallon, 1975b)
13
E-mail anônimo numa sala de aula do ensino médio: “Oi, ontem aproveitei a folha com os emails
passando pela sala para copiar seu email espero que voce não fique brava, peguei seu email por que
queria que voce soubece que na sala voce tem um admirador, com toda certeza voce é a mais linda de
toda as garotas que desta sala bjssss e até amanhã.” (SIC)
42
O autor do bullying é tipicamente popular; tende a envolver-se em uma
variedade de comportamentos antissociais; pode mostrar-se agressivo inclusive com os
adultos; é impulsivo; vê sua agressividade como qualidade e tem opiniões positivas
sobre si mesmo. Geralmente, ele é mais forte que seus alvos e sente prazer e
satisfação em dominar, controlar e causar danos e sofrimento a outros. Além disso,
entende que há componentes benéficos em sua conduta, como ganhos sociais e
materiais. É menos satisfeito com a escola e família, mais propenso ao absenteísmo e à
evasão escolar. Tende ainda a apresentar comportamentos de risco (fumo, álcool ou
outras drogas, portar armas, brigar etc). As possibilidades são maiores em crianças ou
adolescentes que adotam atitudes antissociais antes da puberdade e por longo tempo
(Neto, 2005).
Questões pessoais, morais e existenciais são trazidas à tona. Tantas e
intensas transformações fazem surgir no jovem a necessidade de se apropriar de um
corpo que se transforma rapidamente, com necessidade de reorganização do esquema
corporal. Como no estágio do personalismo, é condição para a construção da pessoa.
Com isso, voltam a preponderar as funções afetivas, isto é, a construção da pessoa.
Nesta etapa, a vida afetiva torna-se mais intensa (Wallon, 1975b).
Ainda, segundo Wallon, “a afetividade possui papel fundamental no
desenvolvimento da pessoa: ӈ afetividade concernem ao que tudo indiaca as
manifestações psiíquicas mais precoces da criança”. (Waloon, 2007, p.115).
As transformações fisiológicas de uma criança revelam importantes traços de
caráter e personalidade. Já as emoções são altamente orgânicas e ajudam o ser
humano a se conhecer. A raiva, o medo, a tristeza, a alegria e os sentimentos mais
profundos possuem uma função de grande relevância no relacionamento da criança
com o meio. Na esfera afetiva podem ter manifestações mais agudas tais como a
agressão e/ou violência. (Wallon, 1975b).
Esta etapa do desenvolvimento humano de grandes transformações, ao
mesmo tempo em que facilita a construção da identidade, dos referenciais éticos e
morais, encontram um tecido psicológico mais susceptível e
algumas vezes, menos
43
eficiente no manejo de situações de emergência emocional, como as produzidas nos
episódios de bullying.
Do Latim afectus – que exprime um desejo ou afeto – a afetividade remonta
uma determinada demanda psicológica.
Almeida e Mahoney, fundamentadas nas obras de Wallon, afirmam que a
afetividade:
[...] “refere-se à capacidade e a disposição do ser humano de
ser afetado pelo mundo externo/interno por sensações
ligadas a tonalidades agradáveis ou desagradáveis” e
apontam para três momentos: emoção, sentimento e paixão.
“Na emoção predomina a ativação fisiológica, no sentimento,
a ativação representacional, e na paixão, a ativação do
autocontrole”. (Almeida e Mahoney, 2007a, p.2)
Em outras palavras, é o termo utilizado para identificar um domínio funcional
abrangente, e nesse domínio funcional, aparecem diferentes manifestações, desde as
primeiras, basicamente orgânicas, até as diferenciadas como as emoções, os
sentimentos e as paixões. (Almeida , A.A, 2001).
A afetividade, com esse sentido abrangente, está sempre relacionada aos
estados de bem-estar e mal-estar do indivíduo. A afetividade se desenvolve, podendo
ser identificada, em duas etapas, sendo a primeira de base mais orgânica, e a outra de
base mais social (Wallon, 1975).
Quando os motivos que provocam os estados de bem-estar e mal-estar
estão primordialmente ligados às sensibilidades fisiológicas interoceptivas ou
proprioceptivas, tem-se uma etapa em que a afetividade é de base orgânica. Quando
os motivos que provocam os estados de bem-estar e mal-estar já não são limitados às
sensibilidades intero e próprio, mas já envolvem a chamada sensibilidade ao outro, a
afetividade passa para outro patamar, já que é de base fortemente social (Wallon,
2007).
44
Segundo Wallon, a emoção é uma forma de exteriorização da afetividade
que evolui, como as demais manifestações, sob o impacto das condições sociais. É
interessante perceber a relação complexa entre a emoção e o meio social,
particularmente, o papel da cultura na transformação das suas expressões. Se, por um
lado, a sociedade especializa os meios de expressão da emoção, transformando-os em
instrumentos de socialização, por outro lado, essa especialização tende a reprimir as
expressões emocionais.
Já os sentimentos revelam a expressão representacional da afetividade, ou
seja, não implica em reações instantâneas e diretas como na emoção. Tende a reprimir,
a impor controles que quebrem a potência da emoção. As formas de expressão tornam-
se cada vez mais socializadas, a ponto de não expressarem mais o arrebatamento
característico de uma emoção autêntica
. (Wallon, 1975).
Desta forma e aliada à categoria em foco – puberdade e adolescência
14
– a
afetividade, além de emergir da pessoa no curso natural de seu desenvolvimento com
seus propósitos básicos, pode ancorar solicitações da categoria, e produzir também,
respostas pouco eficiente na solução de várias demandas adaptativas.
No presente estudo, os momentos preponderantes a serem investigados
estão mais significativamente ligados às emoções – como lidam nas situações de
emergências e sentimentos – e como reagem emocionalmente a cada episódio de
intimidação e suas consequências imediatas, a médio e longo prazo.
Na timidez, por exemplo, comum nos jovens vitimizados pelo bullying – nota-
se certa hesitação e imprecisão de movimentos, incerteza de postura produzindo um
estado de hipotonia (diminuição da tensão muscular), podendo produzir lentificação de
movimentos, posturas físicas inadequadas, e até, estados depressivos
14
Nesse estágio aparece a exploração de si mesmo na busca de uma identidade autônoma, mediante
atividades de confronto, auto-afirmação, questionamento. O domínio de categorias de maior nível de
abstração, entre as quais a categoria dimensão corporal, possibilita a discriminação mais clara dos limites
de sua autonomia e de sua independência, acrescida de um debate sobre valores
45
O estado de desequilíbrio psicológico – em especial na esfera afetiva – tem
impacto direto sobre o esquema corporal dos jovens, assim como a perda total de
controle, que pode estar associada a outras questões de saúde mental
15
.
O conceito walloniano de afetividade sugere a compreensão do fenômeno
bullying, tendo em vista seu mecanismo de ajuste na adolescência. No entanto, a
consciência desse eu é também determinada pelo outro. “O problema do outro é
também problema do eu, ou seja, da condição humana. Todos os homens o sentiram,
com lucidez maior ou menor “A dualidade é admitida como um postulado, e a prioridade
do conhecimento de si próprio sobre o conhecimento de outrem [...]” (Zazzo,
1978,p.56). Alguns estudiosos do bullying (Olweus, 1983) apontam a projeção do eu no
outro e da introjeção do outro no eu.
No processo de personalização, agregam-se elementos afetivos e culturais,
que ao produzir conhecimento do eu e do não-eu, constroem no processo civilizatório, a
importância primaz desse eu. Mas ele somente se constitui pela sua antítese, qual
seja, o outro.
3.3 DAN OLWEUS
Psicólogo sueco, doutorou-se em Psicologia pela Universidade de Umeå,
Suécia, em 1969. De 1970 até 1995 foi professor de psicologia na Universidade de
Bergen, Bergen, Noruega e ali, iniciou sua trajetória de pesquisa na área de violência
escolar, em especial, o bullying.
15
Na Universidade Técnica de Virgínia, Blacksburg, Virginia (USA), a emoção descontrolada de um
estudante sul-coreano, produziu o trágico episódio que culminou com a morte de 33 jovens. Na
investigação, descobriu-se que esse aluno era continuadamente ridicularizado pelos colegas em função
do sotaque ao se pronunciar em inglês, em sala de aula. Os estudantes da Columbine High School, Eric
Harris, 18 anos, e Dylan Klebold, 17, mataram 12 colegas e um professor e cometeram suicídio em
seguida. No Brasil, em janeiro de 2003, Edimar Aparecido Freitas, de 18 anos, invadiu a escola onde
havia estudado, no município de Taiúva, estado de São Paulo, com um revólver na mão. Ele feriu
gravemente cinco alunos e em seguida, se matou. Obeso na infância e adolescência, ele era motivo de
chacota entre os colegas (www.educacional.com.br/bullying).
46
A partir de 1996, tornou-se professor de pesquisa em psicologia, afiliando-se
ao Centro de Pesquisa para Promoção de Saúde (HEMIL) na mesma universidade.
Durante nove anos (1962-70), foi diretor da Erica Foundation, Estocolmo, Suécia, um
instituto para treinamento de psicólogos clínicos com enfoque na infância. Por
aproximadamente 30 anos, Dan Olweus esteve envolvido nas áreas de pesquisa e
intervenção com crianças e adolescentes, vítimas do bullying. Em 1970, deu início a um
amplo projeto, considerado ainda hoje como o primeiro estudo científico sobre bullying,
suas vítimas e seus algozes, publicado na Escandinávia em 1973, e em 1978 nos EUA
com o título “Agressão nas escolas: Jovens tiranizando jovens”
16
.
Nos anos 80 do século XX, administrou o primeiro estudo de intervenção
sistemática contra o bullying no mundo, produzindo efeitos bastante positivos no
“Programa de Prevenção ao Bullying" (Olweus, 1983). No final do século, na
Universidade de Bergen, Dan Olweus administrou vários projetos de intervenção contra
o bullying, novamente com resultados bastante satisfatórios (Olweus, 1993). Este
estudo prolongou-se para outros países, tais como, Japão, EUA, Inglaterra, Holanda,
dentre outros, com resultados igualmente eficazes.
Olweus é internacionalmente reconhecido como pioneiro nas pesquisas
sobre bullying e suas vítimas. É considerado o pai da pesquisa sobre vítimas,
vitimizadores e testemunhas de bullying, Seu livro "Bullying na escola: O que nós
sabemos e o que nós podemos fazer” (Olweus, 1993) foi publicado em 15 idiomas
diferentes. Recebeu vários prêmios e reconhecimento pelas suas pesquisas e trabalho
de intervenção contra o bullying.
Os procedimentos de Olweus contra o bullying ganharam reconhecimento
nacional e internacional. Entre outras coisas, o “Programa de Prevenção contra o
Bullying” foi escolhido recentemente como um dos dez "programas-modelo" para
contenção e redução de danos na área de violência escolar tendo sido usado em mais
de 500 programas nos EUA até a presente data, com o apoio do Departamento Justiça
Americano (Olweus e Limber, 1999).
16
Aqui, a palavra bullying foi traduzida por tiranizar, tendo em vista o fluxo do texto.
47
Um dos critérios para a seleção desse programa-modelo era o fato de ter
sido exposto a uma avaliação rigorosa e ótimos resultados, cientificamente
comprovados a médio e longo prazo. O programa de prevenção ao bullying de Olweus
é o único programa-modelo não-americano, utilizado nos EUA.
A pesquisa de Olweus e o trabalho de intervenção teve um papel
fundamental nas mudanças produzidas em muitos países (como a Noruega, Suécia,
Inglaterra, Escócia, Irlanda, Holanda, Alemanha, Austrália, e Japão) nos últimos 15
anos. O bullying vem adquirido um aspecto de ”algo comum” (quase uma banalização
do fenômeno) e como parte natural da vida escolar, tornando-se tema das grandes
questões sociais a serem consideradas sistematicamente. Este processo silencioso
deve contar com a participação da escola, dos pais, autoridades e da sociedade como
um todo.
O Programa de Prevenção contra o Bullying de Dan Olweus foi desenvolvido
e avaliado por mais de 20 anos (Olweus, 1993, 1999). É constituído de quatro
princípios-chave, obtidos nas pesquisas sobre o desenvolvimento humano e
modificação de comportamentos agressivos. Esses princípios foram criados a partir da
construção de um ideal de escola que estivesse próxima à representação da própria
casa em termos de:
Acolhimento, interesse e envolvimento dos adultos responsáveis pelos bullies;
Limites rígidos para comportamentos inaceitáveis;
Utilização de sanções que não sejam de natureza moral ou física para
comportamentos inaceitáveis e descumprimento de regras;
Adultos que exercem autoridade e modelos positivos;
A idéia central do programa é não aceitar o bullying na escola e cuidar para
que ele seja extinto. Uma meta importante é mudar os “mecanismos de recompensa
utilizados pelos bullies na escola.
48
Esses princípios foram elaborados tendo como base diversas medidas
específicas a serem utilizadas individualmente e em sala de aula tais como, Semana
antibullying, supervisão qualificada, grupos de discussão, aplicação periódica de
questionários para avaliação da frequencia e intensidade dos eventos de bullying na
ótica das vítimas, regras dentro de sala de aula, supervisão durante os intervalos e
recreios, encontros de pais de alunos de uma mesma série, conversas continuadas com
bullies e vítimas e planos de intervenção individual.
Em resumo, a escola deve ter uma política antibullying implantada e pessoal
qualificado para garantir seu funcionamento. Um dos questionários mais utilizados
atualmente no Ensino Fundamental Americano, foi construído com base nos estudos e
pesquisas de Dan Olweus.
49
CAPÍTULO 4
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
50
CAPÍTULO 4 – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A metodologia deste estudo foi a abordagem qualitativa tendo como técnica
utilizada, a aplicação de questionários com perguntas abertas (13) e fechadas (2). Este
capítulo apresenta os elementos constituintes destes procedimentos.
4.1 INSTRUMENTOS PARA COLETA DE DADOS
4.1.2 PRÉ-TESTE – ANEXO C
O instrumento utilizado para coleta preliminar de dados foi um questionário
híbrido, ou seja, questões abertas (13) e fechadas (2), resultado de um pré-teste
realizado com alunos do Ensino Fundamental desta mesma escola, com idades entre
13 e 14 anos. O pré-teste foi aplicado em 10 (dez) alunos – N=10 – presentes na
escola e escolhidos por convite.
Realizado em uma única etapa, o pré-teste recebeu alterações na sequência
de perguntas – por sugestão da banca de qualificação – tendo sido preservado o seu
conteúdo original. No pré-teste, a participação dos alunos foi voluntária, além de ter
sido informado aos alunos, a garantia total do anonimato e sigilo das respostas. Este
procedimento do pesquisador teve por objetivo reforçar de maneira contundente a
segurança dos entrevistados e suas respostas, uma vez que, o assunto em pauta –
colocação de apelidos pejorativos – é de complexo manejo experimental. As condições
técnicas de aplicação (iluminação, temperatura, nível de ruído etc.) foram satisfatórias.
Em média, os participantes responderam a todas as perguntas em vinte minutos.
51
4.1.3 QUESTIONÁRIO – ANEXO C
O instrumento utilizado na pesquisa – questionário híbrido – contemplava
questões abertas (13) e fechadas (2). O questionário foi aplicado em 165 (cento e
sessenta e cinco) alunos – N=165 – presentes na escola e escolhidos por convite.
Assim como no pré-teste, a participação dos alunos foi voluntária, com autorização
expressa dos pais ou responsáveis, além deles alunos terem sido previamente
informados, sobre a garantia total do anonimato e sigilo das respostas.
Aqui também as condições de aplicação foram satisfatórias. Em média, os
participantes responderam a todas as perguntas em vinte minutos.
4.2 PARTICIPANTES E PROCEDIMENTO
Todos os alunos dos 7ºs e 8º anos participaram da coleta de dados, exceto
aqueles que manifestaram desejo em contrário. Aos alunos foi solicitado o
preenchimento do questionário, sem identificação, todos simultaneamente, quando as
instruções básicas foram apresentadas. A decisão de aplicação em todos os alunos foi
tomada visando o não-surgimento de categorias discriminatórias entre os alunos. Desta
forma, não houve qualquer critério de segmentação, exceto os previamente informados,
quais sejam, idade e ano. O tempo médio gasto para preenchimento foi de vinte
minutos, o mesmo constatado no pré-teste.
A coleta de dados ocorreu em quatro momentos distintos, ou seja, no
primeiro dia, dois 7ºs anos e no segundo dia, outros dois; No terceiro dia, dois 8ºs anos
e por último, quarto dia, um 8º. Total: 165 alunos subdivididos em sete séries
pesquisadas. Assim como no pré-teste, sempre com a expressa autorização dos pais
(termo livre de consentimento), coordenação, professores e direção.
52
CAPÍTULO 5
APRESENTAÇÃO DOS DADOS COLETADOS
53
CAPÍTULO 5 – APRESENTAÇÃO DOS DADOS COLETADOS
5.1 INTRODUÇÃO
Na fronteira com a hermenêutica, os métodos são puramente semânticos,
divididos em métodos psicológico-semânticos, que investigam as conotações que
formam o campo semântico de uma imagem ou de um enunciado, e em métodos
lógico-semântico-estruturais, que se aplicam a unidades psicosociosemânticos ou sócio
semânticos mais amplos. As mensagens expressam representações sociais na
qualidade de elaborações mentais construídas socialmente, a partir da dinâmica que se
estabelece entre a atividade psíquica do sujeito e o objeto do conhecimento. Relação
que se dá na prática social e história da humanidade e que se generaliza via linguagem
(Franco, 2007, p. 33-34).
Para compreender melhor a relação que se estabelece entre o
comportamento humano, conceitos e sentimentos, deve-se partir das manifestações
verbais dos alunos. Nesse sentido e para este estudo, foi o contexto lógico-semântico-
estrutural das respostas, que municiou a análise de conteúdo, obedecendo ao seguinte
fluxograma:
PRÉ -TESTE
QUESTIONÁRIO
UNIDADES DE ANÁLISE
UNIDADES DE REGISTRO
UNIDADES DE CONTEXTO
CATEGORIAS DE ANÁLISE
ANÁLISE DE CONTEÚDO CONCLUSÕES
54
5.2 CARACTERIZAÇÃO DA ESCOLA
Para esta pesquisa, foi escolhida uma escola pública estadual, na região
central de São Paulo com aproximadamente 600 alunos, assim subdivididos:
1ª ao 5º ano – 330 alunos
6ª ao 9ª ano – 270 alunos
A escola, objeto deste estudo, iniciou suas atividades há mais de sessenta
anos e passou por inúmeras transformações em decorrência das diversas mudanças
das políticas públicas de educação, tendo até 2001, apenas turmas do 1º ao 4º ano do
ensino Fundamental (antes da reforma). Há 08 (oito) anos iniciou o oferecimento das
turmas do 6º ao 9º anos.
5.3 DADOS OBTIDOS NO PRÉ-TESTE
17
Os resultados do pré-teste indicaram a existência significativa de apelidos
(70%) sendo 40% deles, pejorativos. Ou seja, 07(sete) em 10(dez) alunos têm algum
tipo de apelido.
O pré-teste ainda mostrou:
60% dos sujeitos apelidados são do sexo masculino
40% dos sujeitos apelidados são do sexo feminino
40% dos sujeitos apelidados não gostam do apelido
17
O pré-teste (Anexo C) permitiu uma boa avaliação do questionário.
55
5.4 SEGMENTAÇÃO PARA ANÁLISE
Como procedimento preliminar, todos os questionários foram agrupados
segundo os seguintes critérios:
Meninos com Apelidos – 7º Ano
Meninos com Apelidos – 8º Ano
Meninas com Apelidos – 7º Ano
Meninas com Apelidos – 8º Ano
Meninos sem Apelidos – 7º Ano
Meninos sem Apelidos – 8º Ano
Meninas sem Apelidos – 7º Ano
Meninas sem Apelidos – 8º Ano
O conjunto de meninos apelidados do 7º Ano totalizou 29
O conjunto de meninos apelidados do 8º Ano totalizou 35
O conjunto de meninas apelidadas do 7º Ano totalizou 25
O conjunto de meninas apelidadas da 8º Ano totalizou 15
Donde
O conjunto de meninos apelidados totalizou 64
O conjunto de meninas apelidadas totalizou 40
Donde
O conjunto de crianças apelidadas totalizou 104
56
Tendo como universo de pesquisa N=161, o percentual de crianças
apelidadas totalizou 65% em números de máxima e sem validade estatística.
5.5 DADOS QUANTITATIVOS OBTIDOS NO QUESTIONÁRIO
Após a aplicação, os questionários foram validados pelo pesquisador, com
base nos seguintes critérios:
QUESTIONÁRIOS APLICADOS 165
QUESTIONÁRIOS RESPONDIDOS 165
QUESTIONÁRIOS VALIDADOS INTEGRALMENTE 161
QUESTIONÁRIOS ELIMINADOS 04
MOTIVO DA ELIMINAÇÃO:SEM RESPOSTA 01
MOTIVO DA ELIMINAÇÃO: ILEGÍVEL 01
MOTIVO DA ELIMINAÇÃO:FUGA DE IDÉIA PRINCIPAL 02
QUESTIONÁRIOS RESPONDIDOS PELOS 7º s Anos 89
MASCULINO 43
FEMININO 46
QUESTIONÁRIOS RESPONDIDOS PELAS 8ºs Anos 72
MASCULINO 45
FEMININO 27
57
5.6 DESCRIÇÃO DO INSTRUMENTO DE PESQUISA – QUESTIONÁRIO –
ANEXO C
O instrumento utilizado foi construído visando à obtenção de informações
para uma análise qualitativa dos dados coletados, através da elaboração de Categorias
de Análise. O ponto de partida da Análise de Conteúdo é a mensagem, seja ela verbal
(oral ou escrita), gestual, silenciosa, figurativa, documental ou diretamente provocada
(Franco, 2007).
No questionário utilizado, foram encontradas respostas de difícil
compreensão e leitura, seja pelo conteúdo, seja pela grafia/gramática, o que não
impediu a inclusão destes no rol de respostas. Apenas 04 (quatro) questionários em
165 (cento e sessenta e cinco) foram totalmente descartados por terem sido entregues
em branco (um questionário), totalmente ilegíveis (um questionário) e com fuga da idéia
principal – respostas fora de contexto, incompreensão do que estava sendo
questionado – manifestações pessoais inadequadas etc. (dois questionários). Neste
estudo, o material coletado na pesquisa – linguagem escrita – será o objeto de análise.
Para tanto, foi construído um questionário com 14 (quatorze) perguntas,
além de um espaço para comentários adicionais – questão 15 – (Anexo E) em caso de
necessidade ou desejo dos alunos. Doze das perguntas eram abertas, duas com
alternativas (sim e não) e uma última para considerações complementares, assim
apresentadas:
As questões 1,2 e 4 forneceram dados relativos às formas como um aluno
vê o colega ou amigo apelidado. A questão 3, coletou dados referentes à política da
escola sobre a utilização de apelidos, segundo a percepção do aluno.
OBSERVAÇÃO
As questões 5 e 6 serviram para segmentação instantânea dos entrevistados
em grupos (meninos e meninas, apelidados e não apelidados e anos (7º e 8º) conforme
apresentado no item 5.4 – Segmentação para análise, do capítulo anterior.
58
A questão 7 inicia a coleta de dados dos alunos apelidados. Nesta
questão havia também, uma orientação de seguir diretamente para a questão 14, caso
o entrevistado tivesse respondido não ter apelido. As questões 8, 9, 10, 11, 12 e 13,
investigaram impressões, sentimentos, ações e reações do aluno apelidado. A questão
14 buscou verificar como o entrevistado sente o amigo ou colega apelidado
pejorativamente. Por fim, a questão 15, colocou à disposição do aluno, a possibilidade
de comentários adicionais.
5.7 UNIDADES DE ANÁLISE
Neste estudo, optou-se pela utilização da modalidade TEMA nas Unidades
de Registro para um enquadre preciso das respostas obtidas. Já a Unidade de
Contexto principal é a Escola, donde, os apelidos (pejorativos ou não) ocorrem
preferencialmente entre jovens de uma faixa etária e que dividem o mesmo espaço
físico (Olweus, 1991).
Segundo Franco (2007), as unidades de análise dividem-se em:
5.8 UNIDADES DE REGISTRO
Há diferentes tipos de Unidades de Registro: pela Palavra, pelo Tema,
pelo Personagem e pelo Item. A unidade definida para este estudo foi o TEMA como
mais adequado para a análise de conteúdo. Diz Franco: ”O TEMA é uma asserção
sobre determinado assunto. Pode ser uma simples sentença (sujeito e predicado), um
conjunto delas ou um parágrafo” (2007). Uma questão temática incorpora, com maior ou
menor intensidade, o aspecto pessoal atribuído pelo respondente acerca do significado
de uma palavra e/ou sobre as conotações atribuídas a um conceito. “O TEMA desta
59
pesquisa refere-se a uma asserção específica, qual seja, como jovens se sentem e
reagem diante dos apelidos que recebem” (Franco, 2007, p.42-43)
5.9 UNIDADES DE CONTEXTO
As Unidades de Contexto podem ser consideradas como o pano de fundo
que imprime significado às Unidades de Análise. Podem ser obtidas mediante os
recursos dados que explicitem a caracterização dos informantes e suas condições de
subsistência e especificidade das respectivas inserções em grupos sociais (família de
origem, mercado de trabalho, instituições consagradas, religiosas, beneméritas etc). A
Unidade de Contexto é a parte mais ampla do conteúdo a ser analisado, porém é
indispensável para a necessária análise e interpretação dos textos a serem
decodificados (tanto do ponto de vista do emissor quanto do receptor) e, principalmente
para que possa se estabelecer a diferença resultante dos conceitos de significado e de
sentido, os quais devem ser constantemente respeitados. A Unidade de Contexto visa
imprimir significados às unidades de análise. Podem ser obtidas mediante o recurso a
dados que explicitem: neste caso, a especificidade de suas inserções em grupos
sociais diversificados e auxiliam na decodificação e interpretação dos registros obtidos
durante a coleta de dados. (Franco, 2007, p.47-49).
5.10 CATEGORIAS DE ANÁLISE
Os critérios de categorização podem ser sintáticos (verbos, adjetivos) ou
léxicos
18
(Bardini, 1977, apud Franco, 2007). Foram criadas 10 (dez) categorias de
análise (e suas subcategorias) sendo que seis delas foram agrupadas segundo
18
Classificação das palavras segundo seu sentido, com emparelhamento de sinônimos e dos sentidos
próximos.
60
sentimentos, reações e percepções experimentadas e quatro de natureza genérica.
19
CATEGORIA GERAL SENTIMENTOS AÇÃO/REAÇÃO PERCEPÇÃO
QUESTÕES Nº 1, 3, 10 e 15 9 e 14 2, 4, 12 e 13 7, 8 e 11
5.11 CATEGORIAS E SUBCATEGORIAS UTILIZADAS
5.11.1 CATEGORIA 1Experiências afetivas relatadas em decorrência
de apelidos pejorativos recebidos.
Referente à questão 09: Como você se sente em relação a este
apelido?
5.11.1.1 Subcategorias
5.11.1.1.1 Manifestações afetivas positiva
5.11.1.1.2 Manifestações afetivas negativas mais intensas
5.11.1.1.3 Manifestações afetivas negativas menos intensas
5.11.1 1.4 Manifestações afetivas negativas intermediárias
5.11.1.1.5 Manifestações afetivas negativas de ajuste psicológico
19
As questões 5 e 6 serviram para segmentação de apelidados e não-apelidados.
61
5.11.2 CATEGORIA 2 – Reações diante do apelido recebido
Referente à questão 12: Você reage diante desses apelidos?
Referente à questão 13: De que forma?
5.11.2.1 Subcategorias
5.11.2.1.1 Reações agudas
5.11.2.1.2 Reações moderadas
5.11.2.1.3 Sem reação
5.11.3 CATEGORIA 3 – Motivo do Apelido (Autopercepção)
Referente à questão 07: como começou?
Referente à questão 08: por que você acha que recebeu esse apelido?
62
5.11.3.1Subcategorias
5.11.3 3.1 Aspecto físico
5.11.3 3.2 Etnia
5.11.3 3.3 Pelo uso de órteses
5.11.3 3.4 Comportamento específico
5.11.3.3.5 Natureza sexual
5.11.3.3.6 De natureza ideológica
5.11.4 CATEGORIA 4Atitudes frente ao outro apelidado
Referente à questão 4: Você o chama pelo nome ou pelo apelido?
5.11.4.1 Subcategorias
5.11.4.1.1 Por respeito
5.11.4.1.2 Falta de respeito
5.11.4.4.3 Indiferença
63
5.11.5 CATEGORIA 5 – Visão do outro apelidado
Referente à questão 14: Você já pensou como seu amigo se sente
apelidado?
5.11.5.1 Subcategorias
5.11.5.1.1 Sentimentos intensos
5.11.5.1.2 Sentimentos moderados
5.11.5.1.3 Demonstração de solidariedade
5.11.5.1.4 Indiferença
5.11.6 CATEGORIA 6 – Percepção do outro apelidado
Referente à questão 02: O que ele faz quando alguém o chama assim?
5.11.6.1.Subcategorias
5.11.6.1.1 Reações mais intensas
5.11.6.1.2 Reações menos intensas
5.11.6.1.3 Reações intermediárias
64
5.11.7 CATEGORIA 7 – Força do apelido
Referente à questão 11: O apelido pegou?
5.11.8 CATEGORIA 8 – Política da escola
Referente à questão 03: O que a escola faz nessa situação?
Subcategorias
5.11.8.1 Isenção total
5.11.8.2 Ação contundente
5.11.8.3 Ação moderada
5.11.9 CATEGORIA 09 – Apoio / Ajuda de terceiros
Referente à questão 10: Você já conversou com alguém sobre isso? O
que a pessoa fez?(pergunta dupla)
Subcategorias
5.11.8.1 Em relação a si próprio – autodirigida
5.11.8.2 Em relação ao outro – alodirigida
65
5.11.10 CATEGORIA 10 – Comentários adicionais
Referente à questão 15: Há algo mais que você gostaria de comentar
sobre o tema?
Subcategorias
5.11.10.1 Comentários de alunos apelidados
5.11.10.2 Comentários de alunos não-apelidados
66
CAPÍTULO 6
ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS
67
CAPÍTULO 6 – ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS
6.1 INTRODUÇÃO
A análise é o processo que conduz à
explicitação da compreensão do fenômeno pelo
pesquisador (Symanski, 2004).
Neste estudo, a compreensão dos fenômenos foi obtida mediante a
construção de categorias e subcategorias de análise, que permitiram o enquadramento
das respostas coletadas em Unidades de Registro no universo de pesquisa demarcado.
Bardin alerta “que é muitas vezes necessário proceder-se à constituição
de um corpus. O corpus é o conjunto de documentos tidos em conta para serem
submetidos aos procedimentos analíticos [...]” Bardin (apud Franco,1977, p.53). Sua
constituição implica escolhas, seleção e regras, quais sejam:
A) Exaustividade – considerar todos os dados coletados. Neste estudo, definido pelos
161 questionários validados.
B) Representatividade – construção de uma amostragem expressiva dentro do universo
pesquisado. Aqui o universo de análise está definido pela totalidade dos questionários
respondidos.
C) Homogeneidade – Os documentos a serem analisados devem obedecer a critérios
precisos de escolha e não apresentar demasiada singularidade que extrapolem os
critérios e os objetivos definidos (Bardin, 1977).
Os alunos participantes são alunos regulares dos 7º e 8º anos de uma
escola pública na região central de São Paulo, além de estarem em uma mesma faixa
68
etária e possivelmente no mesmo patamar socioeconômico. A análise focou respostas
propriamente ditas – manifestações linguísticas objetivas – e os questionários foram
lidos com atenção flutuante
20
, procurando entender seus significados por eles mesmos
sem atribuição de sentidos não-manifestos explicitamente.
Como previamente mencionado, as experiências afetivas são pessoais,
decorrentes da subjetividade de cada um, observadas cautelosamente neste trabalho.
Por trata-se de uma leitura flutuante, a análise e interpretação foram elaboradas dentro
do léxico coloquial da língua portuguesa.
Apelidos, em especial os pejorativos, são construídos a partir de adjetivos
utilizados por analogia, semelhança ou inferência. A dificuldade em atribuir sentidos foi
minimizada quando, ao analisar as respostas, considerou-se o significado
imediatamente percebido pelo pesquisador. Dentro dessas premissas, os dados
coletados foram agrupados em categorias de análise.
Essas categorias forneceram elementos necessários e suficientes para
compreensão do objetivo desta pesquisa, qual seja: como crianças lidam e reagem em
relação aos apelidos pejorativos.
20
O conceito de atenção flutuante se refere ao estado pelo qual deve funcionar a atenção durante um
processo de análise de dados e informações. A atenção não deve privilegiar, a priori, qualquer elemento
do discurso ou do comportamento o que implica em deixar funcionar livremente suas próprias atividades
mentais, conscientes e inconscientes, deixando a atenção flutuar e suspendendo ao máximo as próprias
motivações, desejos e planos. Em outras palavras, a atenção flutuante nos permite atender de modo
simultâneo a várias situações. É um estado artificial da atenção, cultivado pela necessidade do momento
(Tanaka, 2008)
69
6.2 CATEGORIA 1- EXPERIÊNCIAS AFETIVAS RELATADAS FRENTE
AOS APELIDOS PEJORATIVOS RECEBIDOS
Questão 09: Como você se sente em relação a este apelido?
Esta categoria privilegiou as questões relativas à autoestima
21
,
resignação
22
, respeito
23
e humilhação
24
. Esses elementos idiossincráticos podem ser
alvos de intensa aflição psíquica e produzir danos. Alunos fragilizados são também,
mais suscetíveis à outra categoria de dificuldades psicológicas tais como, insônia,
inapetência, ansiedade, quadros fóbicos etc.
Há de ser cauto na avaliação dessas questões. Quando um aluno se intitula
imprestável” sinaliza estar a imagem de si mesmo, na melhor das hipóteses, abalada.
Esse dado deve ser analisado com profundidade podendo estar sinalizando demandas
mais complexas.
Os apelidos podem ser ou não pejorativos. A característica semântica
principal é a adjetivação de um nome próprio, dando-lhe bons ou maus significados,
caricatos ou não. Para Houaiss (2001), o conceito de adjetivo (em nosso estudo,
derivação por extensão de sentido) é definido como qualificar, caracterizar, chamar,
intitular alguma coisa ou alguém. Assim, o apelido – pejorativo ou não – qualifica
alguém, de alguma forma. Este processo gera sentimentos e reações. E é o que aqui
se estudou.
Sentimentos – assim como a dor – são experiências subjetivas, únicas,
pessoais e intransferíveis. Portanto, podem produzir generalizações nos remetendo a
uma grande possibilidade de erro. Da mesma forma, a atribuição de significados: o que
21
Autoestima inclui a avaliação subjetiva que uma pessoa faz de si mesma como sendo intrinsecamente
positiva ou negativa em algum grau.
22
Resignação pode denunciar a incapacidade de reação diante de uma situação de ameaça física ou
psicológica.
23
Respeito significa o reconhecimento do outro como sujeito de direitos e dotado de intrínseca dignidade
24
O conceito de humilhação enseja a ação de desrespeito em relação ao outro.
70
pode ser para um, pode não ser para o outro.
Este estudo não privilegiou a densidade das respostas, assim como a
presença de intrincados significados psicológicos, mas a existência ou não de
experiências afetivas ruins, como resultante do apelido pejorativo recebido. E esta
premissa se manteve até o fim. Contudo, as respostas aqui apresentadas flutuaram em
função dos inúmeros significados dados, da subjetividade de cada aluno e do
pesquisador. Adjetivos muito intensos para uns, podem ou não produzir impacto
semelhante em outros. Há de ser cauto e considerar esta possibilidade.
No caso de apelidos não-pejorativos, os alunos manifestaram claramente
gostar do apelido que receberam, tendo em vista que sua estrutura semântica é
composta de ingredientes afetuosos e boa aceitação social. Esses apelidos, via de
regra, referem-se a diminutivos de nomes, sobrenomes utilizados por haver mais de um
aluno com o mesmo primeiro nome, atitudes e comportamentos de relevância e
exposição social marcante (por exemplo, ser um bom atleta, bom aluno, bonito – dentro
dos atuais conceitos de estética física etc.).
No entanto, alunos com apelidos pejorativos relatam não gostar de
apelidos de forma contundente. Outro grupo relata não gostar muito.
As experiências afetivas relatadas – próprias e em relação a terceiros –
constituíram o mote maior deste estudo. Os relatos não foram, em sua maioria, bons.
Isso significa que alunos não gostam de apelidos. No entanto, as respostas, neste
âmbito, foram segmentadas em diversas subcategorias, por apresentarem natureza
semelhante, mas também, diversas modulações: positivas, negativas, mais e menos
intensas. Esse procedimento permitiu uma análise detalhada dos dados coletados.
Desta forma, pôde ser observado nas questões 9 (em direção a si) e 14 (em
direção ao outro) – categorias 1 e 5 – as seguintes subcategorias de respostas:
Sentimentos positivos em relação ao apelido recebido, foram caracterizados por
respostas tais como gosto, normal e bem.
71
Sentimentos negativos foram analisados, tendo em vista a intensidade, ou
seja, respostas mais intensas (imprestável, humilhado), respostas moderadas (mal,
envergonhado, não gosto muito) e respostas brandas (magoado, irritado, triste). Estes
resultados sugerem que sentimentos ruins estão presentes nas experiências com
apelidos pejorativos, e variam de acordo com a intensidade. Indicam também, uma forte
tendência para produção de danos. Ainda nessas questões, foram obtidas respostas
nomeadas como ruins em uma grande parcela dos 161 questionários. Essa informação
sugere que apelidos pejorativos são indesejáveis. Deve-se ressaltar que além da idéia
dos apelidos pejorativos não serem bem-vindos – obviedade que independe de grandes
estudos científicos – pessoas evitam experiências ruins. Observou-se neste trabalho,
que as emoções decorrentes do apelido indesejado parecem ser muito mais intensas
do que se pressupõe.
Para Wallon (apud Almeida, 2006), as emoções constituem-se em reações
instantâneas e efêmeras que se diferenciam em alegria, tristeza, cólera e medo. A
teoria walloniana obriga a [“...] rever os conceitos de emoção, sentimento e paixão...”
(Sugara, 2008). São essas manifestações afetivas que vão explicar a violência na forma
de intimidação, aqui discutida.
Desta forma, alguns adjetivos, utilizados na construção de apelidos
pejorativos, tais como imprestável, magoado e odeio, indicam grande intensidade
dessas experiências afetivas. Seus desdobramentos podem produzir comportamentos
defensivos – esquiva, raiva e medo, introspecção – recolhimento e culpa, ou ofensivos
– bater, agredir, xingar (Guareschi , 2007).
O questionário que apresentou a resposta imprestável, por exemplo,
reforça a hipótese que o aluno experimenta grande sofrimento psicológico. Este mesmo
aluno respondeu à pergunta 8, (Por que você acha que recebeu esse apelido?), Por
que eles não gostam de mim. Não ser querido pode produzir sentimentos ruins e por
inferência, pouca aceitação social. Já nas respostas menos intensas tais como,
magoado, triste e irritado, a carga de afeto sinaliza um panorama menos dramático,
tendo em vista as conotações a eles atribuídas.
72
Baseada em Wallon, Vereda (2007) argumenta que o surgimento de
exigências racionais nas relações do adolescente com o outro, evidencia-se através de
novas necessidades manifestadas, como por exemplo, ser tratado com respeito, justiça
e igualdade de direitos..
Para jovens de 13 e 14 anos, este conjunto de significados pode
representar um sentimento agudo de caráter centrífugo, ou seja, em direção a si mesmo
e de sofrimento psicológico, tendo em vista que, segundo Wallon, pode-se afirmar:
“aparece aqui e exploração de si mesmo, na busca de uma identidade autônoma,
mediante atividaees de confronto, auto-afirmação, questionamento...” (Almeida e
Mahoney, 2007b, p.19). Foi também observado, que algumas respostas tais “como
aprender a lidar com a situação”, “nada contra, parecem ter uma função de equilibração
psicológica, a partir de uma possível natureza racionalizadora ou escapista. É possível
que tal procedimento permita uma melhor capacidade de enfrentamento do problema.
No entanto, há de se aprofundar nestas afirmações.
6.3 CATEGORIA 2 – REAÇÕES DIANTE DO APELIDO RECEBIDO
QUESTÃO 12: Você reage diante desses apelidos?
QUESTÃO 13: De que forma?
Ação produz reação. Esta tese enseja que alguma reação é produzida
independente da intensidade, oscilando da introspecção até a violência física ou fatal.
Não reagir também é uma forma de resposta à violência. Sua motivação está
intrinsecamente ligada ao perfil psicológico do agredido e possivelmente se manifesta
em outras frentes de sua vida. As reações diante dos apelidos estão mediadas por
fatores internos e socioculturais. Nem sempre se obtém dados fidedignos em relação a
73
esse reagir, ou pelo menos à verbalização dele. É fato que, mecanismos de ajuste
psicológico estão presentes no perfil dos estudantes, na sua capacidade de resiliência,
e nas condutas de autocontrole (para Wallon, emoção) adquiridas ao longo do percurso
de amadurecimento.
Não se observou nesta população, reações extremadas como resposta
aos apelidos recebidos. No entanto, algumas das respostas indicaram a presença de
atitudes socialmente consideradas violentas tais como na pancada, quebrando dentes,
quebrando cadeiras nas costas e algumas respostas com linguajar chulo. Reações
intensas e desproporcionais não devem ser descartadas, tendo em vista a subjetividade
de cada um, mesmo quando ultrapassam o limite do bom senso.
A compreensão deste fenômeno, tal qual ele se manifesta, pode elucidar
sua natureza e contribuir de maneira significativa para implantação de programas de
redução de danos e da extinção da prática de colocação de apelidos. Não se trata de
avalizar essas respostas violentas, mas de considerá-las como o caminho encontrado
por alguns jovens, diante de uma situação de emergência interna. E com isso produzir
danos irreparáveis. Sob forte emoção, reações podem ser destemperadas como
inúmeros registros de assassinatos e suicídio em episódios de bullying.
Há de se considerar também, que reações vinculam-se aos traços de
personalidade e formas encontradas para uma adequada equilibração psicológica. Para
Wallon, as ações e reações do meio sobre o indivíduo têm influência para a formação
da personalidade. Desta forma, o apelido como fator único pode desencadear reações
violentas, mas não há registros de respostas extremadas como as mencionadas na
referência 14 sobre o episódio de Blacksburg, Virginia (USA).
74
Ali ocorreu a combinação de fatores internos (desenvolvimento associado ao
contructo de personalidade) e externos (bullying).
6.4 CATEGORIA 3 – MOTIVO DO APELIDO (AUTOPERCEPÇÃO)
QUESTÃO 07: Como começou?
QUESTÃO 08: Por que você acha que recebeu esse apelido?
Esta categoria forneceu dados para a compreensão de como são
construídos os apelidos, a partir da imagem que o jovem apelidado tem de si mesmo,
além de fornecer uma perspectiva que remete ao conceito maior de como cada pessoa
se vê – subjetividade – inserida num contexto específico que é a escola e sua
capacidade de reprodução da ideologia da qual é partícipe.
Quando conceitos de natureza valorativa são introduzidos aos mais
jovens, a filtragem é ainda incipiente. Alto e baixo, gordo e magro, feio e bonito são
padrões introduzidos, via de regra, buscando a manutenção de elementos balizadores
destas características. Quando uma aluna diz ter recebido o apelido “...por que é negra
e feia...” está reproduzindo uma ideologia preconceituosa e um padrão estético
discutível. Da mesma forma, jovens buscam o ideal de beleza, construindo quadros
anoréxicos e bulímicos: Por conta desse padrão e da possibilidade de sucesso, abrem
mão do bem-estar físico e psicológico, mediante inclusive a anuência de pais ou
responsáveis.
Nossa realidade social, além de assimétrica, é estimuladora da competição.
O competir é próprio da natureza humana e não estaria sendo cometido um erro de
análise ao sinalizar que eventos como esse é o ônus da forma como a sociedade
capitalista, no caso a brasileira, se organiza. E a escola também é um dos veículos para
75
reprodução destas idéias e conceitos.
Quando, por exemplo, um texto escolar veicula uma imagem de família
branca e a empregada invariavelmente negra, traz para o universo infantil o conceito de
que negros servem e brancos são servidos. O livro “As Belas Mentiras” (Nozella, 1978)
denuncia essa realidade perversa onde [...] o livro didático é introduzido nas escolas
com a função precípua de veicular a ideologia dominante, ou seja, as características
constantes desse mundo imaginário são a estereotipação e a idealização, com a função
de fixar fora do tempo e do espaço, modelos de comportamento, de relacionamento, de
valores absolutos em si mesmos, afastando qualquer possibilidade de mudança das
normas e dos comportamentos que funcionam como fonte de lucro para a classe
dominante
(Nozella, 1978, P.54). Em suma, quem é, continuará sendo e quem não é,
permanecerá em seu devido lugar. Este processo estimula um tipo de competição
insana, numa dinâmica de risco, ou seja, a qualquer preço.
Jovens que se aliam ao tráfico, podem não estar se movimentando
deliberadamente em direção ao ilícito como um projeto de vida, mas pela pressão de
consumo comum nas sociedades de bens de capital
. A disputa do ter e do não ter é
uma espécie de tabula rasa em nossa sociedade. E o veículo desse processo é a
competição que se reproduz também na escola através da avaliação, competições,
disputas etc.
Essa competição é muitas vezes utilizada pelos educadores como artifício
para despertar a motivação e o interesse dos alunos em determinadas atividades. Isto
pode gerar frustrações, visto que existe apenas um vencedor, incutindo idéias
individualistas derivadas deste elemento cultural nos alunos e aumentando a
probabilidade de conflitos” (Guareschi, 2008).
É dentro desta dinâmica, que a autoimagem é protagonizada. É preciso
conceber a unidade do múltiplo (Morin, 2000) e possibilidades iguais. Se assim for, o
feio e o belo, o alto e o baixo, o gordo e o magro não mais serão utilizados como
padrões que produzem procedimentos discriminatórios e geradores de sofrimento. No
exato momento em que a competição entre pares for ressignificada, as relações
76
também o serão. E assim, num esforço produtivo conjunto, gerar qualidade de vida:
Para este estudo, bem-estar na escola.
Características físicas costumam ser o grande fornecedor de elementos
para construção de apelidos pejorativos, haja vista as convenções sociais normativas já
citadas anteriormente. Elas definem conceitos de estética que determinam padrões
físicos. Os não-convencionais escapam desta padronização sendo inadequadamente
caricatos. Alguns dos apelidos que fazem nitidamente referência a essas características
físicas: poste de iluminação (altura), pixote (altura), baleia, orca, obesa, baleia
assassina, batatão, boi, pesada (sobrepeso).
Outros apelidos pejorativos encontrados, construídos a partir de
características físicas não convencionais: dentuça, dente podre, coelho da páscoa,
esquelético elétrico, rubéola, cabelo, sobrancelha do capeta. Foi encontrado um
questionário preenchido por uma aluna com necessidades especiais (mão defeituosa),
apelidada pejorativamente de Dinossauro Rex, apelido construído por semelhança à
representação anatômica das mãos deste animal extinto.
Muitos apelidos pejorativos são construídos a partir de constitutivos
étnicos. Uma recente pesquisa indica que há 99,3% de preconceito no ambiente
escolar
25
. De acordo com a pesquisa, 96,5% dos entrevistados têm preconceito com
relação a portadores de necessidades especiais, 94,2% têm preconceito étnico-racial,
93,5% de gênero, 91% de geração, 87,5% socioeconômico, 87,3% com relação à
orientação sexual e 75,95% têm preconceito territorial. Com relação à intensidade do
preconceito, o estudo avaliou que 38,2% têm mais preconceito com relação ao gênero
e que isso parte do homem em relação à mulher.
25
Pesquisa Preconceito e Discriminação no Ambiente Escolar, realizada pela Fundação Instituto de
Pesquisas Econômicas (FIPE) a pedido do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas.
77
Com relação à geração (idade), 37,9% têm preconceito principalmente com
relação aos idosos. A intensidade da atitude preconceituosa chega a 32,4% quando se
trata de portadores de necessidades especiais e fica em 26,1% com relação à
orientação sexual, 25,1% quando se trata de diferença socioeconômica, 22,9% étnico-
racial e 20,65% territorial.
Esse panorama sugere por simples inferência, uma grande inclinação para
construção de apelidos pejorativos de natureza étnica dentro da escola. Apelidos tais
como branquela., churrasco queimado, preta, preto, borracheira, japa e gueixa, atrelam-
se ao preconceito de forma irretorquível.
O uso de órteses – criando um diferencial visível – também é ingrediente
importante na construção de apelidos pejorativos. O conceito universal de saudável e,
portanto, de incluso, indica que a diversidade humana dentro da escola é tão pouco
respeitada quanto fora dela. Quando se inclui por indulgência, se exclui
ideologicamente. Os apelidos encontrados dentro desse conceito foram estrada de
ferro, sorriso metálico por uso de aparelhos dentários e quatro olhos por uso de óculos.
Outra gama de apelidos é construída com base em comportamentos não-
convencionais. Divergências nessa premissa, fornecem elementos para construção de
apelidos pejorativos tais como, vestimentas incomuns, cortes de cabelo, resposta
sexual não-heterossexual e quaisquer outras, considerados diferentes à realidade de
quem coloca apelidos. Esses comportamentos esperados são aqueles definidos como
adequados pela maioria.
No contexto sexual, foram encontrados apelidos tais como dona beija,
miojo, boquete, puti, chupa, labixana, mia do BBB, gaylherme indicando não só a não
aceitação da diversidade sexual humana, mas também o entendimento do certo e do
errado nessa esfera, possivelmente atrelado à herança judaico-cristã de moral. Nesta
categoria, todos os alunos apelidados afirmaram desconhecerem a origem do apelido.
É provável que esses apelidos produzam grande constrangimento.
Da mesma forma, alguns apelidos são construídos a partir de atitudes e
idéias reacionárias, mediante a expectativa de comportamentos socialmente toleráveis.
78
Espera-se que uma menina comporte-se de um jeito e meninos de outro. Espera-se
também, por exemplo, que as reações frente aos apelidos devam ser equilibradas. Não
são. Nem se deve esperar que assim sejam. O sofrimento humano é ímpar, garantido
pela diversidade e subjetividade humana.
Na escola, quando um aluno é dedicado ao estudo e obtém boas notas,
recebe a pecha de NERD ou CDF (“...porque sou boa aluna...”). Ou, se não consegue
vencer as dificuldades escolares, seja por qual motivo for, é reconhecido como BURRO.
O padrão – alunos medianos – devem estar inseridos na curva de Gauss
26
conforme
mostram os índices estatísticos. Fora deste critério, alunos em outros patamares
(acima e abaixo), correm riscos da estigmatização e de receber apelidos pejorativos,
como as crenças que se opõem ao conhecimento.
A crença
27
é um sistema que evolui não para garantir a verdade, a lógica e
a razão, mas a sobrevivência. É a certeza de se ter algo que transcende a lógica
absoluta, criando mitos. É uma tomada de posição em que se acredita nela até ao fim.
É atitude que admite uma coisa verdadeira, ainda que constituída pelos formadores de
opinião (Pais, professores, famosos etc.) que martelam incansavelmente alguns
assuntos de natureza valorativa na direção de alguém, por exemplo, um aluno com
tênis muito usado, recebeu por comparação o apelido mendigo. A estrutura psicológica
na qual se constroem os apelidos é, por inferência, a crença, especialmente nos
apelidos construídos a partir de verdades fabricadas em um contexto preconceituoso e
ultrapassado: “todo menino brinca com carrinhos e meninas com bonecas”.
A natureza deste apelido está na crença de que, não-mendigos usam tênis
novos ou conservados e mendigos não, tendo em vista a indisponibilidade econômica
para tal que, possivelmente, é a mesma do aluno apelidado por mendigo. Esse tipo de
26
Curva de Gauss, também conhecida por distribuição normal, é a descrição de parâmetros de média e
desvio padrão, ou seja, conhecendo-se estes, consegue-se determinar qualquer probabilidade em um
evento qualquer (http://pt.wikipedia.org/wiki/Distribuição_normal
).
27
Em filosofia, mais especificamente em epistemologia, crença é um estado mental que pode ser falso ou
verdadeiro. Ela representa o elemento subjetivo do conhecimento. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Crença
).
79
consumo pode não estar ao alcance permanente dele ou de sua família. Nesta
categoria encontramos ainda: loira burra, loira aguada, maloqueiro, prision break,
tabajara, Maria Bethânia, juqui, jegue, loka, bruxa, óxente.
6.5 CATEGORIA 4 – ATITUDES FRENTE AO OUTRO APELIDADO
QUESTÃO 4: Você o chama pelo nome ou pelo apelido?
Esta categoria estudou a atitude dos alunos em relação aos colegas
apelidados. O socius de Wallon instrumentaliza esse entendimento do outro. Alguns
conceitos como respeito e falta de respeito foram observados nessa pesquisa. O
conceito de respeito
28
refere-se ao apreço por, ou o sentido do valor e excelência de
uma pessoa, qualidade pessoal, talento, ou a manifestação de um talento. Em certos
aspectos, o respeito manifesta-se como um tipo de ética ou princípio, tal como no
conceito habitualmente ensinado de ter respeito pelos outros. No senso comum diz-se
que é o sentimento de consideração àquelas pessoas ou coisas dignas de nossa
veneração e gratidão, como aos pais, aos mais velhos, às coisas sagradas, aos
sentimentos alheios.
Algumas respostas mostraram esse entendimento e que muitos alunos
respeitam alunos apelidados, referindo-se ou chamando-os pelo nome. Nesta
subcategoria encontramos a resposta. Eu o chamo pelo nome. No entanto foi
observado que alguns jovens não se movimentam desta forma, usando sempre o
apelido como forma de identificar o outro.
28
Respeito – do latim respectus, de reespicere: olhar
80
Há ainda uma subcategoria que mescla as anteriores, onde o aluno apelido é
por vezes identificado tanto pelo nome quanto pelo apelido.
Apelidar é descaracterizar ou desconsiderar. Sugere-se por derivação,
desrespeitar. Quando o aluno apelidado mostra-se contrariado frente à pecha recebida,
fazê-la presente é desconsiderá-lo como pessoa. E desrespeitá-lo.
6.6 CATEGORIA 5 – VISÃO DO OUTRO APELIDADO
QUESTÃO 14: Você já pensou como seu amigo se sente apelidado?
Esta questão reforça a anterior, ou seja, verifica se o eu visualiza o outro
diante dos apelidos. Para Wallon, o socius (ou outro interno) é um parceiro permanente
do eu na vida psíquica. Ele é normalmente reduzido, invisível, recalcado e como que
negado pela vontade de dominação e de completa integridade que acompanha o eu.
Entretanto, toda deliberação, toda indecisão é um diálogo por vezes mais ou menos
explícito entre o eu e um oponente. Nos momentos de incerteza, em circunstâncias
graves, que implicam de modo urgente a responsabilidade, o diálogo pode deixar de ser
íntimo, tornando-se expresso: há pessoas que se questionam e que respondem a si
próprias com animação ou mesmo com agressividade constante (Werebe, 1986).
Nesta perspectiva, o outro estará disponibilizado no eu, se esse eu assim
desejar. As respostas encontradas mostram grandes variações na percepção do outro,
possivelmente porque, os que não se mobilizam para tal, têm o socius atendendo a
outras demandas psicológicas. Isso ocorre quando o diálogo interno entre o eu e o
socius, deixa de ser íntimo. Portanto, ver o outro depende da imagem construída a
partir do eu.
Além disso, a visão do outro parece estar ligada à disponibilidade do eu e
81
desta forma, enxergar o sofrimento desse outro, vinculando-se assim, à possibilidade
de cada momento. As variações das respostas oscilam entre o preocupar-se muito ao
não preocupar-se. São sentimentos intensos: (Ofendido, magoado, muito triste, muito
mal, choram, fica com raiva, constrangido, deve sentir muito, triste, triste e
envergonhado), moderados (fica chateado, alguns não gostam, mas tem gente que não
liga, levamos na brincadeira), de solidariedade
(Eu não chamo ninguém pelo apelido porque sei que não gostam, o mesmo que eu
senti: não foi uma experiência boa, os que não gostam, eu penso e paro, não gosto de
colocar apelido em ninguém e de indiferença (Eles nunca reclamaram, não faço a
mínima idéia).
Esta graduação de sentimentos tem sua origem na constituição do eu e é
a partir dele que se projeta e dialoga com o outro real e o outro internalizado. Alunos
contrariados com seus apelidos pejorativos parecem ser mais sensíveis à problemática
do outro apelidado. Muitas das respostas acima identificadas como intensas, indicaram
essa possibilidade.
6.7 CATEGORIA 6 – PERCEPÇÃO DO OUTRO APELIDADO
QUESTÃO 02: O que ele faz quando alguém o chama assim?
Essa categoria também se funde nas anteriores haja vista que a
percepção do outro é mediada pela percepção de si próprio, seja pela apresentação de
1) reações mais intensas: faz um barraco, atende revidando, briga, chora, fala
palavrões, manda tomar no..., fica nervoso e com vontade de bater, coloca outro
apelido, bravo e retribui com apelidos, diz que vai bater, fica como uma menina
mimada, fica nervoso com vontade de bater, fica em silêncio, chorando,“fica irritado, fica
magoado, xinga, responde: sua mãe, fica estressado, revida 2) ou reações menos
82
intensas: aceita numa boa, cumprimenta, não liga, não responde, responde com
educação, olha para a pessoa, responde normal, ele gosta 3) ou ainda intermediárias:
atende o chamado, evita responder para evitar brigas, dá uma risadinha, discute com a
pessoa, chateada, nunca vi ninguém sendo chamado pelo apelido, ri.
Ainda sob a ótica do outro, reações das mais diferentes naturezas foram
identificadas a partir dos dados coletados. Essa modulação mostra que respostas
diante de fatos iguais são diferentes e mediadas pelas características individuais de
cada pessoa. Quando um aluno reage de forma resignada, conquanto outro de forma
aguda, diferentes entendimentos do problema são observados, tendo em vista que
alguma reação – ainda que de indiferença – é esperada como mecanismo de ajuste
psicológico.
No entanto, nem sempre a demanda é adequadamente atendida, seja ela,
mais ou menos aguda. A intensidade das respostas às agressões por meio de apelidos
pejorativos pode produzir consequências danosas, como por exemplo, agressões
físicas, suspensões, expulsões e até retaliações de gangues, hoje muito frequentes nos
espaços reais e virtuais por meio de ameaças, constrangimentos, etc. Já nas respostas
mais abrandadas, um indicativo de submissão e humilhação, pode estar minando a
autoestima do aluno.
A humilhação e submissão podem constituir-se em um risco invisível, porém
concreto nas relações afetivas, revelando uma das formas mais poderosas de violência
sutil entre crianças e jovens. A humilhação repetitiva e prolongada é uma das principais
características do bullying e produz comportamentos específicos conforme a
subjetividade de cada um. Colocar apelidos tornou-se prática costumeira dentro das
escolas fazendo predominar o menosprezo e a indiferença pelo sofrimento do outro.
Atitudes como esta, reforçam o medo individual, ao mesmo tempo em que aumenta a
submissão construída e alicerçada nesse medo.
83
6.8 CATEGORIA 7 – FORÇA DO APELIDO
QUESTÃO Nº 11: O apelido pegou?
Esta categoria, construída a partir de uma questão binária, teve como
objetivo identificar se os participantes entendem que o apelido colocado tornou-se ou
não usual. Quando o apelido se transforma em um substituto do próprio nome, diz-se
que O apelido pegou. Este estudo procurou identificar os sentimentos e reações diante
do apelido que pega. Há, no discurso dos jovens, a idéia de que quanto mais
contrariada ficar a pessoa apelidada, mais facilmente o apelido consolidar-se-á. Essa
condição perversa mostra que quanto maior for o desejo em contrário, menor será a
possibilidade de defesa. Duas possibilidades foram oferecidas: sim (o apelido pegou) e
não (o apelido não pegou). Os resultados indicaram ainda, a seguinte resposta
complementar: “pegou mais ou menos”.
Alunos quando recebiam apelidos por parte dos colegas, entre outras
situações, apresentavam comportamentos agressivos e uma irritabilidade que
dificultavam as relações entre eles e os demais, chegando a agredir verbalmente os
professores, às vezes de forma direta, outras de forma velada, e principalmente o
coordenador de turno e o inspetor de alunos, quando tentavam colocá-los na sala de
aula, pois é comum quererem ficar nos corredores e nas janelas das outras turmas.
Porém, apresentavam atitudes antagônicas “[...] (PANIZZI. 2008, P.122-123).
84
6.9 CATEGORIA 8 – POLÍTICA DA ESCOLA
QUESTÃO 03: O que a escola faz nessa situação?
Há uma inquietação significativa dos alunos quanto à posição da escola
na tomada de providências em relação à colocação de apelidos.
A maioria absoluta dos alunos (apelidados ou não) menciona a isenção da
escola, resignando-se diante de providências relatadas, conforme descrito nas
subcategorias abaixo. A escola possivelmente se omite devido à falta de capacitação
da equipe pedagógica para o manejo desta e de outras formas de violência. O
repertório disponível é reconhecidamente incipiente – punições diversas – não
produzindo qualquer modificação nesse panorama. Ao contrário: a pouca importância
dada ao tema é elemento reforçador para aumento dos episódios. Políticas eficazes
antibullying estão além de punições aos agressores. Elas contemplam ações conjuntas
da equipe pedagógica, pais e alunos. Está tríade instrumentaliza pessoas envolvidas na
elaboração de políticas de contenção e prevenção no recorte aqui estudado. Isso
também se aplica aos professores e funcionários: Quando se referem ao aluno pelo
apelido pejorativo, reforçam a utilização por todos, em especial professores que são
formadores de opinião e referência para os alunos.
A escola é um espaço de desenvolvimento humano onde toda a equipe
pedagógica deve comprometer-se nas ações preventivas. De que adiantaria capacitar
professores, coordenadores, orientadores, diretores e alunos se, por exemplo, a equipe
de manutenção não estiver também incluída nestas mesmas ações?
A escola é um grande referencial de vida para criança (quando se tem
acesso a ela). Portanto, também é partícipe na construção da pessoa e introduz
diferentes maneiras de agir. Algumas respostas dadas pelos alunos denunciam essa
isenção: não faz nada, ignora, não há nada que a escola possa fazer. Outro pequeno
85
grupo mostra alguma participação ante o fenômeno com respostas tais como: o diretor
conversa, inspetor briga, professores levam para a direção, suspensão ou advertência,
fala prá parar, o diretor às vezes chama os pais, os professores falam para parar sem
nenhuma atitude, tentam falar para não se repetir (SIC).
Contudo há controvérsias em relação à postura da escola: Russi (2009,
P.77) afirma que [...] é impossível para escola e para os professores terem o controle de
todas as situações que ocorrem dentro do seu espaço, principalmente das questões de
relacionamento entre alunos, visto que estas são, na grande maioria das vezes,
questões subliminares, que escapam ao olhar, mas que ocorrem de forma subjacente.
Muitas vezes são pequenos gestos, pequenas palavras, pequenos olhares que
escapam para quem está próximo, mas que ferem imensamente a quem os recebeu.
Esta postura avaliza o descompromisso da escola diante da gravidade do
problema em questão, eximindo-a de qualquer responsabilidade. Isto seria uma
verdade inconteste se, a escola não puder ser considerada como um grande agente de
transformação social. Capacitar e sensibilizar alunos, equipe pedagógica e funcionários
para o fenômeno são os mecanismos mais eficientes para contenção do bullying,
conforme sugere Dan Olweus (1993).
6.10 CATEGORIA 9 – APOIO / AJUDA DE TERCEIROS
QUESTÃO 10: Você já conversou com alguém sobre isso? E o que a
pessoa fez?
Pergunta dupla
86
Esta categoria investigou se o aluno apelidado divide essa experiência com
alguém e qual a reação do outro, escolhido como depositário do problema. Por se tratar
de uma questão binária, a primeira parte ficou segmentada entre sim (já conversei com
alguém) e não (não conversei com ninguém). Na segunda parte da questão, as
respostas apresentaram diferentes entendimentos em relação ao que foi perguntado,
ou seja, parte dos alunos entendeu que o questionamento referia-se a si próprio e parte
entendeu que se referia ao colega. Este viés não foi identificado no pré-teste. Assim
sendo, foram criadas subcategorias contemplando as duas possibilidades:
6.10.1 EM RELAÇÃO A SI PRÓPRIO (AUTODIRIGIDA)
Resultados referentes à resposta sim, já conversei.
Essa categoria remete novamente à questão da autoestima, pois o
compartilhamento de experiências deste tipo indica uma eventual dificuldade no manejo
desta demanda. Falar sobre o problema é catártico
29
e produz alivio psicológico ainda
que superficialmente. Por outro lado, percebe-se através de respostas tais como nada
adiantou, indicando que o aluno apelidado dividiu essa experiência com alguém com
resultados pouco ou totalmente ineficazes.
Outras respostas indicam solidariedade (me deu conselhos), irrelevância
(não e não tô nem aí, apenas deu risada, nunca precisei tocar nesse assunto e ação
com resultados (pedi para parar, falei com a pessoa e ela me chama pelo nome, a
pessoa parou e somos grandes amigas,“a pessoa parou).
29
Catarse é uma palavra utilizada em diversos contextos, como a tragédia, a medicina ou na psicanálise,
que significa "purificação", "evacuação" ou "purgação". Segundo Aristóteles, a catarse refere-se à
purificação das almas por meio de uma descarga emocional provocada por um drama
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Catarse).
87
6.10.2 EM RELAÇÃO AO OUTRO (ALODIRIGIDA)
Resultados referentes à resposta sim, já conversei e ele (ela): falou com a
família, falou com o pai, falou com a mãe, falou com o diretor, não pode fazer nada,
reclamou (SIC).
6.11 CATEGORIA 10 – COMENTÁRIOS ADICIONAIS
QUESTÃO 15: Há algo mais que você gostaria de comentar sobre o
tema?
No questionário, foi disponibilizado ao aluno, um espaço adicional para
comentários. Assim, foram criadas duas subcategorias de análise: comentários feitos
por alunos apelidados e não-apelidados. As observações feitas por alunos não-
apelidados apresentam um denominador comum, qual seja, são contrários à utilização
de apelidos pejorativos.
Uma parcela significativa dos alunos apelidados utilizou o espaço para
expressar sentimentos de resignação, solidariedade, desagrado, repulsa, sugestões e
depoimentos complementares que revelaram ser contrários ao problema. A maioria
indica ser o apelido pejorativo uma crueldade, passível de sanções e punições.
88
6.11.1 ALGUNS COMENTÁRIOS DE ALUNOS APELIDADOS
30
Quando um aluno diz: achei super interessante falar sobre apelido porque
esses questionários as outras pessoas vão ver o que as pessoas que tem apelido se
sente (SIC) que foi bom responder este (SIC), indica que falar sobre o assunto é
importante.
Os depoimentos: ah, eu acho muito ridículo esse apelidos, acho que as
pessoa tem que aprender cuidar de suas respectivas vidas e deixar de apelidar os
outros, até mesmo porque isso não leva a nada, só tráz confusão (SIC) ou ainda
quando as pessoas querem intimidar você não liga porque essa pessoa é um bosta tem
medo de você sabe que um dia reageria, contra ele, então por isso ele faz essa coisas
apelidos, ofença e até bater. Quando isso acontece o melhor fazer é ter consiencia e
falar com um adulto responsável (SIC) sugerem que muitos alunos são contrários aos
apelidos e arriscam palpites sobre as possíveis consequências.
Dentro de políticas antibullying, falar sobre o assunto – como já mencionado
– é um dos procedimentos que integra ações mais amplas.
Um grupo de alunos entende também que há limites e condicionantes para o
uso de apelidos. Podem até ser tolerados, desde que não produzam experiências ruins,
conforme os comentários: que essas coisas de apelido não tem nada de mais – só os
que não afetam a pessoa e ela concordar. (SIC); não, só que as vezes é bom levar na
brincadeira (SIC); o apelido vai até o ponto de intensidade que você possui com ela,
porem o que passa disso é vandalismo (SIC); que as pessoas não devem ligar poque
os outros dizem de mal, se sim levar a vida simplesmente (SIC); que apelidos bons que
não despertam fúria é sempre bom mas quando a pessoa não gosta é melhor parar
(SIC).
Embora o questionário tenha apresentado uma pergunta específica
mencionando a necessidade de providências da escola (questão 3), foram também
30
Anexo E
89
encontrados depoimentos semelhantes nas observações finais (questão 15). Estes
casos, sugerem que o foco em relação às providências seja agudo, como mostram as
seguintes respostas reafirmadas: que as escolas tomarem mais providências (SIC); que
a escola deveria tomar providências (SIC).
6.11.2 ALGUNS COMENTÁRIOS DE ALUNOS NÃO-APELIDADOS
31
Nesta categoria de alunos não-apelidados, foram também encontradas
respostas semelhantes às dos alunos apelidados referentes ao entendimento que se
tem do apelido, com depoimentos do tipo: que tenha um jeito dessas pessoas pararem
de colocar apelidos, que as pessoas não gostam e antes de colocar apelido em alguns,
perguntar se for um apelido que a pessoa gosta (SIC), na minha opinião, o respeito
deve estar sempre em primeiro plano pois devemos tomar cuidado para não magoar as
pessoas. Todos tem sentimentos e não fazer nada que não gostaria que fizesse com
você (SIC).
31
Anexo E
90
Um outro grupo de respostas similares à categoria anterior – portanto
independente de se ter ou não apelido – fez referência contrária à utilização de apelidos
pejorativos, considerando-os desrespeitosos ou prejudiciais: que o legal é você colocar
o apelido e a pessoa gostar, caso contrário, é melhor não chamar mais ele assim (SIC);
eu acho que as pessoas devem se referir a pessoa pelo nome e não por apelido,
principalmente se esse apelido machucar (SIC); Chamar pessoas pelo apelido não é
legal (SIC); eu acho que as pessoas deveria respeitar as diferenças dos outros, porque
a maioria dos apelidos que colocam é porque a pessoa tem algo diferente; o legal é ser
diferente e não igual a todo mundo (SIC); Quando o apelido é de crítica a sua aparência
faz mal para a pessoa apelidada (SIC); acho que esses apelidos tem um ponto para
não passar para ofensas e isso é péssimo (SIC).
91
CAPÍTULO 07
CONCLUSÕES
92
CAPÍTULO 07 – CONCLUSÕES
Para Abramovay (2001), o termo bullying não é explicitamente mencionado
em sua pesquisa, mas citado como [...]uma forma de violência simbólica – abuso do
poder baseado no consentimento que se estabelece e se impõe mediante o uso de
símbolos de autoridade, verbal e institucional – marginalização, discriminação e práticas
de assujeitamento utilizadas por instituições diversas que instrumentalizam estratégias
de poder (Abramovay e Rua, 2001, P.129).
Este estudo constatou a existência de diversas questões psicológicas
produzidas pelos apelidos pejorativos. As experiências afetivas relatadas pelas vítimas
deste processo são, por vezes, muito intensas. Dentre elas, as mais contundentes
referem-se à 1)autoestima, 2)resignação, 3) humilhação e desrespeito.
A autoestima pode ser construída como uma característica permanente de
personalidade ou como uma condição psicológica temporária produzida por uma
vivência. Nesta pesquisa, entende-se que esta condição é imposta pelo apelido
pejorativo recebido. Autoestima é a opinião e o sentimento que cada um tem de si
mesmo. E ter consciência de seu valor pessoal; acreditar, respeitar e confiar em si é
também a apreciação que uma pessoa faz de si mesma em relação à sua
autoconfiança e seu autorrespeito. Através dela pode-se enfrentar desafios e defender
interesses. É formada ainda na infância utilizando o tratamento que se dá à criança
como peça-chave, ou seja, se a criança for sempre oprimida em relação a suas atitudes
terá baixa autoestima e se a criança for sempre apoiada em relação à suas atitudes
terá autoestima elevada.
A escola pode contribuir para a constituição da pessoa ou, no contraponto,
ser seu algoz. Desta forma, o sofrimento psicológico produzido pelos apelidos
pejorativos, pode comprometer essa visão de si próprio, da autoconfiança e
autorrespeito. Muitas respostas mencionam a autoestima (e seus derivativos) como
ponto crucial da experiência afetiva vivida.
93
A resignação também foi encontrada em muitas respostas (“...não adianta
reclamar...”). Há inúmeras possibilidades diante dessa reação que podem trafegar da
inatingibilidade da ofensa, à incapacidade de defesa. O segundo é preocupante, tendo
em vista que, colocar apelidos que ferem, é na opinião do pesquisador, o começo do
bullying, abrindo desta forma o flanco, para eventos mais devastadores ainda.
Para abordar o tema da humilhação, é de fundamental importância entender
a noção de respeito. O conceito de respeito, como já mencionado,
refere-se ao apreço
por, ou o sentido do valor e excelência de uma pessoa, qualidade pessoal ou a
manifestação de um talento. Respeito significa o reconhecimento do outro como sujeito
de direitos e dotado de intrínseca dignidade.
De acordo com Tugendhat (1996), “o contrário do respeito não é o ódio, mas
a humilhação e a indiferença” [...](Tugendhat. 1996, p. 301). Sem dúvida, não há nada
mais inverso ao respeito do que a humilhação, nas suas mais variadas formas ou
maneiras, e, pelo visto, a humanidade é bastante criativa na ação de humilhar. O
desrespeito ou desconsideração é a negação do outro enquanto pessoa. Os apelidos
mostram em sua perversidade intrínseca, que o não respeito ao outro é uma prática
banalizada pela sociedade em geral. Muitos entendem como ritual normal entre jovens
e que não há desdobramentos significativos. Respeitar é antes de tudo, um processo
político. A maioria dos jovens reproduz a ideologia do sistema no qual se inserem. Um
país de flexibilização de leis e impunidade geral concedido a uma parcela privilegiada
da população, incentiva o desrespeito. E essa realidade não é diferente na escola.
Alunos agridem alunos, professores e funcionários e pouco se faz além das
costumeiras ações alicerçadas em métodos punitivos, historicamente ineficientes. Os
seguidos episódios de impunidade denunciados na mídia criam um modelo no
imaginário popular.
A humilhação pode destruir o autorrespeito e, portanto, acabar tornando
inviável a construção do respeito entre as pessoas, consequências igualmente
prejudiciais tanto ao desenvolvimento de crianças e adolescentes quanto aos
relacionamentos interindividuais e sociais. Acarreta, na maior parte das vezes, uma dor
que “mata aos poucos”. “A morte mata, ou apressa o fim do que necessariamente há de
94
morrer; a infâmia afronta, afeia, escurece e faz abominável a um ser imortal, menos
cruel e mais piedosa se o puder matar” [...]Chaves (1998, P.88).
Entre as formas de humilhações existem as domesticadas, as ritualizadas e
as violentadoras (LA TAILLE, 1992). A humilhação domesticada caracteriza-se por sua
brevidade e por ser compatível com as relações de amizade, pois se mantém no nível
de tolerância da pessoa-alvo e da própria sociedade. Pode ser exemplificada por leves
zombarias ou piadas que admitem a reciprocidade, pois quem zomba hoje pode ser
vítima de zombaria amanhã. Um dos problemas é justamente quando isso não ocorre,
ocasião em que só uma pessoa é continuamente caçoada, mesmo que de maneira
leve. Dessa forma, apesar de ser em um nível horizontal, entre iguais e admitindo
reciprocidade, essa humilhação pode tornar-se violentadora; disso resulta a importância
da sua brevidade. Uma outra característica diz respeito ao fato de ser leve; se ferir a
pessoa-alvo, deve-se parar; do contrário, igualmente se torna violentadora. Esse limite
é tênue. Muitas vezes, é difícil saber até que ponto uma zombaria ultrapassa a fronteira
do que é suportável para uma pessoa. Um complicador é que o próprio sujeito caçoado
pode tentar minimizar externamente o efeito da humilhação, ou seja, dar a entender
como se fosse uma brincadeira, algo que não o ofende.
[...]Por outro lado, existe a possibilidade de a brincadeira e/ou insulto ser
ambíguo, deixando dúvidas a respeito da intenção de humilhar. Nesse caso, a vítima
pode ser colocada em um dilema: “se lhe dá o troco o insulto pode ser negado
colocando-o numa situação ridícula por ser susceptível e conflituoso; se não lhe dá o
troco pode passar por covarde o que implica perda da honra” (PITT-RIVERS, 1965,
p.71). A humilhação ritualizada “assemelha-se à domesticada pelo fato de também ser
breve. Por outro lado, a humilhação ritualizada não admite a reciprocidade, pois quem
agride não pode ser humilhado por sua vítima. E é o que frequentemente acontece com
as vítimas dos apelidos pejorativos, podendo – conforme algumas respostas
encontradas – “tornarem-se os agressores de amanhã (“...respondo colocando
apelidos...”). Eles podem não permanecer sempre no lugar de vítima. Assim, nesse tipo
de humilhação, o nível de tolerância das vítimas é ultrapassado, torna-se insuportável
para elas. Entretanto, apesar de sua violência, essa humilhação parece ainda ser, em
95
parte, tolerada por nossa sociedade, pelo menos em determinados eventos, como o
ingresso na universidade.
[...]Por último, a humilhação violentadora, assim como a ritualizada,
ultrapassa os limites da tolerância e não admite reciprocidade entre o agressor e a
vítima. Caracteriza-se como violentadora principalmente por objetivar incidir sobre
aspectos físicos e da personalidade da vítima, que por sua vez, deve concebê-la da
mesma forma na integridade de tal patrimônio moral, reconhecendo a lei da honra como
um dos valores relevantes de sua pessoa (PITT-RIVERS, 1965, p.142).
Este estudo mostrou que muito além do que o senso comum aponta ou certa
obviedade intrínseca
32
, jovens não gostam de apelidos, pois relatam sentimentos ruins
(“...me sinto humilhado...”), comprometem a autoestima (“...me sinto um imprestável...”)
e agem de forma destemperada (“...quebrando os dentes...”). Isso significa que este
tema não deve ser minimizado como se faz habitualmente, pois os apelidos produzem
mal estar psicológico (“...me sinto envergonhado...”).
Esta prática também Independe do gênero: meninas e meninos sentem e
respondem de forma similar, embora as respostas masculinas sejam mais viris (“...na
pancada, ameaço bater...”). Outros ainda reagem de forma mais branda (“...peço para a
pessoa parar, chamo a atenção...”) e muitos apresentam resignação total (“...não reajo
porque não adianta...”).
A arquitetura utilizada na construção dos apelidos é muito inventiva. Os
motivos são os mais diversos, mas em todos eles, há um ingrediente comum: o intuito
de caracterizar alguém, descaracterizando-o. Quando um jovem recebe um apelido do
qual não gosta, produz-se um paradoxo: a despersonalização do que se é, para a
personalização do que não se é, onde o Joãozinho passa a ser a “orca ou favelado” e a
Mariazinha a “louca ou a preta”. Desta forma, a constituição da pessoa em quanto ser-
32
Algumas análises podem ser efetuadas sem hipóteses pré-concebidas. Porém, isso não significa
deixar de utilizar técnicas adequadas e sistemáticas para fazer “falar” o material selecionado para análise
(Franco, 2007, p.55-56).
96
no-mundo é minada por ingredientes que denigrem a imagem constituída, produzindo
sofrimento.
Um outro elemento que permeia o cotidiano de apelidados e apelidadores é
o silêncio. Ele não somente alimenta o processo em si mesmo (feedback)
33
, mas
também, dificulta a implantação de medidas de contenção. Uma das medidas
preventivas mais reverenciadas é a denúncia. Contudo, há de se produzir reflexão.
Estes procedimentos, formulados com base na idéia de que ninguém tem o
direito de produzir sofrimento podem causar uma espécie de efeito bumerangue:
converter-se num processo continuado de delação, gerando desconforto, medo, conflito
e acentuar os episódios de bullying como forma de retaliação. A estimulação de um
estado policialesco dentro da escola, pode comprometer e colocar em risco a
implantação de políticas de prevenção.
É importante reforçar que há indícios significativos que professores,
diretores, coordenadores e orientadores raramente alcançam a gravidade do problema
e por vezes são partícipes dela, entendendo ser esse um processo corriqueiro e comum
entre jovens. Essa opacidade geral alimenta o processo.
A isenção de ações de contenção ou providências da escola foi denunciada
em diversos questionários e no espaço designado para comentários finais (Anexo D),
além de indicar alguma expectativa na mudança desta postura.
Nesta pesquisa privilegiou-se a análise qualitativa porque, ainda que
algumas reações ocorram com baixa frequência, a tão somente existência delas indica
a gravidade do problema. Vários estudiosos do assunto (Olweus, 1978/1991/1999,
Catini, 2004 e Fante, 2005) mencionam em suas pesquisas, a preocupação com a os
apelidos pejorativos e sua banalização. Da mesma forma, o silêncio que nutre vítimas,
vitimizadores e testemunhas, é prova irrefutável de que este recorte do bullying é mais
cruel do que se imagina, haja vista que no instrumento de pesquisa de Dan Olweus
33
O termo feedback está sempre associado a retorno, retroalimentação. Sistemas dinâmicos (sistemas
que sofrem alterações ao longo do tempo, como o psiquismo), normalmente têm uma ação de feedback
onde os resultados influenciam as informações originais e assim por diante.
97
adaptado e utilizado pela universidade do Colorado há pelo menos 06 (seis) em 77
perguntas sobre apelidos depreciativos. E neste estudo não foi diferente.
Alguns questionários do presente estudo, mencionaram taxativamente
serem os apelidos pejorativos normais e que muitos acabam se “acostumando” com
eles. Contudo, o sofrimento psicológico presente em várias outras respostas, parece
ser bem maior do que intuitivamente se tem notícia. Alguns adjetivos utilizados pelos
alunos – humilhado, imprestável, envergonhado – indicam grande carga emocional
despendida (exteriorização da afetividade – emoção – que segundo Wallon,
caracteriza-se pela plasticidade, expressão e contágio) diante do apelido pejorativo
recebido.
Esta pesquisa mostrou inequivocadamente que apelidos pejorativos são
uma prática habitual. Os resultados obtidos sinalizam para uma realidade perversa,
sofrida, intimidatória e possivelmente geradora de intrincadas demandas psicológicas.
O apelido descaracteriza a pessoa numa etapa da vida e, segundo Wallon, a
construção do eu é compreendida em sua íntima relação com o outro, espelhada em si
mesmo. E o outro, nestes eventos, em verdade, a desconstrói.
Por fim, no espaço aberto oferecido pelo questionário foram observadas
diversas manifestações contrárias ao apelido, relatos de aflição pessoal, percepção do
sofrimento do outro apelidado e a expectativa de que a escola se mobilize diante desta
grave demanda de bullying.
E é exatamente pelas conclusões aqui apontadas, que o fenômeno apelidar
pejorativamente não pode jamais ser banalizado.
O bullying tem que parar.
98
CAPÍTULO 08
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
99
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VEREDA, RITA DE CÁSSIA. O apelido pejorativo: Um estudo com adolescentes
paulistanos, Dissertação de Mestrado, PUC/SP, 2007.
WALLON, HENRI, A evolução psicológica da criança. São Paulo, Martins Fontes,
2007.
__________ Objectivos e métodos da Psicologia. Lisboa, Editora Estampa, 1975a
__________ Psicologia e Educação da Infância, Lisboa, Editora Estampa, 1975b.
WRANGHAM, R & PETERSON, D. The Myth of Man the Hunter, Man the Killer and
the Evolution of Human Morality, Blackwell Synergy, Journal of Religion & Science,
1999.
ZAZZO, R. Henri Wallon. Psicologia e Marxismo. Portugal: Vega, 1978.
109
8.1 RELAÇÃO DE SITES CONSULTADOS
www.abnt,org.br
www.antibullying.net
www.bases.bireme.br
www.bibli.fae.unicamp.br
www.bibliotecadigital.puc-campinas.edu.br
www.bullying.com.br
www.bvs-psi.org.br
www.colorado.edu
www.dedalus.usp.br
www.diganaoaobullying.com.br
www.educacional.com.br
www.fc.unesp.br
www.g1.globo.com
www.observatoriodainfancia.com.br
www.ojjdp.ncjrs.gov/ojstatbb
www.pucsp.com.br
www.scielo.br
www.ucb.br
www2.uol.com.br/vyaestelar/apelido_escola.htm
www.pt.wikipedia.org
110
ANEXOS
111
ANEXO A
LISTA DOS APELIDOS ENCONTRADOS NESTA PESQUISA:
PEJORATIVOS OU NÃO
112
3A JATOBA
APAREKA JEGUE
ARMANDINHA DO PARÁ JUCA
BAIANO JUQUI
BAIXINHA KÁÁH
BALEIA ASSASSINA KATTELLEN
BANANINHA LABIXANA
BATATA LAICA
BATATÃO LOIRA AGUADA
BEBEZINHO LOIRA BURRA
BEIÇÃO LOKA
BENÇÃO MACACO
BETERRABA MAGRÃO
BOBÃO MALOQUEIRO
BOI MANA MENDIGA
BOI MARIA BAETHÂNIA
BOQUETE MELOCOTON
BORRACHEIRA MENDIGO
BRANCO MENININHA (M)
BRANQUELA MIA DO BBB
BRUXA MIOJO
BUIÚ MIXIRICA
BURRA MONKEY
CAATINGA MONY
CABELO MULHER MELÂNCIA
CABELO NA TIGELA NERD
CAIO BOBÃO OBESA
CAIO BOBÃO DA ROSA OLHO DE BOMBA
CALOPSITA ÓXENTE
CANHÃO PATO
CAPIVARA PATOLINO
CARECA PAULO OSSADA
CARNEIRO PEQUENA
CDF PESADA
CHUCHU PH
CHUPA PITUXA
CHUPA CABRA PIXOTE
CHURRASCO QUEIMADO POSTE DE ILUMINAÇÃO
CIGARRO PRETA
CLONA PRETO
COELHO DE PÁSCOA PRISION BREAK
COQUEIRO PUTI
CRÂNIO QUATRO OLHO
DENTE PODRE RAPADURA
DENTUÇA ROMEX
DINOSSAURO REX ROMILDES
113
DO SUL RUBÉOLA
DONA BEIJA SKILO
DRAGÃO NA ÁREA SOMBRANCELHA DO CAPETA
DUMBO SORRISO
EDI SORRISO METÁLICO
ESQUELÉTICO ELÉTRICO TABAJARA
ET TÁBATA
ET VALDO TÁBATO
FAUSTÃO TATUÍ
FEIA TIA LOLA
FEIJÃO TIO PANÇA
FERREIRINHA TIOZÃO
FRANGO TISSU
GAGUINHO TOQUINHO DE AMARRAR
GAYLHERME TRAKINAS
GHOST TUCANO
GIRAFA TULIPA
GORDÃO UGA-UGA
GORDINHA URSINHO CARINHOSO
GORDO URSO
GUEIXA WELBER
HANTARO XUPILY
ÍNDIO ZÉ PEQUENO
JÃO ZUMBÍ
JAPA
114
ANEXO B
PLANILHA ANALÍTICA DE APELIDOS
DESCRIÇÃO, MOTIVO E NATUREZA DO
APELIDO RECEBIDO SEGUNDO O APELIDADO
PLANILHA ANALÍTICA ILUSTRATIV
A
APELIDO EXPLICAÇÃO (SIC) CATEGORIA
CHURRASCO QUEIMADO PORQUE SOU NEGRA E FEI
A
ETNIA
GUEIXA PORQUE SOU JAPONESA ETNIA
BRANQUELA PORQUE SOU BRANCA DEMAIS ETNIA
BORRACHEIRA PORQUE SOU NEGRA ETNIA
PRETA PORQUE SOU NEGRA ETNIA
PRETO PORQUE SOU NEGRO ETNIA
TUCANO PORQUE TENHO NARIZ GRANDE
A
SPECTO FÍSICO
GORDINHO PORQUE TOMEI REMÉDIOS PARA LEUCEMIA E ENGORDEI
A
SPECTO FÍSICO
BITUCA DE CIGARRO PORQUE SOU PEQUENO
A
SPECTO FÍSICO
TOQUINHO DE AMARRAR JEGUE PORQUE SOU PEQUENO
A
SPECTO FÍSICO
BETERRABA POR CAUSA DO MEU ROSTO
A
SPECTO FÍSICO
CARECA PORQUE EU CORTEI O CABELO MUITO CURTO
A
SPECTO FÍSICO
PESADA PORQUE SOU GORDA
A
SPECTO FÍSICO
ORCA PORQUE SOU GORDINHA
A
SPECTO FÍSICO
BALEIA, FAUSTÃO, GORDO PORQUE SOU UM MENINO FEIO
A
SPECTO FÍSICO
NERD E CDF PORQUE SOU BOA ALUNA COMPORTAMENTO
LOKA PORQUE EU SOU ASSIM COMPORTAMENTO
BURRO EU SOU MELHOR ALUNO QUE ELES COMPORTAMENTO
PRISION BREAK POR CAUSA DO FILME COMPORTAMENTO
SORRISO METÁLICO PORQUE USO APARELHO USO DE ÓRTESE
QUATRO OLHO PORQUE USO ÓCULOS USO DE ÓRTESE
GAYLHERME NÃO SEI
(
NÃO INFORMADO
)
SEXUAL
MIOJO NÃO SEI
(
NÃO INFORMADO
)
SEXUAL
PUTI NÃO SEI
(
NÃO INFORMADO
)
SEXUAL
BOQUETE NÃO SEI
(
NÃO INFORMADO
)
SEXUAL
LABIXANA NÃO SEI
(
NÃO INFORMADO
)
SEXUAL
DINOSSAURO REX POR CAUSA DA MINHA DEFICIÊNCIA NA MÃO
A
SPECTO FÍSICO ESPECIAL
SOBRANCELHA DO CAPETA POR CAUSA DA FALHA NA MINHA SOBRANCELHA
A
SPECTO FÍSICO ESPECIAL
115
ANEXO C
PRÉ-TESTE E QUESTIONÁRIO
116
PRÉ-TESTE
Este questionário tem por objetivo entender como as pessoas se sentem quando
recebem apelidos. Isso inclui você. Escreva tudo o que achar. NINGUÉM
TERÁ
ACESSO ÀS RESPOSTAS, EXCETO O PESQUISADOR, NEM MESMO SEUS PAIS,
PROFESSORES E COLEGAS. AS RESPOSTAS SÃO TOTALMENTE SIGILOSAS.
DATA: ___ / ___ /__ IDADE: ________ANOS
SEXO: MASCULINO ( ) FEMININO ( )
1) VOCÊ TEM ALGUM COLEGA OU AMIGO QUE TEM ALGUM APELIDO? ELE
GOSTA DO APELIDO?
2) O QUE ELE FAZ QUANDO ALGUÉM O CHAMA PELO APELIDO?
3) O QUE A ESCOLA FAZ QUANDO ISSO ACONTECE?
4) VOCÊ O CHAMA PELO APELIDO OU PELO NOME?
5) VOCÊ TEM ALGUM APELIDO QUE TE COLOCARAM E VOCÊ NÃO GOSTA?
QUAL?
SE VOCÊ RESPONDEU QUE TEM, ESCREVA COMO ISSO COMEÇOU. SE
RESPONDEU NÃO, PULE ESTA QUESTÃO.
6) VOCÊ TEM ALGUM APELIDO DO QUAL VOCÊ GOSTA? SE VOCÊ RESPONDEU
SIM, EXPLIQUE POR QUE VOCÊ GOSTA
7) POR QUE VOCÊ ACHA QUE RECEBEU ESSE APELIDO?
8) COMO VOCÊ SE SENTE EM RELAÇÃO A ESTE APELIDO?
9) VOCÊ JÁ CONVERSOU COM ALGUÉM SOBRE ISSO? O QUE ESSA PESSOA
FEZ? E A ESCOLA?
10) O APELIDO PEGOU?
11) VOCÊ REAGE DIANTE DESSE APELIDO?
117
SIM ( ) NÃO ( )
12) DE QUE FORMA?
13) VOCÊ JÁ PENSOU COMO SEU AMIGO OU COLEGA SE SENTE QUANDO
RECEBE APELIDOS?
14) HÁ ALGO MAIS QUE GOSTARIA DE COMENTAR SOBRE O TEMA?
118
QUESTIONÁRIO
Este questionário tem por objetivo entender como as pessoas se sentem quando
recebem apelidos. Isto inclui você. Escreva tudo o que achar importante. Lembre-se
que NINGUÉM TERÁ ACESSO ÀS RESPOSTAS, EXCETO O PESQUISADOR, NEM
MESMO SEUS PAIS, PROFESSORES E COLEGAS. AS RESPOSTAS SÃO
TOTALMENTE SIGILOSAS.
DATA: ___ / ___ /__ IDADE: ________ANOS
SEXO: MASCULINO ( ) FEMININO ( )
1) VOCÊ TEM ALGUM AMIGO OU COLEGA QUE TEM APELIDO? QUAL É ESSE
APELIDO? ELE GOSTA DESSE APELIDO?
2) O QUE ELE FAZ QUANDO ALGUÉM O CHAMA PELO APELIDO?
3) O QUE A ESCOLA FAZ NESSA SITUAÇÃO?
4) VOCÊ O CHAMA PELO NOME OU PELO APELIDO?
5) VOCÊ TEM ALGUM APELIDO DO QUAL VOCÊ GOSTA? SE VOCÊ RESPONDEU
SIM, EXPLIQUE POR QUE VOCÊ GOSTA.
6) VOCÊ TEM ALGUM APELIDO QUE TE COLOCARAM E QUE VOCÊ NÃO
GOSTA?
QUAL?
7) SE VOCÊ RESPONDEU QUE TEM, ESCREVA COMO ISSO COMEÇOU. SE
RESPONDEU NÃO
, PULE PARA A QUESTÃO 14.
8) POR QUE VOCÊ ACHA QUE RECEBEU ESSE APELIDO?
9) COMO VOCÊ SE SENTE EM RELAÇÃO A ESTE APELIDO?
10) VOCÊ JÁ CONVERSOU COM ALGUÉM SOBRE ISSO? E O QUE ESSA PESSOA
FEZ?
11) O APELIDO PEGOU?
119
SIM ( ) NÃO ( )
12) VOCÊ REAGE DIANTE DESSES APELIDOS?
SIM ( ) NÃO ( )
13) DE QUE FORMA?
14) VOCÊ JÁ PENSOU COMO SEU AMIGO OU COLEGA SE SENTE QUANDO
RECEBE APELIDOS?
15) HÁ ALGO MAIS QUE GOSTARIA DE COMENTAR SOBRE O TEMA?
120
ANEXO D
MAPAS DE RESPOSTAS SEGMENTADAS POR CATEGORIA
CATEGORIA 1 – EXPERIÊNCIA AFETIVA RELATADAS
CATEGORIA 2 – REAÇÕES DIANTE DO APELIDO RECEBIDO
CATEGORIA 3 – MOTIVO DO APELIDO (AUTOPERCEPÇÃO)
CATEGORIA 4 – ATITUDES FRENTE AO OUTRO APELIDADO
CATEGORIA 5 – VISÃO DO OUTRO APELIDADO
CATEGORIA 6 – PERCEPÇÃO DO OUTRO APELIDADO
CATEGORIA 7 – FORÇA DO APELIDO
CATEGORIA 8 – POLÍTICA DA ESCOLA
CATEGORIA 9 – APOIO / AJUDA DE TERCEIROS
121
CATEGORIA 1 – EXPERIÊNCIA AFETIVA RELATADAS
QUESTÃO DE REFERÊNCIA: 09 - COMO VOCÊ SE SENTE EM RELAÇÃO A ESTE APELIDO?
BEM
BRAVO
CHATEADO
ENVERGONHADO
FEIO
GOSTO
HUMILHADO
IMPRESTÁVEL
IRRITADO
MAGOADO
MAL
ME ACOSTUMO
ME IMPORTO
MUITO MAL
MUITO RUIM
MUITO TRISTE
NADA
NADA CONTRA
NÃO GOSTO
NÃO GOSTO MUITO
NÃO LIGO
TRISTE
NORMAL
ODEIO
REJEITADO
RUIM
OUTRAS RESPOSTAS
NÃO RESPONDEU
122
CATEGORIA 2 – REAÇÕES DIANTE DO APELIDO RECEBIDO
QUESTÃO DE REFERÊNCIA: 13 - COMO VOCÊ REAGE DIANTE DESSES APELIDOS ?
DE BOA FORMA
CHAMANDO A ATENÇÃO
FICO MUITO NERVOSO
DISCUTINDO
FALO COM MEUS PAIS E O DIRETOR
FALO QUE NÃO TEM VERGONHA NA CARA
FALO QUE O PROBLEMA É MEU E DE MAIS NINGUÉM
FALO PARA PARAR PORQUE NÃO GOSTO DE BRINCADEIRA
RESPONDO E PEÇO PARA ME CHAMAR PELO MEU NOME
FICO SEM FALAR COM A PESSOA
REAJO
REAJO ÀS VEZES
REPONDENDO
IGNORO
VIRANDO DE COSTAS
NÃO REAJO
NÃO REAJO PORQUE NÃO VAI ADIANTAR
XINGANDO
BOTANDO APELIDOS
FALO PARA PARAR
AMEAÇO DE BATER E XINGAR
RESPONDENDO À ALTURA
NA "PANCADA"
QUEBRANDO DENTE E CADEIRA NAS COSTAS
DOU OUTROS APELIDOS PARA ELE
EU "ZUO" COM QUEM ME "ZUOU"
FALANDO OS APELIDOS DESAGRADÁVEIS DESSA PESSOA
NÃO RESPONDEU
CHAMANDO A ATENÇÃO
DISCUTINDO
FALO COM MEUS PAIS E O DIRETOR
FALO QUE NÃO TEM VERGONHA NA CARA
123
FALO QUE O PROBLEMA É MEU E DE MAIS NINGUÉM
FICO SEM FALAR COM A PESSOA
REAJO
REAJO ÀS VEZES
REPONDENDO
IGNORO
VIRANDO DE COSTAS
NÃO REAJO
NÃO RESPONDEU
CATEGORIA 3 – MOTIVO DO APELIDO (AUTO-PERCEPÇÃO)
QUESTÃO DE REFERÊNCIA: 07 - COMO COMEÇOU O SEU APELIDO?
CARACTERÍSTICA FÍSICA
DECORRENTE DE UM COMPORTAMENTO ESPECÍFICO
EM SALA DE AULA
NÃO ESPECIFICADO
NÃO RESPONDEU
POR BRINCADERA
POR CAUSA DO NOME
QUANDO ENTREI NA ESCOLA
TROCADILHO COM NOME
QUESTÃO DE REFERÊNCIA: 08 - POR QUE VOCÊ ACHA QUE RECEBEU ESSE APELIDO?
CARACTERÍSTICA FÍSICA
COMPORTAMENTO
POR BRINCADEIRA
POR CAUSA DO NOME
NÃO LEMBRO
NÃO SEI
NÃO RESPONDEU
124
CATEGORIA 4 – ATITUDES FRENTE AO OUTRO APELIDADO
QUESTÃO DE REFERÊNCIA: 04 - VOCÊ O CHAMA PELO NOME OU PELO APELIDO?
PELO NOME
PELO APELIDO
PELO NOME E PELO APELIDO
QUESTÃO DE REFERÊNCIA: 14 - VOCÊ JÁ PENSOU COMO SEU AMIGO OU COLEGA SE
SENTE QUANDO RECEBE APELIDOS?
ALGUNS NÃO GOSTAM, MAS TEM GENTE QUE NÃO LIGA
ÀS VEZES MAL, NÉ?
ATÉ CHORAM
CONSTRANGIDO
DEVE SENTIR MUITO
EU NÃO CHAMO NINGUÉM PELO APELIDO PORQUE SEI QUE NÃO GOSTAM
FICA CHATEADO
JÁ E NÃO GOSTO DE COLOCAR APELIDO EM NINGUÉM
O MESMO QUE EU SENTI: NÃO FOI UMA EXPERIÊNCIA BOA
FICA COM RAIVA
JÁ PENSEI NISSO
JÁ PENSEI NISSO MUITAS VEZES
JÁ, MAS TODOS LEVAMOS NA BRINCADEIRA
JÁ, PORQUE EU TENHO APELIDO
JÁ PORQUE TODO MUNDO JÁ RECEBEU UM APELIDO
MAL
MUITO MAL
MUITO TRISTE
MAGOAD0
NÃO FAÇO A MÍNIMA IDÉIA
NÃO PENSEI NISSO
NÃO. ELES NUNCA RECLAMARAM
NÃO RESPONDEU
125
OFENDIDO
OS QUE NÃO GOSTAM, EU PENSO E PARO
TRISTE
TRISTE E ENVERGONHADO
CATEGORIA 5 – VISÃO DO OUTRO APELIDADO
QUESTÃO DE REFERÊNCIA: 02 - O QUE ELE FAZ QUANDO ALGUÉM O CHAMA PELO
APELIDO?
ACEITA NUMA BOA
ATENDE O CHAMADO
ATENDE PELO APELIDO
ATENDE REVIDANDO
BRAVO E RETRIBUI COM APELIDOS
BRIGA
CHATEADA
CHORA
COLOCA OUTRO APELIDO
CUMPRIMENTA
DÁ UMA RISADINHA
DISCUTE COM A PESSOA
DIZ QUE VAI BATER
ELE GOSTA
EVITA RESPONDER PARA EVITAR BRIGAS
FALA PALAVRÕES
FALA PARA PARAR
FAZ UM "BARRACO"
FICA COMO UMA "MENINA" MIMADA
FICA EM SILÊNCIO, CHORANDO
FICA ESTRESSADO
FICA IRRITADO
FICA MAGOADO
FICA MAL HUMORADO
FICA NERVOSO COM VONTADE DE BATER
FICA QUIETO
126
FICA TRISTE
FICAM COM RAIVA
IGNORA
MANDA TOMAR NO C...
NÃO LIGA
NÃO RESPONDE
NERVOSO
NUNCA VI NINGUÉM CHAMANDO PELO APELIDO
OFENDE
OLHA PARA A PESSOA
RETRUCA XINGANDO
RESPONDE COM EDUCAÇÃO
RESPONDE NORMAL
RESPONDE: "SUA MÃE"
REVIDA
RI
TENTA RESPONDER DE FORMA MAIS ENGRAÇADA AINDA
XINGA
CATEGORIA 6 – PERCEPÇÃO DO OUTRO APELIDADO
QUESTÃO DE REFERÊNCIA: 01 - SEU AMIGO GOSTA DO APELIDO QUE RECEBEU?
ACHO QUE GOSTA
GOSTA
FALA QUE GOSTA
MAIS OU MENOS
ACEITA, MAS NÃO GOSTA
NÃO GOSTA
ODEIA
NÃO, MAS ACEITA NUMA BOA
NÃO RESPONDEU
127
CATEGORIA 7 – FORÇA DO APELIDO
QUESTÃO DE REFERÊNCIA: 11 - O APELIDO PEGOU?
SIM
MAIS OU MENOS
POR UM TEMPO
NÃO
NÃO RESPONDEU
CATEGORIA 8 – POLÍTICA DA ESCOLA
QUESTÃO DE REFERÊNCIA: 03 – O QUE A ESCOLA FAZ NESSA SITUAÇÃO?
IGNORA
"MERDA NENHUMA"
A ESCOLA FALA PARA NÃO BOTAR APELIDOS
ADVERTÊNCIA MAS VOLTAM A FAZER A MESMA COISA
ALGUNS PROFESSORES BRIGAM
ÀS VEZES CHAMAM A ATENÇÃO, MAS NUNCA FIZERAM NADA SÉRIO
ATENDE QUANDO ALGUÉM CHAMA MAS NÃO REAGE
CONVERSA COM O ALUNO OU CHAMA OS PAIS
EVASIVA
FALA QUE "TEMOS QUE PARAR"
IGNORA
NADA
NADA , SÓ CONVERSA
NADA PORQUE A ESCOLA NÃO SABE
NADA PORQUE NINGUÉM RECLAMA
NADA, APENAS PROFESSORES QUE DIZEM NÃO GOSTAR DE APELIDOS
NADA, PELO FATO DE APROVAR E UTILIZAR O APELIDO
NADA, PORQUE ELES NÃO COMENTAM COM NINGUÉM
NADA, PORQUE ELES NÃO COMENTAM COM OS PROFESSORES
NADA, PORQUE NÃO ADIANTA
NADA, PORQUE NÃO PODE FAZER NADA
NADA, PORQUE NÃO SE IMPORTA
128
NADA, SÓ OS PROFESSORES QUE NÃO QUEREM ISSO
NADA. NÃO HÁ NADA QUE A ESCOLA POSSA FAZER
NÃO RESPONDEU
NÃO TOMA NENHUMA PROVIDÊNCIA
NINGUÉM SABE, SÓ OS ALUNOS
O DIRETOR CONVERSA
O DETOR, ÀS VEZES, CHAMA OS PAIS
O INSPETOR BRIGOU COM O ALUNO
OS PROFESSORES SÓ FALAM PARA PARAR, SEM NEHUMA ATITUDE
PROFESSORES LEVAM PARA A DIREÇÃO
QUASE NADA
RARAMENTE FAZ ALGUMA COISA
SE NÃO FOR À DIREÇÃO RECLAMAR, A ESCOLA NÃO FAZ NADA
SUSPENSÃO OU ADVERTÊNCIA
SUSPENSÃO OU ADVERTÊNCIA
TENTA FALAR PARA NÃO SE REPETIR
CATEGORIA 9 – APOIO / AJUDA DE TERCEIROS
QUESTÃO DE REFERÊNCIA: 10 - VOCÊ JÁ CONVERSOU COM ALGUÉM SOBRE ISSO? – 1ª
PARTE
SIM
NÃO
NÃO RESPONDEU
QUESTÃO DE REFERÊNCIA :10 - E O QUE ESSA PESSOA FEZ? – 2ª PARTE
NADA
NADA. NÃO ADIANTOU
NADA. APENAS DEU RISADA
FALOU QUE ERA PARA NÃO LIGAR
NÃO PODE FAZER NADA
PERGUNTOU O PORQUE DO APELIDO
RECLAMOU
129
A PESSOA PAROU
A PESSOA PAROU E SOMOS GRANDES AMIGAS
FALEI COM A PESSOA E ELA ME CHAMA PELO MEU NOME
PEDI PARA PARAR
ME DEU CONSELHOS
FALOU COM A MÃE
FALOU COM O PAI
FALOU COM A FAMÍLIA
FALOU COM O PROFESSOR
FALEI COM A PESSOA E ELA PAROU
NÃO CONVERSEI
NÃO FEZ NADA
NÃO E NEM QUERO
NÃO E NÃO "TÔ NEM AÍ"
NUNCA PRECISEI TOCAR NESSE ASSUNTO
NÃO RESPONDEU
130
ANEXO E
REGISTROS FAC SIMILE DE ALGUNS APELIDOS
PEJORATIVOS ENCONTRADOS NESTE ESTUDO
SEGMENTAÇÃO POR CATEGORIA
131
GERAL
EXEMPLOS DE APELIDOS ENCONTRADOS
132
CATEGORIA 01
EXPERIÊNCIA AFETIVA – SENTIMENTOS FRENTE AO APELIDO
133
CATEGORIA 2
REAÇÕES
134
CATEGORIA 03
MOTIVOS
ETNIA
ASPECTO FÍSICO
ASPECTO FÍSICO – ESPECIAL
USO DE ÓRTESES
COMPORTAMENTO ESPECÍFICO
NATUREZA SEXUAL
135
CATEGORIA 08
POLÍTICA DA ESCOLA
136
CATEGORIA 10
COMENTÁRIOS FINAIS DOS ALUNOS
137
COMENTÁRIOS DE ALUNOS APELIDADOS
138
COMENTÁRIOS DE ALUNOS NÃO-APELIDADOS
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