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Fazer extração não é um processo simples e exato. Eu tive que modificar um protocolo
para fazer minhas amostras funcionarem. A gente ta sempre fazendo isso aqui. Se você já
tentou tudo e tem tempo, você pode parar para examinar o que pode te ajudar na
extração, de repente é um reagente, as vezes é o tempo. Pode ser qualquer coisa.
Algumas amostras são mais difíceis de extrair do que outras. Eu, por exemplo, como
trabalho com tecidos decompostos, tive que desenvolver um treino para esse tipo de
atividade que a maioria do povo daqui não tem. Quando precisam extrair, pedem logo
para mim, porque eu estou acostumada a improvisar e adaptar o que precisa ser
adaptado para a coisa aconteça.
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” (Thais).
Confirmada a presença do ADN na amostra, pesquisadora e cetáceos podem
prosseguir através das séries de transformações. Ao que tudo indica, a exemplo do que acontece
com o bicho podre, o genoma de um cetáceo por si só não é capaz de fornecer respostas precisas às
perguntas propostas pela “cetologia molecular”, portanto, é preciso que, novamente, imponha-se
uma redução e conseqüente – e neste caso literalmente – ampliação da substância
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; entra em cena
então a reação da polimerase em cadeia (PCR do inglês, polimerase chain reaction). Em linhas
muitos gerais, uma técnica que associa ao ADN original uma espécie de ADN sintético (primer) que
se conecta a partes específicas das fitas do ADN original; uma vez inserido em um termociclador,
onde é exposto a ciclos térmicos controlados, as polimerases que começam em cada primer passam
a multiplicar as seqüências subseqüentes. Por resultado, se a cetóloga começou o deslocamento com
uma amostra completa de ADN, a partir deste momento ela possui um composto onde uma
determinada parte deste ADN encontra-se isolada e multiplicada, pronta para a inserção em uma
nova série de transformações
113
.
111
Knorr-Cetina denomina esta “improvisação” dos protocolos de extração de ADN de variação cega (1999, p.88),
processo onde o pesquisador vai modificando os elementos do protocolo, um a um, a espera de um resultado
satisfatório; a parte cega da variação se dá por conta do pesquisador nunca ter certeza se aquilo que está
introduzindo na metodologia terá o resultado esperado. A linguagem utilizada pela autora me parece próxima a
utilizada por Pickering (1995) para designar a invenção científica como um todo. Segundo o autor, este processo
poderia ser definido pela metáfora da dança, onde os movimentos dos cientistas (humanos) seriam dedicados a
captura da agência de seus objetos (não-humanos); uma sintonia gradual entre ambas as formas de agências, uma
dança cujo o resultado nunca pode ser antecipado com 100% de acurácia.
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Esta transformação é mediada por kits comerciais para a ampliação de genes; cada gene, proteína possui um kit
comercial específico, “na maioria das vezes nem vem dizendo o que você tá usando, vem o protocolo assim: misture
2,0 µL com o composto I fornecido pelo kit, centrifugue, aqueça e insira 4,0 µL do composto II. Bem, o que importa
é que se eu seguir isso, devo conseguir o gene que eu quero”. (Thais). “Caixas-cinza”, segundo a nomenclatura
proposta por Fujimura (1992, p.169). Segundo a autora, estes kits comerciais encontram-se a meio caminho das
caixas-pretas, onde os pesquisadores só tem acesso aos inputs e outputs do sistema, e técnicas abertas, onde os
cientistas são capazes de acompanhar todos os deslocamentos de seus objetos.
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“[O] que é notável é que se pode tirar um pequeno pedaço do ADN do seu contexto e isto pode ser amplificado...
Meu Deus, isto pode ser usado para isolar um fragmento do ADN, de um pedaço complexo do DNA do seu