
portanto, teve origem nos revolucionários poemas de Mallarmé, que representaram um
marco divisório na criação e composição poética
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.
Por isso, quarenta e três anos depois do lançamento do movimento concretista,
Augusto de Campos, em uma entrevista
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relembra os precedentes históricos de sua obra e
do movimento de poesia concreta no Brasil e diz o seguinte:
Para mim, o marco divisório da linguagem poética de invenção, na
modernidade, é a obra Un Coup De Dés de Mallarmé (1897), o poema
concebido intersemioticamente como estrutura fragmentária ("subdivisions
prismatiques de l'Idée"), na confluência do painel visual e da partitura
musical. A partir da compreensão dessa obra foi possível rever as
experiências das vanguardas do começo do século e caminhar para novas
elaborações. "Sans présumer de l'avenir qui sortira d'ici, rien ou presque un
art", o último Mallarmé - de Un Coup De Dés a Le Livre - cataliza e radica
as principais alternativas futuras da linguagem poética. Nessa obra e nos
desenvolvimentos subseqüentes das vanguardas históricas, que vão ser
reciclados e radicalizados pela poesia concreta, encontram-se os
pressupostos formais da poesia da Era Tecnológica, que se expande ao longo
da segunda metade do século. Além de Mallarmé e das vanguardas do início
do século, eu colocaria como precedentes diretos, Ezra Pound (o "método
ideogrâmico", a colagem e a metalinguagem dos Cantos), James Joyce (o
caleidoscópio vocabular do Finnegans Wake e sua polileitura textual),
Cummings (a atomização e o deslocamento sintático dos seus poemas mais
experimentais) e, num segundo plano, por mais idiossincrática e menos
rigorosa, a prosa experimental, minimalista e molecular, de Gertrude Stein.
No caso particular da poesia brasileira, o Sousândrade (séc.19) de O Inferno
De Wall Street, com seus epigramas-mosaicos pré-colagísticos, Oswald de
Andrade e o poema-minuto "antropófago", a engenharia construtivista de
João Cabral. Numa consideração transdisciplinar, mencionaria as
transformações da linguagem musical de Webern a Cage e da visual de
Malévitch/Mondrian a Duchamp. (CAMPOS, 1995)
Na origem da poesia concreta, vamos encontrar principalmente, a substituição do
descritivo pelo plástico, do auditivo pelo visual, a tendência figurativa, o método
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– Para Haroldo de Campos “a arte da poesia, embora não tenha uma vivência função-da-História, mas se
apóie sobre um continuum meta-histórico que contemporaniza Homero e Pound, Dante e Eliot, Góngora e
Mallarmé, implica a idéia de progresso, não no sentido de hierarquia de valor, mas no de metamorfose
vetoriada, de transformação qualitativa, de culturmorfologia: “make it new”. (C
AMPOS, 1987, p. 32)
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– Essa entrevista foi concedida a K. Davis Jackson, Erik Vos e Johanna Drucker, no Simpósio sobre Poesia
Experimental, Visual e Concreta, na Universidade de Yale, nos Estados Unidos, em 1995.