
Bruno Dallacort Zilli – A Perversão Domesticada
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“As características essenciais de uma parafilia consistem de fantasias, anseios
sexuais ou comportamentos recorrentes, intensos e sexualmente excitantes, em
geral envolvendo 1) objetos não-humanos; 2) sofrimento ou humilhação, próprios
ou do parceiro, ou 3) crianças ou outras pessoas sem o seu consentimento,
ocorrendo durante um período mínimo de seis meses (CritérioA). Em alguns
indivíduos, as fantasias ou estímulos parafílicos são obrigatórios para a excitação
erótica e [são] sempre incluídos na atividade sexual. Em outros casos, as
preferências parafílicas ocorrem apenas episodicamente (por ex., talvez durante
períodos de estresse), ao passo que em outras vezes o indivíduo [a pessoa] é capaz
de funcionar sexualmente sem fantasias e estímulos parafílicos. [Para Pedofilia,
Voyeurismo, Exibicionismo e Frotteurismo, o diagnóstico é feito se a pessoa
realizou estes desejos ou se os desejos ou fantasias sexuais causaram acentuado
sofrimento ou dificuldade interpessoais. Para Sadismo Sexual, o diagnóstico é
feito se a pessoa realizou estes desejos com outra pessoa sem o seu consentimento
ou se os desejos, fantasias sexuais ou comportamentos causaram acentuado
sofrimento ou dificuldades interpessoais. Para as parafilias restantes, o
diagnóstico é feito se] o comportamento, os anseios sexuais ou as fantasias
causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento
social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo (Critério
B). A imaginação parafílica pode ser posta em ação com um parceiro sem o seu
consentimento de modo a causar-lhe danos (como no Sadismo Sexual ou na
Pedofilia).” (DSM-IV, 1995:495); (DSM-IV-TR, 2002:538-539)
De fato, podemos observar que o bem-estar é acionado junto com a idéia de que
o comportamento patológico descrito é real, e não encenado. Já o consentimento ajuda a
definir os diagnósticos “ativos”, dos quais a pedofilia é o caso à parte. Nela o bem-estar
é completamente excluído, e a noção de um “pedófilo socialmente adaptado” é
impensável, pois apenas o consentimento é utilizado como critério diagnóstico
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. As
modificações mais significativas da introdução de um refinamento da noção de
consentimento ficam aparentes na descrição dos critérios diagnósticos para “Sadismo
Sexual” realizadas no DSM IV-TR. O “Critério A” para o estabelecimento do
diagnóstico é igual tanto na edição do DSM IV quanto no DSM IV-TR, e ele diz
respeito à definição pouco explorada de que os atos devem ser “reais, não simulados”:
“Ao longo de um período mínimo de 6 meses, fantasias sexualmente
excitantes, recorrentes e intensas, impulsos sexuais ou comportamento
envolvendo atos (reais, não simulados) nos quais o sofrimento psicológico ou
físico (incluindo humilhação) da vítima é sexualmente excitante para o
indivíduo.” (DSM-IV, 1995:502) (DSM-IV-TR, 2002:545)
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“Devido à natureza ego-sintônica da Pedofilia, muitos indivíduos com fantasias, desejos ou
comportamentos pedofílicos não experimentam sofrimento significativo. É importante compreender que a
vivência de sofrimento quanto às fantasias, desejos ou comportamentos não é necessária para um
diagnóstico de Pedofilia. Indivíduos que têm um padrão pedofílico de excitação e realizam estas fantasias
ou desejos com uma criança se qualificam para o diagnóstico de Pedofilia.” (DSM-IV, 1998:543)