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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
ALCILENE E. CAMPOS RODRIGUES
ANÁLISE EXISTENCIAL E A LOGOTERAPIA DE VIKTOR
EMIL FRANKL COMO FERRAMENTAS PARA O
ACONSELHAMENTO BÍBLICO E AS CONTRIBUIÇÕES DA VISÃO
INTEGRACIONISTA DE GARY R. COLLINS
.
São Paulo
2009
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ALCILENE E. CAMPOS RODRIGUES
ANÁLISE EXISTENCIAL E A LOGOTERAPIA DE VIKTOR
EMIL FRANKL COMO FERRAMENTAS PARA O
ACONSELHAMENTO BÍBLICO E AS CONTRIBUIÇÕES DA VISÃO
INTEGRACIONISTA DE GARY R. COLLINS.
Dissertação apresentada a Universidade
Presbiteriana Mackenzie em cumprimento
às exigências do Programa de Pós-
Graduação em Ciência da Religião para
obtenção do Grau de Mestre.
Orientador: Prof. Dr. Antonio Máspoli de Araujo Gomes
São Paulo
2009
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ALCILENE E. CAMPOS RODRIGUES
ANÁLISE EXISTENCIAL E A LOGOTERAPIA DE VIKTOR
EMIL FRANKL COMO FERRAMENTAS PARA O
ACONSELHAMENTO BÍBLICO E AS CONTRIBUIÇÕES DA VISÃO
INTEGRACIONISTA DE GARY R. COLLINS.
Dissertação apresentada a Universidade
Presbiteriana Mackenzie em cumprimento
às exigências do Programa de Pós-
Graduação em Ciência da Religião para
obtenção do Grau de Mestre.
Aprovado em:
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Antonio Máspoli de Araújo Gomes
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Prof. Dr. João Batista Borges Pereira
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Prof
a
. Dr
a
. Patrícia Pazinato
Universidade São Francisco
Ao querido Marco Antonio,
Meu esposo.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus pelo provimento de todos os recursos para que eu pudesse
concluir este trabalho.
Aos meus orientadores, que dividiram comigo seus conhecimentos: professor
Antonio Máspoli, professor João Batista e professora Patrícia Pazinato.
À amiga Loyde Almeida, pela amizade, estímulo e ajuda.
Aos meus amados pais, Alnoy e Hounir, pela pronta e incansável intercessão.
Às minhas preciosas filhas, Bruna e Giovana pela compreensão e paciência.
Ao meu querido esposo Marco Antonio, pelo amor, carinho e apoio
incondicional.
O temor do Senhor é o princípio do saber,
mas os loucos desprezam a sabedoria e o
ensino (Provérbios de Salomão 1.7).
RESUMO
Este trabalho parte do pressuposto que os métodos psicológicos, embora sejam
elaborados a partir de uma visão centrada no homem e, na maioria dos casos,
rejeitem completamente a idéia de Deus, não podem ser desprezados em seu todo,
pois, em maior ou menor grau, fornecem elementos que podem e devem ser
utilizados no contexto do aconselhamento bíblico. Mesmo algumas vertentes mais
radicais, que chegam até a negar a existência ou a necessidade de qualquer
espiritualidade para o ser humano, contêm elementos que apontam para buscas que
são comuns ao aconselhamento. A inter-relação psicologia–aconselhamento
permanece até certo ponto velada, atualmente, devido à da resistência de boa parte
dos proponentes do Aconselhamento Bíblico que insistem em rejeitar qualquer
utilização dos sistemas seculares. momentos, entretanto, que ela se torna
manifesta com maior ou menor clareza e o empreendimento de esforços para listar e
verificar a aplicabilidade destes “pontos de contato” se faz necessária. Deve-se, para
tanto, retomar a cooperação ocorrida no final do século 19 e expandir este estudo às
vertentes surgidas durante o século 20. Neste sentido, considera-se, no presente
trabalho, a aplicabilidade do sistema logoterapêutico, defendido pelo psicólogo
existencialista Viktor Emil Frankl, como ferramenta de apoio ao cuidado pastoral,
considerando as contribuições do modelo de aconselhamento e da visão
integracionista de Gary R. Collins.
PALAVRAS-CHAVE: Métodos Psicológicos; Aconselhamento Bíblico; Sistema
Logoterapêutico;
ABSTRACT
This work starts with the presupposition that the psychological methods, though they
are prepared from a vision centered in the man and, in most of the cases, reject
completely the idea of God, they cannot be disregarded in their totality, because,
anyway, they provide elements that can and must be used in the context of the
biblical counseling. Even some more radical subdivisions, which even deny the
existence or the necessity of any spirituality for the human being, contain elements
that point out searches that are common to the counseling. The inter-relation
psychology-counseling remains, to a certain extent, nowadays, isolated, due to the
resistance of part of the Biblical Counseling proponents that insist in rejecting any
use of the secular systems. However, there are some moments, that it is shown with
more or less understanding and making efforts to list and to check the applicability of
these “points of contact” is necessary. For that, it is needed to reconsider the
cooperation occurred in the end of the nineteenth (19
th
) century and to develop this
study to the slopes appeared during the twentieth (20
th
) century. In this sense, it can
be considered, in this work, the applicability of the Logotherapy system, defended by
the existentialist psychologist Viktor Emil Frankl as a useful tool to the pastoral care,
considering the contributions of the counseling model and Gary R. Collins’
integrationist point of view.
KEYWORDS: Psychological Methods; Biblical Counseling; Logotherapy system.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
.................................................................................................... 9
1 VIKTOR FRANKL, A ANÁLISE EXISTENCIAL E A LOGOTERAPIA......14
1.1 ANTECEDENTES.......................................................................................14
1.2 FUNDAMENTOS.........................................................................................18
1.3 ANÁLISE EXISTENCIAL E LOGOTERAPIA...............................................20
1.4 APLICABILIDADE DA ANÁLISE EXISTENCIAL.........................................27
1.4.1 Neuroses Coletivas...................................................................................27
1.4.2 Cura Médica de Almas............................................................................. 28
1.4.3 Neuroses Noógenas................................................................................. 30
1.4.4 Terapia Não-Específica............................................................................ 31
1.4.1.1 Intenção Paradoxal............................................................................... 31
1.4.1.2 Derreflexão............................................................................................33
2 GARY R. COLINS E O ACONSELAMENTO BÍBLICO..............................34
2.1 O DESENVOLVIMENTO DO CUIDADO PASTORAL................................ 34
2.2 INTEGRACIONISMO..................................................................................35
2.3 TÉCNICAS BÁSICAS DE ACONSELHAMENTO....................................... 39
2.4 RECONSTRUÇÃO DA PSICOLOGIA.........................................................42
3 A ANÁLISE EXISTENCIAL E O ACONSELHAMENTO............................45
CONCLUSÃO........................................................................................................51
REFERÊNCIAS.....................................................................................................53
9
INTRODUÇÃO
Como psicóloga e conhecedora dos benefícios da psicologia, sempre me
incomodou a resistência e até mesmo a rejeição desta disciplina por certos
conselheiros cristãos. É certo que embora seja elaborada a partir de uma visão
centrada no homem e, na maioria dos casos, rejeite completamente a idéia de Deus,
a psicologia não pode ser desprezada em seu todo, pois, em maior ou menor grau,
fornece elementos que podem e devem ser utilizados no contexto do
aconselhamento bíblico. Afinal, como afirma Roger F. Hurding, “as metodologias
cristãs fundamentam-se no mesmo repositório de sabedoria e de conhecimento
dentro da ordem criada, em que se baseiam os sistemas seculares (sic)” (1995,
p.458).
Mesmo que algumas vertentes mais radicais cheguem a negar a existência ou
a necessidade de qualquer espiritualidade para o ser humano, elementos que
apontam para buscas que são comuns, pontos de contato que merecem ser
estudados e ter sua relevância constatada e aplicabilidade verificada.
uma inter-relação psicologia–aconselhamento que devido a esta
resistência de parte dos proponentes do aconselhamento bíblico permanece até
certo ponto velada. Entretanto, em certos momentos, ela se torna manifesta com
maior ou menor clareza, de modo que se podemos concordar que “embora o
cuidado pastoral tivesse constituído parte importante e intrínseca da vida do povo de
Deus desde os dias do Antigo Testamento, pode-se afirmar que o zelo demonstrado
pela igreja sempre esteve sujeito à psicologia predominante na época” (Hurding,
1995, p. 245).
Dito isto, não receio afirmar que ainda é relevante nos dias contemporâneos a
cooperação explícita entre o “cuidado pastoral” e a psicologia. E que, esta
cooperação, que remonta aos finais do século XIX e compreendeu tanto o
empréstimo por parte dos pastores de elementos da psicologia, como o incentivo de
certos psicólogos a um exame atento da experiência religiosa (HURDING, 1995, p.
247), deve ser estudada em relação às proposições surgidas durante o século XX.
10
Proposições que, se em alguns pontos, pareceram afastar-se mais da perspectiva
bíblica, em outros, abriram novas portas e braços de conexão com a perspectiva
espiritual.
Dentre os novos posicionamentos, a psicologia existencialista é uma das mais
desafiadoras, pois, em virtude de ter sua visibilidade atrelada a nomes como os dos
filósofos Martin Heidegger e Jean Paul Sartre, cujos pontos de vista são estritamente
antropológicos e ateístas, ela tem sido compreendida como totalmente oposta a
qualquer idéia religiosa (metafísica) e, portanto, inconcebível para uma aplicação no
âmbito do aconselhamento bíblico. Existe, contudo, no existencialismo, uma vertente
ligada ao cristianismo através de Kierkegaard e seus seguidores, que fundaram o
chamado existencialismo cristão, cujos maiores expoentes são Victor Frankl e Carl
Rogers. Este existencialismo produziu uma aproximação que se manifestou em duas
direções: a de psicólogos que abraçaram os princípios existencialistas sem, contudo,
extirpar o sentimento religioso do ser; e de pastores e teólogos que assimilaram
certas concepções existenciais. Entre os primeiros, quero destacar Viktor Emil Frankl
(1905-1997), médico e psiquiatra austríaco. E, entre os que se colocam na direção
contrária, Gary R. Colins, conselheiro cristão e psicólogo, com suas propostas
integracionistas.
Frankl, nascido em Viena, fundou a, assim conhecida, “terceira escola
vienense de psicoterapia” (as duas primeiras são a psicanálise de Freud e a
psicologia individual de Adler). A “Logoterapia”, como foi denominada, se propunha a
uma aplicação clínica da “análise existencial”, termo cunhado pelo próprio Frankl,
para aquela que ele entendia ser uma linha de pesquisa de “antropologia
psicoterapêutica”, na qual a pessoa analisada era incentivada a expor sua
compreensão a respeito da “espiritualidade, liberdade, e responsabilidade”. Com a
Logoterapia, Frankl procura resgatar o homem do desespero a partir da
compreensão de que a humanidade possui um desejo inerente de alcançar
significado. Sua perspectiva se contrapõe a idéias de Freud e Adler que, segundo
ele, limitam a natureza humana a um amontoado de impulsos instintivos (Hurding,
1995, p.150). Sua proposta, portanto, é re-humanizar a psicoterapia e reverter a
“coisificação” do ser humano, instaurada pela psicanálise que “vê o paciente como
11
sendo regido por mecanismos, e o terapeuta como aquele que sabe lidar com tais
mecanismos” (Frankl, 1992, p.13).
As idéias básicas da Logoterapia que já tinham sido registradas por Frankl em
1942, num manuscrito do livro
Aerztliche Seelsorge (Cura D’almas), destruído num
dos campos de concentração pelos quais passou, foram reescritas após o final da
segunda guerra, e a experiência nos campos de concentração permitiu-lhe dar um
tom de “realismo e compaixão” à sua concepção da humanidade.
Segundo o próprio Frankl no contexto da logoterapia
logos significa “sentido”,
pois o que realmente importa à existência humana é o cumprimento de sentido e a
logoterapia fala de uma vontade de sentido (FRANKL, 1992, p. 61). Em sua
perspectiva, Frankl admite a propensão da humanidade para o mal, mas isso não
impede que ele também possua “uma mensagem de esperança para homens e
mulheres aflitos” (Hurding, 1995, p.150).
Certamente as características acima fariam da Logoterapia uma poderosa
ferramenta a ser utilizada pelo aconselhamento bíblico, mas Frankl um passo a
mais quando descortina o homem além da dimensão psicofísica, reconhecendo sua
“dimensão noológica”, numa visão que inclui o espiritual como dimensão religiosa,
valorativa, intelectual e artística (Frankl, 1992, p. 8). Assim fazendo, toca muito de
perto os conceitos bíblicos, e, de fato, ele mesmo reconhece a relação entre a
psicoterapia e teologia quando no prefácio da 7
a
edição alemã de seu livro Der
Unbewusste Gott
(A Presença Ignorada de Deus), em 1974, afirma: “Diante da
neurose de massa, que se propaga de maneira acelerada, ninguém que seja
honesto e leve a psicoterapia a sério, pode jamais se esquivar do confronto com a
teologia – nem hoje, nem há vinte e cinco anos atrás”.
Gary R. Collins cresceu no Canadá e graduou-se pela
McMaster University
em Hamilton, Ontário e pela Universidade de Toronto. Após alguns anos servindo na
Royal Canadian Navy Reserve, mudou-se para os Estados Unidos onde fez sua
residência em psicologia clínica pelo
University of Oregon Medical School Hospitals
em Portland e, em seguida, dedicou-se a um ano de estudos teológicos no Western
Seminary. Obteve PhD (Doutorado em Filosofia) em psicologia clínica pela Purdue
12
University, e por vinte anos serviu como professor de psicologia e aconselhamento
no Trinity Evangelical Divinity School (Trinity International University).
Em 1991, tornou-se co-responsável pela recém organizada
American
Association of Christian Counselors
, num envolvimento que durou até 1998, veio a
ser Diretor Executivo e depois Presidente, num período em que aquela associação
experimentou considerável crescimento. Atualmente lidera o
International Institute for
Christian Counseling
e é presidente da International Christian Counseling Alliance.
De Collins não pode ser dito que defenda especificamente princípios
existencialistas, mas acredita numa integração entre psicologia e teologia, e crê que
devemos “aceitar o fato de que a psicologia pode ser de grande ajuda para o
conselheiro cristão”, desde que se aceite “a inspiração e autoridade da Bíblia como o
padrão contra o qual toda psicologia deve ser testada” (COLLINS, 1995, p.16).
A partir desta concepção, o autor propõe, em seu livro
The Rebuilding of
Psychology:
an Integration of Psychology and Christianity (1977), o estabelecimento
de um novo alicerce para a psicologia, ou uma revisão de sua “matéria-prima” a fim
de estabelecer “pressuposições operacionais” com base na premissa que “Deus
existe e é a fonte de toda a verdade” e no corolário: “o homem existe e é capaz de
conhecer a verdade” (p.90). Esta revisão é necessária, segundo ele, porque tanto a
psicologia experimental quanto a psicologia clínica contêm falhas cuja raiz está na
tendência desumanizadora de suas principais suposições: empirismo, determinismo,
relativismo, reducionismo e naturalismo (p.77).
Embora Collins tenha conhecimento do trabalho de Frankl, em suas obras
parece citá-lo apenas superficialmente e reconhecê-lo, no máximo, como um
psiquiatra bastante conhecido (1977, p. 123), dando ênfase ao seu existencialismo
(1977, p.42). A crítica que ele faz, entretanto, do caráter desumanizador da
psicologia está muito próxima da “coisificação” apontada por Frankl. Há, portanto,
fortes razões para crer que existam muito mais pontos de contato entre Frankl e
Collins do que este último queira aceitar.
Por certo, um conhecimento mais profundo de Viktor Frankl e dos conceitos
de sua Logoterapia e Análise Existencial demonstrará sua aplicabilidade para um
13
melhor desempenho do aconselhamento bíblico, enquanto as contribuições do
modelo de aconselhamento e da visão integracionista de Collins possibilitarão a
correta utilização destes recursos.
Eis a proposta: aprofundarmo-nos na concepção de cada um destes
proponentes, Frankl e Collins, nos primeiros capítulos, para, então, observar as
possibilidades de intersecção entre os dois pensamentos, cooperação mútua e suas
limitações.
14
1 VIKTOR FRANKL, A ALISE EXISTENCIAL E A LOGOTERAPIA
1.1 ANTECEDENTES
A convicção de que a realidade podia ser explicada, dominou a filosofia
clássica e teve seu auge em Hegel que, embora tenha mudado a epistemologia e
metodologia da busca do conhecimento, em seu idealismo, ainda sustentava essa
perspectiva. Com Soren Kierkegaard (1813-1855), todavia, essa concepção foi
deixada de lado, perdeu-se a esperança de um conhecimento unificado e o homem
passou a ser visto com poder de escolher a própria existência (SCHAEFFER,
2002a). Para Kierkegaard, “a subjetividade é a verdade, a subjetividade é a
realidade”.
Já no final do Século XIX, início do século XX, Edmundo Husserl (1859-1939),
questionou a cisão entre sujeito e objeto prevalecente na busca do conhecimento, e
passou a apresentá-los não mais como realidades independentes, mas que se
constituem mutuamente. Em sua visão “a consciência não era o conjunto das
apreensões da experiência, como queria o empirismo e nem um
a priori idealista,
mas um processo de dupla constituição, um fazer-se contínuo, uma relação homem-
mundo” (LAPORTE, VOLPI, 2000, p. 14).
O clima de perplexidade causado pela implosão dos valores da cultura
ocidental resultante das 1
a
e 2
a
Guerras Mundiais, ocasionou um retorno ao
pensamento kierkegaardiano (também conhecido como
Kierkegaard
Renaicesence
”). Isto, juntamente com a influência dos pensamentos
fenomenológicos de Husserl, propiciou a eclosão, em vários lugares da Europa, do
existencialismo, que surgiu como,
Uma reflexão sobre o homem e o vivido que tinha em comum a
existência como modo de ser do homem no mundo e o mundo, não
15
como algo constituído, mas como manifesto ao homem
condicionando suas possibilidades” (LAPORTE, VOLPI, 2000, p. 20).
No modo de pensar existencialista, como afirma Sartre, “a existência precede
a essência” e “o homem nada mais é do que aquilo que faz de si mesmo”. Outros
existencialistas, mesmo os que não estejam muito ligados ao ateísmo, entendem
que o homem tem a vida para ser vivida e é livre para escolher o caminho que irá
seguir. Além disso, a humanidade existe para experimentar as realidades da
existência, sejam elas agradáveis ou dolorosas. “Existimos e, mediante nossa
capacidade de decidir, tornamo-nos, essência” (HURDING, 1995, p.146).
A expansão do existencialismo e a presença de fortes componentes
psicológicos em autores como Kierkegaard e Jaspers, influenciou a prática
psicoterapêutica, resultando no surgimento das chamadas psicologias existenciais
como as desposadas por Carl Rogers, Rollo May e Viktor Frankl.
Particularmente, a psicologia existencialista de Viktor Frankl, cuja profunda
afinidade com o judaísmo e cristianismo não pode ser negada, foi certamente
influenciada pelo teísmo de Kierkegaard, mas também evidencia uma herança da
fenomenologia de Edmund Husserl e Max Scheler, em especial quando se observa
sua ênfase na busca por significado e valores.
Frankl nasceu em Viena, na Áustria em 1905 e desde cedo demonstrou
interesse pela psicanálise. Em 1923, na conclusão dos estudos secundários,
apresentou o trabalho
Zur Psychologie des philosophischen Denkens eine
psychoanalytisch orientierte Pathographie über Arthur Schopenhauer
(Sobre a
psicologia do pensamento filosófico uma
patografia de orientação psicanalítica
sobre Arthur Schopenhauer). A partir de então, iniciou uma intensa correspondência
com Sigmund Freud, com quem chegou até mesmo a encontrar-se pessoalmente
em 1925, mas tendo se identificado mais com a corrente psicanalítica fundada por
Alfred Adler, da psicologia individual, acabou aderindo ao círculo adleriano naquele
mesmo ano, publicando no
Internationalen Zeitschrift für Individualpsychologie
(Jornal internacional de psicologia individual) o artigo Psychotherapie und
16
Weltanschauung (Psicoterapia e visão do mundo), onde aborda a questão
filosófica dos significados e dos valores. No ano seguinte, 1926, em conferências
pronunciadas na Alemanha, Frankl empregou pela primeira vez o termo
“logoterapia”.
Devido ao rumo que tomou dentro do movimento, Frankl foi expulso do círculo
adleriano e, em 1928 e 1929, promoveu a fundação de postos assistenciais para a
juventude com o apoio financeiro de Julius Tandler, um professor de Anatomia,
membro do Conselho de Viena. Este projeto proporcionou um programa de
aconselhamento de tal sucesso, que naquele ano verificou-se a ausência de
suicídios entre estudantes universitários.
Formado em medicina em 1930, Frankl trabalhou em alguns hospitais
psiquiátricos e em 1939 escreveu seu
Philosophie und Psychotherapie. Zur
Grundlegung einer Existenzanalys
e (Filosofia e Psicoterapia: sobre a fundação de
uma análise existencial), no qual cunhou a expressão “análise existencial”.
Entre 1940 e 1942, Frankl foi encarregado do departamento de neurologia do
hospital judeu Rothschild, em Viena. Em 1938 a Áustria havia sido invadida pelos
nazistas e a fim de salvar os pacientes judeus da eutanásia, Frankl se viu obrigado a
fazer diagnósticos benignos dos doentes mentais sob seus cuidados. Neste ano
começou a escrever o livro
Aerztliche Seelsorge (Cura D’almas).
Em 1941 casou-se com Tilly Grosser, mas no ano seguinte, 1942, foi levado
com sua família para os campos de concentração nazistas. Frankl passou por
quatro deles, incluindo os temidos
Therezin e Auschwitz, e experimentou a perda de
sua mãe, irmão, e sua esposa, de cuja morte teve conhecimento ao ser libertado
em 1945. Os manuscritos de seu livro
Aerztliche Seelsorge, foram destruídos neste
período.
Esta experiência nos Campos de Concentração impactou profundamente a
obra terapêutica de Frankl e, como ele mesmo concluiu posteriormente, durante o
tempo que passou ali foi sustentado e salvo pelo seu grande interesse pelo
comportamento humano. Também, percebeu que aqueles que possuíam uma
esperança e que tinham um significado para suas vidas resistiam melhor a fome e
17
maus tratos a que todos eram submetidos e concluiu que o ser humano é o que faz
de si mesmo e pôde escrever em seu livro “
Em Busca de Sentido: Um psicólogo no
campo de concentração
”:
No campo de concentração, por exemplo, nesse laboratório vivo e
campo de testes que ele foi, observamos e testemunhamos alguns
dos nossos companheiros se portarem como porcos, ao passo que
outros agiram como se fossem santos. A pessoa humana tem dentro
de si ambas as potencialidades; qual será concretizada, depende de
decisões e não de condições. (1987, p. 73).
Neste livro ele descreveu como um prisioneiro comum, marcado com o
número 119104, como todos os outros prisioneiros eram marcados, sujeito aos
mesmos trabalhos e privações, “experimentou a vida no campo de concentração”.
Mais à frente, no mesmo livro, Frankl confronta as teorias de Freud através da
experiência observada e vivenciada neste “laboratório vivo” quando registra:
Sigmund Freud afirmou em certa ocasião: "Imaginemos que alguém
coloca determinado grupo de pessoas, bastante diversificado, numa
mesma e uniforme situação de fome. Com o aumento da
necessidade imperativa da fome, todas as diferenças individuais
ficarão apagadas, e em seu lugar aparecerá a expressão uniforme
da mesma necessidade não satisfeita". Graças a Deus, Sigmund
Freud não precisou conhecer os campos de concentração do lado de
dentro. Seus objetos de estudo deitavam sobre divãs de pelúcia
desenhados no estilo da cultura vitoriana, e não na imundície de
Auschwitz. Lá, as "diferenças individuais" não se "apagaram", mas,
ao contrário, as pessoas ficaram mais diferentes; os indivíduos
retiraram suas máscaras, tanto os porcos como os santos. (1987, p.
82).
18
Após sua libertação, Frankl retomou suas atividades e, em 1946, foi nomeado
diretor do Hospital Policlínico Neurológico de Viena, onde permaneceu por 25 anos.
Seu livro
Aerztliche Seelsorge foi reescrito e ele conquistou a habilitação para
lecionar na Escola de Medicina da Universidade de Viena. Foi então que escreveu
Ein Psycholog erlebt das Konzentrationslager (Um psicólogo no campo de
concentração), o qual foi ditado para um grupo de assistentes num período de
apenas nove dias utilizando-se da memória e de algumas poucas notas que havia
salvado.
Casou-se pela segunda vez em 1947 com Eleonore Schindt e, no ano
seguinte, obteve seu doutorado com a tese
Der unbewußte Gott (O Deus
inconsciente). Em 1951, com seu livro
Logos und Existenz (O logos e a existência)
Frankl completou os fundamentos antropológicos da Logoterapia (COBRA, 2001).
1.2 FUNDAMENTOS
Para Frankl, a motivação básica do ser humano é a busca de sentido para a
própria vida. Portanto, a preocupação principal do homem deve ser estabelecer e
perseguir um objetivo. A missão da psicoterapia é ajudá-lo a encontrar esse
significado que é seu, este sentido é particular para cada indivíduo. Segundo ele,
três vias para se encontrar este objetivo: 1) através de um feito notável que
dependa fundamentalmente de seus conhecimentos e habilidades; 2)
Experimentando um novo valor ou estabelecendo um novo relacionamento pessoal
e; 3) adotando uma atitude positiva em relação a um sofrimento inevitável. A ação do
indivíduo em todos estes casos deve ser a resposta correta e uma conduta moral
objetiva (COBRA, 2001).
Frankl afirma, ainda, que as pessoas se caracterizam por uma
autotranscendência, e que a autorrealização é um subproduto involuntário no qual o
indivíduo pode se compreender para além de si mesmo. Na sua concepção “a
própria busca da felicidade... atrapalha a felicidade” (HURDING, 1995).
19
“Baseado num modelo proposto pelo fenomenólogo Max Scheler, ele (Frankl)
acredita que as pessoas tenham um núcleo espiritual cercado por ‘camadas’
psicológicas e físicas” (HURDING, 1995, p.151). Este aspecto é básico para Frankl,
que o inclui dentro do conceito de inconsciente. Na verdade ele esse núcleo
espiritual atravessando os três níveis: consciente, pré-consciente e inconsciente,
como um eixo a todos eles.
No dizer de Hurding, em Frankl,
Encontramos um teorizador que, junto com Jung, ergueu os olhos
acima e para além das fronteiras biológicas e centradas na pessoa,
limites característicos da psicologia secular, voltando-se para a
direção do “Deus desconhecido” (1995, p.60).
As bases da Logoterapia e da Análise Existencial estavam presentes no
início da carreira de Frankl e foram, em certa medida, a causa de sua colisão com
Adler, e sua consequente expulsão da Associação de Psicologia Individual. Segundo
Giselher Guttmann registra em sua introdução ao livro Logoterapia e Análise
Existencial (Frankl, 1995), por ocasião de seu artigo “O encontro da psicologia
individual com a psicanálise”, Frankl “percebia que a psicanálise se propõe a
adaptar o homem à realidade, enquanto a psicologia individual pretende uma
conformação desta realidade”, e percebia a carência de um passo adiante, além da
adaptação e conformação. Passo que ele próprio desenvolveria em seguida,
propondo a assunção da responsabilidade, isto é, a idéia de que “ser eu significa ser
responsável”, base de seu método psicoterapêutico que objetiva ajudar o paciente a
reconhecer as questões espirituais da vida e o sentimento de responsabilidade e, a
partir deste ponto fazer com que ele caminhe em direção ao desejo de alcançar
significado.
Quando se refere à liberdade, Frankl afirma que ela não é a “última palavra” e
que corre perigo de transformar-se em arbitrariedade a não ser que seja vivida com
responsabilidade. Sob este prisma chegou a propor a construção de uma Estátua da
20
Responsabilidade na Costa Oeste dos Estados Unidos a fim de complementar a
Estátua da Liberdade na Costa Leste (1987, p.74)
1.3 ANÁLISE EXISTENCIAL E LOGOTERAPIA
Nas palavras do próprio Frankl, “a logoterapia e a análise existencial são as
duas faces de uma mesma teoria. Ou seja, a logoterapia é um método de tratamento
psicoterapêutico, ao passo que a análise existencial representa uma linha
antropológica de pesquisa” (1995, p. 60).
Em logoterapia, como vimos anteriormente, “logos” significa sentido, mas
Frankl também lha atribui um outro significado, a saber, o mental, em oposição ao
puramente psíquico.
Na expressão
análise existencial (Existenzanalyse), “existencial” refere-se à
forma de ser e ao caráter do próprio homem, termo tomado de empréstimo da
filosofia contemporânea, se refere a uma explicação da existência tanto no seu
aspecto ôntico (a essência própria do indivíduo, o que ele é em si mesmo, sua
identidade, diferenças e relações com outros indivíduos), como no aspecto
ontológico (o estudo filosófico do ser). Diferentemente da análise da existência
(Daseinanalyse) que coloca a ênfase sobre o esclarecimento do ser. A
análise
existencial
, portanto, se propõe como uma antropologia psicoterapêutica que
precede qualquer psicoterapia (não só a logoterapia).
As psicoterapias se baseiam em premissas antropológicas. Assim, como
explicação antropológica da existência pessoal, a análise existencial, segundo
Frankl, objetiva tornar consciente, explicar, desdobrar e desenvolver a concepção
inconsciente e implícita que a psicoterapia tem do homem. Assim, ela caracteriza e
qualifica a essência da existência, que como uma forma de ser se caracteriza por um
ser facultativo, ser humano, como um poder ser de outra forma. O homem neurótico
é aquele que entende mal a própria essência (1991, pp. 61-62).
21
A explicação da existência pessoal elaborada por Frankl parte do principio
que “Ex-sistir” é sair de si mesmo, ao encontro de si mesmo, passando pelo âmbito
espiritual, confrontando-se como um organismo psicofísico. Em oposição ao
paralelismo psicofísico (corpo e alma), Frankl a possibilidade de um antagonismo
psiconoético (espiritual). Este antagonismo, facultativo, antes de ser uma
necessidade, é uma possibilidade.
Esta contraposição psiconoética se sustenta na possibilidade do
autodistanciamento do homem em relação a si mesmo como organismo psicofísico e
estabelece a pessoa espiritual. Este confronto do homem consigo mesmo pressupõe
uma separação entre o espiritual e o corporal-psíquico sem que, com isso, ele perca
sua unidade antropológica.
Frankl explica esta diversidade ontológica do homem (corporal, psíquico e
espiritual), lançando mão do que ele chama de
ontologia dimensional. Assim como
um copo projetado sobre a mesa em que repousa resultará em um círculo, enquanto
que sua projeção no plano vertical resultará em um retângulo, sem que, com isso, se
compreenda que estas figuras compõem o copo, assim também o homem não é
composto por corpo, alma e espírito. Antes, são estas, dimensões do homem.
Embora a dimensão espiritual seja a dimensão específica do homem, ela não é a
única dimensão, que o homem é uma unidade corpora, psíquico, espiritual.
também que se entender, afirma Frankl, que se a pessoa é indivisível,
in-dividuum, é
também
in-summabile, isto é, também não pode se fundir. É unidade e totalidade.
O psíquico e o somático (físico), conquanto formem uma unidade íntima, nem
por isso representam a mesma e a única realidade. A unidade psicossomática,
também, não constitui sua totalidade, a menos que se acrescente o espiritual como
terceira realidade. Esta realidade constitui a dimensão específica de sua existência.
No esquema dimensional de Frankl, o verdadeiramente humano pode ser
concebido a partir da dimensão espiritual. Enquanto a vida vegetativa possa ser
explicada dentro da dimensão corporal e a vida animal dentro da psíquica, a
existência humana não pode ser presumida a partir desta bidimensionalidade. Pode
sim, ser projetada nesta relação bidimensional, mas como no caso do copo, citado
22
anteriormente, a projeção sacrifica uma das duas, pois se projeta naquela
imediatamente inferior.
Este reducionismo, isto é, esta projeção do ser humano em uma realidade
bidimensional ocasiona ambigüidades e contradições. A ambigüidade se deve ao
fato de que coisas diferentes podem ser representadas da mesma forma em uma
única projeção (figura 1a), e as contradições porque uma mesma coisa pode ser
representada de maneira diferente em projeções diferentes (figura 1b).
Os fenômenos humanos, segundo Frankl, se tornam ambíguos quando
projetados num plano meramente psíquico-corporal. Santas e histéricas estarão num
mesmo plano, e não será possível fazer nenhum diagnóstico diferencial entre louco
e profeta. Sacrifica-se a transcendência do mundo por um supermundo.
Ao se observar a figura b, é possível ver um cilindro projetado, representado
como um retângulo numa dimensão e como um círculo em outra. Quando se
imagina este cilindro como sendo um copo e considerando a sua projeção no plano
horizontal este se revelará como um círculo fechado, apesar de este copo na
dimensão superior (terceira dimensão ou espaço), ser aberto possibilitando integrar
algo. Com relação ao homem, a concepção é a mesma. Se considerada a dimensão
espiritual como o espaço do humano será possível dissolver algumas contradições
consequentes da sua projeção bidimensional.
Figura 1
a b
23
Frankl afirma:
Naturalmente um avião não deixa de ser avião, ainda que esteja
taxiando na pista: ele pode, mais ainda, ele deve tornar a taxiar
continuamente na pista! Mas o fato de ser avião só fica demonstrado
quando ele voa. Analogamente o homem começa a se comportar
como homem quando pode sair do plano da facticidade organísmico-
psicofísica e ir ao encontro de si mesmo, sem por isso ter de fazer
frente a si mesmo. Esse poder é o que significa “existir”; “existir” quer
dizer: estar sempre acima de si mesmo (1995, p.75).
Frankl afirma que há, dentro da espiritualidade humana, algo como uma
espiritualidade inconsciente que é a fonte e a raiz de toda espiritualidade consciente.
Há, portanto, além do inconsciente instintivo, o espiritual. Relacionando os dois, ele
diz: “O ego não é dominado pelo id; apesar disso, o espírito é sustentado pelo
inconsciente”. E ainda: “Efetivamente o que se chama consciência atinge
profundidade inconsciente e deita raízes numa base inconsciente” (1995, p.79).
Segundo o autor, é preciso considerar a consciência como irracional, alógica, ou pré-
lógica, pois existe uma compreensão pré-moral de valores que precede
essencialmente toda moral explícita, isto é, a consciência.
a consciência é capaz de harmonizar, por assim dizer, a lei moral
“eterna”, universalmente expressa, com cada situação concreta de
cada pessoa concreta. Pois uma vida a partir da consciência é
sempre uma vida absolutamente pessoal, orientada para uma
situação absolutamente concreta, para o que se pode importar em
nossa existência (
Dasein) singular e peculiar: a consciência inclui
sempre o “aqui” (
Da) concreto do meu “ser(Sein) pessoal (Frankl,
1995, p.81).
24
Nesta profundidade emocional e não-racional, diz Frankl, estão enraizados o
ético, o erótico e o estético. Considera, como exemplo a intuição do artista, em si
irracional, que permanece numa obscuridade que nunca pode ser iluminada
completamente pela consciência, que a consciência excessiva pode interferir na
produção a partir do inconsciente.
Um outro aspecto da espiritualidade inconsciente abordada por Frankl é que
ela é não-reflexiva e não-reflexionável. Ela não é inconsciente, ela é
necessariamente inconsciente. A conseqüência disto é que o homem não pode e
não deve fazer uma auto-reflexão completa, porque isto não é tarefa do espírito.
Assim, diz Frankl:
Faz parte da essência do homem ser orientado para, seja para
alguma coisa, seja para alguém, seja para uma obra, seja para um
homem, para uma idéia ou para uma pessoa! E na medida em
que somos intencionais, somos existenciais; na medida em que o
homem está espiritualmente com algo ou com alguém, junto de outro
ente espiritual, assim como junto de um ente não espiritual, na
medida deste “estar junto de” é que o homem está consigo mesmo.
O homem não existe para se observar a si mesmo nem para olhar a
si mesmo no espelho, mas sim para se entregar, para se sacrificar e
para se abandonar conhecendo e amando (1995, p.83).
Essa pessoa espiritual, como definida por Frankl, não é sempre visível, nem
sempre ativa. O organismo é um espelho em que o indivíduo se reflete e percebe
que não se apresenta límpido. “O corpo do homem ‘caído’ representa um espelho
quebrado, por isso deformador”. O corpo psicofísico limita o espírito, condiciona a
espiritualidade, entretanto não pode produzi-la. “O
bios nunca origina, condiciona
o
logos (...) a physis ou o soma nunca origina, condiciona a psyche(Frankl,
1995, p. 84, 86).
25
O autor entende que a análise existencial estende seu exame para a
totalidade do homem, porque o considera além do psicofísico-organísmico, para o
espiritual-pessoal. Neste sentido ela vai além da chamada psicologia profunda, pois
alcança o inconsciente espiritual e não apenas o instintivo. Pretende, assim
conhecer a dimensão do alto, própria do homem, pois “só o alto do homem constitui
o homem” (Paracelso). Pode ser, ela, portanto o antídoto para o niilismo
contemporâneo, para o enfado do homem com o espiritual.
De acordo com Frankl, no ser humano uma auto-compreensão de que
todos são livres, embora ela seja possível de ser mascarada pela ciência, que
unicamente o organismo psicofísico e não o homem espiritual, por isso não
consegue enxergar a autonomia espiritual do homem. Esta liberdade, segundo ele,
se estabelece diante de três fatores: os instintos, a hereditariedade e o meio
ambiente.
Os instintos do homem são dominados por meio de sua espiritualidade. O
homem possui instintos, o animal “é” seus instintos. E o que o homem “é” diante
deles constitui sua liberdade. O homem é capaz de dizer não a eles e é isto que o
diferencia da espécie animal.
Quanto à hereditariedade, tem sido confirmado pela pesquisa genética séria,
que o homem possui liberdade mesmo diante de uma determinada disposição
genética. Frankl concorda com Goethe quando este afirma que não virtude que
não possa se transformar em defeito e nem defeito que não possa se converter em
virtude.
Da mesma forma com relação ao ambiente, está mais do que provado que
este depende de como o homem interage com ele. O homem está muito acima de
ser um simples produto, quer seja da hereditariedade ou do meio, pois ele decide
sobre si mesmo.
Segundo Frankl, o indivíduo não age simplesmente de acordo com o que é,
mas é transformado à medida que age e assim torna-se bom no exercício de fazer
coisas boas. A ação, portanto, tem o poder de criar o hábito. Se ele agir eticamente
26
poderá gerar uma atitude ética e assim a decisão de hoje se tornará o instinto de
amanhã.
A análise existencial compreende que o homem é limitado, isto é, ele não
pode fazer tudo o que deseja fazer. A liberdade humana não é onipotência. Por
outro lado, ela o considera como um ser com orientação de sentido e que, portanto,
é movido por valores. O homem é um ser livre que decide livremente. E se a
liberdade não contém nenhum “para quê”, o ato de decidir sempre está conectado a
objetivos de sentido e de valores.
A responsabilidade humana então, tem um “pelo quê” ser responsável. O
indivíduo se realiza a na medida em que cumpre com obrigações e exigências e
compreende sentido e valores. “Se quero ser o que posso, tenho que fazer o que
devo. Se quero vir a ser eu mesmo, tenho que cumprir obrigações e exigências
concretas e pessoais”. O homem, também, é atraído pelos valores, através da
liberdade e responsabilidade ele decide e determina a realização de valores (Frankl,
1995, p.105, 107).
A responsabilidade se estabelece não somente por algo, mas perante algo ou
alguém. Assim, em primeiro lugar, ela se estabelece perante a consciência. A
responsabilidade, assim como a liberdade e espiritualidade, são fenômenos
originários e a consciência remete a algo que transcende o homem. Quem decide
eticamente, não faz isso como uma forma de apaziguar o superego. Não existe
instinto moral, pois o ser não é impelido por uma consciência moral, mas tem que se
decidir levando-a em consideração.
A consciência, entretanto, não é a última instância pela qual somos
responsáveis. Mais do que algo alguém, uma instância de estrutura
absolutamente pessoal que é Deus. “Detrás do superego do homem está o tu de
Deus; a consciência seria a palavra tu da transcendência”, diz Frankl (1995, p.113).
Para a análise existencial o pai é uma imago, em particular, a primeira imagem que
uma criança faz de Deus. Toda paternidade tem em Deus a imagem que a origina.
Este “perante quem” é essencial para Frankl na definição da responsabilidade
do ser humano, como ele mesmo ilustra:
27
Que importa o fato de que Deus seja uma testemunha e um
espectador invisível? O ator que está no cenário também não a
platéia diante de si: ele está deslumbrado com a luz dos refletores e
do palco, e o teatro está mergulhado na escuridão. E, no entanto, o
ator sabe com certeza que embaixo, na sala escura,
espectadores, sabe que está encenando diante de alguém, Acontece
a mesma coisa com o homem: atuando no palco da vida, mas
deslumbrado com a cotidianidade superficial, ele vislumbra, apesar
disso e sempre a partir da sabedoria de seu coração –, a presença
da testemunha, do grão-espectador, ainda que invisível, perante o
qual ele é responsável pela realização, que se exige dele, de um
sentido concreto e pessoal da vida (1995, p 115).
O homem, segundo Frankl, é muito mais religioso do que imagina, acontece
que esta espiritualidade se encontra envergonhada diante do intelectualismo
crescente do naturalismo hodierno. O homem, diante da “imagem naturalista de
homem e de mundo tende a se envergonhar de seus sentimentos religiosos”.
1.4 APLICABILIDADE DA ANÁLISE EXISTENCIAL
1.4.1 Neuroses Coletivas
Neuroses coletivas não podem ser definidas como neuroses clínicas no
sentido estrito do termo, pois na verdade são quase-neuroses, ou neuroses no
sentido figurado. Frankl caracteriza estas neuroses, no sentido que ele define como
paraclínico, por meio dos seguintes sintomas: 1) uma atitude de provisoriedade
diante da existência como se tudo fosse deixar de existir a qualquer momento; 2)
uma atitude fatalista diante da vida, compreendendo como impossível e
desnecessária qualquer tentativa de controlar o destino; 3) uma forma de pensar
coletivista que se compreende como pessoa na medida do outro, ignorando a
28
própria personalidade; 4) um fanatismo que só enxerga a si próprio ignorando
aquele que pensa diferente. Estes quatro sintomas, entretanto, podem ser
reduzidos, segundo ele, à fuga da responsabilidade e ao medo da liberdade que
constituem a espiritualidade do homem. Essa fuga é a essência do niilismo
contemporâneo.
Existe uma frustração existencial como pano de fundo de muitos dos
problemas hodiernos. Seus efeitos podem ser percebidos no vazio interior e na
carência de conteúdo que resultam numa sensação de perda de sentido da
existência. Mesmo que não se possa designar esta frustração existencial
exatamente como patogênica ou patológica, ela, ainda assim, necessita da análise
existencial.
A análise existencial, afirma Frankl, não é uma terapia de neurose. Conquanto
a logoterapia continue tendo uma aplicação médica, a análise existencial vai além
dessas indicações, abrindo possibilidades ao filósofo, teólogo, pedagogo e
psicólogo, podendo ser aplicada à neurose coletiva, à frustração existencial, que,
embora não seja nenhuma doença, nenhuma neurose, no sentido específico da
palavra, pode ser mortal, que pode levar ao suicídio. é possível apelar à
vontade de continuar vivendo quando este apelo é dirigido à vontade de sentido,
quando o querer sobreviver também representa um dever sobreviver, quando
continuar a viver tem um sentido. Frankl cita as palavras de Friedrich Nietzche como
um lema para a psicoterapia: “só quem tem um ‘porque’ para viver suporta quase
qualquer ‘como’ viver” (1995, p.123).
1.4.2 Cura Médica de Almas
Existem situações, porém, em que é necessária uma aplicação específica da
análise existencial, que é quando a atuação do médico, qualquer que seja sua
especialidade, tem que tratar de um paciente que se acha diante de “um sofrimento
necessário iniludível”. Nestas situações deve haver o que Frankl chama de “cura
médica de almas”, no qual o médico continua a ser médico, mas sua relação com o
29
paciente se transforma num encontro pessoal e o cientista se transforma no
humano. Para enfatizar este ponto, Frankl alude a uma recomendação da American
Medical Association: “O médico também deve consolar a alma, Não se trata de
modo algum de uma obrigação apenas do psiquiatra, Trata-se simplesmente da
obrigação de qualquer médico em atividade” (1995, p. 125).
A “cura médica de almas” não tem por preocupação o restabelecimento físico
do indivíduo, isto é, sua capacidade de fazer ou desfrutar, mas, especificamente,
capacitá-lo a suportar o sofrimento.
Desta maneira, a capacidade de suportar o sofrimento é saber realizar o que
Frankl chama de valores atitudinais, ou seja, dar sentido à vida por meio de um
sofrimento, Esta necessidade surge quando sofrer é inevitável e a psicoterapia, em
seu sentido mais específico, não é possível. Ela é implementada com a
abordagem da questão do sentido do sofrimento, ou “para que sofrer?”, afrontando o
destino com uma atitude adequada e digna, enxergando a possibilidade de uma boa
ação, decidindo quais são as melhores direções a serem tomadas, escolhendo o
próprio o destino.
Conquanto a análise existencial se abra a amplas aplicações e sirva a
diversas disciplinas diferentes, o presente texto trata de uma tarefa ligada
especificamente ao caráter médico, não devendo ser confundida com a “cura
sacerdotal de almas”, já que sua meta é a cura psíquica. Frankl defende que:
Certamente a religião não tem um motivo psicoterapêutico, mas
possui um efeito psico-higiênico. Não há dúvida que ela possibilita ao
homem uma segurança incomparável e uma ancoragem espiritual, e
dessa forma contribui grandemente para a manutenção do seu
equilíbrio psíquico (...) Do mesmo modo que psicoterapia não está a
serviço da religião, também, a religião não é um meio para um fim da
psicoterapia (...) Mas não nos equivocaremos se supusermos que
por trás desta necessidade psicoterapêutica se encontra a velha e
eterna necessidade metafísica, ou seja, a necessidade do homem de
30
prestar contas a si mesmo sobre o sentido da existência (1995, p.
129).
Frankl, como é possível perceber, não descarta a idéia da existência de Deus.
Além disso, embora negue a aplicação de uma conotação religiosa em determinadas
circunstâncias, em outras ele a concebe como única resposta contra o total
desespero. Quando em face de uma situação inevitável (como a de um judeu no
campo de concentração condenado à morte), em que qualquer ato de heroísmo
exigiria um sentido, que ninguém iria tirar proveito disso. O autor entende que em
tal circunstância, manter-se firme, apesar de toda inutilidade só é possível quando se
vislumbra a existência de uma testemunha maior, de um espectador invisível, Deus,
“perante quem” o homem é responsável. Responsabilidade que abriga em si até
mesmo o sentido do sofrimento.
1.4.3 Neuroses Noógenas
Frankl utiliza a expressão neuroses noógenas para se referir aos problemas
que ocorrem além da esfera do psíquico, cuja causa se encontra num problema
espiritual, num conflito moral ou em uma crise existencial.
Trata-se de enfermidades que “provém do espírito”, mas não são “do espírito”,
não é uma enfermidade noética, já que a pessoa espiritual, segundo os conceitos da
logoterapia, não pode adoecer, pode haver enfermidade no âmbito psicofísico.
Em todo o caso, para neuroses que provém do espiritual é indicada uma
psicoterapia que também provenha do espiritual. Sendo assim, fica claro a indicação
da logoterapia que a si mesmo se entende como espiritual.
A logoterapia procura nestes casos ordenar e orientar o paciente para um
sentido concreto e pessoal, mas não deve dar um sentido à existência dele. Ela
torna o paciente consciente de sua responsabilidade a fim de que ele decida qual
sentido concreto deve ser cumprido, quais valores pessoais devem ser realizados,
31
perante o que (a consciência, a sociedade, alguém específico: Deus), ele interpreta
sua existência como uma responsabilidade.
O logoterapeuta será a última pessoa a, no tocante a tal decisão,
subtrair do paciente a responsabilidade ou mesmo a permitir que
este lance sua responsabilidade sobre os ombros do psicoterapeuta:
a logoterapia se revela como uma educação para a
responsabilidade” (Frankl, 1995, p.155).
1.4.4 Terapia Não-Específica
Embora a Logoterapia represente uma terapia específica para o caso de
neuroses noógenas e, dentro desta esfera se mostre como um avanço na
psicoterapia, ela também é indicada a uma aplicação mais ampla das neuroses no
sentido específico, isto é, nas psicógenas, que são aquelas causadas no psíquico.
Estão inclusas também nesta classificação as doenças psicossomáticas, que não
são propriamente causadas no psíquico, mas são desencadeadas ali; e as
pseudoneuroses somatogênicas, doenças neuróticas aparentes ocasionadas a partir
do somático. Estas, embora distinguidas conceitualmente e recebam tratamento
específico, são tratadas, também do ponto de vista psicológico.
1.4.4.1 Intenção Paradoxal
A teoria das neuroses, segundo Frankl, observa que em um paciente
neurótico ansioso, a angústia é potencializada na medida em que ele sente angústia
perante a própria angústia, lançando-o num círculo-vicioso. Diferentemente, o
neurótico obsessivo, é lançado no mesmo círculo numa tentativa de fuga da
obsessão. Já o neurótico sexual tem como objeto de sua neurose uma busca
32
fracassada do prazer, porque o próprio desejo intenso de obtê-lo bloqueia a
possibilidade de alcançá-lo. Por um lado, o neurótico ansioso e o obsessivo têm um
temor diante de algo anormal, e, por outro, o neurótico sexual possui um desejo
forçado por algo normal.
Frankl propõe, portanto, que se relacione o desejo com aquilo que é anormal,
objeto da fobia neurótica, na compreensão de que ele, como no caso da neurose
sexual, funcione como um bloqueio, livrando a pessoa do círculo vicioso em que se
encontrava.
Se, então, o paciente fóbico conseguir agir paradoxalmente, substituindo a
angústia, ainda que por poucos segundos, pela intenção diante daquilo que teme,
isto exercerá surpreendente influência enfraquecendo o medo. Tal intenção
(paradoxal) não é séria nem definitiva e sua importância está em experimentá-la
apenas por um momento, que certamente ocasiona riso e, assim, este humor faz
com que o paciente se distancie de sua neurose. Para reforçar este conceito, Frankl
cita Gordon W. Allport que afirma que “o neurótico que aprende a rir de si mesmo
possivelmente se ache a caminho do seu autocontrole, talvez mesmo a caminho
de sua cura” (1995, p.166).
Frankl declara que a intenção paradoxal é a logoterapia mais autêntica, pois
nela o paciente foca a neurose, mas se distancia dela. A pessoa espiritual afasta-se
da neurose que é uma enfermidade do organismo psicofísico. O antagonismo
psiconoético facultativo se transforma num antagonismo de fato.
A logoterapia não trata simplesmente dos sintomas do paciente, antes se
dirige à pessoa dele com o objetivo de mudar sua atitude frente ao sintoma. Ela não
o considera como responsável pelas idéias obsessivas, mas pela atitude tomada
diante dessas idéias.
33
1.4.4.2 Derreflexão
As neuroses, tanto de angústia, como obsessivas, quanto nas sexuais, pode-
se acrescentar o fator de uma excessiva preocupação pela observação de si mesmo
no paciente. A obsessão de observação é a angústia de perder o controle sobre si
mesmo, de não se dominar e se abandonar ao inconsciente, diz Frankl.
Esta obsessão, não dificulta, mas também impede qualquer realização,
pois tenta assumir o controle daquilo que é executado automaticamente pelo
inconsciente.
Nestes casos o psicoterapeuta tem que transformar o potencial inconsciente
num ato consciente, mas a fim de provocar um hábito novamente inconsciente e
assim restabelecer a naturalidade das realizações inconscientes. Assim como as
neuroses podem ser ironizadas pelo uso da intenção paradoxal, o método
terapêutico adequado à obsessão de observação, à excessiva atenção nos sintomas
é a derreflexão. A derreflexão significa aqui, voltar a ignorar-se a si mesmo.
A fim de atingir a derreflexão desejada, isto é, ignorar algo, é necessário
deixar de lado este algo voltando-se para alguma coisa diferente. A logoterapia
então, utiliza-se da análise existencial centrando e orientando o paciente para o
sentido concreto de sua existência pessoal.
A logoterapia, segundo Frankl, tem por objetivo complementar a psicoterapia
completando aquela imagem que ela faz do homem até o “homem completo”, de
cuja totalidade pertence também o espiritual em essência. Os caso neuróticos
tendem a crescer em direção a um vazio existencial, conseqüentemente isto torna a
logoterapia indicada não apenas àqueles que surgiram do espiritual, mas também
nos casos somatopsicogênicos, representando um complemento noético à
psicoterapia somatopsíquica.
34
2 GARY R. COLINS E O ACONSELAMENTO BÍBLICO.
2.1 O DESENVOLVIMENTO DO CUIDADO PASTORAL
O cuidado pastoral é um dos aspectos indissociáveis da vida da igreja. Assim,
nas páginas do Novo Testamento existem diversas referências a este elemento,
como, por exemplo, na epístola de Tiago, na qual pode ser lido: “A Religião pura e
sem mácula, para com nosso Deus e pai, é esta: visitar os órfãos e viúvas nas suas
tribulações (...)” (Tiago 1.27); ou ainda, na primeira epístola de Pedro, onde a
seguinte exortação aos presbíteros: “pastoreai o rebanho de Deus que entre vós
(...)” (1
a
Pedro 5.2).
Além disso, o registro desta característica não se limita ao texto bíblico. Nos
documentos mais antigos da igreja, também jazem numerosos exemplos deste
cuidado, como nos textos de João Crisóstomo (
Carta à uma jovem viúva – século IV)
e Gregório o Grande (
Livro do cuidado pastoral – século VI). Pode-se aferir o quanto
esta prática, na verdade, permeia todas as gerações quando se lê Thomas A.
Kempis, no século XV, com
A Imitação de Cristo, ou o Pastor Aprovado de Richard
Baxter, no século XVII.
O modo como este cuidado foi exercido, entretanto, sofreu variações no
decorrer da história. Em cada época a igreja, conscientemente ou não, se apropriou
da psicologia dominante (Clebsch e Jaekle, 1983), não por ausência de uma
psicologia propriamente sua, mas pela influência externa a que ela, estando no
mundo, se tornou suscetível, em todas as áreas do conhecimento. Esta relação,
embora natural e, até certo ponto, positiva, em certos momentos se tornou
prejudicial ao tornar o cuidado pastoral dependente dessas psicologias como se não
tivesse uma psicologia propriamente sua (Hurding, 1995, p.26).
Esta crise do cuidado pastoral no que diz respeito à relação e dependência
(ou independência) da psicologia se agravou com o surgimento da psicologia como
uma disciplina específica a partir do iluminismo e forçou a igreja a uma tomada de
posição. Não pretendo analisar aqui os aspectos detalhados desta reação, o que
35
foi feito com muita propriedade por Roger F. Hurding em seu livro A Árvore da Cura
(1995). O importante, entretanto, é ponderar o trabalho de Gary R. Collins, com sua
proposta de
diálogo, reagindo fortemente contra o processo de assimilação por um
lado e de completa
rejeição da psicologia secular por outro.
A partir do final do século XIX, principalmente nos Estados Unidos, surgiu
uma tendência a colocar o aconselhamento pastoral como o principal aspecto do
cuidado pastoral. A psicologia da religião passou a ser ensinada nos seminários e os
pastores assimilavam os conhecimentos aprendidos na psicologia com uma ampla
abertura para as idéias de Freud, Adler e Jung. Esta abertura conduziu a uma
absorção demasiada das pressuposições da psicanálise, o que nas palavras de
Hurding: “consistiu num liberalismo cristão que, à deriva foi arrastado até os bancos
de areia de onde Deus é visto como bondosamente permissivo e onde a
humanidade é considerada neurótica, em vez de pecadora” (1995, p.263).
Uma reação radical contra esta secularização do cuidado pastoral ocorreu
sob a influência das idéias de O. Hobart Mowrer, um ferrenho crítico da “teoria
freudiana do impulso”. Mowrer teve, mais tarde, forte influência sobre Jay Adams,
resultando na idealização do
aconselhamento noutético. Neste modelo Adams
dicotomiza as abordagens na área do aconselhamento em cristã e não-cristã,
rejeitando toda a idéia de “doença mental” ou perturbação psicológica que não seja
resultado de pecado. Para ele, todos os problemas não-orgânicos são causados
pelo pecado (Hurding, 1995).
2.2 INTEGRACIONISMO
É justamente em meio a estes dois diferentes posicionamentos que se
encontra Gary R. Collins. Embora defensor do aconselhamento bíblico, Collins não
exclui o que ele chama de “verdade descoberta mediante a experiência e os
métodos de investigação científica”. Ele entende que a Palavra de Deus é de
imprescindível importância para o aconselhamento, mas que a psicologia pode ser,
sim, de grande ajuda para o conselheiro cristão, mesmo porque a própria Bíblia não
36
reivindica ser a única fonte de “revelação sobre a ajuda às pessoas”, e que nem
mesmo é este o seu propósito.
Mesmo assim, Collins não aceita a psicologia como uma ferramenta que deva
ser utilizada irrestritamente. Qualquer tentativa neste sentido seria inviável devido à
miríade de técnicas e teorias disponíveis, que certamente confundiriam o
conselheiro cristão. Desta forma, Collins propõe que toda técnica ou teoria
psicológica que se pretenda utilizar como apoio ao aconselhamento seja testada e
avalizada pelo padrão da Palavra escrita de Deus, cuja inspiração e autoridade
jamais devem ser questionados (Collins, 1995).
Gary Collins, como mencionado anteriormente, iniciou seus estudos
acadêmicos na área de psicologia, concluindo seu PhD em psicologia clínica pela
Purdue University, em West Lafayete, Indiana. Mas, apesar de sua formação
psicológica, dedicou-se extensivamente ao aconselhamento e preparação de líderes
e conselheiros cristãos. Collins, que esteve por um ano no Western Seminary
cursando teologia e lecionou psicologia e aconselhamento na Trinity Evangelical
Divinity School, se envolveu intensamente com a
American Association of Christian
Counselors
(AACC) e também escreveu diversos artigos e mais de 50 livros, em sua
grande maioria direcionados ao aconselhamento. Conforme registrado em seu sitio:
“Na maior parte de sua vida adulta ele esteve comprometido em orientar, ensinar e
escrever a fim de estimular um aconselhamento cristão competente, equipar e
encorajar líderes (inclusive conselheiros e líderes espirituais), e contribuir para fazer
da igreja ao redor do mundo uma instituição mais solidária”
(http://www.garyrcollins.com/aboutb.php).
Um outro aspecto da obra de Collins é justamente seu esforço em propor uma
via média para a discussão da relação entre psicologia e cristianismo, algo que
esteja entre a total assimilação de um lado e a exclusão mútua do outro. Essa
preocupação se revela num de seus primeiros livros,
Search for Reality, no qual
ele se propõe a fazer uma “introdução a moderna ciência da psicologia em sua
relação com a Bíblia e com o trabalho da igreja” (1969, p.6). Porém, antes de
ponderar mais profundamente a compreensão de Collins sobre estas questões, é
37
necessário conhecer melhor a base sobre a qual ele desenvolve sua teoria de
aconselhamento conforme foi exposta nos livros
Aconselhamento Cristão, de 1995,
uma tradução de
Christian Counseling: A Comprehensive Guide, de 1980, e a
Edição Revisada (e ampliada) desta obra, editada em 1988.
Para Collins, o aconselhamento é “uma parte importante do ministério,
necessária e biblicamente estabelecida” e consiste em:
... estimular o desenvolvimento da personalidade; ajudar os
indivíduos a enfrentarem mais eficazmente os problemas da vida, os
conflitos íntimos e as emoções prejudiciais; prover encorajamento e
orientação para aqueles que tenham perdido alguém querido ou
estejam sofrendo uma decepção, e para assistir às pessoas cujo
padrão de vida lhes cause frustração e infelicidade. (1995, p.12).
A tarefa do conselheiro cristão, entretanto, é inseparável de seu objetivo
principal que é “procurar levar o indivíduo a um relacionamento pessoal com Jesus
Cristo e ajudá-lo a encontrar perdão e alívio dos efeitos incapacitantes do pecado e
culpa” (1988b, p.16). Isto implica em ensinar, como a Bíblia ordena, tudo aquilo que
Cristo ensinou a fim de que as pessoas se entendam melhor com Deus, com o
próximo e consigo mesmas.
Collins considera que a igreja neotestamentária, além de uma comunidade de
ensino, evangelização e discipulado, foi também uma “comunidade terapêutica”.
Quando os membros de uma igreja, hoje, concentram suas atenções e atividades no
culto a Deus, na evangelização, e na fraternidade, ensino e cuidado mútuo dentro da
igreja, este aspecto terapêutico se evidencia. Na ausência de algum destes
elementos, afirma Collins, há desequilíbrio e crentes incompletos. A tarefa de manter
este equilíbrio pertence aos pastores e líderes que devem guiar o rebanho, e que
para executá-la precisam conhecer os princípios bíblicos sobre como enfrentar estes
problemas, e certamente as ferramentas que têm sido disponibilizadas pelas
38
recentes pesquisas e perspectivas psicológicas irão auxiliá-lo neste objetivo (1995,
p.14,15).
Para Collins o conselheiro cristão, como seguidor de Jesus Cristo, tem os
mesmos objetivos que ele, isto é, mostrar às pessoas como ter vida abundante e
apontar a elas a vida eterna prometida aos que crêem. Evangelismo e discipulado
são, portanto, seus objetivos mais altos. Mas, a fim de que o aconselhamento seja
útil e eficiente é preciso que o conselheiro tenha objetivos específicos. Embora seja
certo que estes objetivos variam de acordo com o problema do aconselhado, Collins
lista alguns deles que deverão ser inclusos em qualquer caso, a saber: 1) Conduzir o
aconselhado a uma compreensão de si mesmo, a fim de que obtenha um quadro
real do que está passando, tanto em seu íntimo como no mundo que o rodeia. 2)
Auxiliar o aconselhado na comunicação correta e eficaz de seus sentimentos,
pensamentos e atitudes. 3) Levar o aconselhado a um abandono dos
comportamentos negativos e conduzi-lo no aprendizado de atitudes mais eficientes.
4) Mostrar ao aconselhado a plenitude da vida em Cristo como meio de desenvolver
seu mais alto potencial, através da maturidade espiritual alcançada sob o poder do
Espírito Santo para, assim, encontrar a verdadeira realização. 5) Oferecer apoio,
encorajamento e “divisão de fardos” em períodos de crise e tensão incomuns. 6)
Ajudar o aconselhado a tratar das questões espirituais e capacitá-lo a encontrar
crenças e valores significativos (1988b, p. 38-40).
Para Collins é necessário também que os conselheiros possuam qualificações
que auxiliem na construção de um relacionamento terapêutico que permita ao
aconselhado superar suas inseguranças e medos quanto ao aconselhamento. Desta
maneira, características como cordialidade, sinceridade e empatia são essenciais
para a eficácia do auxílio pastoral. Além delas, entretanto, o ajudador deve procurar
desenvolver qualificações terapêuticas tanto quanto conhecer e utilizar com perícia
as técnicas fundamentais de aconselhamento (1995, p.21).
Collins deixa claro que o aconselhamento difere de uma discussão casual
entre amigos, pois se caracteriza por um propósito claro de ajuda. Também, as
necessidades do ajudador não devem estar em jogo neste processo particular,
39
devendo ser resolvidas, ou satisfeitas em outras ocasiões. O roteiro do
aconselhamento envolve uma conscientização das necessidades do aconselhado e
a comunicação de compreensão e desejo de ajudar.
2.3 TÉCNICAS BÁSICAS DE ACONSELHAMENTO
Embora a situação de ajuda seja um processo complexo, Collins define as
seguintes técnicas como básicas ao aconselhamento: a
atenção, o ouvir, o
responder, o ensinar e o filtrar.
Por
atenção compreende-se a disposição do conselheiro de conceder
atenção integral ao aconselhado por meio de um contato com os olhos que transmita
interesse e compreensão; uma postura relaxada que se volte em direção a ele; e um
conjunto de gestos que transmitam naturalidade. Além, é claro de uma postura de
amabilidade, bondade e motivação à compreensão.
O
ouvir eficazmente envolve uma recepção ativa da mensagem que: não
reaja de modo a interferir na livre expressão dos pensamentos do aconselhado; não
se expresse em desprezo ou juízo quanto ao conteúdo de seus relatos; aguarde
pacientemente durante períodos de silêncio ou lágrimas; ouça além do que o
aconselhado diz; capte as mensagens transmitidas pelo tom de voz, postura e pistas
não verbais; analise suas próprias reações; evite movimentar-se; não se desvie
mentalmente do que esta sendo relatado; evite juízos antecipados e sentimentos
que possam interferir na atitude de aceitação e simpatia; e compreenda a
possibilidade de aceitar o aconselhado sem, necessariamente, aprovar suas atitudes
ou comportamentos. Em resumo, este ouvir ativo é uma maneira de dizer ao
aconselhado: “Eu me interesso”.
Por
responder, Collins representa o interagir com o aconselhado, de modo
que ele perceba o interesse do conselheiro, por meio de ações e participações
verbais específicas, e compreende:
40
Liderar ou orientar habilmente o rumo dos pensamentos do
aconselhado e da conversa através de perguntas breves que tornem
a discussão produtiva.
Refletir, esporadicamente suas declarações a fim de que perceba e
seja compreendido em seus sentimentos e pensamentos.
Perguntar inteligentemente, de modo a extrair o máximo de
informações úteis.
Confrontar, quando necessário, alguma idéia do aconselhado,
fazendo-o, talvez, percebê-la de outro modo.
Informar ao orientado os fatos que necessitem de maior clareza para
que ele tome suas decisões.
Interpretar, isto é, explicar ao aconselhado o significado do
comportamento dele, bem como eventos associados.
Apoiar o aconselhado para que faça uma avaliação de seus recursos
espirituais e psicológicos, encorajá-lo a ação e ajudá-lo diante de
dificuldades e fracassos resultantes desta ação.
Ensinar envolve todo o processo de aconselhamento e, consequentemente,
todas as técnicas descritas anteriormente. Collins afirma: “O conselheiro é um
educador, ensinando através da instrução e do exemplo, e orientando o
aconselhado à medida que ele ou ela aprende a enfrentar os problemas da vida”
(1988, p. 45).
O conselheiro deve, também, saber
filtrar as informações apresentadas pelo
aconselhado que, inconscientemente, ou mesmo, deliberadamente, distorcem os
fatos, deixando detalhes embaraçantes ou comprometedores de lado. Outras vezes
o aconselhado busca ajuda para um certo problema, mas não consegue ver ou está
relutante em apresentar outro problema mais profundo.
41
Cada aconselhado é único, portanto o processo de aconselhamento não pode
ser definido como uma “receita de bolo”, pois varia de pessoa para pessoa. Cada
aconselhamento, entretanto, apresentará diversas etapas, algumas das quais
deverão ser repetidas várias vezes à medida que os problemas sejam considerados
e reconsiderados. Collins elabora um roteiro básico de aconselhamento que
compreende:
A
Conexão, que estabelece o início, construção e manutenção de um
relacionamento, através de um ouvir atento e demonstração de interesse sincero
diante dos primeiros sentimentos, preocupações e problemas timidamente
compartilhados pelo aconselhado.
A
Exploração, que acontece a partir do momento em que o aconselhado
está encorajado a compartilhar mais abertamente seus sentimentos, falar sobre seus
pensamentos e descrever suas ações. Nesta fase o conselheiro ouve ativamente,
lança algumas questões e responde com respeito, empatia e sensibilidade,
buscando obter um claro entendimento da situação problema.
O
Planejamento, que ocorre quando o aconselhado consegue visualizar o
problema de uma perspectiva diferente e a discussão se move em direção a um
traçado de metas e ações que poderiam ser tomadas a fim de solucioná-lo.
O
Progresso, quando o conselheiro motiva o aconselhado a iniciar a ação
planejada e seguir em direção às metas estabelecidas. Neste caso, serão
necessários o suporte, encorajamento e direcionamento e, algumas vezes, uma
reavaliação dos procedimentos diante de uma eventual experiência de fracasso.
O
Encerramento do aconselhamento, quando conselheiro e aconselhado
resumem o que foi aprendido e consolidado, antecipam algumas situações que o
aconselhado poderá enfrentar de modo mais efetivo no futuro e evitam a
impossibilidade de haver novos aconselhamentos, se necessários.
Segundo Collins, saltar os três primeiros estágios, como o fazem alguns
conselheiros, torna o aconselhamento, com frequência, ineficiente. Ele compara esta
atitude com a de um médico que realiza uma cirurgia sem tomar tempo para realizar
42
um diagnóstico. Na verdade, os estágios de um aconselhamento raramente são
identificados de forma definida. Seu progresso oscila entre todos eles à medida que
o problema se torna claro e as soluções são encontradas e testadas.
Collins considera as psicoterapias como “teorias humanas de
aconselhamento” e as toma juntamente com as abordagens biblicamente
fundamentadas. Ele entende que todas as teorias são criadas por seres humanos
falhos e que precisam ser revisadas conforme o conhecimento e compreensão
aumentam. Embora não se descreva como eclético, o autor aponta para uma
aceitação de um ecletismo responsável, “que não se constitua de uma coleção de
idéias casuais e intelectualmente preguiçosas”, mas que se delineie a partir de
várias fontes, numa abordagem séria que seja capaz de conduzir a um modo próprio
de aconselhamento. Entende também que o próprio Jesus utilizou diversas
abordagens de acordo com a necessidade do momento (1988, p. 48).
Esta idéia de síntese, como afirmado antes, remonta a um de seus primeiros
livros (
Search for Reality, 1969), no qual o autor aborda diversos aspectos da vida
humana, considerando-os sob as duas visões, bíblica e psicológica, traçando as
concordâncias e discordâncias entre elas e indicando meios para resolvê-las. Neste
livro, ele esboça certa preocupação de que a psicologia viesse a se tornar um
ídolo e a base do trabalho da igreja, e adverte que ela deveria ser apenas uma
ferramenta para tal trabalho.
2.4 RECONSTRUÇÃO DA PSICOLOGIA
Mais tarde, em 1977, em outro livro (
The Rebuilding of Psychology), Collins,
sem perder sua postura integracionista, assume uma visão mais crítica em relação à
psicologia, recomendando uma profunda revisão de seus fundamentos e principais
pressuposições (empirismo, determinismo, relativismo, reducionismo e naturalismo),
cujo caráter ele alega ter uma séria tendência desumanizadora. O autor parte da
idéia não convencional, que seria mais lógico erguer o edifício da psicologia sobre
pressuposições que estivessem de acordo com a Bíblia e os ensinos derivados dela.
43
Collins afirma que muitos psicólogos e estudantes de psicologia que têm
interesse em religião, alguns inclusive propondo que ela seja reconsiderada em uma
dimensão vertical, isto é, em relação a Deus. Mas, internamente na psicologia,
uma forte disposição em considerar fatos e argumentos que contradizem as crenças
geralmente aceitas sobre o homem e sua conduta. Ele defende, então, que a
psicologia seria mais produtiva se fosse erguida sobre a premissa maior de que
Deus existe e é fonte de toda verdade. Este seria o ponto de partida para a coleta de
dados, construção de sistemas, desenvolvimento de terapias, entre outros.
O autor defende que tanto a atual pressuposição da psicologia, de que Deus
não existe, quanto a sua proposta, que Deus existe, são teológicas. Inclusive, esta
última, que considera Deus como a fonte de toda a verdade, não é arbitrária e
decretada como sendo verdade sem fundamentação, em outras palavras, ela não
surge “do nada”, e boas evidências para sua aceitação. Mais do que isso, ela é
um ponto de partida muito melhor para a psicologia do que a hipótese contrária.
Sua proposta assume que, uma vez que a verdade, que provém de Deus,
chega ao homem por meio de dois caminhos, teologicamente denominados de
revelação geral e revelação especial, uma maior fonte de dados para se
trabalhar.
A revelação geral, também chamada de revelação natural, se refere às
verdades que podem ser compreendidas através da natureza, ciência e história pela
observação, investigação empírica, dedução, intuição e outras técnicas à parte da
Bíblia. Porém, esta compreensão é incompleta, pois se o propósito de toda a ciência
é estudar o que Deus revelou por meio da natureza, não pode ser desprezado o que
ele manifestou de modo especial na Bíblia.
O homem constrói seu conhecimento a partir da observação e interpretação
de fatos, entretanto, os fatos não podem ser observados e interpretados sem
pressuposições que guiem este trabalho. Collins propõe, portanto, que a revelação
divina capacita o cientista a um entendimento, esperança e abertura de espírito, que
ele jamais teria de outra forma.
44
Deste modo, afirma Collins, se a humanidade aceita o fato de que Deus existe
e é a fonte de toda verdade, deve aceitar também que ele não contradiz a si mesmo.
A verdade, portanto, que vem por meio da revelação natural não pode contradizer
aquela que vem pela revelação especial. Isto implica que o conteúdo da Bíblia e os
conteúdos válidos da ciência devem estar em perfeita harmonia. Se isto não for
verdade, alguns de nossos fatos e nossas interpretações estão errados (1977).
45
3 A ANÁLISE EXISTENCIAL E O ACONSELHAMENTO
Aqueles que de algum modo, e em alguma medida estão envolvido com o
aconselhamento cristão, não seriam sinceros em dizer que prescindem totalmente
da psicologia para o seu trabalho. De fato, não seria sincero, nem correto, pois tanto
a psicologia quanto a Bíblia falam a respeito do homem. Se por um lado esta mostra
o que Deus revelou sobre o homem, aquela trata do que o homem tem descoberto a
respeito de si mesmo e de seu comportamento (Collins, 1969). A Bíblia, que não é
um texto científico, embora trate de relacionamentos e comportamentos humanos,
inclusive relatando e oferecendo orientação para situações de ajuda, não reivindica
ser a única fonte de revelação de Deus sobre isso, deixando aberta a possibilidade
da utilização daquele conhecimento que Deus tem possibilitado ao homem
desenvolver. Some-se a isso o fato de que a humanidade está imersa num ambiente
que muito assimilou idéias, terminologias e conceitos oriundos da psicologia, e
que este processo se torna cada vez mais intenso na medida que o desenvolvimento
tecnológico oferece dia a dia novos meios de disseminação do conhecimento.
Nestas condições é impossível que alguém desenvolva que qualquer atividade, em
particular no cuidado de pessoas, e seja imune a esta atmosfera psicológica que nos
envolve.
Num outro extremo, assumir plenamente a utilização de conceitos específicos
e associar à prática do aconselhamento a uma determinada linha de pensamento ou
metodologia psicológica, também não é correto. Neste sentido oferecer algo similar
ao consultório de psicologia àqueles que procuram o escritório pastoral para apoio
espiritual seria incoerente com os princípios bíblicos, injusto com os acadêmicos de
psicologia e desonesto.
A via média seria em que, tratando o aconselhamento bíblico como
aconselhamento bíblico e o atendimento espiritual como atendimento espiritual, não
apenas se reconheça a influência das idéias e conceitos psicológicos nos quais
estamos imersos, mas que também sejam conhecidas as técnicas e metodologias
que, em alguma medida, possam tornar o atendimento do conselheiro mais eficaz,
46
sem ferir os princípios bíblicos nem substituir os objetivos primários do
aconselhamento. A dificuldade para tanto está na forte disposição da psicologia, de
um modo geral, em considerar fatos e argumentos que confrontem ou contradigam
os princípios bíblicos sobre o homem e seu comportamento (Collins, 1977).
Neste sentido, é surpreendente encontrar o proponente de uma importante
escola de psicoterapia, Viktor Frankl, caminhando num sentido quase que oposto à
grande maioria dos seus pares. É verdade que Frankl não é pastor e nem propõe
tornar a Bíblia como manual de técnicas psicoterapêuticas, entretanto os seus
pressupostos e sua compreensão do ser humano encontram muitos pontos de
contato com os ensinos nela registrados. Não é sem razão que Elisabeth Lucas se
refere a logoterapia como sendo a “psicologia das alturas”, porque ela ultrapassa a
dimensão psíquica alcançando uma dimensão espiritual (1992a, p.32).
O primeiro aspecto relevante encontra-se nos fundamentos da Análise
Existencial (desenvolvida como sendo uma linha de pesquisa antropológica), quando
esta concebe o ser humano, existindo não apenas nas dimensões psíquica e física,
mas também, e essencialmente, na espiritual, apontando que esta espiritualidade é
o que define o homem como pessoa única e é o diferencial em relação aos outros
animais. Frankl contrapondo-se àquelas psicoterapias que sustentadas na
compreensão bidimensional do homem (psicofísico), o reduzem a um amontoado de
instintos, cuja existência se define pela busca de prazer ou poder, coloca o homem,
além do mecanismo biológico, compreendendo que sua verdadeira necessidade é
de um sentido, que somente pode ser compreendido a partir do homem espiritual
(noético).
Mais impressionante é observar que a compreensão desta pessoa espiritual,
por Frankl, não se limita a aceitação de uma transcendência ou de uma dimensão
metafísica, pelo contrário, além de admiti-la como essencial, é ali, diz ele, onde se
encontram os valores e o sentido último do homem. Ao mesmo tempo, essa pessoa
espiritual não é compreendida à parte, como sendo independente do organismo
psicofísico, mas compondo o homem uno e total (psico-fisico-noético), onde o corpo
(
soma e psique) é visto, como a imagem reflexa do espírito.
47
Frankl também afirma que esta imagem não pode ser tomada como uma
imagem fiel, pois ela está distorcida e deformada pelo homem “caído”, e seria
perfeita no homem “transfigurado” (1995, p.84). Não é possível compreender
exatamente o que Frankl quer dizer com esta definição, mas qualquer que seja a sua
intenção propô-la, o que transparece é que seus conceitos estão muito próximos de
uma antropologia bíblica, e eles, até mesmo parecem refletir algumas afirmações
bíblicas como: “Pois, qual dos homens sabe as cousas do homem, senão o seu
próprio espírito, que nele está?” (1
a
Coríntios 2.11), e também “Porque, agora,
vemos em espelho, obscuramente; então veremos face a face. Agora conheço em
parte; então, conhecerei como sou conhecido” (1
a
Coríntios 13.12).
Ainda com relação existência do homem, quando Frankl defende que o
organismo psicofísico limita e condiciona o espírito, seu entendimento não aponta
para uma metafísica de concepção platônica, que o corpo como o cárcere do
espírito, o qual só se tornaria livre e pleno com a morte. Ao contrário disso, como ele
mesmo afirma, “um organismo psicofísico funcional é a condição para que se
desenvolva a espiritualidade humana” (1995, p. 85). Mais uma vez, predomina aqui a
compreensão do homem como um todo, numa relação de conflito e dependência,
onde o espírito, ainda que limitado pelo psicofísico, o instrumentaliza para organizá-
lo e torna-lo útil.
É importante destacar aqui que Frankl entende a alma (psique) como parte do
organismo psicofísico, o qual ele diferencia da pessoa espiritual (noética). Não se
pode, porém, atribuir às suas idéias quaisquer semelhanças com a compreensão
dicotômica (corpo e alma ou espírito) e tricotômica (corpo, alma e espírito), da
constituição do ser humano, esposadas por alguns teólogos, pois a unicidade da
pessoa humana é enfaticamente afirmada por este autor. Por outro lado, esta
relação dependência-conflito remete a descrição paulina da luta entre o seu interior
e sua carne: “Porque, no tocante ao homem interior tenho prazer na lei de Deus;
mas vejo nos meus membros, outra lei que guerreando contra a lei da minha mente,
me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros” (Romanos 7.22-
23).
48
Outro aspecto importante do pensamento de Frankl é a compreensão de que
a verdadeira aspiração do homem não é de prazer e sim de valor, que a existência
humana se realiza na medida em que cumpre obrigações e exigências e realiza
sentido e valores. Sem dúvida esta perspectiva se choca frontalmente contra
qualquer perspectiva hedonista oriunda de outras escolas psicoterapêuticas e até
mesmo grande parte dos filósofos existenciais. O próprio Frankl sinaliza que, de fato
em alguma medida se distancia do existencialismo. Essa idéia de valores e
obrigações a cumprir não é de modo nenhum estranho ao Cristianismo que defende
a existência de valores absolutos, ao contrário da cosmovisão relativista
contemporânea.
Embora Frankl não se refira explicitamente a valores pré-estabelecidos e sim
de valores inerentes ao espírito humano, que podem ser compreendidos como
totalmente subjetivos, ele parece apontar para absolutos que estão acima de
qualquer influência ambiente ou hereditariedade e chega mesmo a referir-se a
valores que teriam sido incrustados no próprio inconsciente espiritual do homem pela
mão do próprio Deus. Para ele, o homem não apenas aspira valores e sentido, ele é
responsável por eles, uma responsabilidade que se estabelece, como vimos, em
relação a algo e “perante” algo ou alguém.
Essa responsabilidade, diferentemente do ponto de vista psicanalítico, não é
exercida na dimensão do psicofísico como uma necessidade do ego de conter o id
reprimindo-o através do superego. Ela se estabelece na transcendentalidade do
homem perante a consciência, e faz parte da pessoa espiritual. No dizer do próprio
Frankl: “Detrás do superego do homem está o tu de Deus, a consciência seria a
palavra tu da transcendência” (1995, p.113).
A responsabilidade se estabelece também na Análise Existencial como aquilo
que sustentação à liberdade, pois o homem não é um ser simplesmente livre,
mas que decide livremente. O decidir por sua vez, implica que algo prévio como o
porque, ou o contra que se decide.
Liberdade, responsabilidade, valores absolutos preestabelecidos e
necessidade de decisão são concepções que soam muito próximas das proposições
49
bíblicas que certamente fazem parte do repertório utilizado pelo conselheiro cristão
tanto para o diagnóstico quanto para as exigências para confrontação do
aconselhado. Não resta aqui qualquer dificuldade em aplicar o método de análise de
Frankl e até mesmo aprender um pouco mais sobre como estes fatores, ou a
ausência deles, se relaciona com as dificuldades enfrentadas por aqueles que
procuram sua ajuda.
A Análise Existencial cumpre, também, as exigências básicas delineadas por
Gary Collins quanto à construção de uma nova psicoterapia, pois embora Frankl,
provavelmente, não possua as mesmas concepções a respeito de Deus que aquele
conselheiro cristão, não nega sua existência (de Deus), nem propõe idéias que
confrontem o que está registrado no livro que é aceito como sua revelação direta, a
Bíblia.
Também, quando considerado o caminho proposto por Collins para o
aconselhamento, isto é: liderar, refletir, perguntar, confrontar, informar, interpretar,
apoiar, ensinar; percebe-se que a compreensão apresentada pela Análise
Existencial abre caminho para a própria apresentação não somente de uma “cura
para a alma”, mas da própria “salvação da alma”, objeto último da religião. Sua
ênfase na busca de sentido e a compreensão clara de Frankl, de que o sentido
último se encontra no
personalíssimo que se estabelece como o “tu” (Deus)
perante o qual, em última instância se é responsável; possibilita a apresentação da
“vida abundante” descrita nos textos bíblicos, que, acima de tudo é plena quando
é abundante de sentido.
Não nenhuma dificuldade, afinal, para os cristãos, quanto mais seus
conselheiros em utilizar-se das idéias de alguém que aponta para a condição
hodierna em que o homem se envergonha da espiritualidade e que propõe um
retorno a essa compreensão do espiritual como antídoto para o vazio existencial,
experimentado de forma coletiva pelo homem contemporâneo.
Não deve haver dificuldade alguma em aceitar como parte do trabalho de
aconselhamento a compreensão de um homem que entende que sempre um
sentido para a existência, quando o ser humano compreende que não existe em
50
função de si mesmo, mas em função do outro, pelo qual ele deve se entregar, se
abandonar, se sacrificar.
Não pode existir resistência em utilizar-se do entendimento de alguém que
consegue perceber que, quando todo sofrimento, todas as lutas, todos os problemas
não parecem fazer qualquer sentido, ainda assim um sentido que transcende
toda a experiência humana e perante o qual até mesmo a mais absurda tragédia
humana se torna compreensível.
Diante de cada uma destas proposições o cristão é lançado instintivamente
para o texto bíblico e vê ressoar ali essas convicções, porque o próprio Frankl
admite: “por trás desta necessidade psicoterapêutica se encontra a velha e eterna
necessidade metafísica, ou seja, a necessidade do homem de prestar contas a si
mesmo sobre o sentido da existência” (1995, p. 129).
51
CONCLUSÃO
Diante de todos os temores expressados por Gary R. Collins com relação aos
pressupostos das escolas psicoterapêuticas quanto a negação da existência de
Deus e ênfase em idéias que contradizem sua palavra revelada, a Bíblia; a obra de
Viktor Emil Frankl, a Análise Existencial e a Logoterapia mostram-se como uma
resposta até mesmo para a proposta registrada no livro The Rebuilding of
Psychology (Collins, 1977).
À medida que se descortinam as proposições e idéias de Frankl, apesar de
todos o desenvolvimento científico e filosófico com que ele sustenta a cada uma
delas, o cristão é, sem dúvida, imediatamente confrontado com diversos princípios
bíblicos, ainda que não tenha sido este o propósito último do autor.
Frankl com sua proposta de reversão da “coisificação” impetrada ao homem
pela filosofia e psicologia modernas, fornece fortes argumentos para o trabalho do
conselheiro frente ao homem secularizado. Sua “redescoberta” da dimensão
espiritual do homem e da sua necessidade de sentido e de valores frente ao vazio
existencial reinante é ferramenta preciosa para confrontação de uma vida cristã
vazia, desconectada dos valores espirituais e, por isso mesmo desajustada. Sua
ênfase na responsabilidade humana frente a sua liberdade de decisão lança
desafios a todos aqueles que querem viver de acordo com os valores bíblicos.
Não duvida que o estudo a Análise Existencial e das técnicas da
Logoterapia, longe de oferecer perigo, será uma ferramenta extremamente útil ao
trabalho dos conselheiros e líderes cristãos, podendo inclusive servir como antídoto
contra os conceitos da psicologia moderna, claramente antibíblicos internalizados
por todos os que vivem estes tempos de pós-modernidade.
Fica evidente, entretanto, que a obra de Frankl, conquanto esteja
estabelecida desde meados do século XX, é muito pouco conhecida no meio
protestante, até mesmo pelos conselheiros e líderes cristãos que parecem conhecê-
lo somente através daquelas idéias e pensamentos que se tornaram “lugar
52
comum”, carecendo de uma compreensão mais profunda que certamente conduziria
a uma maior apreciação do seu trabalho. O próprio Collins, cuja disposição de
utilização dos recursos psicológicos no aconselhamento é declarada abertamente,
não apresenta uma referência mais profunda ao trabalho de Frankl.
Quaisquer que sejam os motivos de Collins ou de outros teorizadores do
Aconselhamento Bíblico para não conhecerem, ou apenas não se referirem a Frankl
mais intensamente, é certo que este trabalho é apenas um pequeno passo no muito
que ainda para se conhecer de todo este patrimônio deixado pelo homem, que
mais do que teorizar a respeito do comportamento humano pôde vivenciá-lo e
observá-lo de perto sob as condições mais extremas que qualquer homem deveria
experimentar.
Se nos perguntarem sobre a experiência fundamental que passamos
nos campos de concentração nessa existência no abismo –, então
poderemos ressaltar, como quintessencialidade de tudo o que foi
vivido por nós: aprendemos a conhecer o homem como talvez
nenhuma geração até agora. O que é, pois, o homem? É o ser que
sempre decide o que é. É o ser que inventou a câmara de gás, mas
ao mesmo tempo também é o ser que foi às câmaras de gás de
cabeça alterosamente erguida e o Pai-nosso ou o Sh’ma Yisrael nos
lábios. (Frankl, 1995, p. 213).
53
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