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mas sempre arrendou alguns alqueires para o plantio de produtos agrícolas, como feijão,
milho e mamona.
Os trabalhadores que marcaram sua presença na cidade em meadas das décadas de
1980 e 1990, como Sr Exupero, Sr João Dias, Marlene e Nelson, fixaram-se na cidade há
alguns anos e estes vivem juntos com a família. Por outro lado, o processo de deslocamento
de trabalhadores de diferentes estados e regiões do Brasil continua significativo na cidade.
O trabalhador Euberli Ferreira Lopes, 31 anos, está na cidade pela primeira vez, veio
recentemente no começo de 2008, juntamente com outros trabalhadores. Narrou sua trajetória
de vida até chegar à cidade de General Salgado para trabalhar no corte-de-cana. A partir
dessas experiências vividas por Euberli, ao longo de sua jornada, é possível delinear os
sentidos e significados do migrar
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para o trabalhador.
Eber: você morou em São Paulo até quando?
Eu morei lá tem o que, uns dez anos, daí eu fui pra Bahia. Eu morava com meu pai e
minha mãe, aí nós fomos pra Bahia que meu pai e minha mãe eram da Bahia né. Eber:
vocês foram pra onde lá? Nós fomos pra uma cidade chamada Iuiu na Bahia, aí eu ia
em São Paulo, nas casa dos parentes assim, mas pra morá mesmo eu nunca mais não fui
lá mas não, só nasci lá, me criei na Bahia na cidade de Iuiu.
Eber: e vocês trabalhavam em que lá? Na Bahia nós trabalhava mais na roça né, na
roça, lá tem lavoura de algodão, pro lado de Barreira, aí nós fomos capiná algodão lá,
mas é tempo curto negócio de um mês, dois mês. Meu pai mais era soldador em São
Paulo, mas na Bahia ele também mexia com negócio de fazer portão, essas portas de
enrolar, nós ajudava ele. [...] Mas ele faleceu, aí nós paramos de mexer com isso. Tem o
que, tem um ano, um ano e meio mais ou menos que ele morreu. Aí apareceu a
oportunidade de eu ir pro Mato Grosso né, a primeira vez foi em 2005, que eu fui cortar
cana, fui cortar cana no Mato Grosso em 2005. Foi na época que ele adoeceu que ele
tinha problema de diabete, precisou cortar a perna dele e nesse dia pra cá ele nunca
mais foi a mesma pessoa. Aí trouxe aqui pra São Paulo, minha irmã, meu pai ficou uns
trinta e poucos dias, e ele morreu aí em São Paulo, aí levou o corpo dele pra Bahia.
Eber: você sempre morou na Bahia e em 2005 resolveu vir pro Mato Grosso?
Vim pro corte-de-cana no Mato Grosso, numa cidade chamada de Navirai, o nome da
cidade, uma cidadinha assim, acho que mais pequena que aqui Salgado, foi a primeira
vez. Pegamos o seguro, eu peguei o seguro, aí quando foi em 2006 eu vim pra Palmares
Paulista, só que trabalhei só três meses, aí fui lá pra Uberlândia, num lugar chamado
Passiguara, trabalhar na sementeira lá. Trabalhei uns quarenta e cinco dias lá na
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Alguns intelectuais se preocupam em analisar o ato de migrar exclusivamente conforme o mercado de
trabalho, na complexidade da relação entre estrutura produtiva e ocupação demográfica. Suas interpretações,
baseadas em dados estatísticos, destacam as estruturas econômicas e as políticas governamentais para a
compreensão da dinâmica demográfica brasileira. Algumas abordagens sobre a temática “migração” reduzem a
experiência social dos trabalhadores. Ver: ANTICO, Cláudia. Por que migrar? In: PATARRA, Neide;
BAENINGER, Rosana et al. (Org.). Migração, condições de vida e dinâmica urbana. São Paulo 1980/1993.
Campinas-SP: Unicamp/IE, 1997. p. 97-113; MONTALI, Lilia. Família, trabalho e migração. In: _______.
Migração, condições de vida e dinâmica urbana. São Paulo 1980/1993. Campinas-SP: Unicamp/IE, 1997. p. 261-
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