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Importante conclusão a que chegamos neste ponto da pesquisa. Isso porque, para
ambos os grupos ouvidos e de forma muito contundente, a medida socioeducativa
significou um mecanismo de risco marcado pela violação de direitos.
Na época que eu tava (sic) lá, a UNIS tava (sic) superlotado(sic), não tinha
atividade nenhuma pra gente. Dormia todo mundo no chão. Tinha que
acordar muito cedo para ninguém pisar na gente quando fosse no banheiro.
(...) Como eu era considerado lá um líder eu sofria mais sim, apanhava
mais, mas todo mundo sofria também.. Chegaram a estourar bomba de
estourar nossa pele. O que mais me marcou lá é uma coisa que ninguém
sabe...(silêncio) Eu matei um menino lá. Depois eu fui transferido para o
sistema penitenciário porque eu tava desordenando. Promovia rebeliões,
rebeliões que duravam até 2 dias. Cheguei a passar por 3 rebeliões. E a
reação do BME(Batalhão de Missões Especiais da Polícia Militar do Espírito
Santo) é sempre violenta, corte de luz, corte de água, jato de água em
cima, cachorro arranhando a gente, porque a focinheira tá(sic) lá, mas as
patas ficam livres. Gás em cima, spray de pimenta. Era bem sofrido
mesmo. (CARLOS – reincidente)
Aqui dentro, agora ta até mais tranqüilo porque eu já me acostumei, mas já
apanhei muito, teve uma vez que eu olhei para a mãe de um cara aí e ele
viu e depois eles me chamaram para uma reunião e a lei aqui é esta. Tive
que abaixar e todos me bateram. Já vi umas 4 mortes aí dentro.
(CASTRO – reincidente)
O negócio aqui dentro (referindo-se à UNIS) é feio, é a lei da sobrevivência,
aqui você mata para não morrer, se for preciso você tem que matar para
não morrer. Aqui dentro é difícil você encontrar alguém que tenha dó de
você, to(sic) falando de pureza, aqui a maioria ta(sic) muito tempo, pessoal
vai ficando revoltado, a ansiedade de querer sair vai dando uma raiva por
dentro que quando eles pegam alguém para bater eles batem até matar. Eu
mesmo, já tentaram me matar umas duas vezes aí dentro aí eles me
pegaram dormindo de madrugada me deram umas “chuxadas” de
vergalhão, me bateram muito, me racharam a cabeça, tive que levar seis
pontos. (THIAGO – reincidente)
Comi o pão que o diabo amassou lá (referindo-se à UNIS). Polícia entrava
lá batia na gente, colocava todo mundo pelado no pátio. Apanhava da
polícia e de outros presos também. Lá tem muita violência. A gente não
tinha nada para fazer, nada, só ficava dentro da cela conversando, fazendo
plano para sair de lá, para continuar roubando. (CHICO – não reincidente)
Eu falo que o tempo que fiquei lá eu comecei a apanhar no dia que me
prenderam, eles (refere-se aos policiais militares que o prenderam) me
bateram no meio da rua mesmo. Eu já tava preso e assim mesmo eles me
bateram. Eles arrastaram minha cara no chão, me colocaram de joelho me
algemaram e começaram a me chutar. Lá dentro eu perdi minha infância.
Apanhava quase toda dia. Até hoje eu tenho uma cicatriz aqui deles.
Qualquer coisa lá eles (refere-se aos policiais) entram atirando e jogando
gás de pimenta. Mandam a gente para fora da cela. Coloca a gente no
pátio, dá pancada na gente. Sempre tem violência, né?(MILTON – não
reincidente
)