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Campus de Presidente Prudente
JANIO SANTOS
A CIDADE POLI(MULTI)NUCLEADA:
A REESTRUTURAÇÃO DO ESPAÇO URBANO EM SALVADOR
Presidente Prudente/SP
2008
Faculdade de Ciências e Tecnologia
Programa de Pós
-
Graduação em Geografia
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JANIO SANTOS
A CIDADE POLI(MULTI)NUCLEADA:
A REESTRUTURAÇÃO DO ESPAÇO URBANO EM SALVADOR
Tese apresentada ao Programa de Pós
Graduação em Geografia da Universidade
Estadual Paulista, Campus de Presidente
Prudente, para obtenção do título de Doutor
em Geografia.
Orientação: Prof
a
. Dr
a
. Maria Encarnação B.
Sposito.
Presidente Prudente/SP
2008
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Santos, Janio.
S235c A cidade poli(multi)nucleada: a reestruturação do espaço urbano
em Salvador / Janio Santos - Presidente Prudente: [s.n], 2008
xiii, 402f.
Tese (Doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de
Ciências e Tecnologia.
Orientador: Maria Encarnação Beltrão Sposito
Banca: Angelo S. Perret Serpa, Gloria da Anunciação Alves,
Arthur Magon Whitacker, Everaldo Santos Melazzo.
Inclui bibliografia
1. Reestruturação urbana. 2. Reestruturação da cidade. 3.
Centralidade. I. Autor. II. Título. III. Presidente Prudente - Faculdade
de Ciências e Tecnologia.
CDD(18.ed.) 910
Ficha catalográfica elaborada pela Seção Técnica de Aquisição e Tratamento da Informação
– Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação - UNESP, Câmpus de Presidente Prudente.
À minha mãe, Joana.
Uma mulher de ferro, que abriu mão
dos seus sonhos pela realização dos
nossos sonhos.
AGRADECIMENTOS
Reitero os agradecimentos à minha mãe, ao meu pai (in memorian), ao
irmão, minhas irmãs, minha cunhada e meus sobrinhos, pelo que eles
representam em minha vida, sendo minhas referências. Igualmente, a Eduardo
Brandão, um amigo especial que surgiu em minha vida, nos últimos anos; alguém
que vivenciou de perto todas as maravilhas e loucuras que fazem parte do
processo de elaboração de uma tese de doutorado.
Aos meus parentes e amigos mais próximos, pelo incentivo a este
projeto de vida. Como são muitos, opto por o citar nomes para não cometer
injustiças. Saibam que cada um, ao seu modo, contribuiu para que esta pesquisa
fosse concluída. Destaco os amigos e amigas da UESB, pessoas que conheci há
tão pouco tempo, mas que ocupam um lugar especial em minha vida. Dentre
esses, tenho que ressaltar os meus alunos, jovens geógrafos, com os quais, no
processo de ensino, aprendi bastante; e os professores Renato Leda, Miriam
Cléa, Meirelane, Espedito, Nádia Sampaio, Marco Metidiero, Suzane Tosta e
nio Diniz pela amizade e as variadas contribuições.
Aos amigos e amigas de Presidente Prudente, por me ajudarem nas
coisas da vida cotidiana, e, principalmente, por tornarem os momentos nesta
cidade muito mais prazerosos. Gostaria de destacar a “galera” da residência na
Melen Isaac (Sérgio, Nizete, Fernando, Camila e Neto); o pessoal da s-
Graduação, cujos nomes não precisam ser citados; a Andrea Rocha, que fez
parte dessa trajetória; Beth, Cláudia e Fabiana, que me receberam quanto
ingressei no curso; Wagner, Cibele, Karina, Rodrigo e Renatinha; e,
especialmente, a Alessandra (Mãe) e Flavinha, pelo enorme carinho com que me
acolheram na UNESP de Presidente Prudente.
Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Geografia da
UNESP de Presidente Prudente, pela contribuição à minha formão. Como
destaque, ao Prof. Dr. Arthur Whitacker e ao Prof. Dr. William Ribeiro, pelos
importantes diálogos no Exame de Qualificação; e aos membros da banca, pelas
críticas e contribuições, fundamentais para aprimorar minhas reflexões sobre o
tema; ressalto o Prof. Dr. Angelo Serpa, que teve papel inigualável em minha
formação.
Ao pessoal dos órgãos públicos, administradores dos shoppings, lojas,
cinemas, supermercados; ao pessoal que, gentilmente, permitiu as imagens de
Salvador; e, principalmente, aos trabalhadores das áreas centrais que,
prestativamente, concederam informões preciosas para minha pesquisa. Com
destaque, Luiz Antônio Oliveira, da Secretaria Municipal da Fazenda de Salvador;
os funcionários do Acervo Baiano e da Seção de Periódicos, na Biblioteca Pública
dos Barris; e os funcionários das Bibliotecas da Fundação Mario Leal Ferreira e
da Fundação Gregório de Matos.
À FAPESB, pelo auxílio financeiro a este projeto, não apenas de
doutorado, mas de vida; e por ter tornado este sonho algo possível. Sem tais
recursos, seria muito difícil continuar desenvolvendo a pesquisa, face aos altos
custos dos deslocamentos constantes entre Vitória da Conquista, Salvador e
Presidente Prudente.
À UESB que, mesmo com minhas críticas ao modo como os atuais
gestores lidaram com o problema do Estágio Probario, que me excluíram do
Programa Institucional de Bolsa, criou condições para que a pesquisa se tornasse
exeqüível, sendo destaque os amigos do Departamento de Geografia.
À UNESP de Presidente Prudente, junto com as pessoas que a fazem
existir. Enquanto uma universidade pública, ainda preserva a idiossincrática
capacidade de realizar sonhos, principalmente, para pessoas como eu, que
vieram das camadas populares, almejando conquistar um novo horizonte pessoal
e profissional.
Finalmente, meus profundos agradecimentos à minha orientadora,
Profa. Dra. Maria Encarnação B. Sposito, uma fonte de conhecimento na
Geografia Urbana brasileira. Você sabe ter a medida certa da doçura, por
compreender as dificuldades que nos afligem nestes momentos; da crítica, para
questionar nossos devaneios e delírios; da distância, para permitir que
transponhamos tais dificuldades, aprendendo com nossos pprios tropeços; e do
envolvimento, para mergulhar nas fissuras que compõem a construção de uma
tese. Além de aprender bastante no processo de doutoramento, você me fez
compreender que rigor e ternura não se opõem na construção do conhecimento
científico.
A cidade está no homem quase como a árvore voa,
No pássaro que a deixa.
Ferreira Gullar
RESUMO
A partir da metade do século XX, ocorreram transformações políticas e
econômicas que influenciaram a urbanização de Salvador/BA. Essas mudanças
provocaram alterações em sua estrutura urbana, sendo mais importantes: a
redefinição nas relações tempo-espo, a implantação de novos equipamentos e
a constituição de uma nova lógica na centralidade urbana, marcando o início do
processo de reestruturação urbana e da cidade. As bases foram engendradas
pelo Estado, junto com outros agentes, dentre os quais destacam-se os
produtores imobiliários, aliado ao capital financeiro e o capital comercial. As
conseqüências revelam a constituição de uma nova feição à estrutura urbana,
entendida como expressão de uma cidade poli(multi)nucleada. As atuais áreas
centrais de Salvador apresentam-se diferenciadas, tanto no que diz respeito à
quantidade de centros, quanto aos interesses dos grupos que estão a esses
articulados. Os antigos centros e sub-centros passam por um processo de
mudança em suas características fundamentais e os novos correspondem à
materialidade de uma lógica urbana hodierna que impera na cidade, tornando-se
o lócus da reprodução do capital. Em função do alto algo grau de desigualdade
social e da intensa valorizão do solo urbano, o acesso aos espaços produzidos
para o consumo traduz conflitos e interesses, acarretando nos processos de
fragmentação e segregação socioespaciais. A pesquisa aponta para a tese de
que o período atual é marcado por um aumento na complexidade do processo de
urbanização.
Palavras-chave: reestruturação urbana, reestruturação da cidade, Salvador,
centralidade urbana
ABSTRACT
After 1950 some economic and political transformations occurred, influencing in
the urbanization process of the city of Salvador/BA. These changes provoked
some important changes in the urban structure, such as the redefinition of the
time-space relationship and the introduction of new equipments, marking the start
of urban and city restructuration. The process was produced by the State, among
with other agents, and its consequences demonstrate the formation of a new
characteristics of the urban structure, understood as the multi(poly)centralité. The
current centers are differentiated by the amount and by the interests of the social
groups. The old centers and sub-centers had gone through a process of change in
its characteristics. The new centers are related to the materiality of the current
urban logic and its influences in the city. Due to the social inequality and the high
value of the urban ground, the access to market spaces translates conflicts and
group interests.
Keywords: urban restructuration, restructuration of the city, Salvador, urban
centralidad.
O CAMINHO DAS PEDRAS
Pedras no caminho?
Guardo todas. Um dia vou construir um castelo
Fernando Pessoa
A cidade sempre me encantou. Eu sempre admirei mergulhar nos
interstícios que constituem o cenário urbano, ver a vida fluir em meio a um
amálgama de concreto. Quando olho os fragmentos que constituem os prédios,
as casas e as vias, gosto de transpassar a paisagem, buscando entender o labor
e a essência que materializaram formas tão distintas e sedutoras, cruéis e
indecifráveis; atraentes pela monumentalidade ou pelo que têm de mais sutil.
Como eu nasci numa área muito pobre de Salvador e convivi com os
dramas que envolvem o habitar em áreas miseráveis, o modo com essa cidade se
descortinava, enredando a trama urbana, sempre foi um fascínio. Eu costumava e
costumo caminhar pelas suas ruas e ladeiras tortuosas, observando a riqueza de
uma arquitetura que, mesmo degradada, preserva uma longa história. Ainda
assim, a materialização da vida nas áreas pobres e as desenvolturas dos
moradores para existir em tais locais, amiúde, eram os elementos que mais me
atraiam. Indubitavelmente, ter crescido nos arredores dos Alagados; andado,
quando criança, naquelas cambaleantes palafitas; e ter constituído fortes laços
com suas ruas, praias e becos, consolidaram o meu afeto por essa cidade, que é
extremamente injusta e desigual.
Na UFBA, os períodos da Graduação e do Mestrado em Geografia
possibilitaram aguçar melhor esse olhar sobre a cidade, momentos em que
adquiri a paixão por essa ciência, particularmente, pela Geografia Urbana. O
“ponto de mutação” durante essa trajetória foi a participação no Projeto Espaço
Livre de Pesquisa-Ação
5
, que proporcionou tanto o contato com debates sobre a
produção do espaço em algumas áreas pobres da periferia de Salvador, quanto o
amadurecimento do meu entendimento sobre o que é ser um geógrafo.
5
Projeto coordenado pelo Prof. Dr. Angelo Serpa, que objetiva compreender as formas de
organização social no Subúrbio Ferroviário de Salvador e a produção do espaço resultante dessa,
buscando contribuir para as melhorias nas condições de vida da população local.
A defesa da dissertação de Mestrado foi, contudo, um paradoxo. Por
um lado, uma importante conquista em minha vida profissional; por outro, o “corte
no cordão umbilical” com a UFBA, marcando um período de crise. Mas, novas
oportunidades surgiram, como a passagem pela UEFS, a entrada na UESB e,
principalmente, o ingresso na Pós-Graduação da UNESP de Presidente Prudente.
Essa última ocorreu em função de um acontecimento fortuito – reencontrar a
Professora “Carminha” no Simpósio de Geografia Urbana, ocorrido em Recife/PE,
em 2003. Foram suficientes dez minutos de diálogo para que eu desistisse do
doutorado em Barcelona, comprometido em função do ingresso na UESB, e
trancasse minha matrícula na UFS, onde eu tinha iniciado outro curso de
doutorado.
As dificuldades encontradas nos dois primeiros anos do curso, em
função dos limites impostos pela legislação do Estado da Bahia para os
professores rem-ingressos e das inúmeras viagens a Presidente Prudente,
foram suplantadas pelo convívio com novas discussões. Paradoxalmente, após
um ano e meio, eu passei por um período de crise com o meu objeto de estudo,
porque estava caminhando com duas propostas de tese e desenvolvendo dois
distintos levantamentos de dados, ambos também associados ao Grupo de
Pesquisa Urbanizão e Produção das Cidades na Bahia
6
. Enquanto a primeira,
objetivo da tese inicial, levantava informações sobre as cidades médias do Oeste
Baiano, a segunda dedicava-se aos mesmos trabalhos, só que voltados para a
metrópole baiana.
Todavia, uma oão metodológica, que envolveu a premência de
pensar o processo de reestruturação da cidade de Salvador e que teve pouca
preocupação na geografia baiana, equacionou essa crise. Dentre vários aspectos,
eu entendi que essa cidade foi uma importante difusora dos constituintes da
urbanização no âmbito do Estado e merecia um aprofundamento sobre tais
questões. Por outro lado, não há duvidas de que a paixão pessoal também
influenciou a tomada de decisão, que não foi algo cil. Foram necessários seis
meses para que eu tomasse coragem, superasse a crise e conversasse com
minha orientadora.
6
Grupo de pesquisa institucionalizado na UESB desde 2004, cadastrado no CNPq a partir 2006, e
está sob a minha coordenação.
A partir disso, o desenvolvimento da tese tomou um novo rumo,
ganhando maior tranqüilidade, prazer e segurança. Tornou-se um alicerce teórico
e metodológico importante o para minha formão pessoal e profissional,
mas, igualmente, para o amadurecimento das idéias desenvolvidas na busca por
entender melhor o atual processo de urbanizão e suas conseqüências na
produção de cidades baianas, algo que vou retomar, pensando no caso das
pequenas e médias.
Desse modo, a submissão da tese à banca examinadora não
corresponde apenas a um momento importante de diálogo sobre o que, neste
momento, eu penso a respeito do processo de estruturação e reestruturação da
cidade de Salvador. Inquestionavelmente, as discussões, por um lado, tornarão
mais claros os caminhos que devemos percorrer, no âmbito do Grupo de
Pesquisa; por outro, minimizarão os devaneios e equívocos que, porventura, eu
tenha cometido na elaboração das idéias.
Ao atingir este estágio, percebo que a conclusão desta Tese de
Doutorado mistura um conjunto complexo de histórias, paixões, medos, dúvidas,
ansiedades, inseguranças e tropeços que carreguei, carrego e, ainda bem, vou
carregar por toda minha existência. Certamente, o melhor de tudo é notar que
nessa trajetória árdua, além dos lugares encantadores pelos quais passei e que
preencheram minha vida com novas experiências territoriais, conheci pessoas
não menos fascinantes que, hoje, são parte da minha própria história.
SUMÁRIO
LISTAS DE ILUSTRAÇÕES ......................................................................
LISTAS DE ABREVIATURAS....................................................................
INTRODUÇÃO ...........................................................................................
26
A questão do método ....................................................................... 31
CAPÍTULO I: REFLEXÕES SOBRE A REESTRUTURAÇÃO URBANA
E A REESTRUTURAÇÃO DA CIDADE ....................................................
35
1.1 - A (re)estruturação da cidade de Salvador ............................... 44
1.2 - Reestruturação produtiva e a realidade soteropolitana ........... 59
1.3 - Reestruturação urbana e reestruturação da cidade ................
87
CAPÍTULO II: TODOS OS CAMINHOS LEVAVAM AO CENTRO DE
SALVADOR ...............................................................................................
106
2.1 - A estruturação da cidade de Salvador .....................................
109
2.2 - Mudanças profundas na dinâmica econômica de Salvador .... 115
2.3 - O centro de Salvador como uma contradição concreta .......... 129
CAPÍTULO III: SHOPPING CENTERS: NOVOS ESPAÇOS DE
CONSUMO NA METRÓPOLE SOTEROPOLITANA ................................
158
3.1 - Os shopping centers no contexto da urbanização....................
172
3.2 - Os grandes shopping centers chegam a Salvador................... 179
3.3 - Surgimento e expansão dos “shopping centers de bairro” ......
207
CAPÍTULO IV: O ESPAÇO POLI(MULTI)NUCLEADO E AS ÁREAS
CENTRAIS DE SALVADOR ......................................................................
222
4.1 - Cidade em movimento x movimentos na cidade .....................
227
4.2 - Descentralização, (re)centralização e expansão do tecido
terciário .....................................................................................
238
4.3 - A centralidade urbana e os novos usos do solo ......................
259
4.4 - O capital comercial e os mega-estabelecimentos ................... 304
CAPÍTULO V: POLICENTRALIDADE: DESIGUALDADES E TRAMA
DE INTERESSES NA DINÂMICA SOTEROPOLITANA ...........................
313
5.1 - A centralidade urbana e os novos jogos de interesses ........... 321
5.2 - Mercado imobiliário, áreas centrais e reprodução do capital .. 337
5.3 - Um centro principal? Para que e para quem? .........................
347
PERSPECTIVAS ABERTAS: A CIDADE POLI(MULTI)NUCLEADA:
EXPRESSÃO DE MAIOR COMPLEXIDADE NA URBANIZAÇÃO...........
357
Algumas ressalvas .......................................................................... 359
Contradições na/da reestruturação urbana e da cidade ................. 363
Complexidade na urbanização, centralidade e a cidade desigual .. 378
REFERÊNCIAS...........................................................................................
379
APÊNDICES ...............................................................................................
Apêndice I - Notas metodológicas ............................................................
Apêndice II - Informões sobre shopping centers no Brasil ....................
Apêndice III - Dados sobre o VUP ..............................................................
ANEXO .......................................................................................................
Anexo I - Dados sobre a arrecadação de ISS ............................................
LISTAS DE ILUSTRAÇÕES
LISTA DE TABELAS
Tabela 01:
Região Metropolitana de Salvador - Produto Interno Bruto, por
municípios, 1949/2003...............................................................
69
Tabela 02:
Região Metropolitana de Salvador - Participação no Produto
Interno Bruto estadual, por municípios (%), 1949/2003............
69
Tabela 03:
Região Metropolitana de Salvador - Participação no Produto
Interno Bruto industrial do Estado, por municípios (%),
1949/2003..................................................................................
70
Tabela 04:
Região Metropolitana de Salvador - Participação no Produto
Interno Bruto comercial e de serviços do Estado, por
municípios (%), 1949/2003 .......................................................
72
Tabela 05:
Região Metropolitana de Salvador - Volume de Aplicações
Bancárias, valores absolutos e participação no Estado, por
municípios, 1991/2000 ..............................................................
74
Tabela 06:
Bahia - Participação no Volume de Aplicações Bancárias do
Estado, por grupos de municípios, 1991/2000..........................
74
Tabela 07:
Região Metropolitana de Salvador - Participação no Capital
Residencial Urbano do Estado, por municípios (%),
1970/2000 .................................................................................
75
Tabela 08:
Região Metropolitana de Salvador - Participação na Receita
Tributária Municipal (IPTU) do Estado, por municípios (%)
1993/2004..................................................................................
77
Tabela 09:
Região Metropolitana de Salvador - Participação na Receita
Tributária Municipal (Total de impostos) do Estado, por
municípios (%) 1993/2004 ........................................................
78
Tabela 10:
Região Metropolitana de Salvador - Participação na Receita
Orçamentária Municipal do Estado, por municípios (%)
1993/2004 .................................................................................
79
Tabela 11:
Salvador - Pessoal ocupado total e em percentuais, por ramo
dos setores produtivos, 1996/2004 ...........................................
82
Tabela 12:
Salvador, Bahia e Brasil - População absoluta, 1920/2000 ......
119
Tabela 13:
Salvador - Estabelecimentos comerciais e de serviços,
valores totais e percentuais, por áreas da cidade, 1976 ..........
141
Tabela 14:
Salvador - Estabelecimentos comerciais e de serviços,
valores totais e percentuais, por áreas de concentração, 1976
142
Tabela 15:
Salvador - Distribuição dos empregos terciários, valores totais
e percentuais, por áreas de concentração, 1976 .....................
146
Tabela 16:
Brasil - Número de shopping centers, valores absolutos e
relativos, por regiões, 2007 ......................................................
175
Tabela 17:
Brasil - População absoluta e PIB, valores absolutos e
relativos, por regiões, 2007 e 2005 ..........................................
176
Tabela 18:
Brasil - Rendimento médio domiciliar, valores absolutos e
relativos, por regiões e por classes de rendimentos, 2006 ......
176
Tabela 19:
Salvador - Informações sobre transporte coletivo, volume
total, por via, linha/hora e ônibus/hora, 1976, 1989 e 2005 ......
234
Tabela 20:
Salvador - Informações sobre transporte coletivo, volume
total, por terminal, linha/hora, fluxo e ano, 1976 e 2005 ...........
236
Tabela 21:
Salvador - Atividades terciárias nos principais centros e sub-
centros, por área central, tipo de atividade, valor total e
percentual, 2007 .......................................................................
244
Tabela 22:
Salvador - Grau de Especialização das Atividades Terciárias
(GEat), por áreas centrais, valor total e tipo de atividade, 2007
260
Tabela 23:
Salvador - Número de estabelecimentos terciários, por eixos
especializados territorialmente, tipos de atividade terciária e
valores absolutos e percentuais, 2007 .....................................
299
Tabela 24:
Salvador - Evolução no percentual de bens de consumo nos
domicílios, por bens e por ano, 1991/2000 ...............................
316
Tabela 25:
Salvador - Evolução do Valor Unitário Padrão, segundo as
vias principais das áreas centrais, por ano, valores absolutos
e percentuais, 1986, 1997 e 2007 ............................................
323
Tabela 26:
Salvador - Arrecadação de Imposto Sobre Serviços, valores
absolutos e percentuais, por regiões administrativas, 2007 .....
332
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Composição do mix do shopping center ...................................
171
Quadro 2: Bahia - Shopping centers, por cidades e ano de inauguração,
1975/2008 .................................................................................
182
Quadro 3: Salvador - Informações sobre os shopping centers, por ano
de inauguração, ABL, número de total de lojas, lojas-âncoras
e público por dia, 2007 .............................................................
206
Quadro 4: Salvador - Informações sobre os shopping centers de bairro,
por ano de inauguração, número de total de lojas e área
número, 1968/2007 ...................................................................
210
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Brasil - População urbana e rural (%), 1940/2000 ................. 36
Gráfico 2: Bahia - Produto Interno Bruto Comercial e de Serviços, por
grupos de municípios, 1949/2003 ..........................................
73
Gráfico 3: Salvador - Pessoal ocupado total, 1970/2004 ...................... 80
Gráfico 4: Salvador - Crescimento do PIB total de serviços, 1970/2004
81
Gráfico 5: Salvador - Total de unidades de serviços de intermediação
financeira, 1996/2004 .............................................................
84
Gráfico 6: Salvador - Pessoal ocupado em serviços de intermediação
financeira, 1996/2004 .............................................................
84
Gráfico 7: Salvador - Evolução no ritmo de crescimento demográfico
(%), Século XIX até 1920 .......................................................
113
Gráfico 8: Salvador, Bahia e Brasil - Evolução no ritmo de crescimento
demográfico (%), 1920/2000 ..................................................
119
Gráfico 9: Salvador - Estabelecimentos de comércio de exportação
(%), 1950 e 1980 ....................................................................
147
Gráfico 10: Salvador - Estabelecimentos de serviços especializados
(%), 1950 e 1980 ....................................................................
147
Gráfico 11: Salvador - Estabelecimentos de serviços financeiros (%),
1950 e 1980 ...........................................................................
148
Gráfico 12: Salvador - Estabelecimentos de comércio varejista (%),
1950 e 1980 ...........................................................................
149
Gráfico 13: Salvador - Lojas de Materiais de construção (%), 1950 e
1980 .......................................................................................
149
Gráfico 14: Brasil - Evolução no número de inaugurações de shopping
centers, 1966/2007 ................................................................
177
Gráfico 15: Brasil - Evolução no número de inaugurações de shopping,
segundo as capitais e demais cidades, 1966/2007 ...............
178
Gráfico 16: Salvador - Evolução na inauguração dos “shopping centers
de bairro”, 1968/2007 .............................................................
213
Gráfico 17: Brasil - Evolução na Taxa de Desocupação, por regiões
metropolitanas, 1993 a 2007 ..................................................
316
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Salvador - Localização da cidade, 2007 ................................... 46
Figura 2: Salvador - Áreas centrais, 2007 ............................................... 48
Figura 3: Centro Tradicional, Calçada e Liberdade - Representação
espacial, 2007 ...........................................................................
50
Figura 4: Vale do Camaragibe - Representação espacial, 2007 ............. 51
Figura 5: Barra, Itaigara e Manuel Dias da Silva - Representação
espacial, 2007 ...........................................................................
53
Figura 6: Itapuã, Paripe e São Cristoão - Representação espacial, 2007
54
Figura 7: Brotas, Periperi, São Caetano e Largo do Tanque -
Representação espacial, 2007 .................................................
55
Figura 8: Salvador - Representação espacial dos eixos especializados,
2007 ..........................................................................................
57
Figura 9: Salvador - Panorâmica da Cidade Alta e da Cidade Baixa,
1860 ..........................................................................................
111
Figura 10: Salvador - Expansão da mancha urbana, 1600 a 2005 ........... 125
Figura 11: Salvador - Grandes shopping centers, 2007............................. 185
Figura 12: Vale do Camaragibe - Localização do Shopping Center
Iguatemi, 2007 ..........................................................................
189
Figura 13: Sub-centro do Itaigara - Localização do Shopping Center
Itaigara, 2007 ............................................................................
189
Figura 14: Centro Tradicional - Localização do Shopping Baixa dos
Sapateiros, 2007 ...................................................................
191
Figura 15: Centro Tradicional - Localização do Shopping Piedade, 2007 .
191
Figura 16: Sub-centro da Barra - Localização do Shopping Barra, 2007... 194
Figura 17: Centro Tradicional - Localização do Center Lapa, 2007 .......... 194
Figura 18: Boca do Rio - Localização do Aeroclube Plaza & Office, 2007 198
Figura 19: Vale do Camaragibe - Localizão do Salvador Shopping,
2007 ..........................................................................................
198
Figura 20: Trobogy, Patamares e Alphaville Localização do Shopping
Paralela, 2007............................................................................
200
Figura 21: Vale do Camaragibe - Localização do Shopping Bela Vista..... 202
Figura 22: Imbuí - Concentração de shopping centers de bairro, 2007 .....
218
Figura 23: Salvador - Shopping centers de bairro, 2007 ........................... 220
Figura 24: Salvador - Principais corredores viários, 2005 ......................... 229
Figura 25: Salvador - Fluxo, na hora de pico, nos principais corredores
viários, 2005..............................................................................
232
Figura 26: Salvador - Volume do setor terciário nas áreas centrais, 2007 242
Figura 27: Centro Tradicional, Calçada e Liberdade - Continuidade e
descontinuidade do tecido terciário, 2007.................................
250
Figura 28: Vale do Camaragibe - Continuidade e descontinuidade do
tecido terciário, 2007 ................................................................
253
Figura 29: Barra, Itaigara e Manoel Dias da Silva - Continuidade e
descontinuidade do tecido terciário, 2007 ................................
254
Figura 30: Brotas, Periperi, São Caetano e Largo do Tanque -
Continuidade e descontinuidade do tecido terciário, 2007 .......
256
Figura 31: Itapuã, Paripe e São Cristovão - Continuidade e
descontinuidade do tecido terciário, 2007 ................................
257
Figura 32: Centro - Uso tercrio do solo, 2007 ........................................ 262
Figura 33: Salvador - Espacialização dos cinemas, 1975 e 2007 ............. 269
Figura 34: Vale do Camaragibe - Uso terciário do solo, 2007 .................. 272
Figura 35: Calçada - Uso terciário do solo, 2007 ...................................... 278
Figura 36: Liberdade - Uso terciário do solo, 2007 ................................... 280
Figura 37: São Caetano, Largo do Tanque e Periperi - Uso terciário do
solo, 2007 .................................................................................
282
Figura 38: São Cristovão e Paripe - Uso terciário do solo, 2007 .............. 286
Figura 39: Itapuã - Uso terciário do solo, 2007 ......................................... 289
Figura 40: Brotas - Uso terciário do solo, 2007 ......................................... 291
Figura 41: Itaigara - Uso terciário do solo, 2007 ....................................... 293
Figura 42: Manoel Dias da Silva - Uso terciário do solo, 2007 ................. 296
Figura 43: Barra - Uso terciário do solo, 2007 .......................................... 298
Figura 44: Av. Vasco da Gama, Av. San Martin e Av. Barros Reis - Uso
terciário especializado, 2007 ....................................................
300
Figura 45: Av. Mário Leal Ferreira e Av. Barros Reis (Sete Portas) - Uso
terciário especializado, 2007 ....................................................
301
Figura 46: Salvador - Espacialização das redes atacadistas e varejistas,
2007 .........................................................................
306
Figura 47: Salvador - Percentual dos domicílios com renda de até dois
salários mínimos, 2000 ............................................................
318
Figura 48: Itapuã, Paripe e São Cristoão - Valor Unitário Padrão das
vias, 1986, 1997 e 2007 ...........................................................
326
Figura 49: Brotas, Periperi, São Caetano e Largo do Tanque - Valor
Unitário Padrão das vias, 1986, 1997 e 2007 ...........................
327
Figura 50: Centro Tradicional, Calçada e Liberdade - Valor Unitário
Padrão das vias, 1986, 1997 e 2007 ........................................
328
Figura 51: Vale do Camaragibe - Valor Unitário Padrão das vias, 1986,
1997 e 2007.............................................................................
329
Figura 52: Barra, Itaigara e Manuel Dias da Silva - Valor Unitário Padrão
das vias, 1986, 1997 e 2007 .....................................................
330
Figura 53: Vale do Camaragibe - Empreendimentos imobiliários, 2007 ....
340
Figura 54: Av. Paralela - Empreendimentos imobiliários, 2007 ................. 342
Figura 55: Centro Tradicional - Empreendimentos imobiliários, 2007 ....... 344
Figura 56: Salvador - Fluxo de consumidores para os centros, 2007 ....... 349
Figura 57: Salvador - Fluxo de consumidores para os sub-centros, 2007 350
Figura 58: Figura esquemática - Reestruturação urbana e reestruturação
da cidade .................................................................................
375
LISTA DE FOTOS
Foto 1: Shopping Ateliê Place, Bairro Pituba, 2007 .............................. 208
Foto 2: Shopping Aquidabã, Centro Tradicional, 2007 ......................... 208
Foto 3: Bahia Outlet Center, Bairro Uruguai, 2007 ............................... 208
Foto 4: Shopping Liberdade, Bairro Liberdade, 2007............................ 208
Foto 5: Shopping Colonial, Centro Tradicional, 2007............................ 208
Foto 6: Barra Center, Bairro da Barra, 2007.......................................... 208
Foto 7: Plaza Shopping Cabula, Bairro Cabula, 2007........................... 208
Foto 8: Boulevard 405, Bairro Pituba, 2007........................................... 208
Foto 9: Florestal Shopping, Bairro Brotas, 2007.................................... 208
Foto 10: Shopping Vasco da Gama, Bairro Eng Velho de Brotas, 2007 208
Foto 11: Shopping Yemanjá, Bairro Rio Vermelho, 2007........................ 208
Foto 12: Pituba Center, Bairro Pituba, 2007 ........................................... 208
Foto 13: Casa Shopping Cidade, Bairro Itaigara, 2007 .......................... 208
Foto 14: Shopping Ribeira, Bairro Ribeira, 2007 .................................... 208
Foto 15: Av. Tancredo Neves, altos fluxos na cidade, 2007 ...................
228
Foto 16: Av. Luiz Viana Filho, altos fluxos na cidade, 2007 ................... 230
Foto 17: Avenidas Tancredo Neves e Antônio Carlos Magalhães, altos
fluxos em horários de pico, 2007 ..............................................
231
Foto 18: Estação da Lapa, o maior terminal de transporte coletivo de
Salvador está no Centro Tradicional, 2007 ..............................
236
Foto 19: Centro Tradicional, concentração de atividades financeiras e
de crédito em Salvador, 2007....................................................
261
Foto 20: Centro Histórico, constituição de um shopping center a céu
aberto em Salvador, que mantém a fragmentação
socioespacial, 2007 ..................................................................
264
Foto 21: Centro Histórico, constituição de um shopping center a céu
aberto em Salvador, que mantém a fragmentação
socioespacial, 2007 ..................................................................
264
Foto 22: Av. Sete de Setembro, área que apresenta maior dinâmica no
Centro Tradicional, 2007.. ........................................................
265
Foto 23: Vale do Camaragibe, Av. Tancredo Neves, concentração de
grandes empreendimentos terciários, 2007..............................
271
Foto 24: Vale do Camaragibe, Av. Tancredo Neves, concentração de
grandes empreendimentos terciários, 2007..............................
271
Foto 25: Vale do Camaragibe, Av. Antônio Carlos Magalhães, outros
equipamentos urbanos, 2007....................................................
274
Foto 26: Vale do Camaragibe, Av. Antônio Carlos Magalhães, outros
equipamentos urbanos, 2007....................................................
274
Foto 27: Vale do Camaragibe, Av. Tancredo Neves, nem tudo é
“hipermodernidade”, 2007.........................................................
275
Foto 28: Calçada, presença de empresas cujo capital não é de origem
local, 2007.................................................................................
276
Foto 29: Calçada, fortalecimento do comércio atacadista, com a
presença de grandes empresas, 2007......................................
277
Foto 30: Sub-centro da Liberdade, trecho que possui a maior dinâmica
na Estrada da Liberdade, 2007.................................................
281
Foto 31: Sub-centro do Largo do Tanque, serviços pouco
especializados e poucas redes e cadeias lojistas, 2007...........
281
Foto 32: Sub-cento de São Caetano, baixa especialização das
atividades terciárias, 2007 ........................................................
283
Foto 33: No sub-centro de Periperi, o pequeno shopping homônimo e
algumas clínicas especializadas garantem a dinâmica local,
2007...........................................................................................
284
Foto 34: Sub-centro de Paripe, prevalecem os pequenos
estabelecimentos que atendem a comunidade local, 2007 ......
285
Foto 35: Sub-centro de São Cristovão, empresas maiores e
concessionárias elevam o GEat da área central, 2007 ............
285
Foto 36: Sub-centro de Itapuã, área diversificada das atividades
terciárias, 2007..........................................................................
288
Foto 37: Sub-centro de Itapuã, atividade terciária associada ao
turismo, 2007.............................................................................
288
Foto 38: Sub-centro de Brotas, serviços sustentam a dinâmica local,
2007...........................................................................................
290
Foto 39: Itaigara, maior conjunto de atividades especializadas,
decorrendo num alto controle do uso terciário do solo, 2007 ...
294
Foto 40: Sub-Centro da Manuel Dias da Silva, racionalidade e
fragmentação social no uso terciário do solo, 2007..................
294
Foto 41: Sub-Centro da Manuel Dias da Silva, racionalidade e
fragmentação social no uso terciário do solo, 2007..................
295
Foto 42: No sub-centro da Barra, o Shopping atraiu o comércio local,
2007...........................................................................................
297
Foto 43: Av Mário Leal Ferreira (Bonocô), um eixo especializado no
comércio e prestação de serviços associados ao uso do
automóvel, 2007.......................................................................
302
Foto 44: Av San Martin, um eixo especializado no comércio de
produtos associados ao ramo da construção, 2007..................
303
Foto 45: Av. Mario Leal Ferreira, hipermercado recém-inaugurado pelo
Bom Preço, em Salvador, 2007 ................................................
309
Foto 46: No Sub-centro do Itaigara, trecho “A” da Av. Antônio Carlos
Magalhães, uma das vias que apresentou maior valorização,
em Salvador, nas últimas décadas, 2007.................................
324
Foto 47: Alameda Salvador, via recém-criada e que possui o maior
VUP na cidade, 2007.................................................................
331
LISTA DE ABREVIATURAS
Associação dos Dirigentes de Vendas Marketing da Bahia .......
ADVB
Área Bruta Locável .....................................................................
ABL
Associação Brasileira de Shopping Center ................................
ABRASCE
Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado
Imobiliário ...................................................................................
ADEMI
Av. Antonio Carlos Magalhães ................................................... ACM
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social ........ BNDES
Banco Nacional de Habitação .................................................... BNH
Centro Administrativo da Bahia ..................................................
CAB
Centro Industrial de Aratu .......................................................... CIA
Comissão de Planejamento de Urbanismo da Cidade de
Salvador .....................................................................................
CEPUCS
Complexo Petroquímico de Camaçari ........................................
COPEC
Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia .. CONDER
Departamento de Trânsito da Bahia .......................................... DETRAN/BA
Equipe de Planejamento Urbano da Cidade de Salvador ..........
EPUCS
Faculdade de Ciência e Tecnologia ........................................... FTC
Financiadora de Estudos e Projetos .......................................... FINEP
Grau de Especialização das Atividades Terciárias..................... GEat
Imposto Predial e Territorial Urbano .......................................... IPTU
Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços .............. ICMS
Imposto Sobre Serviços ............................................................. ISS
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ............................ IBGE
Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas ........................... IPEA
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional .................
IPHAN
Instituto Nacional de Seguro Social ........................................... INSS
Lei de Ordenamento do Uso e Ocupação do Solo .....................
LOUOS
Organização das Nações Unidas ...............................................
ONU
Órgão Central de Planejamento .................................................
OCEPLAN
Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios .......................... PNAD
Plano de Desenvolvimento da Bahia ......................................... PLANDEB
Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano ................................ PLANDURB
Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano ................................ PDDU
População Economicamente Ativa ................................ ............
PEA
Produto Interno Bruto ................................................................. PIB
Programa de Desenvolvimento Industrial e de Integração
Econômica do Estado da Bahia .................................................
DESENVOLVE
Programa de Incentivo à Produção Têxtil e de Confecções ...... PROFIBRA
Programa de Promoção do Desenvolvimento da Bahia ............ PROBAHIA
Programa Estadual de Desenvolvimento da Indústria de
Plásticos .....................................................................................
BAHIAPLAST
Programa Estadual de Desenvolvimento da Mineração, da
Metalurgia e da Transformação do Cobre ..................................
PROCOBRE
Rede Ferroviária Nacional ......................................................... REFESA
Região Administrativa ................................................................ RA
Região Metropolitana de Salvador ............................................. RMS
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SEBRAE
Serviço de Atendimento ao Cidadão ..........................................
SAC
Shopping Baixa dos Sapateiros .................................................
SBS
Sistema Financeiro Habitacional ................................................
SFH
Superintendência de Controle, Ordenamento e Uso do Solo de
Salvador .....................................................................................
SUCOM
Superintendência de Urbanização da Capital ............................ SURCAP
Telecomunicações da Bahia ...................................................... TELEBAHIA
United Nations Population Fund …………………………………. UNFPA
Universidade Estadual da Bahia ................................................ UNEB
Valor Unitário Padrão ................................................................. VUP
INTRODUÇÃO
Fazemos a ciência com fatos,
Como fazemos uma casa com pedras:
Mas a acumulação de fatos não é ciência,
Assim como um monte de pedras não é uma casa.
Poinca
A construção do pensamento geográfico consolidou-se através de uma
busca incessante em compreender as vicissitudes que marcaram e ainda marcam
as múltiplas relações entre a Sociedade e a Natureza. Portanto, entende-se que
analisar os processos de estruturação e reestruturação urbana e das cidades
aparece no bojo dessa dialética. A epistemologia da Geografia estabeleceu o
espaço como o objeto de estudo e da constrão do seu conhecimento, mesmo
ressaltando que, ainda hoje, isso não seja um consenso para todos os
pensadores. Superou, entretanto, vínculos com a tradicional concepção moderna
da relevância em delimitar um objeto analítico exclusivo para sua legitimão,
ficando subentendido que a categoria espaço, da mesma forma que o tempo,
come uma dimensão sem a qual o pensamento humano apareceria disjuntivo e
abstrato ao debruçar-se sobre a realidade, sendo o mesmo passível de reflexões
por outras ciências.
As transformações acarretadas no espaço pelo processo de produção
do homem, enquanto ser social, compõem a essência da pesquisa geográfica.
Tais transformações, dialeticamente, modificaram a própria Sociedade ao longo
do processo. O advento do capitalismo marcou, contudo, uma abrupta
intensificação nas alterações registradas no espaço e no cotidiano dos homens ao
articular sua estrutura produtiva à reprodução social. A partir de então foi criado
um conjunto de elementos (princípios da acumulação; produção, realização e
aproprião da mais-valia; legitimão do Estado-nação como ideologia global
etc.) voltado para afirmão e regulamentação desse novo modo de produção,
incutindo no seio da sociedade os alicerces de sua lógica. As cidades passaram a
ser o centro do processo de produção, assumindo o papel como lócus das
tomadas de decisões, por sua vez, reproduzindo o modelo de sociedade.
Ao longo dos séculos XIX e XX, as relações capitalistas acarretaram
modificações no modo como as cidades eram estruturadas, definindo um novo
conteúdo a essas, simultaneamente ao fato de serem por elas redefinidas. Tal
movimento influenciou o processo de urbanização, conseqüentemente, a
materialização das cidades em todo planeta. Todavia, o facultou a produção de
formas diferenciadas de espaços urbanos, contraditoriamente, cooptando e
solapando as estruturas herdadas e adaptando-as de acordo com suas
exigências.
No caso do Brasil, no final século XIX, essas mudanças significaram
expressivas alterações na estrutura urbana, principalmente nas maiores cidades.
Destacam-se, entre essas, a introdução de novos equipamentos, sobretudo
associados ao sistema de comunicação e circulação; novos componentes na
organização administrativa e na oferta de serviços; e uma inicial alteração da
cidade coesa, muito comum no período colonial.
Todavia, a partir de meados do século XX, um conjunto de novas
mudanças no processo de urbanização, nesse contexto histórico, articulado ao
processo de industrialização, acarretou alterações no uso do solo das cidades
brasileiras, atingindo primeiramente as metrópoles e, posteriormente, espraiando-
se pelas cidades médias. Além da explosão demográfica, ocorreu a expansão do
tecido urbano, provocando modificações no conteúdo e no modo como estava
organizada a estrutura urbana.
As transformões provocadas nas cidades por essa nova fase do
processo de urbanização brasileiro também foram majoradas por alterações na
estrutura produtiva da sociedade, definidas como modelo de acumulação flexível
(HARVEY, 2004) ou especialização flexível (SOJA, 1993). Essas sobrelevaram o
papel do capital financeiro no processo de reprodução do capitalismo, redefinindo
as relações de trabalho e de produção e atendendo às atuais necessidades de
alocação do capital nas escalas local, nacional e global. Simultaneamente às
mudanças no território, ocorreram modificações nas redes de relações em cada
lugar, consolidando um modo contemporâneo de pensar e produzir o espaço.
É perceptível que a metrópole regional soteropolitana
7
, como parte
dessa conjuntura histórica, também passou por tais alterações no conteúdo de
sua urbanização, significando que a mesma passou por um conjunto de
mudanças em sua estrutura urbana e, concomitantemente, transformações na
organização da vida social. Dentre essas, tornou-se visível uma nova lógica nas
expressões da centralidade urbana, como produto de uma nova realidade social,
política, econômica e cultural. Esse processo foi resultado das políticas
engendradas em Salvador, entre as décadas de 1950 e 1970, um período de
inflexão que modificou profundamente o papel do Centro Tradicional e dos antigos
sub-centros, alterando seus conteúdos e o conteúdo das relações entre esses e a
metrópole. Por outro lado, favoreceu o surgimento de novas centralidades,
redefinindo a própria estrutura urbana. O poder público, nas esferas municipal e
estadual, teve papel preponderante, aliado aos demais agentes de produção do
espaço urbano.
Atualmente, percebe-se um aprofundamento dessa lógica, ainda
fortemente alicerçada pela ação do poder público, todavia, com maior
investimento do capital imobiliário que, na maioria das vezes, cria coalizões com
os capitais comerciais, financeiro e de serviços, acentuando o conflito de classes
na cidade. Seus estilhaços ecoam, sobretudo, na reprodução do espaço urbano,
redefinindo a divisão social, cnica e territorial do trabalho, bem como o uso do
solo.
Analisar a articulação entre o poder público e os detentores da
propriedade e do capital, enquanto agentes de produção e reprodução do espaço
urbano, em Salvador, especificamente, as implicações impostas à lógica da
centralidade urbana, torna-se importante, na medida em que desvela as
conseqüências da urbanização contemporânea na materialização do espaço.
Outrossim, demonstra o papel que as metrópoles regionais passaram a
desempenhar na reprodução do capital.
7
Palavra que deriva do grego sotero, Salvador, e polis, cidade.
Foi com base nesses argumentos que desenvolvemos esta pesquisa,
cujo cerne é compreender quais são as implicações do processo de
reestruturação urbana e da cidade na redefinição da lógica da centralidade,
pensando, nesse contexto, nos conflitos que surgem em função da constituição
de novas áreas comerciais e de serviços em Salvador.
Parte-se do pressuposto de que as transformações engendradas na
metrópole soteropolitana, principalmente, a partir da cada de 1980, foram
decorrentes de um aumento na complexidade do processo de urbanização, que,
por sua vez, criou condições para que a alocão do capital imobiliário e terciário
coadunasse com a redefinição da centralidade urbana, influenciando nas relações
tempo-espaço intra e interurbana.
Contudo, a resposta para essa questão enseja outras que,
concomitantemente, suscitem o debate mais amplo sobre a especificidade do
fenômeno. Nesse sentido, cabe também investigar quais são as mudanças e as
permanências no conteúdo e no papel desempenhado pelos novos e antigos
centros e sub-centros urbanos face ao processo de reestruturação.
Como produto da divisão social, técnica e territorial do trabalho na
cidade, a centralidade urbana exprime os conflitos na apropriação e no uso do
solo. No tocante a Salvador, percebe-se que ocorreram mudanças profundas no
padrão de constituição da centralidade, impactando no poder que o Centro
Tradicional e os antigos sub-centros exerciam.
Outra questão basilar para o entendimento desta pesquisa é
compreender as características das novas áreas centrais, bem como qual a gica
que engendram no processo de reestruturação da cidade, redefinindo a produção
dos espaços de consumo e o consumo do/no espaço urbano, para atender aos
ditames da reprodução do capital.
Entende-se que esse fenômeno es integrado a uma nova fase da
urbanização mundial, na qual destaca-se a emergência do regime de acumulação
flexível, com repercussões na produção e organização do espaço urbano. Por
outro lado, que o Estado tem participação premente sob vários aspectos, já que é
um agente seminal para a criação de um meio técnico-científico e informacional
que garanta a reprodução do capitalismo, a partir da apropriação da riqueza
gerada e dos privilégios concedidos aos detentores dos meios de produção.
A questão do método
A análise do espaço intra-urbano tem uma história no pensamento
geográfico, sendo sua maior contribuição oriunda dos postulados da Teoria
Crítica. Como esse conjunto de pressupostos colaborou significativamente para a
Geografia Urbana, mormente, no desvelar das contradições engendradas no
sistema capitalista, torna-se imprescindível, para nossas pretensões, analisar a
reestruturação urbana e da cidade articulada aos princípios teóricos e
metodológicos do Materialismo Histórico e Dialético.
Reitera-se esse fato com base nas idéias de Carlos (2004) quando
aponta que, do ponto de vista teórico, vivemos uma crise paradigmática no
pensamento crítico radical, que seria suficiente para evidenciar uma crise da
Geografia brasileira. A essência dessa crise assenta-se no fato de que tal
pensamento estaria em refluxo no âmbito acadêmico, em função do esvaziamento
das discussões sobre as contradições da sociedade, em prol de novas fórmulas
de leituras dos fenômenos e processos. Entretanto, a autora aponta que não
devemos perder de vista, nos dias atuais, o papel que tais pressupostos exercem
no desvendar do processo de reprodução do espaço.
A construção do pensamento radical crítico no âmbito da geografia
supõe a necessidade de questionar a existência da propriedade da
terra [...] como elemento definidor de contradições fundantes da
sociedade atual. Ora a geografia avançou para provar que o espaço
no capitalismo se torna mercadoria, mais que isso que o momento
sinaliza na direção de que a reprodução se realiza através do
espaço é o caso do capital financeiro se realizando através de
investimento na terra urbana [...] (CARLOS, 2004, p. 12).
O modo capitalista de produção sedimenta no território uma gama
inexorável de construtos que estão em sincronia (contraditoriamente, por vezes,
em diacronia) com os interesses de quem produz e realiza a mais-valia, o que
consolida um espaço-tempo preconizado por relações contínuas e descontínuas.
Assim sendo, o Materialismo Histórico e Dialético, à luz das contradições queo
inerentes ao processo, contribui para desvendar essas relações que estão
justapostas e sobrepostas no fenômeno da urbanização, que, por sua vez,
(re)configura as cidades e a vida urbana.
Se, por um lado, esses pressupostos fornecem subsídios importantes
para interpretarmos os fatos e o processo; por outro, torna-se imprescindível
estruturar um conjunto coerente de postulados que fundamentem a coleta de
informações, compondo aquilo que Moraes (1993) denominou como métodos de
investigação. Segundo o referido autor, esses devem estar sempre em sincronia
com aquele, que constitui, em nossa pesquisa, o método de interpretação.
As análises tiveram como base uma metodologia que privilegiou a
problematização da temática, a partir de questionamentos que suscitaram o
debate sobre as contradições que engendram o processo de reestruturação
urbana e da cidade, evitando o levantamento de hipóteses pré-determinadas. Em
nossa compreensão, essas romperiam a análise da dialética do processo.
Assim, as etapas da pesquisa foram: - construção de princípios teórico-
metodológicos centrados no debate sobre urbanização, reestruturação e
centralidade; - pesquisa documental e in loco que, respectivamente,
fundamentaram a coleta de informações históricas e o levantamento dos dados
sobre o fenômeno; e - organização e sistematização das informações, que
convergiram para a montagem da base cartográfica, elaboração de mapas
temáticos e para o alcance dos resultados
8
.
A pesquisa documental forneceu subsídios para a compreensão:- das
mudanças ocorridas na cidade nas últimas quatrocadas; - da atuação do
capital imobiliário na produção de novos espaços destinados à implantação de
estabelecimentos comerciais e de serviços; - da valorizão do solo urbano; e -
da história dos principais estabelecimentos tercrios de Salvador.
A pesquisa empírica esteve focada na história, bem como no papel que
as áreas centrais desempenham atualmente, a partir da análise dos principais
equipamentos urbanos. Entre esses destacamos: - shopping centers, sendo
investigados todos os grandes e pequenos empreendimentos; - os mais
importantes centros comerciais e de serviços; - as principais redes lojistas de
móveis e eletrodomésticos; - as principais redes de supermercados; os cinemas
hoje existentes; e - os espaços empresariais e residenciais recém-construídos ou
em projeto, e que estão associados às alterações na centralidade urbana.
8
Para maiores detalhes, consultar Apêndice I.
Com base na pesquisa documental e de campo foram investigadas as
alterações na infra-estrutura e nos equipamentos urbanos, do mesmo modo que a
sua distribuição e localizão. A dinâmica urbana foi analisada com base nos
dados históricos, nos dados concedidos pela Prefeitura Municipal de Salvador e
nas informações adquiridas junto às redes e estabelecimentos comerciais e de
serviços.
As idéias estão organizadas em cinco capítulos, além da introdução e
das perspectivas abertas pela tese, e foram sistematizadas com o intuito de
conduzir o leitor à coerência como as reflexões foram sendo construídas. Assim,
ao mesmo tempo em que a seqüência dos capítulos constitui uma lógica,
procuramos equacionar em cada um desses capítulos aspectos específicos da
pesquisa.
No primeiro capítulo, partimos da análise sobre a urbanizão,
articulando-a aos propósitos essenciais da tese, o processo de reestruturação
urbana e da cidade de Salvador. Com base nesses aspectos, discutimos o
processo de reestruturação produtiva e seus impactos na metrópole
soteropolitana, finalizando com os pressupostos teóricos que alicerçam nossa
compreensão sobre a reestruturação urbana e da cidade.
No Capítulo II, reconstruímos o mosaico da centralidade em Salvador,
entre as cadas de 1950 e 1970, apontando os principais fatores que
convergiram para a reestruturação da cidade. Finalizamos avançando na
discussão sobre o conceito de centro e centralidade urbana.
A implantação dos shopping centers, em Salvador, é o foco do Capítulo
III, iniciado com reflexões sobre os pressupostos que definem tais
estabelecimentos comerciais. A partir desses, abordamos sua inserção nas
cidades brasileiras e, especificamente, baianas, enquanto produto da
urbanização, concluindo com uma análise sobre a introdução dos grandes e
pequenos empreendimentos em Salvador.
Os traços da cidade poli(multi)nucleada são discutidos nos Capítulos IV
e V, que, apesar de sistematicamente separados, constituem um todo. Enquanto,
no Capítulo IV, damos ênfase às características de Salvador enquanto uma
cidade multinucleada, aprofundando a análise sobre a atual dinâmica urbana, as
principais áreas centrais e os grandes equipamentos, como hipermercados e
atacadistas; no Capítulo V, a cidade polinucleada passa a ser o foco, destacando-
se os conflitos e os interesses que envolvem a produção da estrutura urbana
hodiernamente.
Finalizamos a Tese apontando algumas perspectivas. Nessas,
elaboramos uma figura esquemática que visa apreender o processo de
reestruturação urbana e da cidade, com base nos dados e informões sobre
Salvador. O desígnio central é a evidência de que estamos passando por uma
fase no capitalismo contemporâneo, tamm marcada por uma nova
complexidade no processo de urbanização e revelada pela análise da contradição
entre a produção dos espaços de consumo e o consumo do/no espaço.
CAPÍTULO I:
REFLEXÕES SOBRE A REESTRUTURAÇÃO
URBANA E A REESTRUTURAÇÃO DA CIDADE
A cidade é a multidão que troca de imagem conforme a moda.
Mas tem a imagem que permanece na memória,
Como objeto da paixão para o apaixonado.
Almandrade
No século XX, distinguiu-se um fenômeno único na história da
humanidade. Face às profundas mudanças na sociedade, que culminaram na
industrialização, paulatinamente, passou-se de uma sociedade essencialmente
rural para uma sociedade cada vez mais urbana. Em 2007, segundo a Divisão de
População da ONU, o número de pessoas que vivia em áreas urbanas no mundo
superou o de pessoas que residia em áreas rurais
9
. A cada dia reafirma-se a
lógica de que a cidade é o centro de comando do mundo atual.
Nos países desenvolvidos, contudo, a conversão ocorreu muitos
anos, do mesmo modo que em alguns países subdesenvolvidos. O Brasil, por
exemplo, desde a década de 1970 possuía maior concentração da população
nas cidades (Gráfico 1). Hoje, mais de 80% da população vive nas áreas urbanas,
sendo que mais de 40% esconcentrada nas 26 Regiões Metropolitanas
10
.
9
Segundo a UNFPA (United Nations Population Fund) da ONU, em 2001, 47% da população
mundial vivia nas cidades e 53% no campo. Em 2008, a população urbana superou a rural, ainda
segundo a UNFPA (http://www.unfpa.org).
10
IBGE, Censo Demográfico, 2000.
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
80,00
90,00
1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000
Urbana
Rural
Gráfico 1
: Brasil
População urbana e rural (%), 1940/2000
Fonte: IBGE,
Censo Demográfico
.
Essa realidade, também expressa como urbanidade que adentra e se
manifesta, com um poder inverossímil, nas mais nues constituições do ser, está
presente nas escalas micro das relações políticas, econômicas e culturais que
estruturam a sociedade em âmbito global, sendo, portanto, dimensão basilar de
cada uma dessas estruturas. Porém, em tendência, já era reconhecida em 1970.
L’Urbanisation est à l’heure actuelle un phénomène universel. Il est
en effet difficile d’indiquer une partie ou une région du mondene
s’accomplisse, à plus ou moins grande échelle, une transformation
considerable des modes de vie et d’organisation provoquée par la
croissance des villes et des zones soumises à leur influence
(HAUSER, 1970, p. 19).
Nesse sentido, se, por um lado, entendemos que o motor dessa
condição urbana, que, por sua vez, enreda o pensamento e a (des)ordem
mundial, foi o processo de industrializão, na medida em que esse imprimiu um
ritmo idiossincrático à própria cidade e à urbanização; por outro, não podemos
reduzir a produção dessas últimas à industrialização, pois, segundo Sposito,
pertinência em se considerar um “erro teórico e prático
explicar/entender a cidade a partir dos “modelos e esquemas” da
indústria, pois seria o mesmo que confundir a divisão do trabalho
com a divisão territorial do trabalho (SPOSITO, 1991a, p. 32-33).
A cidade não é produto do processo de industrializão, ela nasceu em
tempos remotos, ainda na Antiguidade. Sua gênese, portanto, é anterior à
Primeira Revolução Industrial. Sob certos aspectos, a cidade tem na
industrialização, contraditoriamente, sua ppria negação
11
, na medida em que
essa última solapou as estruturas pretéritas das cidades, para (re)construí-las no
devir do mundo moderno.
Ao longo da hisria da Humanidade, a cidade representou
especificidades correspondentes ao tempo e ao espaço que lhe deram
materialidade e sentido. Cidades imperiais, como as romanas, por exemplo,
identificavam-se pela sua capacidade de gestão, sustentando as funções
administrativas e a exploração econômica. A constituição e o fortalecimento de
uma classe burguesa imprimiram às cidades medievais, principalmente nos
últimos séculos da Idade Média, um novo poder que, dentre outros fatores, foi
fundamental para o solapamento do feudalismo e do poder centralizado, instituído
nesse modo de produção. Emergiu, nessa última expressão de cidades, a foa
dos mercados que se desenvolveram nos burgos, principalmente, nos caminhos
das rotas comerciais; exemplos específicos para tais são as rotas de navegação
européias (CASTELLS, 1983, p. 20-22).
No que diz respeito às cidades engendradas por meio da consolidação
do sistema capitalista, principalmente no momento em que o mesmo ganhava
certa hegemonia, percebe-se que essas apresentam peculiaridades que devem
ser analisadas mais detalhadamente.
A lógica do sistema capitalista firma-se enquanto um processo
contraditório de produção e de condições de reprodução ampliada do capital. Não
se circunscreve apenas e imediatamente à produção da mercadoria em si, mas
também à distribuição, circulação e consumo, sendo esses os fatores que
possibilitam a realizão da mais-valia. Esse processo, concentrador em sua
essência, implica gerar e produzir condições que suscitem a acumulação de
capital e de riqueza.
Numa análise inicial, o modo como as cidades contemporâneas estão
estruturadas exprime essa relação entre apropriação dos meios de produção e
exploração da força de trabalho. Para o capitalismo, elas incorporam as
possibilidades máximas de sua realização; atuam como gestoras e controladoras
do processo. São, por um lado, espaços de força centrípeta, concentrando o
mercado, os meios de circulação e de informão, a comunicação, o capital, o
dinheiro, a força de trabalho e, principalmente, o consumidor.
Articulada ao desenvolvimento do capitalismo mundial, sem, todavia,
restringir-se a esse, a industrializão ocorrida e alimentada pela/na Inglaterra do
século XVIII, sob um Estado fortemente indutor do pensamento moderno em
função do poder hegemônico que detinha nesse momento histórico, acentuou e
modificou o fenômeno da urbanização do/no espaço mundial, alterando,
mormente, a estrutura das cidades.
11
Para Lefebvre (2005, p. 42), a indústria tem se revelado como a não-cidade, a anti-cidade.
Entretanto, muito mais que um processo técnico reduzido às relações
que envolvem alterações nos meios de produção e nas relações de produção, as
“Revoluções Industriais” revelaram-se como produto de mudanças técnico-
científicas (SANTOS, 1997b) e culturais. Essas estruturaram/desestruturaram a
sociedade e o pensar a sociedade, pois, a partir desse momento, novos escopos
alicerçaram os paradigmas que doutrinaram tais mudanças e rupturas.
Segundo Lefebvre (1991, p. 15), define-se essa “nova” sociedade como
urbana, “o que não tem por conseqüência, inevitavelmente, o termo sociedade
industrial”, mesmo que haja uma relação dialética entre a primeira indutora e a
segunda induzida.
Para Castells,
O termo urbanização refere-se ao mesmo tempo à constituição de
formas espaciais específicas das sociedades humanas,
caracterizadas pela concentração significativas das atividades e
das populações num espaço restrito, bem como à existência e a
difusão de um sistema cultural específico, a cultura urbana
(CASTELLS, 1983, p. 24).
Sposito (2004), ao analisar o conceito de urbanizão, deixa evidente a
necessidade de apartarmos o seu uso indistinto frente às inferências de
profissionais da Engenharia, Arquitetura, Economia e mesmo da Geografia,
reduzindo-o, por exemplo, ao entendimento sobre as transformações que ocorrem
no espaço urbano sob uma dimensão técnica ou relacionadas à variabilidades na
dimensão demográfica. Sua complexidade pode ser apreendida a partir da
discussão sobre as múltiplas transformões que ocorreram na relação entre a
Sociedade e a Natureza ao longo da história, pressupondo uma divisão técnica,
social e territorial do trabalho.
A industrialização foi apenas a propulsora da urbanização
contemporânea, da construção do mundo urbano, sobrelevando o papel das
cidades no bojo das relações capitalistas de produção. Portanto, uma contradição
central, pois a industrialização é, ao mesmo tempo, um produto e uma condição
da urbanização, sendo essa última um fenômeno que transpassa o tempo, o que
coloca aquela como um momento do processo geral.
Destarte, a partir do acúmulo dessas mudanças (rupturas, construções,
destruições e reconstruções) no tempo e no espaço, converge-se para a
materialização singular de um fenômeno na sociedade – a cidade. Assim, a
urbanização, mais que sua dimensão estrutural concreta, deve ser apreendida
enquanto um processo, um movimento histórico.
[...] a urbanização é um processo, e, como tal, deve ser lida
enquanto um movimento espaço temporal [...]. Essa preocupação é
retomada aqui, porque não há possibilidade de apreensão da
urbanização, como processo complexo que se constitui, sem se
analisarem as múltiplas conexões possíveis entre o tempo e o
espaço, não apenas considerando a sucessão e a sincronia, mas
também o descompasso e a arritmia que marcam o movimento que,
no real, articula essas duas dimensões da existência (SPOSITO,
2004, p. 34).
De qualquer modo, faz-se necessário diferenciar a urbanização anterior
ao desenvolvimento do capitalismo da ocorrida a partir da consolidação do
referido modo de produção. No primeiro momento, tendo como expressão o
fenômeno da urbanização ocorrido nos períodos imperiais, principalmente no
Império Romano, e na Idade Média, com a expansão comercial, percebe-se que
às cidades desempenhavam, respectivamente, o papel enquanto espaço pensado
para articular às funções de administração e de exploração tributária à vida no
campo, a partir da ascensão das cidades-estado; e seu “arrefecimento” político,
no período feudal, com a presença das cidades eclesiásticas e dos burgos
(MUNFORD, 1998).
No segundo momento, principalmente a partir da Primeira Revolução
Industrial, a cidade passou a ser o centro de produção, gestão, circulação e
realização da mais-valia. Assim, os norteadores do processo de urbanização
foram seu espraiamento em nível mundial, a formação de novas estruturas
urbanas e a redefinição da divisão do trabalho social, técnica e territorial.
A nosso ver, a industrialização deve ser compreendida como um
processo que ocorre em sincronia, por um lado, com um amálgama de
modificações ocorrido nas relações espaço-tempo, enquanto produto de novas
relações de produção engendradas pela emergência e fortalecimento de um
conjunto de atividades associadas ao setor industrial; por outro, pela nova
configuração política, econômica, social e cultural que emana dessas complexas
modificações espaço-temporais, reproduzindo no plano simbólico um novo modo
de pensar a sociedade.
Nesse ínterim, urbanização e industrializão se articulam, sincrônica e
diacronicamente, provocando modificações nas relações entre sociedade e
natureza, entre classes e segmentos sociais, acarretando uma nova forma de
pensar tais relações. Segundo Lefebvre,
Temos à nossa frente um duplo processo ou, se se preferir, um
processo com dois aspectos: industrialização e urbanização,
crescimento e desenvolvimento, produção econômica e vida social.
Os dois aspectos deste processo, inseparáveis, têm uma unidade,
e no entanto o processo é conflitante. Existe, historicamente, um
choque violento entre a realidade urbana e a realidade industrial
(LEFEBVRE, 1991, p. 09).
Na articulação entre ambos processos, urbanizão e industrialização,
pode-se compreender mais adequadamente aquilo que Marx (1999) definiu como
o ciclo de reprodução do capital; pode-se compreender como, numa dada
sociedade, produz-se o espaço e a vida cotidiana a partir da reprodução ampliada
do capital; pode-se compreender como produção, circulação, distribuição e
consumo são o amálgama que subverte o valor de uso pelo valor de troca. No
entendimento de Lefebvre (1991), hoje o valor de troca prevalece a tal ponto
sobre o uso e o valor de uso que quase suprime este último”.
Essa é a sociedade urbana. Uma complexa teia de relações, que
Castells (1983, p. 100) evita reduzir a uma dimensão espacial, definindo-a como
um “sistema de valores, normas e relações sociais possuindo uma especificidade
histórica e uma lógica própria de organização e de transformão”.
Para Lefebvre (2004), é a
[...] sociedade que nasce da industrialização. Essas palavras
designam, portanto, a sociedade que domina e absorve a produção
agrícola. Essa sociedade urbana só pode ser concebida ao final de
um processo no curso do qual explodem as antigas formas
urbanas, herdadas de transformações descontínuas (LEFEBVRE,
2004, p. 15).
A ascensão do modo capitalista de produção foi um registro relevante
desse contexto histórico, sendo uma das características da modernidade. A
aproprião da natureza e sua conversão em mercadoria são, portanto, os
indícios de que a Sociedade e a Natureza foram (re)configuradas e
(des)configuradas em sincronia com a veleidade do processo de reprodução do
capital.
No Brasil, como em outras partes do mundo, a hegemonia do
capitalismo incidiu direta e visivelmente nas cidades, alterando, mormente, seu
conteúdo e sua estrutura urbana no início do século XX. O fortalecimento do
papel que as cidades passaram a desempenhar na organização da sociedade, da
produção e do espaço foi, sem vida, a maior expressão desse contexto
histórico.
Entretanto, foi a partir da década de 1940 que o território brasileiro
passou por mudanças realmente profundas em sua urbanização que, por sua vez,
influenciaram na estruturação das cidades, sobretudo, das metrópoles. Esse
processo foi desencadeado, principalmente, pela instauração de uma nova
conjuntura política, econômica e social, com conseqüências no desenvolvimento
econômico do ps.
Tais transformações, todavia, também estavam articuladas à crise da
década de 1930, conseqüente da Queda na Bolsa de Nova Iorque, em 1929, bem
como às tensões internacionais sentidas no período entre as duas grandes
guerras mundiais. Em quase todo o planeta, esses fatos provocaram alterações
no modelo de produção econômica, que, a partir da Segunda Guerra Mundial,
passou a ser influenciado pelo fordismo; nas conjunturas políticas das nações;
nos padrões de consumo da sociedade; e nos constituintes técnicos do espaço,
principalmente, os associados aos sistemas de circulação e comunicação. No
caso do Brasil, a crise da agricultura cafeeira, na década de 1930, que fez com
que a sociedade tivesse que arcar com boa parte dos prejuízos dos produtores de
ca, foi uma das evidências mais marcantes desse processo.
O desdobramento mais expressivo na economia brasileira foi a
implementação de uma política industrial assentada na implantação de indústrias
de base e no modelo de substituição de importações, em justaposição às políticas
agro-exportadoras. Essa política teve como suporte principal o Estado,
coadunando com capitais privados nacionais e internacionais. Constitui-se em um
modelo extremamente concentrador, na medida em que privilegiou a Região
Sudeste do país, no icio de sua implantação, sobretudo o Paulo, em função
das condições infra-estruturais mais favoráveis.
A intra-estrutura existente em parte da Rego Sudeste foi construída a
partir da metade do século XIX, tendo como principal suporte, tanto as políticas
que concentraram investimentos nessa região, quanto os recursos oriundos da
cafeicultura. Por outro lado, o processo também revela o jogo de interesses entre
o Estado (União) e grandes produtores de café na época, que, adicionado aos
interesses das oligarquias agrárias das outras regiões, teve influência significativa
no aprofundamento das desigualdades regionais no Brasil, a partir da metade do
século XX.
No período da industrialização, entretanto, ocorreu maior articulação
entre o Sudeste e as demais regiões brasileiras, principalmente, em função dos
investimentos estatais em infra-estrutura de circulação entre as regiões,
sobremaneira, em estradas de rodagem. O objetivo desses investimentos foi
articular a região industrializada às outras regiões, em função da necessidade de
constituição de um mercado consumidor nacional para a produção industrial, fato
que redefiniu a divisão social, cnica e territorial do trabalho em escala nacional,
por sua vez, alterando as atividades produtivas no interior de cada região.
Todas essas vicissitudes fizeram com que o processo de estruturação
das cidades brasileiras, nas últimas quatro décadas, sofresse alterações que,
aliás, vêm sendo observadas por pesquisadores preocupados com o debate
sobre a produção do espaço urbano. O fenômeno da reestruturação urbana e da
cidade, dentre essas mudanças, recebeu importante destaque, a partir da década
de 1980, principalmente, por geógrafos, arquitetos e urbanistas, porque redefiniu
as relações desenvolvidas no espaço intra-urbano.
De modo geral, a expressão reestruturação urbana passou a ser
utilizada para identificar as alterações nos processos econômicos, políticos e
territoriais associadas à realidade da cidade e do urbano. Entretanto, por mais
que as preocupações sejam as relações urbanas, como destaca Villaça (2001),
nem sempre tais reflexões especificam processos que, em verdade, dão contam
em explicar as modificações ocorridas novel intra-urbano.
Pesquisas desenvolvidas (LEFEBVRE, 1990; TRINDADE JUNIOR,
1998; WHITACKER, 2003; SPOSITO, 2004; CLEPS, 2005; SILVA, 2006, entre
outros) revelam que tais transformações redefinem a vida cotidiana, que
mudam as relações tempo-espaço na/da cidade e a própria lógica de reprodução
do espaço urbano. Desse modo, acreditamos ser essencial pensarmos o
processo de reestruturação, na atualidade, na medida em que corresponde a uma
nova etapa da urbanização brasileira e incidiu em novos conteúdos e papéis para
as cidades.
1.1 – A (re)estruturação da cidade de Salvador
Primeira capital da colônia portuguesa na América, Salvador foi
efetivamente fundada em 1549, erigida à categoria de cidade
(VASCONCELOS, 2002). Durante todo o período do Brasil Colônia, entre 1500 e
1822, desempenhou papéis importantes na colonização, principalmente aqueles
voltados para as questões administrativas, de gestão do território e de
escoamento regional, em destaque, da produção açucareira e fumageira. o
essas funções, aliás, os fatores econômicos mais importantes que influenciaram
no processo de urbanização da cidade na época.
A partir do século XIX, ocorreram transformões políticas e
econômicas que desdobraram de forma determinante na urbanização de
Salvador. Essas mudanças provocaram alterações em sua estrutura urbana,
sendo mais importantes: a redefinição nas relações tempo-espaço na/da cidade,
que abordaremos no próximo capítulo; e a implantação de novos equipamentos
urbanos, mormente, no Centro.
Um momento de forte estagnação econômica, todavia, marcou
Salvador no início do culo XX. Esse período perdurou aa década de 1940,
quando mudanças nas estruturas produtivas redefiniram os caminhos que a
urbanização tomou, alterando a estrutura urbana soteropolitana. Atualmente, a
cidade é um dos principais centros urbanos do país, constituindo-se como uma
importante metrópole regional, fornecedora de bens e serviços, tanto para sua
hinterlândia, quanto para outras áreas da Região Nordeste.
Salvador está localizada na poão leste do Estado da Bahia. O Oceano
Atlântico, de um lado, e a Baía de Todos os Santos, de outro, margeiam a forma
peninsular que a cidade apresenta, sendo esses fatores, inclusive, elementos que
favoreceram o seu papel como centro de escoamento da produção (Figura 1).
É difícil estabelecer um marco inicial para datarmos o processo de
reestruturação da metrópole baiana, na medida em que uma miríade de ações e
interesses, em tempos diferentes, convergiu para alterar a estrutura urbana
metropolitana, dando-lhe a configuração atual. De qualquer modo, é relevante
apontar as principais ações e sujeitos, bem como os períodos mais densos, que
contribuíram para que o processo se efetivasse, na medida em que torna possível
desvelar os fatores que deram suporte a um novo movimento de estruturação
urbana de Salvador.
As bases do processo de reestruturação urbana foram engendradas
pela atuação do Estado, ainda na cada de 1940; esse, aliás, foi o principal
agente na execução das alterações mais importantes no espaço urbano,
acarretando na redefinição dos usos do solo na cidade. Em verdade, foi uma
atuação diferenciada entre os poderes federal, estadual e municipal que
desencadeou tais mudanças.
Apesar de apontarmos o Estado como o principal agente que
influenciou no processo de reestruturação da cidade de Salvador, através dos
seus instrumentos normativos e jurídicos, não se pode deixar de destacar que
outros sujeitos foram, também, fundamentais para que esse “projeto político”
ganhasse materialidade, possibilitando sua efetivação. Os detalhes sobre esse
processo, contudo, serão abordados no próximo capítulo.
Por ocasião, é significativo destacar os resultados acarretados pela
reestruturação urbana em Salvador, no sentido de percebermos que o processo
alterou a dinâmica da cidade, sobremaneira, as suas relações tempo-espaço no
vel intra-urbano. Seu primeiro traço revela-se pela constituição inconteste de
uma nova característica à estrutura urbana. Assim sendo, mesmo reconhecendo
a validade de outras definições para essa feição nova do espaço urbano, que,
teoricamente, objetivam captar a forma contemporânea que as cidades m
apresentando, vamos optar por entendê-la como uma cidade poli(multi)nucleada,
discussão a ser aprofundada a posteriori.
A Salvador poli(multi)nucleada expressa um acúmulo de mudanças
quantitativas e qualitativas na lógica da centralidade urbana, que afetaram a velha
cidade, suas formas e estruturas herdadas. Essas últimas, por sua vez, são
construtos originários de tempos e temporalidades distintas. De qualquer forma, o
processo convergiu para a produção de uma estrutura urbana contemporânea
que corrobora a lógica da reprodução da cidade para o negócio (Figura 2).
O mapa representa as expressões da centralidade urbana em Salvador,
destacando apenas as que são, em nossa concepção, áreas de concentração de
atividades comércio e serviços. Algumas dessas áreas serão adjetivadas como
“tradicionais”, porque entendemos que se formaram em tempos pretéritos do
processo de produção do espaço na metrópole, apresentando um conjunto
arquitenico e uma distribuição da malha viária correspondentes a esses
referidos tempos. Outras equivalem às novas expressões da centralidade urbana,
sendo a materialidade de uma hodierna lógica política, econômica e social que
passou a imperar na cidade, alterando o processo de reprodução do espaço
metropolitano.
Estamos denominando como expressões “tradicionais” da centralidade
urbana de Salvador: o Centro Tradicional e os sub-centros da Calçada e
Liberdade, que correspondem aos centros comerciais e de serviços mais antigos.
Nessas áreas, as estruturas herdadas, quando não foram substituídas por um
padrão arquitetônico atual, tiveram suas formas e funções adaptadas às
exigências comerciais e de serviços do setor terciário contemporâneo.
A área considerada na pesquisa como Centro Tradicional corresponde
a uma parte do Centro Histórico de Salvador (imediações da Rua Chile),
adicionada às áreas comerciais antigas da cidade: Av. Carlos Gomes, parte da
Av. Sete de Setembro (até o Quartel dos Aflitos) e da Av. Joana Angélica (até o
Colégio Central); uma parte da “Cidade Baixa”, conhecida como Comércio; e as
Avenidas José Joaquim Seabra e Conselheiro Pereira, respectivamente
denominadas como Barroquinha e Sete Portas (Figura 3). Tamm incluímos as
áreas comerciais e de serviços do Pelourinho (Centro Histórico) porque, em nossa
concepção, suas transformações estão associadas aos interesses da pesquisa
que estamos desenvolvendo.
Os tradicionais sub-centros da Calçada e Liberdade foram os primeiros
desse tipo a se consolidarem em Salvador, formando-se ainda nas décadas de
1940 e 1950. Enquanto que a localização da Estação Ferroviária REFESA, por
um lado, e o fato de ser um entroncamento entre a área de Itapagipe e o Centro
Tradicional, por outro, a nosso ver, influenciou na constituição da Calçada como
um sub-centro da “velha” Salvador; o alto contingente populacional residente nas
imediações da Av. Lima e Silva, localizada num bairro macamente negro, foi o
responsável pela consolidação do eixo comercial (Figura 3).
Na pesquisa, estamos considerando como “novas expressões da
centralidade urbana de Salvador os núcleos que, nas últimas três décadas,
sobrelevaram seu papel na oferta de bens e serviços à população soteropolitana,
constituindo-se como centros ou sub-centros importantes para a cidade.
Dentre esses, temos como principal o entorno do Shopping Iguatemi,
que foi denominado pela Prefeitura de Salvador como Vale do Camaragibe, face
ao rio que lhe atravessa. Estamos considerando como integrantes desse centro a
extensão da Av. Antônio Carlos Magalhães (ACM), compreendida entre o
entroncamento com a Av. Juracy Magalhães Neto, sentido Itaigara, até parte da
Av. Tancredo Neves, nas imediações do Salvador Trade Center e do recém-
inaugurado Salvador Shopping (Figura 4).
Como Salvador é marcada por uma intensa desigualdade entre as
classes sociais, algo que iremos discutir a posteriori, suas novas expressões da
centralidade urbana reproduzem tal lógica, materializando-se seja em áreas
ocupadas pelas camadas mais altas da sociedade, seja em áreas ocupadas pelas
camadas mais populares.
No que tange às primeiras, são exemplos dessas expressões da nova
centralidade os sub-centros da Barra, da Av. Manoel Dias da Silva e do Itaigara
(Figura 5). Enquanto o primeiro consolidou-se recentemente em uma área de
ocupação mais antiga da cidade, os bairros da Barra e Chame-Chame,
compostos por classes que variam entre a dia e alta; os dois seentes
consolidaram-se nas áreas de ocupação mais recente, últimos 30 anos, espaços
privilegiados por políticas públicas de implantação de infra-estrutura e valorização
fundiária, apropriados pela “elite” soteropolitana.
Brotas é diferente dos demais, porque está voltado, fundamentalmente,
para a diversificada classe média que reside em seus arredores. Todavia, os
demais sub-centros foram consolidados em áreas de habitação popular como
resultado do processo de crescimento populacional e expansão do tecido urbano.
Correspondem a esses as áreas comerciais e de serviços de Itapuã e São
Cristóvão, localizadas próximas ao perímetro urbano; Paripe e Periperi, no
Subúrbio Ferroviário; e São Caetano, no Miolo Central
12
(Figuras 6 e 7).
Além dos centros e sub-centros supramencionados, cuja característica
principal é a oferta diversificada de bens e serviços, selecionamos outras áreas
que, em nossa concepção, tamm o importantes porque exprimem e
reproduzem as referidas mudanças na estrutura urbana metropolitana, face ao
processo de reestruturação urbana e da cidade, essência da discussão que
propomos levantar. São eles: as Avenidas Vasco da Gama, Mário Leal Filho
(Bonocô), San Martin e Barros Reis, bem como o Centro Administrativo.
12
Área de expansão mais recente de Salvador, onde estão localizados bairros como Cajazeiras,
Cabula, Marechal Rondon etc.
No que tange às mencionadas avenidas, estamos considerando-as
como eixos especializados, porque ofertam, majoritariamente, um determinado
tipo de produto e/ou serviço, geralmente atendendo consumidores de vários
bairros. Como vamos observar, no momento em que refletirmos sobre o conceito,
tais áreas não podem ser classificadas como centros ou sub-centros, por um lado,
em função da baixa diversidade de serviços e produtos, e, por outro, pela alta
amplitude de consumidores que as alcançam em Salvador (Figura 8).
Por sua vez, o Centro Adminstrativo da Bahia (CAB) merece destaque
porque corresponde à área para onde foram (re)centralizadas, ainda na década
de 1970, a maior parte das atividades administrativas do Estado da Bahia, tendo
repercussão no papel que o Centro Tradicional exercia como lócus do poder
estadual. Ademais, o CAB está localizado numa das áreas de maior investimento
do setor imobiliário na cidade, Av. Luiz Viana Filho, também conhecida como Av.
Paralela.
O debate sobre o processo de reestruturação urbana em Salvador
suscitou, ao longo de sua construção, questões importantes que envolvem as
mudanças no uso residencial da cidade. Dentre essas, o mais significativas, a
expansão no número de condomínios fechados e Aphavilles, as novas áreas de
ocupações das classes sociais, as alterações no crédito habitacional, criação de
novos desejos na moradia etc. Entretanto, mesmo sem aprofundarmos, vamos
destacar alguns pontos importantes que eso associados à relação entre o
consumo do/no espaço e a produção dos espaços de consumo, foco das nossas
reflexões, a partir da análise sobre esses novos produtos imobiliários.
O consumo do/no espaço urbano e a produção dos espaços de
consumo constituem processos que envolvem uma relação diatica e complexa
porque articulam, no caso soteropolitano, diferentes sujeitos e conflitos de
interesses que são traduzidos materialmente no espaço. Pensando no caso
específico das atividades comerciais e de serviços, essa relação enlaça o acesso
ao solo urbano pelos pequenos, médios e grandes empresários, que objetivam
produzir o espaço urbano como meio promotor de um retorno lucrativo aos seus
investimentos.
A cidade torna-se, assim, loco de conflitos de interesses pelo acesso
àqueles espaços que, hipoteticamente, possuem a capacidade de proporcionar
maior rentabilidade aos negócios. Cada atividade que se instala objetiva criar
condições ideais, independente da área onde se localiza, para atrair
consumidores potenciais para adquirir seus produtos, com a aquiescência do
Estado, um mediador central do processo, porque esse ajusta, constantemente,
seus interesses aos interesses de determinados grupos.
Como vamos observar, no caso de Salvador, tanto em função do
elevado grau de desigualdade social quanto do significativo processo de
valorização pelo qual o solo urbano passou nas últimas cadas, o acesso
àqueles espaços, pensados e produzidos para o consumo e para a oferta de bens
e serviços, traduz tais interesses e conflitos, na produção dos quais a Prefeitura
Municipal de Salvador e o Governo do Estado da Bahia, ao longo dos anos, m
tendo atuação premente, interferindo no sentido de criar alicerces que garantam o
privilégio de alguns em detrimento de outros.
As obras de infra-estrutura e os construtos técnicos implantados na
cidade, por um lado, e as alterações nos instrumentos normativos e legais que,
teoricamente, deveriam proporcionar o uso racional e coletivo do espaço urbano
no intuito de possibilitar condições de igualdade no acesso a terra, em verdade,
recriam a “nova” Salvador, reproduzindo uma lógica na qual a cidade é produzida,
essencialmente, para o negócio. Essa é a lógica que vem imperando na urbe; e,
por mais que o vamos aprofundar, a questão habitacional também faz parte
desse “negócio”.
No caso das áreas comerciais e de serviços em Salvador, quando
pensamos a produção desses espaços para o consumo, bem como o seu
consumo, percebe-se que o seu nexo central é a criação de uma fruição dialética
entre sujeito consumidor e espaço consumível, na qual vários elementos
(ideológicos, políticos, estruturais e econômicos) devem ser considerados.
São esses elementos, aliás, que serão discutidos ao longo do trabalho
porque, em nossa concepção, envolvem o entendimento sobre o processo de
reestruturação urbana ocorrido em Salvador, que, por sua vez, redefiniu o modo
como as atividades comerciais e de serviços passaram a ocupar o solo urbano,
redefinindo igualmente seus usos e acessos.
1.2 – Reestruturação produtiva e a realidade soteropolitana
A reestruturação produtiva, bem como suas conseqüências na
sociedade soteropolitana, recebeu pouca atenção dos pesquisadores, mesmo que
sempre seja ressaltada sua relevância. Tais pesquisas demonstram reais
transformões acarretadas pelo processo na estrutura produtiva, política e social
da cidade
36
. Entendemos que esses fatos são evidentes e que têm significativas
influências no modo como o espaço urbano passou a se estruturar nos últimos
anos. Por outro lado, revelam as rupturas na economia e na política, denotando
uma nova forma de pensar a sociedade, o espaço e a produção.
Contudo, antes de evidenciarmos as implicações da reestruturação
produtiva em Salvador, acreditamos que é essencial compreender os
pressupostos teóricos que vêm sustentando a discussão sobre esse fenômeno,
do mesmo modo que observarmos quais são as suas características basilares.
Segundo Soja, o termo reestruturação, em seu sentido mais amplo,
transmite uma idéia de “freada”, de ruptura, de mudança em relação a uma
determinada ordem e configuração da vida social, econômica e política. “Evoca,
pois uma combinação seqüencial de desmoronamento e reconstruções, de
desconstrução e tentativas de reconstituição, provenientes de algumas tendências
ou perturbações nos sistemas de ação e de pensamento aceitos” (SOJA, 1993, p.
193).
A reestruturação não é um processo mecânico ou automático, nem
tampouco seus resultados e possibilidades potenciais são
predeterminados. Em sua hierarquia de manifestações, a
reestruturação deve ser considerada originária e reativa a graves
choques nas situações e práticas sociais preexistentes, e
desencadeadora de uma intensificação de lutas competitivas pelo
controle das forças que configuram a vida material. Assim, ela
implica fluxo e transição, posturas ofensivas e defensivas, e uma
mescla complexa e irresoluta de continuidade e mudança (SOJA,
1993, p. 194).
36
Andrade (1973); Azevedo (1998); Carvalho, Almeida e Azevedo (2004); e Santos (2007).
É comum haver uma associação entre o processo de estruturação
urbana e as mudanças na estrutura produtiva pelas quais passou a sociedade,
em âmbito mundial, a partir da década de 1970. Essas mudanças redefiniram,
especialmente, a lógica da produção industrial, o papel do Estado na política e na
economia nacionais, a atuação do capital financeiro e as relações de trabalho no
processo de produção (HARVEY, 2004). Os estilhaços desse fenômeno foram
vistos em todas as nações, desde os países mais desenvolvidos aos mais pobres,
ainda que com diferentes mecanismos e repercussões.
Compreende-se o processo de reestruturação produtiva como resultado
e condicionante da emergência de uma nova fase no desenvolvimento do modo
capitalista de produção, em escala global, analisada por Harvey (2004) e por
Benko (1996), como regime de acumulação
37
flexível, e por Soja (1993), como
especialização flexível. A nova etapa do capitalismo erigiu-se com a crise no
modelo fordista de produção
38
, desencadeada entre o final da década de 1960 e o
início da cada de 1970, que acarretou em desestruturações econômicas,
políticas e financeiras no mundo inteiro.
Segundo Harvey,
Em primeiro lugar, se quisermos procurar alguma coisa
verdadeiramente peculiar (em oposição ao “capitalismo de sempre”)
na atual situação, devemos concentrar nosso olhar nos aspectos
financeiros da organização capitalista e no papel do crédito. Em
segundo, se deve haver alguma estabilidade de médio prazo no
atual regime de acumulação, é nos domínios das novas rodadas e
formas de reparo temporal e espacial que é mais provável
encontrar elementos (HARVEY, 2004, p. 184).
Tanto Harvey quanto Benko, apesar de explicitarem que o atual modelo
de acumulação do capitalismo não dissolveu completamente as estratégias
fordistas nas relações de produção, apontam evidentes mudanças que denotam a
emergência de uma nova fase no capitalismo. O regime de acumulação flexível
es centrado num modelo de acumulação do capital que se reproduz a partir de
37
Segundo Benko (1996, p. 255), um regime de acumulação é uma forma de alocação de
riquezas sociais criadas que asseguram uma correspondência relativamente bem estabelecida
entre as transformações das condições de produção e a evolução da demanda social. Para o
autor, esse equilíbrio não é natural. Requer a presea de um ambiente macroinstitucional
contendo mais ou menos êxito as transformações econômicas e sociais que o movimento da
acumulação traz em si.
uma lógica contraditória, já que alia mecanismos de produção e reprodução
flexíveis, a estratégias fordistas e, também, não-capitalistas de produção
39
(OLIVEIRA, 1989).
As especificidades da acumulação flexível podem ser observadas a
partir da análise dos mecanismos que estruturam as práticas socioespaciais
reproduzidas no capitalismo atual, que o se reduzem à produção imediata,
mas, igualmente, às demais etapas do ciclo de reprodução do capital: circulação,
distribuição e consumo. Nesse sentido, Harvey (2004) destacou alguns pontos
que demonstram esse cabedal de transformações no papel do Estado, nas
relações de trabalho, na introdução de novas tecnologias, no capital financeiro, na
lógica da atividade industrial e nos padrões de consumo global, que, por sua vez,
redefiniram o próprio sistema capitalista.
No que tange ao papel do Estado no processo, existem inúmeros
questionamentos sobre seu efetivo enfraquecimento diante do regime de
acumulação flexível
40
. Todavia, percebemos que ocorreram alterações
significativas em sua atuação como Estado-providência
41
(modelo keyneisiano), a
partir do final da década de 1980. Para Benko,
No final da cada (1970), as forças neoliberais mobilizaram um
número suficiente de adeptos para fazer eleger governos cujos
programas previam reduzir a intervenção do Estado. Houve então
tentativas para acelerar os cortes nas despesas públicas e
tendências a reduzir a um nível menor a intervenção do Estado nos
domínios econômico e social (mas sem tocar nos domínios da
defesa nacional e da ordem pública). Estragias de privatização e
de subcontratação de atividades do setor público foram ativamente
aplicadas num momento em que os interesses capitalistas
buscavam novos domínios de valorização do capital. A lógica da
política social foi transformada com a substituição dos princípios de
assistência pública e de garantias coletivas em prol dos membros
mais desfavorecidos da sociedade pelas garantias cujas vantagens
potenciais dependeriam das possibilidades individuais de pagar. As
vantagens sociais foram cada vez mais visadas (BENKO, 1996, p.
122-123).
38
Benko (1996), Harvey (2004), e Botelho (2000).
39
Segundo Oliveira (1989), tais relações não-capitalistas só podem ser entendidas se pensadas
no bojo das relações capitalistas, e não como resquícios de outros modos de produção.
40
Rodrigues (2008) afirma que esse debate deve ser aprofundado, porque o Estado neoliberal,
principalmente nos países mais ricos mantém um poder de controle muito forte, o revelando
enfraquecimento.
A acumulação flexível emergiu em meio a uma imposta subordinação
dos Estados nacionais aos ditames do capitalismo global, na medida em que
aqueles passaram a definir suas políticas internas atendendo, sempre, à
manutenção da estabilidade do mercado financeiro mundial. Harvey considera
que esse “sistema financeiro alcançou um grau de autonomia diante da produção
real sem precedentes na história do capitalismo”. Todavia, ressalta que o mesmo
sistema foi levado “a uma era de riscos financeiros igualmente inéditos”
(HARVEY, 2004, p. 181).
Essa relação entre Estado e sistema financeiro, apesar de não ser
nova, passou a apresentar nuances particulares com a emergência do regime de
acumulação flexível, principalmente, no que tange ao papel desempenhado pelo
Estado-nação na sociedade atual.
A nação-Estado, embora seriamente ameaçada como poder
autônomo, retém mesmo assim grande poder de disciplinar o
trabalho e intervir nos fluxos de mercados financeiros, enquanto se
torna muito mais vulnerável a crises fiscais e à disciplina do
dinheiro internacional (HARVEY, 2004, p. 181).
Outrossim, entendemos a análise sobre a mobilidade do capital
financeiro, no mundo atual, como um elemento fundamental para
compreendermos o processo de reestruturação produtiva, bem como as suas
implicações nas relações de produção do capitalismo. Martim e Schumann,
verificando o sistema financeiro global, asseveram que:
Seus interesses costumam ser os mesmos: inflação baixa, câmbio
estável, e tributos insignificantes sobre os rendimentos do capital.
Ainda que sem admiti-los, os adeptos do livre-mercado sempre
equiparam essas metas ao bem-estar geral. No entanto, no
contexto do movimento financeiro global, isso se torna pura
ideologia. O curto-circuito da economia financeira entre os países
lhes exige uma corrida por tributos menores, redução das despesas
públicas e renúncia a igualdade social, que como resultado nada
mais traz além de redistribuição global de baixo para cima. Será
premiado quem proporcionar aos mais fortes as melhores
condições (MARTIM e SCHUMANN, 1998, p. 89).
41
Benko (1996).
Ou seja, para os autores, a liberdade do mercado financeiro global
estrutura-se pondo em detrimento as necessidades sociais, que entendemos
repercutir em escalas nacional, regional e local. Ademais, esse processo, em
função do “grau de autonomia” adquirido pelo sistema financeiro, destacado por
Harvey (2004), provocou um deslocamento do processo de reprodução do capital
da esfera produtiva, jamais visto na sociedade, redefinindo a lógica de localizão
das atividades produtivas por todo o globo (CHESNAIS, 1996).
Isso não significa, todavia, que o capital financeiro se reproduz
desvinculado da apropriação da força de trabalho. Percebe-se que se instaurou
uma lógica diferenciada de reprodução do capital na sociedade contemporânea
que, por sua vez, passou a escamotear a exploração da força de trabalho, bem
como reforçar a sua desregulamentação. Indubitavelmente, foi sobre o trabalho
que ocorreram as maiores conseqüências do regime de acumulação flexível.
Ao analisar a relação entre a atual gica da flexibilidade e as relações
de trabalho, Harvey (2004) discorda dos que vêem esse processo como algo que
apenas legitime um conjunto de práticas políticas, sem nenhuma fundamentação
empírica nas fases de organização do capitalismo, no final do século XX. Para o
autor, “[...] as provas de uma crescente flexibilização (subcontratação, emprego
temporário e atividades autônomas etc.) em todo o mundo capitalista o
simplesmente demasiado claras [...]” (HARVEY, 2004, p. 178). Contudo, afirma
que isso não é um fato novo no sistema capitalista.
Botelho, investigando a realidade da indústria brasileira em função da
passagem do modelo fordista para produção flexível, ressalta que:
As mudanças nas relações de produção envolvem uma crescente
precarização das condições de trabalho e emprego e uma maior
segmentação do mercado de trabalho. Essa situação é responsável
por mudanças na forma de organização dos trabalhadores, fato
agravado pela maior mobilidade que o capital adquire com as
inovações tecnológicas e transformações no quadro sócio-político
mais amplo. O poder do capital frente ao trabalho cresceu nos
últimos anos (BOTELHO, 2000, p. 130).
O regime de acumulação flexível implicou na desregulamentação de
importantes reivindicações conquistadas pela classe trabalhadora, ao longo do
século XX. De acordo com Harvey (2004), as mais relevantes foram: o aumento
da pressão sobre o controle do trabalho, por parte dos empregadores, aliás, uma
força de trabalho enfraquecida, em função do alto grau de instabilidade e de
insegurança que o regime proporciona; a redução do poder sindical; e o aumento
das formas de exploração do trabalho em âmbito global.
Outra mudança significativa nessa nova fase do capitalismo mundial
ocorreu na atividade industrial, principalmente, no que tange às relações de
trabalho, brevemente destacada acima; às relações de produção; e à lógica de
localização das indústrias. A crise do fordismo, um modelo pautado, dentre outros
aspectos, na produção em massa, no início da década de 1970, foi o principal fato
que acarretou na redefinição da lógica de produção industrial.
Benko (1996) desenvolve uma investigação profunda sobre as
transformões pelas quais passou a atividade industrial, destacando os limites
que as antigas teorias de localização apresentam para proporcionar um alicerce
teórico que conta de entender a lógica atual de localização das indústrias em
vel global. O autor ressalta que os elementos do sistema de produção dessa
atividade, no contexto da acumulação flexível, podem ser resumidos em:
[...] utilização de equipamentos (linhas) flexíveis, programáveis e
informatizados, permitindo uma produção muito variada e uma
atenção muito particular no tocante a demanda (mercado), com
uma possibilidade de ajustamento rápido pela alternância dos
procedimentos ou a variação dos participantes. As empresas
tornam-se menores, porém mais especializados (desintegração
vertical), ao passo que as ligações e a sub-contratação se ampliam.
Uma ordem coletiva, social e institucional toma lugar do controle
hierárquico exercido pelas sociedades de produção em massa. O
emprego torna-se mais temporário (e a de tempo parcial) e as
regras internas das firmas, assim como as negociações mais
flexíveis, atribuem aos trabalhadores executivos tarefas mais
variadas (BENKO, 1996, p. 222).
Pensar a atividade industrial, sob o atual regime de acumulação flexível,
implica em compreender uma miríade de mudanças que decorreram da
emergência de novas relações políticas, sociais e econômicas, observadas em
diferentes escalas. As mais notórias são a desconcentração das esferas da
produção, já que as empresas passam a priorizar outros atrativos na implantação
das fábricas (incentivo fiscal, mão-de-obra barata etc.); a apropriação do trabalho
familiar; a terceirização de inúmeros serviços; e a constituição de uma rede
produtiva, que envolve grandes, médias e pequenas indústrias localizadas em
diversas partes do planeta.
Porém, a emergência dessa nova estrutura flexível de produção está
também assentada num contínuo desenvolvimento de tecnologias e de
inovações, que são o suporte técnico para que toda essa engrenagem possa ser
movimentada. Tal suporte influencia todos os interscios da sociedade hodierna,
também incidindo numa nova estrutura de relações econômicas, políticas, sociais
e culturais.
Nada obstante, essas mudanças provocadas não podem ser
compreendidas apenas como alterações de caráter simplesmente técnico. Em
verdade, percebe-se a emergência de um período único no processo de
reprodução da sociedade que, por sua vez, tamm redefine as instâncias da vida
social
42
.
A reestruturação produtiva provocou modificações no processo de
urbanização, acarretando alterações nos papéis que as cidades desempenham
na rede urbana, reestruturando a própria rede urbana, assim como no processo
de estruturação urbana, já que as cidades assumem uma nova lógica como
produto e determinante do regime de acumulão flexível. Para Benko,
É igualmente notório que as grandes metrópoles são os principais
nós das redes físicas e de informáticas e das redes de
telecomunicação, as sedes das organizações financeiras,
comerciais e industriais que se encarregam da realização e da
valorização do capital. São assim os cleos de um novo espaço
de fluxos (BENKO, 1996, p. 127).
42
Vários autores analisam esse período, definindo-o de formas diversas, sem, todavia haver um
consenso. Harvey (2004) analisa essa etapa como a emergência de uma Pós-modernidade e
Giddens (1991) como conseqüências da Modernidade.
A observação do autor é essencial, pois salienta que as metrópoles
passaram a gerenciar o regime de acumulação flexível, porque atraíram ainda
mais para sua estrutura urbana o poder decisório sobre as esferas políticas,
econômicas e financeiras. Entretanto, em âmbito mundial, devem ser ressaltados
dois pontos importantes nesse processo. Primeiro, as metrópoles apresentam
conteúdos e papéis diferenciados, portanto, estruturam-se de forma também
diferenciada, ainda que articuladas às transformões globais. Segundo, as
cidades médias e pequenas assumiram papéis importantes no processo, o que
acarretou também na modificação de sua estrutura urbana, redefinindo os usos
do solo urbano, a lógica das centralidades e as relações tempo-espaço nessas
cidades (SPOSITO, 1991a; MONTESSORO, 2001; WHITACKER, 2003;
SPOSITO, 2004; e SILVA, 2006).
Está claro que o processo de reestruturação produtiva provocou a
constituição de novas relações tempo-espaço no nível intra-urbano nas
metrópoles, cidades médias e cidades pequenas, o que faz entender que um
movimento específico na contemporaneidade alicerçando a reprodução da vida
cotidiana.
As mudanças iniciais na estrutura urbana de várias metrópoles no
mundo, todavia, ocorreram, ainda, durante o desenvolvimento do regime fordista
de produção. No Brasil, tais alterações na estruturação das cidades, sobretudo,
nas metrópoles, são datadas da cada de 1960, por mais que o processo tenha
adquirido contornos definidos, a partir da década de 1980. É por isso que Sposito
observa que “há uma defasagem temporal entre a origem da ocorrência de novas
dinâmicas que orientam o contínuo processo de estruturação das cidades e a
efetiva redefinição de suas morfologias urbanas” (SPOSITO, 2004, p. 384).
De acordo com a autora, é preciso levar em consideração que a
reestruturação ocorre quanto há a intensidade do fenômeno e sua freqüência se
torna prevalente nas lógicas que orientam o movimento de determinações
socioespaciais urbanas, não necessariamente em número, mas em importância; e
quando há articulação entre diferentes dinâmicas que possibilita a reorientação
das lógicas, segundo as quais a estrutura urbana vai se reorganizar (SPOSITO,
2004, p. 384-385).
Acreditamos que é importante especificarmos os fatores que
influenciaram as primeiras alterações na cidade, articulando-os ao surgimento de
novos nexos na estruturação urbana; do mesmo modo que os elementos que
demonstram uma mudança efetiva na estrutura urbana, significando assim uma
real reestruturação urbana e da cidade.
Como percebemos que há um descompasso na disseminação das
mudanças em âmbito global, considerarmos essencial pensar a reestruturação
em correspondência com a história de cada formação socioespacial. Por isso,
vamos tecer as observações relacionando-as ao processo de urbanização dos
países latino-americanos que, apesar de importantes diferenças, apresentam
certas particularidades passíveis de correlação.
Outro elemento muito significativo na análise da reestruturação urbana
foi, sem dúvida, a modificação no padrão de consumo da sociedade, ocorrida
partir da metade do século XX. Por isso, as alterações acarretadas na
estruturação da cidade não devem ser associadas, apenas, à emergência do
regime de acumulação flexível, mas, igualmente, às implicações do modelo
fordista nos padrões de consumo.
O aumento na produção e no consumo de bens duráveis e não-
duráveis, a expansão territorial das cidades, o aumento da articulação interna
entre os espaços urbanos e a atuação do Estado na implantação de infra-
estrutura e serviços urbanos, principalmente nas metrópoles, não são originários
do regime de acumulação flexível. Eles ocorreram durante a hegemonia do
modelo fordista. Sem dúvida, esses fatos são importantes para entendermos o
processo de reestruturação urbana e da cidade.
A gica que relaciona a acumulação flexível ao consumo, por outro
lado, é diferente.
Ela se apóia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos
mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo.
Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção
inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços
financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente
intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional.
A acumulação flexível envolve pidas mudanças dos padrões de
desenvolvimento desigual, tanto entre setores como entre regiões
geográficas, criando, por exemplo, um vasto movimento de
emprego no chamado “setor de serviços”, bem como conjuntos
industriais completamente novos em áreas até então
subdesenvolvidas (HARVEY, 2004, p. 140).
Na atual fase do capitalismo, percebe-se uma superposição entre
estratégias fordistas e estratégias flexíveis influenciando a sociedade, sobretudo,
nas seguintes questões:- modificação do consumo global, redefinindo o tempo de
consumo dos produtos, o que faz com que as mercadorias nasçam superadas
e o ciclo de rotação dos padrões de estética e da moda sejam encurtados; -
aumento da terceirização e da terciarização
43
; redefinição do setor de serviços,
provocando a expansão no consumo de certos produtos (telefonia, marketing,
serviços bancários etc) e internacionalização de serviços estratégicos
(CHESNAIS, 1996); crescimento do setor de comércio e serviços, associados às
novas tecnologias; e, principalmente, alteração dos padrões e fluxos de consumo
em todo o globo.
No caso de Salvador, nos 30 últimos anos, profundas mudanças
estruturais (principalmente econômicas e políticas) acarretaram numa redefinição
do papel da metrópole regional, no que diz respeito à sua função de centralidade,
tanto no contexto estadual, quanto no contexto intra-metropolitano. Isso pode ser
observado, primeiramente, pela própria participação do município de Salvador no
PIB (Produto Intero Bruto) da Bahia e da Região Metropolitana de Salvador
(Tabelas 1 e 2).
Os dados revelam o crescimento da participação do PIB da Região, na
Bahia. Contudo, se os dados revelam, por um lado, significativa participação de
Salvador na economia do Estado; por outro, percebe-se que nos últimos 25 anos
essa participação diminui um pouco, ao mesmo tempo em que no interior da
Região Metropolitana de Salvador a participação dos municípios de Camaçari e
São Francisco do Conde teve forte crescimento. Esse crescimento está
relacionado ao processo de implantação das atividades produtivas, em especial
industrial, nesses municípios, a partir da década de 1960.
43
Lemos (1991) analisa esse processo a partir de uma relação fatorial. Para ele, a terciarização é
a razão entre o PIB total e o PIB terciário. Para Santos, o estudo da terciarização envolve uma
relação escalar, cabendo, assim “conhecer o lugar que cabe a cada qual em relação à economia
global e como se articula com as demais variáveis” (SANTOS, 2005, p. 82).
Tabela 1: Região Metropolitana de Salvador
Produto Interno Bruto, por municípios, 1949/2003.
Produto Interno Bruto
Valores absolutos (R$ de 2000
1
)
Munipios
1949 1970 1980 1999 2003
Camaçari 5.303,54 160.840,33
4.128.236,85
5.815.595,39
8.987.248,81
Candeias ...
120.361,02
769.499,42
955.576,86
1.261.142,61
Dias D´Ávila ...
...
...
738.608,96
698.632,02
Itaparica 12.542,94
22.607,06
21.692,44
53.876,18
47.055,92
Lauro de Freitas ...
15.440,07
94.370,30
527.507,87
597.028,48
Madre de Deus ...
...
...
118.177,82
205.050,00
Salvador 825.461,52
3.796.737,84
9.631.022,94
10.429.309,17
8.793.218,54
São Fran. do Conde
9.579,72
624.897,22
1.131.164,12
4.063.650,87
5.948.251,36
Simões Filho ...
203.683,09
1.316.358,44
1.117.908,53
1.348.788,56
Vera Cruz ...
9.337,88
34.213,51
84.915,81
72.715,42
Total da RMS 852.887,72
4.953.904,51
17.126.558,0
23.905.127,46
27.959.131,72
Total da Bahia 2.759.605,52
10.831.013,70
30.589.572,9
45.553.802,52
53.096.792,99
Fonte: IPEA, Base de dados macroeconômicos, financeiros e regionais do Brasil.
Notas: ... Informão indisponível.
1 – Deflacionado pelo Deflator Implícito do PIB nacional.
Tabela 2: Região Metropolitana de Salvador
Participação no Produto Interno Bruto estadual, por munipios (%), 1949/2003.
Produto Interno Bruto
Percentual no total do Estado da Bahia
1
Municípios
1949
1959
1970
1980
1985
1999
2003
Camaçari 0,19
0,12
1,48
13,50
19,71
12,77
16,93
Candeias ...
0,15
1,11
2,52
3,49
2,10
2,38
Dias D´Ávila ...
...
...
...
...
1,62
1,38
Itaparica 0,45
0,34
0,21
0,07
0,05
0,12
0,09
Lauro de Freitas ...
...
0,14
0,37
0,29
1,16
1,12
Madre de Deus ...
...
...
...
...
0,26
0,39
Salvador 29,91
31,10
35,05
31,48
22,13
22,89
16,56
São Francisco do Conde 0,35
4,57
5,77
3,70
5,01
8,92
11,20
Simões Filho ...
...
1,88
4,30
3,63
2,45
2,54
Vera Cruz ...
...
0,09
0,11
0,18
0,19
0,14
Total da RMS 30,91
30,27
45,74
55,99
54,49
52,48
52,66
Fonte: IPEA, Base de dados macroeconômicos, financeiros e regionais do Brasil.
Notas: ... Informação indisponível.
1 - Deflacionado pelo Deflator Implícito do PIB nacional.
Ainda relacionado ao Produto Interno Bruto municipal, com a
perspectiva de fazer uma análise mais detalhada, observamos dois setores muito
importantes para a economia de Salvador e da Região Metropolitana: as
atividades de industrial e de serviços. Os dados demonstram que essa tendência
ao arrefecimento do papel econômico da metrópole soteropolitana é mais incisiva.
No que diz respeito à atividade industrial, os dados ratificam a completa
modificação na estrutura produtiva da metrópole, já nos anos de 1960,
relacionada à sua participação no PIB industrial estadual. Salvador, que contribuía
com mais de 50% no PIB industrial durante as décadas de 1940 e 1950, passou a
ter, em 2003, uma participação inferior a 10% (Tabela 3).
Tabela 3: Região Metropolitana de Salvador
Participação no Produto Interno Bruto Industrial do Estado, por municípios (%), 1949/2003
Produto Interno Bruto Industrial
Percentual no total do Estado da Bahia
1
Munipios
1949 1959 1970 1980 1999 2003
Camaçari 0,13
0,20
4,15
32,01
24,83
30,31
Candeias ...
0,15
3,29
5,31
3,89
4,10
Dias D´Ávila ...
...
...
...
3,18
2,16
Itaparica 1,38
0,50
0,46
0,05
0,13
0,08
Lauro de Freitas ...
...
0,22
0,41
0,95
0,85
Madre de Deus ...
...
...
...
0,52
0,74
Salvador 54,53
36,79
35,91
21,29
13,94
8,58
São Francisco do Conde 1,51
20,36
18,73
5,61
13,91
18,81
Simões Filho ...
...
6,39
10,21
3,96
3,77
Vera Cruz ...
...
0,06
0,05
0,08
0,07
Total da RMS 57,56
57,99
69,21 74,93
65,39
69,48
Fonte: IPEA, Base de dados macroeconômicos, financeiros e regionais do Brasil.
Notas: ... Informação indisponível.
1 - Deflacionado pelo Deflator Implícito do PIB nacional.
A industrialização que ocorreu na Bahia desenvolveu-se tardiamente,
se relacionada à Região Sudeste do país. Nas décadas de 1940 e 1950, início do
processo, algumas indústrias concentraram-se em Salvador. Contudo, a partir da
década de 1960, a implantação dos complexos industriais não foi direcionada e
nem privilegiou restritamente a cidade, mas seu entorno, principalmente, os
municípios de Camaçari e São Francisco do Conde, localizados no Recôncavo
Baiano.
Em 2001, outro evento importante para esse declínio vertiginoso na
participação de Salvador no PIB industrial estadual foi a implantação do
Complexo Ford, também em Camaçari; um episódio, aliás, nacionalmente
discutido, na medida em que envolveu uma verdadeira guerra fiscal entre os
Estados da Bahia e Rio Grande do Sul.
Destarte, a metrópole soteropolitana, que não possuía a hegemonia
na contribuição municipal no PIB industrial para a Bahia, passou a ter, em
princípio, um papel completamente secundário no que tange ao poder da
produção industrial em relação ao Estado. Menos ainda em relação à Região
Metropolitana de Salvador, que, na cada de 1980, passou a contribuir com um
percentual de 74,93% do PIB industrial da Bahia.
A metrópole soteropolitana sempre teve como base de sua economia
as atividades que envolvem a prestação de servidos e o comércio. Salvador,
entretanto, nos últimos anos, vem apresentando um acentuado decréscimo na
participação estadual do PIB. Até a década de 1970, correspondia a uma
participação que girava em torno de 50% do PIB estadual nos setores comercial e
de serviços. Durante esse período, foi responsável por mais de 95% do PIB
comercial e de serviços da Região Metropolitana (Tabela 4). Entre os anos de
1970 e 1980, os municípios de Camaçari e São Francisco do Conde passaram a
elevar de forma significativa sua participação no PIB estadual nesses setores, o
que, concomitantemente, elevou a participação da Região Metropolitana em
relação ao Estado. Todavia, até a cada de 1980, Salvador ainda dominava a
participação estadual, mantendo-se com 50,54%.
Em primeiro lugar, o que essas informações comprovam é que, apesar
da implantação dos complexos industriais ter ocorrido na área da Região
Metropolitana, durante os anos de 1960 e 1980, parece que grande parte dos
bens e serviços gerados continuou a ser consumida em Salvador, pois, nesse
contexto, a metrópole manteve acentuada sua participação no setor terciário.
Várias pesquisas sobre esse período demonstram esse fato (SILVA, 1972;
ANDRADE, 1973; e MATTEDI, 1979).
Tabela 4: Região Metropolitana de Salvador
Participação no Produto Interno Bruto Comercial e de Serviços do Estado, por
municípios (%), 1949/2003
Produto Interno Bruto Comercial e de Serviços
Percentual no total do Estado da Bahia
1
Munipios
1949 1959 1970 1980 1999 2003
Camaçari 0,29
0,12
0,52
3,05
4,43
5,03
Candeias ...
0,21
0,47
1,12
1,08
1,04
Dias D´Ávila ...
...
...
...
0,62
0,52
Itaparica 0,52
0,44
0,13
0,10
0,13
0,12
Lauro de Freitas ...
...
0,12
0,31
1,50
1,58
Madre de Deus ...
...
...
...
0,13
0,12
Salvador 44,48
50,07
48,70
50,54
33,94
29,78
São Francisco do Conde 0,02
0,15
1,71
3,40
3,91
4,54
Simões Filho ...
...
0,40
1,03
1,49
1,36
Vera Cruz ...
...
0,08
0,19
0,26
0,23
Total da RMS 45,32
50,99
52,13
59,75
47,48
44,32
Fonte: IPEA, Base de dados macroeconômicos, financeiros e regionais do Brasil.
Notas: ... Informação indisponível.
1 - Deflacionado pelo Deflator Implícito do PIB nacional.
Contudo, diferente do setor industrial que a Região Metropolitana de
Salvador passou a ter ampla hegemonia, a partir da década de 1990, percebe-se
que tanto Salvador quanto a própria Região metropolitana, perdeu força na
participação do PIB do setor terciário, declinando de quase 60% em 1980, para
44,32%, em 2003, no Estado da Bahia. Esses indicadores revelam algo verossímil
e importante desencadeado nas duas últimas décadas: o crescimento da
participação dos pequenos municípios no PIB comercial e de serviços na Bahia
44
(Gráfico 2).
Em primeira instância, esses dados poderiam pressupor que Salvador,
sob certo aspecto, da mesma forma que outras metrópoles brasileiras, estaria
passando por um processo de desmetropolização ou involução metropolitana
45
;
ou seja, estaria havendo um esvaziamento do poder que a metrópole regional
possui em relação às demais cidades, principalmente, aquelas circundantes.
44
Estão sendo considerados como pequenos municípios aqueles com população inferior a
100.000 habitantes, localizados fora da Região Metropolitana, com base na metodologia adotada
pelo Projeto Urbanização e Produção de Cidades na Bahia, desenvolvida em 2005.
45
Santos (1993).
Contudo, outros dados revelam uma tendência contrária a esse
processo, pelo menos, em relação à influência que a metrópole soteropolitana
tem em relação às demais áreas do Estado da Bahia, juntamente com o território
metropolitano.
Os dados sobre o crescimento do volume de aplicações bancárias nos
municípios da Região Metropolitana de Salvador contribuem para estabelecer
uma analogia em relação às mudanças na participação desses municípios em
relação a Unidade Federativa. As informações pesquisadas revelam que, entre
1991 e 2000, Salvador reduziu o volume de aplicações bancárias.
Percentualmente, em relação ao Estado, passou de mais de 80%, em 1991, para
aproximadamente, 70%, em 2000 (Tabela 5).
Entretanto, percebe-se que a redução o foi exclusiva de Salvador.
Concomitantemente, ocorreu redução em Camaçari e São Francisco do Conde,
municípios com forte base industrial. Já os pequenos municípios vêm elevando
sua participação, o que leva a compreender que a redução das aplicações
bancárias em Salvador refere-se, muito mais, ao aumento da participação dos
pequenos (menos de 100.000 habitantes) e médios (com mais de 100.000
habitantes) municípios, localizados fora da RMS (Tabela 6).
Fonte: IPEA.
0
10
20
30
40
50
60
70
1949 1959 1970 1980 1999 2003
Salvador
RMS
Municípios com menos de
100.000 hab, exceto RMS
Municípios com mais de
100.000 hab, exceto RMS
Gráfico
2:
Bahia
Produto Interno Bruto Comercial e de Serviços, por grupos de
municípios (%), 1949/2003
Tabela 5: Região Metropolitana de Salvador
Volume de Aplicações Bancárias, valores absolutos e participação no Estado, por municípios,
1991/2000
Volume de Aplicações Bancárias
Valores absolutos (R$ de 2000
1
)
Percentual no total do
Estado da Bahia
1
Municípios
1991 1996 2000 1991 1996 2000
Camaçari 396.165,52
225.601,10
152.989,37
2,22
2,83
1,58
Candeias 3.645,36
13.566,34
18.611,82
0,02
0,17
0,19
Dias D´Ávila 1.013,43
1.173,46
3.609,56
0,01
0,01
0,04
Itaparica 318,42
2.872,19
2.606,79
0,00
0,04
0,03
Lauro de Freitas 5.876,36
21.252,21
55.486,70
0,03
0,27
0,57
Madre de Deus ...
...
...
...
...
...
Salvador 14.416.108,31
5.873.106,40
6.710.053,83
80,92
73,75
69,29
São Fran do Conde 374,84
2.161,71
1.632,14
0,00
0,03
0,02
Simões Filho 90.520,43
43.774,93
64.903,17
0,51
0,55
0,67
Vera Cruz 41,56
...
...
0,00
...
...
Total da RMS 14.914.064,23
6.183.508,34
7.009.893,38
83,72
77,65
72,39
Total da Bahia 17.815.094,80
7.963.760,90
9.684.126,60
100,00
100,00
100,00
Fonte: IPEA, Base de dados macroeconômicos, financeiros e regionais do Brasil.
Notas: ... Informação indisponível.
0,00 Dado numérico igual a zero, resultante de arredondamento.
1 - Deflacionado pelo Deflator Implícito do PIB nacional.
Tabela 6: Bahia
Participação no Volume de Aplicações Bancárias do Estado, por grupos de munipios,
1991/2000.
Volume de Aplicações Bancárias
Percentual no total do Estado da Bahia
1
Munipios
1991 1996 2000
Salvador 80,92
73,75
69,29
Região Metropolitana de Salvador 83,72
77,65
72,39
Municípios com mais de 100.000, exceto RMS 6,82
8,84
12,60
Municípios com menos de 100.000, exceto RMS
9,46
13,51
15,01
Total da Bahia 100,00
100,00
100,00
Fonte: IPEA, Base de dados macroeconômicos, financeiros e regionais do Brasil.
Nota: 1 - Deflacionado pelo Deflator Implícito do PIB nacional.
Assim sendo, é notório que os municípios de Camari e São Francisco
do Conde, detentores juntos, em 1999, de mais de 38% do PIB industrial
estadual, e em 2003, quase 50% desse, apresentam uma participação incipiente
no que diz respeito às aplicações bancárias. O primeiro, inclusive, reduziu
significativamente a participação no total estadual no mesmo período em que teve
elevada a sua contribuição no PIB industrial.
Outro dado significativo refere-se ao volume do capital residencial
urbano
46
. Entre as décadas de 1970 e 2000, período posterior às intensas
modificações provocadas pelo processo de industrialização na estrutura produtiva
da área metropolitana, as informações analisadas comprovam que as oscilações
na redistribuição do capital residencial urbano são pequenas, tanto em relação à
Salvador, quanto em relação à Região Metropolitana, se comparadas à
participação dos demais municípios do Estado (Tabela 7).
Tabela 7: Região Metropolitana de Salvador
Participação no Capital Residencial Urbano do Estado, por municípios (%), 1970/2000
Capital Residencial Urbano
Percentual no total do Estado da Bahia
1
Munipios
1970 1980 1991 2000
Camaçari 0,51
1,27
1,53
1,70
Candeias 0,64
0,72
0,69
0,77
Dias D´Ávila ...
...
0,38
0,47
Itaparica 0,18
0,10
0,11
0,18
Lauro de Freitas 0,09
0,36
0,60
1,66
Madre de Deus ...
...
0,12
0,16
Salvador 52,37
52,49
56,67
49,55
São Francisco do Conde 0,17
0,10
0,13
0,20
Simões Filho 0,12
0,37
0,50
0,80
Vera Cruz 0,08
0,12
0,23
0,27
Total da RMS 54,16
55,53
60,96
55,76
Fonte: IPEA, Base de dados macroeconômicos, financeiros e regionais do Brasil.
Notas: ... Informação indisponível.
1 - Deflacionado pelo Deflator Implícito do PIB nacional.
Os dados demonstram que a metrópole soteropolitana possui
praticamente 50% do valor presente do fluxo de aluguéis mensais do total do
Estado da Bahia, mesmo nos anos de intensa redução na participação do PIB,
ocorrida a partir da cada de 1990. Esses dados permitem compreender que o
volume de capital urbano que circula nas cidades baianas es fortemente
concentrado em Salvador.
Observamos, assim, que, mesmo com um processo de redefinição
territorial dos investimentos e com a desconcentração/(re)concentração das
atividades nas escalas da Região Metropolitana e do Estado da Bahia,
associadas à implantação e ao deslocamento do capital industrial para outros
municípios da Região Metropolitana, a partir da década de 1960, bem como pelo
aumento do PIB do setor terciário nos municípios não-metropolitanos, a partir de
1980, os índices de investimentos ainda estão altamente concentrados em
Salvador, denotando o alto grau de centralização econômica que a metrópole
representa em relação ao Estado da Bahia. Essa informação pode ser
comprovada, também, pela análise da receita orçamentária municipal e, mais
detalhadamente, pelas receitas tributárias oriundas do IPTU (Imposto Predial e
Territorial Urbano) e da arrecadação de impostos em geral.
No que se refere à receita tributária municipal composta pelo IPTU
47
, os
dados analisados demonstram que Salvador, nos últimos 13 anos, detém em
torno de 74% de todo o IPTU arrecadado pelos municípios baianos. Revelam,
igualmente, que os municípios beneficiados pela implantação dos parques
industriais, contribuindo com maior participação no PIB industrial na Bahia,
obtiveram aumento expressivo no que diz respeito a esse indicador, sem afetar,
todavia, a participação de Salvador em relação à Bahia (Tabela 8).
46
Valor presente do fluxo perpétuo constante dos aluguéis mensais, descontada a taxa de 0,75%
a.m.
47
Este indicador relaciona-se ao registro dos valores do tributo, tendo como instrumento de
geração a propriedade, o domínio útil ou a posse de bem ivel por natureza ou por acessão
física, como definido na lei civil, localizado na zona urbana do município, fixada em Lei municipal
específica.
Tabela 8: Região Metropolitana de Salvador
Participação na Receita Tributária Municipal (IPTU) do Estado, por municípios (%)
1993/2004
Receita Tributária Municipal (IPTU)
Percentual no total do Estado da Bahia
1
Munipios
1993 2000 2004
Camaçari 2,39
5,39
7,52
Candeias 0,15
0,55
1,45
Dias D´Ávila 0,50
0,58
0,51
Itaparica 0,16
0,24
0,23
Lauro de Freitas 1,91
2,62
3,42
Madre de Deus 0,19
0,70
0,62
Salvador 74,92
73,84
73,41
São Francisco do Conde 0,09
0,62
0,44
Simões Filho 0,71
0,82
1,26
Vera Cruz 0,95
0,60
0,38
Total da RMS 81,95
85,96
89,23
Fonte: IPEA, Base de dados macroeconômicos, financeiros e regionais do Brasil.
Nota: 1 - Deflacionado pelo Deflator Implícito do PIB nacional.
No caso específico de São Francisco do Conde, há, inclusive, uma
pequena redução em sua participação no total do Estado. Com relação a
Camari, percebe-se um aumento significado nos últimos 10 anos, que não
decorre da diminuição relativa da participação de Salvador, que se manteve,
como mencionamos anteriormente, com quase 74% do total estadual. Apesar
disso, esse aumento parece ter acentuado o poder da Região Metropolitana em
relação ao Estado, elevando sua contribuição de 81,95%, em 1993, para 89,23%,
em 2004.
Os dados alusivos à receita municipal, atinentes à arrecadão do total
de impostos
48
, nos últimos anos, mostram uma variação pequena de Salvador em
relação à sua participação no total do Estado da Bahia e da Região Metropolitana.
O município mantém um montante de quase 60% da arrecadação desses tributos
no conjunto dos municípios do Estado da Bahia (Tabela 9), tendo uma população
que correspondia a apenas 18,8%
49
do total do Estado, em 2000.
48
Valores totais relativos à soma do IPTU, Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) e
Outros Tributos.
49
IBGE.
Tabela 9: Região Metropolitana de Salvador
Participação na Receita Tributária Municipal (Total de impostos) do Estado, por
municípios (%) 1993/2004
Receita Tributária Municipal (Total de impostos)
Percentual no total do Estado da Bahia
1
Munipios
1993 2000 2004
Camaçari 7,10
5,59
7,88
Candeias 1,98
1,55
3,02
Dias D´Ávila 0,69
0,92
0,80
Itaparica 0,05
0,14
0,13
Lauro de Freitas 1,55
3,71
3,34
Madre de Deus 0,38
0,45
1,05
Salvador 61,69
64,26
59,86
São Francisco do Conde 0,96
0,92
2,53
Simões Filho 1,09
1,02
1,70
Vera Cruz 0,56
0,56
0,33
Total da RMS 76,06
79,13
80,66
Fonte: IPEA, Base de dados macroeconômicos, financeiros e regionais do Brasil.
Nota: 1 - Deflacionado pelo Deflator Implícito do PIB nacional.
Ocorrem aumentos expressivos na participação de São Francisco do
Conde e Camaçari, municípios que se industrializaram; em Candeias, que se
caracteriza como uma cidade dormitório, função fortalecida pela implantação das
indústrias na Região Metropolitana, a partir da década de 1960; em Lauro de
Freitas, cujo espaço urbano está aglomerado com Salvador; bem como em outros
pequenos municípios.
Sobre a questão da receita orçamentária municipal
50
, os dados revelam
uma mudança na posição da metrópole regional. Nota-se que, entre 1993 e 2004,
quase dobrou o nível de participação de Salvador em relação ao Estado,
estendendo-se de 17,40%, para 30,77% (Tabela 10). Camari e São Francisco
do Conde, cuja participação no PIB estadual foi muito expressiva no período,
sobretudo no PIB industrial, alteraram pouco sua receita orçamentária no mesmo
interregno temporal, constituindo participação pouco significativa no total da
Região Metropolitana. Diferentemente de Salvador que, com seu aumento, faz
com que a Região Metropolitana de Salvador detenha, atualmente, mais de 50%
da receita orçamentária municipal da Bahia.
50
Este indicador refere-se às receitas correntes e de capital.
Tabela 10: Região Metropolitana de Salvador
Participação na Receita Orçamentária Municipal do Estado, por municípios (%)
1993/2004
Receita Orçamenria Municipal
Percentual no total do Estado da Bahia
1
Municípios
1993 2000 2004
Camaçari 5,37
5,07
6,49
Candeias 0,97
1,07
2,02
Dias D´Ávila 0,72
0,70
1,12
Itaparica 0,12
0,16
0,28
Lauro de Freitas 0,69
1,29
2,20
Madre de Deus 0,24
0,63
1,51
Salvador 17,40
24,50
30,77
São Francisco do Conde 1,53
1,34
3,63
Simões Filho 1,63
1,20
1,93
Vera Cruz 0,23
0,27
0,35
Total da RMS 28,91
36,21
50,30
Fonte: IPEA, Base de dados macroeconômicos, financeiros e regionais do Brasil.
Nota: 1 - Deflacionado pelo Deflator Implícito do PIB nacional.
Esses dados revelam, portanto, que precisamos fazer uma análise mais
acurada sobre as transformões pelas quais vêm passando as metrópoles
brasileiras e, em específico, as metrópoles regionais, porque revelam certa
complexidade nas alterações do papel que exercem na rede urbana. Nessa
discussão, é fundamental pensar o papel desempenhado pelas metrópoles
regionais na rede urbana, articulado às redefinições nas estruturas produtivas em
escalas geográficas diversas. Do mesmo modo, é preciso discutir de que forma
tais redefinições implicam em alterações no processo de estruturação urbana e
das cidades.
Todavia, os impactos do processo de reestruturação produtiva em
Salvador o são verificáveis apenas no nível regional e de suas relações com o
Estado. A própria composição da estrutura social intra-urbana passou por
modificações importantes, nos últimos anos, que também são um indicativo dessa
nova fase do capitalismo mundial e das repercussões que provocou nas áreas
urbanas.
Um primeiro indicador importante para compreendermos as alterações
na estrutura social em Salvador é o mercado de trabalho e sua relação com os
principais setores de ocupação (Gráfico 3). Nas últimas décadas, ocorreu uma
expansão expressiva dos empregos associados aos setores de serviços e
atividades comerciais, em detrimento da indústria e dos setores primários
51
.
Desde a década de 1950, os setores de serviços e comércio sempre
foram os maiores provedores de emprego para a população soteropolitana e para
os migrantes
52
, tanto dos que vieram de outros municípios para a RMS, em
função da instalação das indústrias, que não absorveu todo o contingente de
trabalhadores, quanto para os residentes das áreas próximas, que realizam os
deslocamentos pendulares. O crescimento constante do PIB de serviços, entre os
anos de 1959 e 1999, foi uma prova desse fato, acarretando no aumento do
pessoal ocupado no comércio e serviços, no interregno temporal, passando de
70% do total das ocupações, em 1970, para 79,07%, em 1985, e para 90,24%,
em 1996. A partir desse período, ocorreu uma pequena redução para 88,01%, em
2004, do mesmo modo que reduziu o PIB comercial e de serviços (Gráfico 4).
51
Referentes a pesca e a agricultura.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
1970 1975 1980 1985 1996 2004
Setores primários
Comércio e Servos
Indústria
Gráfico 3
:
Salvador
Pessoal ocupado Total, 1970/2004
Fonte: IPEA e IBGE.
Esse crescimento expressivo do emprego, associado às atividades
comerciais e de serviços, é uma facetas dessa nova fase do capitalismo e suas
repercussões em Salvador; por um lado, percebe-se uma transformação no papel
que a atividade industrial vem desempenhando no período atual, em que impera o
modelo de acumulação flexível, uma lógica diferente do período fordista. Assim,
minimizando-se a lógica da produção em massa e ampliando-se os sistemas
técnicos e informacionais nas indústrias, ocorreu uma redução relativa importante
dos postos de emprego no setor.
É fundamental observarmos que em Salvador não notamos um
processo de “desindustrialização absoluta” (CARVALHO, ALMEIDA e AZEVEDO,
2004), pois mesmo sendo nítida a redução relativa da participação das ocupações
na indústria, em números absolutos, percebe-se um pequeno crescimento, que
passou de 9,53%, em 1996, para 11,65%, em 2004, segundo dados do IBGE. A
maior contribuição vem de um setor que voltou a crescer no final da década de
1990 e início de 2000, o da indústria da construção (Tabela 11).
52
Segundo Beajeu-Garnier (1961), qualquer deslocamento humano é uma migração, podendo
variar na escala temporal ou espacial.
0
1000000
2000000
3000000
4000000
5000000
6000000
7000000
8000000
1949 1959 1970 1980 1999 2004
Gráfico
4
:
Salvador
Crescimento do PIB total de servos, 1970/2004
Fonte: IPEA e IBGE
Tabela 11: Salvador
Pessoal ocupado total e em percentuais, por ramo dos setores produtivos, 1996/2004.
Pessoal Ocupado
Valores absolutos e relativos
1996 2000 2004 1996-2004
Ramo
1996 (%) 2000 (%) 2004 (%) Crescimento
Comércio
Reparação de veículos a varejo de combustíveis
6.269
1,31
12.942
2,05
15.013
2,45
87,02
Atacado, representantes e agentes
7.919
1,66
13.274
2,11
16.261
2,66
60,24
Varejista e reparação de objetos
39.719
8,33
81.507
12,93
98.781
16,13
93,64
Total do comércio 53.907
11,30
107.723
17,08
130.055
21,24
87,96
Serviços
Alojamento e alimentação
20.025
4,20
24.619
3,90
29.552
4,83
15,00
Transporte, armazenagem e comunicações
35.758
7,50
39.279
6,23
37.819
6,18
-17,60
Financeiros
16.264
3,41
13.430
2,13
11.544
1,89
-44,57
Atividades imobiliárias
16.733
3,51
18.674
2,96
28.182
4,60
31,05
Aluguel de serviços (em geral)
1.928
0,40
2.820
0,45
3.155
0,52
30,00
Atividades de informática e serviços relacionados
4.213
0,88
4.834
0,77
7.100
1,16
31,82
Pesquisa e desenvolvimento
154
0,03
180
0,03
506
0,08
166,67
Serviços prestados principalmente às empresas
34.181
7,17
44.763
7,10
56.691
9,26
29,15
Administraçãoblica, defesa e seguridade social
173.070
36,28
220.788
35,01
126.841
20,72
-42,89
Educação
25.834
5,42
28.577
4,53
29.699
4,85
-10,52
Saúde e serviços sociais
27.511
5,77
32.240
5,11
42.795
6,99
21,14
Limpeza e saneamento
3.637
0,76
4.062
0,64
3.933
0,64
-15,79
Atividades associativas
8.672
1,82
13.490
2,14
16.891
2,76
51,65
Atividades recreativas, culturais e desportivas
5.344
1,12
5.702
0,90
8.020
1,31
16,96
Serviços pessoais
3.251
0,68
4.827
0,77
6.083
0,99
45,59
Total dos serviços 376.575
78,94
458.285
72,68
408.811
66,77
-15,42
Indústria
Indústrias extrativas
4.016
0,84
1.408
0,22
1.329
0,22
-73,81
Indústrias de transformação
18.377
3,85
25.950
4,12
27.270
4,45
15,58
Prodão e distribuição de eletricidade, gás e água
7.186
1,51
5.283
0,84
4.899
0,80
-47,02
Construção
15.891
3,33
28.588
4,53
37.816
6,18
85,59
Total da indústria 45.470
9,53
61.229
9,71
71.314
11,65
22,25
Setor Primário
Agricultura, pecuária, silvicultura e exploração florestal
947
0,20
3.047
0,48
1.935
0,32
60,00
Pesca
131
0,03
295
0,05
197
0,03
0,00
Total do setor primário 1.078
0,23
3.342
0,53
2.132
0,35
52,17
Fonte: IBGE
Nota: 0,00 Dado numérico igual a zero, resultante de arredondamento.
Por outro lado, notamos ainda que na metrópole soteropolitana, como
nas demais cidades brasileiras, a massiva expansão das ocupações nas
atividades terciárias revela as facetas de um duplo processo, que tamm está
associado às mudanças na estrutura produtiva da sociedade: a terceirização e a
terciarização da economia.
Entretanto, é importante ressalvar que não foram todos os ramos das
ocupações ligadas aos setores terciários que cresceram. Em meros absolutos,
houve um crescimento de 8,0% nos serviços, passando de 376.575, em 1996,
para 408.811, em 2004; em dados relativos, esse crescimento foi negativo de -
15,4% no mesmo período. Esse fenômeno, aliás, foi diferente do que ocorreu com
as ocupações no comércio, que teve um crescimento em todas as atividades. Em
dados relativos, as ocupações nos ramos do comércio cresceram 87,9%, entre
1996 e 2004, e em dados absolutos 141,0%, passando de 53.907, em 1996, para
130.055, em 2004.
A redução nas ocupações dos serviços parece que está associada a
outra característica da nova fase do capitalismo: a mudança no papel
desempenhado pelo Estado. Entre os ramos dos serviços que tiveram maior
redução na oferta de postos de trabalhos, entre 1996 e 2004, estão: a de
administração blica (-42,89%), limpeza e saneamento (-15,79%) e educação (-
10,52%). Apenas os serviços administração pública reduziram, entre 2000 e 2004,
quase 100.000 postos de emprego. Além dessa redução das ocupações de
administração blica, também é um indicador de mudanças no papel do Estado
o processo de privatizão: do sistema de telefonia, de bancos públicos, do
transporte ferrovrio, entre os ramos principais em Salvador.
Carvalho, Almeida e Azevedo (2004) revelam informões que,
sobremaneira, demonstram essas mudanças na estrutura das ocupações em
Salvador. Os autores observam que, entre as cadas de 1980 e 1990, ocorreu
uma significativa redução nos postos de trabalho assalariado (precarização dos
vínculos) concomitante ao crescimento da informalidade; uma redução no
rendimento das famílias; além de um crescimento massivo nos índices de
desemprego. Segundo o IBGE, entre 1996 e 2004, esses indicadores
permaneceram e, ademais, mantêm Salvador como a metrópole brasileira que
possui as mais altas taxas de desemprego.
A evidente influência que as transformões tecnológicas provocaram
na sociedade, atingindo todos os setores da economia e dimensões da vida
cotidiana, também afetou os postos de empregos. De acordo com Carvalho,
Almeida e Azevedo,
[...] fica patente a redução dos postos em setores que
experimentaram intensa renovação tecnológica e organizacional ou
que foram objeto de privatizações, como a indústria petroquímica e
outros ramos da indústria de transformação, os serviços creditícios
e financeiros e os serviços de utilidade pública [...] (CARVALHO,
ALMEIDA E AZEVEDO, 2004, p. 178).
O fortalecimento do papel que os sistemas financeiros passaram a
desempenhar na sociedade, outra expressão importante dessa nova fase do
capitalismo global, também é observado em Salvador. A expansão do número de
unidades ligadas aos setores financeiros foi massiva entre os anos de 1996 e
2004 (Gráfico 05). Entretanto, como são serviços influenciados pelo avanço
tecnológico, esse crescimento foi acompanhado por uma significativa redução nos
postos de empregos durante o mesmo período (Gráfico 06).
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1000
1996 2000 2004
0
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
12.000
14.000
16.000
1996 2000 2004
Gráfico
5
:
Salvador
Total de unidades de serviços de
intermediação financeira, 1996/2004
Fonte: IBGE.
Gráfico
6
:
Salvador
Pessoal ocupado em servos de
intermediação financeira, 1996/2004
Fonte: IBGE.
A investigação sobre as redefinições nas estruturas sociais e produtivas
de Salvador confirma que é necessário verificar, igualmente, as mudanças que
esse processo acarretou nessa metrópole, principalmente, os associados: ao
processo de apropriação do solo urbano, às novas formas de habitação, bem
como às redefinições na lógica das centralidades urbanas que se materializam na
metrópole. Segundo Santos, essa mudança também vinha ocorrendo nas demais
metrópoles regionais do Brasil.
As metrópoles regionais mudaram de qualidade nestes últimos dez
anos; em primeiro lugar, porque se transformaram em metrópoles
com conteúdo nacional capaz de manter relações nacionais; e em
segundo, porque as respectivas regiões metropolitanas passaram a
constituir áreas nas quais se diversificam e se avolumam as
relações internacionais, com o aumento da divisão do trabalho, que
conduz ao apressamento e ao aprofundamento de uma série de
processos econômicos e sociais. O efeito do tamanho tem um
papel na divisão intra-urbana do trabalho (SANTOS, 1994, p.22).
Se, por um lado, há uma mudança de qualidade no conteúdo das
metrópoles regionais, em função, dentre outros aspectos, do suporte técnico que
se materializa no tecido urbano, conferindo-lhe maior fluidez, e das novas
necessidades criadas no processo de reprodução metropolitano; por outro, essa
alteração na qualidade acarretou em mudanças na divisão técnica, territorial e
social do trabalho, no processo de acumulão do capital no espaço intra-urbano,
na segregação socioespacial e nas relações tempo-espaço.
Além disso, torna-se significativo articular o processo de transformação
na estruturação do espaço na metrópole regional, não apenas ao capital
industrial, mas igualmente aos capitais financeiro, comercial e imobiliário; aos
conflitos de interesses entre as classes sociais; e a atuação do Estado, nas três
esferas de poder.
No caso de Salvador, enquanto que nas décadas de 1960 e 1980, o
capital industrial, aliado ao Estado, teve papel importante no processo de
estruturação urbana; nas últimas décadas, os capitais comercial e imobiliário,
coligados ao capital financeiro e, tamm, ao Estado, passaram a elevar sua
influência na reprodução do espaço urbano, sem desconsiderar a atuação do
capital industrial. Percebe-se que tais fatos repercutem na circulação do capital no
espaço intra-urbano e intra-metropolitano, redefinindo a constituição de novas
áreas centrais.
A análise da Região Metropolitana de Salvador pode revelar que vem
ocorrendo uma redefinição na divisão territorial e técnica do trabalho,
dialeticamente engendrada por uma redefinição na divisão social do trabalho. Por
sua vez, esse processo desvela um conjunto de novas relações tecidas entre a
metrópole regional e as demais cidades.
A metrópole soteropolitana permanece com a hegemonia no Estado na
circulação do capital financeiro, que, concomitantemente, reflete-se na
reprodução do espaço urbano, ao se aliar aos setores comercial, imobiliário e de
serviços. O processo revela, no vel intra-urbano, por um lado, a formão de
novas centralidades urbanas e de novos sub-centros, ou seja, a constituição de
novos espaços de consumo na metrópole; do mesmo modo que mudanças no
centro e sub-centros tradicionais.
Assim, entendemos que o processo de reestruturação urbana deve ser
investigado a partir da análise sobre as transformões acontecidas durante as
diferentes fases de desenvolvimento do capitalismo, no sentido de percebermos
suas implicações na urbanização, conseqüentemente, na estruturação urbana e
da cidade, porque tais fases influenciam de forma diferente na lógica das
centralidades urbanas.
A partir dessas considerações, vamos aprofundar a discussão sobre a
reestruturação urbana e da cidade, buscando entender suas implicações na
redefinição da estrutura urbana, especificamente, nos novos papéis e nos
conteúdos que os centros tradicionais, os sub-centros e as novas expressões da
centralidade urbana desempenham. O debate sobre a reestruturação urbana e da
cidade vem apresentando posicionamentos teóricos bastante diferentes. Por esse
motivo, em princípio, daremos ênfase aos pressupostos teóricos que alicerçam
nossa concepção sobre esses conceitos, para, nos próximos capítulos,
apresentarmos os elementos essenciais sobre a reestruturação urbana em
Salvador.
1.3 - Reestruturação urbana e reestruturação da cidade
Na Geografia Urbana, a discussão sobre a estrutura urbana apresentou
diferentes concepções e imprecisões na aplicação do conceito, que, por sua vez,
vem sendo utilizado sem uma definição muito clara. A nosso ver, sua
compreensão seria dada, ou por um conteúdo a priori, teoricamente, sem
necessidade de elucidação; ou como sinônimo de quadro urbano, de morfologia
urbana, de organismo urbano, dentre outras expressões. Por outro lado, o
conceito é polêmico, em parte, em função do desenvolvimento do Estruturalismo,
que ganhou grande expressão cienfica entre as décadas de 1950 e 1980.
A palavra estrutura é polissêmica, e esse fato não se limita apenas à
sua aplicação no senso comum. Essa polissemia também é observada em sua
utilização pelo próprio conhecimento científico. Isso significa que todas as áreas
do conhecimento, de distintos modos, usam a expressão estrutura para designar
alguma especificidade de processos ou fenômenos.
A noção de “estrutura” não é nada mais que uma concessão à
moda: um termo de sentido bem definido exerce de repente uma
singular atração durante dezenas de anos assim a palavra
“aerodinâmico” – começa-se a empregá-lo a torto e a direito porque
soa agradavelmente ao ouvido. Sem dúvida, uma personalidade
típica pode ser considerada do ponto de vista de sua estrutura. Mas
o mesmo é verdade para o arranjo fisiológico, um organismo, uma
sociedade qualquer ou para uma cultura, um cristal ou uma
máquina. Qualquer coisa desde que não seja amorfa possui
uma estrutura (KROEBER, 1948 apud LÉVI-STRAUSS, 1985, p.
06).
Etimologicamente, o verbete estrutura deriva da palavra structura, um
desdobramento do verbo struere, que significa construir, denotando a idéia de
“construir edifícios”. A palavra está em uso no pensamento filosófico desde
Aristóteles, datada, aproximadamente, de 380 a.C
53
.
53
Structure - Oxford English Dictionary.
Dois pontos importantes, a priori, devem ser destacados: primeiro, a
noção de estrutura que discutimos não está relacionada a qualquer tipo de
representação ou sistema; segundo, não refutamos a realidade e nem
entendemos a estrutura como um modelo, algo comum ao Estruturalismo
54
.
Entendemos que,
A noção de estrutura tem um campo de validade. O conhecimento
(a ciência) não pode passar sem ela. Quanto ao estruturalismo,
este procede por extrapolação e redução. Sobre a noção de
estrutura, ele enxerta uma ideologia. Com o estruturalismo, a
estrutura ultrapassa seus direitos, suas condições de
admissibilidade (LEFEBVRE, 1968, p. 24).
O materialismo dialético analisa a estrutura como uma dimensão da
realidade social, produzida pela contradição, não considerando plausível a idéia
de estabilidade contida na análise estrutural. Como argumenta Lefebvre (1968, p.
13), o pensamento marxista esforça-se então por determinar modalidades do
devenir: continuidade e descontinuidade, crescimento quantitativo e criação
qualitativa, gradualidade e desenvolvimento aos saltos, períodos de estagnação e
transformões revolucionárias”.
Dessa forma, o movimento histórico aparece, mormente, como a base
para o entendimento sobre a estrutura urbana, verificada como uma realidade
social, uma dimensão material da existência humana. As contradições constituem
a base da sua discussão, que prescinde um conjunto de significações contidas no
movimento dialético de estruturação e desestruturação.
Lefebvre (1974 e 2004), um crítico do Estruturalismo, utilizou o termo
estrutura fundamentado pela tradição teórica hegeliana e marxiana, como, aliás,
salienta Trindade Junior (1998, p. 29), argumentado que as estruturas urbanas
o momentos do vir-a-ser, questionando trabalhos que priorizem a permanência
e/ou a estabilidade, na medida em que esses pressupostos rompem à totalidade.
54
Detalhes em Santos (2008).
Santos (1985) argumenta que é imprescindível não compreender as
estruturas em si mesmas, na medida em que estão articuladas a um conjunto de
outras categorias primárias” que, de forma indissociável, compõem a totalidade
da análise geográfica. O autor resgata os conceitos de forma, função e estrutura,
utilizados por Lefevbre (2004), acrescentando na discussão a idéia de processo
que, para ele, sustenta o devir. Para Santos, a estrutura “implica a inter-relação
de todas as partes de um todo; o modo de organização ou construção” (SANTOS,
1985, p. 50).
A totalidade do real, implicando o movimento (processo) comum de
estrutura, função e forma, é uma totalidade concreta e dialética.
Seu estudo requer o conhecimento das estruturas componentes
que o reproduzem, quer simultaneamente, quer separadamente.
Tais estruturas, como a própria totalidade, não o congeladas;
pelo contrário, elas mudam com o tempo (SANTOS, 1985, p. 33).
A estrutura urbana, então, não é compreendida como um fim em si
mesmo, pois, enquanto estrutura, não é contemplada a idéia de organicidade que
contém os sistemas da realidade, representados pela construção do
conhecimento científico. O conceito de estrutura urbana está fundamento nos
pressupostos teórico-conceituais que alicerçam o entendimento sobre a cidade, a
partir da discussão sobre o processo de prodão do espaço urbano, portanto, da
urbanização. Dessa forma, o podemos reduzir o conceito de estrutura urbana
ao método estrutural, deixando de utilizá-lo para entender o processo de
estruturação das cidades.
Ademais, na discussão sobre a estrutura, Lefebvre (1968) ainda
salienta a necessidade de pensarmos “as modalidades do devir” que engendram
o materialismo dialético. Essa observação é relevante, porque possibilita entender
a estrutura urbana a partir do processo hisrico que a constitui. Segundo o autor,
esse processo é determinado por continuidades e descontinuidades,
estruturações e desestruturações, evoluções e revoluções no tempo.
Entender a estrutura urbana nesse devir significa compreendê-la a
partir da discussão sobre a estrutur(ação) urbana e da cidade; significa pensar o
conjunto de modificações no processo de urbanização que determina uma
expressão momentânea do/no mosaico de usos do solo da cidade - a estrutura
urbana. Sobre a estruturação, Sposito indica que,
O que diferente autores que têm adotado a expressão estruturação
pretendem ao agregar o sufixo “cão”, parece-nos que seria garantir
a passagem da idéia de que estamos falando de um processo
connuo, ltiplo e contraditório, e por essas qualidades, ele
contém sua própria negação. Isso deve ser considerado, pois a
estrutura urbana, como expressão momentânea do processo mais
amplo de estruturação é redefinida não apenas pela expansão
territorial ou pelo acréscimo de novos usos de solo, mas também
por desestruturações, ou seja, pela destruição de formas urbanas,
pela negação de usos de solo urbano antes existentes ou pela total
ausência deles em parcelas dos espaços urbanos que,
anteriormente, tiveram funções econômicas e/ou importantes
papéis simbólicos (SPOSITO, 2004, p. 312).
Nesse sentido, entendemos como imprescinvel para a análise da
estrutura urbana a discussão sobre as contradições sociais. Tais contradições
constituem a dialética entre estruturação e desestruturação que alicerça a
produção da cidade e do urbano. Argumentamos, assim, que se faz necessário
articular a investigação sobre a estrutura urbana ao conjunto das ões políticas,
econômicas, sociais e culturais ocorridas na sociedade, objetivando desvelar o
jogo de interesses que demarcam os conflitos de classe na cidade. Segundo
Caltells,
O espaço urbano é estruturado, quer dizer, ele não está organizado
ao acaso, e os processos sociais que se ligam a ele exprimem, ao
especificá-los, os determinismos de cada tipo e de cada período da
organização social (CASTELLS, 1983, p. 146-147).
Todavia, nem sempre a estruturação urbana foi pensada sob esse
enfoque. Farret (1985) destaca diferentes investigações que abordaram o
processo de estruturação do espaço urbano, sistematizando-as em dois grupos: o
paradigma do equilíbrio e o paradigma do conflito.
Sobre o primeiro, de acordo com o autor, a estruturação do espaço é
vista como o resultado da ação de unidades decisórias individuais, pessoas e
firmas, interagindo dentro de um quadro institucional definido pelo funcionamento
de um mercado imobiliário livre, neutro e perfeito e pela ão eqüidistante do
Estado em relação aos agentes envolvidos (FARRET, 1985, p. 75). O segundo,
explica a estruturação do espaço urbano pelo lado da oferta, enfatizando as
noções de desequilíbrio, funcionamento imperfeito do mercado, interesses e
conflitos sociais, questionando até mesmo a suposta eqüidistância do Estado em
relação aos agentes envolvidos no processo (FARRET, 1985, p. 75).
Portanto, torna-se interessante pensar a estruturação do espaço urbano
sob o paradigma do conflito, na medida em que os interesses e ações dos
sujeitos envolvidos são entendidos como elementos fundamentais para a
discussão sobre os processos espaciais urbanos, a partir da análise da produção
e distribuição de bens e serviços coletivos, da diferenciação na apropriação do
solo urbano e do papel que desempenham tais processos na acumulação do
capital.
Villaça (2001) e Sposito (2004) ressaltam preocupação em precisar o
uso das expreses estruturação urbana e estruturação das cidades,
compreendendo-os como conceitos devidamente articulados, mas que, todavia,
possuem características diferentes e que desempenham papéis distintos na
análise urbana.
Ao debater sobre a estruturação do espaço intra-urbano de algumas
metrópoles brasileiras, Villaça destaca que é necessário distinguir os processos
que se materializam na escala intra-urbana, bem como suas especificidades, da
mesma forma que é necessário distinguir os processos que se realizam na escala
regional (VILLAÇA, 2001). Para esse autor,
O espaço intra-urbano, no entanto, é estruturado sob a dominação
dos interesses do consumo, e nisso não qualquer contradição.
Reiteramos então que regional é o espaço estruturado pelo
deslocamento de matérias (enquanto capital mercadoria, capital
constante) e de força de trabalho enquanto capital variável. Urbano
é o espaço estruturado pelas condições de deslocamento da força
de trabalho enquanto tal e enquanto consumidora (deslocamentos
casa-escola, casa-compras, casa-lazer, e mesmo casa-trabalho)
(VILLAÇA, 2001, p. 330).
As observações do autor são importantes, porque contribuem para
identificar, nos níveis intra-urbano e regional, os elementos que determinam a
estruturação da cidade, associados ao deslocamento da força de trabalho,
enquanto consumidora; e os elementos que determinam a estruturação regional,
associados, essencialmente, ao deslocamento de energia.
Entretanto, é importante salientar que uma relação intrínseca entre
os espaços intra-urbanos e regionais, o que coaduna com o fato de evitarmos, na
análise, certas polarizações. Frisamos isso por defender que não podemos
desconsiderar, ou mesmo minimizar, o papel desempenhado pelo deslocamento
de matéria na estruturação do espaço intra-urbano.
Acreditamos que o autor desconsiderou o próprio movimento de
estruturação no tempo, que, certamente, o faria perceber que tiveram papel
importante no processo de estruturação intra-urbana, principalmente no início do
século XX, por exemplo, as transformações ocorridas na cidade em função das
mudanças provocadas pela expansão da eletricidade. Dessa forma, a distribuição
e disponibilidade de novas fontes energéticas (como a eletricidade) e de novos
meios de deslocamentos, a partir do motor a combustão e do uso do petróleo
como fonte energética, se pensados num determinado tempo, significam
importantes alterações na estruturação das metrópoles, inclusive, redefinindo as
relações entre centro e periferia, porque também alteram o tempo do consumo, no
medida em que reordenam as relações tempo-espaço.
O inverso também é verossímil, já que não podemos minimizar os
impactos na estruturação regional, acarretados por quaisquer mudanças na
urbanização, que incidam em maciços deslocamentos da força de trabalho,
mesmo enquanto consumidora. Caso esses elementos sejam desconsiderados,
podemos incorrer em simplificação da análise, por exemplo, sobre a redefinição
dos papéis que as cidades desempenham na rede urbana etc.
Voltando à diferenciação entre estruturação urbana e estruturação das
cidades, colaboram para essa discussão as observações de Sposito (2004),
quando opta por abordar ambos os termos, respectivamente, como correlatos aos
processos e às formas, o que corroboram sua discussão sobre conceito de
urbanização e cidade. Contudo, a autora destaca que se deve pensar sobre essas
conceituações, sem perder de vista, que
Evidentemente, que essa distinção tem a intenção, apenas, de
destacar o que se toma como prevalente, em cada momento da
análise, porque não estruturação urbana sem estruturação da
cidade e vice-versa (SPOSITO, 2004, p. 312).
Assim sendo, vamos articular a proposta de Sposito (2004) à de Santos
(1996) utilizando a expressão estruturação urbana para identificar o conteúdo e as
contradições, continuidades e descontinuidades, ações e reações associadas ao
processo de urbanização. Essa estruturação urbana, entendida a partir do
sistema de ações que garante a reprodução do espaço urbano, ao mesmo tempo
em que por esse passa a ser determinada. E a expressão estruturação da cidade
para identificar a materialização de tais processos, continuidades e
descontinuidades territoriais, ações e reações, no nível intra-urbano, pensando no
sistema de objetos.
Não podemos esquecer que a construção de um conceito traz em si
uma dupla dimensão que representa, por um lado, uma elaboração teórica; e, por
outro, a busca em compreender determinado aspecto da realidade. Nesse
sentido, é oportuna a preocupação de Castells, ao verificar que o debate sobre a
estrutura urbana,
[...] deve ser conduzido em dois planos: trata-se, por um lado, de
elaborar instrumentos teóricos susceptíveis de apreender o
concreto-real de uma maneira significativa e, por outro lado, de
utilizar estes instrumentos numa sucessão descontínua de análises
particulares visando dados fenômenos históricos (CASTELLS,
1983, p.147).
Para o autor, a investigação sobre a estrutura urbana passa tanto por
uma dimensão que é teórica, objetivando a construção de um arcabouço que
conta do entendimento sobre a cidade, enquanto materialidade, quanto por uma
análise empírica, sem perder de vista que o movimento é hisrico.
Padila, pensando o cotidiano das relações urbanas, ressalta que,
[...] a estrutura urbana não seria outra coisa que a realidade urbana
conhecida, conceitualizada a um determinado nível de abstração.
Realidade urbana ou fenômeno, como vimos chamando, cujo
campo de desenvolvimento encontra-se predominantemente no
nível do vivido (o viver) e da vida cotidiana (a cotidianidade). [...]
vemo-nos assim desembocando (a estrutura urbana) no fenômeno
urbano entendido como desenvolvimento de uma sociedade no
espaço, de um conjunto social e de um território (PADILA, 1978
apud SPOSITO, 1991a, p. 349).
Na visão de Abreu (1981), para estudarmos o processo de estruturação
do espaço urbano “[...] é necessário que se examine a interação entre processos
econômicos, sociais e políticos e a forma segundo a qual o espaço se estrutura
(p. 584-585). Suas idéias estão baseadas na análise de Castells (1983), ao
compreender o espaço enquanto uma “expressão da estrutura social”.
Dito de forma simples, não basta pensar apenas em termos de
estrutura urbana; é preciso definir os elementos da estrutura urbana
e suas relações antes de analisar a composição e a diferenciação
das formas espaciais (CASTELLS, 1983, p.157).
Segundo esse autor, estudar a estrutura urbana resulta,
conseqüentemente, “em estudar sua modelagem pelos elementos do sistema
econômico, do sistema político e do sistema ideológico, bem como pelas
combinações e práticas sociais que decorrem dele” (CASTELLES, 1983, p. 160-
161).
No que se refere ao sistema econômico, Castells (1983) evidencia que
esse se organiza em torno das ligações entre a força de trabalho, os meios de
produção e o não-trabalho, sendo os três combinados segundo duas relações
principais: a relação de propriedade (apropriação do produto) e de apropriação
real (processo técnico de trabalho). Esses elementos se exprimem espacialmente,
[...] através da dialética entre dois elementos principais: produção
(expressão espacial dos meios de produção), consumo (expressão
espacial das forças de trabalho), e um elemento derivado, a troca,
que resulta da espacialização das transferências entre a produção
e o consumo, no interior da produção e no interior do consumo
(CASTELLS, 1983, p.160).
A gestão é destacada como elemento importante, na medida em que se
refere às formas de regulação do processo. Os sistemas políticos-institucionais
(relação de dominação-regulamentação e integração-repressão) e ideológicos
(elementos simbólicos) exprimem no espaço, respectivamente, a divisão e ão
sobre a organização econômica, e a rede de signos, cujos significantes são
constituídos de formas espaciais e os significados, de conteúdos ideológicos
(CASTELLS, 1983, p. 161).
No pensamento do autor, a sistematização de tais elementos possibilita,
por um lado, uma leitura teórica que sustenta a análise sobre o espaço intra-
urbano; por outro, revela preocupações na medida em que a articulação entre os
três sistemas é mais complexa do que Castells pressupõe. Observa-se que cada
um desses sistemas contém elementos dos demais sistemas, o que
inexoravelmente, torna apreensiva sua segmentação.
A discussão sobre os elementos que compõe a estrutura urbana deve-
se considerar que, ao definirmos o que está em sua base, devemos ter como
pressuposto o conteúdo e o fluxo das relações urbanas, expressos pelas/nas
dimensões: econômica, política, ideogica e cultural.
Na análise sobre os elementos que constituem a estrutura urbana,
Villaça ainda ressalta a importância em destacar o papel das localizões, a
relação entre esses elementos, bem como entre esses e os outros elementos da
cidade.
Ao estudo da estrutura urbana interessa saber por que esses
bairros e centros exibem certo arranjo territorial e não outro
qualquer, e qual a inter-relação espacial entre estes bairros e
centros, ou quais são seus papéis especiais [...]. Não basta
constatar essas configurações espaciais. É necessário explica-las e
articular a explicação com as transformações dos demais
elementos da estrutura urbana. Ou seja: explicação das
transformações de um elemento deve explicar também as
transformações dos demais elementos da estrutura (VILLAÇA,
2001, p. 35-36).
Além desses aspectos, nos anos de 1960, Geiger já despertava a
atenção para a análise inter-escalar no debate sobre a estrutura urbana, quando
argumentava que “certa fração do dinamismo do Rio de Janeiro reflete o
dinamismo nacional, através de sua função de capital. A estrutura urbana revela-
o” (GEIGER, 1960, p. 05). Essa preocupação, entretanto, é igualmente
observada em Santos (1959a).
Percebe-se que se, por um lado, a estrutura urbana deve ser “vista
como uma coleção de formas geográficas [...], sejam elas macro-formas (um
bairro, por exemplo) ou microformas (um edifício)”; por outro, não se pode deixar
de relacionar “essa mesma estrutura com o processo de evolução da sociedade”
(ABREU, 1981).
[...] a ordem espacial de uma cidade, ou seja, sua estrutura urbana,
reflete também o resultado do confronto, reajuste ou recomposição
dos sistemas que constituem a sociedade. Isso porque cada novo
momento de organização espacial traz consigo novas funções e
novas formas (geográficas ou não) que exemplificam, no espaço,
os conflitos de classes existentes na sociedade capitalista. Por essa
razão, o estudo da estruturação do espaço urbano e,
conseqüentemente, o estudo do papel do Estado nesse mesmo
processo de estruturação, não podem ser feitos separadamente do
estudo do processo de evolução da sociedade (ABREU, 1981, p.
584).
Entendemos, assim, que a estrutura urbana deve ser pensada,
primeiro, enquanto um produto da dialética entre produção do espaço e
reprodução social, exprimindo a materialidade da reprodução da sociedade, a
partir de estruturação urbana. Esse processo, na escala intra-urbana, coaduna-se
com as ações políticas, sociais, econômicas que engendram a trama das relações
tecidas, definindo a estruturação da cidade, e sendo por essa definido.
Na abordagem de Sposito, a definição sobre a estrutura urbana deve
designar o arranjo dos diferentes usos do solo no interior das cidades; [...] o
mosaico-resultado deste processo de alocação/realocação das atividades
econômicas e das funções residenciais e de lazer na cidade” (SPOSITO, 1991b,
p. 05).
O modo como cada sujeito envolve-se no processo de reprodução
social influencia na produção e na apropriação dos espaços na cidade,
constituindo a divisão social, técnica e territorial do trabalho. É essa última quem
articula o processo de produção da estrutura urbana, uma expressão
momentânea e um nível de condição da estruturação da cidade, ao movimento de
reprodução do urbano.
A divisão técnica/econômica do trabalho manifesta-se como divisão
econômica do território um lugar para cada tipo de trabalho. Na
cidade, esta lógica aparece sob a forma de um lugar para a
indústria, um lugar para o comércio e serviços, um lugar para as
habitações [...]. A divisão social do trabalho manifesta-se como
divisão social do território, expressão das relações sociais de
produção no interior da cidade, o que significa não apenas
concentração/segregação social de uso do solo residencial, mas
também acesso desigual aos meios de consumo coletivos, e
portanto, à cidade não apenas como suporte para a reprodução
material e força de trabalho (SPOSITO, 1991a, p. 326).
Nessa discussão, o podemos recair nas polarizações de Vilaça
(2001), quando ele pensa sobre a estruturação do espaço intra-urbano e regional,
mesmo percebendo suas especificidades. A trama de relações entre o espaço
regional e intra-urbano é muito mais complexa do que segmentarmos que
“estruturação do espaço urbano é dominada pelo deslocamento do ser humano,
enquanto portador da mercadoria força de trabalho ou enquanto consumidor”, ou
que o desenvolvimento do transporte de energia e das comunicações que não
envolve o deslocamento do ser humano tem provocado no espaço intra-urbano
efeitos desprezíveis, se é que tem existido” (VILLAÇA, 2001, p. 21).
Preferimos optar por entender que a estruturação urbana e da cidade
o continuamente redefinidas por modificações nos constituintes sociais,
técnicos e territoriais da divisão territorial do trabalho em escalas distintas, ao
mesmo tempo em que, dialeticamente, a própria estruturação urbana e da cidade
tem um nível de determinação nesse processo.
Assim sendo, os elementos que alicerçam essa dinâmica são: os
deslocamentos do trabalho humano, das mercadorias, do capital e de energia,
todos pensados no plano das ações da sociedade, em diversas escalas
geográficas. A produção do espaço urbano, portanto, está engendrada nessa
complexa trama e tal processo só pode ser desvendado se devidamente
articulado, ressalvando-se suas especificidades, sem, todavia, incorrer em
polarizações.
Indubitavelmente, as bases dessa discussão são os conflitos de classes
e, nesse sentido, Villaça (2001, p 45) traz argumentos significativos para o debate
sobre a estruturação urbana, ao pensar na “apropriação diferenciada das
vantagens e desvantagens do espaço construído na segregação espacial”. Para
esse autor,
A dominação através da estruturação do espaço urbano visa
principalmente à apropriação diferenciada de suas vantagens
locacionais. Trata-se de uma disputa em torno das condições de
consumo (VILLAÇA, 2001, p. 45).
Entretanto, a discussão sobre as lutas de classe, que deve ser pensada
com base nas relações entre as classes em cada momento histórico e em cada
contexto das relações de produção sob os diferentes modos de produção, torna-
se, a nosso ver, um instrumento muito amplo para dar conta de explicar algo
específico como o processo de estruturação urbana e da cidade. A luta de classe
é imprescindível nesse contexto, mas corresponde ao nó central do processo
geral de reprodução do espaço e da sociedade, o que limita a explicação das
particularidades dos fenômenos espaciais, entendendo-se aqui o processo de
estruturação urbana e da cidade como uma dessas particulares.
Portanto, compreendemos que determinações específicas necessitam
ser encontradas para proporcionar maiores esclarecimentos sobre tal processo,
mormente, sobre a redefinição das centralidades no espaço intra-urbano, em
função do fenômeno de reestruturação urbana.
Assim sendo, entendemos que, no tocante às centralidades urbanas,
deve-se partir do princípio de que são as contradições engendradas entre o
consumo do/no espaço e a produção dos espaços de consumo que, no
transcorrer de um percurso histórico, engendram a constituição de centros e
centralidades nas cidades. A luta de classe surge como elemento basilar que
explica e alicerça essa contradição.
A divisão territorial do trabalho no plano intra-urbano, como produto e
produtora da divisão social e cnica, torna-se o ponto central para discutirmos o
modo como cada um desses lugares nas cidades é produzido e apropriado pelos
diversos segmentos sociais, pois constitui a determinação dos usos que o solo
urbano adquire. Nessa diferenciação, as diversas classes e agentes atuam
constantemente (re)definindo a produção e a apropriação dos espaços urbanos, a
partir do jogo de interesses, tendo no Estado uma instância que atua regulando e
(re)criando as formas de acesso à terra urbana.
Com base nas observações acima, destacamos, então, que no período
contemporâneo acentuou-se o papel da cidade como lócus da reprodução
econômica, sem deixar de ser o espaço de reprodução da vida. Cada vez mais,
os espaços na/da cidade são alterados para atender essa lógica, que não é nova,
mas que apresenta uma roupagem nova, um simulacro hodierno. A produção do
espaço urbano vem elevando a canalização de investimentos para sua
reprodução no nível da economia, pondo em detrimento outros interesses
coletivos. Segundo Damiani,
A verticalização, as vias de circulação, os grandes conjuntos
habitacionais, as obras de infra-estrutura, inúmeras outras
produções, centralizadas e pulverizadas, móveis, tendendo e
necessitando ser flexíveis implicadas pela cidade, traduzidas
economicamente sugerem o montante dos investimentos
realizados, seu significado na economia, na vida e na história
humana, neste final de século (DAMIANI, 2001b, p. 120).
Esse processo impele à reestruturação da cidade para atender aos
novos ditames do capital, que, por sua vez, o reproduz. A produção dos
condomínios fechados e de novas centralidades urbanas, o movimento de
“renovação” dos centros tradicionais, a construção de edifícios inteligentes para
escritórios, como exemplos, desvelam a atual realidade da cidade - a sua “crise”!
Uma crise de apropriação da cidade (DAMIAIN, 2001b).
A análise da cidade atual põe no centro do debate as trilhas e os novos
rumos da urbanização e a sociedade urbana. Nesse sentido, notoriedade à
discussão sobre o processo de reestruturação urbana, a partir das contradições
entre o consumo do/no espaço e a produção dos espaços de consumo; sobre os
conflitos e os interesses que se projetam no espo urbano e na vida cotidiana.
Por um lado, a investigação sobre processo de reestruturação urbana
suscita questões sobre as alterações na divisão cnica, territorial e social do
trabalho, em escalas diferentes, possibilitando repensar o conceito de
centralidade e de periferia nas cidades e metrópoles atuais. Por outro,
proporciona novas reflexões teóricas na Geografia, no sentido de contribuir para
pensar o espaço urbano e seus usos através da apropriação (e da negação) pelos
diversos segmentos da sociedade. Nesse sentido, entendemos que o conceito de
reestruturação urbana, por mais que permita analisar fragmentos do processo de
produção do espaço urbano, não pode prescindir a totalidade contida em sua
lógica.
A discussão sobre a reestruturação urbana adquiriu maior vigor na
análise geográfica, nas últimas décadas, em função de todas as transformações
pelas quais vem passando a cidade. Todavia, como destacou Villaça (2001), nem
sempre com a devida preocupação sobre as especificidades do processo nos
veis intra-urbano e interurbano. Segundo esse autor,
O que comumente se chama estruturação urbana não é
estruturação (ou reestruturação) urbana, mas estruturação (ou
reestruturação) regional, pois não aborda o elemento urbano da
estrutura regional, o processo de urbanização enquanto processo
do espaço regional (VILLAÇA, 2001, p. 19).
O que Villaça destaca é a obrigação de compreendermos as
especificidades da estruturação e reestruturação urbana, diferenciando-as da
estruturação e reestruturação regional. Como foi observado acima, em nossa
concepção, o termo estruturação urbana está associado às contradições,
continuidades e descontinuidades, ações e reações associadas ao processo de
urbanização; e a estruturação da cidade à materialização de tais processos,
continuidades e continuidades territoriais, ações e reações, no nível intra-urbano.
Desse modo, os termos reestruturação urbana e reestruturação da cidade,
respectivamente, correspondem ao urbano e à cidade.
Entretanto, a discussão sobre a reestruturação urbana e da cidade
possibilita a investigação de novos elementos no conteúdo e na estrutura das
metrópoles, assim como da urbanização, que, por sua vez, suscitam
esclarecimentos conceituais, pois contribuem para verificar as atuais tramas de
relações na cidade.
Até o início do século XX, as cidades tinham como característica
essencial uma estrutura urbana mononuclear”, que era suporte e produto da
divisão social, técnica e territorial do trabalho em escalas diferentes. Como
expressão dessa realidade, as relações entre o centro e a periferia constituíam-se
como a base da reprodução da vida cotidiana citadina, bem como marcava a
estrutura urbana desse período.
Em função das mudanças mencionadas, ocorridas no processo de
urbanização, mormente, a ascensão do capital financeiro, a lógica da reprodução
do consumo, inovações nos padrões tecnológicos, uma nova atuação do Estado,
dentre outros aspectos, percebe-se que o conteúdo da centralidade urbana
passou por transformações que, por sua vez, influenciaram no processo de
reprodução da estrutura urbana.
No caso do Brasil, esse fenômeno foi verificado, em princípio, nas
grandes áreas metropolitanas, essencialmente, a partir da década de 1960. Na
década de 1980, passou a atingir as médias cidades do país. As áreas centrais
adquiriram funções diferenciadas, face ao surgimento de novas expressões da
centralidade urbana; as metrópoles, em geral, reduziram percentualmente sua
produção industrial e se atenuou o crescimento populacional; e, principalmente,
houve uma explosão nos setores comerciais e de serviços, mormente, os
associados às novas tecnologias e ao capital financeiro. Esse fenômeno, que diz
respeito à reestruturação urbana e das cidades, deve ser sempre considerado de
forma articulada, na medida em que envolve processos indissocveis, mesmo
que não ocorram, necessariamente, de modo correlato no tempo.
A discussão sobre a alteração na estrutura urbana passa a ser
importante, em nossa concepção, porque evita diluirmos o conceito de
reestruturação na história, aplicando-o a qualquer mudança no uso do solo
urbano. É o que, nada obstante, está contido nas idéias de Soja (1993), quando
sistematiza os quatro períodos que marcaram o processo de reestruturação
urbana (e da cidade) no mundo. Para o autor, a reestruturação das cidades
modernas pode ser sistematizada em quatro estágios: mercantil, industrial de livre
concorrência, de monopólio empresarial e administrada pelo monopólio fordista.
Ele destaca que esse processo varia de país para país”, sendo um movimento
cumulativo na história.
Não dúvidas de que todas as modificações no tempo alteraram os
usos do solo na cidade, mesmo que, nem sempre, se desenvolvam segundo a
lógica evolucionista. Todavia, uma mudança no uso do solo, essencialmente, o
incide sempre na redefinição de sua estrutura urbana. Como argumenta Villaça,
“pode haver renovação do espaço sem necessariamente haver reestruturação”
(VILLAÇA, 2001, p. 33). Nesse sentido, concordamos com as proposições de
Sposito, quando ressalva que:
A expressão reestruturação” deve ser, a nosso ver”,
guardada para se fazer refencia aos períodos em que é
amplo e profundo o conjunto de mudanças que orienta os
processo de estruturação urbana e da cidade (SPOSITO,
2004, p. 312).
Portanto, utilizaremos o conceito de reestruturação urbana e da cidade
apenas para aqueles momentos em que ocorreu, realmente, uma inflexão no
processo de produção da estrutura urbana, por sua vez, determinado pela
estruturação urbana e da cidade. Todavia, não significa que haja, nesse bojo,
uma substituição da estruturação pela reestruturação, mas uma superposição de
fatores que, atuando de modo concomitante, redefinem a lógica dos usos do solo
na cidade.
O conceito de reestruturação da cidade deve ser aplicado para
[...] garantir a passagem da idéia de que a organização/
desorganização da cidade contém a dinâmica do próprio processo
social que a determina, sendo a estrutura em cada corte do tempo
do processo de reestruturação da cidade, também determinante
dos movimentos seguintes do processo (SPOSITO, 1996, p. 111).
Montessoro, ao analisar o processo de reestruturação em uma cidade
média brasileira, destaca que o termo reestruturação urbana vem sendo utilizado
nos últimos anos para explicar as mudanças ocorridas na morfologia da cidade.
Todavia, este processo passa necessariamente pela compreensão das novas
lógicas locacionais e pelo sistema de mercado, que possibilita o acesso a
determinada porção da cidade (MONTESSORO, 2001, p.215).
A autora investiga a reestruturação urbana destacando as modificações
provocadas pelo fenômeno na lógica de localização dos equipamentos urbanos,
em especial, aos shopping centers. Ela não perde de vista, em suas reflexões, as
diferenças na apropriação dos espaços na cidade pelos diversos segmentos da
sociedade, destacando uma evidente lógica segregacional.
Davidovich (1980) associa o movimento de reestruturação às
transformões territoriais decorridas da valorização capitalista do espaço,
enquanto um movimento incessante de construção, desconstrução, reconstrução,
crião e recriação. A autora dá destaque especial à aquiescência do Estado que,
continuamente, cria condições de alicerçar a reprodução do capital através das
mudanças espaciais.
Do mesmo modo que o processo de estruturação, a reestruturação
urbana e da cidade diz respeito às ações e aos sujeitos que redefinem a forma
como os solos urbanos passam a ser utilizados, visando atender a uma nova
lógica. Todavia, tais mudanças são tão profundas que implicam numa redefinição,
também, do modo como estava organizada a estrutura urbana. É por isso que
Sposito entende que,
[...] a constrão de um conceito de reestruturação da cidade passa
necessariamente pela análise das transformações ocorridas na
divisão econômica e social do trabalho, e neste nível se confunde
com a própria divisão econômica e social do território. (SPOSITO,
1991a, p. 349).
É uma argumentação importante, pois ressalta que devemos articular o
processo de reestruturação da cidade à análise da divio social e territorial do
trabalho. Nesse sentido, compreendemos que é fundamental articular as
mudanças no espaço intra-urbano, também, ao processo de reestruturação
produtiva porque é quem reorienta a lógica de relação entre capital e trabalho nas
diferentes escalas geográficas.
Já que o processo de reestruturação revela-se como um movimento
produzido socialmente, investigar a ação dos sujeitos é o cerne da pesquisa, na
medida em que possibilita entender os jogos de interesses que estão
materializados no modo como a estrutura urbana apresenta-se em cada
interregno hisrico.
A reestruturação urbana e da cidade ocorre sempre como produto de
tensões entre Estado, proprietários fundiários, promotores imobiliários, demais
classes capitalistas e a sociedade como um todo. Nesse contexto, a discussão
sobre a propriedade privada é, também, essencial, do mesmo modo que os
conflitos que determinam a apropriação e os usos do solo urbano, na medida em
que condicionam o acesso de cada indivíduo aos “pedaços” da cidade.
Trindade Junior ressalta que as diretrizes do processo de
(re)estruturação metropolitana são definidas pelos agentes hegemônicos da
produção social do espaço, mas concorrem para essa conformação os demais
agentes locais que estabelecem correlações de forças e redes de ação com vistas
à apropriação e controle do espaço (1998, p. 357). Ou seja, para o autor, há
liames que articulam as ações e os interesses dos sujeitos, no nível local, aos
interesses dos agentes hegemônicos que sustentam a lógica de reprodução
social do espaço.
Sua gênese tem um significado mais amplo que tem a ver com o
esquema de reprodução social capitalista, que pressupunha a
existência da metrópole como condição à realizão do padrão
urbano-industrial, responsável por fazer do espaço uma força
produtiva importante para o processo de reprodução do capital no
território brasileiro. As ões locais são responsáveis por ratificar,
redefinir, ou, quem sabe, recriar e subverter esse espaço concebido
(TRINDADE JUNIOR, 1998, p. 355).
Como argumentado na discussão sobre a estruturação urbana e da
cidade, dentre esses sujeitos, no caso dos países subdesenvolvidos, o Estado
tem importância fundamental no processo de reestruturação, pois administra e
controla as ações engendradas para alterar o modo como o espaço essendo
produzido. Obviamente, sempre atendendo aos interesses das classes
dominantes, em detrimento dos interesses da coletividade.
É a partir do caráter contraditório/complementar entre os interesses
dos que produzem e dos que consomem, que se (re)estrutura a
cidade. É a partir desta (re)estruturação que estes interesses se
expressam enquanto possibilidade de realização rentista dos
proprietários fundiários, de realização capitalistas dos
empreendedores, e de satisfação objetivas e subjetivas, concretas
e simbólicas dos consumidores (SPOSITO, 1991a, p. 356).
O processo de reestruturação urbana e da cidade implica sempre na
constituição de um novo caráter à estrutura urbana. Assim, várias definições m
sendo utilizadas para explicar a forma adquirida pelas cidades contemporâneas.
Em geral, elas reconhecem que a feição mais notória da estrutura urbana atual é
marcada pelo aumento no número de áreas centrais intra-urbanas. Todavia, essa
discussão será desenvolvida a posteriori.
Nesse sentido, o próximo capítulo visa aprofundar a análise sobre as
transformões pelas quais Salvador passou entre as décadas de 1940 e 1970,
por sua vez, produto e condição dos impulsos e interesses políticos, econômicos,
sociais e técnicos que resultaram na reestruturação da cidade. As ações e os
sujeitos que engendraram tais modificações são o foco do debate, que tamm se
propõe a ampliar nossa compreensão sobre os conceitos de centralidade urbana,
de centro e de sub-centro.
CAPÍTULO II:
TODOS OS CAMINHOS
LEVAVAM AO CENTRO DE SALVADOR
É na cidade, e através da escrita, que se registra a acumulação de conhecimentos.
Na cidade-escrita, habitar ganha uma dimensão completamente nova,
Uma vez que se fixa numa memória que,
Ao contrário da lembrança, não se dissipa com a morte.
A cena escrita da cidade permanece.
Maria Auxiliadora da Silva e Délio José Ferraz Pinheiro
Os processos de estruturação e reestruturação da cidade de Salvador
articulam-se ao entendimento sobre as alterações que ocorreram em sua trama
urbana, ao longo da história. Por sua vez, tais alterações foram influenciadas,
mormente, pelas mudanças econômicas, políticas e sociais engendradas no
processo de urbanização. Com base nas idéias de Vasconcelos (2002), percebe-
se que essas vicissitudes só são compreensíveis se analisadas tendo como nexo
o tempo das coexistências, no qual parte-se do princípio de que um movimento de
transformações no espaço se desenvolve, dialeticamente, junto com um conjunto
de permanências.
Como observamos anteriormente, o Materialismo Histórico e Dialético
entra nas discussões propostas como o ponto de partida para as interpretações
sobre os fenômenos que ocorrem no interior da cidade, sempre articulados às
determinações que incidem a partir do âmbito global. Assim sendo, passa-se a
compreender que a lógica intra-urbana está atrelada aos processos e relações
sociais tecidos em outros níveis escalares.
Isso exposto, apreende-se que o entendimento sobre o conceito de
espaço urbano, enquanto uma organização da sociedade, torna-se superado,
principalmente, porque passamos a analisá-lo como um produto social. Essa
mudança de concepção sobre o espaço organizado para pensarmos o espaço
enquanto produto, condição e meio, como defende Carlos (1994b), põe no centro
dos debates a questão dos conflitos de classe, bem como as desigualdades como
liame que articula a produção coletiva da cidade à sua apropriação individual.
Ultrapassa-se o nível da descrição aparente; supera-se o fenômeno
indicando uma direção capaz de entender a natureza do urbano
para, com isso, poder se pensar na sua transformação; e reflete-se
sobre o sujeito que produz a cidade [...] (CARLOS, 1994c, p. 159).
Portanto, “a noção de cidade evolui. De organismo funcional passa a
ser entendida a partir da idéia de trabalho materializado, enquanto elemento de
uma totalidade espacial [...]” (CARLOS, 1994c, p. 160). Essa concepção de
espaço enquanto produto e condição, destacada pela autora, tem nas idéias de
Lefebvre (1974) suas maiores expressões. Entretanto, Carlos acrescenta a noção
do espaço como meio, aspecto importante para se compreender a trama da vida
urbana.
A reflexão sobre a cidade enquanto um produto das relações entre os
homens, ou seja, enquanto uma produção realizada sob a égide da Sociedade, é
o que possibilita compreendê-la, igualmente, como resultado da história, como
trabalho materializado ao longo do tempo. A nosso ver, essa perspectiva conduz
ao âmago os interesses dos sujeitos, a divisão social, cnica e territorial do
trabalho e as ões das instituições e do Estado, porque eles são intrínsecos ao
movimento de produção e reprodução do urbano, da cidade e da vida cotidiana.
São, portanto, essas perspectivas que, doravante, orientarão nossas discussões.
Salvador estruturou-se a partir de um processo histórico no qual as
formas e as estruturas herdadas foram sendo (re)construídas ou adaptadas, no
intuito de favorecer à reprodução sócio-econômica. Isso ocorreu em consonância
com um movimento de urbanização marcado por “tempos densos e tempos
rarefeitos (SANTOS, 1996), em função, principalmente, das mencionadas
alterações econômicas e políticas, em especial, às associadas à dinâmica
regional. Cada um desses tempos deixou registros importantes na estrutura
urbana que, aliás, são verificados até os dias atuais.
Entendemos que tais constituintes da urbanização soteropolitana são
elementos irrefutáveis para a análise que propomos desenvolver, porque
influenciaram e influenciam na estruturação urbana e da cidade. Nesse sentido,
se, por um lado, observa-se que o modo como estavam dispostos os usos do
solo, em Salvador, sempre correspondeu às necessidades suscitadas pela
dinâmica econômica, política e cultural, vigentes em cada momento histórico; sob
outro aspecto, também se consolidou como condição necessária, como
sustentáculo das transformações engendradas ao longo do tempo.
Assim sendo, inicialmente, optamos por analisar o processo de
produção do espaço urbano em Salvador pensando nos nexos que influenciaram
a maneira como esorganizada a estrutura urbana na contemporaneidade. Com
base nesses aspectos, finalizaremos o capítulo discutindo os impactos que esse
acúmulo de temporalidades e espacialidades distintas acarretaram em sua área
central, o que, a nosso ver, contribui para o debate sobre o processo de
reestruturação da cidade.
2.1 – A estruturação da cidade de Salvador
Segundo as informões de Azevedo (1969), Vilhena (1969) e
Vasconcelos (2002), no que diz respeito às modificações no processo de
urbanização de Salvador, até o início do século XIX, percebe-se que elas estavam
vinculadas, sobremaneira, a duas questões: as relações entre a metrópole e a
colônia e as relações internas à própria colônia.
As primeiras referem-se às transformões políticas, econômicas e
culturais que, em escala ultramarina, afetaram a sociedade da época, mormente,
a lógica colonial engendrada pelos Grandes Descobrimentos e as modificações
que tal processo acarretou no mundo. Outrossim, como produto dessas, à
instituição de uma divisão territorial, técnica e social do trabalho, em escala
mundial, que, paulatinamente, adquiriu novos elementos, ganhando novas
complexidades.
As segundas são relativas à instituição do Brasil enquanto colônia
portuguesa, o que suscitou: -a implantação de espaços destinados à defesa do
terririo comandado pelo Império Português; -a instalação de infra-estrutura em
determinados espaços, voltados ao escoamento da produção colonial; e -a
crião de espaços reservados para o gerenciamento do novo território
colonizado.
Como mencionado no Capítulo I, o marco inicial da estruturação de
Salvador foi determinado por sua fundação, em 1549, já como cidade, cujo
principal objetivo foi servir como centro de controle do Império Português sobre a
nova colônia. A própria escolha do sítio urbano
55
foi definida face tal função, o que
fez compartimentar a estrutura urbana em dois eixos: a Cidade Alta e a Cidade
Baixa, respectivamente, o horst e o graben tectônicos, formados pelo conjunto
das falhas de Salvador e Maragogipe (Figura 9). Esses episódios denotam a
relação entre a fundação da cidade e a necessidade de defesa do território.
No século XVI, o movimento de estruturação urbana acarretou a
implantação de novos equipamentos que garantiam a reprodução da sociedade
da época. Salvador, concomitantemente à função defensiva, tamm assumiu os
papéis administrativos e de escoamento da produção, esse último no nível
regional (VASCONCELOS, 2002 e AZEVEDO, 1969). Todavia, até a primeira
metade do século XVII, a cidade ainda era bastante compacta, circunscrita aos
dois portões na Cidade Alta, bem como ao crescente movimento de circulação no
Porto, localizado na Cidade Baixa. Foi um desenvolvimento decorrente da
ampliação de Salvador enquanto interposto de ligação entre a Colônia e a
Metrópole, para a exportação, principalmente, do açúcar, do fumo e dos escravos
(SANTOS, 1959a).
A partir da segunda metade do século XVII, a o fim do período
colonial, Salvador passou pela a chamada “Idade do Ouro”, na qual ocorreram
importantes transformões nos equipamentos urbanos, em função, sobretudo,
da expansão da agricultura canavieira, do cultivo do fumo e do cacau, e do
escoamento dos metais preciosos pelo Porto. Como observado por Vasconcelos
(2002), até o final do século XVIII, por mais que tenham ocorrido importantes
transformões na cidade, relacionadas à implantação de novos equipamentos
urbanos, o traço característico que podemos observar é sua estrutura urbana
bastante coesa, assentada, segundo o autor, em um modelo radiocêntrico.
55
O sítio urbano deve ser compreendido como o alicerce morfológico e topográfico onde uma
determinada cidade es assentada, sendo, igualmente, um nível de condição para sua
estruturação. De acordo com Abreu (1994), o uso do conceito proveio da escola francesa e
exerceu influência importante nas primeiras pesquisas geográficas brasileiras.
Segundo os autores consultados, os dados demográficos, apesar de
precários, indicam que Salvador tinha por volta de 10.000 habitantes em 1650
56
,
passando para aproximadamente 30.000 no início do culo XVIII
57
. No final do
século XVIII e início do século XIX, os dados, segundo diferentes autores citados
por Vasconcelos (2002, p. 151-153), indicam que a população de Salvador
variava entre 70.000 e 110.000 habitantes. Não são dados precisos, pois, para
outros, elao era muito superior a 40.000 habitantes
58
.
Nesse contexto histórico, fundamentado pelas informões de Santos
(1959a), Vilhena (1969), Azevedo (1969) e Vasconcelos (2002), observa-se um
processo de estruturação da cidade peculiar, sem a definição de um centro ou
periferia urbana, pois não havia uma nítida separação entre os usos do solo, o
que não significa dizer que não havia diferenciações em tais usos. A cidade o
apresentava um centro bem definido porque as funções e a vida urbanas estavam
mescladas no espaço coeso e contínuo, onde múltiplos usos se estabeleciam.
Todavia, após a metade do século XVIII e, principalmente, no início do
século XIX, observamos a emergência de uma nova estruturação da cidade de
Salvador, ou seja, sua primeira reestruturação
59
. Essa mudança ocorreu como
produto das transformões na estruturação urbana, que engendraram maior
complexidade no uso do solo, bem como a implantação de novos equipamentos e
a incorporação de novas instituições urbanas.
A partir de 1850, além da pavimentação dos espaços centrais,
destinados ao fluxo de pessoas e mercadorias, também ocorreu à implantação
das primeiras diligências, em 1851, na Cidade Baixa (RUY, 1949) e das iniciais
linhas de bonde, em 1868, tamm na Cidade Baixa, articulando o “Comércio” ao
Bonfim (STIEL, 1984). Algumas vias de circulação foram abertas para dar vazão
ao fluxo de pessoas e de mercadorias, tanto no que tange ao espaço intra-
urbano, quanto no que corresponde ao espaço regional.
56
Salvador (1985b, p. 05)
57
Idem.
58
Salvador (1976, p. 19).
59
Não vamos aprofundar a discussão sobre esta etapa da estruturação urbana de Salvador, que,
em nossa compreensão, influenciou e configurou a primeira reestruturação da cidade.
Nesse momento, consolidou-se a divisão territorial das atividades
econômicas na cidade, fato iniciado ainda no século XVIII, dando maior contorno
à distinção entre o centro e os novos espaços residenciais. Concomitantemente,
novos bairros passaram a ser ocupados, como o Rio Vermelho, Itapagipe, Vitória
e Nazaré (VASCONCELOS, 2002), já exprimindo o processo de diferenciação
socioespacial. Revelava, do mesmo modo, a expansão do tecido urbano de forma
radial, ainda segundo o autor.
A análise dos dados demográficos
60
desvela o século XIX como um
período de crescimento intenso da cidade (Gráfico 7). Em um intervalo inferior a
um século, Salvador quase que quadruplica seu contingente populacional, algo
não observado em períodos anteriores, demonstrando as importantes
transformões ocorridas.
A crescente saída da classe abastada do centro, a partir da metade do
século XIX, marcou também o início do processo de segregação socioespacial. É
importante destacar, todavia, que nem todos os espaços do centro perderam sua
função residencial. Em verdade, permaneceu ainda incisivo o uso residencial, nas
áreas centrais, que, paulatinamente, sendo voltado à população pobre
(SANTOS, 1959a). Todas essas transformações, ainda incipientes se
60
Tais dados ainda merecem ressalvas, em função dos limites na precisão do recenseamento na
época.
0
50.000
100.000
150.000
200.000
250.000
300.000
Início do
Século
XIX
1823 1872 1890 1900 1910 1920
Gráfico 7: Salvador
Evolução no ritmo de crescimento demográfico (%), Século XIX até 1920
Fontes
: S
ANTOS, 1959a e VASCONCELOS, 2002.
comparadas à expano urbana ocorrida no século XX, foram importantes, pois
marcaram uma maior complexidade na divisão técnica, social e territorial do
trabalho, no nível intra-urbano.
A partir do final do século XIX e, principalmente, no início do século XX,
a expansão do tecido urbano se intensificou, em fuão do evidente projeto de
modernizão da cidade, fincado em claros interesses de reprodução do capital
comercial, financeiro e imobiliário, que, aliado ao Estado, constituíram-se como os
principais agentes de produção do espaço urbano. A estruturação da cidade era
revelada pelas profundas reformas que atingiram a estrutura urbana, alicerçadas
pelo ideal de modernização.
Salvador atingiu a metade do século XX com um centro urbano que
concentrava a maioria das atividades comerciais e de serviços da cidade, e para
onde convergia um montante elevado de capitais, mercadorias e pessoas, não só
da metrópole, como, tamm, de todo o Estado da Bahia. Se a cidade, no
mencionado interregno temporal, em relação ao fluxo de capital e de poder,
absorveu quase tudo em sua hinterlândia, foi no centro onde o fenômeno
materializou-se efetivamente.
Todavia, apesar de destacarmos tais mudanças, até pelo menos a
década de 1940, mesmo com a expansão dos serviços de transportes coletivos e
com a atuação do capital imobiliário, Salvador mantinha-se densamente ocupada
nas franjas da orla Atlântica e na orla da Baia de Todos os Santos.
A maior parte das terras do Miolo Central, principalmente, os fundos
dos vales, que, nas décadas seguintes, seriam incorporadas ao tecido urbano,
mantinha uma estrutura fundiária baseada na produção agrícola, como analisada
por Macêdo e Erdens (1970). Santos, inclusive, analisando a Baixa dos
Sapateiros, rua muito próxima ao Centro Tradicional de Salvador, revela que, pelo
menos até a década de 1940:
[...] a denominação de “rua das hortas” dada ao seu trecho inicial, é
por si mesma eloqüente: era ai que a cidade em grande parte se
abastecia de frutas e legumes. Essa função, presente sobre quase
toda a extensão da rua durante vários séculos, há somente 10 anos
que desapareceu completamente. (SANTOS, 1959a, p. 170).
Na década de 1940, ocorreu um movimento de ruptura importante no
processo de urbanização de Salvador, que repercutiu em sua estruturação,
principalmente, a partir da cada de 1960. Foi nesse contexto que, no tocante à
estruturação da cidade, o papel que o Centro desempenhava foi acentuado, face
à excessiva concentração de atividades comerciais e de serviços. Igualmente,
foram fortalecidos os papéis desempenhados pelos tradicionais sub-centros da
Calçada e Liberdade, indicando o fenômeno da descentralização/
(re)centralizão.
2.2 – Mudanças profundas na dinâmica econômica de Salvador
A partir da segunda metade do século XX, as influências do processo
de industrialização pelo qual passou o Brasil, algo brevemente explanado no
Capítulo I, incidiram sobre Salvador. Percebe-se que os impactos do fenômeno
atingiram as esferas políticas, econômicas e sociais, alterando, de modo
significativo, a estrutura urbana, o que acarretou na produção de novas relações
tempo-espaço na cidade. Sob certo aspecto, esse fenômeno fez a Bahia superar
o que Aguiar (1977) denominou como o “enigma baiano”, período em que ocorreu
forte estagnação na economia do estado.
Nesse interregno temporal, as indústrias mais importantes que
chegaram à Bahia e que tiveram maiores impactos sobre a estruturação urbana
soteropolitana foram a Refinaria Landulfo Alves (Petrobrás), o Complexo
Petroquímico de Camaçari (COPEC) e o Centro Industrial de Aratu (CIA). De
acordo com Alcoforado (2003), foram, essencialmente, as indústrias de bens
intermediários que se implantaram no início do processo.
Segundo Spínola (2001), o processo de planejamento pelo qual a Bahia
passou, nesse contexto histórico, no qual se destaca o PLANDEB (Plano de
Desenvolvimento da Bahia), concluído em 1959, foi seminal para a instalação das
primeiras “grandes” instrias no estado, porque objetivou um equilíbrio entre a
produção de bens de consumo e de capital, além de enfatizar prioridade para a
especialização das grandes empresas de bens intermediários.
Ainda com base no supramencionado autor, várias propostas setoriais
do PLANDEB o saíram do papel. Contudo, algumas foram implantadas até a
década de 1980, como o lo Petroquímico de Camari. Tratou-se de um
projeto audacioso que integrava a indústria, o comércio e a agricultura,
efetivando-se como uma política de “desconcentração concentrada”.
Deve-se destacar, todavia, que a implantação de tais indústrias não
ocorreu, necessariamente, em Salvador. Foi privilegiado o Recôncavo Baiano,
alterando também a dinâmica dos pequenos municípios onde se instalaram,
principalmente, Camaçari, Simões Filho e São Francisco do Conde.
Como vanguarda para a Bahia, a implantação da Refinaria Landulfo
Alves, em 1954, ocorreu a partir de investimentos da União, em função da
descoberta, ainda no final dacada de 1930, de óleo e gás no Recôncavo
Baiano.
O Governo do Estado da Bahia e o Governo Federal, durante as
décadas de 1960 e 1970, criaram o alicerce fundamental para a implantação de
mais dois complexos industriais no Recôncavo Baiano. O Centro Industrial de
Aratu foi implantado em 1967, entre os municípios de o Francisco do Conde e
Candeias, com investimentos do Governo Estadual (SILVA, 1972); e o Pólo
Petroquímico de Camaçari, em 1975, com recursos do Governo Federal e de
capital estrangeiro (SANTOS, 2000). Esses dois distritos industriais foram criados
com financiamentos a juros subsidiados, isenção de impostos e incentivos fiscais
com o aporte de relevantes recursos públicos a fundos perdidos, advindos de
organismos que propunham o desenvolvimento do país (ALCOFORADO, 2003), e
do Estado que, além dos mencionados privilégios, concedeu toda infra-estrutura
necessária ao escoamento da produção.
Acontece que, segundo Spínola (2001), mesmo havendo o inegável
crescimento econômico, não houve desenvolvimento na Bahia durante o período,
pois o conjunto dos benefícios não esteve “disponível para milhões de excluídos
que constituem, preponderantemente, a população estadual". Ademais, a política
de incentivos fiscais já revela a decorrência de sérios problemas.
No caso da Bahia, esses problemas relacionam-se com a alta taxa
de turn-over das empresas instaladas no CIA. Para alguns autores,
essa alta rotatividade denotaria uma estratégia puramente rentista
de vários grupos nacionais e internacionais. Eles se instalariam na
região para aproveitar os incentivos. Uma vez esgotados tais
incentivos, suas plantas eram transferidas para mercados mais
dinâmicos (TEIXEIRA e GUERRA, 2000, p. 90).
Passada a “década perdida”, como ficaram conhecidos os anos de
1980, aliás, um período marcado por uma nova fase de estagnação, crise e
pessimismo na economia baiana, refletindo a brasileira, observou-se a
emergência de novas políticas industriais no estado. Tais políticas, apesar de
incentivar a instalação de indústrias no interior baiano, o que revela certa
diferença em relação ao primeiro período, também privilegiaram a Região
Metropolitana de Salvador, culminando na implantação do Complexo Ford, no
município de Camaçari, em 2001
61
.
Esse novo processo de industrialização na Bahia desenvolveu-se a
partir de estratégias fundadas em verdadeiras “guerras fiscais”, com o governo
estadual vencendo” a luta travada com outros governos federativos, porque
ofereceu maiores privilégios à empresa, baseados em uma rie de incentivos
fiscais, investimentos financeiros, concessão de terreno e infra-estrutura de base,
além do fornecimento de treinamento para a parte da mão-de-obra que ocuparia
determinados cargos na montadora
62
.
Segundo Rocha (2004), podemos distinguir três esgios que denotam
mudanças na postura política estadual que culminaram com a implantação da
Ford na Região Metropolitana de Salvador: -a criação do PROBAHIA (Programa
de Promoção do Desenvolvimento da Bahia), datado do início da década de 1990,
que consistiu na concessão de financiamentos, com juros subsidiados, de um
percentual do ICMS para os novos empreendimentos industriais; -a concentração
de esforços em programas setoriais, como o PROCOBRE (Programa Estadual de
Desenvolvimento da Mineração, da Metalurgia e da Transformação do Cobre),
PROFIBRA (Programa de Incentivo a Produção à Produção Têxtil e de
Confecções) e BAHIAPLAST (Programa Estadual de Desenvolvimento da
Indústria de Plásticos), assentados em novos modelos de incentivos fiscais,
61
Pesquisa de campo (2006).
62
Informações coletadas no site: http://www.senado.gov.br.
presumidos do ICMS; e, por final, o DESENVOLVE (Programa de
Desenvolvimento Industrial e de Integração dos Econômica do Estado da Bahia)
cujo objetivo essencial foi diversificar a matriz industrial e agro-industrial baiana,
com a integração e verticalização das cadeias produtivas estratégicas.
Entretanto, vários questionamentos sobre tais políticas de
desenvolvimento o levantados, principalmente, no que diz respeito à eficácia
dos projetos como estratégias reais de promão de emprego e distribuição de
renda para a população, se comparadas ao montante de investimentos blicos
que foram canalizados para subsidiar essas indústrias, em especial, o Complexo
Ford.
63
O Governo do Estado, por exemplo, dispôs um montante de 1,575 bilhões
para que a empresa se instalasse na Bahia, adicionado a mais 700 milhos do
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social)
64
. Ademais,
pesquisas vêm revelando que os investimentos não compensam as perdas
sociais provocadas pelo desvio do orçamento público para a atração da
montadora, bem como pelo fato de não terem sido atingidos os índices iniciais de
empregos diretos e indiretos. Além disso, questiona-se a permanência da
empresa quando findar o período de isenção fiscal.
A implantação das indústrias na Bahia ocorreu, e ainda ocorre, em
consonância, por um lado, com a ausência de políticas voltadas para a
permanência do pequeno produtor no campo e, por outro, com um acelerado
processo de modernização da agricultura. Tais fatos provocaram um intenso
movimento de migração para Salvador
65
e sua hinterlândia, concomitantemente
incidindo em sérios problemas sociais. Assim sendo, a cidade passou a
apresentar altos índices de crescimento demográfico a partir de 1940 (Tabela 12).
Segundo os dados, o município de Salvador, que cresceu inexpressivamente
entre os anos de 1920 e 1940, a partir dessa última década, passou a elevar suas
taxas de crescimento em ritmos maiores que o da Bahia e o do Brasil. Entre 1940
e 1950, cresceu 43,7%, e entre 1950 e 1960, cresceu 57,1%; ou seja, a
população mais que duplicou em apenas 20 anos. Nos anos seguintes, a
população de Salvador permaneceu com um alto crescimento. Segundo os
63
Os dados sobre o aumento na Taxa de Desocupação na RMS é um indicativo desse fato. Ver
no Capítulo V.
64
Dados coletados no site: http://www.senado.gov.br.
65
Maiores detalhes em Silva (1972).
dados, entre 1960 e 1970, aumentou 53,60%, e entre 1970 e 1980, cresceu
49,13%. Do mesmo modo que entre os vinte anos anteriores, de 1960 a 1980 a
população mais que duplicou, crescendo quase 130% (Gráfico 8).
Tabela 12: Salvador, Bahia e Brasil
População absoluta, 1920/2000
Dados absolutos
Anos
Salvador
Bahia
Brasil
1920 283.422
3.334.465
30.635.605
1940 290.443
3.918.112
41.236.315
1950 417.235
4.834.575
51.944.397
1960 655.735
5.990.605
70.992.343
1970 1.007.195
7.493.437
93.134.846
1980 1.502.013
9.455.392
119.011.052
1991 2.075.273
11.867.991
146.825.475
2000 2.443.107
13.066.910
169.590.693
2007 2.892.625
1
14.080.670
2
183.989.711
2
Fonte: IBGE
Notas: 1 - População estimada
2 - O valor inclui dados estimados
Gráfico 8:
Salvador, Bahia e Brasil
Evolução no ritmo de crescimento demográfico (%), 1920/2000
Fonte: IBGE, Censo Demográfico.
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
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9
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-
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9
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-
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1
9
9
1
-
2
0
0
0
2
0
0
0
-
2
0
0
7
Salvador
Bahia
Brasil
Como mostram os dados, a partir da década de 1980, entretanto,
ocorreu um arrefecimento no crescimento demográfico de Salvador. Entre 1980 e
1991, a população cresceu 38,2%, e entre 1991 e 2000 elevou-se 17,7%. As
estimativas da Contagem Populacional de 2007 indicam que houve um aumento
de 18,8% no ritmo de crescimento, portanto muito pequeno se comparado às
décadas anteriores. Isso indica que a implantação do Complexo Ford não trouxe
grandes conseqüências demográficas para a cidade, se compararmos com a
instalação do Pólo Petroquímico de Camaçari, do Centro Industrial de Aratu e da
Petrobrás.
O acentuado crescimento da população urbana, durante o período de
1940 a 1980, bem como a intensa inópia da sociedade, foram reflexos/
condicionantes das transformações engendradas no conteúdo da urbanização
soteropolitana. Nesses termos, articular as mudanças ocorridas na estruturação
urbana, entre as décadas de 1940 e 1980, ao processo de estruturação da cidade
é fundamental porque entendemos que aquelas acarretaram na expansão e na
constituição de uma nova complexidade ao tecido urbano de Salvador,
provocando, principalmente, sua expansão.
Ademais, as informações sobre as alterações na estrutura produtiva da
Região Metropolitana de Salvador contribuem para entender o papel dos poderes
municipal, estadual e federal enquanto importantes agentes promotores de
alterações no conteúdo da urbanizão baiana, que imprimiram ões
fundamentais no espaço, rompendo com os pilares econômicos que perduravam
desde o período colonial. Por outro lado, como tais informações levantam a
discussão sobre osajustes” suscitados para que Salvador pudesse se adequar a
essa nova realidade, daremos ênfase, a partir desse momento, às ações
projetadas no plano da estruturação da cidade, que, a nosso ver, são os liames
que marcam o como do seu processo de reestruturação.
As primeiras propostas de modificações da/na estrutura urbana
soteropolitana apareceram com o desenvolvimento do Plano Urbano de Salvador,
pela EPUCS (Equipe de Planejamento Urbano da Cidade de Salvador), entre
1943 e 1947. Tal comissão foi criada como uma culminância das discussões
levantadas a partir da Semana de Urbanismo, realizada na capital baiana, em
1935, cujo objetivo seria “criar na Bahia uma consciência urbanística, sem a qual
não seria possível uma expansão racional e metódica de nossa capital
(SALVADOR, 1976, p. 21).
A criação do Plano foi uma das primeiras ações no sentido de propor
modificações na cidade, visando atender a nova gica econômica que a política
nacional engendrava. Em 1948, a CPUCS
66
(Comissão do Plano de Urbanismo
da Cidade de Salvador) substituiu a EPUCS. A proposta teve como principais
resultados a promulgação da Lei 701/48, que deu suporte ao zoneamento do uso
e ocupação do solo, visivelmente fincados nos ideais da Carta de Atenas; e,
principalmente, a proposta de implantação das “avenidas de fundo de vales”, que,
posteriormente, alteraram os fluxos no nível intra-urbano (SALVADOR, 1976). As
informações coletadas revelam que o ideal de uma cidade que necessitava se
reestruturar para atender às exigências sociais e econômicas da época estava
muito claro já na década de 1940.
[...] é de toda conveniência interessar a população local, pelos seus
elementos mais representativos, nas obras e empreendimentos que
a Prefeitura terá de promover para reestruturar a Cidade e lhe
condicionar o progressivo e racional desenvolvimento, sem prejuízo
de sua paisagem urbana, nem dos valores espirituais que ela
contém (SALVADOR, 1976, p. 29).
Todavia, mesmo com a proposta pensada pelo EPUCS, excetuando-se
alguns aspectos associados ao sistema viário, poucas ações foram efetivamente
implementadas na cidade, pelo menos, até a primeira metade da década de 1960.
Com a criação do BNH (Banco Nacional de Habitação) e do SFH (Sistema
Financeiro Habitacional), pela Lei 4.380 de agosto de 1964, esse quadro se
alterou. Esses dois órgãos federais deram o alicerce financeiro para que muitas
mudanças ocorressem em Salvador, principalmente, no que diz respeito aos
mecanismos de dotação de infra-estrutura urbana, em determinadas áreas, o que
acarretou na valorização de parcelas do espaço urbano, bem como sua extensiva
mercantilização e privatização, para atender, prioritariamente, aos interesses
privados.
66
A CPUCS foi extinta em 1958, pela Lei N
o
860, e suas atribuições foram assumidas pela Seção
de Planejamento, ligada a Secretaria da Viação e Obras públicas. Em 1959, a partir da Lei N
o
900,
foi criada a SURCAP (Superintendência de Urbanização da Capital), com a finalidade de executar
as obras do sistema viário pensada pela EPUCS.
Outro fato importante para entendermos essa nova etapa do processo
de produção do espaço urbano soteropolitano foi a promulgação da Lei n
o
2181,
de 24 de dezembro de 1968, que tinha como objetivo garantir a venda de terras
da Prefeitura para particulares. O pretexto era que o montante resultado da
alienação das terras serviria para arcar com os dispendiosos custos da
implantação de infra-estrutura na cidade. A maior quantidade das terras
comercializadas foi adquirida a preços muito baixos, pois estavam concentradas
em áreas afastados do centro, em terrenos com pouca ou nenhuma infra-
estrutura (SALVADOR, 1985a, p. 57-58). Posteriormente, tais terras
apresentaram uma valorização intensa para os proprietários que as adquiriram,
porque elas faziam parte de um projeto político de implantação de infra-estrutura,
o que demonstra uma tácita relão entre os interesses da Prefeitura de Salvador
e do Governo do Estado da Bahia, os proprietários e especuladores fundiários,
empresas de construção civil e proprietários dos meios de produção.
Esses instrumentos legais, por outro lado, fizeram com que o
planejamento urbano fosse retomado em Salvador, a partir da cada de 1970. A
promulgação da Lei N
o.
2773, de 20 de outubro de 1975, que atribuiu ao poder
executivo a realização de operações de créditos com o FINEP (Financiadora de
Estudos e Projetos) para a realização do PLANDURB (Plano Diretor de
Desenvolvimento Urbano) foi seminal, pois reintegrou a cidade ao processo de
planejamento, após quase 30 anos.
As principais decorrências legais das ações do PLANDURB só foram
consolidadas a partir da década de 1980, com a promulgação da Lei n
o.
3345, de
1982, que dispunha sobre o processo de planejamento e a participação
comunitária no desenvolvimento do município de Salvador, e, principalmente, a
partir da Lei n
o.
3377, de 1984, com a institucionalizão da LOUOS (Lei de
Ordenamento do Uso e Ocupação do Solo), que estabeleceu os mecanismos
normativos para o macro-zoneamento municipal, circulação urbana, nucleação
das atividades, a definição das áreas de expansão, dentre outros aspectos.
Das transformões engendradas nesse período inicial do processo de
planejamento urbano em Salvador, compreendido entre as décadas de 1940 e
1980, duas destacam-se como relevantes para a reestruturação da cidade: as
propostas que acarretaram a alteração da circulação urbana e as propostas que
instituíram a criação de novas áreas centrais na cidade.
No que diz respeito à primeira, observa-se que a partir de meados do
século XX, com base nos estudos desenvolvidos pela EPUCS, coordenados pelo
Prof. Mário Leal Ferreira, encampou-se um projeto de criação de “avenidas de
fundo de vales” para equacionar, por um lado, um rio problema que passou a
afligir Salvador durante esse contexto: a circulação intra-urbana, especialmente,
na área central. Essa proposta diferia significativamente da maneira como, ao
longo da história, a cidade foi ocupada. Até a década de 1940, as avenidas de
cumeadas constituíam a base do sistema viário de Salvador, sobremaneira, as
ligações entre a periferia urbana e a área central. O sítio onde a cidade se
desenvolveu, aliás, favoreceu tal modo de implantação dos eixos de circulação.
Na década de 1950, contudo, iniciou-se uma nova etapa no
planejamento do sistema de circulação, sobretudo, no nível intra-urbano. A
Prefeitura Municipal de Salvador, com base nas idéias do EPUCS,
paulatinamente, passou a engendrar mudanças profundas na estrutura urbana,
levando em frente às propostas de construção das “avenidas de fundo de vales”.
Segundo as informações coletadas
67
, em Salvador constata-se o pioneirismo na
implantação desse sistema viário, que, teoricamente, surgiu para equacionar o
estrangulamento da área central.
Dentre as principais vias de circulão construídas a partir das
propostas da EPUCS, temos: a Av. Centenário, em 1949; Av. Vasco da Gama,
em 1959; Av. Tancredo Neves, em 1968; Av. Mário Leal Ferreira (Bonocô), em
1970; Av. Luiz Viana Filho (Paralela), em 1971; Av. Antônio Carlos Magalhães,
em 1975; Av. Barros Reis, em 1975; a Av. Anita Garibaldi, em 1977; Av Juracy
Magalhães, em 1978; e Av. Vale do Ocunjá, em 1978 (VASCONCELOS, 2002).
Além dessas avenidas, outras importantes foram construídas, como a Av.
Suburbana, em 1971, ligando o sub-centro de Calçada ao Subúrbio Ferroviário
(SANTOS, 2003).
A construção dessas avenidas provocou uma mudança consubstancial
na mancha urbana de Salvador, se comparada com anos precedentes,
contribuindo para a expansão do tecido urbano (Figura 10). Com elas pode-se
redimensionar o fluxo de veículos e atenuar parte dos problemas de circulação na
cidade, na época; todavia, sem solucioná-los.
Entendida como solução necessária para o equacionamento do
problema da circulação em Salvador, a implantação das “avenidas de fundo de
vales” também acarretou sérios problemas sociais, já que provocou a expulsão de
parcela da população pobre, que vivia nessas áreas de baixadas, para atender
aos interesses das classes mais abastadas da sociedade, no sentido de facilitar
seu deslocamento até o centro (BRANDÃO, 1978).
Por outro lado, não podemos entender o projeto de criação de novas
avenidas apenas associado à questão da circulação intra-urbana. Obviamente, a
dotação de infra-estrutura nessas áreas distantes do centro, em especial, as que
vinham sendo objeto de especulação imobiliária, em função da ão os
loteadores e proprietários fundrios e que, como dissemos alhures, iniciaram
suas investidas na terra urbana ainda na década de 1930, proporcionaram a
valorização do espaço urbano, principalmente naqueles direcionados à elite
soteropolitana.
Percebe-se, então, que o processo de construção das “avenidas de
fundo de vales” não se desenvolveu de forma inocente, ausente de interesses dos
grupos ligados, seja aos setores da administração pública, seja da iniciativa
privada. É exatamente por esse fato que ele só foi executado, de modo mais
incisivo, a partir do final da década de 1960, após a aprovação da mencionada Lei
n
o.
2181, e após uma atuação mais contundente do BNH e do SFH, no sentido de
liberar recursos para a construção civil, o que fez crescer o número de empresas
ligadas a esse setor (FRANCO, 1983
68
).
67
Jornal da Bahia (24.09.1967) e Diário de Notícia (19.10.1974).
68
As pesquisas de Brandão (1978), Borges, (1979), Franco (1983) e Souza (2000a) são
referências importantes que proporcionam maiores detalhes sobre a questão.
Além do sistema viário, outro aspecto importante para nossa discussão
foi a proposta de zoneamento elaborada pelos diversos projetos de planejamento
urbano. Com base no Plano da EPUCS, o objetivo era “estabelecer justo
equilíbrioentre os diversos usos do solo na cidade, partindo-se do princípio de
que razões de ordem econômica, higiênica, de segurança e de ordem social
concorriam no sentido de favorecer à compartimentação de Salvador em zonas
específicas (SALVADOR, 1976, p. 73). O ponto central desse zoneamento
aparecia:
[...] em favor da centralização das atividades econômicas em locais
distintos e separados das áreas destinadas a residências, e as que
aconselham a localização da casa tão próxima quanto possível do
local de trabalho, de modo a encurtar as distâncias e diminuir a
fadiga do homem no seu trajeto cotidiano a procura dos meios de
subsistência (SALVADOR, 1976, p. 73).
Alem disso, observou-se uma preocupação com a “descentralização”
das atividades comerciais e de serviços no plano da EPUCS, na medida em que
estava prescrita a localização de “centros de atividades comuns” nos bairros
residenciais, onde seriam agrupados estabelecimentos comerciais, pequenas
indústrias, atividades profissionais, serviços de utilidade pública, serviços públicos
e de interesse social. Como dissemos alhures, do mesmo modo que o sistema
viário, muito pouco foi executado dessa proposta até o final da década de 1960.
Entretanto, a implantação de infra-estrutura, o crescimento do tecido
urbano e, principalmente, a expansão do mercado imobiliário, constituíram em
Salvador uma nova lógica da valorizão do solo urbano, fortalecendo a disputa
pelo acesso à terra. Isso expôs, igualmente, os conflitos de interesses entre o
estado, os proprietários e especuladores fundiários e o capital comercial pelo
acesso às áreas privilegiadas da cidade.
O chamado Vale do Camaragibe, área onde foi implantado o Shopping
Center Iguatemi, tornou-se um local de grande interesse do mercado imobiliário e
das empresas de construção civil, porque concentrou boa parte dos investimentos
da Prefeitura Municipal de Salvador e do Governo do Estado da Bahia destinada
à dotação de infra-estrutura. Parcelas desses terrenos tinham sido adquiridas por
empresas ligadas ao setor imobiliário, como, por exemplo, OAS e Odebrecht, a
preços muitos baixos, e foram supervalorizadas as o processo de infra-
estruturação urbana. A OAS é uma empresa ligada ao político Antônio Carlos
Magalhães, que foi prefeito de Salvador, entre 1967 e 1970, e Governador da
Bahia, entre 1971 e 1975, e entre 1979 e 1983. Nesse sentido, denúncias de
favorecimento e enriquecimento ilícitos foram levantadas após sua gestão
99
.
O significativo é entender que, além do favorecimento concedido aos
grupos privados, associados aos setores imobiliários, da construção civil e do
capital comercial, mediante a aquiescência do poder público municipal e estadual
e à valorização de alguns bairros localizados no Vale do Camaragibe, o processo
provocou a alteração na lógica de constituição da centralidade urbana em
Salvador, só percebida com contornos mais claros a partir da década de 1980.
Por outro lado, a própria construção contínua de moradias (conjuntos
habitacionais, edifícios, programas de casa populares) para as diversas classes,
bem como a constante luta das camadas pobres pela conquista de uma
residência, aspectos analisados por Souza (2000a), em função do avassalador
crescimento demográfico, criaram novas demandas por serviços de todos os
tipos, influenciando na criação de novas áreas terciárias. A expansão do capital
comercial e do capital associado aos setores de serviços tamm foi um elemento
importante para o processo, como será abordada nos próximos capítulos.
A Lei de Ordenamento do Uso e Ocupação do Solo (LOUOS), de 1984,
continha elementos que norteavam o planejamento urbano de Salvador
convergindo no sentido de zonear as áreas que concentram atividades comerciais
e de serviços. Na realidade, ocorreu, especificamente, o seu reconhecimento,
porque vários desses espaços já estavam consolidados como expressões da
nova centralidade urbana soteropolitana.
Sem vida, o papel mais importante que a LOUOS desempenhou foi
estabelecer um parâmetro para o processo de expano da cidade, em especial,
sobre as áreas mais valorizadas, efetivando, inclusive, aquilo que foi prescrito na
Lei: “garantir e defender o valor da terra” (SALVADOR, 1985a, p. 27). Além disso,
explicitar, no que tange a questão das áreas centrais, as 11 Subzonas de
99
Tribuna da Bahia (13.11.1982) e Jornal do Brasil (15.09.1984). O aprofundamento sobre essas
questões, todavia, não fazem partes dos nossos objetivos.
Concentração de Usos Comerciais e de Serviços e as seis concentrações lineares
de Usos Múltiplos.
Todas essas observões expostas, relacionadas ao planejamento do
espaço urbano em Salvador, comprovam que a apropriação privada da cidade,
simultaneamente à privatizão do seu uso pelo controle jurídico, econômico e
político, tem, mormente, na esfera do Estado, uma instância decisiva, pois o
mesmo gerencia o uso da cidade em consonância com os interesses das classes
a ele articuladas. Por esse fato, Oliveira (2002) denomina o processo de
planejamento, pensando no caso de Salvador, com uma dimensão visível e
invisível, na medida em que faces ocultas também precisam ser desveladas.
Portanto, observamos que na produção da cidade o poder público atua
garantindo que a camada privilegiada da sociedade possa usufruir as benesses
do que é produzido coletivamente. Essas sinecuras estão forjadas no processo de
reprodução do capital em função daquilo que Marx e Engels (1988) denominaram
como fetiche da mercadoria, que, por sua vez, constrói a alienação. O espaço
urbano é, assim, um produto (uma mercadoria) alienado também pelo Estado
como um não-produto do trabalho coletivo. Esse fato, articulado aos demais
supracitados, são dimenes indispensáveis na discussão sobre a segregação e
a fragmentação socioespacial na cidade de Salvador.
A partir da cada de 1970, todas essas mudanças relatadas
possibilitaram a formação de novas áreas centrais na cidade, o que, por sua vez,
exprimiram novas centralidades, dando-se destaque para o centro que se formou
no local onde foi construído o Shopping Center Iguatemi. Na realidade, esse
último foi um projeto claramente arquitetado pela Prefeitura Municipal de
Salvador, pelo Governo do Estado e por sujeitos da iniciativa privada, em
especial, os associados à indústria da construção civil e ao capital comercial.
Torna-se essencial, portanto, discutirmos brevemente os impactos que
o processo provocou na lógica de constituição das áreas centrais em Salvador,
bem como no papel desempenhado pelo Centro Tradicional, porque entendemos
esses são elementos basilares para a investigação do processo de reestruturação
da cidade.
2.3 – O centro de Salvador como uma contradição concreta
O processo de expansão do tecido urbano, sobretudo, durante as
décadas de 1940 e 1990, foi uma dinâmica importante, produzida pelas
transformões acima mencionadas, o que alterou a lógica da estruturação do
espaço urbano de Salvador. Assim, a trama da vida urbana adquiriu maior
complexidade, criando o alicerce para a constituição de uma metrópole,
legitimada pela Lei Complementar Federal n
o.
14, de 08 de junho de 1973, que
instituiu as nove regiões metropolitanas brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro,
Belo Horizonte, Salvador, Recife, Belém, Fortaleza, Curitiba e Porto Alegre
100
.
Até a década de 1940, como já mencionamos, Salvador era mais
densamente ocupada às margens do Oceano Atlântico e da Baía de Todos os
Santos, sendo o Miolo Central formado, basicamente, por espaços rurais.
Contudo, a partir da década de 1960, novas áreas foram incorporadas ao tecido
urbano, em especial: o Miolo Central, o Subúrbio Ferroviário, o Vale do
Camaragibe e o entorno da Av. Luiz Viana Filho.
O vetor de expansão para o norte ocupou o Subúrbio Ferroviário e a
porção do Miolo Central que o acompanha. Nessa área, como o processo de
produção do espaço urbano se desenvolveu, excetuando-se os espaços
construídos a partir de projetos de habitação popular, em fuão de constantes
movimentos de luta por moradia, foram as camadas populares da sociedade
soteropolitana que as apropriaram. Na maioria dos casos, são áreas onde a infra-
estrutura urbana é bastante precária e as condições de reprodução da vida
limitadas; aliás, um processo bastante complexo, discutido por Souza (2000a).
Já o vetor de expansão da margem atlântica da cidade, sentido sul-
sudeste, foi ocupado pelas camadas médias e altas da cidade (SOUZA, 2000a).
Tais espaços foram adquiridos, sobretudo, pelos especuladores imobiliários e
pelas empresas da construção civil, com a aquiescência do estado. Esse
processo ocorreu, e ainda ocorre, mediante a criação contínua de produtos
imobiliários, residenciais e com outros fins, como um mecanismo de reprodução
do capital no nível intra-urbano.
Face aos interesses do poder blico, o resultado foi um processo de
segregação socioespacial que se desenvolveu de modo inexorável, porque
aquele dotou com melhor infra-estrutura as áreas que se tornaram objeto de
especulação imobiliária e valorização fundiária, seja em função de seus
interesses, seja por interesses dos grupos privados, bem como controlou, por
vezes, violentamente, os movimentos de luta pelo acesso à moradia, em tais
áreas, encampados pelas camadas populares.
Analisando a reprodução da vida na periferia pobre de Salvador, Santos
(2003) constatou que o processo de produção dessa cidade pode ser
compreendido se pensado a partir da dialética entre acumulação do capital e
privatização do solo urbano; entre a produção coletiva do espaço e a sua privação
às classes desprivilegiadas. Por outro lado, de acordo com Souza (2000b), a
ocupação da população pobre também foi importante para a conversão da terra
rural em terra urbana, porque fez com que essa última adquirisse maior valor
enquanto mercadoria, na medida em que agregou maior quantidade de trabalho
morto ao espaço.
Essa expansão do tecido urbano tamm suscitou, em função do
crescimento demográfico e das novas exigências da divisão social e técnica do
trabalho, a implantação de novos equipamentos, evidenciando maior
complexidade no conteúdo da urbanizão. É por isso que é fundamental
compreender que os fixos e fluxos (SANTOS, 1996), que constituem a trama da
vida urbana, ganham relevância na análise sobre a cidade quando estão
relacionados, por um lado, ao processo geral de produção do urbano,
continuamente definido por uma lógica que transita entre as escalas locais,
regionais, nacionais e mundiais; por outro, ao jogo de interesses e conflitos entre
os sujeitos que atuam na estruturação urbana e da cidade.
Sobre tais equipamentos que se encravam no tecido das cidades,
intrinsecamente constituindo-os, entende-se que esses são expressões materiais
“de uma realidade social historicamente determinada, o que o(s) torna(m) parte
integrante da análise e da explicação do fenômeno urbano e de seu processo”
(PINTAUDI, 1991, p. 79).
100
A Constituição de 1988 transferiu para a esfera estatal a decisão de definir as regiões
metropolitanas. Atualmente, existem 26 regiões metropolitanas no país.
É fundamental analisarmos tais equipamentos pensando no processo
de estruturação urbana e da cidade, enquanto expressão da contradição entre a
produção dos espaços de consumo e o consumo do/no espaço que, com já
afirmamos, é definida pelos conflitos de classes. Tais conflitos, por sua vez,
determinam, no vel intra-urbano, o modo diferenciado pelo qual cada atividade
se materializa.
A alta concentração desses equipamentos comerciais e de serviços na
área central de Salvador, na década de 1970 (SALVADOR, 1978), revelava a
lógica da centralidade urbana, bem como a atração que o Centro Tradicional
exercia sobre a cidade e sua hinterlandia. Na realidade, essa era uma
característica comum à maioria das cidades brasileiras, que havia passado pelo
acelerado processo de crescimento demográfico e de expansão do tecido urbano.
Todavia, mudanças importantes vêm ocorrendo nessagica da centralidade
urbana, o que torna essencial discutirmos suas características na
contemporaneidade.
Aliás, esse foi um dos motivos que fomentou a elevação, nas últimas
décadas, dos estudos sobre as centralidades, que, por sua vez, passaram a
ganhar maior preocupação dos pesquisadores sobre a cidade, principalmente,
dos geógrafos, o que desvela a importância que tais discussões adquiriram no
que diz respeito à trama de relações urbanas, mormente, às relações tempo-
espaço.
Enquanto que, a a década de 1970, no Brasil, a maior parte das
pesquisas na Geografia Urbana estava direcionada à análise da rede urbana,
graças à influência da Teoria das Localidades Centrais, proposta por Christaller,
nos últimos anos, as pesquisas sobre as centralidades intra-urbanas aumentaram
expressivamente, ganhando novos nexos, não só no que tange à diversificação
dos estudos de casos, como, tamm, aos conteúdos que tais abordagens
passaram a adquirir (ABREU, 1994).
O entendimento de que as determinações gerais da sociedade não
incidem igualmente sobre as cidades sobrelevou a discussão sobre as
expressões de centralidades em áreas urbanas de diferentes portes, desde as
metrópoles até as cidades médias e pequenas. Isso posto, seria necessário um
esfoo maior para compreender, em diferentes cidades, qual a lógica
engendrada na formação das centralidades. Ademais, as alterações na
estruturação urbana implicam em mudanças na estruturação da cidade, e que,
dialeticamente, a estruturação urbana também passa a ser modificada pela
estruturação da cidade.
No caso do centro principal de Salvador, a pesquisa de Santos (1959a)
foi pioneira porque revelou a trama de relações que envolvia essa área,
articulando-a aos demais espaços da cidade, na década de 1950. A pesquisa do
referido autor revela a importância em analisarmos as áreas centrais das cidades
sem perder de vista a idéia da totalidade que constitui a própria cidade e sua
centralidade. Entendemos que a discussão sobre centro e centralidade é bastante
complexa, e merece, portanto, profundidade teórica na distinção entre ambos os
conceitos, todavia, sem perder de vista sua inseparabilidade.
O debate atual sobre as centralidades urbanas vem proporcionando um
conjunto diferenciado de leituras sobre tal processo, bem como sobre suas
especificidades, articulando o intra-urbano aos ditames da urbanização. Por sinal,
um arcabouço teórico profícuo tem dado suporte às investigações sobre os
centros e sobre as centralidades urbanas, quase sempre coadunando com a
questão da produção dos espaços de consumo e o consumo desses/nesses
espaços.
Os termos centro e centralidade, relacionados ao urbano, por mais que
tenham forte articulação, na medida em que são indissociáveis, apresentam
diferenciações que necessitam ser discutidas, com o intuito de apreender seus
papéis e conteúdos na estruturação das cidades atuais.
Sposito argumenta sobre a importância de percebermos que a relação
entre o centro e a centralidade é inexorável. Todavia, não se deve esquecer que é
igualmente necessário fazermos as devidas distinções entre ambos os conceitos,
pois, para a autora, “se o centro se revela pelo que localiza no território, a
centralidade é desvelada pelo que se movimenta no território” (SPOSITO, 2001b,
p. 238). Ainda segundo ela, a centralidade corresponde ao movimento, fluxo
material e imaterial que fundamenta a materialização do centro. Complementando
sua iia, pautada no pensamento de Roulleau-Berger, ainda ressalta que “a
centralidade é entendida enquanto processo e o centro ou centros urbanos como
sua expressão territorial” (SPOSITO, 1996, p. 120).
Na análise da centralidade urbana, torna-se imprescindível discutir a
divisão social, técnica e territorial do trabalho, porque corresponde às
diferenciações que os sujeitos e as ações da sociedade imprimem no uso do
espaço urbano, a partir do desenvolvimento das atividades cotidianas. É o que,
nada obstante, está contido nas iias de Castells:
[...] A centralidade urbana proveio, em primeiro lugar, a expressão a
nível de espaço do que os estudiosos chamam a algum tempo de
divisão social do espaço. Quer dizer, à medida que há distintas
atividades, esta divisão se espacializa e, ao espacializar-se, tem, a
um só tempo, elementos de diferenciação, tanto a nível social como
espacial (CASTELLS, 1982, p. 65).
Ou seja, a centralidade só pode ser compreendida se investigada como
produto e condição da diferenciação no processo de apropriação dos espaços
pelas atividades comerciais, industriais, de serviços e residenciais. Do mesmo
modo, passa a ser necessária tanto à análise dos conflitos entre os diferentes
sujeitos no processo, quanto, de forma articulada, sua dimensão política e
cultural.
Na medida em que o debate sobre a centralidade envolve a discussão
sobre a apropriação das parcelas da cidade, envolve também a contradição entre
o espaço enquanto valor de uso e o espaço enquanto valor de troca. Se, por um
lado, o primeiro alia-se às necessidades gerais da sociedade, bem como ao
conteúdo ideológico e subjetivo de sua reprodução; o segundo, na sociedade
capitalista, subjuga o primeiro, convertendo-o em mercadoria e permitindo sua
reprodução no âmbito da realização da mais-valia.
A análise da centralidade congrega duas escalas de discussões e, ao
longo da história, vem definindo a própria cidade, por meio dessas. No vel da
rede urbana, a cidade constitui-se como um ponto nodal, para onde convergem e
de onde saem fluxos materiais e imateriais; no nível intra-urbano, tais fluxos
materializam-se, produzindo áreas centrais que expressam a divisão territorial,
técnica e social do trabalho.
Os papéis da cidade alteraram-se na sociedade moderna porque suas
funções produtivas foram intensificadas, face à Primeira Revolução Industrial.
Desse modo, a cidade passou a concentrar grandes fluxos de pessoas, dinheiro,
de atividades etc. No nível intra-urbano, passou a desvelar um outro nexo de
concentração, permitindo observar que tais fluxos e atividades não se
espacializam aleatoriamente no espaço urbano.
Para Sposito, se, por um lado, é essencial pensarmos a trama de
articulação entre as cidades, relacionada ao papel que as mesmas desempenham
na rede urbana, o que define sua função enquanto centralidade em relação às
demais cidades; por outro, essa relação reproduzir-se-á, na escala intra-urbana, a
partir de processos específicos, articulados, principalmente, às atividades
terciárias.
A centralidade pode ser medida pela atração que uma área exerce
sobre espaços que lhe são adjacentes. Ela revela, no nível
interurbano, as relações que se estabelecem entre cidades de
diferentes portes e pode ser verificada, no espaço interno de cada
cidade, pelos fluxos que se efetivam entre sua(s) área(s) central(is)
e outras parcelas do espaço urbano. As atividades comerciais e de
serviços, incluso o lazer, são as principais responsáveis pela
definição da centralidade, já que se localizam de forma concentrada
e geram fluxos permanentes de pessoas e mercadorias (SPOSITO,
2002, p. 49).
Seja em função de uma determinada formação socioespacial, ou de
uma conjuntura econômica específica, tais atividades materializam-se de acordo
com o jogo de interesses. Entretanto, a centralidade urbana tamm é
correspondente da ampliação das necessidades impostas às cidades em função
da própria expansão do tecido urbano, bem como do espraiamento dos conflitos e
tensões sociais.
De acordo com Silva,
[...] as centralidades são formadas de modo a ampliar a
espacialidade urbana, podem expressar modificações em certas
escalas temporais, sendo que são baseadas não apenas no que
está fixo/estático, mas pelo que se movimenta/cinético, ou seja, nos
fluxos (SILVA, 2001, p. 112).
Ao compreender a cidade como um sistema, Webber analisa a
centralidade como,
[...] el grado en que las actividades tienden a congregarse alrededor
de un punto singual en el espacio. Para el aglomerado urbano, un
centro urbano es una congregación de actividades alrededor de un
punto singular. La centralidad de cada tipo específico de actividad
es, por tanto, la propensión de aquel tipo de actividad a localizarse
en el punto de máxima actividade. (WEBBER, 1964, p. 97),
Para o autor, a centralidade é uma variável que mensura o grau de
influência de um determinado centro (ponto) em relação a outros pontos e
espaços nos planos interurbanos e intra-urbanos, um aspecto importante, por
mais que esteja fundamentado em concepções neopositivistas. Nesse sentido,
pensar a questão da centralidade indica refletir tanto sobre a gica que
materializa as atividades comerciais e de serviços na própria área central, quanto
pensar sobre a lógica que produz os espaços não-centrais envolvidos por essa.
As diversas atividades se territorializam de acordo com o jogo de
interesses dos agentes envolvidos, refletindo uma dada lógica, bem como certo
momento no processo de reprodução da sociedade, de acordo com o modo de
produção vigente. No caso do capitalismo, essa territorializão responde,
principalmente, à realizão da mais-valia, o que possibilita apreender o ciclo de
reprodução do capital (produção, distribuição, circulação e consumo), portanto, à
própria reprodução da sociedade, já que essa última determina a contradição
entre o consumo do/no espaço urbano e a reprodução dos espaços de consumo.
Na cidade, mesmo que o seja hegemônica, a lógica da economia de
aglomeração é preponderante na reprodução do capital aplicado no comércio e
nos serviços
101
. Por isso, a centralidade urbana é traduzida espacialmente pela
agregação de um conjunto de atividades diversificadas, que visa atrair uma
quantidade e/ou perfil de consumidores para certas áreas, de acordo com
interesses diversos. Em cada momento histórico, o processo forma centro(s) que
o sua concreta evidência.
101
Os serviços públicos, todavia, nem sempre seguem esta lógica.
A cidade centraliza, porque concentra as atividades econômicas e
lúdicas, porque é o ponto de contração das pessoas, porque é o
espaço do exercício do poder e da representação desse poder e da
cultura de uma sociedade. O centro da cidade é, por sua vez, o
espaço de excelência e expressão dessa concentração, porque se
constitui seu ponto de integração geográfica e social (SPOSITO,
1996, p. 116).
O centro não corresponde, necessariamente, ao espaço
geograficamente central na cidade. Como ele reflete e reproduz o jogo de
interesses e conflitos oriundos da divisão técnica, social e territorial do trabalho,
sua localização no plano intra-urbano será correspondente aos locais onde,
dentro da lógica de reprodução do capital, sejam mais atraentes e viáveis para a
reprodução dessas atividades.
[...] o centro não está necessariamente no centro geográfico, e nem
sempre ocupa o sítio histórico onde esta cidade se originou, ele é
antes de tudo ponto de convergência/divergência, é o nó do
sistema de circulação, é o lugar para onde todos se dirigem para
algumas atividades e, em contrapartida, é o ponto onde todos se
deslocam para algumas atividades ai localizadas com as outras que
se realizam no interior da cidade ou fora dela. Assim, o centro pode
ser qualificado como integrador e dispersor ao mesmo tempo.
(SPOSTITO, 1991b, p. 06).
Os argumentos da autora proporcionam reflees importantes. Se o
centro é o “nó do sistema de articulação, é o lugar para onde todos se dirigem
para algumas atividades” e, como falamos, reflete e reproduz o jogo de interesses
e conflitos sociais num dado momento histórico, em nossa concepção, ele não é
indissolúvel, o pouco imutável; é, em verdade, dinâmico. Essa dinâmica pode
ser alterada em diferentes momentos da história, fortalecendo-o ou esmaecendo-
o. Por outro lado, o centro só pode ser pensado no nível da contradição entre
integração e dispersão no plano da cidade. Como retrata Lefebvre (2004, p. 46), o
centro é [...] contradição concreta, por isso ao mesmo tempo em que é
concentração, organiza ao seu redor o vazio, a escassez [...]”.
Villaça analisa essa questão sob uma ótica diferente, quando pensa
sobre a indissociável relação entre as áreas centrais e as áreas o-centrais no
espaço intra-urbano. Para o autor,
O centro e o “não-centro” são dialeticamente produzidos pelo
mesmo processo sob a égide dessas disputas (interesses inter-
classes e intra-classes), pelo controle das condições de
deslocamento (VILLAÇA, 2001, p. 243).
São as tensões sociais engendradas no processo de apropriação dos
espaços para o consumo que produzem as centralidades urbanas, determinando
o local que cada atividade ocupará na cidade. Portanto, o centro e as demais
expressões correspondem à dimensão material, espacial, do processo de
constituição da centralidade urbana. Castells articula os centros à divisão social
do trabalho.
Os centros urbanos são a expressão desta coordenação necessária
das atividades e categorias sociais em sua dimensão espacial. Isto
é, os centros urbanos são a organização espacial da configuração,
do intercâmbio e da coordenação, na relação com o processo de
divisão social do trabalho. (CASTELLS, 1982, p. 65).
Na obra de Santos (1959a), já era premente a preocupação em articular
o estudo do centro à cidade, na medida em que o autor compreendia essa como
uma totalidade indissociável. Segundo ele:
[...] o centro urbano não constitui por si só uma realidade geográfica
e é preciso não exagerar a êsse ponto. Aliás, sendo a
indivisibilidade da paisagem geográfica um dos postulados básicos
da ciência geográfica, é o estudo da cidade, seja como forma de
atividade, seja como forma de organização, uma prova indiscutível
de que possuímos um campo de ação pprio. (SANTOS, 1959b, p.
19).
Alves (1999) analisa o centro tradicional a partir da multiplicidade de
ões e atitudes que o molda como a representatividade xima das relações
intra-urbanas. O centro, nesse sentido, é o local onde o improviso se mistura à
mercantilização; é o locus das múltiplas possibilidades da existência do citadino.
[...] o centro surge como a expressão maior da cidade. É o local em
que as relações se renovam constantemente, permitindo, ao
mesmo tempo, a existência, pela duração da ação, pela mudança
mais lenta de suas formas, e da instabilidade, pela multiplicidade de
atividades, pessoas permissões, proibições e transgressões que se
realizam na pluralidade das relações existentes. (ALVES, 1999, p.
17).
O centro da cidade não traduz a totalidade da produção do espaço
urbano, porque é uma esfera determinada da sua estruturação. A cidade
corresponde a algo maior que a vida que se movimenta no centro, por mais que
haja forte correlação entre ambos. O centro explicita a contradição, como
mencionamos, entre acumulão e dispersão no processo de produção do
espaço urbano; enfim, representa o processo de centralizão e concentração
econômica e de poder na cidade.
As alterações na concentração das atividades comerciais e de serviços
(especialmente, de lazer, administrativos e financeiros) nas cidades, ao refletirem
e reproduzirem interesses, mudam a vida cotidiana dos citadinos. Desse modo, a
análise da concentração das atividades comerciais e de serviços, em
determinadas parcelas do espaço urbano, deve ser pensada a partir da leitura das
práticas espaciais
102
vividas cotidianamente, o que faz com que os centros sejam
entendidos tamm como espaços de representação
103
para a sociedade.
Percebe-se que a investigação sobre o centro traduz parte da própria
história da cidade, sem ser a totalidade dessa história, pois é nele que está
armazenado um conjunto de tempos distintos do processo de produção do
espaço urbano e preservados os traços do conteúdo vivido na cidade, em outros
momentos de sua história. É por isso que a investigação sobre as rugosidades
104
contribui de forma significativa, porque denota espacialmente esses outros
tempos, revelando a miríade da vida urbana.
A centralidade constitui o próprio movimento de reprodução da cidade,
na medida em que desvela o processo de produção e reprodução do urbano, a
partir do desenrolar da vida cotidiana, e compõe a articulação entre os três
tempos que envolvem a produção espacial (passado, presente e futuro),
entrelaçados de acordo com os nexos da estruturação da cidade.
Analisando as metrópoles brasileiras, Villaça faz uma observação muito
importante sobre os centros e as centralidades urbanas que, em nossa
concepção, contribui para entender o processo de estruturação da cidade,
mormente, a constituição das centralidades urbanas e a conseqüente formão
de centros. O autor destaca que,
102
Lefebvre (1974). Essas discussões não constituem o interesse dessa pesquisa.
103
Idem.
[...] nenhuma área é ou não é centro; como fruto de um processo
movimento torna-se centro. No social, nada é; tudo torna-se ou
deixa de ser. Nenhuma área é (ou não é) centro; torna-se centro ou
deixa de ser. (VILLAÇA, 2001, p. 238).
O que demarca esse movimento, essa dinâmica no processo de
produção dos centros e da centralidade, é a própria estruturação urbana e as
dinâmicas da urbanização, na medida em que eles denotam os usos adquiridos
pelo solo, influenciando sobremaneira na estrutura urbana. É por esse movimento
que certos centros podem aparecer ou desaparecer com a própria reprodução da
vida cotidiana.
Ao abordar as dimensões atuais que representam o centro, Frúgoli
Junior (2000, p. 42) destaca como mais importantes: -concentração de empresas,
sobretudo do setor terciário, portanto empregos consideráveis para uma parcela
da população; -grande densidade de serviços oferecidos, as atividades
comerciais, as instituições político-administrativas e religiosas, além do patrimônio
cultural resultante do conjunto de edificações; -moradia para setores das classes
médias e populares; -contatos face a face que registram a vida pública moderna; -
palco de manifestações políticas etc.
O centro o é apenas centro porque nele localiza-se esse conjunto de
atividades; ele se constitui como uma expressão da centralidade, também, porque
é onde está concentrada grande parte do capital urbano. O modo como essa
materialização ocorre é um caminho interessante para desvendarmos como o
processo de produção do espaço apresenta intrínseca relação com os
determinantes gerais da reprodução do sistema econômico, do mesmo modo que
tais determinantes passam a ser condicionados pelas alterações que a
materialização provoca no espaço urbano.
Na estruturação da cidade, o capital se territorializa influenciando,
sobremaneira, a forma como cada sujeito se apropria dos espaços, de acordo
com sua inserção na reprodução capitalista. Assim, a lógica que a cidade
apresenta, no sentido da disposição das expressões da centralidade urbana,
inexoravelmente, reflete e reforça os interesses e os conflitos da reprodução do
104
Santos (1990a).
capital, por meio da reprodução dos espaços de consumos e do consumo do/no
próprio espaço urbano.
É no centro da cidade que se materializa o ponto de intercâmbio
entre as necessidades de reprodução do capital, que tendem a ser
gestadas pelas leis de mercado e, por isso, exigem do poder estatal
e dos agentes e empreendedores privados, ações estratégicas para
o controle socioespacial, e o desejo de apropriação por parte da
população da vida urbana, que, nas áreas do centro, estão
marcadamente presentes (ALVES, 1999, p. 18).
É essencial articular o processo de reprodução do capital aos agentes
que estão envolvidos no processo, como destaca Alves (1999), pois são esses
que tecem o conteúdo das relações no plano intra-urbano e demarcam a divisão
social, técnica e territorial do trabalho, definindo a estruturação da cidade e sendo
por essa, continuamente, redefinidos.
Pensando no caso de Salvador, na metade do século XX, a cidade
revelava os impactos resultantes da alta centralização e concentração das
atividades comerciais e de serviços, sobremaneira, do capital, na área central. A
pesquisa desenvolvida por Santos (1959a) demonstrou o poder de atração que o
centro principal desempenhava. Segundo o autor,
[...] assim como a história econômica regional favoreceu Salvador
com êste acúmulo de funções, a história urbana favoreceu à
concentração de quase tôdas estas funções nos distritos centrais
(SANTOS, 1959a, p. 68).
Santos destaca que fatores como a presença do porto e sua atração em
relação às atividades comerciais; a incipiente atividade industrial, que fora incapaz
de criar grandes bairros operários; dentre outras características de localização do
centro em relação às demais espaços da cidade, no contexto histórico, tiveram
como conseqüência a localização das funções mais significativas nas áreas
centrais. É nesse sentido que ele adverte que “tais funções do centro são muito
representativas quer da vida urbana, quer da vida regional” (SANTOS, 1959a, p.
71).
No final da década de 1970, os estudos desenvolvidos pela
OCEAPLAN, principalmente, os relacionados às atividades terciárias e ao sistema
de circulação, também corroboraram o papel e o poder que o centro tradicional
desempenhava para a cidade, bem como as proposições visando à criação de
novas áreas centrais que, segundo informões coletadas, objetivavam
“desafogar” o centro de Salvador (SALVADOR, 1978).
De acordo com os dados da OCEAPLAN, na área central estavam
concentrados 36,22% do total de estabelecimentos comerciais e de servos
existente em Salvador (Tabela 13). O levantamento revela ainda que tal área
continha 50,65% de todos os serviços localizados na cidade, assim como 24,29%
das atividades comerciais. Isso demonstra que o centro, na década de 1970,
figurava-se mais como um grande provedor de serviços que, necessariamente de
estabelecimentos comerciais, bem como desvela seu poder de concentração.
Tabela 13: Salvador
Estabelecimentos comerciais e de serviços, valores totais e percentuais, por
áreas da cidade, 1976
1
Estabelecimentos
Corcio Serviços Corcio e serviços
Área da cidade
Total
(%) Total (%) Total (%)
Zona Central 2.341
24,29
3.973
50,65
6.341
36,22
Fora da Zona Central 7.295
75,71
3.871
49,35
11.166
63,78
Total 9.636
100,00
7.844
100,00
17.507
100,00
Fonte: Salvador (1978)
Nota: 1 - Foram considerados os dados de Forte de São Pedro e Sete Portas como
referentes à Zona Central, já que a metodologia aplicada não considerou.
Se detalharmos os dados, destacando os mais importantes
aglomerados comerciais e de serviços da cidade, verificamos que o Centro, no
contexto histórico, se comparado aos demais sub-centros de Salvador, agregava
uma quantidade significativa de atividades terciárias (Tabela 14).
Tabela 14: Salvador
Estabelecimentos comerciais e de serviços, valores totais e percentuais, por
áreas de concentração, 1976
Estabelecimentos
Comércio Serviços Comércio e Serviços
Área de concentração
Total (%) Total (%) Total (%)
Zona Central 2.341
24,29
3973
50,65
5.935
33,90
Calçada
1
579
6,01
393
5,01
972
5,55
Liberdade 517
5,37
261
3,33
778
4,44
Nazaré
2
308
3,20
443
5,65
751
4,29
Barra 260
2,70
162
2,07
422
2,41
São Caetano 220
2,28
85
1,08
305
1,74
Itapuã 165
1,71
44
0,56
209
1,19
Vale do Camurugibe 129
1,34
20
0,25
149
0,85
São Cristóvão 59
0,61
20
0,25
79
0,45
Total 9.636
100,00
7.844
100,00
17.507
100,00
Fonte: Salvador (1978)
Notas: 1 - Foram considerados os dados de Mares e Uruguai porque compõem
uma área contínua de comércio e serviços.
2 - O bairro de Nazaré merece ressalva, ao ser considerado como fora da
Zona Central pela pesquisa desenvolvida pela OCEAPLAN. Essa área
inicia muito próxima ao Centro Tradicional, e os estabelecimentos
terciários se expandiram em função do próprio crescimento das atividades
comerciais e de serviços localizadas na parte alta da Zona Central.
Desse modo, percebe-se que a Zona Central constituía-se como o
espaço privilegiado para a materialização do capital comercial e de serviços de
Salvador, bem como da maioria dos estabelecimentos bancários, das matrizes
das redes comerciais e das filiais de empreendimentos comercias importantes da
cidade (SALVADOR, 1978).
Os dados também dão destaques aos sub-centros da Calçada e da
Liberdade, que foram classificados como centros de primeira ordem, seja em
função da alta quantidade de estabelecimentos, seja pela maior diversidade de
tipos de estabelecimentos localizados nas três áreas. Na década de 1970, esses
espaços se configuravam como relevantes concentrações terciárias.
A pesquisa de Santos (1959a), mesmo sem aprofundar a discussão,
destacava a importância de ambas como significativos aglomerados comerciais e
de serviços. Assim sendo, nota-se que, entre as décadas de 1940 e 1970, por
mais que o Centro Tradicional de Salvador concentrasse um mero muito
significativo de atividades terciárias, a lógica da centralidade urbana vinha se
alterando e acarretando na formação de novos sub-centros.
No que diz respeito a esses tipos específicos de expressões da
centralidade urbana, sabemos que eles se originaram a partir do processo de
expansão do tecido urbano, em função das mudanças no conteúdo da
urbanização, ainda no século XIX. Articulam-se diretamente às mudanças
provocadas na cidade pela expansão do sistema de transportes e de
comunicação. Segundo Sposito, os sub-centros são:
[...] áreas onde se alocam as mesmas atividades do centro principal
com diversidade comercial e de serviços, mas em escala menor, e
com menor incidência de atividades especializadas. Tais atividades
voltadas para um público mais restrito, funcional ou
economicamente (SPOSITO, 1991a, p. 270).
Para a autora, o sub-centro é a materializão, em menor escala, de
determinadas atividades comerciais e de serviços em áreas que não o centro
principal, compondo uma expressão da centralidade urbana cuja área de
influência é correspondente a uma porção da cidade.
Muller (1958), analisando São Paulo na metade do século XX,
denomina esses espaços como pequenos centros, em analogia às atividades
desenvolvidas na área central. Portanto, de acordo com a autora, em tais locais a
reprodução do espaço de consumo e o consumo do/no espaço era similar ao
modo como se reproduziam no centro da metpole paulista.
Para Webber,
[...] as subfocalidad, subnucleación ou sub-centralidaes hacen
referencia a la propensión que muestren las comunicaciones, los
artefactos físicos y las actividades a acumularse en puntos de
menor concentración que el foco urbano, el núcleo urbano, y el
centro urbano respectivamente. (WEBBER, 1964, p 97).
Segundo o autor, na definição dos sub-centros, embute-se a idéia de
uma sub-centralidade cuja expressão territorial teria seu conteúdo de relações
ligado a uma parcela da cidade, o que a diferiria dos centros, cujo raio de atração
atingiria a todos os espaços da cidade. Todavia, não concordamos com a idéia de
que exista uma sub-centralidade imersa à centralidade urbana. Os sub-centros se
revelam como expressões da lógica imposta pelos agentes sociais e pelo Estado
à reprodução do espaço urbano para interesses dos grupos comerciais, de
serviços e imobiliários. Assim sendo, eles apenas podem ser compreendidos se
analisados como produto materializado no espaço de acordo com a discussão
sobre o processo de reprodução da centralidade urbana.
Essa discussão, entretanto, revela-se mais complexa que
aparentemente observamos, pois, na análise das aglomerações comerciais e de
serviços no plano intra-urbano, sente-se dificuldade em estabelecer parâmetros
para definir o que seria um sub-centro, distinguindo-o das aglomerações menores
de atividades comerciais e de serviços que, segundo Santos e Serpa (2001),
formam as centros de vizinhança ou centros locais.
É importante destacar, como primeira observação, que o conceito de
sub-centro deve ser pensando em sua relação com a cidade, evitando, assim,
defini-lo exclusivamente pela quantidade e especialidade das atividades. Ou seja,
é necessário articular o sub-centro ao papel desempenhado pela cidade na rede
urbana. Um sub-centro numa metrópole certamente possuium conjunto maior e
mais complexo de atividades do que um sub-centro numa cidade média. Desse
modo, tal observação contribui para estabelecer parâmetros que definem o que é
um sub-centro numa metrópole, relacionado-o a quantidade e a complexidade de
atividades, sem perder de vida que tais parâmetros devem ser diferenciados
quando pensados em relação a cidades de outros portes.
Villaça aponta outro componente importante na análise dos sub-
centros. Para o autor, o conceito aplica-se “para designar aglomerações
diversificadas e equilibradas de comércio e serviços, que não o centro principal”
(VILLAÇA, 2001, p. 293). Outrossim, ele entende que o sub-centro revela-se
como um concorrente do centro principal, mesmo não possuindo capacidade de a
esse igualar-se.
O subcentro consiste, portanto, numa réplica em tamanho menor do
centro principal, com o qual concorre em parte, sem, entretanto, a
ele se igualar. Atende aos mesmos requisitos de otimização de
acesso [...]. A diferença é que o subcentro apresenta tais requisitos
apenas para uma parte da cidade, e o centro principal cumpre-os
para toda a cidade (VILLAÇA, 2001, p. 293).
O aspecto da diversificação é um elemento importante. Segundo Villaça
(2001), é fundamental diferenciarmos os sub-centros dos centros especializados
que, ao contrário daqueles, atendem a toda cidade. Contudo, em função de sua
especialização, são utilizados com menor freqüência, seja por um segmento
social ou por uma necessidade muito específica. Como exemplos, temos os
centros especializados em autopeças, em serviços de saúde, em lazer etc.
Freentemente, os sub-centros estão localizados em nós de
articulação entre áreas de alta densidade populacional. As causas principais da
formação dos sub-centros foram a expansão do tecido urbano, provocada,
inicialmente, pela própria dinâmica de circulão que a cidade da era moderna
exigiu; e do intenso fluxo migratório que convergiu para as grandes e médias
cidades.
No início do século XX, no caso do Brasil, os sub-centros apareciam
nas grandes metrópoles, quase sempre relacionados às confluências, no nível
intra-urbano, entre dois ou mais sistemas de transportes. Nesse interregno
temporal, foi preponderante a articulação entre o sistema ferroviário (trens e
bondes). Atualmente, é mais freqüente a formão de sub-centros em eixos de
grande circulação de transporte automotivo e de pessoas.
Segundo Sposito, os sub-centros
[...] surgiram em áreas distantes do centro ou eram originariamente
centros de núcleos urbanos, que foram incorporados e absorvidos
pela cidade principal da área metropolitana, ligando-se a ela, e
passando a integrar sua estrutura urbana (SPOSITO, 1991a, p.
271).
As mesmas transformões na sociedade que provocam a expansão do
Centro Tradicional, juntamente com a expansão da própria cidade, suscitaram a
produção de novos espaços para o desenvolvimento de atividades comerciais e
de serviços, criados pela alteração no nexo das centralidades urbanas. É o que,
aliás, observa Alves.
Como falamos de um processo em constante movimento, a própria
constituição e o fortalecimento da centralidade exigem que quanto
mais unificado for o poder econômico e político, mais esse
fenômeno precisa se ampliar espacialmente e para isso faz-se
importante o desenvolvimento funcional e especializado de outros
lugares que, conectados e articulados, garantem a expansão da
centralidade (ALVES, 1999, p. 21).
Os sub-centros desvelam a ampliação do consumo no/do espaço
urbano, traduzindo-se na produção de novos espaços de consumo. Todavia, sua
formação não esteve sempre vinculada ao deslocamento das altas classes da
sociedade dos centros urbanos. O que parece ter sido fundamental na formação
desses sub-centros, independente da escala da cidade, foi à constituição de um
público consumidor freqüente, que representasse uma demanda solvável para
aquisição de produtos e serviços ofertados em tais áreas centrais.
A alta concentração de atividades no Centro Tradicional acarretou na
alta concentração de empregos, tanto formais quanto informais, nesse espaço.
Segundo dados da OCEAPLAN, 54,99% dos empregos gerados pelo setor
terciário estavam localizados no centro no final década de 1970 (Tabela 15). Isso
era acentuado porque Salvador não possuía um parque industrial muito
significativo, que absorvesse um contingente de mão de obra relevante.
Tabela 15: Salvador
Distribuição dos empregos terciários, valores totais e percentuais, por áreas
de concentração, 1976
Empregos terciários
Comércio Serviços Comércio e Serviços
Área da cidade
Total (%) Total (%) Total (%)
Zona Central 20.905
47,09
33145
61,50
54.050
54,99
Calçada
1
3.173
7,15
1998
3,71
5.171
5,26
Barra 1.380
3,11
2120
3,93
3.500
3,56
Nazaré 1.101
2,48
443
0,82
2.951
3,00
Vale do Camurugibe 1.800
4,05
888
1,65
2.688
2,73
Liberdade 1.442
3,25
261
0,48
2.221
2,26
São Caetano 568
1,28
237
0,44
805
0,82
Itapuã 419
0,94
190
0,35
609
0,62
São Cristóvão 116
0,26
60
0,11
176
0,18
Total 44.395
100,00
53898
100,00
98.293
100,00
Fonte: Salvador (1978)
Nota: 1 - Foram considerados os dados dos Mares e Uruguai.
Essa concentração não se reduziu apenas ao nível quantitativo. As
atividades comerciais e determinados serviços que eram oferecidos à população
que, cotidianamente, freqüentava a área central de Salvador, representavam boa
parte do que se tinha de mais especializado e importante na cidade,
principalmente, até o início da década de 1970, quando as ações mitigadoras dos
governos estadual e municipal ainda o tinham sido efetivadas, no sentido de
atenuar o poder que o centro exercia em relação à hinterlândia (Gráficos 9, 10 e
11
105
).
105
Os dados foram organizados a partir da hierarquia das localidades, indo do nível 02 ao 05, de
acordo com o número de estabelecimentos e da quantidade de tipos de comércio e serviços.
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
Área central Nível 2 Nível 3 Nível 4
1950
1980
Gráfico
9
-
Salvador
Estabelecimentos de com
ércio de exportação (%), 1950 e 1980
Fonte:
SEFIN, 1981
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
Área central Nível 2 Nível 3 Nível 4 Nível 5
1950
1980
Gráfico
10
-
Salvador
Estabelecimentos de servos especializados (%), 1950 e 1980
Fonte:
SEFIN, 1981
Segundo os dados, a área central de Salvador detinha, em 1980, 69,7%
do total de estabelecimentos voltados ao comércio de exportão, 65,6% dos
estabelecimentos de serviços especializados e 83,1% dos estabelecimentos de
serviços financeiros. Claro que se compararmos com os levantados feitos para o
ano de 1950, que correspondem, respectivamente, a 77,8%, 69,2% e 100%,
observamos que foi premente a alteração do poder que o centro exercia sobre a
metrópole, ainda que representasse uma concentração significativa das
atividades mais especializadas.
Notamos, ainda, que as atividades terciárias que tiveram maiores
mudanças, durante o mesmo período, foram as menos especializadas e que
estavam associadas às necessidades mais freqüentes da população. Nesse caso,
o esmaecimento do papel que o centro exercia sobre a cidade de Salvador foi
muito mais acentuado, mesmo observando que a área ainda detinha relativa
força, congregando um mero significativo de estabelecimentos (Gráficos 12 e
13).
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
90,0
100,0
Área central Nível 2 Nível 3 Nível 4
1950
1980
Fonte:
SEFIN, 1981
Gráfico
11
-
Salvador
Estabelecimentos de serviços financeiros (%), 1950 e 1980
Pode-se observar, a partir dessas informações, que o processo de
expansão urbana provocou o surgimento de novos núcleos de habitação distantes
do centro, acarretando em alterações na lógica da centralidade urbana de
Salvador. Os moradores de tais núcleos, principalmente, os das camadas
populares, que, em geral, não dispunham de transporte individual, nem condições
para efetivar o deslocamento para as áreas centrais, a fim de suprir suas
necessidades mais cotidianas, fomentaram o surgimento de estabelecimentos
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
40,0
45,0
Área
central
Nível 2 vel 3 vel 4 Nível 5
1950
1980
Fonte:
SEFIN, 1981
Gráfico
12
-
Salvador
Est
abelecimentos de comércio varejista (%), 1950 e 1980
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
40,0
45,0
50,0
Área
central
Nível 2 Nível 3 vel 4 vel 5
1950
1980
Gráfico
13
-
Salvador
Lojas de materiais de construção (%), 1950 e 1980
Fonte:
SEFIN, 1981
comerciais e de serviços que tinham como finalidade essencial prover esses tipos
específicos de produtos e serviços nas áreas mais afastadas do centro.
O processo de centralização das atividades e funções no Centro
Tradicional, que também revela uma concentração do poder e do capital, bem
como a conseqüente alta taxa de empregos gerados no local, evidenciou os
sérios problemas pelos quais passou a área, a partir da década de 1940, em
função dos elevados fluxos de pessoas, mercadorias e de veículos.
Desmascarou, por outro lado, uma ineficácia no planejamento urbano, porque, ao
longo da história, os órgãos públicos não deram prioridade a propostas que
viabilizassem a construção de uma cidade pensada em sua totalidade.
Os problemas mais importantes da Zona Central de Salvador, segundo
os dados pesquisados, estavam associados à degradação do patrimônio
histórico-cultural, face à ausência, até o início da década de 1980, de
investimentos destinados à preservação do acervo arquitetônico; bem como à
carência da infra-estrutura oferecida aos serviços de transporte individuais e
coletivos, que era evidenciada pela dificuldade de circulação de pessoas e de
veículos, e pelas péssimas condições das vias localizadas no centro. Daremos
ênfase aos segundos, porque, em nossa concepção, estão mais associados à
discussão sobre a reestruturação do espaço urbano.
A crise no serviço de transporte em Salvador já era destaque nos
jornais desde década de 1940, período em que a cidade passou pelo intenso
processo de crescimento populacional, algo discutido alhures. Nesse contexto
histórico, segundo informões levantadas, os conflitos estavam relacionados à
adequação da cidade ao uso do automóvel e dos transportes coletivos fornecidos
pelas linhas de bonde
106
. Alterações em rotas, desativações de paradas, dentre
outras iniciativas, revelavam a atuação da Prefeitura, que sempre punha em
detrimento os interesses daqueles que necessitavam utilizar o transporte coletivo,
no período, o bonde, em prol da facilidade do deslocamento através dos
automóveis, que representavam uma parcela muito pequena das classes
privilegiadas.
106
A Tarde (11.07.1947).
Na cada de 1950, observamos importantes mudanças no foco da
crise. Com a expansão dos serviços de ônibus, que passou a ser regulamentado
pelo decreto n
o
. 876, de 30 de janeiro de 1951, superando em importância e
quantidade os serviços de bondes (VASCONCELOS, 2002), o conflito passou a
ser associado, principalmente, às deficiências no gerenciamento e nas condições
dos ônibus coletivos e à infra-estrutura criada para a circulação de pessoas e
automóveis, já que o número de veículos aumentava cada ano
107
.
Entre as cadas de 1960 e 1970, com a hegemonia dos ônibus na
oferta de transporte coletivo, porque os serviços de bondes foram desativados em
1961
108
, a crise da circulação pelas áreas centrais, seja de pessoas, seja de
veículos coletivos e individuais, tornou-se mais evidente, levantando rumores de
que a capital baiana passaria por um colapso total no que diz respeito aos
serviços de transportes, conseqüentemente, à circulação, em especial, no
centro
109
.
Era comum associar o problema da circulação, sempre reduzido à
questão dos transportes, à topografia da cidade, que, para alguns especialistas,
limitava quaisquer propostas de redefinição dos fluxos de veículos e pessoas.
Óbvio que as condições do sítio onde Salvador se desenvolveu constituíam-se
como fatores importantes a serem considerados. Todavia, mesmo na época,
relatos retratavam que o cerne do problema não estava em si na questão
topográfica, mas na ausência de um planejamento que fosse eficaz na busca de
soluções para o problema da circulação na zona central.
O aspecto topográfico da cidade não é em si causa de
congestionamento. As ruas estreitas com seus altos edifícios, sim;
porque as construções feitas sem a mínima visão de conjunto,
determinando fatalmente congestionamentos em todos os cantos
110
107
Diário da Notícia (03.06.1956) e A Tarde (15.06.1956).
108
É necessário destacar, em relação à Salvador, que o sucateamento dos bondes ocorreu,
também, para favorecer à expansão das empresas privadas de transportes coletivos.
109
Jornal da Bahia (28.07.1965) e A Tarde (15.05.1974).
110
Jornal da Bahia (28.07.1965)
Os limites das propostas de planejamento, reduzidas às ões
paliativas, que poucas vezes se direcionavam a equacionar o problema da
circulação no centro em si, eram igualmente acentuadas pelo intenso crescimento
urbano que ocorreu em Salvador, entre as décadas de 1940 e 1980; pelo
aumento do número de veículos individuais e coletivos circulando na cidade, em
especial, nas áreas centrais, faça à expansão da indústria automobilística e ao
consumo desses bens no Brasil; por uma série de deficiências infra-estruturais e
um inadequado planejamento no que diz respeito ao setor de transportes; e pela
deseducação dos motoristas e pedestres
111
.
Indubitavelmente, as próprias estruturas herdadas, produzidas em
outros momentos do processo de estruturação da cidade, em especial, as ruas
estreitas, a direção do sistema viário, a posição dos edifícios, a despreocupação
com locais para estacionamentos, etc. tornaram-se fatores que influenciavam na
circulação pelas áreas centrais de Salvador.
Nada obstante, esse processo de concentração das atividades
comerciais e serviços, de certa forma, da vida urbana, no Centro Tradicional de
Salvador, por um lado, provocou certo atrito na fluidez de pessoas e de veículos,
influenciando, também, na circulação de capital e mercadoria na cidade. Ou seja,
sua expansão e fortalecimento representaram, concomitantemente, sua própria
bancarrota, o que conduz nossas discussões no sentido de avançar nas
contribuições de Lefebvre (2004), que compreende o centro como uma
contradição concreta.
Ao longo da história, os centros principais das cidades se
desenvolveram como expressões de uma centralidade urbana que polariza uma
miríade de fluxos de capital, pessoas e mercadorias “[...] definidos por uma
racionalidade estatal que, agindo sobre o espaço urbano, o envolve de modo a
condensar nele(s) as riquezas e o poder” (ALVES, 1999, p. 21). Como símbolos
mais marcantes das cidades, as áreas centrais se constituíram como cerne do
movimento da vida urbana, fortalecendo-se ao ponto de não conterem o próprio
desenvolvimento.
111
Jornal da Bahia (24.09.1967).
Nesse processo contraditório de fortalecimento/esmaecimento do poder
exercido pelos centros principais, torna-se compreensível o fenômeno de
expansão da centralidade, enquanto elemento indispensável para a reprodução
do espaço urbano, sob a égide do capitalismo contemporâneo, pautado, dentre
outros aspectos, no processo de reestruturação produtiva. De acordo com Alves:
Como estamos falando de um processo em constante movimento, a
própria constituição e o fortalecimento da centralidade exigem que
quanto mais unificador for o poder econômico, mais esse fenômeno
precisa se ampliar espacialmente e para isso faz-se importante o
desenvolvimento funcional e especializado de outros lugares que,
conectados e articulados, garantem a expansão da centralidade
(ALVES, 1999, p. 21).
Por outro lado, esses aspectos o podem minimizar o fato de que
aqueles problemas que se evidenciaram no centro de Salvador, durante o período
analisado, serviram, igualmente, como elementos legitimadores para a redefinição
da centralidade, através de mecanismos engendrados pelo poder público. Por sua
vez, tais elementos também foram úteis, tanto para as propostas que objetivavam
a mercantilização do solo urbano, que se tornaram mais contundentes a partir da
década de 1960, com a aquiescência do poder público; quanto para a valorização
de novas áreas na cidade, principalmente às adquiridas pelas empresas
imobiliárias, seja para fins habitacionais, seja para fins comerciais e de serviços.
A investigação sobre as modificações na centralidade urbana
soteropolitana desvelou, mormente, um conflito entre os interesses dos
comerciantes e proprietários que tinham empreendimentos no Centro Tradicional
de Salvador e os novos empreendedores imobiliários, proprietários fundiários e
loteadores, que visavam a comercialização e a valorização do solo urbano em
outras áreas da cidade. Além disso, nas esferas municipal e estadual, o governo
que, teoricamente, apresentava-se como um mediador de tais conflitos, atuou de
modo cito, privilegiando os interesses dos segundos, em detrimento aos
primeiros, até mesmo porque defendia interesses próprios.
Mesmo com várias tentativas de dificultar o acesso dos veículos
individuais ao centro, a solução para a crise da circulação, principalmente, no que
diz respeito às modificações na infra-estrutura das vias, ficou reduzida à
implantação das avenidas de fundo de vales”. Por outro lado, estratégias
pontuais, cuja envergadura não atingiu a magnitude da abertura das avenidas,
também contribuíram para o processo de redefinição da centralidade.
Dentre essas estratégias, foi fundamental a mudança na localização
das atividades administrativas, em especial, as ligadas ao Governo do Estado da
Bahia, a partir da criação do CAB (Centro Administrativo da Bahia), em 1972
(VASCONCELOS, 2002). Essa ação tornou-se vvel porque antes ocorreu a
inauguração da Av. Luiz Vianna Filho, em 1971, favorecendo o acesso das
pessoas à nova área.
Atualmente, essa área corresponde a um novo vetor de expansão
comercial, imobiliária e de serviços, constituindo-se num processo
incomensurável de valorização do solo urbano, em função da grande quantidade
de equipamentos urbanos que estão sendo construídos, bem como dos vários
empreendimentos habitacionais, destinados às classes média e alta
112
.
Com a implantação do CAB, uma parte relevante dos serviços
administrativos estaduais foi deslocada do centro da cidade, levando consigo um
importante fluxo de pessoas, de informações e, principalmente, de poder.
Entretanto, é essencial ressalvar que o centro não perdeu completamente tais
atividades, que a maioria dos serviços administrativos da Prefeitura Municipal
de Salvador ainda es localizada nesse espaço.
Outra modificação importante provocada pelo Estado para a alteração
na lógica da centralidade na cidade foi à transferência do Terminal Rodoviário de
Salvador para o Vale do Camurugibe, em 1974
113
. Até o início da cada de
1960, a cidade não possuía um terminal rodoviário específico. Parte dos ônibus
interurbanos, intermunicipais e interestaduais tinha como destino a zona central
antiga.
112
Pesquisa de campo (2007). Maiores detalhes no Capítulo V.
113
A Tarde (05.09.1974).
A construção da “Rodoviária Velha”, em 1961 (VASCONCELOS, 2002),
na Av. Sete Portas, imediações da área central, foi seminal porque disciplinou a
convergência de transporte interurbano para um local específico, desviando rotas
que iriam para a Praça da Sé e para o Terminal da França, no Centro Tradicional.
Contudo, em função do intenso fluxo migratório, o local rapidamente se tornou um
ponto de estrangulamento de transporte individual e coletivo.
Foi por esse motivo e, igualmente, por outros interesses privados, como
a valorização fundiária e à criação de um fluxo contínuo de consumidores no
local, que, em 1974, a nova rodoviária foi inaugurada, na Av Antônio Carlos
Magalhães, exatamente em frente ao local onde, a posteriori, foi construído o
Shopping Center Iguatemi. Junto com a rodoviária, além de toda a infra-estrutura
de acesso, foram criados novos estabelecimentos comerciais, bem como novas
linhas de transportes coletivos e novos serviços, redefinindo o fluxo e as relações
tempo-espaço
114
.
Além do deslocamento desses equipamentos, outras medidas tamm
foram tomadas no intuito de esvaziar o poder do Centro Tradicional de Salvador.
Uma das iniciativas adotadas pelo poder blico municipal, ainda na década de
1970, que teve maior visibilidade a partir da década de 1980, foi estimular a
formação de novos espaços comerciais e de serviços fora do centro antigo,
objetivando reduzir, relativamente, a concentração de empregos nessa área. Os
estudos desenvolvidos pela OCEAPLAN fizeram um levantamento sobre a
distribuição do emprego na cidade, em 1978. Esses levantamentos foram
atualizados pela Prefeitura, sendo cruciais para a elaboração do Plano Diretor de
Desenvolvimento Urbano de Salvador, na década de 1980 (SALVADOR, 1985a).
No projeto estavam mais evidentes as intenções do poder público de
redefinir a distribuição do emprego e dos estabelecimentos comerciais na área
central antiga, diminuindo-os, relativamente, em relação a outros espaços da
cidade. De acordo com o documento, uma das medidas para atingir as diretrizes
seria:
[...] a redução relativa do acréscimo de empregos de comércio e
serviços, independente das outras atividades ai plenamente
compatíveis, para cerca de 54,3% do total previsto para o Centro e
Subcentros até 1990, cuidando, no entanto, para que o número
absoluto continue crescendo [...] (SALVADOR, 1985a, p. 64).
Todavia, mesmo com a proposta demonstrando interesse na redução
relativa das atividades terciárias no centro, o projeto enfatizava que “sua
superioridade hierárquica sobre outras concentrações de comércio e serviços
deverá ser mantida [...]” (SALVADOR, 1985a, p. 60).
O plano salientava um tratamento especial para às atividades
comerciais e de serviços localizadas no Vale do Camaragibe, projetando a criação
de um novo “centro financeiro” em Salvador, na Av. Tancredo Neves
(SALVADOR, 1985a, p. 64-67). Desse modo, enquanto que nos sub-centros da
Calçada e Liberdade havia um destaque para o controle enérgico de seu
crescimento, percebe-se que nos sub-centros da Barra e do Vale do Camaragibe,
ligados a fortes interesses imobiliários, esse aspecto foi atenuada, suscitando
apenas uma observação do “controle desequilibrado”.
Nada obstante, percebe-se que o interesse no fortalecimento do novo
centro no Vale do Camaragibe estava velado, porque nesse local concentraram-
se grandes interesses de empresas construtoras, proprietários fundiários e
promotores imobiliários, conduzidos de modo aquiescente pela Prefeitura
Municipal de Salvador e pelo Governo do Estado da Bahia. Se a idéia original foi
“implantar usos bastante diversificados (SALVADOR, 1985a, p. 67), o futuro
revelou que tais propostas eram embustes, que a área foi apropriada,
essencialmente, para os usos comerciais, residenciais e de serviços, voltados
para as classes sociais mais elevadas.
As discussões levantadas neste capítulo revelam as modificações pelas
quais passou Salvador ao longo de sua história, enfatizando, principalmente, o
período compreendido entre as décadas de 1940 e 1980, quando um conjunto de
ões públicas e privadas convergiu para a alteração na lógica da centralidade da
cidade, redefinindo, sobremaneira, as relações tempo-espaço tecidas no nível
intra-urbano, bem como o próprio processo de reprodução do espaço.
114
A Tarde (05.09.1974) e Diário da Notícia (03.09.1974).
Entretanto, os impactos do processo de reestruturação urbana e da
cidade, pensando no caso de Salvador, só passaram a ganhar contornos mais
claros a partir da década de 1980, mesmo sabendo que as primeiras ações
iniciaram ainda na década de 1960. Isso ocorreu porque, como observado nas
idéias de Sposito (2004), os efeitos dessas ações no espaço, mesmo que
principiados em tempos pretéritos, ganham proeminência quando existe uma
intensidade do processo e há a prevancia dessa lógica sobre as demais.
A alteração da centralidade soteropolitana também produziu e, por
outro lado, foi produto do surgimento de novos equipamentos urbanos, como
hipermercados e shopping centers, tornando-os, assim, elementos relevantes na
constituição de novas expressões da centralidade urbana. Desse modo, no
próximo capítulo, a discussão dedicar-se-á à compreensão do processo de
implantação dos shopping centers na cidade, para, a posteriori, analisarmos as
características da estrutura urbana contemporânea, a partir da investigação sobre
o papel dos novos e velhos centros e sub-centros urbanos.
CAPÍTULO III:
SHOPPING CENTERS:
NOVOS ESPAÇOS DE CONSUMO NA
METRÓPOLE SOTEROPOLITANA
Na Idade Média, quando uma cidade queria status, ela construía uma catedral. Hoje,
quando uma cidade quer status, constrói um shopping center. A maioria dos shopping centers tem linhas
arquitetônicas de catedrais estilizadas. E não se pode ir ao shopping com qualquer roupa; tem que ir com
roupa de missa de domingo [...].
Entra-se naqueles claustros ao som de gregoriano pós-moderno (aquela musiquinha de
esperar dentista), contemplando as ricas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por
belíssimas sacerdotisas. Sente-se no inferno quem não pode comprar. No purgatório quem entra no cheque
especial, cartão de crédito ou compra a prazo. No céu, quem pode comprar a vista. Na saída, todos se
sentem irmanados na eucaristia pós-moderna do mesmo suco, com gosto de gelo, e do mesmo sanduíche,
com gosto de plástico, do McDonald's.
Frei Betto
Indústrias ou avenidas de sonhos
115
, templos de consumo
116
, templos
117
ou catedrais
118
da mercadoria, essas são algumas das expressões atribuídas aos
shopping centers, esses novos e, muitas vezes, imponentes equipamentos que,
em âmbito mundial, passaram a fazer parte da paisagem urbana das metrópoles
e de algumas cidades médias, alterando, sobremaneira, tanto a vida cotidiana
quanto as relações tempo-espaço.
Os shopping centers são expressões das profundas mudanças que
ocorreram na sociedade, em especial, a partir da segunda metade do século XX,
representando a materialização de um conteúdo relativamente novo na
urbanização, ao mesmo tempo em que corroborando uma etapa particular do
processo de acumulação capitalista que, segundo Pintaudi (1989), está
fundamentada pela centralizão e concentração do capital.
A implantação desses equipamentos nas áreas urbanas está inserida
no processo de reestruturação urbana e da cidade, como resultante da
emergência e do fortalecimento de uma sociedade de consumo
119
que, na
concepção de Padilha, abrange a compreensão do funcionamento e da gica
tanto social quanto da vida dos sujeitos(PADILHA, 2006, p. 85). Dialeticamente,
tais equipamentos também m um nível de determinação no processo, porque
m redefinindo a lógica do consumo.
O shopping center é um produto do rearranjo no processo de
reprodução do capital e exprime um contemporâneo jogo de interesses urbanos.
Por outro lado, tornou-se uma condição para que esse processo se realize,
principalmente, no que diz respeito ao capital comercial e imobiliário, na medida
em que, através dele, são engendradas novas lógicas de valorização do/no
espaço e de comercialização do/no solo urbano.
115
Frúgoli Júnior (1990).
116
Hirschfeldt (1986).
117
Santos (1987) e Pintaudi (1989).
118
Padilha (2006).
119
Idem.
Diferentemente do que observou Pintaudi (1989) no final da década de
1980, em relação aos estudos sobre os shopping centers, em especial os
geográficos, atualmente um conjunto de pesquisas vem sendo desenvolvidas com
o intuito de entender o papel desempenhado por tais equipamentos no processo
de estruturação e, mormente, reestruturação do espaço urbano, o que demonstra
a relevância adquirida pelo fenômeno na sociedade contemporânea, bem como a
necessidade de debatermos suas influências na vida cotidiana. Em geral, tais
pesquisas discutem as conseqüências acarretadas pela implantação de um
shopping, porque entendem que esses redefinem o nexo da centralidade intra-
urbana, provocando: -intensa valorizão da/na área onde se implanta; alterações
no papel dos centros e sub-centros urbanos tradicionais; -acentuação da
segregação no espaço urbano; -criação de novos mecanismos de fragmentação
sociaespacial; -modificações na gica de consumo da sociedade etc.
No caso de Salvador, nas ts últimas décadas, os shopping centers
consolidaram-se como elementos marcantes na paisagem urbana tornando-se,
dialeticamente, produtos e produtores de uma nova etapa no processo de
estruturação da cidade, ou seja, sua reestruturação. Outrossim, revelam
elementos contemporâneos da urbanização, traduzidos pela compreensão das
novas dinâmicas econômicas, políticas e sociais que imperaram no território
baiano, sobretudo, após a década de 1960.
A análise da localizão dos shopping centers em Salvador, que
evidencia uma concentração territorial nas áreas consideradas elitizadas,
demonstra o modo desigual como, ao logo da história, o espaço urbano foi
estruturado, visando atender, sobremaneira, os interesses da reprodução do
capital. Por esse aspecto, Villaça observa que:
[...] quanto mais desiguais o espaço urbano e a distribuição
territorial da renda, como nas metpoles brasileiras, menos difíceis
as escolhas do pontos’. O espaço urbano desigual leva então a
uma desigual distribuição dos shoppings [...] (VILLAÇA, 2001, p.
304).
Analisar o que é um shopping parece algo tão evidente que oculta uma
realidade inexorável: mesmo sendo verdade que todos são grandes
equipamentos de comércio e serviços, o inverso é inverossímil. Ou seja, nem
sempre todo imponente equipamento urbano, voltado para o fornecimento de
bens e servos terciários, pode ser definido como um shopping.
Nas últimas três cadas, autores de diferentes áreas do conhecimento
propuseram conceituações visando definir o que é um shopping. Em geral,
priorizam identificar a diferença entre esses equipamentos e os demais que
apareceram nas cidades. Embasado pelas idéias de Pintaudi (1989), percebemos
que na investigação sobre os shopping centers, torna-se fundamental verificar
aspectos importantes que evitam erros na análise, tais como: o sujeito/agente que
tomou a iniciativa do empreendimento; a condição dos lojistas, se locatário ou
proprietário da loja; o arranjo e a natureza das lojas instaladas; e a disponibilidade
de estacionamento. É exatamente por esse motivo que “[...] a presença do setor
público, a ausência de loja-âncora, a propriedade da loja pelo comerciante e a
falta de um local para estacionamento (PINTAUDI, 1989, p. 27)descaracterizam
um shopping no que corresponde aos elementos essenciais que o constituem.
[...] a expressão shopping-center significa um empreendimento de
iniciativa privada que reúne, em um ou mais edifícios contíguos,
lojas de comércio varejista e de serviços alugadas, que se
distinguem uma das outras não somente pelo tipo de mercadoria
que vendem (o tenant mix planejado pela empresa prevê a
presença de várias lojas do mesmo ramo para permitir a compra
por comparação), como também por suas naturezas distintas (lojas-
âncora e lojas de comércio especializado e serviços que podem
ou não pertencer a redes). Toda a estrutura e funcionamento do
empreendimento são controladas por um setor administrativo,
necessário para o funcionamento eficaz do shopping-center, o que
significa dizer que é o setor, cuja responsabilidade é zelar pela
reprodução do capital da empresa. Além disso, está a presença de
um parque de estacionamento, cujo tamanho se encontra na
dependência do porte do empreendimento e da sua localização
(PINTAUDI, 1989, p. 30).
Ou seja, um shopping apresenta uma estruturação interna muito
específica, que o diferencia de outros grandes equipamentos urbanos, em
especial, os centros comerciais, porque sua feição arquitenica e o modo como
eso dispostos os usos dos espaços são organizados de forma meticulosa para
garantir a reprodução ampliada do capital investido. Ademais, na medida em que
os lojistas dos shopping centers pagam aluguel ao grupo empreendedor, sua
implantação revela uma inexorável estratégia dos proprietários auferirem renda
pelo monopólio do solo, face à propriedade privada, articulando o consumo ao
capital comercial e esse aos capitais imobiliários e financeiros.
De acordo com a ABRASCE
120
(Associação Brasileira de Shopping
Center), um shopping center pode ser definido como um centro:
Comercial planejado, sob administração única e centralizada:
Composto por lojas destinadas a exploração de ramos diversificados
ou especializados de comércio e prestação de serviços, em sua maior
parte, objeto de locação;
Onde os locatários sejam sujeitos às normas contratuais
padronizadas, pensando a manutenção do equilíbrio de oferta e da
funcionalidade, para assegurar a convivência integrada;
Onde haja a variação do preço da locação, ao menos em parte, de
acordo com o faturamento dos locatários; e
Que ofereça um número significativo de estacionamento.
Para além do debate sobre os componentes definidores do que é ou
não um shopping, percebe-se que outras pesquisas têm dedicado sua atenção
para investigar a simbologia construída por tais equipamentos na trama urbana.
Assim, face à massificação desses objetos nas metrópoles e médias cidades,
observa-se que os shopping centers têm criado símbolos que passaram a ser
incorporados à vida cotidiana, não dos citadinos, mas, igualmente, dos
habitantes da zona rural. Tais símbolos emergiram como ícones idiossincráticos
de uma sociedade que, cada vez mais, vem se reproduzindo sustentada pela
ideologia do consumo. Essa ideologia, aliás, um nexo das regras de sociabilidade
no mundo capitalista, tem no shopping um dos ápices de sua realização, já que tal
equipamento engendra no urbano o simulacro de uma sociedade ideal, baseada,
segundo Santos (1987), na construção de um “cidadão imperfeito e de um
consumidor mais-que-perfeito”.
Para Montessoro:
[...] a existência dos shopping-centers está consolidada por uma
simbologia que exprime as práticas sociais contemporâneas, ou
seja, os desejos expressos pela necessidade de consumir cada vez
mais. Entretanto, este signo está embutido no cotidiano das
pessoas, o que acelera a dinâmica das relações sociais a partir
destes novos espaços (MONTESSORO, 1999, p. 33).
A autora destaca o papel desempenhado pelos shopping centers na
consolidação das mencionadas simbologias, reiterando, por sua vez, que elas
eso impregnadas de interesses que visam, mormente, a continuidade do
processo de reprodução do capital numa sociedade pautada pela lógica do
consumo. Para Santos Junior (1992, p. 61), os shopping centers, espacialmente,
apresentam-se como a linguagem da sedução materializada. Desse modo,
através da linguagem da sedução, mostram-se como um produto social
avançado, que impõe novos padrões de consumo e regras de convívio,
inaugurando um novo tempo-espaço urbano.
[...] não são apenas centros de compra, destino final da produção.
o também centros de informação, de (re)produção de um modo
de vida, atraindo milhares de pessoas, mudando referenciais da
população com relação aos locais de encontro, de lazer e de
compras da cidade, criando signos, emitindo sinais. Ou seja,
procuram atrair para si a centralidade, eclipsando as ruas e praças
(FRÚGOLI JUNIOR, 1990, p. 10).
Os shopping centers exprimem as próprias contradições do processo
de reprodução da sociedade capitalista. Tais fatos podem ser investigados
quando analisamos suas relações com a própria cidade. Nota-se que, por um
lado, cria-se um ambiente que tenta dissimular as mazelas produzidas pelo
capitalismo, em especial, as decorrências da incomensurável desigualdade social:
violência, miria etc. Por outro, apropria-se das sinecuras particulares que as
cidades apresentam, mormente, os valores construídos ao longo na história,
porque, a partir desses, consegue-se constituir um nível de identidade que
favorece, essencialmente, a reprodução ampliada do capital. É por tais fatos que,
no interior dos shopping centers, observamos o estereótipo de uma cidade
quimérica, idealizada para e pelo consumo.
Segundo Sussekind, esses equipamentos urbanos:
120
Disponível em:<http://www.abrasce.com.br>, acesso em dezembro de 2007.
[...] aspiram traduzir, num espaço fechado, a utopia urbana que o
capitalismo moderno não realizou para o conjunto da sociedade:
uma cidade ideal, repleta apenas de cidadãos consumidores, sem
vestígios de pobreza e deterioração [...] (SUSSEKIND, 1986, p. 82).
Na contradição entre a negação e a apropriação da cidade, os shopping
centers articulam-se às diversas temporalidades urbanas, seja (re)significando
informações históricas, seja dialogando com elementos da contemporaneidade, e
criam um hiato entre o simulacro e a realidade que povoa o imaginário coletivo
dos citadinos, impondo-lhes novos valores sociais, especialmente, a partir da
dissimulação de alguns conteúdos do urbano.
Segundo Frúgoli Junior, um outro aspecto que, em geral, chama a
atenção nos shopping centers é o fato de que esses estabelecimentos recriam
nos seus interiores não apenas novas praças, mas também calçadões, bulevares,
ruas de comércio sofisticado, alamedas de serviços e alas de restaurantes, o que
atesta um complexo diálogo com signos e características de outros espaços e
instituições urbanas (FRÚGOLI JUNIOR, 1990, p 28).
[...] os shopping-centers são espaços confinados, servidos por uma
climatização ambiental uniforme, em que o tempo parece não
passar. Não chuva, nem calor, becos escuros ou ruas
esburacadas [...] (FRÚGOLI JUNIOR, 1990, p 28).
Os shopping centers fomentam, assim, uma questão paradoxal na
trama urbana, pois, ao mesmo tempo em que procuram estabelecer um diálogo
com a própria cidade, recriando nos espaços interiores os simulacros, nega esse
modo dialógico, na medida em que estão voltados para si, e expurgam do seu
interior aqueles que o estão inseridos na lógica consumista.
Pensando as palavras de Walter Benjamin, em sua obra Paris do
século XIX, os shopping centers podem ser pensados como cidades no interior da
própria cidade, porque se revelam como uma miniaturizão do jogo de relações
tecido na urbe. Entretanto, entendemos que seria mais adequado pensá-los como
arquétipos das cidades na própria cidade, porque, em geral, através do controle
do cotidiano, limitam, entre outros aspectos, a reprodução da diversidade e da
alteridade, que são traços comuns à vida urbana.
Como templos da sociedade do consumo, na qual a imagem e o
simulacro ganham significados relevantes, o estilo, o desenho e a embalagem
tornam-se componentes essenciais da venda dos shopping centers, tanto interna
quanto externamente, refletindo-se na caracterização do espaço arquitetônico, na
decoração dos ambientes, linha exclusiva de produtos (grifes), nas embalagens.
Por isso, “incorporam também o conceito de obsolescência do produto, quanto ao
estilo e pouca durabilidade, que vem da produção e que aparece com a moda”
(GAETA, 1992, p. 55).
Enquanto símbolos dessa sociedade do consumo, os SC vivem a
contradição entre obsolescência/durabilidade. o fenômenos
instituídos, enraizados em nossa sociedade, já que resultam do
processo de expansão do capital que gerou de um lado, a
generalização da mercadoria e, de outro, a concentração do capital
também na área do comércio. Daí resulta o seu aspecto de
durabilidade (PINTO, 1994, p. 33).
Todavia, a implantação desses equipamentostamm es calcada na
idéia de novo, do moderno, do inovador. Nesse sentido, também criam e
reproduzem o duradouro e o efêmero” (PINTO, 1994, p. 33), sempre no bojo das
estratégias de reprodução ampliada do capital investido no empreendimento.
Como o capitalismo é um modo de produção que se reproduz, dentre
outros aspectos, fundamentado pelo acesso desigual dos sujeitos no ciclo do
capital (produção, distribuição, circulação e consumo), a materialização dos
shopping centers exprime e reforça essa desigualdade. Desde a implantação dos
primeiros shopping centers no Brasil parece haver uma idéia consensual de que
esses equipamentos foram construídos para se destinarem ao consumo das
classes médias e altas da sociedade, o que, de fato, é uma realidade.
O desenvolvimento do modo capitalista de produção não é
homogêneo, nem em nível internacional, nem em nível nacional.
Aliás, nas sociedades capitalistas, a desigualdade é necessária
para seu próprio desenvolvimento e ela se manifesta através da
materialização da Produção em todos os seus aspectos
produção, distribuição, troca e consumo. O shopping-center é
apenas uma dessas materializações da desigualdade, que se
manifesta com mais evidência no momento da troca e do consumo
das mercadorias (PINTAUDI, 1989, p. 05).
Desse modo, por um lado, a apropriação dos espaços no shopping,
como uma dimensão social no bojo das relações capitalistas de produção,
desenvolve-se produzindo e reproduzindo formas desiguais de atuações e ões
dos sujeitos. Por outro, a própria materialização do equipamento é um
estratagema que torna possível revelar os meios pelos quais o solo urbano erige-
se como um importante instrumento, tanto de geração de renda capitalizada,
quanto de realização da mais-valia. Nesse último aspecto, os shopping centers
reforçam a reprodão do capital, na medida em que, através do consumo, estão
intrinsecamente articulados às outras etapas do ciclo do capital, dialeticamente,
determinando-as e sendo por essas determinados.
Os shopping center tornam-se, portanto, produtos/engrenagens que
reforçam tanto o processo de segregação no espaço urbano, porque intensificam
o preço do solo em coadunação com a ão dos proprietários fundiários e dos
incorporadores imobiliários; quanto a fragmentação socioespacial, em especial,
nas grandes metrópoles, na medida em que também tornam viável a dissolução
do convívio entre as diferentes classes sociais. É o que, nada obstante, destaca
Pintaudi (1991). A autora pensa a questão da fragmentação entendendo que os
shopping centers contribuem para a constituição de uma maior fragilidade das
relações sociais na cidade, o que, por sua vez, empobrece o cotidiano.
Criado para atender estratos sócio-econômicos específicos da
nossa sociedade, ele se caracteriza por se um local que atrai
pessoas que si identificam de alguma maneira e, portanto, são
espaços que segregam, principalmente em países como o nosso, e
desta forma, contribuem para fragilizar as relões sociais e,
conseqüentemente, tornar o cotidiano mais empobrecido.
(PINTAUDI, 1991, p. 78).
Entretanto, a partir da metade da década de 1980, ocorreram
alterações importantes no processo de implantação dos shopping centers,
pensando no caso brasileiro, tanto no que diz respeito às classes sociais às quais
tais equipamentos passaram a ser destinados, quanto à introdução de novas
estratégias de reprodução do consumo que viabilizaram a inclusão das camadas
mais populares nesse ciclo.
Assim, ainda que imperem as observações feitas alhures - os shopping
centers como equipamentos majoritariamente pensados para uma elite social -
algumas pesquisas também vêm debatendo e reconhecendo elementos mais
complexos que passaram a figurar no cenário urbano, em especial, no que diz
respeito à inserção de outras classes sociais na lógica do consumo. Nesse
sentido, Frúgoli Jr. (1989 e 1990) observa que se, por um lado, os primeiros
shopping centers foram criados pensando-se, exclusivamente, na elite, nos
últimos anos, tem havido uma mudança consubstancial em seu conteúdo. Para o
autor,
[...] esses não são mais espaços ocupados apenas por grupos das
elites e das camadas médias, mas também por membros das
camadas populares, moradores de regiões periféricas, turmas de
office-boys e outras, principalmente à medida que os shoppings vão
se expandindo pelas metrópoles e cidades médias (FRÚGOLI JR,
1990, p 34).
É o que, igualmente, Sposito percebeu ao analisar o processo e as
conseqüências da implantação dos shopping centers em cidades de médio porte.
Para a autora [...] os shoppings (como as magazines e calçadões nas décadas
anteriores) passaram a ser as áreas de maior atração para o lazer das faixas
sociais de menor poder aquisitivo” (SPOSITO, 1991, p. 276).
Todavia, mesmo observando as verossímeis mudanças que revelam os
shopping centers como espaços de consumo, lazer e sociabilidade para
segmentos das camadas populares, isso não significa que eles deixaram de
acentuar os níveis de fragmentação socioespacial, como afirma Frúgoli Júnior
(2000, p. 38), referindo-se ao caso de São Paulo.
É necessário frisar que o fato dos shoppings se tornarem espaços
comunicacionais com um crescente afluxo de diversos grupos
sociais não quer dizer que sejam espaços de uma diversidade
plena e radical, pois, embora esses grupos venham re-significar o
espaço, os parâmetros que definem os padrões dessa interação
impõem de alguma forma determinados recortes e clivagens,
demarcando e ressaltando certas diferenças e mantendo um
contingente de grupos marginais excluídos (FRÚGOLI JUNIOR,
1989, p. 203).
Esse paradoxo entre a produção de um equipamento urbano pensado,
sobremaneira, para uma elite social, e a inserção das classes de baixa renda na
contemporânea lógica do consumo é outro sinalizador da presença de novos
componentes no processo de reprodução do capital, nesse caso, atuando como
mecanismos tácitos que se ligam ao funcionamento da economia urbana. Ou
seja, diante das prementes desigualdades sociais presentes nas cidades
brasileiras, os sujeitos que controlam o mercado de vendas a varejo criaram
estratagemas específicos que, nas últimas décadas, vêm incorporando ao ciclo de
reprodução do capital os consumidores que compõem as camadas populares,
principalmente porque esses constituem um importante filete de mercado,
reforçando o processo de massificação do consumo.
Por outro lado, tais aspectos estão intrinsecamente articulados à forma
como é planejada a construção de grandes equipamentos de consumo nas
cidades, porque se entende que é essencial haver uma sintonia entre a
implantação desses objetos e o seu envolvimento com o público consumidor.
Nesse sentido, os shopping centers aparecem como exemplos inexoráveis de um
processo que abarca diferentes etapas, sempre prezando o pleno funcionamento
do empreendimento e a garantia de retorno financeiro, especialmente, para o
grupo empreendedor.
É por esse fato que a investigação cnica sobre a construção e o
funcionamento de um shopping center, que correspondem, respectivamente, ao
processo de implantação do empreendimento e sua articulação à vida urbana,
envolve uma miríade de sujeitos. Tal análise engendra nexos complexos com as
tessituras da vida cotidiana, também proporcionando a leitura das ações políticas,
econômicas e sociais que se tornam necessárias para que tais equipamentos
possam ganhar forma e notoriedade.
O processo de implantação de um shopping center envolve um conjunto
articulado de estratégias cujo objetivo é garantir a viabilidade do negócio.
Segundo Hirschfeldt (1986), essa etapa pode ser sistematizada em quatro fases
distintas: o planejamento, a arquitetura, a construção e a operação. No
planejamento, são essenciais a escolha adequada do terreno; a pesquisa da
viabilidade econômica do empreendimento, que envolve o estudo do local, sua
área de influência, o público para o qual o shopping estará direcionado e o
potencial de venda; e o planejamento do uso do terreno (land-use). Em geral,
mesmo antes do início da construção do empreendimento, um aspecto
fundamental é o contato com as lojas-âncoras, pois elas são cruciais mesmo
nessa fase da implantação de um shopping (HIRSCHFELDT, 1986).
De acordo com Pintaudi (1989), outro elemento que precisa ser
discutido é o fator localização. Para a autora:
[...] a localização tem um peso muito maior, aliás fundamental,
porque é estratégica para a reprodução de um capital imobiliário
imobilizado numa construção de grande dimensão e que, se não
der certo, fica difícil, para não dizer impossível, destiná-la a outra
atividade que permita retorno do capital de forma ampliada
(PINTAUDI, 1989, p. 10)
A arquitetura, a construção e a operação, mesmo não detalhadas por
Hirschefeldt, estão bastante articuladas à construção do empreendimento,
especialmente, no que tange ao perfil arquitetônico que irá adquirir, à disposição
dos usos (tenant mix
121
) e ao elo entre os seus espaços internos e externos. O
planejamento do shopping incorpora necessidades que devem ser atendidas
tendo em vista os interesses dos empreendedores e dos lojistas. Isto significa,
entre outras coisas, manter o controle centralizado por parte do empreendedor,
desenvolver no shopping características especiais frente ao comércio, em geral,
capazes de se traduzir em lucro extraordinário para os lojistas e possibilitar a
extração de renda pelos empreendedores (GAETA, 1988, p. 18).
Essa análise constata que a construção de um shopping envolve vários
segmentos econômicos, de classes distintas, muitas vezes ocultos e esquecidos
pelo público que os freqüentam. Sua implementação articula, desde os grandes
financiadores, em geral, bancos públicos ou privados, capital privado ligado a
agentes financeiros comerciais, e profissionais especializados, como arquitetos,
engenheiros e planejadores urbanos; à mão de obra menos especializada que,
em geral, executa o trabalho braçal. Cada um deles imerso no ciclo de
reprodução do capital, cumprindo papéis determinados pela lógica capitalista.
121
Elemento importante no planejamento e no desenvolvimento de um shopping center.
Corresponde à variedade e à disposição das lojas que o compõe.
A articulação do shopping ao pleno desenvolvimento da vida urbana
revela os níveis de complexidade do fenômeno e a participação dos demais
sujeitos que passam a ser incorporados à trama da cidade. Por um lado, m os
agentes e as ações que dizem respeito ao funcionamento do shopping center; por
outro, os que são mediadores entre esses e o público consumidor, em geral,
ligados aos setores de marketing e divulgação. Esses últimos, aliás, constituem
uma teia de interesses e custos financeiros.
Pautada pelas normas da ABRASCE, Pintaudi (1989) destaca que o
funcionamento de um shopping se desenvolve de acordo com uma lógica
bastante complexa, que integra setores e sujeitos distintos objetivando o
funcionamento adequado do empreendimento. A administração coordena o
shopping center, podendo ser o próprio grupo empreendedor, ou uma empresa
terceirizada, contratada para os mesmos fins. Os setores financeiro, de
manutenção, de segurança e de promão e publicidade também constituem
elementos básicos para o desenvolvimento das atividades cotidianas
122
.
É o grupo empreendedor, de acordo com o planejamento, que
determina como será o empreendimento, suas características e estrutura
organizacional. Segundo a ABRASCE (2000), o plano de mix de um shopping
envolve um conjunto diversificado de lojas, classificadas de acordo com diferentes
grupos (Quadro 1). Através da administração, o grupo empreendedor controla
todos os aspectos mais importantes que garantem o funcionamento do shopping,
como horário, serviços importantes, segurança, limpeza etc.
Sobre o mix do shopping, observa-se que as grandes lojas são
importantes geradoras de tráfego e que necessidade de se estabelecer uma
estratégia de localização interna para que todos os lojistas se beneficiem com os
clientes, para com isso não reproduzir o seu capital, como também o capital
financeiro/imobiliário, através do pagamento do aluguel (PINTAUDI, 1989, p. 10).
Dentre essas, as lojas-âncoras o entendidas como essenciais, condição sine
qua non para o empreendimento, porque atraem um alto fluxo de consumidores.
De acordo com a ABRASCE, elas:
122
Maiores detalhes em Pintaudi (1989).
Quadro 1: Composição do mix do shopping center
Lojas Constituição Tipo de lojas
Grupo I Lojas-âncoras Lojas de departamento, lojas de departamento Jr., lojas de
departamento de descontos, hipermercados,
supermercados, outros.
Grupo II Megalojas Vestuários, eletrodomésticos, veis/decoração,
informática/material de escritório, artigos esportivos,
livros/CD’s, brinquedos, outros
Grupo III Vestuário Lojas que vendem itens do vestuário, calçados, acessórios
e correlatos.
Grupo IV Artigos do lar Lojas que vendem pequenos itens de decoração, também
conhecidas como lojas de design.
Grupo V Artigos diversos Lojas que vendem artigos variados, que se caracterizam
por não se enquadrarem em outros grupos.
Grupo VI Alimentação Restaurantes com serviços, restaurantes fast-food, fast-
food, outros.
Grupo VII Conveniência/Serviços Lojas que prestam serviços em geral, como Correios,
farmácias, ensino, bancos etc.
Grupo VIII Lazer Cinemas, teatros, diversões, outros
Fonte: ABRASCE, 2000
o operações varejistas que atraem maior tráfego de
consumidores para o Shopping Center. São lojas, basicamente,
com área total superior a 1.000m
2
. São grandes anunciantes na
mídia eletrônica e impressa, possuem políticas promocionais
arrojadas e operam fortemente com crediário (ABRASCE, 2000, p.
04).
A análise sobre dos shopping centers proporciona desvendar a
complexa articulação entre os capitais comercial, imobiliário e financeiro no
processo de reprodução do espaço urbano, elemento essencial para discutirmos
as conseqüências do modelo de acumulação flexível na produção das cidades.
Nesse sentido, Villaça destaca, com relão aos administradores, que:
[...] ao controlar e impor o mix, também há o domínio do capital
imobiliário sobre o mercantil. O shopping representa, pois a
penetração do capital imobiliário na esfera do capital mercantil e a
sujeição do comércio varejista e dos serviços ao capital imobiliário e
– através deste – ao financeiro (VILLAÇA, 2001, p. 304).
É por isso que tais equipamentos precisam ser devidamente
investigados quando se propõe debater o processo de reestruturação urbana e da
cidade, tanto porque interferem no modo como a estrutura urbana vem sendo
organizada, como porque dão suporte à reprodução ampliada do capital. Segundo
Pinto (1994, p. 06), “deve-se pensar o shopping center enquanto elemento de
produção e reprodução do urbano”, ressaltando a idéia de que um fenômeno não
se explica por ele mesmo, mas pela sua relação dialética com outros elementos
aos quais se articula, constituindo uma totalidade.
3.1 – Os shopping centers no contexto da urbanização
O processo de urbanização é um elemento-chave para entendermos o
surgimento e a expansão dos shopping centers no mundo e, em específico, no
Brasil. Os primeiros shopping centers, como atualmente os conhecemos, surgiram
nos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial, segundo Fgoli Jr (1989).
Todavia, de acordo esse mesmo autor, observa-se que seus germens nasceram,
ainda, no culo XIX, mormente, em função das modificações ocorridas na
sociedade do contexto histórico. Tais aspectos possibilitam entender que o
shopping, produtor de tantas vicissitudes, também foi produto de uma nova lógica
social.
Os primeiros shopping centers norte-americanos nasceram nas áreas
suburbanas porque o ps sofreu “um ‘boom’ econômico, com a expansão
internacional de seu capital, e por uma intensa urbanizão de diversas regiões
de seu território, propiciada, entre outros fatores, pela expansão da indústria
automobilística” (FRÚGOLI JR. 1989, p. 27). Por outro lado, eles repercutiram
como expressão da atomização das cidades, que vinha em curso desde as
décadas anteriores, acarretando numa estruturação funcional dos espaços
definidos pelo planejamento urbano. A disseminação do uso do automóvel foi
outro elemento seminal, na medida em que alterou o tempo de descolamento,
redefinindo o papel que os centros exerciam.
É necessário frisar que essas mudanças estruturais ocorreram
concomitantemente ao período em que o próprio modo capitalista de produção
passava por alterações, dentre as quais se destaca uma maior concentração do
capital comercial. Nos países subdesenvolvidos, como o Brasil, esse estágio só
teve maiores conseqüências num momento posterior. Por isso que Bienenstein,
ao pensar essa nova lógica de desenvolvimento do capitalismo, retrata que:
A necessidade de eliminar um regime de concorrência irrestrita
entre unidades atomizadas conferiu importância às iniciativas que
visavam bloquear a luta corporativa desregrada entre elas. Tais
iniciativas acarretaram uma reestruturação empresarial que
orientou a dinâmica econômica norte-americana à
internacionalização de sub-processos de produção e
comercialização que, por sua vez, submeteu a lógica econômica à
ação administrativa e ao planejamento de longo prazo
(BIENENSTEIN, 2001, p. 02).
Alguns autores concordam que o surgimento dos primeiros shopping
centers, no Brasil, ocorreu no momento em que o capitalismo passou por um
esgio de amadurecimento de suas relões de produção, resultante de
transformões na própria estrutura produtiva
123
. As mudanças na economia
nacional, a partir da década de 1940, especialmente, o início da industrializão,
fomentaram a inserção do país na nova política econômica mundial, que estava
fortemente assentada no modelo fordista. Esse processo provocou a expansão da
produção e do consumo, em âmbito nacional, que o modelo de industrialização
do Brasil se desenvolveu, dentre outros aspectos, com base em uma política de
substituição de importações.
A partir da década de 1950, face à expansão da produção de bens de
consumo duráveis, em especial, da indústria automobilística, e de bens de
consumo não-duráveis, adveio um crescimento no consumo de tais produtos
entre as classes médias e altas da sociedade brasileira, constituindo um novo
modo de comercialização no sistema de varejo.
O shopping-center é um fenômeno característico (ainda que não
necessário) do estádio monopolista das sociedades capitalistas.
Enquanto empresa de grande capital, ele surge no momento em
123
Maiores detalhes em Hirschfeldt (1986), Gaeta (1988), Pintaudi (1989) e Padilha (2006).
que as condições de desenvolvimento do capitalismo necessitam
do monopólio do espaço para a reprodução contínua e ampliada do
capital, porque é através do poder de mercado que são
equacionados os problemas da acumulação do capital (PINTAUDI,
1989, p. 27-28).
Para a autora, o processo acarretou, no âmbito da troca de
mercadorias, o surgimento dos shopping centers enquanto produtos das
transformões ocorridas no comércio varejista. É necessário lembrar que, entre
as décadas de 1940 e 1980, o Brasil passou por um crescimento acelerado da
população urbana, em especial, nas grandes áreas metropolitanas.
Conseqüentemente, tais espaços tiveram sua estrutura urbana alterada, em
especial, porque o processo de expansão territorial e a valorização do solo urbano
foram expressivos. Portanto, não foi por acaso que os primeiros shopping centers
se instalaram nas metrópoles. Nesses locais, as condições eram mais propícias.
No Brasil, a implantação do primeiro shopping center ocorreu em 1966,
com a instalão do Shopping Center Iguatemi, em São Paulo
124
. Para Pintaudi
(1989), o surgimento desses espaços de consumo no território nacional está
atrelado às mudanças na economia e na demografia. Eles foram criados:
[...] num momento em que a economia brasileira se desenvolve
com a formação de monopólios, e os shoppings centers
representam esta tendência em nível das atividades comerciais
varejistas, que não possuíam nenhum poder de mercado, exceto as
grandes lojas e os supermercados (PINTAUDI, 1989, p. 80).
Precisar o número de shopping centers existentes no Brasil,
atualmente, bem como em sua evolução no tempo, é algo muito complexo. Como
mencionados no início deste capítulo, alguns critérios vêm sendo utilizados para
identificar um shopping center, distinguindo-o dos outros grandes equipamentos
comerciais. No entanto, percebemos que nem sempre tais critérios são seguidos,
mesmo pela ABRASCE, associação que representa vários shopping centers
brasileiros.
124
http://www.abrasce.com.br, acesso em 07 de dezembro de 2007. Todavia, o Shopping do
Méier, no Rio de Janeiro, reivindica esse título porque, segundo informações levantadas, foi
inaugurado em 1963.
Segundo os dados da ABRASCE
125
, existiam 367 shopping centers no
Brasil, até o final de 2007, dentre os quais 170 eram seus filiados. Até 2009,
estavam previstos para serem inaugurados mais 30. Fizemos um levantamento
126
tentando encontrar um dado mais plausível sobre o número de shopping no país e
observa-se que mudanças importantes vêm ocorrendo desde a implantação do
primeiro shopping center, apontadas por outros autores, como Gaeta (1988),
Pintaudi (1989), Montessoro (1999), Sposito (2004) e Silva (2006). Tais
modificações estão associadas, principalmente, ao papel que as metrópoles
desempenham, hoje, na atração desses grandes equipamentos; ao local, no
plano intra-urbano, onde tais equipamentos são constrdos; aos investimentos
que são destinados para a implantação deles; e ao público alvo para os quais
passaram a ser voltados.
A Região Sudeste concentra a maior parte dos shopping centers
existentes no Brasil, com 61,21% do total, seguida pela Região Sul, com 15,89%,
e pela Região Nordeste, com 13,32% (Tabela 16). Atualmente, apenas no Estado
de São Paulo estão concentrados 33,83% dos shopping centers. Em nossa
concepção, se depender do que vêm apontando as previsões para as próximas
inaugurações, essa concentração deve continuar, já que 39,39% dos 66 shopping
centers previstos para entrarem em atividade no país, até 2009, estarão
localizados em cidades da Região Sudeste
127
.
Tabela 16: Brasil
Número de shopping centers, valores absolutos e relativos por regiões, 2007
Valores absolutos e relativos
Regiões
Capital
Fora da capital Total (%) Previstos
(%)
Norte 09
0
09
2,10
7
10,61
Nordeste 42
15
57
13,32
11
16,67
Centro-Oeste 18
14
32
7,48
5
7,58
Sudeste 126
136
262
61,21
26
39,39
Sul 28
40
68
15,89
17
25,76
Total 223
205
428
100,00
66
100,00
Fonte: Pesquisa de campo, 2007. Maiores detalhes, Apêndice II.
125
Disponível em:<http://www.abrasce.com.br>, acesso em 07 de dezembro de 2007.
126
Consultar quadro em Apêndice II.
127
Idem.
A concentração dos shopping centers reflete a concentração da riqueza
nacional nessa região, aliada a um alto contingente demográfico e ao maior poder
aquisitivo dos seus habitantes (Tabela 17 e 18). Na análise dos shopping centers,
o fator populacional, mesmo sendo um elemento importante, deve ser relativizado
por outras variáveis e, dentre essas, são relevantes a riqueza gerada e o
rendimento, principalmente, em países como o Brasil.
Tabela 17: Brasil
População Absoluta e PIB, valores absolutos e relativos, por
regiões, 2007 e 2005
Valores absolutos e relativos
PIB Populão Total
2005 2007
Regiões
Total (%) Total (%)
Norte 106 522 233
4,96
14623316
7,95
Nordeste 280 504 256
13,06
51534406
28,01
Centro-Oeste 190 160 672
8,86
13.222.854
7,19
Sudeste 1 213 790 703
56,53
77.873.120
42,33
Sul 356 261 428
16,59
26.733.595
14,53
Total 2.147.239.292
100,00
183.987.291
100,00
Fonte: IBGE
Tabela 18: Brasil
Rendimento médio domiciliar
1
, valores absolutos e relativos, por regiões e por classes de
rendimentos, 2006
Valores Absolutos e percentuais
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
No. Domicílios
No. Domicílios
No. Domicílios
No. Domicílios
No. Domicílios
Classes de
rendimento
Total (%) Total (%) Total (%) Total (%) Total (%)
Até 02
1648
43,62
7826
56,66
6567
26,74
2306
26,95
1362
34,30
Mais de 02 a 05
1.429
37,82
4106
29,73
9454
38,50
3397
39,69
1482
37,32
Mais de 5 a 20
606
16,04
1500
10,86
6802
27,70
2507
29,29
917
23,09
Mais de 20
60
1,59
211
1,53
923
3,76
260
3,04
161
4,05
Total 3.778
100,00
13.812
100,00
24.559
100,00
8.558
100,00
3.971
100,00
Fonte: IBGE
Nota: 1 - Em salários mínimos
A análise sobre a evolução do número de shopping center no Brasil,
nos últimos 40 anos, demonstra importantes mudanças em relação às áreas
onde, preferencialmente, tais equipamentos passaram a se localizar. Entre os
anos de 1966 e 1977, foram inaugurados 16 shopping centers, dentre os quais
68,75% localizavam-se na Região Sudeste; entre 1978 e 1987 foram inaugurados
mais 52, sendo que 59,61% foram construídos na Região Sudeste; entre 1988 e
1997 foram inaugurados 185, um aumento de quase 272%, dentre os quais
62,16% localizavam-se na Região Sudeste.
Nos últimos 10 anos, todavia, ocorreu uma diminuição no número total
de inaugurações. Foram construídos 173 shopping centers, correspondendo a um
total de 426 empreendimentos em funcionamento até o final de 2007. Desses
novos, 59,53% foram construídos na Região Sudeste.
Outro aspecto importante a ser mencionado é o elevado mero de
empreendimentos que vêm sendo inaugurados fora das capitais, especialmente,
das Regiões Sudeste e Sul. Segundo os dados pesquisados, entre os anos de
1987 e 2007, o mero de shopping construídos fora das capitais estaduais,
principalmente nas mencionadas regiões, aumentou significativamente (Gráfico
15).
0
20
40
60
80
100
120
A1977 1978 até
1987
1988 até
1997
1998 até
2007
Norte
Nordeste
Centro-Oeste
Sudeste
Sul
Gráfico
14
-
Brasil
Evolução no número de inaugurações de shopping centers, 1966/2007
Fonte: Pesquis
a de campo
, 2007. M
aiores detalhes,
Apêndice II
.
Para os próximos anos, essa tendência deve continuar, pois a maior
parte dos empreendimentos será inaugurada fora das capitais, o que poderá
provocar transformações na lógica dessas áreas urbanas. As capitais das
Regiões Nordeste, Centro-Oeste e Norte devem continuar atraindo esse tipo de
investimento imobiliário. Nos dois primeiros casos, porém, devem incluir as
cidades dias, cujos portes são maiores, e que constituem pólos regionais em
suas respectivas unidades federativas
128
.
É importante articular a evolução do número de shopping centers à
lógica engendrada no processo, buscando compreender seus elos com as
vicissitudes da urbanizão. Se os shopping centers são elementos flagrantes da
atual paisagem urbana na maior parte das cidades médias e das metrópoles
brasileiras, desvelar a trama engendrada na articulação entre os capitais
imobiliário, financeiro e comercial, bem como outros interesses econômicos,
constitui sua essência, colaborando para o desvendamento de outro fenômeno: a
reestruturação urbana e a reestruturação da cidade. Assim sendo, explicaremos
esse processo a partir da análise de Salvador.
Gráfico
15
:
Brasil
Evolução no número de inaugurações de shopping, segundo as
capitais e demais cidades, 1966/2007.
Fonte: Pesquisa de campo
, 2007. M
aiores detalhes
em
Apêndice II
0
10
20
30
40
50
60
70
Capital
Demais
cidades
Capital
Demais
cidades
Capital
Demais
cidades
Capital
Demais
cidades
Até 1977 1978 até 1987 1988 até 1997 1998 até 2007
Norte
Nordeste
Centro-Oeste
Sudeste
Sul
3.2 – Os grandes shopping centers chegam a Salvador
Antes de abordarmos a implantação dos primeiros shopping centers em
Salvador, é importante articular esse fato à análise da conjuntura política,
econômica e social baiana. Essa perspectiva parte do pressuposto de que os
objetos espaciais instalados nas cidades estão intrinsecamente articulados aos
ditames e determinantes gerais do urbano. Como no caso brasileiro, o processo
de implantação de shopping centers na Bahia ocorreu concomitantemente ao
amadurecimento das relações de capitalista produção. A necessidade de
articulação entre os espaços nacionais, enquanto mecanismo seminal para a
constituição de uma divisão territorial, técnica e social do trabalho em escala
regional, acarretou na relativa superação do isolamento espacial do país, herdado
do período colonial, e denominado por alguns autores como “economia em
arquipélago”. Esse fenômeno provocou conseqüências no processo de
urbanização, influenciando, sobremaneira, a lógica de reprodução do capital em
vel nacional.
No caso baiano, o fator que mais influenciou as transformações no
conteúdo da urbanização foi o processo de industrialização, que ocorreu
tardiamente, e, como explanado nos capítulos anteriores, concentrou-se na
Região Metropolitana de Salvador. Por um lado, tal fato suscitou ações
governamentais, especialmente, nas esferas federal e estadual, no sentido de
construir um meio técnico que fosse capaz de articular a produção gerada na
Região Metropolitana às áreas de vanguarda na industrializão nacional,
mormente, as localizadas no Sudeste.
Como decorrência, foram construídas novas rodovias federais e
estaduais, principalmente, a partir da década de 1960, favorecendo o crescimento
e o fortalecimento de algumas cidades que, hoje, são importantes centros
regionais, como Feira de Santana, Vitória da Conquista e Itabuna. Por outro lado,
contribuíram para a multiplicação de pequenos novos núcleos urbanos,
especialmente, ao longo das recém-implantadas vias de circulação.
128
Consultar Apêndice II.
A industrialização tamm ocasionou mudanças nas relações de
trabalho desenvolvidas no campo, sendo principais as resultantes do processo de
modernizão da agricultura, atraindo grande leva de migrantes das áreas rurais
para os centros urbanos. Esse fenômeno ocorreu de modo mais acentuado entre
os anos de 1940 e 1990, nas cidades da Região Metropolitana de Salvador, e,
entre 1970 e 2000, nas localizadas no interior do Estado.
Contudo, até o início da década de 1970, ainda não existiam condições
estruturais que fossem favoráveis à implantação de um grande equipamento
urbano, como um shopping, nas cidades baianas. Além de ser um fenômeno
muito recente no Brasil, atribuímos isso aos seguintes fatores: (1) não havia uma
demanda solvável que compusesse uma massa de consumidores capaz de atrair
um grande empreendimento comercial. Mesmo Salvador, que, no início da
década de 1970, tinha superado a faixa de um milhão de habitantes (Tabela 12),
não era mais atrativa que outras cidades da Região Sudeste, aesse período. A
maior parte de seus habitantes era constituída pelas camadas de baixa renda e,
em muitos casos, beiravam a miséria absoluta, revelando um intenso processo de
segregação socioespacial e uma generalizada pobreza; (2) as condições dos
financiamentos voltados para o mercado imobiliário ainda não tinham adquirido
contornos favoráveis para implantação desses equipamentos urbanos; (3) a
posse de terras urbanas mais propícias ainda estava nas mãos do governo; (4)
havia rios limites infra-estruturais nas cidades; (5) existia uma forte
dependência do capital comercial em relação ao capital industrial.
A partir da década de 1970, essa situação, especificamente em
Salvador, modificou-se bastante. Como elemento central, foi premente a atuação
do Estado, nas esferas municipal e estadual, criando a infra-estrutura urbana, o
que garantiu condições estruturais ideais para a construção dos
empreendimentos. O poder público municipal, como mencionado no capítulo
anterior, passou a comercializar grandes parcelas de terras urbanas, a baixo
custo, que foram adquiridas, dentre outros sujeitos, pelas grandes construtoras
imobiliárias.
Como também mencionamos alhures, a partir da década 1970, tornou-
se expressivo o processo de expansão do tecido urbano. Do mesmo modo, as
propostas engendradas pelo poder público municipal incentivaram à criação de
novas áreas residenciais, voltadas para as classes médias e altas da sociedade
soteropolitana, que, por sua vez, passaram a incorporar ao seu cotidiano novos
desejos e necessidades de consumo, fomentados pelas tendências recém criadas
na Região Sudeste, especialmente, em São Paulo.
A implantação de novas indústrias nas décadas de 1960 e 1970, o que
fortaleceu o processo de industrialização, possibilitou, mormente em Salvador, o
aumento de uma relevante classe de consumidores, que compunham as camadas
médias e altas da sociedade. Nesse contexto histórico, também ocorreu um
melhor aparelhamento das atividades administrativas dos governos estadual e
municipal, aumentando o mero de servidores públicos, bem como serviços
mais complexos foram implantados e, numericamente, ampliados na cidade, em
especial, os associados aos setores financeiros, educacionais e de saúde
(VASCONCELOS, 2002). Assim sendo, estava composta uma demanda solvável
capaz de formar um mercado consumidor atrativo para um empreendimento como
um shopping.
Também foi importante a criação de novas condições para o
financiamento de empreendimentos imobiliários, constituídas a partir de uma
atuação mais efetiva do BNH e do SFH. Isso ocorreu, no contexto baiano, a partir
do final da década de 1960 e início de 1970, momento de forte atuação das
grandes construtoras e no qual foi lançado o primeiro shopping center na capital
do Estado.
Por final, atrelados aos demais aspectos, os investimentos financeiros
destinados à construção desses grandes equipamentos comerciais alicerçaram
um fenômeno importante que, por sua vez, marcou o processo de implantação
dos primeiros shopping centers no Brasil, fato abordado alhures, denominado por
Pintaudi (1989) como o período monopolista do capitalismo comercial. Todavia,
compreendemos que houve, em verdade, uma concentração maior do capital
comercial, o, necessariamente, um monopolismo”, como também é
argumentado por Gaeta (1988).
Assim sendo, observou-se em Salvador uma maior autonomia do
capital comercial em relação ao capital industrial, repercutindo na implantação
tanto dos shopping centers, quanto na introdução de grandes equipamentos de
consumo varejista, como supermercados, hipermercados e grandes cadeias de
lojas.
Atualmente, existem 15 shopping centers no Estado da Bahia, dentre os
quais 53,33% estão concentrados em Salvador. Os demais estão localizados em
importantes cidades médias do interior baiano, revelando que os novos nexos do
processo de urbanizão vêm atingindo essas áreas urbanas, também nelas
engendrando o fenômeno da reestruturação (Quadro 2).
Quadro 2: Bahia
Shopping centers, por cidades e ano de inauguraçao, 1975/2008
Shopping Inauguração
Cidade
Shopping Center Iguatemi 1975 Salvador
Shopping Center Itaigara 1980 Salvador
Shopping Baixa dos Sapateiros 1983 Salvador
Shopping Center Piedade 1985 Salvador
Shopping Barra 1987 Salvador
Shopping Center Lapa 1996 Salvador
Shopping Aeroclube 1999 Salvador
Shopping Center Salvador 2007 Salvador
Shopping Águas Center 1996 Juazeiro
Itaguari Shopping Center 1997 S A. de Jesus
Shopping C Rio de Ondas 1997 Barreiras
Iguatemi Feira de Santana 1999 F de Santana
Iguatemi Itabuna 2000 Itabuna
Shopping Estrada do Coco 2004 L de Freitas
Shopping Conquista Sul 2006 V da Conquista
Previstos para inaugurar
Shopping Paralela 2009 Salvador
Shopping Greenville 2009 V da Conquista
Em projeto
Bela Vista ... Salvador
Bahia Shopping ... Paulo Afonso
Fonte: ABRASCE e Pesquisa de Campo, 2007
Notas: ... Informação indisponível
Os dados sobre a evolução da implantação de tais equipamentos o
analisados levando-se em consideração as supramencionadas condições que, em
nossa concepção, foram favoráveis à implantação dos primeiros shopping centers
na Bahia. Até a metade da década de 1990, nenhuma cidade do interior baiano
possuía um shopping. Se compararmos os dados demográficos das maiores
cidades médias baianas com outras cidades das Regiões Sul e Sudeste do país,
perceber-se que, desde a década de 1980, as primeiras possuíam um contingente
demográfico comparável aos verificados nas médias cidades das mencionadas
regiões.
Em 1991, segundo os dados do IBGE, Feira de Santana, Vitória da
Conquista e Itabuna, com respectivamente 340.621, 180.063 e 170.593
habitantes vivendo na cidade
129
, eram as três maiores do Estado, depois de
Salvador. Todavia, elas ainda não possuíam, até esse período, as condições
estruturais ideais que atraíssem um grupo empreendedor, favorecendo a
implantação de um shopping. Ou seja, mesmo sendo cidades que tinham
passado por um processo de expansão do tecido urbano, em função das
profundas desigualdades sociais que marcam tais espos e de uma elevada
concentração da renda, não havia sido constituída uma demanda solvável que
pudesse sustentar interesses por parte do capital comercial, visando o
investimento em equipamentos de grandes portes, como shopping centers
130
.
Por outro lado, articulado a esse desinteresse dos empreendedores,
também não havia empenho, por parte do poder público, no sentido de criar uma
infra-estrutura urbana adequada que estimulasse tais investimentos. Em geral, o
destino dos financiamentos imobiliários feitos pelos bancos públicos e privados
eram voltados para a construção de habitações, direcionadas, principalmente,
para as camadas médias e altas da sociedade, que, paulatinamente, ou se
deslocavam para as áreas mais afastadas dos centros, em busca dos
condomínios residenciais; ou adquiriam apartamentos nos rem construídos
edifícios, registrando o premente processo de verticalização em tais áreas
urbanas
131
.
129
Apenas os dados sobre a população urbana do Distrito-sede.
130
Informações coletadas em 2007, junto ao Grupo de Pesquisa: Urbanização e Produção de
cidades na Bahia, ligado à UESB e cadastrado no Diretório de Grupos do CNPq.
131
Idem.
Contudo, a partir da metade da década de 1990, esse fato foi
modificado. Os três primeiros shopping centers implantados fora da área
metropolitana de Salvador, coincidentemente, não foram construídos nas maiores
cidades médias da Bahia. Talvez por esse fato, não sejam grandes
equipamentos. O maior dentre os três é o Itaguari, localizado na cidade de Santo
Antônio de Jesus que, em 2000, tinha 66.245 habitantes
132
.
No final do período e no início do século XXI, mais quatro novos
empreendimentos foram implantados em cidades médias de maior porte do
interior do Estado. Dois deles, o de Itabuna e o de Feira de Santana, fazem parte
do Grupo Iguatemi. O Shopping Conquista Sul, implantado em Vitória da
Conquista, passou por sérios problemas ao longo da construção e levou 10 anos
para ser inaugurado
133
. Em 2000, essas cidades tinham, respectivamente,
191.184, 419.816 e 215.182 habitantes
134
.
Verificamos que outros centros urbanos do Estado vêm adotando o
conceito de shopping enquanto um símbolo de “modernização” do/no comércio.
Incentivados por uma proposta desenvolvida pelo SEBRAE (Serviço Brasileiro de
Apoio às Micro e Pequenas Empresas), conjuntamente com as prefeituras
municipais e associações comerciais, que estabelece novos conceitos de gestão
pelos empresários locais, estimula-se a crião de “Shopping Centers a u
Aberto”. Busca-se, assim, criar um ambiente similar aos verdadeiros shopping
centers, reformulando antigas áreas comerciais. As primeiras a implantarem
foram Itabuna e Senhor do Bonfim. Nessa última, o shopping reúne 130 lojas.
Também estão em tramitação propostas para Jequié, Camaçari, Ilhéus, dentre
outras. Por exemplo, em Ilhéus, o shopping a céu aberto” deverá envolver 144
lojas no centro da cidade
135
.
Salvador possui, atualmente, oito empreendimentos que podem ser
definidos como shopping, segundo os padrões da ABRASCE. Contudo, a referida
associação afirma existir dez, dentre os quais cinco são seus filiados, incluindo o
Shopping Paralela, que está previsto para ser inaugurado em 2009. Além desses,
mais dois devem ser inaugurados brevemente (Figura 11).
132
IBGE. Apenas os dados sobre a população urbana do Distrito-sede.
133
Informações coletadas em 2007, junto ao Grupo de Pesquisa Urbanização e Produção de
cidades na Bahia, ligado à UESB e cadastrado no Diretório de Grupos do CNPq.
134
IBGE. Apenas os dados sobre a população urbana do Distrito-sede.
Entretanto, além dos oito shopping centers mencionados, existe uma
miríade de empreendimentos menores, em Salvador, tamm denominados ou
pensados como shopping centers. O senso comum e, mesmo, a imprensa falada
e escrita adotaram uma classificação interessante, distinguindo os “grandes
shopping centersdos shopping centers de bairro”. Ou seja, os primeiros seriam
os equipamentos maiores, em tamanho e atração de consumidores, e os
segundos os que atingem um público menor e, teoricamente, mais imediato,
relacionado às áreas circunvizinhas aos bairros onde estão instalados
136
.
Assim, optamos por utilizar essa sistematização no desenvolvimento
das idéias porque facilita a compreensão e a explicação do objeto estudado - a
reestruturação urbana e da cidade. Iniciaremos discutindo o processo de
implantação dos grandes shopping centers em Salvador, sem, necessariamente,
aprofundar questões associadas à sua estrutura interna, deixando para abordar
os outros no tópico seguinte.
A inauguração do Shopping Center Iguatemi, em 05.12.1975, marcou a
implantação do primeiro empreendimento desse tipo na Bahia
137
. Lançado ainda
no início da cada, causou grandes conseqüências para o processo de
estruturação da cidade
138
. Foi um projeto de autoria da Construtora Alfredo
Mathias
139
, desenvolvido pela Construtora Noberto Odebrecht num terreno
adquirido por ela
140
em uma área que, posteriormente, passou por alta
valorização face à dotão de infra-estrutura urbana por parte do poder público.
Entretanto, o shopping pertence ao Grupo Nacional Empreendimentos, também
responsável pelo Iguatemi de São Paulo, o primeiro do país
141
.
136
Segundo a ABRASCE, existem seis definições para shopping centers: regional, comunitário, de
vizinhança, especializado, outlet center e festival center. Em:<http://www.abrasce.com.br>, acesso
em 07 de dezembro de 2007.
137
Segundo o Correio da Bahia (23.11.1988) e os comerciantes do Largo do Tanque, o Shopping
Center Cidade do Salvador, localizado na referida área, foi o primeiro de Salvador. Todavia, não
podemos considerá-lo como um shopping, porque não se enquadra nos padrões estabelecidos
pela ABRASCE.
138
Diário de Notícias (14.11.1974 e 12.06.1973) e A Tarde (29.11.1975).
139
A Tarde (05.12.1975).
140
Idem.
141
Idem (29.11.1975).
A construção ficou custeada em Cr$100 milhões
142
. O grupo
empreendedor afirmou que, depois da metrópole nacional, Salvador foi a cidade
que reuniu as condições mais favoráveis para a construção do shopping, pois se
tratava de uma proposta regional, voltada para atender, não só a cidade, mas
todos os municípios que fazem parte de sua hinterlândia
143
. Na realidade, havia
grande preocupação com a implantação do empreendimento, pois o se tinha
certeza se ocorreriam mudanças nos hábitos de consumo dos soteropolitanos,
tradicionalmente acostumados a adquirir seus produtos e serviços no Centro
Tradicional.
Abrindo com 120 lojas, dentre lojas de departamentos e âncoras, como
as Lojas Americanas, e a vanguardista em Salvador, o Paes Mendonça, o
Iguatemi foi inaugurado com uma área de 78.000m
2
, dentre os quais 63.000m
eram de ABL (Área Bruta Locável)
144
. O problema da mudança de hábito dos
habitantes da cidade foi enfrentado com o marketing, um poderoso instrumento
que incutiu na mente dos soteropolitanos a idéia dele ser o preferido dos
baianos
145
. Foi através desse mecanismo que o Iguatemi se impôs, impondo à
cidade seus interesses de reprodução do capital comercial e imobiliário.
O preferido dos baianos era o mesmo que esteve voltado, durante
muitos anos, exclusivamente, para a elite soteropolitana, sendo fator importante
de fragmentação socioespacial, porque impunha aos segmentos mais pobres, que
é maior parte até os dias atuais, um distanciamento, face à sua imponência e ao
controle engendrado pelo sistema de segurança, entre outros aspectos.
Nos anos seguintes, em função da concorrência com outros
empreendimentos, sua estratégia para ser sempre uma novidade foi recriar no
imaginário coletivo das classes médias e altas, através de maciços investimentos
em campanhas publicitárias, o estereótipo de ser uma nix, um espaço que se
renovava constantemente. Durante os mais de 30 anos, realizou várias
mudanças, entre reformas e ampliações e, atualmente, é um dos maiores do
Brasil (Figura 12).
142
Idem (04.05.1975).
143
A Tarde (05.12.1975).
144
Idem (11.08.1976).
145
Tribuna da Bahia (13.03.1985; 09.12.1992) e A Tarde (03.07.1983).
Quando são verificadas as transformações realizadas no Shopping
Iguatemi, ao longo de sua história, nota-se que quase todas elas ocorreram
concomitantemente ao lançamento de um novo shopping na cidade, revelando
que esses mecanismos atuaram como um modo de atenuar os impactos
negativos que os novos empreendimentos provocavam nas suas vendas
146
.
O segundo shopping instalado na cidade foi o Itaigara, localizado em
bairro homônimo, que compunha parte do projeto político de criação de novos
espaços residenciais destinados à elite soteropolitana. Inaugurado em
12.12.1980
147
, na realidade, tamm marcou o início de uma série de grandes
empreendimentos comerciais e empresariais no bairro, que alteraram
profundamente as características do uso do solo local (Figura 13).
Foi desenvolvido pela construtura MRM, em parceria com a Veplan e a
Santa Helena. Diferente da maioria dos outros, trata-se de um shopping de
proprietários, portanto, não possui um grupo empreendedor que controle suas
ões, sendo administrado por uma empresa externa. Até hoje tem apenas uma
loja âncora, o Bom Preço, que, na inauguração, se chamava Paes Mendonça.
Além da população dos arredores do bairro, supri as necessidades dos
empresários e, em menor escala, das pessoas que trabalham no local. Ao longo
de sua história, passou por períodos de crise financeira, sempre apostando,
segundo seu próprio slogan, na fidelidade de seus clientes - a elite residente nos
arredores do Itaigara
148
.
A implantação do Shopping Center Iguatemi e do Shopping Center
Itaigara foi parte de um complexo projeto dos governos estadual e municipal, o
restritos a tais equipamentos, que acarretou o declínio do poder exercido pelo
Centro Tradicional. É necessário salientar tal fato porque, apesar dos problemas
mencionados no capítulo anterior, até esse período o Centro Tradicional era o
principal espaço de consumo para os soteropolitanos e para os moradores da
hinterlândia. Assim sendo, com o argumento de que era preciso atenuar o
processo de decadência da área central, a partir da “revitalização” do comércio,
dois novos shopping centers foram construídos.
146
Tribuna da Bahia (13.03.1985, 11.08.1976, 09.12.1992 e 01.12.2005) e A Tarde (03.07.1983) e
Correio da Bahia (12.04.2006 e 22.09.2006).
147
Pesquisa de campo (2006).
148
Idem.
O primeiro desses foi o Shopping Baixa dos Sapateiros (SBS),
localizado em área homônima e com tradição no fornecimento de produtos e
serviços para as camadas populares da cidade (Figura 14). O projeto foi lançado
em junho de 1982
149
, e o empreendimento inaugurado em 1983
150
, sob a
execução da Construtora OAS
151
, uma das maiores do Estado da Bahia e que
executou inúmeras obras na cidade, dentre as quais, vários shopping centers.
De acordo com informões pesquisadas
152
, esse shopping center não
passou por nenhuma ampliação, possuindo mais de 12.000m
2
. Trata-se, portanto,
de um pequeno empreendimento, com características populares. Na execução
das obras foram previstos investimentos em torno de Cr$500 milhões, financiados
pela Caixa Econômica Federal
153
. Entretanto, no decorrer do tempo, passou por
sérios problemas infra-estruturais, perdendo a única loja âncora que possuía,
dentre muitas outras das 106 que existiam na inauguração
154
.
Ainda durante a década de 1980, o segundo empreendimento
construído no Centro Tradicional da cidade foi o Shopping Center Piedade,
inaugurado em 20.11.1985
155
. Ele foi estrategicamente localizado num espaço
que adquiriu alta circulação de pessoas, principalmente pertencentes às camadas
populares, que se deslocavam de ônibus para o Centro Tradicional em função da
“construção da Estação da Lapa, em 1982” (VASCONCELOS, 2002).
Tratava-se de outro empreendimento da Construtura OAS, inaugurado
com, aproximadamente, 42.000m
2
. Sua administração ficou a cargo da APS
(Administração e Planejamento de Shopping), que possuía atuação em âmbito
nacional
156
. Na inauguração, possuía um tenant mix composto por 103 lojas,
dentre as quais quatro âncoras: as Lojas Americanas, a C&A, o Supermercado
Unimar e as Casas Pernambucanas, sendo rapidamente considerado um sucesso
de vendas
157
(Figura 15).
149
Segundo a atual administração do empreendimento (Pesquisa de Campo, 2007).
150
Idem.
151
A Tarde (21.06.1982).
152
Segundo a atual administração do empreendimento (Pesquisa de Campo, 2007).
153
Idem.
154
Idem.
155
Idem.
156
A Tarde (25.03.1985).
157
A Tarde (23.11.1985).
Se o primeiro construído nas imediações da área central da cidade, o
SBS, não tivera tanto sucesso, o Shopping Center Piedade, tamm por seu
caráter popular que atendeu às condições de renda de grande parte das camadas
pobres, e, principalmente, por está localizado numa área de alto fluxo, tornou-se
um dos mais freqüentados pelos consumidores. Todavia, não deixou de passar
por problemas estruturais provocados por certa mobilidade nas lojas menores e
pela saída de âncoras como as Pernambucanas e, recentemente, o Bom Preço.
Igualmente ao Itaigara, não possui um grupo por trás do empreendimento, sendo
constituído, em sua maioria, por proprietários
158
. Porém, o maior temor, a
concorrência com os grandes shopping centers na época da inauguração, não
ficou evidenciado. Aliás, percebe-se que o shopping reforçou, no contexto
histórico, a atração que a área exercia sobre a cidade
159
.
O Shopping Barra, inaugurado em 16.11.1987
160
, foi o último dentre os
grandes construídos na década de 1980, evidenciando a continuidade da atuação
da construtora OAS no ramo e constituindo-se no maior empreendimento desse
tipo desenvolvido pela mesma, em Salvador, até os dias atuais
161
. O shopping foi
uma iniciativa de Euvaldo Luz, com participações iguais da mencionada
construtora e da Nacional Iguatemi
162
, totalizando um montante de investimentos
que girou em torno de Cz$ 4,2 bilhões
163
, num período de forte crise no país.
Na inauguração, o Shopping Barra possuía 221 lojas, dentre as quais
quatro âncoras: Sandiz, Mesbla, C&A e as Pernambucanas
164
. Com cerca de
110.000m
2
de área construída, marcou a adoção de uma lógica intermediária na
implantação desse tipo de empreendimento, pois, ao mesmo tempo em que foi
instalado em uma antiga área habitacional, a Barra Avenida e o Chame-Chame,
portanto, não se distanciando tanto do Centro Tradicional, estava exclusivamente
voltado para a classe “A”
165
, principalmente os residentes da Barra e de seus
arredores: Barra Avenida, Ondina, Chame-Chame, Graça, entre outros.
158
Informações cedidas em entrevista com a administração do Shopping (Pesquisa de campo,
2007).
159
A Tarde (23.11.1985; 25.03.1985; 06.11.1985; e 21.11.1985).
160
A Tarde (17.11.1987).
161
Pesquisa de Campo (2006).
162
A Tarde (23.08.1987).
163
A Tarde (17.11.1987).
164
Idem.
165
Idem (23.08.1987).
Inicialmente, para parte dos moradores do seu entorno, a implantação
do empreendimento o foi encarada como algo positivo, porque provocou
alterações no sistema de circulação, influenciando em sua vida cotidiana, face ao
aumento do fluxo
166
. Ao longo do tempo, percebe-se que o shopping passou por
importantes alterações, tentando adaptar-se à realidade social da cidade, atraindo
novos nichos de consumidores, entretanto, sem pretender atingir as camadas
mais populares (Figura 16).
Na década de 1990, o centro da cidade ganhou mais um
empreendimento, o Shopping Center Lapa, inaugurado em 29.04.1996
167
, cujo
desenvolvimento ocorreu concomitante ao processo de revalorização do
Pelourinho, parte importante do Centro Hisrico de Salvador. Lançado em 1993,
com investimento inicial previsto para US$30 milhões
168
, a conclusão de suas
obras totalizou, aproximadamente, R$50 milhões. A proposta provocou
apreensões para a administração do Shopping Piedade, porque esse está
localizado a uns 20 metros do Center Lapa (Figura 17).
Como no caso do Piedade, o fator que atraiu o empreendimento foi o
alto fluxo existente nos arredores da Estação da Lapa, e o discurso também era o
mesmo: uma proposta de “revitalizar” o centro de Salvador. A Multicorp Shopping
Center, uma empresa do Grupo OAS
169
, foi a responsável pela construção, que
consistia, na época, em 150 lojas, dentre as quais uma âncora: as Lojas
Americanas. Segundo pesquisa feita pela Construtora no peodo do lançamento,
sua área de influência atingiria, aproximadamente, 150 mil pessoas/dia
170
.
166
Tribuna da Bahia (09.09.1987).
167
A Tarde (30.04.1996).
168
Idem (10.06.1993).
169
Idem (18.06.1993).
170
Idem (10.06.1993).
O último grande shopping implantado em Salvador, inserido nessa
lógica inicial, foi o Aeroclube Plaza Show, inaugurado em 21.10.1999
171
. Esse
empreendimento registrou uma mudança no conceito de shopping no Estado,
porque tinha como alicerce as atividades de entretenimento, festival center
172
,
algo plausível no caso de Salvador, já que, segundo Santos (2003), desde o início
da década de 1990, a cidade estava enredada na lógica das cities marketings,
tendo a cultura como elemento de comercialização imagética.
O investimento total girou em torno de R$80 milhões, estando à frente
do projeto o Consórcio Parques Urbanos, integrado por três empresas: a Nacional
Iguatemi, a Virrat e a Ciacorp, vencedor da licitação junto à Prefeitura Municipal
para explorar a área durante 20 anos
173
. Em 28.000m
2
de área construída
estavam localizadas 140 lojas
174
, ancoradas por cinco empresas de
entretenimento: o Multiplex Aeroclube, voltada para o cinema; o Rock Rio Café,
franquia da casa carioca; o Magic Games, jogos eletrônicos; uma empresa de
boliche; e, mais tarde, o Café Cancun. Aliás, as duas primeiras iniciaram seu
funcionamento antes mesmo da inauguração
175
.
A localização do empreendimento partiu de um estratagema básico:
es inserido na orla da Boca do Rio, muito próximo a bairros elitizados, como a
Pituba, Costa Azul, Caminho das Árvores e o Itaigara, e articulado a um
importante eixo turístico, a Av. Ovio Mangabeira. Ele tornou-se, portanto, um
ponto nodal entre o Centro Tradicional e o Aeroporto (Figura 18). Assim, segundo
informações da administradora, em períodos áureos, o movimento chegou a
registrar 35.000 consumidores/dia, entre soteropolitanos e turistas de outras
partes do Brasil e do mundo
176
.
171
Pesquisa de Campo (2007).
172
A Tarde (21.10.1999).
173
Pesquisa junto à atual administração do empreendimento (2007).
174
Idem.
175
A Tarde (22.10.1999).
176
Informações cedidas pela Administradora do Shopping (2007).
Todavia, a proposta de festival center não teve sucesso, revelando
pouca solidez. Durante os primeiros anos deste século, o empreendimento
passou por uma séria crise que levou a bancarrota mais da metade das suas 140
lojas, dentre elas, duas casas importantes: o Rock Rio Café e o Café Cancun
177
.
Assim sendo, a Aliansce Shopping Center, administradora atual do shopping:
[...] idealizou o projeto de reposicionamento do empreendimento.
Baseado no conceito de lifestyle center, o shopping volta-se para as
novas exigências deste público que busca priorizar o bem estar.
Contribuiu para a escolha do conceito outro fator estratégico
importante: o novo Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano
(PDDU) de Salvador
178
.
Ainda segundo a administradora, como o PDDU prevê a “revitalizão”
da orla da cidade, a partir desse novo conceito estará articulando a construção de
ambientes fechados, os tradicionais American Box, aos opens malls, ou seja,
shopping a “céu aberto”, passando a ser chamado Aeroclube Plaza & Office.
Ademais, introduzi duas novas âncoras varejistas, pois apenas a idéia de
entretenimento não sustentou o projeto.
Todavia, mesmo sendo iniciadas as obras de reformulação desde
2006
179
, e observando-se que uma das âncoras, as Lojas Americanas, esem
pleno funcionamento, o futuro do shopping ainda é incerto, principalmente, por
razões de ordens legais e políticas. Em primeiro plano, o empreendimento sofreu
uma ão do Ministério Público, que exige: a instalação do Parque Atlântico, que
estava prevista no projeto inicial; sua adequação à proposta original; e a revisão
do preço do aluguel pago ao município, independente da dívida de R$ 13 milhões
calculada em 2006
180
. Por outro lado, os proprietários do empreendimento
também entraram com uma ação contra a Prefeitura, exigindo a reparação dos
danos causados por essa ao desenvolvimento de suas atividades.
177
Tribuna da Bahia (07.03.2006).
178
Informações concedidas pela Administradora do Shopping (2007).
179
A Tarde (11.03.2006 e 15.03.2006).
180
Tribuna da Bahia (07.03.2006).
Um outro aspecto importante esrelacionado à mudança na proposta
do shopping, que intensifica o comércio varejista em detrimento do
entretenimento. Segundo os órgãos de planejamento do Estado da Bahia, tais
mudanças podem acarretar em rios danos à população, já que envolver no
local um pólo comercial poderia interferir no espaço público e de uso coletivo,
bem como acarretar numa forte degradação ambiental, que o shopping está
localizado na orla marítima
181
.
Durante esse conflituoso processo, foram lançados mais três grandes
shopping centers em Salvador: o Salvador Shopping, inaugurado; o Shopping
Center Paralela, em fase final de construção; e o Megacenter, que mudou para
Shopping-Metrô Santa Cruz Salvador, e está para ser lançado como Shopping
Bela Vista.
O Salvador Shopping foi inaugurado em 22.05.2007
182
, um
empreendimento pertencente ao Grupo JCPM, ex-proprietário da maior rede de
supermercados da cidade - o Bom Preço -, atualmente, administrada pela Wal-
Mart
183
. Com 263 lojas, dentre as quais quatro âncoras: C&A, Renner, Riachuelo
e Bompreço, e nove grandes lojas de departamentos, além de 55.000m
2
de
ABL
184
, o shopping marcou a primeira etapa de um grande conjunto imobiliário
que pode acarretar emrias alterações no local.
Está localizado no novo centro de Salvador, como é popularmente
denominado, distante quase um quilômetro do Shopping Iguatemi (Figura 19),
numa das áreas que apresentam maior fluxo de pessoas, veículos e capital da
cidade, a Av. Tancredo Neves.
Como os demais construídos no local, seu público alvo são os
moradores do Caminho das Árvores, Pituba, Itaigara, dentre outros bairros
elitizados. Ademais, por estar estrategicamente no centro de importantes espaços
empresariais, comerciais e de serviços, como o Salvador Trade Center e o
Hospital Sarah, também visa atrair trabalhadores, empresários e consumidores de
tais serviços.
181
Idem.
182
Informações cedidas pela Administração do shopping (2007).
183
Informações enviadas pela Administração do Bom Preço (2006).
184
Idem.
O shopping foi instalado num terreno que pertencia à Prefeitura. Como
a área do Vale do Camurujipe é, atualmente, um dos pontos de grande
estrangulamento de trânsito da cidade, dos mais de R$300 milhões investidos no
empreendimento, R$20 milhões foram destinados às alterações no sistema viário,
o que provocou uma reformulação no trânsito no local, incluindo passarelas, ruas
e pontes. Segundo a administração, o gasto foi executado porque a Prefeitura não
tinha verbas para arcar com tais despesas
185
. Obviamente, o objetivo de tais
investimentos foi, exclusivamente, criar uma infra-estrutura que garantisse a
articulação, inexistente até o momento, entre o shopping e as demais áreas do
seu entorno, aliás, condição sine qua non para que se tornasse possível o acesso
ao seu interior.
Em 2006, foi lançado o Shopping Paralela, outro grande
empreendimento comercial na cidade, cuja inauguração está programada para
29.03.2009
186
, dia que Salvador comemora 460 anos. O investimento pertence ao
Grupo Capemi, em articulação com a construtora W Barreto Empreendimentos.
Serão mais 433 lojas comerciais, dentre as quais três âncoras: a C&A, Riachuello
e a Leader, que fecharam, recentemente, acordo com os empresários. O volume
de investimento está orçado em R$250 milhões, abrangendo uma área de 120 mil
metros quadrados
187
.
Será o primeiro shopping de grande porte localizado na Av. Paralela,
espaço que vem passando por profundas transformações, dentre essas, a
construção de condomínios fechados, conjuntos habitacionais e grandes
equipamentos de serviços (Figura 20). Está sendo construído numa área
estratégica, entre o Condomínio Alfhaville e a Faculdade de Ciência e Tecnologia
(FTC), e objetiva atingir as classes A, B e C
188
.
185
Informações concedidas pela Administração do shopping.
186
Correio da Bahia (18.05.2007).
187
Idem (só consideramos como âncoras as grandes lojas de departamentos citadas).
188
Correio da Bahia (18.08.2006).
A Av. Paralela constitui-se numa área de alto fluxo de vculos e
pessoas, articulando o centro formado no Vale do Camurujipe, dentre outros
locais, a vários bairros, convergindo para o perímetro urbano. Por isso, tamm
pretende envolver os consumidores de Lauro de Freitas, cidade cujo tecido
urbano tornou-se contínuo à Salvador, face o processo de metropolização
189
.
O último grande empreendimento da cidade, lançado em 2006
190
, foi o
Shopping-Metrô Santa Cruz Salvador
191
, que, até início de 2008, não tinha
comado as suas obras. Trata-se de um mega-empreendimento imobiliário, sob
a responsabilidade da Euluz Empreendimentos
192
, tendo como consórcia a
construtora Camargo Correia
193
, e a Ernerst Young como responsável pela
captação de recursos
194
. Ele deverá provocar grande alteração na área onde será
construído, porque pretende criar um bairro próprio. O projeto prevê a
implantação de mais 24 prédios residenciais e cinco comerciais nos arredores do
shopping, respectivamente, correspondendo a 2.452 e 2.146 espaços a serem
ocupados
195
. O shopping deverá ter 368 lojas, dentre elas cinco âncoras,
representando um investimento de R$ 150 milhões.
Esdistante do Shopping Iguatemi pouco mais de um quilômetro, e do
Shopping Salvador, pouco mais que dois. Portanto, também muito próximo do
novo centro da cidade, sendo instalado na área denominada Acesso Norte, ao
longo da entrada da BR-324. A construção do metrô de Salvador, iniciada há mais
de 10 anos, e com previsão para inaugurar um pequeno trecho até 2009, foi um
fator importante para o lançamento do projeto. Além desse, o shopping se
articulará à cidade através de quatro vetores: A BR-324, a Av. Antônio Carlos
Magalhães, a Av. Mário Leal Ferreira (Bonocô) e a Rótula do Abacaxi (Figura 21).
189
Processo de expansão do tecido urbano da metpole, que acarreta na aglomeração de outras
áreas à contigüidade do seu espaço urbano. SPOSITO (2006).
190
A Tarde (29.03.2006).
191
Lançado em 2004, como Megacenter.
192
Correio da Bahia (30.06.2006).
193
Idem (20.01.2006).
194
A Tarde (18.03.2006).
195
Idem.
A análise do processo de implantação dos shopping centers em
Salvador é o primeiro passo importante para compreendermos como a produção
dos espaços de consumo articula-se, intrinsecamente, ao consumo do/no espo.
Igualmente, permite desvelar o papel exercido pela capital comercial e imobiliário,
articulado ao capital financeiro, na produção e reprodução dos centros e sub-
centros urbanos.
Sobre o segundo aspecto, percebe-se que durante a implantação dos
shopping centers de Salvador, os grupos empreendedores utilizaram como parte
dos investimentos, não apenas seu próprio capital, mas um volume considerável
de financiamento oriundo de bancos privados, como o Bradesco, no caso do
Center Lapa; e públicos, como o Banco do Brasil, no caso do Iguatemi, e a Caixa
Econômica Federal, no caso do Shopping Center Piedade. Isso revela algo
importante apontado por Pintaudi, quando argumenta que “o capital
financeiro/imobiliário implanta a infra-estrutura, mas é o capital comercial que irá
remunerar o investimento feito” (PINTAUDI, 1989, p. 10-11).
O capital financeiro passou a financiar tais empreendimentos e
materializa-se no espaço urbano através da uma articulação com as grandes
empreiteiras. Em geral, não o reconhecemos quando se faz uma análise
superficial sobre o objeto, pensando na inércia das formas, e perdendo de vista
seus nexos com os capitais comerciais e imobiliários. A realização desse
processo, que envolve todo o ciclo de reprodução do capital, só ocorre com
clareza a partir da realização do consumo.
Como estamos falando de um investimento que se reproduz a partir da
aproprião da renda gerada pelo aluguel dos seus espaços internos, tamm
revela que o solo urbano produz uma renda decorrente do monopólio do espaço,
garantida legalmente pela propriedade privada. Nesse sentido, analisar a lógica
do consumo voltada para esse espaço é essencial, porque possibilita explicar
como o grande capital se materializa fincado no consumo dos espaços urbanos.
Essa questão será investigada no capítulo V.
A materializão dos shopping centers, em Salvador, revela um poder
inverossímil que o capital comercial, articulado ao financeiro e ao imobiliário,
exerceu na produção e reprodução do espaço urbano, na medida em que, ao
longo do tempo, também impôs, mediante a aquiescência e aos interesses do
poder público municipal e estadual, as diretrizes que seriam consideradas para
construir a “nova cidade”. Nesse processo, de acordo com os anseios, enredava
na trama urbana um movimento paradoxal de esmaecimento/fortalecimento do
papel que o Centro Tradicional exercia sobre a cidade, mormente, influenciando
na lógica da centralidade urbana.
Se o discurso sempre foi o de que tais empreendimentos viriam para
melhorar a qualidade de vida dos soteropolitanos, a realidade demonstra que isso
é uma falácia. Na verdade, a implantação desses equipamentos em Salvador
acentuou a fragmentação e a segregação socioespacial. Ademais, nunca foi
questionado se a implantação de um shopping era o maior interesse da
população e se a infra-estrutura criada nas áreas onde foram implantados, que
evidencia um volume muito alto de verbas públicas, beneficiou realmente a maior
parte dos moradores da cidade.
Atualmente, com a expansão do mero de grandes empreendimentos,
mas, também, dos pequenos, vem ocorrendo um acirramento das disputas por
consumidores. Por outro lado, percebe-se um premente enredamento do
imaginário coletivo numa trama complexa, na qual o marketing acentua sua
atuação, instituindo valores que interessam aos shopping centers, e tornando
visível à apropriação dos aspectos da cidade segundo a conveniência dos
mesmos. Contudo, eles põem em detrimento a velada miséria que atinge boa
parte dos soteropolitanos. Cabe, assim, o que salienta Frúgoli Jr:
O shopping-center, sendo um “um espaço de acesso público mas
com regras privadas, onde o acesso das camadas populares
pudesse ao menos ser mais controlado, numa tendência
ordenadora e homogeneizante do espaço” (FRÚGOLI JUNIOR,
1989, p. 09)
O estratagema dos grupos empreendedores é difundir as mudanças
feitas na estrutura dos shopping centers, destacando aspectos como
monumentalidade e, principalmente, a capacidade de gerar status. Assim, não é
por acaso que o Shopping Center Iguatemi concluiu, em 2007, uma grande obra
de ampliação; que o recém-inaugurado Salvador Shopping planeja para 2008
uma nova ampliação; que o Shopping Barra e Shopping Itaigara também
planejam reformas visando ampliações de seus espaços internos; e que os
empresários do Center Lapa e do Shopping Piedade, em função do projeto do
Shopping Bela Vista, pensam em novos investimentos
196
.
Os shoppings reproduziram-se, no cenário urbano brasileiro, como
símbolos onipresentes de poder. Erigem-se como representação de
um novo tempo social, voltados para a criação de um universo de
fantasia dirigido para o consumo (SANTOS JUNIOR, 1992, p. 63).
A análise sobre a conjuntura atual dos shopping centers revela que
esses apresentam diferenças que estão além de sua arquitetura, demonstrando
um conjunto de interesses que os fazem cumprir papéis distintos para a
sociedade baiana. Entre mega-empreendimentos e pequenos estabelecimentos
o notadas diferenças profundas na infra-estrutura, na oferta de produtos e de
serviços, no padrão social envolvido (Quadro 3), aspectos que influenciam, acima
de tudo, o controle da vida cotidiana.
Por final, as reflexões sobre a espacialização dos empreendimentos em
Salvador demonstram porque, ao longo da história, a produção desses espaços
reforçou a segregação espacial (Figura 11). Verifica-se que, dos oito grandes
shopping centers, cinco eso localizados em bairros elitizados; e, dentre os
outros três, dois, voltados para as mais camadas populares, compensam esse
fato instalando-se num dos maiores corredores de fluxos da cidade. Todavia,
percebe-se que esse processo irá se intensificar, pois os dois shopping centers
que estão para ser inaugurados, mesmo sem, diretamente, estarem localizados
no novo centro, a ele estão bem articulados.
196
Tribuna da Bahia (03.08.2006), Correio da Bahia (12.04.2006; 22.09.2006; e 18.05.2007) e A
Tarde (29.11.2005 e 18.06.2006).
Quadro 3: Salvador
Informações sobre os shopping centers, por ano de inauguração, ABL, número de total de
lojas, lojas-âncoras e público por dia, 2007
Shopping Inauguração ABL Lojas
Ancoras
1
Público/Dia
Shopping Center Iguatemi 1975 68.295
532
4
100.000
Shopping Center Itaigara 1980 38.000
200
1
20.000
Shopping Center Piedade 1985 20.366
127
2
100.000
Shopping Baixa dos Sapateiros 1983 12.764
2
106
0
...
Shopping Barra 1987 38.088
199
4
55000
Shopping Center Lapa 1996 15.000
170
2
60.000
Aeroclube Plaza 1999 32.377
140
1
30.000
3
Salvador Shopping 2007 53.100
263
4
...
Previsto para inaugurar
Shopping Paralela 2009 40.000
300
...
...
Em projeto
Bela Vista ... ...
368 ...
...
Fontes: ABRASCE e informações concedidas pela administração dos shopping centers.
Notas: ... Informação indisponível
1 – Estamos considerando, apenas, as grandes lojas de departamento.
2 – Informou a área construída.
3 – Dados referentes aos períodos de alta estação, quando o shopping ainda funcionava.
Ademais, não é por coincidência que o Shopping Baixa dos Sapateiros,
de caráter bastante popular, recebeu pouquíssima infra-estrutura urbana em seu
processo de implantação e es em visível decadência. Algo diferente, por
exemplo, do Shopping Center Iguatemi que, como mencionamos no Capítulo II,
durante a década de 1970, recebeu todas as condições infra-estruturais
necessárias por parte do poder público.
Por outro lado, é desnecessário questionar por que não se observa
nenhum grande empreendimento ao longo do Subúrbio Ferroviário, nem do Miolo
Central. Tais espaços são compostos, em sua maioria, pela população pobre e,
ao longo da construção da cidade, tais áreas receberam pouca atenção e/ou infra-
estrutura por parte do Estado.
3.3 – Surgimento e expansão dos “shopping centers de bairro”
Nos últimos 20 anos, uma importante alteração que ocorreu na
produção dos espaços de consumo, em Salvador, foi a implantação dos
shopping centers de bairro”. Esses equipamentos proliferaram em número,
acarretando, principalmente na escala do bairro, mudanças nas relações entre os
citadinos e as áreas centrais. Por outro lado, verifica-se que tais alterações nas
tessituras da vida cotidiana no nível do bairro tamm provocam redefinições na
lógica da centralidade. Porém, essas questões apresentam certos limites,
suscitando reflexões acerca do conceito de shopping center, bem como sobre sua
definição. Nesse sentido, o primeiro aspecto a ser ponderado no que tange à
análise sobre esses empreendimentos, em Salvador, são os critérios utilizados
para defini-los, ao menos, como shopping centers”, diferenciando-os de outros
equipamentos de consumo existentes na cidade.
Salientamos esse fato porque, segundo os levantamentos feitos,
atualmente, existem mais de 60 equipamentos comerciais, seja pelo senso
comum, seja pelos dados da Prefeitura Municipal, são considerados como
shoppings centers de bairro”. Nesse rol, estão desde espaços comerciais com
mais de 80 lojas, distribuídas entre comércio varejista e prestadores de serviços,
e amplas áreas de estacionamento, como os Shopping Ponto Alto II, o Shopping
Sumaré e o Outlet Center; aos pequenos empreendimentos que possuem 17
lojas, como o Shopping Colonial, cujo espaço interno foi resultante de reformas
numa velha residência, mantendo parte da forma e adquirindo nova função (Fotos
1 a 14).
Face tais observações, optamos por compreender como shopping de
bairro
197
apenas aqueles equipamentos que possuem um mínimo aproximado de
20 lojas e cujos espaços comerciais sejam mais significativos para o
empreendimento que os prestadores de serviços educacionais e médico-
odontológicos. Para o caso de Salvador, a nosso ver, tais aspectos os diferenciam
dos centros médicos e/ou empresariais.
197
Salientamos que a denominação desses empreendimentos como shopping centers de bairro”,
merece ressalva, pois, por mais que a maior parte deles atenda um público imediato, associado ao
bairro onde está localizado, os que foram implantados em áreas centrais consolidadas, como o
Na realidade, esses shopping centers são pequenos centros comerciais
localizados em áreas de alta circulação de pessoas e/ou veículos, e/ou onde o
tecido terciário se fortaleceu. Tamm aparecem em áreas centrais consolidadas,
beneficiando-se do fluxo atraído para tais locais por shopping centers maiores,
supermercados, serviços públicos etc. Em geral, atendem as necessidades mais
imediatas ou urgentes dos moradores circunvizinhos, excetuando-se os casos
que foram implantados em centros ou sub-centros estabilizados, que podem
receber consumidores de bairros mais distantes.
Foram encontrados 62 estabelecimentos desse tipo em Salvador,
espacializados segundo lógicas bastante diferenciadas, em articulação com os
objetivos propostos, principalmente, pelas empresas responsáveis pela
construção do empreendimento (Quadro 4). A análise da evolução na
inauguração desses shopping centers revela ciclos de boom, intercalados por
períodos de grande retração e desaquecimento no mercado imobiliário e de
financiamento.
Até o final da cada de 1970, período em que existia o Shopping
Center Iguatemi em Salvador, apenas quatro shoppings centers de bairro” foram
inaugurados, o ShoppingCenter Cidade do Salvador, ou Centro Comercial do
Largo do Tanque, em 1968; Mini-shopping Pituba, em 1974; o Orixás Center, em
1976; e o Barra Center, em 1978, correspondendo a 6,25% dos existentes hoje
198
.
Como a idéia de shopping era muito recente no imaginário coletivo dos
moradores, tais empreendimentos ainda eram chamados de centros comerciais.
O primeiro, todavia, possui uma história que merece destaque. Durante
a década de 1980, período em que aumentou o número de grandes e pequenos
shopping centers, o empreendimento do Largo do Tanque passou por uma séria
crise. Das 200 lojas existentes em 1988, apenas 60 estavam em atividade,
funcionando em um prédio com sérios problemas de infra-estrutura. Nesse
contexto, a Prefeitura Municipal de Salvador determinou que o estabelecimento
fosse demolido para, em seu lugar, implantar um sistema de transporte de massa,
aliás, um fato que provocou revolta entre os comerciantes do local
199
.
198
Dados coletados em pesquisa de Campo (2006 e 2007).
199
A Tarde (23.11.1988) e Correio da Bahia (01.03.1988).
Quadro 4: Salvador
Informações sobre os shopping centers de bairro, por ano de inauguração, número de total de lojas
1
e
área construída, 1968/2007
Área
Lojas
1
Área Lojas
1
Ano
Shopping
m
2
Total
Ano
Shopping
m
2
Total
1974
Mini-shopping da Pituba ...
11
1997
Shopping Pituba Sol Flat 2.000
49
1976
Orixás Center ...
194
1997
Empre. Paralela Shopping ...
60
1978
Barra Center ...
42
1997
Golden Center 2.800
120
1980
Pituba Center ...
32
1997
Bahia Outlet Center 12.000
210
1980
Farol Praia Center ...
33
1997
Shopping Florestal 1.581
69
1983
Shopping Boulevard 161 ...
36
1997
Cabula Master Shopping ...
53
1983
Shopping Costa Azul 600
30
1997
Shopping Vila Laura ...
38
1984
Victoria Center 3.000
60
1998
Shopping Ateliê Place ...
43
1986
Brotas Center 6.035
48
1998
Shopping Horto Center ...
42
1986
Silver Shopping ...
25
1988
Shopping Brotas Boulevard ...
21
1986
Casa Shopping Cidade 3.000
20
1998
Shopping Yemanjá 1.300
60
1987
Shopping Sumaré 2.770
60
1998
Shopping Praia Bella ...
34
1987
Bahia Shopping 530
22
1998
Multi Shopping 2.845
49
1987
Imbui Center ...
23
1999
Shopping Graça Máster 1.200
45
Shopping Boulevard 405 ...
16
1999
Plaza Shoppping Cabula 4.909
82
1989
Shopping Paulo VI 95
44
1999
Shopping Aquidabã 1.300
43
1990
Bonoco Center ...
20
1999
Shopping Center Periperi ...
21
1992
Shopping Stella Market 1.000
34
1999
Brotas Máster ...
77
1992
Atlântico Sul Shopping Center 1.000
30
San Felipe ...
24
1993
Shopping Amazônia 2.670
33
2000
Shopping Sete Portas 2.500
64
1995
Shopping Ponto Alto I 1.967
98
2000
Shopping Barra Máster 5.700
71
1995
Shopping Ponto Alto II ...
25
2001
Shopping o Cristóvão ...
84
1995
C Emp. Farol da Barra ...
34
2002
Shopping Beira Mar ...
17
1996
Shopping Ribeira ...
32
2002
Pituba Open Center ...
56
1996
Shopping Imbuí Plaza ...
77
2002
Shopping Liberdade 10.191
62
1996
Shopping Farol Ita Center ...
52
2002
Shopping Vasco da Gama ...
82
1996
Shopping Gaivota ...
77
2003
Shopping Amaralina ...
11
1996
Conexão Shopping ...
44
2007
Shopping Capemi 4.217
56
1996
Tropical Cabula ...
28
Previstos para inaugurar
1996
Shopping Imbuí Máster ...
64
2008
Paseo Itaigara ...
79
1996
Shopping Colonial ...
17
2009
Apha Mall ...
...
1997
Caboata Shopping 5.433
62
Falidos
1997
Shopping Apipema Center ...
20
1996
Bonfim Center ...
...
1997
Shopping Rio Vermelho 1.100
53
1968
Comercial Largo do Tanque ...
...
Fonte: Pesquisa de Campo, 2006 a 2007
Notas: ... Informação indisponível.
1 – Os boxes estão incluídos.
Mesmo sem ter ocorrida a demolição, durante a década de 1990 e o
início do século XXI não houve nenhum interesse por parte dos comerciantes do
local, até porque não possuíam capital suficiente e disponível pare esse fim, nem
mesmo do poder público, no sentido de alterar as precárias condições infra-
estruturais do empreendimento
200
. Assim, em 2001, o shopping foi interditado
pela Prefeitura Municipal porque, segundo técnicos da SUCOM (Superintendência
de Controle, Ordenamento e Uso do Solo de Salvador), estava ameaçado de
desabar. Os cerca de 100 comerciantes que ainda possuíam negócios no local,
mesmo acatando a decisão da Prefeitura, questionaram a ão, argumentando
que o ato era um pretexto para desalojá-los, no intuito de entregar a área para
empresários, atribuindo-lhe nova finalidade
201
. Após todo esse processo, o
estabelecimento entrou em plena decadência, sendo demolido anos após. Hoje,
no local funcionam um posto de gasolina e uma agência bancária.
Voltando à evolução da inauguração dos shoppings centers de bairro”,
durante a década de 1980, foram inaugurados mais treze em Salvador, somando
um total de 17 empreendimentos em 1989. Isso significa que, dos
estabelecimentos funcionando atualmente, 26,56% foram constrdos até esse
período. A profunda crise econômica e financeira que viveu o país, nesse
interregno temporal, foi fator decisivo para minimizar o processo, por mais que, no
caso dos grandes shopping centers, paradoxalmente, o momento tenha sido
propício.
Na década de 1990, entretanto, evidenciou-se um momento
completamente distinto do anterior, que vários estabelecimentos desse tipo
foram inaugurados. Alguns fatores contribuíram para esse fato. O primeiro foi um
forte empenho por parte das construtoras imobiliárias, que viram nesse tipo de
negócio uma importante forma de comercialização do solo urbano e de
reprodução do seu capital, através de pequenos investimentos. Por outro lado,
nesse período tamm foi disseminada a idéia de que os shopping centers
comunitários seriam mais viáveis que os grandes empreendimentos.
200
Entrevista feita com comerciante do local (2007).
201
A Tarde (06.08.2001; 07.08.2001; e 24.07.2002).
Outro fato importante é que, durante o período, principalmente a partir
da segunda metade, ampliaram-se no Brasil os sistemas de créditos feitos com
cartão, que possibilitaram a massificação do consumo, mormente, visando inserir
as camadas mais populares nesse processo. Isso não significa dizer que, com o
fato, ocorreu uma diminuição das desigualdades entre as classes. Ao contrário,
acarretou num aprisionamento de tais camadas às agências financeiras (que
aumentaram em número) e aos grandes bancos, através de juros elevados.
Percebe-se que, ao mesmo tempo em que aumentava o volume de bens duráveis
e não duráveis entre as camadas populares, através da massificação do
consumo, também eram acentuadas as desigualdades entre as classes, porque
tudo isso provocava um empobrecimento maior das camadas de baixa renda
202
.
Certamente, quem mais lucrou com esse processo foram os grandes bancos e as
financeiras, revelando que não é por acaso que esses, atualmente, dominam e
controlam a maioria dos sistemas de créditos por cartão.
Por final, percebe-se que Salvador passou por uma intensa expansão
do tecido urbano, aliás, uma condicionante/condicionada do/pelo que estamos
chamando de movimento descentralizão/(re)centralizão urbana, processo
que será detalhado no Capítulo IV. Dessa forma, como surgiram grandes
empresas e equipamentos comerciais e de serviços em áreas fora do Centro
Tradicional, como o Centro Administrativo da Bahia e outros setores da
administração estadual, prédios da TELEBAHIA (Telecomunicações da Bahia),
UNEB (Universidade do Estado da Bahia), novos hipermercados e
supermercados, dentre outros, a decorrência foi a composição de novos fluxos de
pessoas circulando em tais áreas.
Assim, foram inaugurados mais trinta e oito empreendimentos durante a
década de 1990, que significam 59,37% dos 62 existentes atualmente, revelando
um mero total de 55 estabelecimentos espraiados por várias partes da cidade
no final do período analisado
203
(Gráfico 16).
202
Mais detalhes no Capítulo V.
203
Desses inaugurados na década de 1990, o Bonfim Center entrou em decadência, fechando no
início de 2000, segundo entrevista com moradores do bairro homônimo (Pesquisa de Campo,
2007).
No século atual, nota-se que esse relativo boom no mercado imobiliário
dosshopping centers de bairro” durou muito pouco, apesar de, em termos
numéricos, ainda terem sido significativas as inaugurações realizadas. Nos
últimos sete anos foram construídos nove empreendimentos, o que significa
14,52% do total em funcionamento. A freada no processo ocorreu porque esses
equipamentos passaram (ainda passam) por uma profunda crise estrutural, que
acarretou sérios problemas, tanto por razões mais gerais da reprodução dos
espaços de consumo, quanto por situações muito específicas.
Atualmente, existem apenas dois empreendimentos desse porte em
construção na cidade. Previsto para ser inaugurado ainda este ano, o Paseo
Itaigara, no bairro homônimo, é o primeiro do ramo realizado pela empresa. É um
projeto que pertencente à JCG Construtora e Incorporadora, com consultoria da
Enashopp, e es calculado em R$20 milhões, devendo conter 79 lojas. É,
declaradamente, elitista, pois está voltado para a classe A
204
. O outro é o Alpha
Mall, localizado na Av. Luiz Viana Filho e inserido no conjunto imobiliário
Alphaville, que es em fase de comercialização. Com 55 unidades, entre lojas e
204
Correio da Bahia (08.05.2006).
Gráfico
16
:
Salvador
Evolução na inauguração dos shopping centers de bairro”,
1968/2007
Fonte: Pesquisa de campo
, 2006 e 2007
.
0
5
10
15
20
25
30
35
Até 1979 Entre 1980 a
1989
Entre 1990 e
1999
Entre 2000 e
2007
escritórios, está sob a responsabilidade da Construtora NM, orçado em R$ 5,1
milhões
205
.
Mesmo não sendo nosso objetivo detalhar internamente tais
equipamentos, como também salientado no caso dos grandes, nota-se que os
shopping centers de bairro” possuem uma estrutura e organização interna
diferenciada, merecendo, portanto, algum destaque. Em geral, o
empreendimentos que variam bastante em aspectos como: área total, ABL,
número de lojas (Quadro 4). Do mesmo modo, é muito particular a definição e
compreensão adotadas pelos administradores do que é uma loja-âncora”,
mesmo que sua função seja similar a dos grandes shopping centers.
No que tange à área total, exemplos como o Outlet Center e o
Liberdade representam impacto espacial importante nos bairros onde se instalam,
tanto porque consomem parcelas significativas do solo urbano, como porque
alteram o seu tecido terciário. Nesse sentido, como em geral eles também
possuem um mero maior de lojas e/ou boxes, podem acarretar na atração de
novos comerciantes, fortalecendo o tecido terciário; ou levar à bancarrota
pequenos comerciantes e prestadores de serviços locais. No caso dos menores,
como o Bahia Shopping”, o Graça Master e o Shopping Aquidabã”, esse
processo acontece, mas em escala menor.
Os administradores dos “shopping centers de bairro” sempre almejam a
instalação de uma “loja-âncorano empreendimento, porque elas representam a
atração de um fluxo maior de pessoas com o intuito de consumir os produtos.
Todavia, nem todos possuem tais lojas
206
. Em Salvador, no caso desse tipo de
shopping centers”, tais “âncoras” podem ser: um posto dos Correios, como no
Shopping Sumaré”; uma agência das Casas Lotéricas, como no Golden Center e
no Outlet Center; ou mesmo caixas eletrônicos, que existem, por exemplo, no
Shopping Liberdade”, Shopping Vila Laura” e no Shopping Imbui Plaza”, do
Banco do Brasil, e no Gaivota e Ponto Alto, da Caixa Econômica Federal.
205
Bahia Negócios (2005).
206
Pesquisa de Campo (2006 e 2007).
Entretanto, em alguns casos, serviços que exercem maior atração para
os consumidores também funcionam como “âncoras” nos shopping centers de
bairro”. No Shopping Ponto Alto I desempenham esse papel duas salas
cinemas, que já ocuparam espaços no Brotascenter, mas foram fechadas na
década de 1990
207
. Nos Shopping Capemi e Caboatã estão localizadas,
inclusive, agências bancárias da Caixa Econômica Federal, aliás, serviço
oferecido por outro banco que fez parte do tenant mix do Orixás Center
208
.
Uma última observação importante sobre a organização desses
empreendimentos diz respeito ao modo como são administrados. A pesquisa
sobre esse aspecto, na maioria dos casos, revelou a existência derios conflitos
de interesses entre administradores e lojistas. Dentre os que disponibilizaram
informações, 57,38% são administrados por um conselho ou associação de
lojistas, 31,14% por uma empresa contratada e 11,48% pelo próprio proprietário
do shopping center
209
.
A relação entre administradores e lojistas é muito complexa e depende
do tipo de contrato que os segundos possuem. Existem casos em que todas as
lojas ou boxes são alugados e outros que todas são propriedades dos lojistas.
Todavia, em alguns esse aspecto é proporcional. Vários shopping centers passam
por problemas envolvendo questões administrativas, como o não-pagamento do
aluguel pelos condôminos e o desuso das lojas ou box, e isso sempre acarreta,
segundo os administradores, num funcionamento inadequado do
empreendimento
210
.
O crescimento no número dos shopping centers de bairro, em Salvador,
principalmente no final da década de 1990, trouxe sérias conseqüências para o
mercado desses pequenos empreendimentos, fato apontado de modo premente
pelos administradores. Talvez isso explique a redução nas inaugurações e no
lançamento de projetos nos últimos anos. Entretanto, deve-se compreender que
essa crise o é atual, nem pode ser explicada, apenas, pelo maior número
existente hoje.
207
A Tarde (19.11.1998).
208
Tribuna da Bahia (05.06.2006).
209
Pesquisa de campo (2006 e 2007)
210
Idem.
Esses tipos de empreendimentos foram “[...] concebidos para funcionar
como shopping de conveniência, para atender as carências de serviços e
produtos surgidos de última hora [...]”
211
. Portanto, possuem uma dependência
muito forte das ações locais associadas à vida cotidiana. É por isso que, por
exemplo, atrair um pequeno caixa eletrônico ou um posto das casas lotéricas, que
implica na prestação de serviços do dia-a-dia, é tão importante para seus
administradores. Contudo, contra isso concorrem importantes aspectos estruturais
e subjetivos que, constantemente, afetam o seu desempenho.
A concorrência com estabelecimentos, como outros shopping centers
de bairro” e consolidadas redes de supermercado e hipermercados localizadas
nos bairros e, principalmente, com os grandes shopping centers de Salvador,
exerce uma influência muito forte em tal fato. Como o capital disponível é menor,
possuem também menor capacidade de investimento em marketing e estratégias
de promoção que os empreendimentos maiores, que o, sobretudo, apoiados
pelas impactantes ações publicitárias das lojas-âncora. Além do mais, tamm
por tal motivo, esses últimos povoam de modo mais premente o imaginário dos
citadinos, em especial, porque, como mencionamos alhures, traduzem status e
constroem estereótipos quiméricos entre as diversas classes sociais.
o fato de que eles “tropeçam no amadorismo de muitos, que ainda
pensam em virar lojistas de uma hora para outra, sem planejamento ou uma
simples pesquisa de mercado”
212
. Essa discussão tanto es relacionada à
estrutura interna, quanto ao próprio grupo empreendedor que viabiliza a
implantação do empreendimento. Certamente, esse último aspecto está bastante
articulado ao aumento no número de shopping centers de bairro”, especialmente
no final da década de 1990.
Diferente da cada de 1980, durante a década de 1990 os
financiamentos imobiliários aumentaram em Salvador, isso acarretou num
desenfreado processo de construção de pequenos shopping centers, muitas
vezes, sem qualquer tipo de análise sobre o perfil dos consumidores, sobre o
funcionamento de outros estabelecimentos no local ou sobre a existência de
projetos de construção de empreendimentos. No tocante a esse último fato,
211
A Tarde (19.11.1998).
212
Idem.
notamos que vários deles foram construídos simultaneamente, alguns dos quais
localizados muito próximos uns dos outros, como nos bairros do Cabula e do
Imbuí que, respectivamente, possuem três e oito empreendimentos em áreas
quase que contínuas territorialmente (Figura 22).
As conseqüências principais desse processo, especialmente para os
menores e que não possuem uma administração eficiente, são os altos índices de
desocupação das lojas e dos boxes e os sérios problemas na manutenção do
negócio, o que revela, na maior parte dos que alugam seus espaços, uma alta
rotatividade dos locatários, resultante de constantes falências. Se levadas ao
extremo, tais questões podem provocar o fechamento do empreendimento, como
o ocorrido com o Bonfim Center no final da década passada. Aliás, essa é uma
preocupação que observamos ser presente no dia-a-dia de rios
administradores
213
. O Orixás Center, por exemplo, localizado no Centro
Tradicional, superou a crise pela qual passou durante a década de 1990 com a
mudança no tenant mix, especializando-se no serviço de aluguel de vestuários.
Hoje, é conhecido como o shopping do aluguel
214
.
Por outro lado, a análise sobre as estratégias de localização desses
tipos de shopping centers, em Salvador, salientada por Villaça (2001) como
essencial para entendermos as articulações entre áreas centrais e não-centrais,
revela elementos flagrantes do processo de produção e reprodução dos espaços
de consumo na cidade. Como tais mecanismos são intrínsecos à própria dinâmica
da centralidade urbana, proporcionam subsídios que favorecem à explicação do
processo de reestruturação.
Assim, por mais que possuam certas especificidades, osshopping
centers de bairro” tamm acompanharam a mesma lógica territorial dos grandes
shopping centers em seu processo de implantação. Há uma maciça concentração
de empreendimentos em áreas elitizadas da cidade, que envolvem os bairros da
Pituba, Costa Azul, Itaigara e Caminho das Árvores; em duas áreas mais antigas,
envolvendo o Centro e a Barra; e em áreas de expansão relativamente recente,
nos bairros do Imbuí e Cabula.
213
Informações coletadas durante a pesquisa de campo (2006 e 2007).
214
Tribuna da Bahia (05.06.2006).
Em menor expressão, ocorre concentração nos bairros de Itapuã e
Stella Maris, bastante afastados dos mais importantes centros da cidade. Os
demais estão pulverizados pelo tecido urbano, seja em bairros basicamente
compostos por uma classe média, como o Rio Vermelho e Brotas; seja em
espaços de expansão dos sub-centros; seja em áreas de habitação popular, como
Cajazeiras, São Marcos e parte da Península de Itapagipe (Figura 23).
Nota-se que, majoritariamente, os mais antigos foram construídos em
áreas da elite, como os implantados na Pituba, Itaigara e Barra, e/ou nas
imediações dos espaços cuja centralidade estava consolidada, como o Centro
Tradicional e o entorno do Shopping Iguatemi. Isso revela certo paradoxo, porque,
por mais que a concorrência com os grandes shopping centers seja um problema,
percebe-se que é mais interessante para os empreendedores construírem os
shopping centers de bairro” nesses locais, pois é propício para o consumo o
elevado fluxo de circulação que tais espaços possuíam.
A expansão do tecido terciário no Centro Tradicional, bem como na
Calçada, Liberdade e Itapuã, importantes sub-centros, tamm proporcionou a
implantação desses tipos de empreendimentos que, dialeticamente, reforçam a
centralidade em tais áreas. Além de estarem articulados a bairros densamente
povoados, são espaços compostos por estabelecimentos que oferecem produtos
e serviços, especialmente, para as classes média e baixa. Ademais,
cotidianamente, elas são constituídas por um alto fluxo de consumidores e
trabalhadores do local, alvos principais dos proprietários das lojas.
Nas áreas de expansão mais recente de Salvador, como os bairros do
Cabula, Imbuí e São Rafael, além do aumento do contingente populacional, que
atraiu, por exemplo, o Caboatã e o Amazônia, os shopping centers de bairro”
foram construídos em função da descentralizão/(re)centralização de serviços do
Estado, como o CAB, que beneficia os “Shopping” Ponto Alto I e II; e pela
proximidade com grandes empresas privadas e estatais, que possuem muitos
funcionários, como a TELEBAHIA e a UNEB, para os casos do Plaza Cabula e do
Cabula Master.
A consolidação do papel exercido por eixos de especialização, como a
Av. Vasco da Gama e a Dorival Caymmi, respectivamente, provocaram a
construção dos shopping centersVasco da Gama e São Cristóvão. Em geral, o
público consumidor es relacionado tanto aos moradores do entorno, quanto aos
transeuntes que vão procurar algum serviço ou produto na área
316
.
Apesar da crise pela qual vários desses empreendimentos vêm
passando, eles desempenham papéis importantes no processo de reprodução
dos espaços de consumo, bem como para o consumo do/no espaço urbano,
porque corroboram a competitividade entre os lugares, no nível intra-urbano. Por
outro lado, desvelam conflitos de interesses entre proprietários e lojistas e criam
tensões no âmbito da própria área central onde estão localizados.
No que diz respeito ao bairro, especialmente os maiores shopping
centers, observa-se que eles conseguem valorizar o solo urbano, também
aparecendo envolvidos em estratégias de marketing direcionadas para o mercado
imobiliário, que usam tais equipamentos como atrativos para a venda de novos
produtos residenciais. Isso é muito evidente no Imbui, já que as construtoras
criam no imaginário das pessoas a idéia de que os shopping centers de bairro”
proporcionam conforto e comodidade.
A implantação dos grandes shopping centers, junto com outros fatores,
conseguiu fortalecer um paradoxo: o esfacelamento e a reconcentração da
centralidade urbana em Salvador, na medida em que provocou uma miade de
tensões nas relações tempo-espaço do cotidiano. Mesmo com menor impacto, os
pequenos empreendimentos tamm contribuem para esse processo, porque
reforçam tais tensões, desconcentrando/reconcentrando o deslocamento de
pessoas, veículos e informações. Assim sendo, a estrutura urbana passa a
exprimir uma lógica contemporânea, revelando-se através de ltiplos núcleos
comerciais e de servos, aspectos a serem analisados no próximo capítulo.
316
Entrevista com os administradores dos shopping centers (2007).
CAPÍTULO IV:
O ESPAÇO POLI(MULTI)NUCLEADO E AS ÁREAS
CENTRAIS DE SALVADOR
A cidade se mostra, sempre aos pedaços.
Os requintes do arranjo mantêm o encanto, desdobrando-se dos céus ao aiucá;
Do que eles esquecem, quem poderá lembrar? Freqüentação...
Convivência no estampido da memória e do esquecimento.
Os cidadãos amam esconderijos,
Como as frases, as esquinas e o tempo.
Logogrifos.
Alberto Pucheu
A etapa atual do processo de urbanização envolve um complexo
sistema de relações, no qual os componentes técnicos e as ações dos sujeitos
desempenham papel seminal. Assim, uma miríade de atos cotidianos compõe um
movimento de transformação, alimentando o ser e o vir-a-ser. Todavia, explicar
esse fenômeno é um desafio para a cncia, cujo propósito é proporcionar,
mesmo que com limitações, um melhor entendimento sobre a realidade. Algumas
proposições m sendo desenvolvidas nesse sentido, contribuindo para
enriquecer as reflexões sobre a forma e a essência da cidade.
No que diz respeito à urbanização, a tese de que estamos passando
por um período marcado por uma urbanização difusa
317
vem sendo bem
difundida. Parte do princípio de que os processos urbanos adquiriram maior
complexidade, acarretando novas articulações territoriais. Em geral, caracteriza-
se pela evidência de uma integração maior entre o rural e o urbano e pela
superposição de processos espaciais nas maiores cidades, principalmente, nas
metrópoles. Todavia, outras proposições
318
também tentam apreender a dinâmica
que, contemporaneamente, acarreta na materialização de área urbanas distintas
e, dialeticamente, constituem expressões de um fenômeno que é geral.
Os estudos sobre a cidade tamm proporcionaram outro conjunto de
discussões conceituais. Trindade Junior analisou as transformações espaciais
ocorridas em Belém, e que provocaram mudanças na estrutura urbana. O autor
define essa nova forma metropolitana como dispersa, argumentando queo papel
das redes de articulação por parte dos agentes urbanos se mostra decisivo para a
compreensão da dinâmica urbana” (TRINDADE JUNIOR, 1998, p. 47).
317
Monclus (1998).
318
Damiani (2000) faz reflexões sobre o período atual como resultante de período marcado por
uma urbanização crítica.
Para Gottdiener, os padrões de assentamentos urbanos hodiernos
revelam certa desconcentração metropolitana. Suas argumentações estão
fundamentadas na asserção de que “se o momento atual possui uma forma
fenomenal de capital a corporação multinacional -, então a forma fenomenal de
espaços correlata do capitalismo tardio é a metrópole desconcentrada
(GOTTDINIER, 1997, p. 230). O autor pesquisou algumas cidades norte-
americanas.
Na visão de Soja (1993), a cidade atual seria multipolar por excelência,
o que constata a construção de uma paisagem pós-moderna, compreensível,
apenas, a partir de uma Geografia tamm pós-moderna. Segundo o autor, sua
proposta difere do pensamento de Harvey, que entende esse movimento apenas
como uma etapa cultural da acumulação flexível. Para Soja, esse fenômeno deve
ser analisado como uma nova realidade social e espacial que, por conseguinte,
exigiria um método pós-moderno, no qual a investigação espacial é
preponderante sobre a temporal.
Nessa perspectiva, as propostas de Amêndola (2000) e Soja (2000)
trazem contribuições mais amadurecidas que auxiliam a discussão sobre a cidade
atual, pressupondo a existência de uma cidade s-moderna. Todavia, além dos
inúmeros questionamentos sobre a real existência de uma condição pós-moderna
(HARVEY, 2004), o se pode esquecer que as experiências urbanas brasileiras
o muito diversas e, em sua maioria, podem não ser correspondentes às idéias
desenvolvidas pelos autores.
Outras adjetivações, além das mencionadas, passaram a fazer
referência a essa nova forma urbana. O que é comum a parte delas é a ênfase
dada ao modo como a centralidade exprime-se, pensando na expansão e na
difusão dos espaços produzidos para o consumo. Contudo, essas reflexões
envolvem outros nexos, dentre os quais a investigação sobre a produção de
novos espaços residenciais e, dependendo do caso, industriais. Como a
centralidade urbana é o nosso foco, entendemos que não adianta compreender,
apenas, que as cidades apresentam uma multiplicidade de centros, e que essa
característica tem influência na vida cotidiana. É fundamental também pensar
como, a partir dessa lógica, tais espaços se relacionam. Por isso, a importância
de refletir sobre os fluxos, como argumenta Silva (2006).
A idéia de que a cidade atual revela uma multiplicidade de expressões
da centralidade e uma lógica policêntrica está fundamentada nas formulações de
Lefebvre (2004). Segundo o autor, a “centralidade, que concerne às matemáticas,
concerne também ao drama” (LEFEBVRE, 2004, p. 111). A nosso ver, esse
drama parte da investigação sobre uma centralidade que também é poli, ou seja,
diversa. De acordo com Sposito (1996), os múltiplos centros nem sempre
apresentam uma relação complementar. Em verdade, revelam interesses e
competição. Para Frúgoli Jr:
[...] os sub-centros guardam certas relações de complementaridade
com o núcleo central, mas passam muitas vezes a competir
economicamente de forma mais acirrada com o Centro Tradicional,
de modo a se tornarem ou almejarem se tornar os “novos centros”.
Isso se , em particular, pela lógica dessa expansão, que acarreta
muitas vezes a fuga de empresas para os sub-centros e a
deterioração urbana do núcleo original [...] (FRÚGOLI JUNIOR,
2000, p. 206).
O processo de (re)estruturação urbana e da cidade evidencia uma
superposição entre a estruturação centro-periferia, que marcou parte da história
das cidades atuais, e a estruturação poli(multi)nucleada, o que suscita uma gica
mais complexa, expressa por uma relação tempo-espaço diferenciada.
Segundo Sposito (2001b, p. 237), devemos entender o processo
formação das centralidades dentro de uma perspectiva histórica da localização de
atividades comerciais e de serviços. Para a autora, a dinâmica inerente ao
processo tem como principais determinantes: - as mudanças nos papéis de cada
cidade numa divisão territorial do trabalho, no plano da rede urbana; - os ritmos
de crescimento econômico e demográfico das cidades; - a expansão do tecido
urbano; instalação de novas infra-estruturas de circulação e transporte; - a
ampliação do gradiente intra-urbano dos preços fundiários e imobiliários; - os
investimentos públicos e privados; e - as dinâmicas de diferenciação
socioespacial no uso do solo para fins residenciais, comerciais e de serviços, etc.
O movimento dentro da cidade resulta da combinação entre a
temporalidade das coisas e a temporalidade das ações,
privilegiando cada fração do espaço urbano para o exercício de um
conjunto particular de atividades (SANTOS, 1990b, p. 187).
À cidade poli(multi)nucleada é imposta uma lógica distinta, o que torna
essencial pensarmos o que vem definindo esses novos espaços de consumo, que
o ditados por contemporâneas relações. Para isso, é seminal articular a
produção dos centros e sub-centros às ações do mercado imobiliário, do poder
público e do capital comercial e financeiro que, como mencionamos, são
elementos cruciais para entendermos as mudanças pelas quais passa a
urbanização contemporânea. Por outro lado, nas áreas centrais tamm
repercutem os impactos do processo de flexibilização do trabalho e da expansão
e especializão do setor terciário, mormente, de uma redefinição no modelo de
acumulação do capital, manifesto pela ampliação do tecido tercrio nos centros e
sub-centros, bem como por sua multiplicação.
Para reproduzir o capital investido exige-se maior fluidez nos meios de
articulação entre os espaços da cidade, o que indica maior velocidade no
movimento da vida cotidiana. Para esse fim, uma complexa rede é tecida,
constituindo os liames entre os centros e os sub-centros e entre esses e os
demais espaços da cidade. Segundo Barata Salgueiro:
As cidades ligam-se em redes, sem atenção à distância nem à
dimensão dos lugares, nas quais buscam sinergias e identificação,
muito mais do que no seu “hinterland”. Ao mesmo tempo em que
nas urbes se multiplicam áreas funcionalmente equivalentes sem
ligações hierárquicas, tendendo para uma estrutura policêntrica e
reticulada. Este processo é particularmente visível na estrutura
terciária com o declínio do Centro Tradicional e a emergências de
novas centralidades, pólos de comércio e serviços, com grande
capacidade de atração que disputam clientelas, uma vez que os
novos padrões de mobilidade acabaram com a exclusividade das
áreas de mercado dos pontos de venda definidas pela distância aos
consumidores (BARATA SALGUEIRO, 1989, p. 424).
A análise atual da centralidade ganha mais relevância em função de
quatro dinâmicas: - as novas localizações de equipamentos comerciais e de
serviços concentrados e de grande porte as quais determinam mudanças de
impacto no papel e na estrutura do centro principal ou tradicional, o que provoca
uma redefinição do centro, da periferia, e da relação centro-periferia; - a rapidez
das transformações econômicas, que marcam a passagem do sistema produtivo
fordista para formas de produção flexíveis, impõe mudanças na estruturação
interna das cidades e na relação entre as cidades na rede; - a redefinição da
centralidade urbana não é um processo novo, mas ganha novas dimensões,
considerando-se o impacto das transformações atuais, e sua ocorrência não
apenas nas metrópoles e cidades de grande porte, mas tamm em cidades de
porte médio; - a difusão do automóvel e o aumento da importância do lazer e do
tempo destinado ao consumo redefinem o cotidiano das pessoas e a lógica da
localização e do uso dos equipamentos comerciais e de serviços (SPOSITO,
1996, p. 114).
No caso de Salvador, existem muitos caminhos para entendemos essa
dinâmica contemporânea. Optamos por conduzir as reflexões partindo da análise
sobre as alterações ocorridas nos fluxos urbanos, nas últimas décadas, pensando
no modo como essas construíram novas relações tempo-espaço. A partir dessas
discussões, objetivamos pensar como tais modificações trouxeram conseqüências
para a lógica de constituição da centralidade e para a organização do uso do solo
em Salvador.
4.1 – Cidade em movimento x movimentos na cidade
Nas últimas três décadas, o sistema de circulação em Salvador foi
alterado. A dinâmica urbana adquiriu características peculiares e a circulação é
um elemento essencial para entendermos o processo de reestruturação da
cidade, articulado ao processo de reestruturação urbana. Durante a década de
1970, convergiam para o Centro Tradicional os maiores fluxos de transportes
particulares e coletivos de Salvador. Ao mesmo tempo em que tal fato era um
produto da alta concentração de atividades comerciais e de serviços na área
central, fortaleceu o mesmo processo, que os eixos de acessibilidade
favoreciam o deslocamento dos citadinos para os espaços centrais (Tabela 19).
Os principais eixos de circulação estavam no Centro Tradicional e nas
vias que davam acesso a essa área. As que continham os maiores fluxos eram
Av. Sete de Setembro e a Av. Carlos Gomes, formando o eixo Praça da Sé-
Campo Grande; a Av. França, um dos mais importantes terminais de transporte
coletivo naquele contexto histórico, sentido Calçada; e as avenidas Vasco da
Gama, Mário Leal Ferreira e Anita Garibald, que, no período, exerciam a função
de ligar os espaços mais distantes às áreas centrais.
319
319
Salvador (1978). Para ver a localização de tais ruas, observar Figura 24.
Contudo, esse quadro foi alterado. O Centro Tradicional, apesar de
ainda apresentar um fluxo representativo e associado, amiúde, às classes
populares, não constitui a área do maior circulação de veículos. Hoje, os maiores
corredores viários estão articulados ao Vale do Camaragibe, especificamente, os
eixos constituídos pela Av. Luiz Viana Filho (Paralela), Av. Tancredo Neves, Av.
Mário Leal Ferreira (Bonocô) e Av. Antônio Carlos Magalhães (ACM). Nessas
vias, o fluxo de veículos é elevado em ambos os sentidos. Em 2005, o volume
diário
320
atingiu mais de 50.000 veículos em algumas vias, com ápices na Av.
Tancredo Neves, eixo de ligação entre o Shopping Salvador, o Shopping Iguatemi
e a Rodoviária, com mais de 113.000 veículos diários; e em ambos os sentidos da
Avenida Luiz Viana Filho, com mais de 80.000 vculos diários (Figura 24 e Fotos
15 e 16). Foram verificados altos fluxos, ainda, nas avenidas Juracy Magalhães
nior e Anita Garibald que, apesar de relativamente distantes dos dois maiores
centros da centros, servem como canalizadores para os corredores integrados ao
Vale do Camaragibe e ao Centro Tradicional.
320
Fonte: Superintendência de Engenharia de Tráfego.
Foto 15: Av. Tancredo Neves,
altos fluxos na cidade, 2007
Foto: Bruno Ribeiro
Como conseqüência, o Vale do Camaragibe tornou-se o foco de sérios
problemas de transporte, especificamente, no que tange ao estrangulamento do
sistema viário, algo análogo ao que ocorreu no Centro Tradicional, entre as
décadas de 1960 e 1970, aspecto discutido no Capítulo II. Entretanto, diferente do
que ocorreu com o centro antigo, não existe propostas que apontem para a
diminuição do fluxo nessa área, porque é onde estão localizados os shopping
centers Iguatemi e Salvador. Na realidade, as deliberações do poder público
assinalam seu refoo, pois vêm sendo aprovados empreendimentos comerciais e
residenciais na área, fatos que serão discutidos no próximo capítulo.
Os eixos ligados ao Centro Tradicional tamm constituem fluxos
significativos, principalmente, os que dão acesso à Estação da Lapa. Como pode
ser verificado no mapa, nos corredores próximos do Dique do Tororó,
especificamente, as avenidas Anita Garibald, Vasco da Gama e Mário Leal
Ferreira, os fluxos variam entre 20.000 e 40.000 veículos circulando
diariamente
321
.
321
Fonte: Superintendência de Engenharia de Tráfego
Foto 1
6
: Av.
Luiz Viana Filho, altos fluxos na cidade,
2007
Foto: Janio Santos
Outra informão importante é o volume de veículos nas horas de
pico
322
. Também destacam-se as avenidas Tancredo Neves, Luiz Viana Filho e
Mário Leal Ferreira, respectivamente, com 12.453, 7.079 e 6.122
323
vculos
circulando nas horas de maior concentração (Figura 25 e Foto 17). Nessas vias, o
pico registrado é maior que o volume diário de importantes avenidas, como a Prof.
Pinto de Aguiar ou a Estrada das Barreiras
324
. Outrossim, são pontos com altos
índices as avenidas Anita Garibald, Vasco da Gama e Juracy Magalhães Junior,
articuladas ao Vale do Camaragibe e ao Centro Tradicional.
Tais dados comprovam que, hoje, o Centro Tradicional, em comparação
ao Vale do Camaragibe, não é a área com maior circulação de vculos, apesar
de ainda atrair um fluxo considerável. Contudo, analisar outras informões, que
incluem, ainda, outras determinantes, é necessário, evitando incorrer em erros,
que poderíamos argumentar, com base nos dados supramencionados, que o Vale
do Camaragibe é, atualmente, a principal área central da cidade.
322
Os horários de pico variam entre as 7:00 e 9:00 da manhã e entre 17:00 e 19:00 da noite.
323
Superintendência de Engenharia de Tráfego. Dados referentes a 2005.
324
Informação relativa ao pico encontrado em apenas um sentido da via.
Foto 17: Avenidas Tancredo Neves e Antônio Carlos Magalhães, altos fluxos nas
horários de pico, 2007
Foto: Bruno Ribeiro
Os dados sobre o sistema de circulação de transporte coletivo revelam outra
nuance. O Centro Tradicional mantém um volume diário elevado de ônibus coletivos
circulando nos principais corredores viários e nas estações de transbordo. Entretanto, é
notório que houve uma diminuição na hegemonia que existia até o final da década de
1970, período em que Centro Tradicional constituía a referência principal para quem
chegava ou saía da cidade (Tabela 19). Até a década de 1970, as ruas localizadas nessa
área correspondiam às vias cujo fluxo era mais alto, juntamente com a Av. Jequitaia, no
sub-centro da Calçada. As vias de maior circulação de transporte coletivo no Centro
Tradicional eram as que ligavam o Campo Grande à Praça da Sé, o Viaduto Marta
Vasconcelos à Sete Portas, a Barroquinha à Praça dos Veteranos e a Calçada ao
Terminal da França.
Porém, verifica-se que, nos últimos anos, ocorreram alterações na organização
do sistema de transporte coletivo, que provocaram o surgimento de novos eixos de
circulação, relacionados à própria expansão do tecido urbano e ao crescimento
demográfico, tanto na parte pobre da periferia, quanto nas áreas mais valorizadas.
Mesmo assim, os corredores do centro e dos sub-centros tradicionais ainda mantêm uma
alta concentração de linhas de transportes coletivos.
Atualmente, os eixos que ligam o sub-centro do Largo do Tanque ao São
Caetano, a Av. Barro Reis à Av. Heitor Dias, o Terminal da França à Calçada e a Av.
Suburbana à Calçada correspondem aos que apresentam maior número de linhas de
transportes coletivos. Nos dois últimos, os volumes de ônibus trafegando nas horas de
pico são os maiores da cidade, representando, respectivamente, 280 e 274
ônibus/hora
327
. Porém, outros eixos ligados aos dois centros de Salvador também
apresentam altos fluxos. Os mais representativos são as avenidas Mario Leal Ferreira,
Anita Garibald e Vasco da Gama. Nos três casos, funcionam como liames entre os bairros
residenciais, o Centro Tradicional e o Vale do Camaragibe.
327
Fonte: Superintendência de Engenharia de Tráfego. Dados referentes a 2005.
Tabela 19: Salvador
Informações sobre transporte coletivo, volume total, por via, linha/hora e ônibus/hora, 1976, 1989 e 2005
Vias 1976 Vias 1989 2005
Linha Ônibus/h Linha Ônibus/h Linha
Pr. da Sé/Campo Grande 53
Est. V. do Aeroporto 119 39
Av. Franca/Mares 280
67
Barroquinha/Sete Portas 62
Est. de São Marcos 53 23
Av. Paralela 62
18
Corredor da Vitória 14
Cajazeiras 38 18
Av. Suburbana 274
67
Porto da Barra/Ondina 18
Av. G Carvalho/S Caetano 32 14
Av. Bonocô 254
57
Estrada da Liberdade 14
Est. da B. N. de Aratu 35 10
Est. de Campinas/S Caetano 114
129
Av Dom João VI 10
R. Lima e Silva 131 29
R. Silveira Martins/Barreiras 144
38
Av Suburbana 10
R. C. de Porto Alegre 102 18
R. Lima e Silva 99
24
Calçada/Term. da França 68
Est. de Pirajá 99 24
Av. Otávio Mangabeira 69
19
Conv. Desterro-Piedade 39
Av. Heitor Dias 435 106
Av. Juracy Magalhães 187
45
Av Barros Reis 33
BR-324 121 31
Av. Tancredo Neves 257
55
Itapoã/Est. Eng. Velho 5
Barros Reis 115 31
Av. Centenário 124
31
Est Eng Velho/S Gonçalo 5
Av. San Martin 257 66
BR-324 125
38
S Caetano/Melo Morais 135 39
Av. Dom João VI 74
18
Av. Vasco da Gama 289 68
Av. São Marcos/São Rafael 67
21
Av. Suburbana 223 53
Est. V. do Aeroporto 156
37
Av. Franca/Mares 456 107
Av. ACM 188
41
Av. Dom João VI 121 24
Av. Vasco da Gama 96
2
Campo Grande/Sé 358 78
Av. Cardeal da Silva 51
11
Piedade/Soledade 415 99
Av. Joana Angélica 53
15
Av Paralela 115 47
R. S. Martins/Barreiras 215 58
Calçada/Roma 325 46
Av Centenário 112 24
Av ACM 284 83
Av Cardeal da Silva 110 26
Av Bonocô 366 93
Av Oceânica 219 60
Fonte: Salvador (1978) e Superintendência de Engenharia de Tráfego, 2003 a 2005
Nota: ... Informação indispovel
Mesmo inferior aos anteriores, o número de linhas de transporte
coletivo é elevado nas avenidas Tancredo Neves, Antonio Carlos Magalhães e
Juracy Magalhães Junior, ligadas ao Vale do Camaragibe; na Av. Silveira Martins,
que alimenta o fluxo para o bairro do Cabula; e na BR-324, que articula ambos os
centros ao Miolo Central.
O volume de pessoas nos terminais de transporte coletivo é outro dado
importante. Até a década de 1970, os terminais localizados na Av. França,
Barroquinha, Campo Grande e Praça da Sé/Rua Chile, inseridos no Centro
Tradicional, apresentavam os índices mais elevados de circulação de ônibus
coletivos. Ademais, até o início da década de 1970, não havia sido construído
nenhum grande terminal de transbordo na cidade.
Hoje, novos terminais foram construídos, articulando áreas mais
distantes da periferia aos espaços centrais, especialmente, o Centro Tradicional e
o Vale do Camaragibe. Nesse aspecto, a Estação da Lapa, o Terminal da França
e da Barroquinha, localizados no Centro Tradicional, e a Calçada, são alguns dos
mais freqüentados. Nesses, os números de linhas de transportes coletivos e o
número de ônibus coletivos nas horas de pico são elevados e, por tais fatores,
também é alto o montante de pessoas circulando. Na Estação da Lapa, em 2005,
trafegavam, em dia, 460.000 pessoas por dia. Tal estação articula quase todos
os bairros e algumas cidades vizinhas ao Centro Tradicional, cujo transbordo
ocorre próximo ao Shopping Piedade e ao Shopping Center Lapa (Tabela 20).
Outros terminais construídos mais recentemente também adquiriram
importância para a circulação, porque ligam os bairros pobres da periferia às
áreas centrais. A Estação Pirajá e a Estação de Mussurunga são os exemplos
mais significativos, correspondendo, respectivamente, a um volume de 130.000 e
30.000
326
usuários por dia (Foto 18). Entretanto, os terminais da Rodoviária e a da
Estação Iguatemi, localizados no Vale do Camaragibe, também concentram
volumes consideráveis de circulação de pessoas e linhas de transportes coletivos.
Por exemplo, em 2005, o último possuía o segundo maior número de linhas de
ônibus era o terceiro em volume de transeuntes circulando. Essa estação está
integrada ao Terminal Rodoviário de Salvador e ao Shopping Center Iguatemi
327
.
326
Fonte: Superintendência de Engenharia de Tráfego. Dados referentes a 2005.
327
Idem
Tabela 20: Salvador
Informações sobre transporte coletivo, volume total, por terminal,
linha/hora, fluxo e ano, 1976 e 2005
Linhas de transportes
1976 2005
Vias
Linhas
Ônibus/Hora Linhas Usuários/Dia
Aquidabã ...
7
4
5.000
Av. França 55
275
58
7.000
Barroquinha 62
98
45
15.500
Calçada ...
356
95
...
Campo Grande 24
145
76
15000
Centro Administrativo ...
27
26
...
Estação Iguatemi ...
134
96
65.000
Estação da Lapa ...
325
128
460.000
Estação Mussurunga ...
125
68
30.000
Estação Pirajá ...
153
38
130.000
Praça da Sé/Chile 43
53
12
...
Estação Rodoviária ...
324
28
65000
Fonte: Salvador (1978) e Superintendência de Engenharia de Tráfego, 2003 a 2005
Nota: ... Informação indisponível
Foto 18: Estação da Lapa, o maior terminal de transporte
coletivo de Salvador está no Centro Tradicional, 2007
Foto: Janio Santos
Com base nas informões apresentadas, alguns aspectos precisam
ser considerados se se pretende fazer uma investigação profunda sobre as
transformões que ocorreram em Salvador, nas últimas décadas. Primeiro, não
podemos determinar a maior ou menor importância de um centro ou sub-centro
com base em dados referentes, apenas, aos fluxos de veículos particulares ou ao
de transportes coletivos. Como esses estão voltados, majoritariamente, para
classes sociais distintas, também são indicadores que representam como cada
uma dessas engendra suas relações tempo-espaço.
Segundo, no caso de Salvador, ficou claro que o Centro Tradicional é
mais utilizado pelas camadas populares, pois é para esse local que convergem os
maiores fluxos de transporte coletivos. Todavia, como não podemos afirmar que
essa área não é utilizada pelas classes mais altas, também não se pode afirmar
que o acesso ao Vale do Camaragibe seja uma exclusividade da elite. Tal área
es articulada aos demais espaços da cidade por sistemas de transportes
coletivos, mesmo os mais distantes, ainda que esses, em geral, possuam uma
infra-estrutura precária.
A infra-estrutura de circulação foi construída objetivando deslocar a alta
concentração de pessoas do Centro Tradicional para o novo centro, aliás, um
intento alcançado. Por outro lado, canalizou fluxos para o Vale do Camaragibe,
tornando a área mais valorizada e mais fácil o acesso de veículos e pessoas,
tanto para o Shopping Center Iguatemi, como para os demais empreendimentos
imobiliários. Observa-se que tais fatores tamm vêm sendo cruciais para a
implantação de vários empreendimentos, entre os quais ressaltamos o Salvador
Shopping.
Entretanto, afirmar que tais centros são utilizados por consumidores de
classes diversificadas não significa argumentar que esses espaços sejam
apropriados igualmente por todos eles, nem que inexistem outros mecanismos
reforçando o processo de fragmentação socioespacial. Deve-se salientar que
um hiato entre o acesso das pessoas aos espaços de consumo, principalmente,
os mais elitizados, e o consumo desses/nesses espaços pelas camadas
populares. Por tal fato, também é relevante verificarmos o modo como cada
sujeito se apropria das áreas centrais em Salvador, se é que se apropriam.
Finalmente, as mudanças ocorridas no sistema de circulação
corroboraram duas lógicas que, apesar de diferentes, eso articuladas. Por um
lado, foi fortalecida a produção de novas centralidades urbanas, expressas por
novos centros e/ou sub-centros, constituindo uma estrutura urbana diferente em
Salvador. Por outro, no que tange ao uso do solo e à dinâmica, foram alterados o
Centro Tradicional e os demais sub-centros, redefinindo as relações entre esses e
a cidade.
4.2 – Descentralização, (re)centralização e a expansão do tecido terciário
Um das conseqüências acarretadas na lógica da constituição da
centralidade, em Salvador, face às transformações na urbanização, foi a
descentralização/(re)centralização das atividades comerciais e de serviços. A
partir da década de 1980, a cidade passou a apresentar novas expressões de
centralidade urbana, demonstrando que nexos contemporâneos passaram a
influenciar a organização da estrutura urbana.
Atualmente, esse fato ganhou contornos mais definidos, o que revela
uma multinuclearidade, a nosso ver, porque essa prevaleceu sobre a lógica
pretérita, centro–periferia, por mais que essa última não tenha sido substituída
completamente. Não se pode esquecer que esse processo é dinâmico e
engendrado pelas modificações nas relações capitalistas de produção. Por isso,
como afirma Sposito (2004), que se pensar em estruturação/reestruturação,
pois o sufixo “ão” deve conter a idéia de movimento, no qual torna-se
imprescindível analisar a continuidade da dinâmica.
Soja (1993) argumenta que ocorreu uma mudança importante nas
investigações sobre a descentralização nas cidades. Para ele, um movimento
dialeticamente descentralizador e recentralizador, no qual, simultaneamente,
aparece a ascensão da cidade externa e o “renascimento dos centros
metropolitanos. Isso é importante, pois evita que tenhamos uma compreensão
equivocada da dinâmica de descentralização/(re)centralização. Als, a
concepção da metrópole desconcentrada, utilizada por Gottidiener (1996), pode
levar a uma errônea idéia de que essa nova expressão poli(multi)nuclear da
cidade indica um simples processo de desconcentração dos equipamentos e
fluxos, o que não é o entendimento do autor.
Percebe-se que esses movimentos devem ser analisados com maior
cuidado, pois possuem nova complexidade. O conceito de descentralização,
quando relacionado às novas expressões de centralidade urbana, deve
manifestar, sobretudo, a idéia de movimento, continuidade.
O aumento de número de áreas centrais produz duas dinâmicas
econômico-territoriais correlatas entre si: a da descentralização
territorial dos estabelecimentos comerciais e de serviços e a de
recentralização dessas atividades (SPOSITO, 2001b, p. 236).
Isso deve ser destacado, pois é notório que o deslocamento e o
surgimento de novos espaços e equipamentos de consumo contêm uma nova
lógica de concentração e centralização de capital, fluxos de investimentos e
pessoas, o que indica uma nova reconcentração e não uma distribuição aleatória
pela cidade. Nesse sentido, Sposito argumenta que,
[...] é preciso avaliar esta descentralizão, porque não revela
dispersão ou distribuição das atividades tradicionalmente centrais
pela cidade, mas, ao contrário, revelas formas de centralidade. Ao
negar a concepção de centro único e monopolizador, recria a
centralidade, multiplicando-a através da produção de novas
estruturas que permitem novas formas de monopólios, porque
(re)especializam e (re)espacializam as atividades comerciais e de
serviços, reproduzindo em outras áreas da cidade as condições e
qualidades centrais (SPOSITO, 1991b, p. 13).
Salientamos, ainda, que se faz necessário não recair em enfoques que
indiquem uma espontaneidade no processo de descentralização/(re)centralização
dos fluxos e equipamentos. É um movimento intencional, que indica um novo jogo
de interesses na produção dos espaços de consumo e revela facetas distintas dos
conflitos de classes, materializados nas novas expressões da centralidade.
A expansão territorial do comércio, principalmente na metrópole,
não se mais ao acaso, como “mancha de óleo”, mas criando um
novo lugar, um novo centro comercial “pensado”, porque está em
jogo a reprodução do grande capital (PINTAUDI, 1984, p. 42).
Todavia, o surgimento de novas áreas centrais não ocorreu apenas nas
metrópoles. Como salientamos outrora, nas últimas décadas, vem ocorrendo
também em cidades de médio porte. Tais cidades passaram a expressar a
continuidade do movimento de reprodução do capital, no âmbito do regime de
acumulação flexível iniciado na metrópole. A formação de novas áreas de
expressões da concentração de atividades comerciais e de serviços acirra as
disputas por consumidores e, por outro lado, reconstrói o papel que os centros
tradicionais desempenham. Essa dinâmica vem ganhando relevância nas
pesquisas na medida em que não concordância sobre a alteração do papel
exercido pelo centro antigo, como o principal, mesmo no caso das metrópoles.
Villaça (2001), analisando seis metrópoles brasileiras
328
, observa que
os centros tradicionais dessas áreas urbanas ainda são os principais, mesmo
sendo notória a reestruturação dos espaços intra-urbanos. O autor destaca que a
idéia da formação de um “novo centro” corresponde muito mais aos interesses
das classes dominantes.
Nas pesquisas sobre as cidades médias brasileiras, todavia, percebe-se
que essa realidade é inconteste, mesmo que seja tamm verosmil a redução
do poder que os centros tradicionais desempenham. Os centros das cidades
médias adquirem novas configurações e novos papéis urbanos (WHITACKER,
2003), sem deixar de ser a expressão maior da centralidade em tais cidades.
Ruiz, investigando Presidente Prudente, observa-se que:
[...] o centro passa a dividir sua centralidade com outras porções do
espaço urbano. Essa divisão se dá à medida que o centro não
catalisa mais, exclusivamente, todos os segmentos e consumidores
dessas cidades. Neste sentido, as contradições inerentes ao
espaço emergem, pois o centro pode estar próximo a importantes
equipamentos comerciais e de serviços como os shopping centers,
ou aa terem eles incorporados às suas áreas (RUIZ, 2004, p. 22-
23).
328
O estudo envolveu São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Porto Alegre.
Na análise das metrópoles, entretanto, a discussão sobre o papel dos
centros denota um fluxo intenso de capital, a instalação de uma rede de infra-
estrutura e a implantação de novos equipamentos urbanos que suscitam a
construção de mecanismos que possam avaliar a força exercida por cada área,
isso se se quer ressaltar, como observa Villaça (2001), aquela que desempenha
função como principal. Acreditamos que a análise deve levar em conta
mecanismos que sejam capazes de verificar, por um lado, o número, o volume e a
especialização dos equipamentos e os fluxos materiais, o que implica numa
investigação quantitativa do processo; por outro, a fonte do capital circulante, as
escalas do capital investido, o grau de valorização do solo urbano e o papel
simbólico, o que implica tamm numa análise qualitativa.
Em Salvador, a descentralização/(re)centralização ocorreu, em
princípio, a partir das ações do poder público. Buscava-se equacionar os
transtornos resultantes da concentração das atividades, gerando no imaginário
dos soteropolitanos a necessidade da criação de novas áreas que objetivavam
“descentralizar” o poder exercido pelo Centro Tradicional. Todavia, ocultavam-se
os interesses dos produtores do espaço urbano, dentre os quais, o próprio poder
público, através das terras públicas, e os proprietários fundiários, para a criação
de novos espaços destinados à ação dos detentores do capital imobiliário e
comercial, também sustentados pelo capital financeiro.
A estrutura urbana contemponea reflete as conseqüências desse
processo de descentralização/(re)centralização e revela como os conflitos entre
diversos interesses produzem os espaços centrais em Salvador. Há uma evidente
alteração na concentração das atividades comerciais e de serviços, se
compararmos com os dados da década de 1970
329
com o período atual (Figura
26).
329
Tabelas 14 e 15, no Capítulo II.
Naquele contexto, o centro antigo “monopolizava” o papel como
fornecedor de uma miríade de produtos e serviços. Todavia, desde a década de
1950 existiam outras expressões da centralidade espraiadas pelo tecido
urbano
330
. Os sub-centros da Calçada e Liberdade tinham fortalecido seu tecido
terciário, atraindo um fluxo significativo e demonstrando que a formação de novos
sub-centros não é um fenômeno contemporâneo, por mais que, atualmente,
conflitos e interesses distintos precisem ser destacados.
Hodiernamente, esse processo foi intensificado, revelando um profundo
movimento de descentralização/(re)centralizão do setor tercrio na cidade. O
Centro Tradicional ainda é a maior área em concentração de atividades terciárias,
pelo menos, em números de estabelecimentos. Todavia, o Vale do Camaragibe
possui um percentual maior de serviços especializados e que estão articulados a
um capital que não se restringe à escala local (Tabela 21).
O Governo do Estado já havia deslocado para outras áreas distantes do
centro antigo parte de seus serviços administrativos. Todavia, esses não ficaram
espraiados aleatoriamente no espaço urbano. Na realidade, constituíram um
centro especializado, o CAB, que reconcentrou o poder de decisão do Estado.
O centro formado no Vale do Camaragibe foi o que mais atraiu
estabelecimentos comerciais e de serviços, bem como capitais, dinâmica que foi
intensificada na década de 1980, através da introdução de outras empresas. No
caso da Av. Tancredo Neves, atualmente considerada como o centro financeiro
de Salvador, foram constrdos vários prédios destinados, exclusivamente, à
prestação de serviços, principalmente, empresariais.
Várias cadeias de lojas varejistas estão localizadas tanto nos centros
quanto em áreas periféricas, sejam pobres ou ricas. Pesquisando as que
dominam o setor de eletrodomésticos, em Salvador, as Lojas Insinuante,
Romelsa, Ricardo Eletro e Lojas Maias
331
, foi observado que, em todos os casos,
a estratégia adotada foi implantar as filiais em áreas consolidadas, tanto no
Centro Tradicional quanto na periferia, sendo a lógica seminal buscar espaços
que apresentem altos fluxos. Por outro lado, dialeticamente, essas cadeias lojistas
também reforçam a centralidade exercida pela área.
330
Santos (1959a) faz referência aos sub-centros da Calçada e Liberdade, todavia, sem
especificar que os mesmo não faziam parte do Centro Tradicional.
Tabela 21 – Salvador
Atividades terciárias nos principais centros e sub-centros, por área
central, tipo de atividade, valor total e percentual, 2007
Valores totais e percentuais
Comércio Serviços
Áreas centrais
Total (%) Total (%)
Total
Geral
(%)
1
Centros
Centro Tradicional 1921
63,27
1115
36,73
3036
25,37
Vale do Camaragibe 934
41,36
1324
58,64
2258
18,87
Sub-centros
Calçada 604
62,98
355
37,02
959
8,01
Itaigara 273
34,69
514
65,31
787
6,58
Manoel Dias da Silva 411
52,76
368
47,24
779
6,51
Barra 524
66,51
204
33,49
728
6,08
Liberdade 310
65,13
166
34,87
476
3,98
Itapuã 320
68,09
150
31,91
470
3,93
Brotas 268
63,81
152
36,19
420
3,51
Periperi 188
68,61
86
31,39
274
2,29
São Cristovão 112
51,38
106
48,62
218
1,82
Paripe 118
63,10
69
36,90
187
1,56
São Caetano 102
63,75
58
36,25
160
1,34
Largo do Tanque 62
46,97
70
53,03
132
1,10
Eixos
Vasco da Gama 126
40,51
185
59,49
311
2,60
Bonocô 75
45,45
90
54,55
165
1,38
Av. Sete Portas 79
50,32
68
43,31
157
1,31
Av. Barros Reis 46
32,39
96
67,61
142
1,19
Av. San Martin 106
76,26
33
23,74
139
1,16
Av. Dorival Caymmi 49
37,69
81
62,31
130
1,09
Av. Gen. Graça Lessa 6
15,38
33
84,62
39
0,33
Total
2
6.634
55,44
5.323
44,48
11.967
100,00
Fonte: Pesquisa de Campo, 2006 e 2007
Notas: 1 - Percentual sobre o volume total
2 - Total das áreas pesquisadas.
331
Dados coletados junto às empresas (2006)
A dinâmica da centralização, descentralização e (re)centralização (C–
D–R) das atividades terciárias em Salvador exprime três facetas distintas, porém
articuladas: - a descentralização/(re)centralização, pois certos estabelecimentos,
por interesses diversos, deixaram de funcionar no centro antigo em busca de
novos fatores locacionais; - a ampliação da cadeia comercial e da prestação de
serviços, quando uma empresa, mesmo não saindo do centro, instala uma nova
filial em outro centro ou sub-centro; e - o surgimento de novos equipamentos
comerciais e de serviços em outras áreas, quando a rede ou empresa instalada
nunca esteve presente no Centro Tradicional. De qualquer modo, todos os
processos influenciam no papel que o Centro Tradicional desempenha para a
atração de consumidores e de capital, o que implica em conseqüências na
reestruturação urbana e da cidade.
Apesar de ocorrer a descentralização/(re)centralização, que incide
numa perda de influência que o centro antigo exerce em relação a cidade, o
podemos considerar que, para o caso de Salvador, o Centro Tradicional passou a
ter segunda importância. Na realidade, esse é um primeiro indicativo de que essa
área vem competindo com outros espaços da cidade, não só na atração de
consumidores, mas também de investimentos e capitais. A implantação do
Shopping Piedade e do Shopping Center Lapa, no caso de ações privadas, e o
projeto de revalorização” comercial do Centro Histórico de Salvador, no caso de
investimentos públicos, são demonstrações claras que o Centro Tradicional é
atrativo financeira e comercialmente.
A saída de estabelecimentos e serviços do Centro Tradicional para
outras áreas da cidade ficou mais evidente nos espaços mais “nobres”, como o
deslocamento do Terminal Rodoviário, para o Vale do Camaragibe, e a
implantação do CAB, próximo à Av. Luiz Viana Filho, bem como de outros
serviços públicos, principalmente, os estaduais. O deslocamento dos centros de
decisão das grandes empresas foi o mais comum, dinâmica verificada na Av.
Tancredo Neves, como as empresas de aviação e imobiliárias, que fecharam
seus escritórios do centro antigo. Esse processo aparece, em alta escala, no
Itaigara e, de modo mais rarefeito, nos outros sub-centros e eixos especializados.
Empresas localizadas nas novas áreas centrais, especialmente as
comerciais, fecharam seus escritórios ou lojas no Centro Tradicional. Todavia, foi
mais evidente a ampliação da rede, que acarretou na instalação de novas filiais
em outros espaços da cidade. Esse processo ocorreu tanto no caso dos serviços
públicos, quanto dos estabelecimentos comerciais e de serviços privados. No
caso dos primeiros, a ampliação do número de SACs (Serviço de Atendimento ao
Cidadão), por exemplo, atividade ligada ao governo estadual, mas que tem
serviços do poder público municipal, fortaleceu vários centros e sub-centros.
Estão instalados na Liberdade e em Paripe, sub-centros localizados na parte
pobre da periferia; no Shopping Iguatemi e na Estação Iguatemi, ligados ao Vale
do Camaragibe, e no Shopping Barra, área mais elitizada. A rede bancária
pública, para o caso da Caixa Econômica Federal e para o Banco do Brasil, os
serviços dos Correios e as Casas Lotéricas, também são exemplos que apontam
esse processo. Em alguns dos serviços públicos notamos que determinadas
empresas foram instaladas nos shopping centers de bairro”. No caso dos
estabelecimentos privados, os bancos e as grandes cadeias lojistas são os
maiores exemplos dessa dinâmica, na medida em que estão instalados nos dois
centros, e várias filiais estão presentes em todos os sub-centros e eixos
especializados da cidade.
A implantação de novos equipamentos comerciais e de serviços, que
não existem no Centro Tradicional, em outras áreas, tamm foi freqüente,
envolvendo uma rede complexa de comerciantes e prestadores de serviços,
desde atividades informais a redes internacionais. No caso dos últimos, nos
shopping centers e, em geral, nas áreas elitizadas, esse processo é mais
freqüente. Em alguns casos, determinadas lojas, como a rede O Boticário,
inicialmente implantadas nos shopping centers, abriram filiais no Centro
Tradicional, revelando uma lógica contrária à que estamos analisando.
Notamos que o processo de C-D-R pode ser induzido pelo poder
público, interesses fundiários, capital financeiro público ou privado, capital
imobiliário e capital comercial, tamm atuando de modo articulado. Todavia, as
classes populares também atraem certos produtos e serviços para a periferia
pobre. Assim, a C-D-R revela um processo que é dialético, pois:
Ao mesmo tempo em que as ações mudaram a lógica de
constituição da centralidade urbana, provocando transformações na
estruturação da cidade, essa nova estrutura urbana suscita outras
ões e apresenta um nível de determinação no processo de
reestruturação;
A alteração nos fluxos de circulação na cidade provocou tensões
entre as áreas centrais que, por sua vez, (re)configuram a dinâmica
urbana, acarretando em mudanças nos próprios fluxos.
Além da descentralização/(re)centralizão do comércio e dos serviços,
evidenciamos outro fenômeno na localizão das atividades terciárias em
Salvador - a expansão do tecido terciário - resultante da terceirização,
terciarização e do fortalecimento do papel desempenhado pelo setores comerciais
e de serviços na sociedade atual.
O conceito de tecido terciário
332
o é utilizado, com freqüência, na
análise sobre a espacialização das atividades comerciais e de serviços, por mais
que seus atributos apareçam na pesquisa. Desse modo, entendemos que é
relevante pensar os elementos que constituem e definem esse tecido terciário,
contribuindo para compreender as características e os conteúdos das expressões
da centralidade urbana.
Em investigação sobre Leiria, em Portugal, um grupo de pesquisadores
utilizou a expressão tecido comercial
333
para analisar as peculiaridades do
comércio na mencionada cidade. O uso do termo foi empregado para demonstrar
as formas de espacializão do setor terciário e os elementos qualitativos que os
definem, por vezes, incluído os serviços. Aspectos como a composição setorial,
modernizão dos pontos de venda, formato dos estabelecimentos e as formas
de comercialização foram considerados para explicar a composição e a estrutura
do “tecido comercial”.
332
Carlos (2001) utiliza a expressão “mancha terciária” para delimitar os espaços que
circunscrevem as áreas centrais de São Paulo.
333
Câmara Municipal de Leiria; GECIC (2005).
No caso da nossa pesquisa, vamos utilizar o termo “tecido terciário”,
porque entendemos que abarca os elementos que constituem os espaços
comerciais e de serviços. Ademais, pautaremos as reflexões em duas dimensões:
uma quantitativa, que envolve o volume dos estabelecimentos, segmentado pelos
diversos setores das atividades; e outra qualitativa, que engloba as características
e as escalas do capital envolvido, bem como o grau de especialização da
atividade. O tecido terciário”, assim, é entendido como um elemento que faz
parte do tecido urbano que, por sua vez, é definido segundo as proposições de
Lefebvre (1991).
Em Salvador, o tecido terciário foi expandido e, paulatinamente, alterou
o modo como, ao longo da história, estava sendo caracterizado o uso do solo.
Tais mudanças começaram, ainda que de forma pouco expressiva, a partir da
metade do século XIX e, hoje, passaram a incorporar enormes parcelas da
cidade. Foi no Centro Tradicional que ocorreram primeiro e, nos dias atuais,
atingem as novas áreas comerciais e de serviços. As áreas centrais foram sendo
modificadas, substituindo aos poucos, mas não por completo, o uso residencial
pelo uso comercial e de serviços. Na metade do século XX, de forma evidente,
era possível observar o processo de expansão da área central nas maiores
metrópoles, atendendo às necessidades do consumo, o que se traduziu na
produção de novos estabelecimentos.
Sposito analisa o processo de expansão das áreas centrais como
correspondente, por um lado, à formação de eixos de expansão do centro. São
áreas para onde as atividades contidas no centro se deslocaram, apresentando a
mesma diversidade e incorporando os espaços pericentrais
334
. Constituem uma
contigüidade do centro principal. Por outro, aos desdobramentos da área central,
que são definidos como áreas não contíguas ao centro principal ou aos sub-
centros, caracterizadas pela localização de atividades tipicamente centrais, mas,
de forma especializada; ou seja, a um conjunto de atividades, não toda
diversidade do centro. Na maioria dos casos, para a autora, o desdobramento
visa um segmento social específico, portanto, tem também caráter segregador
(SPOSITO, 1991b).
334
Aqueles que margeiam o centro.
Os eixos de expansão da área central, bem como seus
desdobramentos, revelam o fortalecimento do papel que os centros tradicionais, a
partir de um dado momento do processo de estruturação urbana e da cidade,
passaram a desempenhar para a cidade, o que contraditoriamente, segundo
Alves (1999, p. 19), significou seu enfraquecimento. Para essa autora, foi a
própria expansão da centralidade que acarretou em seu empobrecimento, pela
perda de algumas atividades e funções para novos centros, criados para
funcionarem dentro da máxima racionalidade e produtividade.
No caso do Centro Tradicional de Salvador, a expansão do tecido
terciário evidencia o papel que, ao longo da história, esse espaço exerceu no
processo de reprodução da vida, seja como espo residencial, seja como lócus
do suprimento das necessidades de consumo. Esse centro era o polarizador
hegemônico da vida urbana, por isso, com base em Santos (1959a), era a
expressão máxima da própria cidade. Sua expansão atingiu uma expressão muito
forte e, atualmente, torna-se complexo delimitar, claramente, seu perímetro. Esse
processo ocorreu nas vertentes: norte, leste e sul (Figura 27).
No caso do norte, no Comércio, localizado na Cidade Baixa, o tecido
terciário estende-se ao longo das avenidas França, Estados Unidos e Jequitaia.
Na Cidade Alta, em função do processo de revalorização do Centro Histórico, foi
expandido até a Rua do Carmo. Nessa porção, nas áreas pericentrais, tanto na
parte alta quanto na baixa, o tecido terciário apresenta descontinuidade, ficando
mais rarefeita a presença de estabelecimentos comerciais e de serviços e mais
marcantes os espaços residenciais.
Na parte Sul, no Comércio, o tecido terciário circunscreve-se à Av.
Lafayete Coutinho, nas proximidades da Igreja de N. S. da Conceição e da
Ladeira da Preguiça. Na parte alta, o tecido terciário es bastante estendido,
porque vem substituindo os espaços residenciais por espaços comerciais e de
serviços. Ao longo da Av. Sete de Setembro e da Rua Forte de São Pedro, nas
proximidades do Campo Grande, e da Rua Politeama, nas Mercês, confunde-se
com áreas residenciais, por mais que ainda seja prevalente. Esse fato dificulta
precisarmos seus limites. No largo do Campo Grande e nas Mercês, altura da
Travessa Falcão, entretanto, inicia-se a descontinuidade do tecido tercrio.
Os espaços que circundam a porção leste, especialmente o setor
nordeste, foram os locais onde a expansão do tecido terciário foi mais premente.
No sudeste, imediações da Piedade, a expansão foi menor, não ultrapassando a
praça homônima, nem os Barris, quando começa a descontinuidade; no sentido
leste, também foi estendido, em função da construção da Estação da Lapa e dos
shopping centers Piedade e Lapa, todavia, sem se descolar muito desses
equipamentos urbanos; na parte nordeste, entretanto, face à construção das
avenidas de vale e do processo de revalorizão do Centro Histórico, ocorreu o
surgimento de novos estabelecimentos comerciais e de serviços, que funcionaram
como liames, unindo o tecido terciário da área central aos espaços que envolvem
a Rua Joaquim José Seabra (Barroquinha e Baixa dos Sapateiros), estendendo-
se até as Sete Portas, e a Av. Joana Angélica, no sentido Nazaré, compondo uma
grande mancha terciária. Nessa porção, o tecido terciário torna-se descontínuo,
nas áreas de baixadas, num pequeno trecho da Rua Cônego Ferreira, as a
Rodoviária Velha, e no icio da Av. Mário Leal Ferreira; e, nas áreas de
cumeadas, nas ladeiras de acesso ao Barbalho, Saúde e Matatu de Brotas, bem
como após o Largo do Campo de Pólvora, na Av. Joana Angélica.
Os velhos sub-centros também passaram por um forte processo de
expansão do tecido terciário (Figura 27). No caso da Calçada, esse fenômeno foi
mais intenso, ampliando a área que, atualmente, circunscreve o perímetro do sub-
centro, quando se compara com a área mapeada por Santos (1959a). Na porção
sudeste, atacadistas e motéis vêm estendendo o tecido terciário, ocupando uma
parte da Rua Nilo Peçanha; no sentido norte, esticou-se em direção ao Largo de
Roma, nas ruas Barão de Cotegipe e Fernandes da Cunha, quando passa a ser
descontínuo. No nordeste, a expansão foi mais contundente, evidenciando a
substituição do uso residencial pelo terciário nos cômodos térreos das moradias.
No caso da Liberdade, na porção Sul, a inauguração do shopping
homônimo atraiu novos comerciantes e prestadores de serviços em sua direção,
estendendo o tecido terciário; no sentido norte, apresenta pequena ampliação em
direção ao Largo do Tanque. Todavia, para ambos os casos, essa expansão
ainda desenvolve-se sob forte descontinuidade (Figura 27).
Nas últimas décadas, as áreas centrais recentes tamm passam por
esse processo, reforçando as transformações que ocorrem na estrutura urbana.
No Vale do Camaragibe, esse fenômeno é mais contundente, materializando uma
área cujo tecido terciário apresenta uma alta contigüidade espacial. Tal
crescimento ocorreu de modo acelerado e, a partir da década de 1980,
transformou parcelas dos espaços, rurais até a década de 1960, numa das áreas
mais valorizadas da cidade. Com a construção de sucessivos centros
empresariais, bem como grandes estabelecimentos comerciais nos sentidos sul,
nordeste e noroeste, o tecido terciário estendeu-se, consolidando a formação do
novo centro da cidade. Atualmente, é uma área que apresenta forte dinâmica
imobiliária (Figura 28).
No sentido Sul, estende-se até a proximidade da Av. Juracy Magalhães
nior, onde apresenta pequena descontinuidade; no sentido noroeste, algumas
concessionárias de veículos e supermercados reforçam sua expansão até as
proximidades do Acesso Norte e da Av. Mário Leal Ferreira; e, no sentido
nordeste, cuja dinâmica é mais intensa, o tecido terciário adentra-se pelos metros
iniciais das avenidas Luiz Viana Filho e Magalhães Neto, e das ruas Manoel
Ribeiro, Edísio Pondé e José Peroba, até ficar descontínuo. Tamm, expande-se
para as ruas que ligam o bairro Caminho das Árvores à Av. Tancredo Neves.
Nesse local, contudo, ainda é bastante descontínuo, pois está mesclado com o
uso residencial.
No Itaigara e na Barra, sub-centros localizados nas áreas mais
elitizadas, a expansão do tecido terciário ocorreu de modo veloz, se confrontada
com os da parte pobre. Em ambos os casos, foi favorecida pela implantação dos
shopping centers homônimos, bem como de outros centros comerciais e
empresariais, fenômeno mais intenso no Itaigara. Na Av. Manoel Dias da Silva,
deveu-se ao fato de fazer parte de uma área altamente elitizada e que recebeu
muitos investimentos em infra-estrutura, por parte do poder blico, fatos que
resultaram em uma fragmentação socioespacial (Figura 29).
No caso da Barra, a implantação do shopping center, no final da década
de 1980, deslocou, um pouco, o núcleo comercial para os seus arredores, que
as atividades eram mais concentradas nas proximidades do Farol da Barra,
criando no interstício entre essas duas áreas um tecido terciário descontínuo, que
mescla o uso residencial com atividades comerciais e de serviços (Figura 29). No
caso de Brotas, que não está localizado numa área elitizada, o próprio tecido
terciário que constitui o sub-centro é bastante descontínuo ao longo da Av. D.
João VI (Figura 30).
Nos demais sub-centros localizados na parte pobre da periferia de
Salvador a dinâmica da expansão do tecido terciário ocorreu com menor
intensidade, mesmo sendo verossímil em todos os casos (Figura 30). Em Itapuã,
a expansão foi mais intensa, ainda que o sub-centro, mais recente em
comparação à Calçada e à Liberdade, não seja o que apresenta maior dinâmica
dentre os mais populares (Figura 31).
Além dos centros e sub-centros, os eixos especializados,
principalmente os constituídos nas “avenidas de fundo de vale”, também
passaram por um processo de expansão, sobrelevando sua dinâmica. Nos casos
da Av. Vasco da Gama, AV. Garibald e Av. Mário Leal Ferreira, o fato de
funcionarem como corredores viários favorece esse fenômeno, pois tais vias
articulam os dois centros da cidade; nos da Av. Barros Reis e da San Martins,
creditamos o fato às suas articulações com a BR-324, a Calçada e o Vale do
Camaragibe.
A especialização e a expansão ocorreram de modo concomitante
nessas avenidas e nos demais centros e no sub-centro da Calçada, desvelando-
se, por outro lado, como um produto da própria expansão do tecido terciário e do
tecido urbano, bem como do aumento demográfico. É importante ressalvar que
registramos apenas um momento na expansão do tecido terciário de Salvador,
ocorrido nos últimos 25 anos. Isso comprova que a estrutura urbana, registro de
um momento específico do processo de urbanizão, contém em si uma dinâmica
que sugere constantes e contínuos movimentos de transformações.
Com base nessas reflexões sobre as mudanças ocorridas nas áreas
centrais de Salvador, observamos que tanto o processo de C-D-R, quanto à
expansão do tecido terciário devem ser analisados, também, como um produto e
uma condição da própria transformação da sociedade; ou seja, são
materializações decorrentes da ação de agentes ligados à reestruturação urbana,
também influenciada pela reestruturação produtiva.
No que tange aos primeiros, os nexos que implicam novas dinâmicas
no movimento de C-D-R e na expansão do tecido terciário urbano denotam uma
forte expansão do papel que os setores comerciais e de serviços adquiriram no
período atual do capitalismo.
Ademais, o podemos dissociar a terciarização da economia
soteropolitana, materializada nessas novas áreas centrais: - do processo de
terceirização econômica, que ampliou o número de pequenas empresas, muitas
das quais baseadas em relações informais; - da desregulamentação do mercado
de trabalho e da redução relativa do emprego industrial, que estimulam a criação
de pequenos estabelecimentos autônomos, alguns utilizando trabalho familiar; -
da criação de novos componentes técnicos, que suscitam a implantação de
pequenas empresas prestadoras de serviços, suprindo uma miríade de
equipamentos técnicos e suporte às tecnologias contemporâneas; - da
centralização do capital comercial, que garante às grandes empresas a ampliação
de suas filiais, favorecendo a reprodução ampliada do capital investido; - de
mudanças no consumo, fundamentadas pela redução da vida útil dos produtos; e
- da expansão de pequenas empresas, ambulantes e trabalhadores informais.
Sobre a reprodução do capital comercial, financeiro e imobiliário, além
dos elementos supramencionados, associados à própria terciarização da
economia, a formação de novas áreas centrais e expansão do centro e sub-
centros mantém uma divisão territorial, social e técnica do trabalho, no âmbito
intra-urbano, redefinindo constantemente o modo como o uso do solo organiza-
se. Todavia, os incorporadores imobiliários, as construtoras e os proprietários
fundiários têm papel premente em todo o processo, porque criam e recriam os
espaços urbanos conforme os seus auscios. Estão quase sempre aliados aos
capitais financeiro e comercial, e suas ações possuem a aquiescência do poder
público.
4.3 – A centralidade urbana e os novos usos do solo
Em Salvador, observamos uma rede complexa de atividades que se
articula constituindo o tecido terciário de cada centro ou sub-centro. Nada
obstante, cada um desses torna-se um produto do mosaico formado pelos
estabelecimentos comerciais e de serviços, que variam segundo:
O tipo de produto ou serviço oferecido características do produto ou
serviço, podendo ser do ramo vestuário, calçadista, supermercado,
serviçosblicos, financeiros etc.;
A escala do capital investido – origem do capital e/ou investimento,
podendo ter com base em capital local, nacional, internacional, ou num
arranjo de duas ou mais escalas de capital;
O Grau de Especializão da Atividade Terciária (GEat
335
)
especificidades de cada atividade, variando entre o alto conhecimento
técnico, como serviços médicos especializados, ou o baixo conhecimento
técnico, como bares, pequenas oficinas automotivas, postos de gasolinas
etc.;
O nível de especialização territorial associado à materialização de um
ramo especifico das atividades terciárias em determinadas vias dos
centros e sub-centros. Nesse caso, variam entre vias com tecido terciário
contínuo e especializado territorialmente ou áreas com tecido terciário
contínuo e diversificado.
Com base nesses elementos, analisamos as características atuais do
tecido terciário de Salvador, detalhando o Centro Tradicional e o Vale do
Camaragibe. No caso dos sub-centros e dos eixos de especializão,
estabelecemos as reflexões através de analogias.
O Centro Tradicional de Salvador possui uma forte simbologia, pois tem
mais de 450 anos de história. Caracteriza-se menos pela existência de espos
funcionalmente especializados, por mais que esses existam, que pela
multiplicidade e diversidade de usos e de estabelecimentos. Em geral,
predominam atividades que não demandam alto conhecimento técnico e
estabelecimentos voltados para os bens de consumo mais imediatos, como
vestuário, setor calçadista, livrarias, dentre outros (Figura 32), sendo o GEat
dessa área comercial, 0,517 (Tabela 22).
Tabela 22 – Salvador
Grau de Especialização das Atividades Terciárias (GEat)
1
,
por áreas centrais, valor total e tipo de atividade, 2007
Valores totais e percentuais
Atividades terciárias
Áreas centrais
Não-especializadas
Total GEat
Centros
Centro Tradicional
1.467
3.036
0,517
Vale do Camaragibe
57
2.258
0,975
Sub-centros
Calçada
662
959
0,310
Liberdade
350
476
0,265
Largo do Tanque
123
132
0,068
São Caetano
136
160
0,150
Paripe
175
187
0,064
Periperi
238
274
0,131
Itaigara
8
787
0,990
Barra
181
728
0,751
Manoel Dias da Silva
133
779
0,829
Itapuã
379
470
0,194
São Cristovão
106
218
0,514
Brotas
153
420
0,636
Fonte: Pesquisa de Campo, 2006 e 2007
Notas: 1 – Indicador desenvolvido durante a pesquisa.
Varia entre 0, para as áreas menos especializadas
tecnicamente, e 1, para as áreas mais especializadas.
Detalhes sobre a metodologia em Apêndice I.
335
Índice utilizado para calcular o grau de especialização das atividades terciárias. Detalhes em
Apêndice I.
Todavia, também são observadas importantes redes comerciais e de
serviços, materializando no Centro Tradicional interesses que articulam o
pequeno comerciante aos capitais nacionais e internacionais. Esse aspecto
mostra como os espaços urbanos, no processo de produção, constituem uma
condição para a reprodução dessa nova lógica adotada pelo sistema capitalista,
segundo a qual a terceirização alia capitais de escalas distintas, reproduzindo-se,
igualmente, de modos distintos. Dentre essas redes, espraiam-se por todo o
tecido terciário as grandes cadeias que dominam o ramo de eletrodomésticos,
muitas das quais mantêm, na área, suas lojas matrizes, bem como várias filiais.
O setor financeiro continua fortemente concentrado nessa área, por
mais que tenha ocorrido um rearranjo na concentração bancária de Salvador.
Contido nesse conjunto, outra atividade que cresceu, a partir da década de 1990,
es ligada ao crédito a curto e médio prazo, destinada a classes distintas. Atesta,
por um lado, o papel que o capital financeiro passou a exercer no regime de
acumulação flexível, marcando o movimento de financeirizão da economia; por
outro, que tal processo ganha expressão material no espaço urbano, sendo a
cidade seu lócus principal (Foto 19).
Foto 19: Centro Tradicional, concentração de atividades
financeiras e de crédito em Salvador, 2007.
Foto:
Eduardo Brandão
Na Cidade Baixa, especificamente no Comércio, ocorre alta
concentração de estabelecimentos voltados para o setor bancário, bem como
ligados ao serviço de crédito financeiro pessoal. Todavia, o comércio varejista
ainda é muito forte nas áreas rreas dos prédios, cuja qualidade infra-estrutural
reflete as marcas do tempo. As estruturas herdadas aparecem como atrito, e as
rugosidades (Santos, 1990a) evidenciam as áreas cujo comércio e a prestação de
serviços está mais decadente. Vários prédios localizados no Comércio estão
ocupados com a prestação de serviços associados à assistência jurídica,
tabelionatos, dentre outros. Todavia, em locais como a Praça Cairu, Ladeira da
Preguiça e Rua Santos Dumont, ainda reside uma população pobre, em
condições infra-estruturais precárias. Contudo, a implantação de três
universidades privadas e a reforma de antigos prédios abandonados, destinados
a realização de shows particulares e inseridos na proposta de revalorizão do
Comércio, acarretaram uma nova dinâmica na área. Isso demonstra que as
rugosidades também podem aparecer como resistência e como revalorização,
sempre envoltas na teia de interesses capitalistas.
No Comércio, pequenas especializações territoriais das atividades
na Rua Santo Dumont e Rua Corpo Santo, entre a Praça Cairu e o Plano
Inclinado, concentrando lojas que comercializam produtos esportivos, com base
em capital local. A área entre a Praça Cairu e a Ladeira da Preguiça, que passou
por mudanças durante o processo de revalorização do Centro Histórico, vem se
desvalorizando, especialmente uma parte da Rua Conceição da Praia e da Rua
Manoel Vitorino, próximas à Ladeira da Preguiça, especializadas em lojas de
materiais de construção, sem a presença de filiais de grandes cadeias lojistas. Os
arredores do Mercado Modelo ainda apresentam alta dinâmica, especialmente,
em função do consumo associado ao turismo, e face a articulação existente entre
o Elevador Lacerda e a Praça Municipal, pois próximos a essa última ainda estão
concentrados servos, principalmente, os públicos municipais.
A construção da Marina da Penha e de outros empreendimentos no
início da Av Lafayete Coutinho revela a segregação funcional de base sócio-
econômica existente na Cidade Baixa. Trata-se de uma área onde foram
implantados serviços destinados às classes médias e altas, estando alheia à
deterioração pela qual passa o Comércio.
Na Cidade Alta, o processo de revitalização do Centro Histórico criou
um espaço funcionalmente especializado, envolvendo serviços com base em
investimento local, em sua grande maioria, mas que também incluem capital
nacional e internacional, como a Joalheria Castros e vários pequenos hotéis. Tais
atividades mantiveram as formas e estruturas herdadas, adequando-as às novas
funções. Os estabelecimentos comerciais e de serviços implantados no
Pelourinho, durante ascadas de 1980 e 1990, substituíram grande parte do uso
residencial pelo uso terciário, originando um shopping center a céu aberto, voltado
ao entretenimento, sem deixar de reproduzir as desigualdades sociais, nem
manter instrumentos de fragmentação socioespacial (Fotos 20 e 21). O próprio
projeto de revalorização, analisado por Braga (2000) como um processo de
requalificação, levantou sérias imbricações, do ponto de vista social, econômico e
político, fortalecendo a segregação socioespacial na cidade.
Nos arredores da Rua Chile e da Praça Municipal, mesmo que
dispersa, existe uma área funcionalmente especializada, associada os serviços
públicos municipal, federal e estadual, mas que também possui estabelecimentos
bancários e redes comerciais. A maior parte, todavia, é constituída por
estabelecimentos sem especialização técnica, composta por bares, pequenos
restaurantes e outros serviços. A Rua Chile foi outrora local de circulação e
consumo da elite soteropolitana, todavia, mais de um século perdeu esse
status, aspecto discutido por Santos (1959a).
Fotos 20 e 21: Centro Histórico, constituição de um shopping center a céu aberto em Salvador,
que mantém a fragmentação socioespacial, 2007
Fotos: Janio Santos
O eixo que vai da Praça Castro Alves às proximidades do Largo do
Campo Grande, principalmente, as áreas da Av. Sete de Setembro e, em menor
proporção, a Rua Carlos Gomes, é o que possui maior dinâmica no Centro
Tradicional (Foto 22). Apresenta uma multiplicidade de usos ligados ao setor
terciário, ou seja, baixa especialização funcional; alta concentração de filiais das
cadeias lojistas de Salvador; comércio varejista bastante diversificado; e filiais dos
mais importantes bancos. Majoritariamente, dominam a área térrea dos prédios.
Nesse mesmo local, vários centros comerciais e empresariais e galerias estão
funcionando, e, em geral, coexistem com prédios cujos andares superiores o
destinados ao uso residencial.
Foto 22: Av. Sete de Setembro, área que
apresenta maior dinâmica no Centro
Tradicional, 2007
Foto: Janio Santos
A instalação do Shopping Piedade e do Center Lapa, articulados à
Estação da Lapa, indubitavelmente, contribuiu para que essa área mantivesse a
maior dinâmica no Centro Tradicional e atraiu pequenos estabelecimentos que
ocupam os arredores dos shopping centers e do terminal de transporte coletivo.
Por outro lado, valorizou o solo urbano, aspecto a ser discutido no próximo
capítulo. Essa instalação favoreceu a expansão que ocorreu na Av. Joana
Angélica, sentido Fórum Ruy Barbosa, onde notamos pequena especialização
funcional, já que estão concentradas algumas livrarias, com base em capital local.
Integrada à Cidade Alta, através das ladeiras que saem do Pelourinho,
da Praça Municipal, da Praça Castro Alves, bem como da Rua Paraíso, a Av.
José Joaquim Seabra (Barroquinha e Baixa dos Sapateiros) mantém um tecido
terciário ligado ao comércio varejista, destacando-se o setor vestuário. Trata-se
de um eixo ocupado por atividades comerciais e de serviços voltadas às camadas
populares e que vem passando por um forte processo de declínio, se comparado
a períodos anteriores.
A implantação do Shopping Baixa dos Sapateiros, no início da cada
de 1980, foi uma estratégia imobiliária que, teoricamente, objetivou o aumento da
dinâmica na área. Todavia, não demonstrou bons resultados, pois o próprio
shopping passa por uma séria crise. A área também é ocupada por inúmeras
redes comerciais, principalmente, associadas ao setor de eletrodoméstico, bem
por agências bancárias e serviços financeiros de empréstimos e/ou créditos
pessoais, o que registra a presença de investimentos de outras escalas
associados ao consumo das classes mais populares.
Ainda na Av. José Joaquim Seabra, após o Terminal Aquidabã, local
denominado como Sete Portas, é mantido um amplo e diversificado setor
terciário, com baixa especialização técnica, mas que possui considerável
dinâmica. Entretanto, foi bastante reduzida, se comparada à década de 1960,
período em que, no local, ainda funcionava a “Rodoviária Velha”. Essa dinâmica
segundo os administradores, favoreceu à implantação dos pequenos shopping
centers Aquidabã e Sete Portas. O último é composto por estabelecimentos
comerciais e de serviços especializados no setor automotivo. Contudo, as
expectativas criadas pelos empresários não vêm sendo atingidas, os shopping
centers estão passando por sérias dificuldades.
Outro elemento importante para discutirmos o atual papel do Centro
Tradicional é a distribuição de cinemas pela cidade. Todos os antigos cinemas
existentes perderam suas funções, um processo iniciado no final de 1970, que
ganhou expressividade entre as décadas de 1980 e 1990. Nesse último período,
notoriamente, ocorreu uma profunda crise na atividade, influenciando a
constituição de uma nova lógica de localização dos cinemas, o que fez com que o
Centro Tradicional perdesse quase que completamente o seu papel como
referência para a atividade.
Por outro lado, surgiram outras áreas que inseriram na sociedade uma
nova concepção de espaços cinematográficos e romperam a simbologia com os
cinemas tradicionais. Os empreendedores dos shopping centers tiveram papel
seminal nessas mudanças, pois o aumento no número desses estabelecimentos
ocorreu em proporção inversa ao de cinemas localizados fora dos shopping
centers, principalmente, no Centro Tradicional. A inauguração do Shopping
Center Iguatemi marcou o início desse processo, ainda na década de 1970.
Todavia, como mencionamos alhures, só ganhou notoriedade quando esse novo
modelo de cinema, reificado pelo sistema de ltiplas salas e que tem como
referência o shopping, prevaleceu sobre o anterior.
No final da década de 1990, os antigos cinemas tinham entrado num
processo de desgaste, revelando um completo abandono. As decorrências desse
problema foram três: - alguns cinemas passaram a funcionar como espaços para
exibição de filmes pornográficos, mudando seu público alvo e entrando em
decnio, como os casos do Tupi e Jandaia; outros faliram, como o Excelcior e o
Bahia. Em geral, tais estruturas adquiriram novas funções, a partir de reformas
superficiais, passando a ser arrendados ou comprados por igrejas evangélicas.
Um dos últimos a entrar em falência, o Glauber Rocha, vem passando
por um processo de revalorizão, financiado pelo Grupo Unibanco, que propõe
promover a exibição de filmes culturais. Aliás, esse foi o mecanismo que manteve
em funcionamento os poucos cinemas existentes no Centro Tradicional
localizados fora dos shopping centers.
Atualmente, a gica espacial dos cinemas reflete as conseqüências do
processo de reestruturação urbana, pois está assentado num modelo de
multinucleação dos espaços de exibição, fortemente concentrados fora do Centro
Tradicional. Por outro lado, torna-se um nível de determinação dessa nova lógica,
pois reforça uma centralidade que não tem como referência o centro antigo
(Figura 33). É imprescindível discutir essas transformões pensando na
introdução do capital internacional na indústria da exibição cinematográfica, pois,
segundo Cesário (2007), vivemos um período marcado pela transnacionalização
dessa atividade. Segundo a autora, tal processo acarretou num domínio das
empresas internacionais na indústria cinematográfica brasileira. Assim, o que
ocorre em Salvador é uma expressão de um fenômeno mundial, calcado em
interesses financeiros materializados localmente.
Em todas as áreas do Centro Tradicional, um extenso e sólido comércio
informal apropria-se das calçadas e disputa os consumidores com os lojistas,
recriando e dinamizando, constantemente, o tecido terciário, apesar das tentativas
do poder blico municipal de, funcionalmente, disciplinar” a atividade. Vários
tipos de produtos e serviços são comercializados, principalmente, os de origem
“importada”. Nesse centro, como o controle do espaço é relativamente menor, o
comércio informal ocupa as calçadas das avenidas principais, até mesmo as
imediatas ao Shopping Piedade e ao Center Lapa.
Nessa área central, as rugosidades evidenciam uma teia de relações
que influencia o modo como o uso do solo urbano es organizado. Como
mencionamos, no caso de Salvador, tais rugosidades funcionam de modo
diferente, dependendo dos interesses subjacentes. Assim, podem atuar como:
Atrito nesse caso, dificulta o desenvolvimento de certas atividades
e interesses econômicos, principalmente porque a estrutura viária é mais
estreita, reduzindo o fluxo, e os prédios apresentam limites funcionais.
São aspectos associados, obviamente, ao desinteresse do poder público
e da iniciativa privada, pois quando tais áreas são objetos de valorização
por interesse de algum agente, a estrutura é modificada. Alguns prédios
encontrados nas áreas mais antigas do Comércio são exemplos
representativos;
Resistência Em geral, como fazem parte de conjunto arquitetônico
culturalmente valorizado, sempre envolto por interesses privados, as
rugosidades não permitem demolições ou descaracterizações intensas
do acervo arquitetônico e urbanístico, de certa maneira, resistindo à
substituição por estruturas contemporâneas. Como exemplo, no
Pelourinho, o Governo Estadual construiu habitações para servidores
públicos, a partir da reforma de alguns antigos casarões. Entretanto,
segundo uma moradora do local
336
, não é permitida a alteração da
fachada;
Revalorização Quando, por interesses diversos, tais espaços são
reincorporados à vida urbana, mantendo a mesma forma, e adquirindo
novas funções. Todavia, em alguns casos, tanto a forma quanto a função
o conservadas, realizando-se apenas reformas superficiais. O
Pelourinho e o Comércio são exemplos expressivos desse caso.
No caso do Vale do Camaragibe, o processo de estruturação envolveu
um conjunto de interesses públicos e privados, que objetivavam tanto
descentralizar/(re)centralizar a atividade terciária na cidade, quanto produzir e
valorizar espaços em prol dos interesses do capital imobiliário, articulado aos
capitais comercial e financeiro, ainda no final da cada de 1960. Foi um espaço
infra-estruturado com base em ações e interesses do poder público municipal e
estadual, envolvidos no Projeto Pituba, articulado com a iniciativa privada. A
disposição do uso do solo revela máxima racionalidade na conversão do espaço
urbano em mercadoria.
Por mais que outros equipamentos tenham sido importantes, a
construção do Shopping Center Iguatemi foi seminal para a redefinição da
centralidade na cidade, bem como para a própria consolidação do novo centro,
porque esse funcionou, por um lado, como instrumento de atração de outros
grandes empreendimentos; e, por outro, contribuiu para valorizar o solo, pois foi
favorecido por um montante significativo de investimentos públicos em infra-
estrutura. Comumente, essa área central leva o nome do próprio shopping,
336
Entrevista durante a Pesquisa de Campo, 2006
revelando o importante papel que o Shopping Center Iguatemi exerce, tamm,
como um elemento simbólico (Figura 34).
No novo centro estão localizados grandes empreendimentos comerciais
e de serviços, prevalecendo os estabelecimentos que demandam maior
investimento de capital. A Av. Tancredo Neves tornou-se a maior expressão
desse processo, pois é onde estão localizadas as mais importantes empresas,
também chamada como “a Avenida Paulista de Salvador
337
”, em analogia ao caso
de São Paulo. Tal avenida concentra um conjunto de empreendimentos
imobiliários voltados para a prestação de serviços e comercialização de produtos
destinados, majoritariamente, para um público mais sofisticado. Entre esses
equipamentos, destacam-se o Salvador Trade Center, a Casa do Comércio e o
pequeno Shopping Sumaré (Fotos 23 e 24).
337
Correio da Bahia (29.03.2007)
Fotos 23 e 24: Vale do Camaragibe, Av. Tancredo Neves,
concentração de grandes empreendimentos terciários, 2007
Foto
s
:
Janio Santos
A inauguração do Salvador Shopping foi outro fator importante que
fortaleceu a centralidade exercida pela área. Além de inúmeras mudanças na
estrutura viária, esse shopping elevou a valorizão do solo no local, aspecto a
ser discutido no próximo capítulo. Por outro lado, está inserido num conjunto
amplo de novos empreendimentos imobiliários, residenciais, comerciais e de
serviços, que, certamente, trarão conseqüências para o Vale do Camaragibe.
A partir da cada de 1980, foram atraídas para os arredores do
Shopping Iguatemi importantes filiais de redes comerciais varejistas, constituindo,
atualmente, expressões materiais do processo de reprodução do capital comercial
internacional, como o Hipermercado Bom Preço, da Wal-Mart; um supermercado
e um hipermercado Gbarbosa, capital internacional; o Atakarejo, de capital local; o
Makro Atacadista, a primeira grande rede atacadista instalada na cidade, com
capital internacional; e, recentemente, o Sam’s Club, rede atacadista, tamm
pertencente à Wal-Mart. Outras redes menores, ligadas ao setor de construção,
também estão presentes, como a TendTudo e a Comercial Ramos (Foto 25).
Nas áreas próximas ao Shopping Center Iguatemi, ocorre uma pequena
concentração de concessionárias de vculos de alto padrão, junto com outros
serviços públicos, como o DETRAN/BA e o Terminal Rodoviário de Salvador. A
construção da imponente Catedral da Igreja Universal do Reino de Deus, na
década de 1990, provocou a atração de novos fluxos de pessoas de vários bairros
de Salvador (Foto 26).
Na Av. Antonio Carlos Magalhães, sentido Av. Juracy Magalhães
Junior, outro conjunto de empreendimentos imobiliários ocupa a maior parte do
uso terciário, formado por centros empresariais, comerciais e de serviços com
elevado padrão de sofisticação. Nesses, estão instaladas algumas filiais
bancárias. Está em processo de construção um grande prédio comercial e de
serviços ao lado do Sam’s Clube, o Empresarial São Tomé, que faz parte de um
grande conjunto imobiliário que deverá conter, além desse, outro prédio comercial
e alguns residenciais.
No Vale do Camaragibe, como os grandes e luxuosos equipamentos
o prevalentes, bem como demandam maior especialização técnica, o GEat é
elevado, atingindo 0,975, o segundo maior índice registrado em Salvador.
Todavia, nem todas as atividades localizadas no Vale do Camaragibe
o expressões da “hipermodernidade”, termo utilizado por Moraes (2006). Para o
autor, fazendo referência a São Paulo, não devem iludir quanto aos traços mais
marcantes da ambivalência dominante: os circuitos inferiores são mais extensos e
numerosos” (MORAES, 2006, p. 27). No novo centro também há
estabelecimentos comerciais e de serviços associados aos setores terciários
pouco especializados tecnicamente e com capital local (Foto 27). A maioria, na
verdade, é constituída por prestadores de servos pouco formalizados,
localizados nas proximidades da Rodoviária, onde se apresenta uma pequena
especialização funcional, concentrando-se algumas oficinas, ainda que
prevalecendo o uso diversificado; e nas ruas que dão acesso à Av. Antônio Carlos
Magalhães, tanto no sentido da Av. Juracy Magalhães Júnior, quanto do Acesso
norte, apresentando-se bastante disperso e sem especialização funcional.
Foto 25 e 26: Vale do Camaragibe, Av. Antônio Carlos
Magalhães, outros equipamentos urbanos, 2007.
Fotos: Janio Santos
Imbricado no tecido tercrio, tamm está presente um pequeno
comércio informal, que se distribui por toda a extensão do Vale do Camaragibe.
Oferta uma miríade de produtos e serviços, prevalecendo osimportados” e
aqueles que atendem às necessidades mais imediatas dos transeuntes. Em geral,
ocupam as calçadas, as passarelas, pontos de ônibus e os terminais urbanos,
excetuando-se as áreas imediatas ao Shopping Center Iguatemi e ao Salvador
Shopping, pois nesses, diferentemente dos localizados no Centro Tradicional, o
controle do espaço é maior, impedindo que os vendedores ambulantes disputem
os seus consumidores.
Essa nova expressão da centralidade demonstra como as metrópoles
regionais vêm sofrendo um processo de (re)concentração do capital. Por outro
lado, como o espaço cria tessituras que são condição sine qua non para a
reprodução do capital imobiliário, aliado ao financeiro e comercial. No caso da
primeira aliança, vários empreendimentos são financiados por bancos que
auferem altas taxas de juros para a sua comercialização; no segundo, a
construção de empreendimentos como o Salvador Shopping e o Salvador Trade
Center desvelam o modo como esse capital vem ampliando sua concentração,
aliado a investimentos que estão para além da escala do lugar. Essas iniciativas
revelam uma produção do espaço fundamentada por uma máxima racionalidade
no retorno do lucro.
Foto 27: Vale do Camaragibe, Av. Tancredo Neves, nem
tudo é “hipermodernidade”, 2007
Foto: Janio Santos
Todavia, não são exclusivamente os centros que servem como lócus
para a reprodução do capital comercial. Os sub-centros, mesmo em menor
expressão, também se tornaram alicerces desse processo, principalmente, os
localizados nas áreas mais elitizadas, contribuindo para reforçar a segregação e a
fragmentação socioespaciais. Isso ocorre porque, nas últimas décadas, o uso do
solo nesses sub-centros foram alterados e, sob certo aspecto, fortaleceu seus
papéis como provedores de produtos e serviços. Ao mesmo tempo em que
suprem tais necessidades, reproduzem interesses comerciais e a cidade desigual,
racionalizada, compartimentada entre os lugares de consumo dos pobres e dos
ricos.
A Calçada, o mais antigo sub-centro formado em Salvador, passou por
uma forte expansão, nos últimos vinte anos, causando profundas mudanças no
uso do solo. Na área, são majoritárias as atividades comerciais e de serviços que
possuem baixo nível de especialização técnica, bem como capital de origem local,
predominando os ramos vestiário, calçadista e pequenos bares. Por isso, seu
GEat é baixo, 0,310. Entretanto, em seu cleo mais antigo e consolidado,
localizado entre as ruas Barão de Cotegipe e Fernandes da Cunha, verificamos
cadeias de empresas ligadas ao ramo de móveis e eletrodomésticos e filiais
bancárias, revelando que a periferia pobre também atrai um capital que o é de
origem local (Foto 28).
Foto 28: Calçada, presença de empresas cujo capital não é
de origem local, 2007.
Foto: Janio Santos
A conseqüência do fortalecimento da Calçada foi a formação de um
espaço funcionalmente especializado e contíguo ao sub-centro, ligado ao setor
atacadista e que constitui na maior expressão desse tipo de especialização
territorial na cidade. O comércio atacadista não é recente na área, todavia,
ganhou nova dinâmica, porque o número e a importância dos estabelecimentos
foram ampliados, conseqüentemente, incorporando novos espaços que estão
sendo voltados para esse tipo de uso (Figura 35 e Foto 29).
Ao longo da Rua Régis Pacheco ocorreu um desdobramento do sub-
centro da Calçada, tornando o tecido terciário descontínuo. Entretanto, esse
processo está integrado à própria expansão dessa área. Mesmo sendo visível
uma pequena concentração de lojas ligadas ao setor de materiais de construção,
nessa via ainda prevalece o uso diversificado, bastante restrito à rua principal,
pois, nas secundárias, o tecido terciário esmesclado com o uso residencial. A
construção do Bahia Outlet Center, pequeno shopping especializado no vestuário
e o maior investimento ocorrido no sub-centro, nos últimos anos, atraiu uma
miríade de novos estabelecimentos comerciais e de serviços, fortalecendo a
centralidade exercida pela área.
Foto 29: Calçada, fortalecimento do comércio atacadista,
com a presença de grandes empresas, 2007
Foto: Janio Santos
Na década de 1980, a expansão da Calçada era mais sólida em direção
ao Largo de Roma, favorecida pela implantação de uma filial do Paes Mendonça,
de uma concessionária da Mesbla e da Alfred, uma indústria de Calçados.
Todavia, essas empresas não estão funcionando atualmente. Enquanto que as
duas últimas faliram, essa unidade do antigo Paes Mendonça
338
foi recentemente
comprada por um novo Grupo Comercial e vem passando por reformas, o
estando em funcionamento
339
. A inatividade desses estabelecimentos
enfraqueceu essa expansão, constituída, predominantemente, por pequenas lojas
e por algumas clínicas médicas.
Os sub-centros da Liberdade, São Caetano e Largo do Tanque
constituem quase um eixo único, apesar da descontinuidade do tecido terciário.
São similares, no que diz respeito ao tipo de atividade, porque eso voltados
para um público consumidor análogo, em geral, a população pobre que habita as
áreas circunvizinhas. Também por isso, respectivamente, o GEat dos três sub-
centros é de 0,265, 0,150 e 0,068, ou seja, índices baixos. Observa-se que,
fundamentalmente, estão associados à expansão urbana e ao crescimento
demográfico ocorridos entre as cadas de 1960 e 1990.
Na Liberdade, o sub-centro mantém sua intensidade na entrada da
Pero Vaz e do IAPI. A localização de uma filial do Bom Preço e de poucas filiais
das redes de móveis e eletrodomésticos, do vestuário e calçadista determinam a
maior dinâmica que essa área possui (Foto 30). A expansão que vem ocorrendo
em direção do pequeno Shopping Liberdade fortaleceu o uso terciário nesse
sentido, mas constitui um local com atividades que se restringem a pequenos
estabelecimentos comerciais autônomos e a uns poucos servos públicos. O
terminal do Plano Inclinado da Liberdade também é um elemento importante para
a garantia do fluxo, e fortalece esse sentido da expansão (Figura 36).
338
A unidade já pertencia ao Grupo Bom Preço no período de aquisição pelo Grupo Atakarejo.
339
Informações relacionadas ao final de 2007, período em que concluímos a pesquisa de campo.
No Largo do Tanque, segundo entrevistados, a rotatividade dos
pequenos estabelecimentos é alta, femeno que, em nossa concepção,
determinou a falência do Centro Comercial Largo do Tanque, o primeiro shopping
de bairro construído em Salvador. A área consolidou-se em função da construção
do Viaduto dos Motoristas e da Av. San Martins, tornando-se quase contínua à
Liberdade, Calçada e São Caetano. Uma miríade de pequenos estabelecimentos,
um pequeno centro comercial, uma agência do Bradesco, além de três filiais de
cadeias de lojas, funcionam garantindo a dinâmica no local (Figura 37 e Foto 31).
Foto
30
:
Sub
-
centro da Liberdade, trecho que pos
sui a maior
dinâmica na Estrada da Liberdade, 2007
Foto:
Janio Santos
Foto
31
:
Sub
-
centro do Largo do Tanque, serviços pouco
especializados e poucas redes e cadeias lojistas, 2007.
Foto: Janio Santos
Segundo os comerciantes, o sub-centro de São Caetano passou por um
processo forte de consolidação, face à criação da Estação Pirajá, pois o terminal
ampliou o fluxo de transporte coletivo no local. Não observamos especialização
funcional, prevalecendo estabelecimentos sem especializão técnica e com
investimentos de origem local. Todavia, há filiais de redes comerciais, como o
Supermercado Bom Preço, as Lojas Insinuantes, bem como uma agência
bancária (Figura 37 e Foto 32).
Em Periperi, o aumento populacional e a ocupão do solo,
principalmente por parte dos movimentos de luta por moradia, foram os elementos
que favoreceram a formação do sub-centro, que está localizado em um ponto
nodal, com alto fluxo de pessoas e veículos. O tecido terciário vem sendo
consolidado face à oferta de bens e serviços para a comunidade, o que explica o
número significativo de serviços especializados, compostos por algumas clínicas
médicas. Todavia, fora uma filial do Bom Preço, não existe nenhuma grande rede
comercial na área. Assim, como o número de estabelecimentos o-
especializados é elevado, o GEat do sub-centro é de 0,131. Segundo o
administrador, a implantação do pequeno Shopping de Periperi e de serviços
públicos ligados ao SAC e ao INSS fortaleceu o desenvolvimento do setor
terciário no sub-centro, principalmente, nos últimos 20 anos (Figura 37 e Foto 33).
Foto 32: Sub-cento de São Caetano, baixa especialização das
atividades terciárias, 2007
Foto: Janio Santos
O sub-centro de Paripe, localizado quase que no perímetro urbano de
Salvador, está em processo de consolidação e supre as necessidades mais
imediatas dos moradores do seu entorno, constituído por espaços densamente
povoados e com pouca infra-estrutura urbana. Excetuando-se uma filial do Bom
Preço e da Ricardo Eletro, uma das redes que dominam o comércio varejista de
eletrodomésticos na cidade, o sub-centro é composto por pequenos empresários
que oferecem uma gama diversificada de produtos e serviços, sem especialização
técnica, entre os quais vários eso localizados no pequeno centro comercial
(Foto 34). O GEat dessa área foi o mais baixo da cidade, com valor 0,064. Em
geral, os pequenos empresários “disputamos consumidores com os ambulantes,
que formam um amplo mercado informal estabelecido na área (Figura 38).
O sub-centro de São Cristovão consolidou-se em função do trecho
especializado funcionalmente, associado à oferta de bens e serviços automotivos.
Nesse eixo, encontram-se investimentos com capital de origem nacional, dentre
os quais algumas concessionárias e sedes de empresas de transportes coletivos.
Isso provoca a elevação do GEat dessa área para 0,514, um índice alto se
comparamos com os valores dos outros subcentros da parte pobre de Salvador.
Todavia, são prevalentes os pequenos negócios
340
(Foto 35 e Figura 38).
Foto 33: No sub-centro de Periperi, o pequeno shopping
homônimo e algumas clínicas especializadas garantem a
dinâmica local, 2007
Foto: Janio Santos
340
Levantamento feito em campo (2006).
Foto
34
:
Sub
-
centro de Paripe, prevalecem os peq
uenos
estabelecimentos que atendem a comunidade local, 2007
Foto: Janio Santos
Foto
35
:
Sub
-
centro de São Cristovão, empresas maiores e
concessionárias elevam o GEat da área central, 2007
Foto: Eduardo Brandão
Somando os estabelecimentos localizados no sub-centro, verificamos
que 44,20% estão vinculados ao setor de automóveis, o que questiona São
Cristovão como um sub-centro, pois, excetuando-se os 84 estabelecimentos
existentes no pequeno shopping local, não prevalecem as atividades comerciais e
de serviços diversificadas. Ou seja, ele está mais organizado em função da
especialização funcional que, necessariamente, pela variedade comercial e de
serviços. Todavia, a construção do pequeno Shopping o Cristovão incorporou
mais empresas a área terciária e, mesmo que esse também possua
estabelecimentos especializados, garante um consumo mais diversificado,
voltados para a comunidade pobre que vive em seus arredores, bem como para
os transeuntes
341
em direção aos municípios localizados na Linha Verde,
expansão urbana desenvolvida no sentido do Litoral Norte.
Itapuã também é constituído, predominantemente, por pequenos
estabelecimentos comerciais e de serviços, que estão segmentados em duas
áreas (Fotos 36 e 37). A primeira, cujas atividades estão associadas às
necessidades imediatas dos moradores, concentra-se na Av. Dorival Caymmi
(Figura 39). Nesse local, existem redes comerciais e filiais bancárias, mas são
prevalentes os pequenos empresários com base em investimentos locais. A outra,
localizada na Orla Altlântica, é menos diversificada, concentrando pequenos
estabelecimentos que, em maioria, destinam-se à oferta de produtos e serviços
ligados ao turismo e ao entretenimento. O GEat desse sub-centro também é
baixo, com índice de 0,194.
Em ambas as áreas, foram instalados dois pequenos shopping, o Bahia
Shopping e o San Felipe. Segundo o síndico do primeiro, o shopping passa por
sérios problemas financeiros, associados a rotatividade das lojas. O San Felipe,
por se localizar numa área com maior fluxo turístico, o Largo da Sereia, segundo
os administradores, esbem consolidado.
341
Informação concedida pelos administradores do Shopping São Cristovão.
Foto 36: Sub-centro de Itapuã, área diversificada das
atividades terciárias, 2007
Foto: Eduardo Brandão
Foto 37: Sub-centro de Itapuã, atividade terciária associada ao
turismo, 2007
Foto: Eduardo Brandão
Salvador possui, ainda, mais quatro sub-centros importantes e que
apresentam especificidades na estruturação. No caso de Brotas, percebe-se que
o sub-centro es em processo de consolidação e estruturação. Por isso,
apresenta forte descontinuidade territorial, além de possuir uma mescla entre o
uso residencial e o terciário. O tecido terciário apresenta atividades com maior
especialização técnica que os da parte pobre da periferia, porque, em geral, o
sub-centro supre as necessidades de uma ampla classe média que ocupa os
bairros circundantes à AV. Dom João VI. Todavia, prevalecem os pequenos
empresários com base em capital local (Figura 40).
Uma rede de serviços médicos, tanto públicos como privados, é o
elemento estruturador do setor terciário de Brotas, acrescido de três pequenos
shopping centers: o Brotas Center, o Brotas Master e o Floresta Shopping, bem
como de agências bancárias, filiais de cadeias lojistas e outros serviços públicos
importantes, como o Hospital Aristides Maltez (Foto 38). É o conjunto desses
elementos que garante a dinâmica no sub-centro, cujo fluxo não é restrito aos
moradores do entorno
342
, e eleva o GEat do sub-centro para 0,636.
342
Pesquisa junto as lojas de móveis e eletrodomésticos e aos pequenos shopping centers.
Foto 38: Brotas, os serviços constituem a base da dinâmica no
sub-centro, 2007
Foto:
Edua
rdo Brandão
O sub-centro do Itaigara consolidou-se em função de um processo
similar ao que formou o Vale do Camaragibe, principalmente no que diz respeito
aos aspectos históricos e sociais; ou seja, é uma área envolvida no Projeto
Pituba
343
e destinada a elite soteropolitana, que recebeu altos investimentos
públicos em infra-estrutura e teve como elemento estruturador a construção do
Shopping Itaigara. O sub-centro é, portanto, quase uma continuidade territorial do
novo centro de Salvador, sem, todavia, apresentar o mesmo grau de atração de
consumidores.
Mesmo com interesses distintos, nota-se que a preocupação dos
empresários não é atender às necessidades de um público amplo. Seus intentos
visam atingir uma classe específica, elemento que prevalece na estruturação da
área, revelando o processo de fragmentação socioespacial como uma marca
flagrante do sub-centro do Itaigara, inclusive, num nível mais elevado que o Vale
do Camaragibe, na medida em que são mais escassos os espaços acessíveis às
classes populares.
Além do Shopping Itaigara, um conjunto de centros médicos,
odontológicos e empresariais está instalado na área, entre os quais destaca-se o
núcleo Tricenter, composto por três grandes centros comerciais, o Max Center, o
Pituba Park Center e o Tropical Center; o Fiesta Center; e os pequenos shopping
centers Casa Shopping Cidade, Boulevard 161 e Paseo Itaigara (Foto 39). Esse
padrão empresarial de alto luxo é prevalente no sub-centro, que é constituído,
também, por outros serviços médicos e odontológicos (Figura 41).
Como conseqüência desses aspectos, o GEat encontrado nesse sub-
centro foi o mais elevado da cidade, com valor de 0,990. Isso comprova que, em
função do elevado preço do solo
344
, o número de estabelecimentos que requer
baixo investimento é pequeno, como é rarefeita a presença do mercado informal,
sempre restrita às paradas de transportes coletivos. Isso demonstra que um
controle maior no uso e ocupação do solo, algo similar ao que acontece nas
imediações dos grandes shopping centers de Salvador, localizados fora do Centro
Tradicional. Assim, a racionalidade para a reprodução dos investimentos também
constitui a lógica de estruturação da área.
343
Salvador (1977)
344
Ver no Capítulo V.
A Av. Manoel Dias da Silva, eixo localizado no Bairro da Pituba, é um
pequeno sub-centro que apresenta uma diversidade de produtos e serviços e
supre as necessidades dos moradores circunvizinhos. A concentração dos
estabelecimentos é racionalizada para atender as exigências das classes de
maior poder aquisitivo, revelando um elevado GEat de 0,829, bem como uma
especialização socialmente segmentada, como conseqüência do desdobramento
do Vale do Camaragibe e do Itaigara (Fotos 40 e 41).
Foto 39: Itaigara, maior conjunto de atividades especializadas,
decorrendo num alto controle do uso terciário do solo, 2007
Foto: Janio Santos
Foto 40: Sub-Centro da Manuel Dias da Silva, racionalidade e
segmentação social no uso terciário do solo, 2007.
Foto:
Janio Santos
Nessa área, o prevalentes os serviços e produtos que exigem maior
sofisticão, aliás, traduzida na própria paisagem urbana através do padrão
arquitenico dos empreendimentos, dos investimentos do poder público na infra-
estrutura urbana, da organização do solo urbano e do controle das atividades
informais. Na década de 1980, pequenos shopping centers foram construídos nas
áreas circunvizinhas à Av. Manoel Dias da Silva, como o Pituba Center, Pituba
Open Center e Praia Bella, seguindo o mesmo padrão social do sub-centro
(Figura 42).
Na Barra, a implantação do shopping homônimo fortaleceu a área como
uma expressão da centralidade e provocou o deslocamento dos serviços
terciários mais para o seu entorno. Esse sub-centro é bastante diversificado,
excetuando-se as áreas localizadas na Av. Oceânica e na Av. Sete de Setembro,
que concentram atividades vinculadas ao turismo e onde prevalecem hotéis,
bares e restaurantes. Todavia, o tecido terciário é disperso e envolto por prédios
residenciais de médio e alto padrão, assim como o GEat é alto, com valor de
0,751 (Foto 42).
Foto 41: Sub-Centro da Manuel Dias da Silva, racionalidade e
segmentação social no uso terciário do solo, 2007.
Foto: Janio Santos
Na área também funcionam pequenos shopping centers e/ou centros
comerciais, entre os quais merecem destaques o Barra Center, o Farol Praia
Center, o Barra Master e o Victória Center. O Shopping Barra passou a ser o
estruturador da dinâmica da área central após a sua construção, pois atraiu um
público que se desloca de várias partes da cidade, apesar de ser o locus da
fragmentação socioespacial. Em função desse fato, em seu entorno vêm se
instalando filiais de redes comerciais de capital nacional e internacional, como o
Bom Preço e a Pizza Hut. Além dessas, existem pequenos estabelecimentos,
centrados em investimentos locais, com pouca especialização técnica e funcional
(Figura 43).
Além desses centros e sub-centros, que se definem pela diversidade do
setor terciário, Salvador tamm é marcada por áreas que possuem certo grau de
especialização do tecido terciário. A ampliação do uso de vculos automotivos foi
seminal para o processo de estruturação de tais eixos, pois, das cinco áreas
pesquisadas, apenas na Av. San Martin o processo não está associado a esse
uso.
Foto 42: No sub-centro da Barra, o Shopping atraiu o
comércio local,
2007
Foto: Janio Santos
A formação dos eixos de especialização está vinculada ao próprio
processo de expansão da cidade, que ocorreu entre as décadas de 1960 e 1980 e
foi influenciada pela construção das avenidas de fundo de vale. São eixos que
articulam o Centro Tradicional, o Vale do Camaragibe e vários outros bairros,
portanto, vias com alto fluxo de circulação, como mencionamos no primeiro tópico
(Tabela 23).
Tabela 23: Salvador
Número de estabelecimentos terciários, por eixos especializados territorialmente, tipos de
atividade terciária e valores absolutos e percentuais, 2007
Valores totais e percentuais
Especializado
Não-
Especializado
Eixos
Corcio
(%)
1
Serviços
(%)
1
Total (%)
2
Total (%)
2
Total
Geral
Vasco da Gama
3
34
20,48
132
79,52
166
53,38
145
46,62
311
Bonocô
4
47
43,12
62
56,88
109
54,50
91
45,50
200
Av. San Martin 51
92,73
4
7,27
55
39,57
84
60,43
139
Av. Barros Reis
5
19
25,00
57
75,00
76
53,52
66
46,48
142
Av. Sete Portas
6
58
50,88
46
40,35
114
71,70
45
28,30
159
Av. Gen. Graça Lessa 1
3,13
31
96,88
32
82,05
7
17,95
39
Av. Dorival Caymmi
7
18
18,18
71
71,72
99
44,20
125
55,80
224
Rua Djalma Dutra
8
10
20,41
39
79,59
49
50,52
48
49,48
97
Fonte: Pesquisa de Campo, 2006 e 2007
Notas: 1 - Percentual sobre o total de estabelecimentos especializados;
2 - Percentual sobre o total de estabelecimentos;
3 - Entre o Dique do Tororó e a Av. Garibald;
4 - 35 estabelecimentos, entre os não-especializados, fazem parte um pequeno centro
comercial (15 lojas) e do Bonocô Center (20 lojas);
5 - Entre o viaduto da Av. Luiz Eduardo Magalhães e a Rótula do Abacaxi;
6 - Apenas o trecho da Av. Barros Reis;
7 - Apenas o trecho incluso no Sub-centro de São Cristovão;
8 - Apenas o trecho entre a Rua Cônego Pereira e a Ladeira dos Galés, localizados no Centro
Tradicional.
Na década de 1980, a proposta do poder blico era transformar esses
eixos em áreas de usos múltiplos. Todavia, verificamos que, em todos os casos,
os estabelecimentos comerciais e de serviços voltados ao setor automobilístico
representam mais que 50% do total registrado, demonstrando a baixa
diversificação funcional. Essas atividades não estão concentradas em todo eixo.
Em geral, localizam-se num determinado setor, materializando a lógica da
economia de aglomeração (Figuras 44 e 45).
No caso da Av. Vasco da Gama, essas atividades atraíram um pequeno
shopping homônimo, que tamm tem parte de seu mix associado aos produtos e
serviços automotivos
345
. Na Av. San Martins, a especialização funcional ocorreu
em função de dois setores diferentes: um associado ao comércio de materiais de
construção, mais forte e consolidado, apresentado filiais de redes importantes no
setor, como a Comercial Ramos, e outro ao setor automobilístico. Entretanto,
nesse último caso, em escala bem menor, se comparada aos demais eixos
supramencionados, pois se tratam de pequenas oficinas. A especializão
territorial ainda está em processo de consolidação, apresentando alta mobilidade
na Av. San Martin, segundo entrevista com comerciante local. Por isso, a
diversidade funcional das atividades ainda prevalece sobre as territorialmente
especializadas (Fotos 43 e 44).
345
Informações concedidas pelo administrador do Shopping Vasco da Gama
Foto 43: Av Mário Leal Ferreira (Bonocô), um eixo especializado no comércio e prestação de
serviços associados ao uso do autovel, 2007.
Foto: Janio Santos
As áreas centrais de Salvador revelam a ruptura de uma centralidade
única, que está superposta à lógica centro-periferia, todavia, sem superá-la. Ao
mesmo tempo em que são formadas novas áreas centrais, a cidade adquire nova
complexidade, produto/condicionante dos novos componentes da urbanizão
contemporânea.
Nas investigações sobre a divisão territorial do trabalho, no nível intra-
urbano, nesse conjunto de mudanças, permanecem instrumentos que mantêm
uma reprodução desigual da sociedade e que marcam uma estruturação também
desigual dos espaços de consumo e do consumo do/no espaço urbano. Tais
elementos, por outro lado, garantem e reforçam a segregação e a fragmentação
socioespacial, sempre vinculadas à constituição de novos conflitos e interesses
que a cidade passa a evidenciar.
Foto 44: Av San Martin, um eixo especializado no comércio de produtos
associados ao ramo d
a construção,
2007
.
Foto: Janio Santos
4.4 – O capital comercial e os mega-estabelecimentos
Nas últimas três décadas, concomitantes às mudanças nas áreas
centrais, surgiram outros equipamentos que influenciaram a produção de novos
espaços de consumo em Salvador. Estabelecimentos pautados no sistema de
auto-serviços foram espraiados na cidade, incrementando novas formas de
relação entre o capital comercial e as áreas centrais. Dentre esses equipamentos
urbanos, merecem destaques as cadeias varejistas e atacadistas, principalmente,
as centradas no modelo de auto-serviço, como supermercados, hipermercados e
atacadistas.
Tais atividades passaram por um rearranjo espacial e corroboraram a
estrutura urbana multinucleada constituída no interior da cidade, amiúde,
interferindo na lógica da formação das áreas centrais, pois alteraram a relação
entre os consumidores e os espaços de consumo. A implantação de tais
equipamentos acompanhou a expansão do tecido urbano de Salvador e, por um
lado, tornou-se um produto dos mecanismos de reprodução do capital comercial
na cidade; por outro, a própria condição para o desenvolvimento do processo.
Do mesmo modo que os shopping centers, os supermercados foram
equipamentos implantados recentemente nas cidades. Suas expressões mais
definidas só ganharam contorno no período entre as Duas Guerras Mundiais,
segundo Pintaudi (1984), por mais que a expansão e difusão tenham ocorrido
após a década de 1950 (CLEPS, 2005). Os primeiros supermercados foram
implantados nos Estados Unidos, ainda na década de 1930; na Europa, segundo
Cleps (2005, p. 89), a revolução do varejo só ocorreu após a década de 1950.
Para Pintaudi, o supermercado
[...] foi uma das respostas encontradas na esfera da troca de
mercadorias para atender às necessidades da produção e do
próprio comércio, ao reduzir significativamente os custos no
sistema de vendas ao consumidor, permitindo superperlucros para
os capitalistas do comércio que optam por este tipo de
empreendimento (pelo menos inicialmente). Assim, no modo
capitalista de produção o supermercado surge no processo de
concentração e centralização do capital [...] (PINTAUDI, 1984, p.
50-51).
Em sua pesquisa, Ruiz destaca que os hipermercados o
equipamentos com grande poder de atração para diferentes segmentos da
sociedade atual. Assim, possibilitam que a troca se realize de maneira eficiente,
haja vista a disposição das mercadorias em suas gôndolas e prateleiras estarem
sempre em mutação no interior desses espaços, para que o consumidor se perca
em relação a determinado produto que ele procura e, ao mesmo tempo, encontre
outros produtos (RUIZ, 2004, p. 55).
Salgueiro (1995) distingue os supermercados e os hipermercados
pautada pela análise da superfície territorial que tais equipamentos ocupam no
espaço urbano, sendo os segundos maiores e mais impactantes para a realização
do consumo, conseqüentemente, do capital comercial. Todavia, a autora salienta
que esse parâmetro varia conforme o país.
No Brasil, os supermercados surgiram a partir do mesmo processo que
favoreceu o aparecimento dos primeiros shopping centers, por mais que aqueles
sejam antecessores a esses. Como mencionamos no capítulo III, foi um período
marcado por uma concentração e centralizão maior do capital investido no
comércio, como destaca Pintaudi (1989). Com base nos argumentos de Cleps
(2005), os primeiros supermercados brasileiros foram implantados na cada de
1950, ainda que seus germens sejam anteriores. Nas décadas de 1970 e 1980,
registrou-se, contudo, sua expano e difusão pelo território nacional, decorrendo
em profundas conseqüências para o pequeno comerciante, a quem “nada mais
resta que fechar sua loja ou mudar de ramo” (PINTAUDI, 1984, p. 52).
Em Salvador, cinco grupos controlam as grandes redes varejistas e
atacadistas. No caso dos varejistas, são representados pelo Bom Preço,
GBarbosa e Extra. No caso dos atacadistas, o Makro Atacadista, o Atacadão e o
Sam’s Club. É necessário ressaltar que, além dessas, também surgiram outros
supermercados e atacadistas menores na cidade, porém, sem se constituírem em
cadeias que atuassem em escala nacional
346
.
Excetuando-se a rede de supermercado do Bom Preço, que possui um
número maior de estabelecimentos, as demais estão majoritariamente
concentradas nos arredores do novo centro, o Vale do Camaragibe, estando as
outras dispersas em áreas de alto fluxo (Figura 46).
O aumento no número de supermercados e hipermercados,
principalmente varejistas, assim como a internacionalizão do capital investido
nessas empresas, colaboraram para que, nos últimos 30 anos, ocorresse no país
uma concentração maior do capital comercial. Do mesmo modo, aumentou a
composição do capital investido, acarretando no acirramento das disputas, pelos
consumidores, entre grandes empresas e uma miríade de médios e pequenos
estabelecimentos, revelando um confronto desigual entre poderes globais e
locais.
A trajetória dos supermercados na Bahia iniciou-se na cada de 1960.
A implantação do supermercado Paes Mendonça marcou a entrada da primeira
grande cadeia desse tipo de comércio, representando uma redefinição no modo
como o sistema de auto-serviço passou a funcionar em Salvador. Tratou-se de
uma alteração na lógica, não de uma novidade, pois essa forma de relação entre
consumidor e espaço de consumo já existia
392
.
Num curto período de tempo, essa rede espalhou-se por toda a cidade,
instalando-se tanto nas áreas mais elitizadas, como no Shopping Center Iguatemi,
no Shopping Itaigara, na Barra e na Pituba; quanto em áreas pobres da periferia,
como nos bairros da Liberdade, Cosme de Farias e Paripe.
A história do atual Bom Preço iniciou-se no município de Ribeirópolis,
em Sergipe, em 1935. Em 1951, foi aberta uma filial em Aracaju, capital do
Estado e, posteriormente, nas cidades de Propriá e Lagarto, tamm no interior
de Sergipe. Na cidade de Propr, em 1962, foi implantado um supermercado
fundamentado no novo modelo de auto-serviço que se disseminava pelo Brasil.
Todavia, antes desse período, o Grupo já havia se instalado em outros estados da
Região Nordeste
393
.
Durante as décadas de 1960 e 1970, o grupo ampliou bastante o
número de lojas na Bahia, constituindo um imrio comercial” que quase se
aproximou de um modelo de oligopolizão do capital, em função do poder de
controle que exerceu sobre o sistema de auto-serviço, tanto em Salvador, quanto
nos Estados nordestinos onde existiam filiais. Na década de 1980, todavia, o
392
Segundo a ADVB (Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing da Bahia), o primeiro
supermercado da Bahia foi inaugurado em 1958. Todavia, não teve sucesso e, em 1959, foi
comprado por Mamede Paes Mendoa (ADVB – Bahia, novembro de 2002).
Grupo Paes Mendonça passou por sérios problemas financeiros, tendo suas
ões comercializadas e perdendo o controle sobre os supermercados e
hipermercados
394
. Durante esse período, as lojas assumiram outros nomes
fantasias, dentes os quais Unimar Supermercados S.A. e Supermar. Esse
processo culminou em 1999 quando a Rede Bom Preço, aliada ao Grupo Royal
Ahold desde 1996
395
, assumiu o controle dos estabelecimentos existentes em
Salvador. Além das antigas unidades do Grupo Paes Mendonça, a empresa
comprou outra rede menor de supermercados de Salvador, o Grupo Petipreço,
ainda no final da década de 1990
396
.
Em 2000, o Grupo Royal Ahold assumiu o controle acionário da cadeia
de Supermercados Bom Preço e, em 2004, o grupo americano Wal-Mart
397
,
multinacional ligada ao comércio varejista, passou a ter o controle acionário da
empresa, registrando a consolidação do atual processo de internacionalização do
capital comercial na Bahia. Com base nos dados fornecidos pela empresa, a Wal-
Mart controla, atualmente, 300 estabelecimentos no Brasil e 49 na Bahia, dentre
os quais 47 em Salvador
398
A trajetória do Grupo Bom Preço, que marcou as próprias alterações no
sistema de auto-serviço em Salvador, por outro lado, influenciou as relações entre
os consumidores e os espaços de consumo na cidade. Ao espacializar-se com
base numa lógica que não tinha como exclusividade a implantação de filiais nas
áreas centrais, suas unidades contribuíram para a redefinição da centralidade
urbana, acompanhando o vertiginoso processo de expansão da cidade, tanto para
a periferia pobre quanto para as áreas destinadas às classes mais altas. As lojas
da rede passaram a ser referências simbólicas de localização para os moradores,
393
Informações concedidas pela matriz da empresa, localizada em Recife/PE, durante a pesquisa
de campo, 2006.
394
Idem
395
Segundo informações da empresa, em 1995, a Bompreço S.A.-Supermercados do Nordeste
registrou-se na Comissão de Valores Mobiliários como sociedade anônima de capital aberto. Em
outubro de 1996, a empresa Bompreço fez uma oferta pública de ações nos mercados nacional e
internacional. Hoje, suas ações são comercializadas no Brasil, na Europa e nos Estados Unidos.
396
Informações concedidas pela matriz da empresa, localizada em Recife/PE, durante a pesquisa
de campo, 2006.
397
Com base nos dados cedidos pela empresa, a Wal-Mart é a maior empresa do ramo no mundo,
controlando uma ampla rede que envolve supermercados, atacadistas, drogarias, dentre outros
modelos de comércio.
398
Dados fornecidos em março de 2007.
o que, por sua vez, incorporou a empresa à vida cotidiana soteropolitana (Foto
45).
A antiga rede Paes Mendonça, cujos estabelecimentos pertencem,
hoje, ao Grupo Bom Preço, foi pioneira, dentre as grandes cadeias, em
estabelecer estratégias que incorporassem as camadas populares no circuito de
consumo. Nas áreas pobres da periferia, o estratagema foi buscar terrenos
amplos e baratos, que constituíam nós de fluxos elevados, em geral, localizados
nos germens dos atuais sub-centros ou em eixos de articulação suburbanos
399
.
Ao se localizarem próximas a essas expressões da centralidade, tornaram-se
equipamentos que, dialeticamente, tamm consolidaram a capacidade de
atração que tais áreas exerciam.
As demais grandes cadeias de supermercados, hipermercados e
atacadistas estão concentradas no novo centro de Salvador e em eixos de
circulação, como a Av. Anita Garibald, Av. Vasco da Gama, Av. Paralela e Av.
Barros Reis, e na Estrada do Coqueiro Grande. Com base nas informações
coletadas, nota-se que a estratégia de se localizar no Vale do Camaragibe ou em
suas adjacências foi a mais favorável, sendo posto em detrimento as
externalidades causadas pela alta concorrência
400
. Esse centro tornou-se o ponto
nevrálgico de circulação de veículos e pessoas em Salvador, bem como está
399
Pesquisa de Campo (2006).
400
Com base nas informações concedidas pelas empresas na pesquisa de campo, 2006.
Foto 45: Av. Mario Leal Ferreira, hipermercado recém-
inaugurado pelo Bom Preço, em Salvador, 2007
Foto: Janio Santos
situado numa área circundada, efetivamente, por consumidores de renda mais
elevada, o que, em nossa concepção, é um fator prevalente.
A Makro Atakadista é uma rede que atua em âmbito nacional,
possuindo duas filiais em Salvador. Está integrada, desde 1999, ao Grupo Makro
América do Sul, cujo controle acionário está em posse do Grupo SHV (Steenkolen
Handels Vereeniging), uma empresa holandesa de capital fechado. Pioneira entre
as redes atacadistas na cidade, a primeira loja foi instalada na BR-324, na década
de 1980, e a segunda próxima ao Shopping Iguatemi
401
.
O Grupo Pão de Açúcar, cujas ões são administradas pelo Grupo
Casino
402
e por Abílio Diniz, controla as lojas do Extra Supermercados
403
. A rede
atua nacionalmente e possui três lojas instaladas em Salvador: na Av. Luiz Viana
Filho; Av. Vasco da Gama; e na Rótula do Abacaxi, na área onde funcionou o
antigo SuperBox.
O GBarbosa é uma rede que atua na Bahia e em Sergipe, possuindo
duas filiais em Salvador. Entre as varejistas, foi a mais recente a entrar no
mercado soteropolitano, possuindo duas filiais implantadas no Vale do
Camaragibe. Todavia, uma nova filial está em construção, na Av. San Martin. Em
2005, segundo informões da empresa, o grupo norte americano ACON
404
assumiu seu controle acionário.
Todavia, a mais recente empresa a ingressar no mercado do atacado
soteropolitano foi o Atacadão Auto-serviço, comprada, em 2007, pelo Carrefour,
um grupo francês que controla várias empresas em âmbito mundial. São duas
grandes lojas instaladas em Salvador, em áreas de alto fluxo; uma em Cajazeiras
e outra na Av. Barros Reis
405
. O Grupo atua na Europa, na América e na Ásia.
Como mencionamos no Capítulo II, Pintaudi (1984 e 1989), na década
de 1980, afirmava que o surgimento dos supermercados e dos shopping centers
foram produtos de um processo de monopolização do capital. Como discutimos, é
necessário fazer uma reflexão mais aprofundada sobre essa questão, porque
401
Informações concedidas pela empresa durante a pesquisa de campo, 2007.
402
Com base em capital internacional, atuando nos Estados Unidos, Europa, América, Ásia e
Oceania.
403
Informações concedidas pela empresa durante a pesquisa de campo, 2006.
404
Na realidade, essa empresa é um fundo de investimentos, com sede em Washington, nos
Estados Unidos. Foi fundada em 1996, atuando nos EUA, Europa e na América Latina (Dados
cedidos pela empresa, em 2006).
405
Com base nas informações concedidas pelas empresas na pesquisa de campo, 2007.
entendemos que se tratou, apenas, de uma concentração mais exacerbada do
capital nas mãos de grupos capitalistas comerciais, não necessariamente de uma
monopolizão. Nas últimas décadas, todavia, verificamos que vêm ocorrendo
uma intensificação nesse processo, merecendo uma análise mais acurada.
A internacionalização do capital comercial foi produto de alianças feitas
entre esse e o capital financeiro. A partir da década de 1990, verificamos um
aumento desse processo, pois um número maior de empresas passou a
comercializar suas ações nas bolsas de valores internacionais. Assim, várias
delas passaram a ser controladas por um capital que é supranacional. Todavia, se
ainda hoje não podemos falar em um processo de monopolização do capital
comercial, os dados encontrados em Salvador indicam que estamos vivendo um
período marcado pelo processo de oligopolização do capital comercial, que um
grupo de empresas controla a maior parte do mercado.
Segundo dados fornecidos pelo Sindicado dos Supermercados da
Bahia, a Wal-Mart, proprietária das lojas ligadas ao Bom Preço, o Grupo Pão de
Açúcar, das lojas do Extra Supermercados, e a Rede Carrefur, das do Atacadão
Auto-serviços, dominam quase que 80% de todo o faturamento desse ramo
comercial
406
. Isso aponta uma situação extrema na concentração do capital
comercial em Salvador, como um reflexo da internacionalização do capital ligado
a esse ramo.
Ao se instalarem em diferentes espaços da cidade, alguns na periferia
pobre, com a vantagem de obter parcelas do solo urbano a um custo baixo, tais
empresas não modificam apenas o valor agregado ao solo, também transformam
o cotidiano das pessoas e alteram a lógica que a centralidade urbana passa a ter.
Concomitantemente, levam à bancarrota uma miríade de pequenos empresários,
pois as maiores empresas dispõem de sistemas de concessão de crédito a longo
prazo, quase sempre vinculados a elevadas taxas de juros, fazendo reproduzir
não o capital comercial, mas o capital financeiro que está àquele articulado,
tanto no controle acionário, quanto nas próprias transações comerciais.
Assim, estamos entendendo que a internacionalização do capital
comercial aponta para um período no capitalismo em que a atividade comercial,
pautado na análise sobre Salvador, passa por um processo de oligopolizão do
capital comercial, ou seja, uma maior concentração e centralizão do mercado
por um número menor de empresas ligadas ao setor. Não dúvidas que o
lançamento das ações das empresas maiores no mercado financeiro mundial,
como apontamos, demonstra a impossibilidade compreendermos as alterações na
centralidade urbana, contemporaneamente, desvinculada do processo de
reestruturação produtiva, em especial, da força que capital financeiro passou a
exercer sobre o controle de algumas atividades econômicas, como é o caso do
comércio.
406
Fonte: Sindicado dos Supermercados da Bahia.
CAPÍTULO V:
POLICENTRALIDADE: DESIGUALDADES E TRAMA DE
INTERESSES NA DINÂMICA SOTEROPOLITANA
A centralidade, que concerne às matemáticas,
concerne também ao drama
Henri Lefebvre
Como apontamos no capítulo anterior, na análise sobre a centralidade
urbana, não basta apenas verificar as alterações ocorridas no número de áreas
centrais. Para Sposito (1999), é essencial entendermos que, além de uma
multicentralidade, revelada pela formão de novos centros e sub-centros, é
seminal analisarmos, concomitantemente, as diferenças existentes entre tais
áreas, pois esse aspecto demonstra a formação de uma centralidade que também
é poli. A autora centra a discussão sobre a policentralidade fundamentada nas
diferenças econômicas e sociais que são inerentes às áreas centrais.
O processo de estruturação e reestruturação das cidades capitalistas é
alicerçado, entre outros aspectos, pela separação entre os proprietários dos
meios de produção e a força de trabalho. Segundo Marx (1999), uma clara
relação entre dominantes e dominados, que marcou o desenvolvimento do próprio
capitalismo, em âmbito mundial. Espacialmente, esse processo reproduz-se a
partir da materialização da divisão cnica, social e territorial do trabalho,
enredada em diferentes escalas. No nível intra-urbano, a separação entre as
classes, que, nos dias atuais, adquiriu nova complexidade, mesmo mantendo os
aspectos salientados por Marx, é engendrada pelos interesses dos diferentes
agentes econômicos, políticos e sociais que produzem e reproduzem o espaço
urbano. Por outro lado, traduz-se na estrutura urbana pela segregação e pela
fragmentação socioespaciais.
Salvador tornou-se produto/condição desses conflitos e interesses entre
as diferentes classes, o que torna essencial compreendermos como a cidade está
estruturada socialmente, com base em alguns indicadores, tornando viável
entender como as diferentes áreas centrais existentes estão envolvidas nesse
processo de reprodução, dialeticamente, revelando-se como um nível de
determinação do fenômeno.
O processo de reestruturação produtiva, centrado na atração de novos
parques industriais para a Região Metropolitana, provocou fortes alterações no
papel que Salvador desempenhava na rede urbana. Além das mudanças
ocorridas na estrutura urbana, comentadas nos três capítulos anteriores, a cidade
também passou por modificações na organização das classes sociais. Destaca-
se, nesse contexto, o aprofundamento das desigualdades, fruto, por um lado, da
intensa migração e de ações diversas que privilegiaram os aspectos econômicos,
em detrimento do equacionamento dos problemas sociais; por outro, da
privatização do solo urbano nas mãos de poucos proprietários fundiários e do
poder público.
O cenário atual das condições de vida da maioria da população é,
portanto, uma clara conseqüência de um processo de urbanização que, usando a
expressão de Espinheira (1989), foi marcado pela constituição de uma barbárie
social. Por mais que os dados revelem um aumento na dotação de infra-estrutura
urbana, se compararmos com períodos anteriores, permanece estampada na
paisagem urbana a forte desigualdade entre as classes, bem com o desigual
acesso aos meios, muitas vezes, mínimos para a reprodução da vida. uma
dotação de infra-estrutura urbana que, aliás, é também bastante desigual, pois
não é análoga entre as áreas privilegiadas e as áreas pobres.
Nas duas últimas décadas, a Região Metropolitana de Salvador
manteve os maiores índices de desocupação da PEA (População
Economicamente Ativa), em relação às seis maiores áreas metropolitanas do
país, segundo os dados da PNAD (Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios).
Entre mao de 1997 e março de 2008, excetuando-se os anos de 2005 e 2006, a
RMS apresentou índices que foram superiores às demais áreas metropolitanas,
inclusive, maiores que a média nacional (Gráfico 17).
Tais limites no acesso ao emprego, que, em geral, garante as
condições mínimas de reprodução da classe trabalhadora, por um lado,
demonstra que as estratégias de crescimento econômico adotadas pelos poderes
públicos municipal e estadual não m trazendo resultados plausíveis para os
mais pobres. Por outro, m como decorrência um gradativo empobrecimento das
camadas populares, pois impedem que essas possuam as mínimas condições de
reprodução da sua existência.
A análise do Índice de Gini
407
também demonstra que vem ocorrendo
um aprofundamento na desigualdade entre as classes. Entre 1991 e 2000, de
acordo com os dados do IBGE, o Índice de Gini de Salvador passou de 0,651, em
1991, para 0,658, em 2000. É interessante observar, como mencionamos nos
dois capítulos anteriores, que nesse mesmo período aumentou o percentual de
domicílios que possuíam, pelo menos, três bens de consumo duráveis, carros
particulares e telefone fixo (Tabela 24). Aparentemente, isso poderia revelar-se
como um paradoxo.
407
Mede o grau de desigualdade na distribuição de indivíduos, segundo a renda domiciliar per
capita. Varia de 0 a 1, e quanto mais próximo de 1, maior a desigualdade.
Tabela 24: Salvador
Evolução no percentual de bens de consumo
nos domicílios, por bens e por ano, 1991/2000
Valores (%) Bens de consumo
1991
2000
Mais de 3 bens duráveis 32,42
60,33
Autoveis 20,32
23,93
Telefone fixo 29,10
60,07
Fonte: IPEA
Gráfico
17
:
Brasil
Evolução na Taxa de desocupação, por regiões
metropolitanas, 1993 a 2007.
Fonte
:
IBGE, PNAD.
0,00
2,00
4,00
6,00
8,00
10,00
12,00
14,00
16,00
18,00
20,00
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Recife
Salvador
Belo Horizonte
Rio de Janeiro
São Paulo
Porto Alegre
Média das RMP
Todavia, tais dados demonstram que analisar a reprodução da
sociedade capitalista significa traduzir as contradições que são inerentes ao
próprio sistema, ou seja, que estão na base de seu modo de regulação. Assim, os
dados comprovam, apenas, que o aumento do consumo ocorrido nos últimos
anos em Salvador, cujo impacto foi premente na organização da estrutura urbana,
ocorreu sem que, necessariamente, houvesse mudanças na distribuição de renda
ou maior eqüidade social. Uma clara contradição do atual regime de acumulação
flexível engendrado entre a massificação do consumo, que beneficiou grupos
capitalistas, porque possibilitou a inserção de classes com baixa renda no
consumo de bens e serviços, e, por outro lado, a manutenção das disparidades
sociais.
A diferença entre a renda dos domicílios também revela a desigualdade
social em Salvador, materializando na cidade e em suas distintas realidades, os
espaços dos ricos e os espaços dos pobres. Na base da pirâmide social, estão os
bairros localizados na periferia pobre, que envolvem o Subúrbio Ferroviário, o
Miolo Central e quase todas as áreas localizadas no perímetro urbano, com
exceção das imediações de Stela Maris. No topo, as duas áreas mais ricas,
envolvendo bairros como o Itaigara, Pituba, Caminho das Árvores, Vitória e Barra
(Figura 47).
Como pode ser observando no mapa, nos primeiros casos, o percentual
de pessoas que recebem até dois salários mínimos é bastante elevada,
compondo a periferia pobre. Nos segundos, esse percentual declina
consideravelmente, pois essas são as áreas mais elitizadas. Porém, em Salvador,
“bolsões de pobreza” aparecem mesclados às áreas ocupadas pelas classes mais
ricas, como na Barra e, mais recentemente, nas imediações do conjunto
Alphaville, construído próximo ao Bairro da Paz, antiga favela das Malvinas. Isso,
por outro lado, revela a longa história de lutas, embates e reivindicações travadas
entre as classes e que marcam o processo de estruturação de Salvador, fincado
na busca pelo que Lefebvre (1991) definiu como o direito à cidade.
Contudo, o que o mapa não consegue demonstrar são os aspectos
mais contundentes e que exprimem a polaridade entre a abundância de poucos e
a miséria de muitos. Assim, as informações mais detalhadas revelam outras
nuances. Por exemplo, a média da renda per capta do setor censitário de
Salvador que possui o mais alto poder aquisitivo, localizado no Itaigara, é 2.532%
maior que a do que possui o menor alto poder aquisitivo
408
. Os 20% mais pobres
localizados no setor censitário do Itaigara recebem mais do dobro do que
recebem os 20% mais ricos localizados nos setores de mais baixo poder
aquisitivo
409
.
Poderíamos argumentar que, em Salvador, existiria a constituição de
uma “Belíndia”, uma confusa e equivocada idéia difundida na década de 1980,
fundamentada na análise dos indicadores sociais brasileiros, que ainda mantém
ressonância na atualidade. Todavia, é um pensamento obtuso, porque distorce
um fato crucial: não existem duas realidades. O que é uma realidade expressa
pela desigualdade, pela separação entre as classes, pelo privilégio de uma
minoria rica em detrimento de maioria pobre. Assim, a falsa idéia da belíndia” se
dilui, fazendo emergir contradições centrais da cidade capitalista: acumulação x
privação, riqueza x pobreza, abundância x miséria absoluta, sendo as segundas
situações condições sine qua non para a reprodução dos primeiros interesses.
As diferenças no acesso à infra-estrutura básica nos bairros tornam-se,
portanto, produtos desses conflitos, cuja aquiescência do poder público municipal
e estadual, ao longo da história, teve papel crucial. Nesse contexto, ganharam
materialidade: - as ocupões em vertentes, um falso problema que
historicamente confundiu a ausência de infra-estrutura para a edificação na parte
pobre da periferia, por parte do poder público, mas legitimou a construção de
grandes e luxuosos edifícios residenciais, por exemplo, na Vitória, uma área de
vertente; - a concessão de altos montantes de verbas públicas do Governo do
Estado e do Governo Municipal, por exemplo, para colocar granito na Av. Manoel
Dias da Silva ou construir um viaduto no Porto de Salvador, como o objetivo
408
Uma diferença de R$ 81,13 e R$ 2.135,54. Informações coletadas no banco de dados
fornecido pela CONDER, fundamentadas pelos levantamentos do Censo feitos pelo IBGE, em
2000.
409
Valores de R$ 509,46, para os 20% mais pobres do Itaigara e R$ 223,72 para os 20% mais
ricos para Fazenda Coutros. Informações coletadas no banco de dados fornecido pela CONDER,
fundamentadas pelos levantamentos do Censo feitos pelo IBGE, em 2000.
exclusivo de escoar a produção do Complexo Ford, em detrimento das condições
mínimas exigidas de saneamento básico, habitação e infra-estrutura urbana da
parte pobre da periferia; e, finalmente, - os inúmeros bairros produzidos por
ocupações que ocorreram a partir da década de 1940, cujo sistema de auto-
construção é o mecanismo central de conquista da casa própria, estampando na
paisagem a luta pela cidade.
Esse último aspecto corrobora, aliás, os fragmentos do espaço urbano
soteropolitano, analisados por Serpa (2007) como resultantes da construção de
uma cidade popular, cuja história, em geral, es oculta da História oficial de
Salvador. Mesmo sendo popular, não deixa de expressar outras contradições,
como o pagamento do IPTU em áreas cuja propriedade do terreno não é
legitimada pela Prefeitura Municipal de Salvador, ou seja, os moradores pagam o
imposto, maso possuem a escritura do terreno
410
.
Entre os anos de 1991 e 2000, cresceu o número de favelas existentes
na cidade, passando de 70 para 99, segundo informões do IBGE, perfazendo
um aumento de 41,4%. Se compararmos com os dados da Tabela 12 e do Gráfico
8, no Capítulo II, verificaremos que não foi um crescimento proporcional ao
aumento da população, pois, no mesmo período, a população cresceu 17%. A
nosso ver, a questão crucial é a manutenção das disparidades entre as classes,
produto de uma desigual distribuição da renda.
Foi sob essa estratificação social que, ao longo da história, constituiu-se
a lógica da centralidade em Salvador. Essa, por sua vez, coadunou e coaduna
com o fenômeno, porque influencia na produção do espaço urbano, tornando-o
uma raridade, expressão adotada por Carlos, Damiani e Seabra (2001), uma
mercadoria acessível, apenas, para quem tem dinheiro para pagar.
410
Observações verificadas junto à Secretaria Municipal da Fazenda de Salvador, cruzando os
dados entre o VUP, base para o cálculo do IPTU, e as informações sobre a legitimidade da posse
escritural do terreno. Os Alagados é um exemplo desse paradoxo, comum às áreas da parte pobre
da periferia (SANTOS, 2003).
Como a luta pela cidade es imersa nas tessituras da vida, a
contradição entre C-D-R reproduz os conflitos sociais e os conflitos de interesses
na escala da área central e na escala da cidade. Isso ocorre porque o jogo de
interesses entre os diferentes capitais, as elites locais, os expropriados e o poder
público, dialeticamente, emergem como produto e condição do fenômeno urbano,
conferindo e revelando novos graus de complexidade ao processo de
urbanização.
5.1 – A centralidade urbana e os novos jogos de interesses
O processo de valorizão do solo ocorrido nas últimas cadas, em
Salvador, demonstra que a análise sobre a reestruturação urbana ganhou novas
complexidades. Nota-se que uma miríade de aspectos esrelacionada ao modo
como o valor do solo urbano cresceu, apresentando nexos diferenciados, de
acordo com o papel exercido pelas áreas centrais.
Atualmente, as vias onde estão localizadas as atividades terciárias
possuem os maiores valores do solo urbano em Salvador, sendo um fato mais
contundente nos espaços elitizados, apontando que a definição de uma área
comercial implica, também, na redefinição do valor comercial para o solo urbano.
De qualquer modo, deve-se destacar que esse aumento não é exclusivo das
áreas ricas, pois verificamos que nos sub-centros localizados na parte pobre da
periferia de Salvador, o fenômeno reproduz-se, mesmo que em menor escala.
Com base na análise sobre a evolução do VUP (Valor Unitário Padrão),
indicador que, agregado às características arquitetônicas do imóvel, fundamenta o
lculo do IPTU em Salvador, foi verificado que, nos últimos 20 anos, ocorreu
uma inversão nas áreas onde são encontrados os mais altos VUPs comerciais da
cidade.
Comparando o VUP da Av. Estados Unidos, localizada no Centro
Tradicional, observa-se que, em 1986, esse era 733% maior que o trecho A” da
Av. Antonio Carlos Magalhães, relacionado ao Sub-centro do Itaigara, e 1.000%
maior que o Trecho “B” da Antonio Carlos Magalhães e da Tancredo Neves,
ambas localizadas no Vale do Camaragibe
411
. Enquanto que no Centro
Tradicional, o VUP valia Cz$
412
2.500,00, na segunda era Cz$ 300,00, e, nas
últimas, Cz$ 250,00 (Tabela 25). Tamm que, excetuando-se algumas ruas do
bairro Barra, no Centro Tradicional estavam as únicas vias que possuíam valores
superiores a Cz$ 1.000,00, sendo que apenas os eixos mais importantes do
Comércio possuíam valores de Cz$ 2.500,00
413
.
Em 1997, esse quadro tinha sido alterado, pois os VUPs comerciais
mais altos relacionavam-se ao Vale do Camaragibe, nas avenidas Tancredo
Neves e Antônio Carlos Magalhães, correspondentes a R$ 217,56. Esse valor era
334% maior que o encontrado na Av. Estados Unidos (R$ 65,13), e 231% maior
que o da Av. Sete de Setembro, que valia R$ 151,04. Assim, essa última passou
a ter o maior VUP entre os eixos comerciais do Centro Tradicional.
Em 2007, os dados demonstraram que esse processo foi sendo
acentuado ao longo do tempo. O trecho “A” da Av. Antônio Carlos Magalhães,
relacionado ao Sub-centro do Itaigara, apresentou o maior VUP entre os
principais eixos comerciais de Salvador, sendo fixado em R$ 649,06. Esse valor
era 171,42% maior que o VUP mais alto da Av. Tancredo Neves e do trecho onde
es localizado o Shopping Center Iguatemi, também na Av. Antônio Carlos
Magalhães, que custavam R$ 378,63. Se compararmos com os valores das vias
localizadas no Centro Tradicional, observa-se que ele era quase 500% maior que
o da Av. Estados Unidos, que custava R$ 129,82 e 240% mais alto que o da Av.
Sete de Setembro (R$ 270,44), valor mais alto encontrado no centro antigo.
411
Em Salvador, uma via pode ter VUPs diferentes, de acordo com fatores locacionais.
412
O Cruzado era a moeda da época.
413
Pesquisa documental (2006). Detalhes em Apêndice III
Tabela 25: Salvador
Evolução do Valor Unitário Padrão, segundo as vias principais das áreas centrais, por ano, valores absolutos e percentuais, 1986,
1997 e 2007
Valores absolutos e relativos
2007 (em R$) 1997(em R$) 1986 (em Cz$)
Área Central
Vias
Total (%) A
1
(%) A
2
Total (%) B
1
(%) B
2
Crescimento
1991/2007
Total (%) C
1
(%) C
2
Liberdade Est. da Liberdade 54,08
41,66
8,33
13,03
20,01
5,99
315,04
250,00
10,00
83,33
L. do Tanqe Av. San Martin 64,91
50,00
10,00
20,78
31,91
9,55
212,37
100,00
4,00
33,33
Paripe e Periperi Av. Afrânio Peixoto 64,32
49,55
9,91
31,87
48,93
14,65
101,82
25,00
1,00
8,33
Itapuã Av. Dorival Caymmi
3
245,64
189,22
37,85
124,13
190,59
57,06
97,89
150,00
0,00
50,00
Barra Av. Centenário 324,55
250,00
50,00
169,07
259,59
77,71
91,96
450,00
18,00
150,00
Barra Av. Oceânica 375,49
289,24
57,85
202,32
310,64
93,00
85,59
1375,00
55,00
458,33
Brotas Av.D. João VI 122,69
94,51
18,90
65,13
100,00
29,94
88,38
275,00
11,00
91,67
Calçada Av. Eng.O. Pontes 86,54
66,66
13,33
67,91
104,27
31,21
27,43
500,00
20,00
166,67
Calçada R. B. de Cotegipe 82,24
63,35
12,67
42,95
65,95
19,74
91,48
575,00
23,00
191,67
Centro Tradicional Av. S. de Setembro 270,44
208,32
41,67
151,04
231,91
69,42
79,05
1250,00
50,00
416,67
Centro Tradicional Av. Estados Unidos 129,82
100,00
20,00
65,13
100,00
29,94
99,32
2500,00
100,00
833,33
Manoel Av. M. Dias da Silva
263,31
202,83
40,57
162,14
248,95
74,53
62,40
750,00
30,00
250,00
Itaigara Av.ACM “A 649,06
499,97
100,00
217,56
334,04
100,00
198,34
300,00
12,00
100,00
Vale Av. ACM “B 378,63
291,66
58,34
217,56
334,04
100,00
74,03
250,00
10,00
83,33
Vale Av. T. Neves A 378,63
291,66
58,34
217,56
334,04
100,00
74,03
250,00
10,00
83,33
São Caetano Est. de Campinas 12,72
9,80
1,96
5,68
8,72
2,61
123,94
137,50
5,50
45,83
Fontes: Diário Oficial do Município, de 5 e 6 de dezembro de 1986; e Secretaria Municipal da Fazenda, base de dados sobre o VUP, de 1997 e 2007.
Notas: ... Informação indisponível.
1 – Percentual calculado com base no VUP da Av. Estados Unidos
2 – Percentual calculado com base no VUP da Av. ACM “A”
3 – Em 1986, era chamada Estrada Itapuã-Aeroporto.
Ainda com base nos dados, se compararmos os VUP’s das vias
principais localizadas no Vale do Camaragibe e no sub-centro do Itaigara com os
das áreas mais pobres, torna-se perceptível que o processo de valorização do
solo urbano ocorrido nas áreas pobres, obviamente, não acompanhou o ocorrido
em áreas elitizadas, por mais que tenha ocorrido um crescimento constante
414
.
Para termos uma idéia desse processo, o VUP da Estrada da Liberdade, principal
eixo terciário do sub-centro homônimo, era Cz$ 250,00, ou seja, igual ao do
trecho “B” da AV. Antônio Carlos Magalhães, no Vale do Camaragibe. O da
Estrada de Campinas, eixo principal do Sub-centro de São Caetano, no mesmo
interregno temporal, era Cz$ 137,50, ou seja, 81,1% menor. Em 1997, a diferença
aumentou para 1.669,69%, no caso da Liberdade, e 2.220%, no de o Caetano.
Em 2007, ficou fixada em 1.200%, para a Liberdade, e 2.976% para São Caetano
(Foto 46).
414
A comparação do valor do VUP entre as décadas de 1980 e os últimos 15 anos torna-se
complicada em função dos ajustes monetários e da conseqüente desvalorização da moeda
nacional.
Foto 46: No Sub-centro do Itaigara, trecho “A” da Av.
Antônio Carlos Magalhães, uma das vias que apresentou
maior valorização, em Salvador, nas últimas décadas, 2007
Foto: Janio Santos
Os dados demonstram, claramente, tanto o avassalador processo de
valorização que ocorreu em algumas áreas de Salvador, nos últimos 20 anos,
bem como uma relativa decadência dos valores imobiliários no Centro Tradicional
e demais sub-centros. É notório que tais fatos têm decorrências contundentes no
modo como o solo urbano passou a ser utilizado como instrumento que garantiu e
garante a reprodução do capital no nível intra-urbano, em especial, o capital
imobiliário. Também, as conseqüências da canalizão de verbas públicas,
direcionadas pelo poder público municipal e estadual para o novo centro e para o
sub-centro do Itaigara, como um estratagema que beneficiou uma classe
específica.
Todavia, os dados levantados sobre o VUP nas áreas centrais de
Salvador ainda apontam outros aspectos mais específicos, relacionados aos
processos de valorização do solo urbano ocorridos no interior das áreas
centrais
415
. Nos últimos dez anos, nos sub-centos localizados na periferia pobre, o
aumento do VUP foi maior nos principais eixos comerciais, demonstrando que,
nessas áreas, a consolidação da atividade tercria provocou maior agregação de
valor ao espaço (Figuras 48 e 49).
No Centro Tradicional, no Vale do Camaragibe e nos sub-centros mais
elitizados, o aumento do VUP foi mais freqüente nas vias residenciais que
circundam tais áreas centrais (Figuras 50, 51, 52). Assim sendo, é perceptível
que, em tais casos, o aumento do valor do solo nos principais eixos comerciais
vem acarretando, igualmente, um aumento do valor do solo nas áreas
residenciais que os circundam.
A análise do VUP demonstra que a constituição de novas áreas centrais
provocou um processo de valorização do solo urbano em Salvador, e isso tem
relação direta com a implantação de novos equipamentos comerciais, como
shopping centers e grandes centros empresariais, bem como com investimentos
públicos direcionados para fins privados. Do mesmo modo, contorno à
produção desigual da cidade, através do acesso também desigual à infra-
estrutura e serviços urbanos.
415
Mais detalhes em Apêndice III.
Verificamos, ainda, que a implantação do Salvador Shopping provocou
a criação da Alameda Salvador, rua que, em 2007, possuía o maior VUP
encontrado na cidade, valendo R$ 1.000,00
416
. Ademais, que a Prefeitura
Municipal vem se mobilizando para alterar os padrões de cálculo do VUP na
cidade, o que terá como conseqüência um aumento consubstancial na
arrecadação do IPTU, já que essa está defasada, pois tem como alicerce a
vigência de uma Lei de 1998. Ou seja, a normatização do espaço urbano vem
sendo racionalizada para obteão de montantes elevados de arrecadação fiscal.
Outra informação importante para analisarmos os papéis e os
interesses vinculados às áreas centrais de Salvador é o montante arrecadado
pelo poder público municipal através da arrecadação do ISS (Imposto Sobre
Serviços)
417
. Segundo os dados pesquisados, a RA da Pituba, que compreende o
Vale do Camaragibe, bem como os Sub-Centros do Itaigara e da Manoel Dias,
era responsável, em 2007, por 28,69% de todo o ISS arrecadado. O Centro
Tradicional sozinho era responsável por 18,49%, o que demonstra um verossímil
poder de concentração de atividades de serviços que o centro antigo ainda
mantém (Tabela 26).
416
Fonte: Secretaria Municipal da Fazenda.
417
É importante ressaltar que a metodologia adotada pela Prefeitura Municipal não segue a nossa
lógica, pois as RAs (Regiões Administrativas) englobam nos dados os espaços que estão além
dos pericentrais e, principalmente, eixos onde estão concentradas as atividades terciárias.
Foto 47: Alameda Salvador, via recém-criada e que possui o maior VUP na
cidade, 2007
Foto: Janio Santos
Tabela 26: Salvador
Arrecadação de Imposto Sobre Serviços, valores absolutos
e percentuais, por regiões administrativas, valores totais e
percentuais, 2007
ISS Recolhido
Região Administrativa
Total (%)
5.531.025,39
1,87
Centro 54.832.541,90
18,49
Itapagipe 3.441.466,47
1,16
São Caetano 1.423.034,85
0,48
Liberdade 4.637.331,42
1,56
Brotas 19.380.928,39
6,54
Barra 23.222.619,69
7,83
Rio Vermelho 12.769.526,16
4,31
Pituba 85.073.799,43
28,69
Boca do Rio 23.567.353,86
7,95
Itapuã 9.207.113,59
3,10
Cabula 20.324.807,03
6,85
Tancredo Neves 16.909.314,57
5,70
Pau da Lima 7.207.892,12
2,43
Cajazeiras 1.136.735,15
0,38
Ipitanga 487.754,16
0,16
Valeria 5.909.273,11
1,99
Subúrbio Ferroviário 1.490.060,57
0,50
Total 296.552.577,86
100,00
Fonte: Prefeitura Municipal de Salvador, Secretaria Municipal da Fazenda.
Detalhando os dados no âmbito das RAs, observa-se que as atividades
financeiras, de seguro e de serviços a esses relacionados correspondem aos
maiores percentuais arrecadados no Centro Tradicional (36,92%) e em Itapagipe
(28,78%), RA onde está localizado o sub-centro da Calçada. Na Pituba, os
maiores percentuais relacionam-se às atividades administrativas (25,98%) e,
também, aos serviços financeiros e de seguro (19,35%). Na Liberdade e em São
Caetano, os maiores percentuais estão relacionados ao comércio e aos reparos
em veículos automotivos e motocicletas, com respectivamente, 20,66% e 30,66%
nas RA’s
418
.
418
Maiores detalhes em Anexo I.
Além dos aspectos relacionados à arrecadação tributária nas áreas
centrais, as entrevistas realizadas desvelaram outros interesses que também
eso subjacentes ao processo de reestruturação da cidade de Salvador. Em tais
casos, as relações entre as áreas centrais, o poder público e os agentes que
produzem o espaço urbano demonstram que os conflitos se tecem tanto no
âmbito da própria área central, quanto em suas articulações com a cidade.
Segundo informações coletadas junto à administração de um dos
pequenos shopping centers
419
, a Prefeitura Municipal de Salvador vem
concedendo subsídios e incentivos fiscais, que visam estimular à instalação de
novos estabelecimentos comerciais e de serviços no Centro Tradicional, um
movimento contrário ao que foi engendrado durante as décadas de 1970 e 1980,
cuja estratégia era estimular a produção de novas áreas centrais na cidade. O
projeto de “revalorização” do Comércio é um desses estratagemas adotados pelo
poder público municipal
420
. Aliás, foi no bojo desse processo que, atualmente, a
área do Comércio passou a receber novos investimentos, associados ao capital
imobiliário e ao capital ligado ao setor de serviços.
Essa competição entre as áreas centrais o é algo novo no processo
de estruturação de Salvador. Na década de 1980, com o crescimento no número
de shopping centers na cidade, havia uma preocupação por parte dos
administradores relacionada ao aumento no número desses empreendimentos.
Depois do Shopping Barra é melhor para todos dar uma paradinha.
O momento econômico não é bom nem para os clientes nem para
os comerciantes e, por isso, é bom não superdimensionar a oferta
para que não seja a derrocada de todos
421
.
Os argumentos salientados pelo administrador do Shopping Center
Iguatemi são uma demonstração clara de que a introdução de um novo
equipamento na cidade, principalmente de grande porte, decorreria em
conseqüências para o faturamento do empreendimento e para a atração de
consumidores. Assim, essa externalidade negativa não estava circunscrita,
419
Entrevista com o administrador do Boulevard 405.
420
Mais detalhes no site: http://www.revitalizarcomercio.com.
421
A Tarde (11.08.1978).
apenas, ao impacto nos pequenos empresários, por mais que sejam nesses, com
base nas entrevistas feitas, que as decorrências são mais contundentes.
Como mencionamos no Capítulo III, os shopping centers adotaram
estratégias diferenciadas para “driblar” as externalidades provocadas pela
implantação de novos empreendimentos. Em Salvador, as mais freqüentes foram
as reformas arquitetônicas e estruturais, que visavam manter o empreendimento
como algo que estava, constantemente, sendo renovado, portanto, “povoando” o
imaginário coletivo dos consumidores. O Shopping Center Iguatemi, aliás, usou
essa estratégia nove vezes ao longo dos seus mais de 30 anos.
A baixa capacidade que a maioria dos shopping centers de bairro
possui em concorrer com os maiores estabelecimentos, como tamm
mencionamos no Capítulo II, uma evidente insustentabilidade empresarial para a
maior parte dos pesquisados, demonstra os efeitos que esses embates por
consumidores entre áreas centrais acarretam na trama urbana.
Esse conflito tamm pode ser traduzido pela disputa na alocação dos
estabelecimentos mais importantes, principalmente os relacionados à atração dos
maiores fluxos de consumidores, em geral, promotores de campanhas
propagandísticas mais fortes. A implantação de uma loja-âncora num shopping
center, por exemplo, revela como esse aspecto é fundamental. A reforma que
vem ocorrendo no Aeroclube Plaza & Office, cuja estratégia seminal para atrair
novos consumidores foi a atração de duas âncoras, dentre as quais merece
destaque as Lojas Americanas, é uma evidência desse processo
422
.
Os aspectos mencionados a o momento comprovam que a
centralidade enreda na trama urbana uma miríade de conflitos e interesses e, por
outro lado, acarreta profundos choques entre os diversos agentes produtores dos
espaços de consumo. Nesse processo, as áreas mais privilegiadas possuem
vantagem, pois, em geral, otimizam os interesses vinculados à reprodução do
capital, em função das condições de dotação de infra-estrutura serem mais
favoráveis para o deslocamento de consumidores. Todavia, ao mesmo tempo em
que a competição por consumidores e por novos investimentos ocorre na escala
da cidade, tais conflitos e interesses também se reproduzem no âmbito da própria
área central, podendo ser traduzidas através de diversos aspectos.
Um primeiro é a luta por consumidores. Em Salvador, essa disputa
revela-se pela busca da implantação da atividade nos espaços cujas localizações
o melhores, estando relacionada aos maiores empreendimentos, aos pequenos
e ao mercado informal. Como mencionamos no capítulo anterior, nos centros
mais elitizados o controle do comércio e serviços informais exprime o próprio
controle do tempo e do espaço, como ocorre nas imediações do Shopping Center
Iguatemi, Shopping Center Itaigara, Salvador Shopping e Shopping Barra.
Todavia, mesmo em menor escala, no Centro Tradicional esse fato tamm é
evidente.
O poder público municipal interfere nesse embate, teoricamente, como
um mediador dos conflitos gerados pela redefinição do uso do solo urbano.
Entretanto, sempre prioriza os interesses dos maiores empresários em detrimento
dos menores, principalmente os ambulantes, que, amiúde, são alocados para nas
áreas de baixa acessibilidade e cujo fluxo de consumidores, conseentemente, é
menor.
A disputa também é premente entre os lojistas instalados nos shopping
centers e os demais localizados nas áreas centrais. Nesse caso, como
mencionamos com relação aos pequenos shopping centers, a implantação de um
grande empreendimento numa determinada área central revela-se como um
paradoxo, pois, ao mesmo tempo em que atrai maior número de consumidores,
pode significar, concomitantemente, a falência de empresas menores, com
maiores dificuldade em concorrer.
Um exemplo foi relatado pelo administrador do Shopping Costa Azul
423
.
O processo de construção do hipermercado GBarbosa, nas proximidades do
pequeno shopping, trouxe preocupação para os lojistas e acarretou no
fechamento de várias lojas. Todavia, ainda segundo o administrador, a
externalidade foi positiva, porque consolidou um fluxo de consumidores para o
shopping. Contudo, os relatos feitos pelos administradores dos pequenos
shopping centers localizados no Imbuí, bem como do Shopping Aquidabã,
Shopping Vasco da Gama e Shopping Sete Portas não indicam que esse fato
acarreta uma externalidade positiva.
422
Informações concedidas pela Administradora do Shopping (2007).
423
Informações cedidas pela administradora do shopping (2007).
Porém, os conflitos tamm podem ser revelados pela competição
entre os grandes empreendimentos. A construção do Salvador Shopping, no Vale
do Camuruigipe, por exemplo, o foi encarada como uma externalidade positiva
para o Shopping Center Iguatemi. Segundo informações levantadas
424
, os
pequenos lojistas que locam espaços no Iguatemi foram proibidos de abrir filiais
no Salvador Shopping, sendo que alguns ganharam benesses com esse fato. No
caso das lojas maiores, principalmente as âncoras, verificamos que essas tiveram
subsídios para não instalarem filiais no novo empreendimento. Todavia, essas
últimas possuem maior poder de decisão junto aos empresários, e notamos que
várias filiais de lojas de departamento existentes no Iguatemi, como a C&A e a
Riachuello, estão instaladas no Salvador Shopping.
Outro conflito de interesse, ocorrido a partir de 2006, envolveu a
Prefeitura Municipal de Salvador e os proprietários dos grandes shopping centers.
A disputa pela cobrança do estacionamento nos shopping centers foi travada
judicialmente e ainda es tramitando no Tribunal Superior da Justiça. Na
instância local, o poder público municipal ganhou a batalha e, no final de 2007, o
Tribunal Superior deu ganho de causa para os proprietários dos shopping centers,
com direito de recurso para o poder público municipal
425
.
Até a conclusão das entrevistas, verificou-se que o estacionamento
ainda não estava sendo cobrado, ao menos, como uma obrigatoriedade para
todos os consumidores que freqüentam os shopping centers. Contudo, tais
empreendimentos comerciais já vinham adotando uma estratégia para ludibriar o
consumidor, criando os espaços destinados aos “estacionamentos VIPs”, sempre
mais acessíveis ao mall interno dos shopping centers
426
.
Ademais, o administrador do conjunto Tricenter, que envolve o Max
Center, o Tropical Center e o Pituba Park Center, localizados no sub-centro do
Itaigara, argumentou que, desde a década de 1980, esse proibição da cobrança
do estacionamento não motivou qualquer reforma nesses empreendimentos, que
424
Entrevista feita, em 2007, com um funcionário do shopping center que, no entanto, solicitou
sigilo absoluto.
425
Informações coletadas nas entrevistas, durante a pesquisa de campo (2007).
426
Pesquisa de campo (2006 e 2007), o Shopping Barra é um exemplo desse caso.
viabilizasse sua transformão em um shopping, na medida em que, para os
casos dos centros comerciais, a Lei Municipal permitia a cobrança
427
.
A implantação de novos shopping centers e a disputa por consumidores
o fatores importantes que, a nosso ver, ainda não fez prevalecer a cobrança da
taxa, porque incidiria na diminuição do fluxo de consumidores no
empreendimento. Por outro lado, isso pode ser alterado, tanto através de um
acordo tácito entre os maiores empresários, quanto caso algum empreendimento
deseje limitar o acesso das camadas mais populares aos seus interiores.
Desse modo, no bojo de complexas tensões e interesses é que
verificamos as mudanças na estrutura urbana de Salvador, engendradas pelo
processo de reestruturação urbana e da cidade. É, igualmente, nesse ínterim que
a lógica da centralidade foi sendo redefinida, enredando novas tramas urbanas. É
um processo que, evidentemente, produz conflitos, tanto na organização dos
espaços internos das próprias áreas centrais, quanto nas relações entre essas e a
cidade.
5.2 – Mercado imobiliário, áreas centrais e reprodução do capital
Na discussão sobre o processo de reestruturação da cidade de
Salvador é essencial articularmos a análise sobre as transformações nos centros
e sub-centros tradicionais, bem como nas novas expressões da centralidade
urbanas, às estratégias engendradas pelo mercado imobiliário para reproduzir o
seu capital. Adiciona-se a isso o fato de que, nas últimas décadas, o setor
imobiliário, visando reproduzir seu capital, ampliou suas articulações com os
interesses do capital financeiro e do capital comercial.
A formação do novo centro de Salvador, o Vale do Camaragibe, e dos
sub-centros localizados nas áreas elitizadas, como os da Barra, Manoel Dias da
Silva e Itaigara, esteve estreitamente associada à ação do mercado de terras
urbanas e do conseqüente processo de valorização do espaço. A ação do poder
público, nesse contexto, foi crucial, porque aprovou novos loteamentos
residenciais destinados, amiúde, às classes mais abastadas (SCHEINOWITZ,
1998). Por outro lado, despendeu um montante de verbas públicas, que foram
427
Informações coletadas nas entrevistas, durante a pesquisa de campo (2007).
aplicadas para fins privados, escamoteando interesses que beneficiaram uma
maioria rica da sociedade, dotando de infra-estrutura uma parcela da cidade, em
detrimento da parte pobre da periferia.
Entretanto, seria um reducionismo afirmarmos que apenas as áreas
mais distantes do centro antigo constituíram o alvo dos interesses imobiliários. O
Centro Tradicional, cujo valor (de troca) simlico tornou-se o alicerce das
propostas de reformas e, que, por sua vez, acarretaram na revalorização do
espaço, também tem atraído investimentos. Se a revalorizão do Pelourinho foi o
passo inicial para esse processo, atualmente, são verificados investimentos em
áreas residenciais elitizadas, localizadas em bairros que circundam o Centro,
como a Vitória, bem como propostas que têm tido interesses por parte do capital
imobiliário para construir prédios residenciais e comerciais no Comércio e prédios
comerciais na Baixa dos Sapateiros.
Tais observações sobre a ão do mercado imobiliário demonstram o
papel que tal agente desempenhou no processo de transformação da estrutura
urbana soteropolitana, reiterando o fato de que o setor imobiliário é um elemento
seminal para entendermos as relações que se tecem no urbano. Todavia, esse
processo revela tensões entre a desconcentração/reconcentração dos
investimentos numa parte privilegiada da cidade, concomitante à concentração no
Centro Tradicional.
Nos espaços mais distantes do centro antigo, os investimentos estão
direcionados, majoritariamente, para três áreas: o Vale do Camaragibe, a Av. Luiz
Viana Filho (Paralela) e a Orla Marítima. Em todos os casos, o poder público vem
tendo papel importante porque, amiúde, altera os trâmites legais para atender aos
interesses do capital imobiliário, ajustando os itens que geram impasses para a
ão desse agente.
Sobre o Vale do Camaragibe, a Av. Tancredo Neves vem recebendo
um montante elevado de investimentos, que faz parte de um “pacote” de
empreendimentos residenciais e comerciais construídos, constituindo a área
onde, hoje, es localizado o metro quadrado mais caro de Salvador. O
estratagema utilizado para atrair os compradores é a aliança entre o lugar de
moradia e o de trabalho, e esses às atividades de lazer centradas nos shopping
centers.
Es sendo construído um conjunto de prédios empresariais e
residenciais na Av. Tancredo Neves, próximo ao Salvador Shopping, merecendo
destaque Conjunto Dawntown Salvador Shopping, que envolve uma parte
empresarial, o Salvador Shopping Business, e outra residencial, o Vivenda e o
Mandarim Salvador Shopping, pela Construtora Andrade e Mendonça; o Salvador
Prime; o Salvador Business Flat e Salvador Office & Pool, Business Flat. (Figura
53). O padrão arquitetônico dos prédios denuncia o alto montante de investimento
que está sendo direcionado para essa área
Todavia, o aumento na concentração de atividades terciárias nas
proximidades do bairro Caminho das Árvores é acompanhado por protesto dos
moradores
428
em função das mudanças feitas pela Prefeitura Municipal que, para
atender a esses novos interesses, aprovou alterações no PDDU
429
que incluem a
liberação de novas ruas no bairro, anteriormente de caráter uniresidencial, para
fins comerciais e de serviços.
Outro foco de maciços investimentos em prédios comerciais e
residenciais no novo centro de Salvador é a Av. Antonio Carlos Magalhães, nas
imediações do Shopping Center Iguatemi. Após anos de luta judiciária
430
, num
amplo terreno, estão sendo construídos vários prédios, dentre os quais merece
destaque o Empresarial Tomé de Sousa, que está em estágio de comercialização
e quase concluído, e o Premiun Plaza, em construção (Figura 53).
A Av. Luiz Viana Filho é outra área que, nos últimos anos, vem
recebendo maciços investimentos do setor imobiliário. As conseqüências desse
processo envolvem uma miríade de aspectos, dentre os quais destacam-se a alta
valorização do solo, as decorrências para as áreas ocupadas pela população de
baixa renda e os rios problemas ambientais
431
. Nessa área, como ainda existe
amplas glebas de terras “desocupadas”, os empreendimentos envolvem grandes
condomínios fechados, prédios empresariais e comerciais, bem como grandes e
pequenos shopping centers.
428
Correio da Bahia (11.01.2007).
429
A Alameda das Espatódeas e a Rua Jacarandá, por exemplo, deixaram de ser uniresidenciais,
passando a ser, atualmente, corredores locais de usos diversificados, passíveis, portanto, para a
aquisição dos imóveis para usos comerciais e de serviços (SALVADOR, 2007).
430
Informações coletadas em 2007, junto ao Grupo Bom Preço que, recentemente, construiu a loja
do Sam´s Club numa parte do terreno.
431
Correio da Bahia (31.07.2007). Contudo, não vamos priorizar aprofundar essa questão nesta
Tese.
No que tange aos condomínios fechados, merecem destaques o Le
Parc, com 18 torres que vão ofertar 1.138 apartamentos; e o Alphaville e
Alphaville II, que vêm ocupando parcelas significativas de terras, sendo
promovido, tamm, o projeto para a construção do Alphaville III. Além desses,
existe uma miríade de prédios residenciais sendo construídos, distribuídos ao
longo a Av. Luiz Viana Filho, todavia, com forte concentração em locais
estratégicos como os arredores do primeiro Alphaville, exemplos do Carpe Diem
Alphaville, Morada dos Príncipes, Alphalife Residence, Prime Ville; bem como nos
arredores do Imbuí (Figura 54). Segundo dados fornecidos pela Associação dos
Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (ADEMI)
432
, até 2010, serão
construídos 3.874 imóveis nessa avenida.
Nesses casos, observamos um duplo processo que, por um lado
reforça à cidade murada ou cidade fechada, demonstrando que esse processo de
mudanças na estrutura urbana, tamm relacionado ao processo de
reestruturação da cidade, acentua ainda mais a fragmentação socioespacial,
engendrada por um movimento de auto-segregação.
Ainda que tenham adquirido evidências nos últimos anos, as mudanças
ocorridas na Av. Luiz Viana Filho vêm sendo planejadas mais de duas
décadas, período em que a Prefeitura Municipal começou a alterar os parâmetros
que definiam os tipos de empreendimentos que podiam ser construídos na área.
Essa via é, claramente, uma área central que está sendo projetada para o futuro,
constituindo, nos dias atuais, o mais importante nicho de mercado para a
expansão do setor imobiliário.
A terceira e última área que aumentou o interesse do setor imobiliário
foi a Orla Marítima. Como nos casos anteriores, a atual gestão do poder público
foi importante para “reanimaros interesses dos investidores, já que concentrou
sua atenção na alteração da legislação que normatiza o patamar máximo para o
gabarito da orla. Esse processo, todavia, vem gerando sérios embates entre o
poder público, os empreendedores imobiliários, os órgãos de proteção ambiental
e os moradores das áreas próximas à orla marítima de Salvador.
432
Pesquisa de campo (2007)
A aprovação recente do PDDU foi palco de sérios protestos por parte
de diversos segmentos sociais, porque evidenciou para quem serão direcionados
os interesses do poder público os empreendedores imobiliários, um fato que,
aliás, não é novo na cidade. Dentre outras questões, foram ignoradas as
ressalvas referentes às conseqüências acarretadas pelo aumento do gabarito da
orla em Salvador. Entre as áreas afetadas pela nova legislação, o Comércio e
parte da Orla Atlântica merecem destaque.
Mesmo antes da aprovação do PDDU, vários empreendimentos vinham
sendo construídos e projetados. Contudo, percebe-se que a aprovação do PDDU
deverá aumentar o número de construções e projetos, levantando a preocupação
sobre os impactos que a Orla de Salvador sofrerá se vier a se constituir um
“paredão de concreto”, como existe em Recife e Fortaleza, com o agravante de
Salvador ter uma faixa mais estreita de terra na orla que tais capitais.
O fato do Comércio, localizado no Centro Tradicional, também ter sido
afetado pela nova legislação comprova que as áreas centrais mais antigas ainda
constituem foco de grande interesse do capital imobiliário. Nessa parte do centro
antigo, o gabarito foi elevado para 45 metros
433
, contados a partir do nível do Mar.
Todavia, não foi uma proposta isenta de interesses, pois envolve, exatamente, a
área para a qual está sendo projetado o Hotel Hilton, uma rede de capital
internacional.
As mudanças que vêm ocorrendo no Comércio fazem parte de um
amplo projeto de revalorização da área para fins de interesse imobiliário e
comercial. Além do mencionado hotel, engloba uma série de empreendimentos
comerciais e de serviços menores, muitos dos quais já em funcionamento, como
as três faculdades privadas (Figura 55).
No Centro Tradicional e em suas imediações, além do Comércio, outras
áreas vêm sendo objeto de investimentos do capital imobiliário e comercial. Prova
desse fato são os empreendimentos construídos na Vitória. Todavia, nesses
casos, têm gerado conflitos entre os empresários, o poder público e o IPHAN
(Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) porque acarretaram a
demolição de construções antigas, como a Mansão Wildberg.
433
Salvador (2007).
Finalmente, ainda associado ao Centro Tradicional, esem projeto a
proposta de “revalorização” da Baixa dos Sapateiros, todavia, sem prazo para
torna-se uma realidade
434
. O projeto prevê a reforma arquitetônica de prédios
antigos que estão completamente abandonados, como o Cine Jandaia, bem como
investimentos em equipamentos de lazer e iluminação, orçados entre R$ 20 e 30
milhões
435
. Todavia, diferente de outras áreas mais valorizadas e que são alvos
preferenciais do mercado imobiliário, esse projeto deverá demorar para se tornar
uma realidade.
A análise sobre a atuação mais recente do capital imobiliário, em
Salvador, demonstra como, no modo capitalista de produção, a ação do mercado
imobiliário materializa-se através de uma inexorável contradição: um alto déficit
habitacional coexistindo com um aumento desordenado do número de espaços
residenciais e comerciais. Segundo o ex-presidente da ADEMI, a expansão do
mercado imobiliário, na Av. Luiz Viana Filho, es relacionada ao crescimento
demográfico de Salvador.
Salvador cresce uma Feira de Santana a cada dez anos. Para onde
eu vou mandar essas pessoas? Para a Barra? Para a Graça? Se a
prefeitura não realiza obras pesadas de infra-estrutura, só posso
construir na Paralela
436
.
Isso é uma falácia, pois esses novos imóveis têm destino certo - as
classes médias e altas. Assim, a expansão dos investimentos associados ao
capital imobiliário nem é decorrente do crescimento demográfico, mesmo porque
as taxas vêm diminuindo, nem objetiva equacionar qualquer problema relacionado
à moradia. Trata-se da criação de novos desejos e necessidades, gerando a
obsolescência dos antigos padrões de moradia. Amiúde, tais imóveis o
adquiridos por pessoas que possuem uma propriedade, objetivando imobilizar
investimentos, gerando renda do solo urbano, via aluguel ou revenda; ou obter
segunda residência.
434
Fonte: Salvador (2007).
435
Correio da Bahia (15.04.2008).
436
Correio da Bahia (11.05.2008).
Desse modo, concomitante ao aumento no número de
empreendimentos novos, o déficit habitacional, em Salvador, que está em 170 mil
habitações e engloba residências precárias, cohabitação familiar e ônus
excessivo com aluguel, deverá permanecer nesses patamares, mesmo porque no
PDDU não é apontado um programa expressivo para equacionar esse problema.
A ão do setor imobiliário, nas áreas acima mencionadas, tamm
indica o crescimento dos investimentos ligados ao capital financeiro nas áreas
urbanas. Segundo nossos levantamentos, os imóveis acima mencionados
possuem financiamento de bancos públicos e/ou privados, assim como tais
bancos estão articulados às construtoras. Portanto, tais empreendimentos
também desvelam-se como um estratagema utilizado pelo capital financeiro no
intuído de materializar-se na cidade, reproduzindo-a não só como espaço de
decisão, mas de investimentos.
Por final, destacamos que, na análise da cidade de Salvador, torna-se
essencial evitarmos concepções ingênuas sobre o processo de estruturação
urbana, principalmente, na análise sobre a ão do poder público e do capital
imobiliário, como a idéia de que:
Ainda que a implantação do novo CDB tenha sido planejada pelo
Estado e pelo grande capital, é importante evitar uma certa visão
“‘conspiratória” desse processo. O fato é que havia se esgotado as
possibilidades de expansão para os imóveis empresariais no antigo
(BRASIL, 2008, p. 32).
Por mais que, como mencionamos no Capítulo II, o Centro Tradicional
tivesse passando por problemas, em função da alta concentração de atividades
terciárias, entre as décadas de 1960 e 1970, não podemos justificar um processo
inexorável de concentração e centralização do capital numa determinada área,
como ocorreu no Vale do Camaragibe, com argumentos tão fgeis.
É necessário perceber que esse mesmo processo garantiu a
manutenção da extrema pobreza na cidade, decorrendo na segregação
socioespacial, também beneficiando e privilegiando uma classe específica.
Ademais, como explicar porque a mesma dotação de infra-estrutura, através da
canalizão de verbas públicas, não atingiu as áreas mais pobres? Se o real
problema fosse o estrangulamento do Centro Tradicional, esse não seria um
mecanismo importante?
5.3 – Um centro principal? Para que e para quem?
Villaça (2001), analisando as seis maiores metrópoles brasileiras, revela
uma preocupação em definir qual seria, atualmente, o principal centro dessas
áreas urbanas. O autor afirma que em determinadas investigações são cometidos
sérios equívocos, dentre os quais destaca as pesquisas que apontam a exisncia
de mais de um centro principal, o que para ele é um absurdo. Para o Villaça, a
constituição de um novo centro reflete um interesse de classe, pois[...] as
burguesias usam o seu centro o novo sempre que, com pretensões
hegemônicas, pretendem jactar-se de seus feitos e expô-los para impressionar os
dominados” (VILAÇA, 2001, p. 248).
Concordamos com essa visão do referido autor, por mais que a idéia da
existência de um centro principal mera certa precaução. Afirmar que o
podem existir outros centros que exercem funções como mais importantes é um
equívoco analítico. Hoje, com uma complexidade maior na dinâmica das maiores
cidades, querer encontrar o centro principal é, na verdade, um “fascínio” por
rígidas hierarquias. Por outro lado, demonstra uma confusão na idéia do centro
principal como análoga ao maior centro. Acreditamos que seria mais importante
questionar para que e para quem esse ou aquele centro é o principal.
É essa concepção que permeará as nossas reflexões sobre as áreas
centrais de Salvador, visando entender os nexos que alicerçam sua dinâmica
urbana atual. Entende-se que o pressuposto adotado possibilita desvendar os
interesses que estão subjacentes às alterações na centralidade urbana, sempre
corroborando a lógica da produção da cidade visando a reprodução do capital.
Os dados sobre os bairros onde residem os consumidores das áreas
centrais pesquisadas demonstram a existência de dois centros comerciais e de
serviços em Salvador: o Centro Tradicional e o Vale do Camaragipe. Tais
espaços possuem grande capacidade em atrair consumidores, competindo,
portanto, entre si (Figura 56). Todavia, o foram verificados como importantes
apenas os volumes quantitativos. Por mais que ambas as áreas atraiam
consumidores de toda cidade, uma clara distinção nos papéis que cada uma
exerce, pois, majoritariamente, enquanto no Centro Tradicional os maiores fluxos
o originários da parte pobre da periferia, no Vale do Camaragibe são oriundos
dos bairros mais elitizadas
437
.
O Centro Tradicional apresenta altos fluxos de consumidores que se
deslocam dos bairros localizados no Subúrbio Ferroviário, na Península
Itapagipana e no Miolo Central, compostos, amiúde, por camadas de baixa à
média renda. Ademais, percebe-se que moradores de bairros mais ricas, como a
Pituba e o Itaigara, e, principalmente, os mais próximos, como a Barra e a Vitória,
também consomem no centro antigo.
No Vale do Camaragibe ocorre um processo que é inverso. Enquanto
que os bairros mais nobres, como o Caminho das Árvores, a Pituba e o Costa
Azul, constituem a origem dos maiores fluxos de consumidores, algo previsível, os
fluxos dos consumidores dos bairros mais populares apresentam-se em
percentual bem menor, inclusive, que o percentual de pessoas residentes em
áreas mais elitizadas que consomem no Centro Tradicional.
No âmbito dos sub-centros, os dados comprovam que a segregação
entre as classes torna-se mais evidente, mesmo porque, em geral, como já
apontamos alhures, essas expressões da centralidade não atendem a toda
cidade, mas a uma parcela dela, reproduzindo a diversidade existente nos
centros. Num extremo, temos o Itaigara e a Barra, cujos consumidores são
oriundos das áreas mais nobres, principalmente os residentes nos seus entornos,
que constituem os fluxos mais altos. Na outra vertente, Paripe, Periperi, São
Caetano e Liberdade, localizados na periferia pobre e cujos consumidores
também são, amiúde, do entorno, composto por bairros populares (Figura 57).
437
Os dados utilizados, por opções metodológicas, referem-se à aquisição de produtos que não
demandam um deslocamento diário e freqüente dos consumidores, e isso é um limitador analítico.
Os sub-centros de Itapuã e da Calçada constituem enclaves, porque,
mesmo localizados na periferia e sendo freqüentados, majoritariamente, por
pessoas de bairros populares, verificamos que seus consumidores o estão
circunscritos às proximidades. Fluxos baixos são originados de bairros de classe
média, como Stela Maris e do Bonfim, respectivamente para o primeiro e o
segundo caso. Tanto em Itapuã quanto na Calçada, em nossa concepção, o fato
de estarem situados num interposto entre os dois grandes centros de Salvador e
os referidos bairros contribui para tal fato.
Os maiores fluxos identificados em Brotas originam-se,
majoritariamente, do seu entorno, constituído, em geral, por consumidores de
uma classe média diversificada. No caso de São Cristovão, como não foram
encontradas redes comerciais, o mapa foi feito com base nas informações
fornecidas pela administração do shopping homônimo. Eles revelaram que os
consumidores não são exclusivos do entorno, o que é compreenvel porque esse
sub-centro localiza-se num eixo de ligação com a Linha Verde e o Município de
Lauro de Freitas.
As informações levantadas contrariam a hipótese de que o Vale do
Camaragibe é um centro freqüentado, exclusivamente, pela elite. Como
observamos, mesmo sendo majoritária a presença de consumidores de bairros
mais elitizados, moradores das áreas mais populares de Salvador também
consomem nessa área central.
Essas informões poderiam indicar, a priori, que os dois centros mais
importantes de Salvador não revelam um processo de fragmentação
socioespacial, pensando na ruptura das relações entre as classes. Entretanto,
entendemos que é essencial aprofundarmos essas discussões, no intuito de
evitarmos equívocos analíticos.
Primeiro, a infra-estrutura de transporte coletivo direciona o fluxo de
pessoas para a proximidade do Shopping Center Iguatemi e do Salvador
Shopping, algo plausível, pois, não só tais shopping centers, mas todo o Vale do
Camaragibe emprega trabalhadores de segmentos sociais distintos e isso é um
aspecto significativo.
O outro é que, como apontamos no Capítulo III, os shopping centers
tornaram-se ícones da lógica do consumo nas cidades contemporâneas, e numa
cidade como Salvador que, como apontamos no início do capítulo, há uma massa
muito grande de pobres, é compreensível que tais espaços de consumo também
atraiam essas classes. Ademais, existem vários serviços, principalmente nas
proximidades do Shopping Center Iguatemi, como a Rodoviária e o SAC, que não
o restritos às classes mais elitizadas. Em nossa concepção, esses aspectos
têm influência nos dados sobre os deslocamentos dos consumidores das áreas
mais pobres para os centros e sub-centros mais elitizados, como o Vale do
Camaragibe e a Barra.
O S.C. pode ser considerado muito mais do que a simples
justaposição de um local de vendas com equipamentos destinados
ao lazer e à recreação. Na realidade, este objeto tem transformado
o ato de consumir em atividade de lazer. Nesse sentido, seus
empreendedores lançam mão de diversas estratégias que têm por
objetivo prioritário atrair todo e qualquer tipo de consumidor que,
nesse ambiente asséptico, de uma forma ou de outra, será
compelido ao consumo (GAETA, 1989).
Assim, mesmo que os moradores das áreas mais pobres adquiram
produtos e serviços num centro mais elitizado como o Vale do Camaragibe, deve-
se entender que a fragmentação social ocorre, nesse caso, no âmbito da própria
área central. Ou seja, mesmo que as pessoas de baixa renda tenham acesso a
esses espaços de consumo, isso não significa que elas freqüentam os mesmos
lugares utilizados pela elite, nem que todos os espaços de consumo foram feitos
para tais classes.
O tenant-mix do Shopping Center Iguatemi é um exemplo desse
processo de fragmentação revelada no nível da área central. As classes mais
populares, em geral, ocupam as áreas térreas, onde ficam as âncoras e cadeias
lojistas, que possuem estragias de inserção dessas camadas no consumo,
como créditos financiados a longo prazo, cartões, financeiras, bem como serviços
mais usuais para essas camadas, como o SAC, casas lotéricas, agências
bancárias, etc. No terceiro piso, todavia, excetuando-se as lojas âncoras, existem
apenas lojas de grifes, mais elitizadas e destinadas às classes de maior poder
aquisitivo. As duas praças de alimentação são outro exemplo dessa fragmentação
revelada no interior da própria área central, pois as lojas do primeiro piso são
mais populares que as do piso superior.
A disposição dos usos do solo, o tipo de atividade e o controle dos
espaços ocupados pelos ambulantes, mesmo que não impeçam o acesso das
pessoas aos estabelecimentos de maior imponência, “disciplinam onde e quais
os tipos de atividades podem ser localizados próximos aos shopping centers e
centros comerciais mais importantes, como o Salvador Trade Center e o Suarez.
Mencionamos que existem áreas ocupadas por serviços pouco especializados,
contudo, se verificarmos no mapa (Figura 34), esses estão concentrados em
partes específicas do Vale do Camaragibe, na vertente oposta aos shopping
centers e empreendimentos comerciais de alto padrão, aspecto diferente do que
verificamos no Centro Tradicional, onde as escalas do capital investido
espacializam-se segundo um uso mais diversificado e mesclado.
Nos sub-centros elitizados, a fragmentação socioespacial é mais
evidente, sobretudo no Itaigara e na Barra, o que torna clara a proposta do
Shopping Itaigara
235
e do Paseo Itaigara
236
, pequeno shopping em construção, de
possuírem um tenant mix destinado às classes A e B, compostas pelos
moradores dos bairros ricos que circundam o sub-centro. A Av. Manoel Dias da
Silva e espaços como o Shopping Barra também o exemplos desse processo,
concentrando um número alto de estabelecimentos voltados para o consumo de
classes mais elitizadas.
Se a implantação do shopping center, no Brasil, foi marcada pela
instalação de um sistema de atendimento a uma classe específica da população,
sua expansão tem revelado nuances que estão em sintonia com a evidente
situação de desigualdade social no país. É por isso que, segundo um dos
administradores do Shopping Center Iguatemi, na atualidade, os shoppings em
Salvador devem criar estratégias para atender adequadamente aos anseios das
camadas C da sociedade, sem perder de vista a classe A. Todavia,
indubitavelmente, isso não representa ausência de fragmentação socioespacial
nesses espaços de consumo.
235
Pesquisa de campo (2006).
236
Correio da Bahia (08.05.2006).
Com base nas informações sobre o fluxo dos consumidores, os
interesses, os conflitos e as características das atividades comerciais e de
serviços, aspectos discutidos neste e nos dois capítulos anteriores e que ajudam
a entender a lógica centralidade urbana, um questionamento torna-se crucial:
existe um centro principal em Salvador? A resposta a essa questão deve ser
respondida com outra pergunta: um centro principal? Para que e para quem?
Discordamos tanto da visão de Oliveira (2002), que afirma ser o novo
centro econômico, o Vale do Camaragibe, o principal da cidade; quanto das
visões de Villaça (2001) e Heinonen (2000), que afirmam ser o Centro Tradicional,
ainda, a principal área central de Salvador. O eqvoco de ambas reflexões é
querer encontrar algo que, de modo verossímil, nega um dos movimentos que
produzem a cidade poli(multi)nucleada contemporânea: centralização,
descentralização e (re)centralização. No contexto da reestruturação da cidade,
tais expressões da centralidade desempenham papéis distintos em Salvador, que,
todavia, são movidos por um objetivo comum: a reprodução do capitalismo
contemporâneo.
Percebe-se que o Centro Tradicional é uma referencia simbólica muito
forte em Salvador, por mais que, face à multiplicação das áreas centrais e dos
interesses associados a essas, venha ocorrendo uma diminuição dessa
subjetividade. Todavia, a revalorização do Pelourinho, transformado num
shopping center a céu aberto, foi uma clara estratégia de elevar o valor do solo,
expulsar a população pobre que residia no local, favorecer aos investimentos de
pequenos empresários do setor terciário, mas, sobremaneira, de atender aos
interesses do grande capital que se reproduz ligado ao setor do turismo, vinculado
a escalas supra locais, e que usam a cultura como valor de troca. Todavia, o
mercado imobiliário o ficou alheio a esse processo, pois seus detentores
reproduziram os interesses próprios através da construção de novos shopping
centers no Centro Tradicional, além de luxuosos edifícios, principalmente no
Campo Grande, na Vitória e no Comércio, como o Hotel Hilton.
O Vale do Camaragibe, nas três últimas décadas, tornou-se o centro
cujos empreendedores imobiliários têm investido pesadamente, construindo
shopping centers, centros empresariais e comerciais de alto padrão, tornado mais
visíveis suas alianças com o sistema financeiro e com o capital comercial. Mas,
es enredado numa trama que envolveu e envolve a criação de áreas
residenciais destinadas a elite soteropolitana, mantendo esse objetivo nos dias
atuais.
Assim, ao questionarmos para que, notaremos que ambos os
processos foram foco de tomadas de decisões políticas e normativas associadas
ao poder público que, ora privilegiando o Centro Tradicional ora privilegiando o
novo centro, coadunou com o privilégio dos interesses de uma classe específica –
os detentores do capital. A reprodução desses centros, portanto, pode ser
explicada ao verificarmos que eles constituem pares dialéticos indissociáveis,
contrapondo o velho e o novo, a tradição e a modernidade, a riqueza e a pobreza.
Definir um centro principal, exclusivamente, pela mensura da
quantidade de atividades terciárias contidas numa determinada área é recair num
reducionismo analítico. Até porque um detalhe mais apurado sobre essa
mensuração revela a fragilidade de tais argumentos. Por exemplo, o Centro
Tradicional possui um número maior de atividades, tendo a premência de atender
às classes populares, enquanto o Vale do Camaragibe possui mais centros
empresariais com alto padrão, destinados aos empresários; o fluxo de vculos
particulares é mais alto nas áreas do novo centro, enquanto que de usrios de
transportes coletivos é maiores no centro mais antigo. Com qual parâmetro vamos
definir o principal centro?
Se ambos foram produzidos para a reprodução do capitalismo, cabe
perguntar, então, para quem são destinadas tais áreas centrais? Nesses termos,
os dados demonstram que os centros reproduzem interesses de classes, que
eso coadunados com à reprodução da escassez. Assim, torna-se importante
observamos o que Villaça (2001) destaca, afirmando que o centro pode se
entendido se contraposto ao não-centro.
Por um lado, a manutenção do Centro Tradicional como o loco do
consumo das classes populares, mesmo que não seja exclusivo, fortalece a
fragmentação, porque permite separar os desiguais, distingue o shopping dos
pobres dos destinados à elite. O Vale do Camaragibe reflete a reprodução do
status, espaço produzido para a elite, mesmo que, no cotidiano, essa não tenha
uso particular do local, pois tem que conviver com os consumidores das camadas
populares, enredado pelas grandes empresas varejistas, muitas das quais, lojas-
âncora dos shopping centers. Uma fragmentação que também reflete a
segregação socioespacial, uma clivagem entre a cidade dos pobres e a cidade
dos ricos. Nesse contexto, a produção de áreas centrais implica na criação da
raridade do espaço, acessível a poucos.
Analisar uma dessas áreas como principal é desconsiderar uma
realidade flagrante de uma cidade que é extremamente desigual, produzida pela
contradição entre acumulação e escassez, entre privação e abundancia, entre
pobreza e riqueza. É nesse bojo que a Salvador poli(multi)nucleada é construída,
mantendo as tensões sociais e os interesses dos detentores do capital.
PERSPECTIVAS ABERTAS:
A CIDADE POLI(MULTI)NUCLEADA:
EXPRESSÃO DE MAIOR COMPLEXIDADE NA
URBANIZAÇÃO
O vento é o mesmo:
Mas sua resposta é diferente, em cada folha.
Somente a árvore seca fica imóvel, entre borboletas e pássaros.
Cecília Meireles
Pensar o movimento de transformação da Sociedade, bem como
compreender as feições da relação entre essa e a Natureza, resumidamente,
parecem ter sido os princípios historicamente estabelecidos para a construção do
conhecimento geográfico. É sabido, contudo, que nem sempre esses propósitos
estiveram desarticulados dos mecanismos de manipulação, domínio e submissão
da própria Sociedade ao poder que a ciência adquiriu no transcorrer do tempo. De
qualquer forma, o desvendar dessas mudanças ainda é o “sustento” dos projetos
científicos.
Indubitavelmente, essas premissas também nortearam o
desenvolvimento desta pesquisa, que objetivou entender o processo de
reestruturação urbana e da cidade de Salvador, bem como as transformões que
ocorreram em sua estrutura urbana, pensando nas decorrências para a lógica da
centralidade urbana.
Vale ressaltar que esta pesquisa es envolvida em um projeto mais
amplo
237
, que visa compreender os nexos que, atualmente, influenciam o
processo de urbanização e as incidências na estruturação das cidades baianas.
Assim, a escolha de Salvador como ponto de partida para as nossas reflexões foi
estratégica, porque fundamenta-se na hipótese de que essa metrópole exerceu e
exerce forte influência nas transformões que vêm ocorrendo em algumas
cidades baianas, pois ainda concentra forte poder, sem que esse fato seja,
essencialmente, uma determinação única.
Antes de apresentarmos nossas últimas reflexões, é importante
ressaltar os limites que encontramos no desenvolvimento desta pesquisa. O
principal foi a dificuldade encontrada em levantar dados sobre a realidade, pois
percebe-se uma carência de informações adequadas que em suporte para as
investigações intra-urbanas. Por um lado, nota-se que isso é produto da
despreocupação por parte de órgãos e instituições públicas e privadas, tanto de
237
Grupo de Pesquisa: Urbanização e produção de cidade na Bahia, vinculado à UESB.
preservar o registro da memória urbana, quanto de criar mecanismos que
mantenham uma base sistemática de dados e informações sobre a cidade.
A par de tais observações, doravante vamos conduzir nossas reflexões
tentando responder às questões levantadas no início desta pesquisa. Optamos
por um raciocínio que não seguirá a lógica que engendramos ao iniciarmos o
trabalho. Assim, vamos partir de algumas ressalvas sobre o nosso objeto de
estudo para, a posteriori, ponderar sobre as contradições encontradas no
processo de reestruturação urbana e da cidade, versando também sobre os
agentes sociais que influenciaram a dinâmica. Para concluir, faremos uma análise
sobre os elos existentes entre a reestruturação urbana e da cidade e a fase atual
da urbanização.
Algumas ressalvas
Pedimos licença para iniciar este tópico pensando na epígrafe desta
capítulo, porque, em nossa concepção, ela proporciona uma analogia com um
elemento central de nossas reflexões - o processo de urbanizão e a produção
das cidades. Nas últimas décadas, em escala mundial, as mudanças ocorridas no
fenômeno da urbanização tiveram conseqüências na produção do espaço urbano.
A urbanização, enquanto uma dinâmica, e a cidade, enquanto sua expreso
materializada, revelam uma teia de articulações políticas, sociais e econômicas
que influenciam na produção do espaço, traduzindo os liames técnicos que
vinculam o sistema de objetos ao sistema de ões, aspectos indissociáveis que,
para Santos (1996), constituem o próprio espaço enquanto uma totalidade.
Em nossa concepção, diferente do que propuseram outras correntes do
pensamento geográfico, o espaço não possui um traço isomórfico, principalmente,
porque trata-se de um produto social e histórico, ou seja, “um acúmulo desigual
de tempos” (SANTOS, 1997a, p. 5). Assim, ao longo desse tempo, o espaço
geográfico adquiriu particularidades, diferenciando os lugares, sem que,
necessariamente, perdesse sua universalidade.
Nessa lógica, a Geografia Urbana tem o compromisso de pensar as
generalizações sobre os fenômenos espaciais, pois essas são aspectos
essenciais para avançarmos na investigação sobre a produção do espaço urbano.
Todavia, como afirma a epígrafe, fundamentado pelas idéias de Sposito (2001b),
devemos especificar as categorias de cidades que podem ser envolvidas nessas
reflexões, principalmente, no que tange ao papel que desempenham na rede
urbana e à formação socioespacial
238
da qual fazem parte.
Quaisquer observações e reflexões que objetivem versar sobre a
produção do espaço urbano devem considerar, dentre outros aspectos, as
diferenciações existentes nas dinâmicas internas das cidades. Em outros termos,
precisamos considerar que as relações tempo-espaço engendradas em uma
metrópole são diferentes em cidade média, como são também distintas em uma
pequena cidade. Como já afirmamos, a Geografia Urbana avançou bastante
nesse sentido, o que é profícuo, pois reforça o entendimento de que a análise
sobre a cidade envolve, na verdade, tempos e espaços que o distintos, sem
que, necessariamente, recaiamos numa concepção idiográfica.
Contudo, no desenvolvimento da pesquisa, notamos que ainda temos
muito a avançar, principalmente, no que tange: - à sistematização de dados sobre
as cidades e as demais áreas urbanas; - à coleta de informações, em especial, as
relacionadas a renda gerada pelo solo urbano; - à elaboração de pressupostos
teóricos que dêem conta de explicar a forma e a essência da cidade
contemporânea. Essa é a primeira perspectiva que apontamos.
Mesmo fruto de um processo que é geral - a urbanização -, sendo esse
o nexo que explica as determinantes mais gerais que caracterizam as cidades, a
estruturação e reestruturação urbana desenvolve-se de modo diferenciado, de
acordo com os papéis desempenhados pelas cidades na rede urbana e com o
contexto histórico do qual fazem parte.
238
Segundo Santos (2005, p. 21-35), “trata-se da análise diferencial das sociedades, no seu
quadro próprio em relação com as forças externas de onde mais freqüentemente lhes provém seu
impulso”. A produção, portanto, o trabalho do homem é engendrado para transformar o espaço
com o qual o grupo se confronta.
Assim sendo, salientamos que nossos esforços teóricos objetivam
pensar, especificamente, sobre as cidades que desempenham papéis como
metrópoles regionais, como é o caso de Salvador, ressalvando ainda as
particularidades históricas que são inerentes a cada uma delas. Outrossim,
considerar os traços da formação socioespacial na qual está inserida a cidade
estudada – a Região Nordeste - um espaço onde a distribuição da riqueza é muito
desigual e que é a região mais pobre do Brasil, um país tamm pobre e
industrializado. Portanto, trata-se de uma área urbana localizada na periferia da
periferia
239
.
Pensar a estruturação e a reestruturação do espaço urbano, em
Salvador, é indagar os elementos e a lógica que engendram a trama de relações
que, por sua vez, definem e redefinem o modo como esorganizado o uso do
solo em uma metrópole regional pobre. Portanto, quaisquer analogias que
proponham ir além desse foco não fazem parte das nossas preocupações,
porque, certamente, recairão em equívocos analíticos.
As mudanças ocorridas em Salvador, nas últimas décadas, são o fio
condutor que revelou nexos importantes sobre as alterações ocorridas no
processo de urbanização. Indubitavelmente, demonstram que elementos
contemporâneos e distintos passaram a influenciar a produção da cidade, tendo
decorrências diretas em sua estruturação interna. Esse processo aparece com
dupla conseqüência: por um lado, com força maior, uma dinâmica que impele a
expansão territorial da cidade, reconcentrando interesses em novas áreas que
o abertas pelo e para o mercado de terras; por outro, com menor
expressividade, uma força centrípeta que concentra investimentos, atividades e
consumidores, portanto, interesses, nos centros tradicionais.
A ação dos agentes produtores do espaço soteropolitano aponta
caminhos para pensarmos as determinantes de um processo de urbanização que,
hodiernamente, desenvolve-se estabelecendo uma centralidade urbana
diferenciada, pautada por um movimento que, dialeticamente;
Concentra, desconcentra e reconcentra as atividades terciárias no
espaço urbano;
239
O termo periferia está sendo utilizado como sinônimo de dependência econômica.
Gera a acumulação do capital corroborando a escassez que, por sua
vez, alimenta uma extrema pobreza;
Reproduz o solo urbano privado, a partir do reforço da sua condição
como raridade;
Engendra os processos de fragmentação segregação socioespaciais.
No caso das metrópoles regionais, verifica-se que tais aspectos indicam
novos nexos nos processos urbanos, o que sugere pensarmos que tais cidades
eso sob a influência de uma urbanizão cuja complexidade é maior
240
.
Argumenta-se, porém, que essa idéia não reitera o fato de que, em períodos
anteriores, o fenômeno da urbanização ocorreu de modo mais simplificado. O que
se percebe, atualmente, é uma miríade de eventos que são sobrepostos às
dinâmicas pretéritas, constituindo processos mais complexos que necessitam ser
desvendados.
Assim, a atual produção da cidade, no caso das metrópoles regionais,
materializa uma estrutura urbana que se apresenta com várias e diferentes áreas
centrais. Essa forma como os usos do solo estão organizados passa a coexistir
com estruturas mais antigas, herdadas de tempos pretéritos. Ademais,
concomitante à multiplicação de áreas centrais, nota-se que também eclodem
novos e diferenciados conflitos urbanos.
A discussão sobre a constituição de uma nova complexidade no
processo de urbanização torna-se seminal para pensarmos a reestruturação
urbana e da cidade, pois contribui para analisarmos as características da fase
atual do capitalismo, pautado no regime de acumulação flexível, e,
fundamentalmente, para avaliarmos de que modo esse estágio do sistema
influencia na estruturação das cidades.
240
Em nossas reflexões, o termo complexo não tem nenhuma relação com a Teoria da
Complexidade, pois o pensamos como um processo, não como método científico. Ademais,
advertimos que não se pode engessar as palavras, aprisionando-as a uma corrente teórica, como
já observou Lefebvre (1968) sobre o termo estrutura.
Contradições na/da reestruturação da urbana e da cidade
Antes de refletirmos sobre a existência ou não de uma relação entre a
fase atual do capitalismo e uma específica forma urbana, é necessário pensarmos
uma questão inicial: é pertinente separarmos os termos reestruturação urbana e
reestruturação da cidade, ou estamos recaindo em uma tautologia?
Em nossa concepção, se não quisermos deixar de lado os
ensinamentos de Lefebvre (1991), torna-se essencial fazermos a devida distinção
entre as determinantes de tais processos, sem perder de vista, como
mencionamos no Capítulo I, sua indissociabilidade. Segundo esse autor, a
diferenciação entre o conceito de cidade e urbano merece proeminência, na
medida em que apresenta-se como um ponto de partida para o seu entendimento.
portanto uma ocasião em uma razão para se distinguir a
morfologia material da morfologia social. Talvez devêssemos
introduzir uma distinção entre a cidade, realidade presente,
imediata, dado prático-sensível, arquitetônico – e por outro lado o “o
urbano”, realidade social composta de relações a serem
concebidas, construídas ou reconstruídas pelo pensamento.
(LEFEBVRE, 1991, p. 49)
A acepção de Lefebvre proporciona uma leitura dos conceitos de cidade
e urbano, respectivamente, como definidores de uma relação entre forma e
conteúdo, entre material e imaterial. Contudo, destaca que se, por um lado, essa
separação (necessária) é uma dimensão teórica e metodológica relevante, por
outro, não deixa de revelar certo perigo, devendo evitar “tanto a metafísica quanto
a redução à imediaticidade sensível”. (LEFEBVRE, 1991, p. 49). Do mesmo modo
que toda forma pressue um conteúdo e todo conteúdo exprime-se a partir de
uma forma, a cidade e o urbano o dimensões inseparáveis, intrínsecas, tanto
da realidade, na medida em que m existência no mundo real, quanto do
pensamento sobre a realidade da cidade e do urbano, na medida em que são
construções científicas.
Para Santos,
O urbano é freqüentemente o abstrato, o geral, o externo. A cidade
é o particular, o concreto, o interno. o o que confundir. Por
isso, na realidade, há histórias do urbano e histórias da cidade.
(SANTOS, 1997b, p. 69).
Com base nas investigações sobre Salvador e nas reflexões
supramencionadas, argumenta-se que o processo de reestruturação urbana
contém em si o jogo de ações e reações, portanto, também os interesses sociais
que materializam a cidade enquanto um produto. Estão em sua dimensão as
normas, as estratégias políticas (decerto, a própria política), as lutas de classes e
os movimentos sociais, o planejamento, o micro e o macro cosmo da vida
cotidiana e, amiúde, o devir da sociedade.
A reestruturação da cidade, por outro lado, a dimensão concreta do
fenômeno, é apreendida pela experiência sensorial, e desvela, a partir da
materialidade, as alterações que ocorreram no urbano. Podem ser enfatizadas
como suas expressões, o plano e o traçado do espaço urbano, a arquitetura, os
padrões habitacionais, o sistema de circulação e de comunicação, as formas
herdadas, as marcas do micro e do macro cosmo da vida cotidiana e a própria
estrutura urbana.
De qualquer modo, a reestruturação da cidade, internamente, tamm
exprime o abstrato, o geral, o externo; e a reestruturação do urbano,
externamente, contém o particular, o concreto, o interno, isso, se pensarmos nas
argumentações de Santos (1997b), pois são pares dialéticos, incompreensíveis
sem a devida articulação. Tais fenômenos não se apresentam como dimensões
esticas, porque contêm um movimento que é, concomitantemente, aparente e
invisível, proporcionando-lhe diligente fluidez histórica.
Retornando ao atual processo de produção da metrópole regional, em
particular, a existência de um novo arranjo territorial constituído pela produção de
espaços destinados ao consumo na fase atual do capitalismo, vale questionar até
que ponto é possível estabelecer uma analogia entre capitalismo contemporâneo
e a estrutura urbana, um desígnio posto como princípio teórico para a pesquisa?
Existem dois caminhos, ao menos, para refletirmos sobre essa relação
no contexto de uma complexidade maior na urbanização. Por um lado, temos que
pesquisar se existem efeitos da reestruturação produtiva na cidade, e, por outro,
quais são as determinações gerais do processo de reestruturação urbana. Talvez,
equacionando tais questões possamos entender suas influências na
reestruturação da cidade.
Percebemos que a reestruturação produtiva constitui uma dimensão
que influencia diretamente na reestruturação urbana, pois provoca mudanças no
conteúdo do urbano, sem desconsiderar que as determinações daquela estão
para além dessa, na medida em que também envolvem outros elementos. Por
exemplo, as escalas de conseqüências da reestruturação produtiva o diversas,
demonstrando um fenômeno que não se restringe à produção do espaço urbano.
Outro elemento importante para o debate sobre a reestruturação da
cidade é a reprodução da vida (LEFEBVRE, 1974). Por opções metodológicas,
pusemos em detrimento essa dimensão no desenvolvimento das nossas
pesquisas, se compararmos à atenção dada aos aspectos políticos e econômicos.
Ressaltamos isso porque não se pode esquecer que a reestruturação produtiva é
apenas um elemento que influencia o urbano, bem como sua reestruturação.
Outros componentes tamm fazem parte desse contexto, e o próprio movimento
da vida é algo seminal para investigarmos as mudanças ocorridas na sociedade.
Tendo como pressupostos as informações encontradas em Salvador,
observa-se que as mudanças que examinamos tiveram como ponto de partida um
processo de reestruturação produtiva ocorrido entre as cadas de 1950 e 1970,
e que provocou mudanças na estruturação da cidade. A chegada das indústrias,
ao mesmo tempo em que foi produtora dessas transformões, foi, igualmente,
um produto do amadurecimento do capitalismo urbano industrial no Brasil.
Entretanto, essas específicas mudanças na estrutura produtiva de
Salvador, necessariamente, não se relacionam com o regime de acumulão
flexível. Suas características dizem mais respeito às conseqüências da ascensão
do modelo fordista em países subdesenvolvidos, compondo o que Lipietz (1988)
denominou como capitalismo periférico. Portanto, por mais que esse movimento
de reestruturação produtiva tenha tido influência no processo de estruturação da
cidade, seria incorreto argumentarmos que os seus estilhaços são evidência de
uma relação direta entre o atual regime de acumulação do capital e alterações na
estrutura urbana.
Tais argumentos demonstram que a análise sobre a reestruturação
produtiva também deve precisar o contexto hisrico que está sob investigação. A
ascensão do regime fordista tamm foi marcada por um processo de
reestruturação produtiva no modo capitalista de produção, por mais que nossas
preocupações não estejam voltadas, especificamente, a essa fase do sistema.
De qualquer modo, as mencionadas transformões causaram
impactos diretos na cidade de Salvador, contexto tempo-espacial que
entendemos como o ponto de inflexão do fenômeno. A partir desse, evidenciou-se
uma profunda reestruturação urbana, passando a ter premente implicação na
organização do uso do solo as ões do Estado e os interesses da produção
imobiliária, ambos confrontando com os movimentos de luta por moradia.
Assim, por mais que aquela reestruturação produtiva tenha causado o
impacto inicial, nas últimas décadas, foram os interesses associados aos ditames
do mercado imobiliário que prevaleceram no movimento de reestruturação
urbana, incidindo na reestruturação da cidade, ou seja, no modo como passou a
ser expresso o mosaico dos usos do solo urbano.
Em Salvador, a ação dos produtores do espaço urbano, com destaque
para os incorporadores imobiliários, transformou o conteúdo do urbano, alterando
a própria cidade, provocando a sua reestruturação. A investigação sobre a ação
desses agentes torna-se seminal para a análise sobre a reestruturação urbana e
da cidade, porque, dentre outros aspectos, influencia a formão de novos
centros urbanos, com ampla diversidade de atividades e estabelecimentos e que
apresentam maior capacidade de competição com os centros tradicionais. Nessas
áreas, em geral, são planejados grandes equipamentos urbanos, como shopping
centers, centros comerciais e empresariais, dentre outros, que cumprem o papel
de determinar os rumos da valorização do solo urbano, decorrendo na própria
expansão da cidade. Os sub-centros localizados em áreas elitizadas também são
evidentes demonstrações da capacidade que esse agente possui em alterar a
estrutura urbana de acordo com seus interesses.
A atuação dos empreendedores imobiliários influencia na
reestruturação urbana e da cidade, igualmente, em função de sua capacidade de
produzir novos espaços residenciais. De modo usual, tais empreendimentos
coadunam com os interesses, por vezes velados, de se criar na cidade um lugar
que é destinado às classes elitizadas, como o caso do novo centro de Salvador,
tendo sempre a aquiescência do poder público.
Entretanto, por mais que esses tenham foa premente, não podemos
reduzir o processo de reestruturação urbana e da cidade, em uma área como
Salvador, apenas às suas determinações, porque isso seria um erro. A cidade
não se reduz às áreas elitizadas. Mesmo associada à privação da cidade, que é
gerada pela ão dos incorporadores, especuladores e empreendedores
imobiliários, as expressões da centralidade urbana, formadas na parte pobre da
periferia, têm forte relação com o processo de expansão do tecido urbano e com
os interesses das empresas em expandir-se. Essas últimas objetivam atingir
novos nichos de mercado e reproduzir o seu capital com base no atendimento às
necessidades das classes mais populares.
Ademais, é verossímil que o capital comercial investido em tais áreas,
ao mesmo tempo em que se reproduz a partir da apropriação da renda dos
pobres, também favorece a fragmentação socioespacial, na medida em que limita
o deslocamento dos mais pobres para os novos e elitizados centros e sub-centros
urbanos.
As informações que coletamos trazem evidências de que o regime de
acumulação flexível tamm tem um vel de influência no processo de
reestruturação urbana, seja em áreas pobres ou elitizadas, e acreditamos que
suas implicões são importantes para entendermos as mudanças que vêm
ocorrendo nas áreas centrais. Todavia, essa discussão merece algumas
considerações.
A primeira é uma ressalva. É essencial diferenciamos o que é uma
reforma urbana e do que significa uma reestruturação urbana. Aliás, esse aspecto
foi abordado no Capítulo I, destacando a advertência de Villaça (2001) quando
argumenta que pode haver reforma sem que haja reestruturação. A análise sobre
Salvador trouxe dados bastante evidentes sobre essa questão. As reformas
ocorridas no Centro Tradicional, entendidas como revalorizão, o marcaram
em si a dinâmica da reestruturação da cidade, por mais que sejam um elemento
importante a ser considerado no processo. Mesmo que não seja uma regra, a
reestruturação da cidade ocorre concomitante às ações que provocam reformas
urbanas, principalmente, nas áreas centrais mais tradicionais, como é o caso que
estudamos.
Sobre a estrutura urbana e a etapa atual do capitalismo, Gottdiener
argumenta que a forma urbana existente hoje o reflete qualquer conjunto de
imperativos socioespaciais decorrentes do regime de acumulão flexível, mesmo
possuindo características desse regime na contemporaneidade. Na realidade,
isso é um truísmo, porque, sob esse prisma, argumentaríamos que em nenhum
momento da história mais recente do capitalismo a morfologia urbana representou
imperativos socioespaciais de estágios específicos decorrentes desse modo de
produção.
Como um produto histórico, a cidade capitalista mantém em suas
estruturas e formas herdadas o registro de elementos que prevaleceram sob os
auspícios de outros regimes de acumulação. Obviamente, essa história
materializada não se apaga nem se anula com o imperativo de novas
determinantes sociais, poticas e econômicas. Verificando o caso de Salvador,
percebemos que a sua feição poli(multi)nucleada es assentada sobre um
conjunto estrutural que prevaleceu num outro tempo, sendo mais evidentes as
estruturas herdadas de períodos mais recentes e que explicitam que o centro
tradicional foi o grande polarizador da centralidade urbana e regional.
Destarte, não acreditamos que o caminho pertinente seja esse: a busca
por encontrar uma forma urbana específica do regime de acumulação flexível, até
mesmo porque, como advertimos no icio deste capítulo, as cidades são
bastante diferentes no que tange ao papel que desempenham na rede urbana e
às características da formação socioespacial da qual fazem parte.
Estamos analisando a urbanização, enquanto um processo e que, no
esgio atual, está marcado pela constituição de uma maior complexidade. Assim,
se quisermos encontrar alguma relação entre a fase atual do modo capitalista de
produção e as mudanças no uso do solo de áreas metropolitanas como Salvador,
devemos centrar o foco, primeiro, no conteúdo desse processo, e, posteriormente,
atentarmos para as suas materializões.
Cabe, portanto, evidenciar que o regime de acumulação flexível é
reproduzido com base numa divisão social, técnica e territorial do trabalho que, na
escala internacional, define papéis diferentes que os lugares desempenham. Não
podemos querer encontrar nuances no processo brasileiro que não estejam
envoltas nesse pressuposto inicial.
Nesse sentido, para a análise da centralidade urbana, elencamos dois
aspectos cruciais que impactaram em Salvador: a terciarização da economia e o
modo como o capital financeiro interferiu na produção da cidade. As reflexões
sobre tais elementos são o liame que articularam as decorrências do regime de
acumulação flexível em metrópoles regionais, produzindo uma estrutura urbana
poli(multi)nucleada.
No caso de Salvador, o processo de reestruturação foi uma resultante
direta dos interesses da produção imobiliária. Os agentes vinculados a essa
lógica privatizaram e privatizam o espaço urbano, tornando-o uma mercadoria
cujo valor é criado no desenvolvimento das forças produtivas e dos meios de
produção, bem como na apropriação da mais-valia. Segundo Rodrigues, a “terra
urbana, assim, tem um preço, expressão dos valores que lhes são atribuídos”
(RODRIGUES, 1988, p. 20).
As condições de pagamento pela terra e pelo acesso à terra, criadas
pelos interesses fundiários e imobiliários, determinam e expressam a forma como
a cidade é produzida. Por isso, as desigualdades e o o-acesso a certos
benefícios que incidem sobre uma parcela da sociedade urbana representam as
características subjacentes ao capitalismo sob a forma de relações; relações
essas que se materializam espacialmente a partir da segregação. Para Carlos,
A produção espacial expressa as contradições da sociedade atual
na justaposição de riqueza e pobreza, esplendor e fealdade; em
última análise na segregação estampada na paisagem, e que tem
sua natureza no modo de exploração do trabalho pelo capital
fundado na propriedade, em que os homens se distinguem pelo ter,
isto é, pela sua condição de proprietários de bens (CARLOS,
1994b, p.23).
Contudo, o processo de terciarização da economia e, principalmente, o
aumento da influência exercida pelo capital financeiro na economia urbana
constituem elementos novos que vêm coadunando com as estratégias
engendradas pelos agentes imobiliários, formando uma complexa trama de
interesses que cria um registro único na história das cidades. Se
desconsiderarmos as estratégias utilizadas pelos agentes ligados ao setor
terciário e ao sistema financeiro mundial teremos dificuldades em explicar as
características atuais das cidades poli(multi)nucleadas.
Indiscutivelmente, qualquer análise sobre a cidade estará incompleta se
desconsiderarmos as ações do poder público, outro elemento apontado no
capítulo I como seminal para entendermos a fase atual do capitalismo, mesmo
porque o Estado é fundamental para desenvolver os ajustes que intermediam as
articulações entre a produção imobiliária, o capital financeiro e o capital comercial,
materializando o espaço urbano como um produto marcado pela “apropriação
individual do que é coletivamente produzido” (CARLOS, 1994a). Isso acontece
porque a acumulação do capital, propulsora da retenção do espaço por uma
classe determinada, tem como pressuposto a privatização do solo urbano.
A reestruturação da cidade de Salvador ocorreu mediante a
regulamentação do acesso ao solo urbano, que, por sua vez, gerou meios
desiguais de acesso à cidade, legitimados pelo controle do espaço com base na
implementação da norma. Esse arcabouço normativo que rege a produção do
espaço é, igualmente, um elemento relevante no debate sobre as alterações na
estrutura urbana, pois essa contém uma dimensão jurídica criada a partir da
aprovação de instituições, princípios e leis que sustentam o controle do uso do
espaço. Nas mãos das esferas administrativas de poder (municipal, estadual e
federal) concentram-se as deliberações que decidirão como os proprietários do
capital e os indivíduos irão usufruir, ainda que de modo diferenciado, a cidade.
A terciarização influencia o processo de reestruturação da cidade
porque, com a evidente expansão do setor de serviços, houve uma intensificação
na compra e locação de espaços destinados à implantação dessas atividades.
Como tal movimento acompanhou o processo de expansão do tecido urbano, um
conjunto de estratégias foi elencado, construindo determinantes locacionais que
visaram influenciar a alteração da circulação urbana e a reprodução do capital
comercial.
A pesquisa sobre a terciarização, se adicionada ao processo de
terceirização econômica, pode contribuir para entendermos o processo de
reestruturação da cidade como um produto das mudanças, também, no mercado
de trabalho. Ainda que não tenha sido o foco de nossas investigações empíricas,
deve ser ressaltado que a precarização do trabalho influencia diretamente no
surgimento de trabalhadores autônomos, que implantam pequenas empresas nas
novas e nas tradicionais áreas centrais; bem como no crescimento do setor
informal, que passou a disputar os consumidores com as empresas “formais, nos
espaços que pesquisamos. Nesse contexto, certamente encontramos novos
nexos estabelecidos entre a organizão do uso do solo atual e o movimento de
reprodução da vida.
A terciarização econômica foi acompanhada, para o caso do grande
capital comercial, por uma crescente articulação entre as grandes cadeias
empresariais e o capital financeiro, principalmente as que dominam o comércio
varejista e atacadista sob a forma de supermercados e hipermercados. Como
mencionamos no capítulo IV, esse processo também influenciou a formão e a
consolidação de novas áreas centrais, acarretando, por outro lado, numa clara
concentração do capital investido no setor terciário, que estamos denominando
como processo de oligopolizão do capital comercial de forma mais acentuada
no ramo de hipermercado e supermercado. Tal aspecto possibilita situarmos um
elo com o outro segmento que contribui para entendermos o processo de
reestruturação da cidade o fortalecimento do capital financeiro na economia
urbana.
Articulado às ações dos detentores do capital comercial e dos agentes
imobiliários, o capital financeiro passou a ter forte implicão no processo de
produção do espaço urbano, reforçando a discussão sobre a estruturação da
cidade, outrossim, como uma expressão da contradição entre forças locais e
globais. Isso alude pensarmos na discussão desenvolvida por Lefebvre (1991), ao
enfatizar outros níveis escalares do fenômeno urbano, denominados como a
especificidade da cidade. Para o autor, essa está situada num interscio entre o
que denomina como ordem próxima e ordem distante.
A cidade sempre teve relações com a sociedade no seu conjunto,
com sua composição e seu funcionamento, com seus elementos
constituintes (campo e agricultura, poder ofensivo e defensivo,
poderes políticos, Estado, etc.), com sua história. Portanto, ela
muda quando muda a sociedade no seu conjunto. Entretanto, as
transformações da cidade não são os resultados passivos da
globalidade social, de suas modificações. A cidade depende
também e não menos essencialmente das relações de
imediatice,das relações diretas entre as pessoas e grupos que
compõem a sociedade (família, corpos organizados, profissões e
corporações, etc.); ela o se reduz mais à organização dessas
relações imediatas e diretas, nem suas metamorfoses se reduzem
às mudanças destas. Ela se situa num meio termo, a meio caminho
entre aquilo que se chama de ordem próxima (as relações dos
indivíduos em grupos mais ou menos amplos, mais ou menos
organizados e estruturados, relações desses grupos entre eles) e a
ordem distante, a ordem da sociedade, regida por grandes e
poderosas instituições (Igreja, Estado), por um código jurídico
formalizado ou não, por uma “cultura” e por conjuntos significantes.
(LEFEBVRE, 1991, p. 46)
Tal preocupação com diferentes escalas de ação dos sujeitos na
produção do espaço urbano foi destacada por outros autores, como Castells
(1983), Soja (1993), Carlos (1994b), Harvey (2004) e Sposito (2004). O intuito é
pensar a cidade como uma especificidade, na materialidade das relações sociais,
construídas ao longo de um processo histórico, num determinado lugar, e
engendrada pelo modo de produção ao qual essubjugada.
Esse é um pressuposto importante para a análise sobre as implicões
do capital financeiro no processo de reestruturação da cidade.
Contraditoriamente, como um conjunto semiótico de formas específicas, a cidade
representa uma unicidade que lhe atribui significados singulares. Entretanto, isso
es no bojo de elementos que são influenciados por processos globais, dentre os
quais ressaltamos o papel do capital financeiro, realizando o urbano a partir de
suas ações e impelindo os nexos que envolvem sua compreensão para além do
que é imediato.
Assim, uma miríade de novos equipamentos urbanos, como shopping
centers, grandes cadeias varejistas, supermercados e hipermercados, além dos
conjuntos residenciais e empresariais, estão sendo definidos e implantados com
base em investimentos oriundos de sujeitos e instituições que atuam em outras
ordens escalares, em aliança com os ditames do mercado imobiliário. Verificamos
que tais articulações dependem da inserção de cada atividade no processo de
(re)produção da sociedade e dos interesses empresariais que estão em jogo.
Em metrópoles regionais como Salvador, aspectos observados nos
capítulos III, IV e V, o financiamento de grandes shopping centers, de
empreendimentos residenciais e empresariais, bem como a aliança entre o capital
comercial de empresas como a Wal-Mart e o Carrefour, são provas incontestes de
que a estrutura poli(multi)nucleada que tais cidades passaram a apresentar está
integrada a um sistema de relações mais complexo no que tange às escalas
espaciais e temporais.
A análise sobre os processos de reestruturação urbana e de
reestruturação da cidade implicam examinarmos quais são as teias de relações,
bem como os elementos diversos, que compõem as nuanças da articulação entre
os agentes imobiliários e o capital financeiro e comercial, por mais que seja
evidente que os interesses dos primeiros tenham prevalecido nas mudanças
ocorridas na estrutura urbana de cidades como Salvador. Segundo Pintaudi:
[...]explicar a combinação de fatores que permitem a existência
neste ou naquele lugar de diferentes tipos de lojas comerciais, bem
como as transformações que provocam no arranjo espacial, é
importante para se possa ler melhor o espaço geográfico e,
conseqüentemente, exercer melhor a cidadania (PINTAUDI, 1989,
p. 07)
Uma leitura histórica, ainda que linear, possibilita perceber que a
estruturação das cidades atuais ocorre com matizes diferentes das que existiam
sob a prevalência do regime de acumulação fordista. Durante o domínio desse
último, em metrópoles como Salvador, predominava uma estrutura urbana
formada por um centro único, que era polarizador da vida urbana, já evidenciando
as decorrências da disseminação do automóvel e de outros bens que favoreciam
a expansão do tecido urbano em direção à periferia. Esse processo tamm
demonstra as conseqüências das necessidades criadas pelo capitalismo, naquele
contexto específico, que engendrou a ampliação do consumo de determinados
bens.
Nos processos atuais, que impelem a reestruturação urbana e a
reestruturação da cidade, superpõem-se às estratégias fordistas: - a criação de
novas lógicas de localização, atraídas pelas exigências do setor imobiliário,
amiúde, aliadas ao financeiro e comercial; - a terceirização econômica,
desvelando mecanismos que visam uma clara massificação do consumo
241
; e,
finalmente, - a existência de uma estrutura urbana poli(multi)nucleada, constituída
por novas relações tempo-espaço.
Hoje, torna-se premente um movimento dialético que produz na cidade
a superposição de dinâmicas que, concomitantemente, reforçam a dispersão e a
concentração - a C-D-R (centralizão, descentralização e recentralização). A
reestruturação é, portanto, uma expressão materializada desse processo,
podendo ser traduzida pela investigação sobre o modo como estão organizados
os espaços residenciais, as áreas terciárias ou a atividade industrial,
preferencialmente, relacionando-os.
Essa passagem que reafirma a superposição entre o anterior
movimento de estruturação das cidades e uma nova dinâmica de estruturação, ou
seja, uma reestruturação, está sistematizada em uma figura esquemática (Figura
58). Todavia, como qualquer representação espacial, o esquema possui limites,
pois não incorpora a riqueza de todos os elementos que constituem a trama
urbana.
O eixo das relações tempo-espaço representa o cerne do processo de
estruturação e reestruturação da cidade, traduzindo um movimento que contem
uma linearidade, sem que essa seja exclusiva, na medida em que à linearidade
o justapostas dinâmicas que manifestam temporalidades e espacialidades
circulares, cíclicas etc. Por esse fato, é que a representação do eixo está
espiralada, impelindo a idéia de movimento têmporo-espacial.
241
A massificação do consumo é diferente da expansão do consumo que ocorreu durante o
fordismo. Nos dias atuais, o criadas estratégias para envolver as classes mais populares na
modelo consumista, sem que, necessariamente, isso implique numa melhoria da condição de vida
dessas. Ao contrário, em geral, acarretam um empobrecimento maior, porque implicam num
aprisionamento dos mais pobres ao circuito do sistema financeiro. Os dados dos Censos
Demográficos de 1991 e 2000 são provas evidentes desse processo.
Incidindo sobre o processo de estruturação e reestruturação da cidade
observa-se um conjunto de elementos que preenchem o conteúdo do urbano.
Tais elementos tornam possível a identificação dos nexos que constituem o
processo de estruturação e reestruturação urbana, reestruturação produtiva e o
próprio movimento de reprodução da vida, componentes centrais (de caráter
político, econômico, social, cnico e cultural) que, ao longo da história,
influenciaram e vêm influenciado o processo de urbanização, ao mesmo tempo
em que, dialeticamente, são por esse determinado.
Ainda com base no esquema, dois pontos merecem destaques, o
marcado como ponto de inflexão e o chamado período crítico. Nesses contextos,
a estruturação urbana se desenvolve, dialeticamente, pela prevalência de
movimentos de desestruturações, determinando períodos de sérios conflitos no
processo de organização do solo urbano. Utilizando a expressão adotada por
Vasconcelos (2002), na inflexão e no período crítico são mais fortes as ações que
denotam transformões na estrutura urbana, que as marcadas por movimentos
de permanências.
O ponto de inflexão não é correlato a um interregno temporal
específico, pois depende do contexto histórico que envolve esta ou aquela área
urbana. Trata-se de um estágio em que, por questões econômicas, políticas,
sociais ou culturais específicas, a cidade passa a receber pressões em volume
mais intenso, desvelando um profundo impacto no modo como vinha sendo
desenvolvida sua estruturação. A análise sobre esse ponto específico torna
possível apreender quais são os elementos que estão influenciando o fenômeno
da urbanização e que, por sua vez, redefinem o modo como a cidade se organiza.
Em concomitância com o ponto de inflexão, inicia uma fase que
estamos denominando como período crítico, na qual a estrutura urbana adquire,
paulatinamente, novas nuanças, sempre associadas aos interesses dos agentes
que determinam o processo de produção do espaço. Todavia, como o espaço é
também uma condição para o seu desenvolvimento, a cidade revela-se como um
vel de determinação no desenvolvimento do fenômeno, contribuindo para
garantir a continuidade das transformações nas quais, paradoxalmente, a própria
cidade passa a ser modificada.
O período crítico é sempre marcado por um aumento dos conflitos pelo
acesso ao solo urbano, já que ganha premência o choque entre interesses que
polarizam a reprodução do capital e a reprodução da vida urbana, em escalas
diferentes. Nada obstante, verificamos que, nesse contexto, também ocorre uma
intensificação de suas características enquanto uma mercadoria rara,
fortalecendo o processo de segregação socioespacial.
Todavia, é necessário salientar que o processo de estruturação e
reestruturação urbana e da cidade se desencadeiam ininterruptamente, pois
constituem dinâmicas, movimentos. Assim, podem ocorrer novos pontos de
inflexão, acarretando em outros períodos críticos, nos quais novas e profundas
mudanças serão superpostas ao conjunto de processos anteriores, constituindo
um contínuo de estruturações e reestruturações, sempre intermediadas por
movimentos de desestruturações.
Mesmo não sendo o foco de nossa pesquisa, outros aspectos
associados a essa nova fase do regime de acumulão capitalista tamm
contribuem para o entendimento sobre o fenômeno da reestruturação urbana.
Pesquisas dedicadas a entender as mudanças nas relações tempo-espaço,
acarretadas pelo avanço tecnológico e pelo fenômeno da desregulamentação do
trabalho, podem trazer mais elementos para pensarmos a dialética entre
reprodução da vida e o processo de reestruturação urbana e da cidade.
No caso de Salvador, os dados
242
que demonstram o aumento
expressivo, entre as décadas de 1991 e 2000, por exemplo, no percentual de
domicílios que possuem linhas telefônicas fixas, micro-computadores e acesso a
internet, podem não indicar, apenas, que ocorreu um processo de massificação
do consumo. Isso pode revelar novas nuanças nas relações entre os
consumidores e os espaços de consumo, como, por exemplo, o aumento de
produtos que vem sendo adquiridos à distância e entregues à domicílio.
Tais aspectos constituem outros nexos que podem estar superpostos à
lógica engendrada na formão de novas áreas centrais, aspectos característicos
das cidades poli(multi)nucleadas, e que podem contrariar (ou não) as idéias de
Villaça (2001) quando afirma que os deslocamento de energia não têm influência
na estruturação da cidade.
Do mesmo modo, como mencionamos alhures, tais discussões podem
contribuir, ainda, para entendemos melhor o processo de reprodução da vida, em
tempos hodiernos, igualmente pensado como elemento essencial para
investigarmos a reestruturação urbana.
Complexidade na urbanização, centralidade e a cidade desigual
A análise sobre a cidade enquanto um produto desenvolveu-se
incorporando novas nuances cujo intuito foi apreender a complexidade do
processo de reprodução da sociedade, particularizada no movimento do urbano.
Entende-se que, nesse complexo de relações, não se produz apenas a cidade em
sua dimensão material, produz-se também o homem em sentido pleno, ante todas
as esferas da teia social da vida; produz-se, concomitante, o sonho, o desejo, o
ócio; produz-se a liberdade do homem urbano comprimida pela opressão dos
ditames do capital; produz-se a ordem e o caos do movimento de produção
simultaneamente ao de reprodução da vida cotidiana. No cerne dessa discussão,
es a reprodução ampliada do capital, tencionada entre a produção coletiva da
cidade e sua apropriação individual.
A cidade é produzida (re)produzindo as (e sendo produto das)
condições próprias da acumulação do capital, que é alicerçada pelo ciclo de
produção e realização da mais-valia. Nesse processo, produz-se o espaço urbano
e, particularmente, as condições para a sociedade se organizar; produz-se
simultaneamente o homem, a vida e as múltiplas formas de reprodução do viver.
Todavia, a cidade não é um produto social; é, dialeticamente, também uma
condição do processo de reprodução da sociedade e de reprodução do capital, ou
seja, um nível de determinação (CARLOS, 1994b). Assim, uma expressão da
morfologia urbana, dos arranjos territoriais dos diferentes usos do solo - espaços
de consumo, de produção, de habitação - enfim, da multiplicidade de usos do
solo, do tempo de deslocamento na cidade, o espaço urbano torna-se uma
conjetura inexorável à continuidade do movimento de reprodução do capital.
No caso específico das metrópoles regionais como Salvador, a
capacidade de centralização de poder numa parcela do território ainda se
mantém. Atualmente, torna-se mais claro o fato de que o papel exercido por tais
áreas urbanas nunca foi definido pelo parque industrial que essas possuem.
Sempre prevaleceu o conjunto de interesses econômicos e políticos,
materializado numa miríade de atividades terciárias, que favoreceu a articulação
estabelecida com outras cidades, em concomitância com a capacidade de
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gerência do capital, do desenvolvimento de novas tecnologias e arranjos
produtivos e, mais recentemente, da fluidez do mercado financeiro.
Assim, torna-se inadequado investigar o processo de estruturação e
reestruturação ocorrido em metrópoles regionais sem: - articulá-lo às mudanças
provocadas, também, por essa nova fase de desenvolvimento do capitalismo
mundial; - compreender as implicações que as alterações na divisão territorial,
técnica e social do trabalho provocaram no espaço urbano; e, mormente, -
considerar relevante a construção de nexos subjetivos que corroboram para
modificar os padrões de consumo da sociedade.
Num contexto de novo padrão de complexidade na urbanização, as
mudanças traduzem, no plano da cidade, as engrenagens do processo geral de
reprodução do capitalismo. As dificuldades em compreender tais engrenagens
o evidentes, principalmente, em função do modo como são, amiúde, indiretas a
produção e a realização da mais-valia, bem como a exploração do trabalho.
Contudo, esses limites o podem se constituir em fundamentos para
desconsiderarmos as implicações de tais mudanças na reestruturação das
cidades.
Nas metrópoles regionais, a feição poli(multi)nucleada é um produto e
um nível de condição da reprodução da fase atual do capitalismo, tornando
expressos os traços da divisão territorial, técnica e social do trabalho. Por outro
lado, revelam os ajustes e desajustes necessários para que tal modelo se
desenvolva, o que implica na produção de conflitos entre as classes e de novos
hábitos urbanos; lógicas de circulação e de localização das atividades terciárias e
residenciais; e, principalmente, desejos e necessidades contemporâneas, muitas
vezes, forjadas pelos interesses do capital.
A produção dessa estrutura que a cidade exprime hodiernamente é, por
um lado, histórica, que, para Montessoro, “a dinâmica da reestruturação da
cidade contém um processo de organização e desorganização da própria
estrutura urbana através de vários momentos que compõem tal processo”
(MONTESSORO, 1999 p. 93); por outro, reconstrói a história da cidade, pois
imprime uma lógica diferenciada no modo como serão utilizados os espaços
urbanos, exigindo também diferenciados modos de gestão, de atuação do poder
público, de ritmo de vida dos citadinos e de atuação dos proprietários fundiários e
dos capitalistas em geral.
Na metrópole regional poli(multi)nucleada, a centralidade emerge como
a centralidade dos conflitos e dos interesses urbanos, revelada por um duplo
processo de fragmentação socioespacial, seja no âmbito da cidade, seja no
âmbito da própria área central. O primeiro caso indica que alguns centros e sub-
centros se reproduzem com base na separação entre as classes, que limitam o
acesso das camadas pobres a tais espaços de consumo, sendo o Itaigara o caso
mais expressivo de Salvador. O segundo demonstra que, mesmo quando o
acesso a tais espaços torna-se possível às camadas populares, são criadas
estratégias que visam separar os locais de consumo dessas classes, daqueles
onde a elite consome. O Shopping Center Iguatemi e o Shopping Barra são bons
exemplos desse processo.
Essa centralidade dos conflitos e dos interesses, no contexto da uma
urbanização mais complexa, ainda indica que em alguns locais um controle
maior do tempo e do espaço. A materialidade disso es presente no acesso aos
shopping centers localizados em áreas elitizadas, pois esses impedem a
aproprião de espaços, por exemplo, por camelôs e ambulantes. Assim,
controlam a própria reprodução da vida urbana.
Nos casos das metrópoles regionais localizadas na periferia da
periferia”, o Estado, atuando como um (falso) mediador, permanece como agente
crucial na promoção de políticas que favorecem a produção desigual do espaço
urbano, na medida em que, através de instrumentos normativos, garante a
privatização do solo, tornando-o uma mercadoria de alto valor de mercado,
porque é tornado uma raridade. Isso ocorre porque são criados mecanismos para
favorecer o aumento do preço do solo urbano, na medida em que, por um lado,
isso implica em maior arrecadação de tributos; por outro, gera a dotação de infra-
estrutura urbana nas áreas que melhor lhe convém, sendo esse aspecto essencial
para diferenciar a renda gerada pelo solo. Tais aspectos foram observados
empiricamente em Salvador, mostrando que a cidade sempre foi objeto dessas
estratégias desenvolvidas pelos poderes públicos municipal e estadual, que
utilizaram e utilizam a “máquina” do Estado para os seus auscios.
Como a produção do solo urbano, enquanto uma raridade, gera
conflitos, ao poder público ainda cabe tentar apaziguar tais tensões constituídas
pela privação de uma maioria pobre do direito à cidade. Mesmo nas áreas
centrais, essa luta não é pacifica, porque tais segmentos sociais segregados
eso mais organizados. Todavia, a lógica sempre privilegia os interesses
voltados para a reprodução do capital, em detrimento de mecanismos que
possibilitem engendrar maior equidade social. Mediante isso é que verificamos,
em Salvador, uma força premente do poder público, articulado, sobretudo, aos
agentes imobiliários e ao capital financeiro e comercial, modelando e
transformando a cidade com o objetivo de acentuar o seu papel enquanto o loco
da reprodução capitalista. Nesse contexto, uma minoria apodera-se do lucro
gerado pela imposição de novas necessidades e desejos, tendo conseqüências
prementes nos processos de segregação e fragmentação do espaço urbano.
As mudanças nas áreas centrais mais antigas e nas novas expressões
da centralidade urbana sobressaem nesse complexo jogo, o que só reforça a
idéia de que o espaço é um produto social, portanto, só compreendido se for
analisado no bojo dessas relações, como resultante delas. Mas, não é um
elemento passivo, estático. Como produto importante, converte-se também em
condição para a continuidade do processo de reprodução da atual lógica social,
disso implica a necessidade de se tornar uma mercadoria rara. Assim, a mesma
centralidade que provoca a concentração de atividades e estabelecimentos
diversos, provoca a escassez de infra-estrutura e de acesso à terra urbana para
certas camadas sociais.
Essas características mencionadas sobre a cidade poli(multi)nucleada,
marcada por uma centralidade que se reproduz através de conflitos e interesses,
implicam apenas numa vertente de nossas reflexões – a análise sobre a produção
e o consumo do espaço. Nesse contexto, torna-se mais contundente o processo
de segregação no espaço urbano, fato notório em Salvador. Porém, observamos
que o processo de reestruturação urbana e da cidade se desenvolve a partir de
uma relação que é dialeticamente enredada, ainda, pelo consumo no espaço.
No que tange a esse aspecto, a investigação sobre a redefinição na
lógica das centralidades urbanas na cidade tem papel central na análise sobre a
reestruturação urbana e da cidade. É um viés analítico que perpassa o
entendimento da própria lógica de consumo engendrada na sociedade
contemporânea, na medida de que recria bitos e valores sociais, suscitando e
materializando novos desejos e necessidades. De acordo com Santos,
O consumo também ascende esperanças e convoca energias. A
busca de novos objetos instrumentaliza a vida individual e reduz a
vontade de ação. O crédito acelera o processo, antecipando a
possibilidade de ascender aos bens desejados. Como a sociedade
do consumo está sempre inventando novas ofertas, ela também
gera novas demandas e o indivíduo se encontra enredado neste
círculo infernal (SANTOS, 1990b, p. 189).
Esse processo destacado pelo autor implica na construção de nexos
espaciais que possam tanto dar suporte à reprodução contínua e insaciável das
novas ofertas, quanto recriar, novel intra-urbano, a concepção de espaços
diferenciados para atender, também de forma diferenciada, essa complexa teia de
relações sociais. Assim sendo, redefine a cidade e os espaços da/na cidade com
base em alterações nas relações cotidianas, que fragmentam o tecido social.
[...] o consumo instala sua fé por meio dos objetos, aqueles que em
nosso cotidiano nos cercam na rua, no lugar de trabalho, no lar e na
escola, quer pela sua presença imediata, quer pela promessa ou
esperança de obtê-los. Numa sociedade tornada competitiva pelos
valores que erigiu como dogmas, o consumo é o verdadeiro ópio,
cujos tempos modernos são os shopping-centers e os
supermercados, aliás, construídos à feição das catedrais. O poder
de consumo é contagiante, e sua capacidade de alienação é tão
forte que a sua exclusão atribui às pessoas à condição de
alienados (SANTOS, 1987, 34).
A reprodução da sociedade do consumo vem sendo marcada,
atualmente, por uma articulação em rede que atravessa todos os interscios
sociais, sendo verificada o nas metropolitanas e nas cidades médias, mas
também em pequenas cidades e nas áreas rurais. Assim sendo, há uma
submissão de todos os espaços a tais ditames, em vel global, face à imposição
dessa nova lógica. Segundo Cleps, a
[...] internacionalização da produção, a divulgação de novas idéias,
o intenso fluxo de pessoas, de costumes e de culturas diferentes,
constituíram-se protagonistas de uma nova forma de consumo que,
através dos meios de comunicação, chegaram até muitos lares
mundiais, invadiram o cotidiano do cidadão conduzindo-o (e
induzindo-o) a um novo comportamento, a um novo hábito, a uma
nova forma e estilo de vida (CLEPS, 2005, p. 41).
Portanto, a análise do processo de reestruturação urbana e da cidade
na sociedade contemporânea não deve ser reduzida à discussão sobre as
mudanças na estrutura urbana, pensando no modo como estão sendo usados os
solos urbanos ou à dinâmica de fluxos no espaço intra-urbano. Deve abarcar,
também, a discussão sobre as novas facetas engendradas nas relações sociais,
principalmente, na urbanizão, que desvelam o consumo como o ópio que vem
alicerçando um conjunto significativo de transformões políticas, econômicas,
sociais, técnicas e culturais, cuja cidade passa a ser loco principal do processo.
Quanto mais se acentua a divisão social do trabalho, mais capital
se concentra, o que quer dizer especialização dos lugares, mas
também um lugar de concentração que é o centro, uma área no
interior da cidade, onde a circulação e as trocas das mercadorias e
do dinheiro vão se realizar rapidamente, um lugar de estímulo ao
próprio consumo de bens e serviços. (SPOSITO, 1991a, p. 265).
No contexto atual da urbanizão, o consumo no espaço urbano, como,
deveras, em outras escalas, adquiriu premência seminal, porque a ascensão do
regime de acumulação flexível reforçou e ampliou seu papel no ciclo de
reprodução do capital. A fugacidade dos objetos, a efemeridade da moda e os
mecanismos que, amiúde, suscitam os novos desejos e as novas necessidades,
decorrem na própria expansão do tecido terciário, aumentando o número de
estabelecimentos e empresas ligadas às atividades comerciais e de serviços e,
concomitantemente, aos espaços onde tais atividades passam a ser localizadas.
Os proprietários fundiários, os proprietários dos meios de produção, em
geral, detentores dos capitais imobiliários, financeiros e comerciais, investem um
montante significativo de capital e dinheiro em determinadas parcelas da cidade,
materializando um estágio da produção do espaço urbano. Nesse processo,
esses tornam material o consumo do espaço, bem como a sua privação,
constituindo sua raridade.
A esse fenômeno são superpostas dinâmicas que visam garantir o
consumo no espaço urbano, estabelecido através da criação de instrumentos que
possibilitam a circulação de pessoas, consumidores em potencial, que cumprem o
papel de garantir reprodução do capital investido por uma miríade de empresas,
dentre as quais têm maior parcela de lucro os grandes capitalistas. É um
processo que atende sempre aos interesses das classes dominantes, em
detrimento dos interesses coletivos, e, como destaca Harvey (2004), isso não é
uma nova faceta dos conflitos de classes.
As estragias de reprodução do consumo que, ao longo do tempo,
acumularam transformações no espaço e na vida urbanas, adquirem nova
contextualidade na cidade poli(multi)nucleada. Assim, reiteramos que a produção
dos espaços de consumo e o consumo do/no espaço desvelam uma forma
hodierna de articulação entre a produção da cidade e os conflitos de classes,
fazendo ressaltar lógicas atuais de fragmentação e segregação socioespacial.
No caso da periferia de Salvador a formação dos sub-centros esteve
relacionada às ações do mercado imobiliário, aos movimentos sociais urbanos no
sentido de luta por uma moradia e às ões do capital comercial, adquirindo ou
construindo espaços destinados ao uso terciário. Para o caso dessa parte pobre
da periferia, o mercado imobiliário atuou na construção de pequenos shopping
centers, bem como de conjuntos habitacionais, sempre financiados pelo Estado,
tendo, portanto, papel importante, mas não exclusivo. Esse aspecto permite
relativizar a ação do mercado imobiliário, porque esqueceríamos que Salvador é
uma cidade tamm produzida por uma classe popular maciça e essas causaram
impactos nas mudanças ocorridas na estrutura urbana.
Tais transformões na cidade, no processo de valorização e na
maneira como o espaço stricto sensu se insere não ultrapassam a contradição e a
diferenciação de classes. Pelo contrário, reforçam essa desigualdade social, na
medida em que o produzidas novas formas no espaço urbano, como bairros
residenciais fechados e shopping centers, que definem as áreas de uso social
específico. Além disso, nessas formas, especificamente nos shopping centers
e nos equipamentos mais imponentes, um controle social desconhecido em áreas
correlatas e que a privatização garante (GAETA, 1992, p. 57).
O consumo, ao adaptar-se para atender essa população pobre, tem
como pano de fundo o discurso da democratizão do acesso aos serviços e
produtos. No entanto, implementa-se como uma forma da periferia participar da
teia de relações, incorporando-se ao sistema de troca. É perceptível que nas
áreas periféricas das cidades é criado um imaginário coletivo, a partir de veículos
de reprodução de ideologias (mídia, escola, igreja, etc.), de que o único meio para
a inserção na sociedade será através da participação no circuito de trocas. Esse
processo, na realidade, apenas possibilita a sua conversão em
consumidor/usuário dos produtos oferecidos, sem gerar condições dos mesmos
se apropriarem da cidade e de usufr-la como reais cidadãos.
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________. Shopping da Barra divide opiniões de moradores. 09.09.1987
________. Shopping da Barra última detalhes para a abertura. 12.11.1987
________. Nova pista facilita acesso ao shopping. 16.11.1987
________. Iguatemi desafia a recessão e inaugura hoje sexta ampliação.
09.12.1992.
________. Shoppings mudam o comércio. 21.10.2004
________. Novo shopping vai gerar 4 mil empregos. 29.11.2005
________. Shopping Iguatemi comemora 30 anos. 01.12.2005
________. Ainda incerto o futuro do Aeroclube. 07.03.2006
________. Novo shopping é tema de audiência pública. 28.03.2006
________. Orixás Center, o shopping do aluguel. 05.06.2006
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03.08.2006
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APÊNDICES
E
ANEXOS
APÊNDICE I
NOTAS METODOLÓGICAS
1 - Quadro operacional da pesquisa
Objetivos: Informações necessárias Técnica de coleta e fonte
Analisar as implicações do processo de
reestruturação urbana e da cidade na
redefinição da lógica da centralidade de
Salvador.
A história da estruturação e reestruturação urbana e da cidade;
Características da estrutura urbana atual e pretérita;
Ações e sujeitos que influenciaram o processo.
Pesquisa bibliográfica e documental;
Entrevistas;
Mapeamentos dos principais elementos da estrutura
urbana;
Discutir os conflitos que surgem em
função da constituição de novas áreas
comerciais e de serviços em Salvador.
Os tipos e a natureza dos conflitos que emergem no processo;
Os sujeitos que produzem e são afetados pelos conflitos;
As decorrências dos conflitos na organização da cidade.
Entrevistas com os sujeitos que influenciam a constituição
das áreas centrais;
Pesquisa documental;
Compreender as mudanças e as
permanências no conteúdo e no papel
desempenhado pelos novos e antigos
centros e sub-centros urbanos face o
processo de reestruturação.
Organização do uso do solo terciário entre as cadas de 1960
e 1980;
Dinâmica das pretéritas relações na cidade;
Fatores que provocaram as mudanças na estrutura urbana;
Novos equipamentos e espaços terciários que surgiram na
cidade.
Pesquisa documental;
Representações espaciais da dinâmica e do uso do solo
pretérito;
Aplicação de formulários junto às empresas, grandes e
pequenos shopping centers, centros comerciais e de serviços;
Entrevistas com os administradores e/ou proprietários dos
estabelecimentos comerciais e de serviços
Investigar as características das novas
áreas centrais e a lógica que essas
engendram no processo de
reestruturação da cidade.
Organização e atual do uso terciário do solo;
Papel dos novos equipamentos no contexto do urbano;
Origem do capital investido nas áreas centrais
Mapeamento, em campo, do uso do solo das áreas
centrais selecionadas;
Observação sistematizada sobre a organização dos
equipamentos urbanos importantes;
Levantamento de dados sobre as áreas centrais;
Pesquisa documental;
Refletir sobre as atuais relações entre as
áreas centrais e a cidade.
Dinâmica atual das relações urbanas Pesquisa junto às empresas de móveis e eletrodomésticos
sobre a origem dos consumidores;
Dados sobre os fluxos atuais de transportes coletivos e
particulares.
2 - Fluxograma
Tese
Sistematização das
informações
Gráficos
Mapas
Tabelas
Explicação
d
o
processo
Banco de Dados
(MapView)
Discussões
Pesquisa de campo
Levantamento
dos dados
Observação
das
relões urbanas
Mapeamento
em
campo dos dados
Problema
Lev
antamento
Cartográfico
Levantamento
Bibliográfico
Qualificão da Tese
Fundamentação
Teórica
Fundamentação
Metodológica
Observações sobre as mudanças na cidade de
Salvador
Verificação
sobre os fatos
Formulários
Entrevistas
Documentos
3 - Observações técnicas
Elaboração dos mapas temáticos
Cartogramas Origem e coleta dos dados Software
Mapas de uso do
solo
Identificação do tipo de uso do solo em pesquisa de
campo nas 20 áreas selecionadas para pesqusa
1
. Como
base para o trabalho de campo, utilizamos imagens em
grande escala do Google Earth, impressas em A0.
MapView: organização
das informações;
Corel Drew: Arte final
Fluxo dos
consumidores
Informações fornecidas pelas seis maiores redes
comerciais de móveis e eletrodomésticos, coletadas
pessoalmente e por e-mail.
MapView: organização
das informações;
Corel Drew: Arte final
Pequenos e grandes
shopping centers
Dados coletados junto aos administradores dos
empreendimentos.
Corel Drew: Arte final
Mapa de fluxos Dados coletados na Biblioteca da Superintendência
Estadual de Trânsito, Prefeitura Municipal, Biblioteca
Mário Leal Ferreira.
MapView: organização
das informações;
Corel Drew: Arte final
Mapas dos VUPs
2
Dados coletados no Diário Oficial de 04 e 05/12/1986.
Para 1991 e 2007, coletados pela internet no site da
Secretaria Municipal da fazenda.
Cartodiagramas feitos
no MapView;
Corel Drew: Arte final
Notas:
1 – Os dados sobre Cajazeiras não foram utilizados na Tese;
2 – Não utilizados na Tese, nem postos em Apêndice.
Entrevistas
Local Sujeito Técnica
Secretaria da
Fazenda
Coordenadores de fiscalização e arrecadação de
ISS;
Coordenador de arrecadação de IPTU
Diálogo informal, discussões
orientadas;
Fundação Mário
Leal Ferreira
Responsável pelo setor de transporte Diálogo informal, discussões
orientadas
Shopping centers Grandes: contato com os gerentes de marketing,
abrangendo todos os estabelecimentos
Pequenos: contato com os administradores,
abrangendo 42 dos 62 estabelecimentos;
Diálogo orientado e
sistematizado, com livres
discussões;
Comerciantes Representantes dos 3 níveis de especialização
das atividades terciárias, abrangendo as 20 áreas
selecionadas para a pesquisa
1
.
Amostragem orientada para o
setor terciário, selecionada de
acordo com a especificidade da
área central.
Em alguns casos, entrevistamos
comerciantes antigos
2
Centros
comerciais
Contato com os administradores para os casos
dos pequenos e grandes empreendimentos;
Diálogo informal, discussões
orientadas
Notas:
1 – Os dados sobre Cajazeiras não foram utilizados na Tese;
2 – Os dados sobre a história de alguns subcentros não foram utilizados na Tese.
Informações adicionais
Informação Esclarecimentos
Matrizes Todos os dados foram sistematizados com base em uma matriz correlata.
Grau de
especialização das
atividades terciária
Técnica desenvolvida em nossa pesquisa. O grau de especialização é subtração
entre as atividades terciárias totais e as atividades não especializadas, dividida
pelas atividades terciárias totais.
Fórmula: ATt - ATne = GEat
ATt
Onde:
ATt - Total das atividades terciárias
ATne - Total das atividades terciárias não-especializadas
GEat - Grau de Especialização das Atividades Terciárias
Varia de 0 a 1, onde:
0,000 - Indica que o GEat é nulo
1,000 - Indica que só existem atividades especializadas e semi-especializadas
Atividades terciárias 1 - A classificação das atividades (especializadas, semi-especializadas e não-
especializadas) foi feita com base em observação direta em campo. Teve como
fundamento, o tipo de atividade, a sofisticação, o grau de exigência e
conhecimento técnico que a mesma necessitava e a escala do capital investido.
Como exemplos:
Especializadas: grandes redes comerciais e de prestação de serviços,
comércio com alto grau de sofisticação; bancos e empresas de créditos;
Semi-especializadas: empresas e estabelecimentos de médio porte, com base
em capital local;
Não-especializadas: pequenos prestadores de serviços e pequenos
comerciantes.
2 - Excetuando-se as entrevistas e o mapeamento de sua territorialização
1
, não
levantamos dados sobre o mercado informal.
Mapas de uso do solo Os empreendedores de alguns shopping centers e centros comerciais não
sabiam informar a quantidade de estabelecimentos voltados para o comércio e
serviços.
Notas:
1 – Não colocamos as informações na Tese;
Formulários
Tipo de atividade Obtenção dos dados Amostragem
Redes de
Supermercados
Entrega dos formulários junto às empresas. Em alguns
casos, por solicitação do atendente, enviamos por e-mail.
As seis maiores redes
de Salvador
Lojas de veis e
eletrodomésticos
Entrega dos formulários junto às empresas. Em alguns
casos, por solicitação do atendente, enviamos por e-mail.
As seis maiores redes
de Salvador
Shopping centers Entrega dos formulários junto às empresas. Em alguns
casos, por solicitação do atendente, enviamos por e-mail.
Na maior parte dos pequenos shopping centers, o
preenchimento foi feito pessoalmente.
Todos os oito grandes e
os 62 pequenos
estabelecimentos
1
.
Notas:
1 – Complementamos algumas informações pendentes dos pequenos shopping centers por telefone;
MODELO DO FORMULÁRIO: LOJA DE MÓVEIS E ELETRODOMÉSTICOS
Nome da Loja:
Ano de implantação em Salvador: Ano de implantação no Brasil:
Bairro onde a 1
a
loja foi implantada em Salvador
Estado onde a 1
a
loja foi implantada no Brasil
Comente algo sobre a história da rede que acredite ser importante
N
o
de lojas no Brasil: N
o
de lojas na Bahia: N
o
de lojas em Salvador:
Atualmente, a rede pertence a qual(is) grupo(s) econômico(s)?
Grupo 01:
Grupo 02:
Grupo 03:
São investimentos de capital: ( ) Estadual ( ) Regional ( ) Nacional ( ) Internacional
Em quais outros estados brasileiros a rede de atua?
Em quais outras cidades baianas a rede de atua?
Qual a importância da rede comercial para Salvador?
Tenho como objetivo elaborar um mapa sobre o fluxo de consumidores (seus bairros
de residência) para as mais importantes áreas comerciais de Salvador. Nesse sentido,
solicito uma lista contendo o nome dos bairros dos consumidores. Pode ser uma lista dos
últimos 100 consumidores, dos consumidores que adquiriram produtos nos últimos 5 a 7
dias, ou qualquer outro critério que a empresa ache mais fácil ou prático. As lojas devem
ser localizadas nas seguintes áreas comerciais de Salvador: Vale do Camaragibe,
Comércio (parte baixa do centro), Av. Sete de Sete de Setembro, Calçada, Baixa dos
Sapateiros ou Barroquinha, Liberdade, Largo do Tanque, Shopping Barra, Itapuã, Paripe,
Periperi, São Caetano, Cajazeiras, Brotas, Calçada, Manoel Dias da Silva, Itaigara e São
Cristovão.
Faculdade de Ciências e Tecnologia
Programa de Pós
-
Graduação em Geografia
Campus de Presidente Prudente
JANIO LAURENTINO DE JESUS SANTOS
DOUTORANDO EM GEOGRAFIA
MODELO DO FORMULÁRIO: SHOPPING CENTER
Nome do Shopping:
Ano de implantação em Salvador: Filiado a ABRASCE? ( ) Sim ( ) Não
Comente algo sobre a história do Shopping que ache importante
Área quando implantado: Área atual do Shopping:
Número de lojas quando implantado: mero atual de lojas:
Número de lojas âncoras quando implantado: Número atual de lojas âncoras:
O shopping foi ampliado? ( )Sim ( )Não Em quais anos?
Atualmente, o shopping pertence a qual(is) grupo(s) econômico(s)?
Grupo 01:
Grupo 02:
Grupo 03:
São investimentos de capital: ( ) Estadual ( ) Regional ( ) Nacional ( ) Internacional
O shopping já pertenceu a outros grupos? ( )Sim ( )Não Caso sim, quais?
Grupo 01: Entre ____ e _____
Grupo 02: Entre ____ e _____
Grupo 03: Entre ____ e _____
Grupo 04: Entre ____ e _____
Grupo 05: Entre ____ e _____
Importância do Shopping para Salvador
Importância do Shopping para o Bairro onde está localizado na cidade de Salvador
Faculdade de Ciências e Tecnologia
Programa de Pós
-
Graduação em Geografia
Campus de Presidente Prudente
JANIO LAURENTINO DE JESUS SANTOS
DOUTORANDO EM GEOGRAFIA
MODELO DO FORMULÁRIO: SUPER E HIPER MERCADO E ATACADISTA
Nome do Hipermercado:
Ano de implantação em Salvador: Ano de implantação no Brasil:
Bairro onde a 1
a
Loja foi implantada em Salvador
Estado onde a 1
a
Loja foi implantada no Brasil
Comente algo sobre a história do Hipermercado que ache importante
N
o
de lojas no Brasil: N
o
de lojas na Bahia: N
o
de lojas em Salvador:
Atualmente, o Hipermercado pertence a qual(is) grupo(s) econômico(s)?
Grupo 01:
Grupo 02:
Grupo 03:
São investimentos de capital: ( ) Estadual ( ) Regional ( ) Nacional ( ) Internacional
O Hipermercado já pertenceu a outros grupos? ( ) Sim ( )Não Caso sim, quais?
Grupo 01: Entre ____ e _____
Grupo 02: Entre ____ e _____
Grupo 03: Entre ____ e _____
Grupo 04: Entre ____ e _____
Grupo 05: Entre ____ e _____
Em quais outros estados brasileiros a rede de atua?
Em quais outras cidades baianas a rede de atua?
Qual a importância do Hipermercado para Salvador?
Faculdade de Ciências e Tecnologia
Programa de Pós
-
Graduação em Geografia
Campus de Presidente Prudente
JANIO LAURENTINO DE JESUS SANTOS
DOUTORANDO EM GEOGRAFIA
APÊNDICE II
INFORMAÇÕES SOBRE SHOPPING CENTERS
Quadro 1: Brasil
Relação dos Shopping Centers, 1966/2008.
Ano
UF S (S) Center (C) Cidade
REGIÃO SUL
1979
PR Shopping Novo Batel Curitiba
1981
PR Shopping Itália Curitiba
1983
PR Mueller SC de Curitiba Curitiba
1984
PR Shopping C Água Verde Curitiba
1995
PR PolloS Curitiba
1996
PR Crystal Plaza Shopping C Curitiba
1996
PR Shopping Curitiba Curitiba
1997
PR Shopping Estação Curitiba
1997
PR Shopping Total Curitiba
1997
PR S Jardim das Américas Curitiba
2003
PR Park Shopping Barigui Curitiba
2003
PR Shopping Cidade Curitiba
1973
PR Com-Tour Shopping C Londrina
1990
PR Catuaí S Shopping Center Londrina
1992
PR Shopping Avenida Center Maringá
1996
PR Aspen Park SC Marin Maringá
1999
PR Centronorte Shopping C Apucarana
2000
PR Royal Plaza Shopping Londrina
2000
PR Shopping Total Ponta Grossa
2003
PR Palladium Shopping Center
Ponta Grossa
2004
PR Cascavel Shopping Cascavel
2007
PR Cataratas JL Shopping Foz do Iguu
1983
SC Jurere Open Shopping Florianópolis
1996
SC Beira Mar Shopping Florianópolis
2006
SC Floripa Shopping Florianópolis
2007
SC Shopping Center Iguatemi Florianópolis
1982
SC Shopping Itaguaçu São José
1984
SC Shopping C Della Giustina Criciúma
1986
SC L Am. Shopping Center Joinville
1993
SC SC Neumarkt Blumenau Blumenau
1995
SC S Cidade das Flores Joinville
1995
SC Shopping Mueller Joinville Joinville
1996
SC Serra Shopping Lages
1998
SC Praça Shopping Tubarão
1999
SC Shopping Gracher Brusque
1999
SC Shopping C Breithaupt. Jaraguá do Sul
1999
SC Shopping Tordesilhas Laguna
2000
SC Itajaí Shopping Center Itajaí
2000
SC Americanas Shopping C Joinville
2004
SC Criciúma Shopping C Criciuma
2006
SC Farol Shopping Tubarão
2007
SC Balneário Camboriu S B Camboriu
1970
RS Shopping João Pessoa Porto Alegre
1983
RS Shopping Center Iguatemi Porto Alegre
1990
RS Rua da Praia Shopping Porto Alegre
1991
RS Praia de Belas SC Porto Alegre
1991
RS Bourbon S Assis Brasil Porto Alegre
1994
RS Lindóia Shopping Porto Alegre
1994
RS DC Navegantes Porto Alegre
1998
RS Bourbon Shopping Ipiranga
Porto Alegre
2000
RS Moinhos Shopping Porto Alegre
2001
RS AeroShopping Porto Alegre
2001
RS Bourbon Shopping Country
Porto Alegre
2003
RS Shopping Total Porto Alegre
1991
RS Bourbon Novo Shopping
1
N Hamburgo
1993
RS Prataviera S C. do Sul Caxias do Sul
1993
RS Master Sonda Shopping Erechim
1994
RS UnicShopping Lagedo
1995
RS Shopping do Vale Cachoeirinha
1996
RS SC Iguatemi Caxias Caxias do Sul
1997
RS Bourbon Shopping Canoas Canoas
1997
RS MartCenter Caxias do Sul
1997
RS Monet Plaza Shopping Santa Maria
1998
RS Canoas Shopping Canoas
1998
RS Bella Città Shopping C Passo Fundo
1999
RS Bourbon Shopping Passo Fundo
2001
RS SC Bento Gonçalves B Gonçalves
2004
RS Bourbon S São Leopoldo São Leopoldo
INAUGURAÇÕES PREVISTAS OU PROJETOS
2008
RS Palladium Shopping Center
Curitiba
2008
RS Shopping Crystal Plaza Porto Alegre
2008
RS Floresta Shopping Centr Porto Alegre
2008
RS Barra Shopping Sul Porto Alegre
2008
RS Expasso Shopping Porto Alegre
2008
PR São José Shopping S.J.Pinhais
SC Shopping Palhoça Palhoça
SC Shopping C de Chapecó Chapecó
RS Shopping Piazza Zaffari Marau
RS Shopping C de Pelotas Pelotas
RS Royal Plaza Shopping Santa Maria
RS Power Center Belvedere Porto Alegre
RS Shopping Jardim Itália Porto Alegre
RS Italian Shopping Center C. do Sul
PR Shopping Catuai Maringá Maringá
PR S Mandacaru Boulevard Marin
PR Grupo Sonae Sierra Londrina
Ano
UF S (S) Center (C) Cidade
REGIÃO NORTE
1993
PA SC Iguatemi Belém Belém
1993
PA Castanheira Shopping C Belém
2005
PA It Center Belém
1991
AM Amazonas Shopping C Manaus
2001
AM Studio 5 Festival Mall Manaus
2003
AM Tv Landia Mall Manaus
2004
AM Millennium S Mall Manaus
1997
AP Macapá Shopping Center Macapá
1996
TO Palmas Shopping Palmas
INAUGURAÇÕES PREVISTAS OU PROJETOS
2008
RO Porto Velho Shopping Porto Velho
2009
AC Via Verde Park Shopping Rio Branco
2009
AM Manauara Shopping Manaus
2009
PA Boulevard Shopping C Bem
2009
PA Shopping Pátio Belém Belém
2009
TO Capim Dourado Shopping Palmas
AM Ponta Negra Shopping Manaus
Ano
UF
S (S) Center (C)
Cidade
REGIÃO NORDESTE
1987
AL Hiper Center Bom Preço Mace
1989
AL SC Iguatemi Maceió Maceió
1975
BA SC Iguatemi Salvador Salvador
1980
BA Shopping Center Itaigara Salvador
1983
BA S Baixa dos Sapateiros Salvador
1985
BA Shopping Center Piedade Salvador
1987
BA Shopping Barra Salvador
1996
BA Shopping Center Lapa Salvador
1999
BA Aeroclub Plaza Salvador
2007
BA Salvador Shopping Salvador
1996
BA Shopping Águas Center Juazeiro
1997
BA Itaguari Shopping Center S A. de Jesus
1997
BA Shopping C Rio de Ondas Barreiras
1999
BA Shopping Center Iguatemi
F de Santana
2000
BA Shopping Jequitibá Plaza Itabuna
2004
BA Shopping Estrada do Coco L de Freitas
2006
BA Shopping Conquista Sul V da Conquista
1974
CE Shopping Center Um Fortaleza
1982
CE SC Iguatemi Fortaleza Fortaleza
1991
CE North Shopping Fortaleza
1994
CE Avenida Shopping & Office Fortaleza
1995
CE Shopping Fortaleza Sul Fortaleza
1998
CE Shopping Aldeota Fortaleza
1999
CE Shopping Benfica Fortaleza
2000
CE Shopping Del Paseo Fortaleza
1997
CE Cariri Shopping Juazeiro do N
2003
CE Maracanaú Shopping C Maracanaú
1986
MA Tropical Monumental SC São Luis
1995
MA Colonial Shopping São Luis
1995
MA São Luís Shopping Center São Luis
1999
MA Jaracaty Shopping São Luis
1996
MA Shopping Timbira Imperatriz
1989
PB Manaíra Shopping Center João Pessoa
1999
PB Mag Shopping João Pessoa
2002
PB Shopping Tambiá João Pessoa
1999
PB S Center Iguatemi Grande C Grande
1980
PE Shopping Center Recife Recife
1997
PE Shopping Tacaruna Recife
1998
PE Plaza SC Casa Forte Recife
1998
PE Shopping C Boa Vista Recife
2003
PE Shopping Paço Alfândega Recife
1993
PE Shopping Guararapes Jaboatão dos G
1995
PE River Shopping Petrolina
1997
PE Shopping Caruaru Caruaru
1996
PI Riverside Walk Shopping Teresina
1997
PI Teresina Shopping Teresina
1982
RN Hiper Center Bompreço Natal
1984
RN Shopping Cidade Jardim
2
Natal
1992
RN Natal Shopping Center Natal
1997
RN Praia Shopping Natal
1998
RN Via Direta Shopping Center
Natal
2005
RN Midway Mall Natal
2005
RN Shopping Orla Sul Natal
2007
RN Natal Norte Shopping Natal
2007
RN Mossoró West Shopping Mossoró
1989
SE Riomar Shopping Aracaju Aracaju
1997
SE Shopping Center Jardins Aracaju
INAUGURAÇÕES PREVISTAS OU PROJETOS
2009
AL Pátio Maceió Maceió
2009
BA Shopping Center Paralela Salvador
2009
PE S e Empresarial Difusora Caruaru
2010
AL Shopping Mace Maceió
BA Shopping GreenVille V da Conquista
AL Shopping Boa Vista Maceió
BA Mega Center Salvador
BA Bahia Shopping Paulo Afonso
CE Via Sul Shopping Fortaleza
CE Sobral SC Sobral
PE SC Costa Dourada C S Agostinho
Ano
UF S (S) Center (C) Cidade
REGIÃO CENTRO-OESTE
1971
DF Conjunto Nacional Brasília
1983
DF Park Shopping Brasília
1994
DF Liberty Mall Brasília
1997
DF Brasília S and Towers Brasília
1997
DF Pátio Brasil Brasília
1999
DF Shopping Terraço Brasilia
2000
DF CasaPark Brasília
2000
DF Pier 21 Brasília
2007
DF Shopping Deck Norte Brasília
1992
DF Alameda Shopping Taguartinga
1993
DF Valparaiso Shopping Valparaiso de G
1998
DF Gama Shopping Gama
2000
DF Taguatinga Shopping Taguartinga
2005
DF Shopping Center Serra Sobradinho
2005
DF Sobradinho Shopping Sobradinho
2008
DF Águas Claras S & Office Águas Claras
1981
GO Flamboyant Shopping C Goiânia
1990
GO Shopping C Boungainville Goiânia
1996
GO Goiânia Shopping Goiânia
2001
GO Araguaia Shopping Goiânia
1995
GO Anás Shopping Anápolis
1996
GO Buriti Shopping Aparecida de G
1997
GO Shopping Tropical Caldas Novas
2007
GO Brasil Park Shopping Anápoles
1989
MT Goiabeiras Shopping C Cuiabá
1996
MT Shopping Três Aricas Cuiabá
2005
MT Shopping Pantanal Cuiabá
2000
MT Tangará Shopping Center Tangará da S
2001
MT Rondon Plaza Shopping C Rondonópolis
1989
MS S Eldorado C. Grande Campo Grande
1989
MS Marrackech Center Campo Grande
2006
MS Shopping Avenida Center Dourados
INAUGURAÇÕES PREVISTAS OU PROJETOS
2008
RO Porto Velho S Porto Velho
2009
DF Shopping Iguatemi Brasília Brasília
MT Florais Mall Cuiabá
MT Alphaville Mall Cuiabá
MT Shopping Guanas Várzea Grande
MT Cáceres Shopping Center Cáceres
Ano
UF S (S) Center (C) Cidade
REGIÃO SUDESTE
1984
ES S Boulevard da Praia Vitória
1988
ES C Comercial Vila Velha Vitória
1993
ES Shopping Vitória Vitória
2004
ES Shopping Norte Sul Vitória
2006
ES Shopping Jardins Vitória
1988
ES Shopping da Terra Vila Velha
1995
ES Shopping Cachoeiro C de Itapemirim
2001
ES Oriundi Aracruz
2002
ES Laranjeiras Shopping Serra
2002
ES Shopping Praia da Costa Vila Velha
1979
MG Belo Horizonte Shopping Belo Horizonte
1984
MG Minas Casa do Lar Belo Horizonte
1991
MG Minas Shopping Belo Horizonte
1991
MG Shopping Del Rey Belo Horizonte
1991
MG Shopping Cidade Belo Horizonte
1995
MG Ponteio Lar Shopping Belo Horizonte
1996
MG Diamond Mall Belo Horizonte
1997
MG Shopping Norte Belo Horizonte
1998
MG Savannah Mall Belo Horizonte
2000
MG Villagio Gutierrez Belo Horizonte
2003
MG Via Shopping Barreiro Belo Horizonte
2003
MG Falls Shopping Belo Horizonte
2003
MG Shopping Jardim Belo Horizonte
2004
MG Shopping Pátio Savassi Belo Horizonte
2004
MG Shopping Estação Sul
3
Belo Horizonte
2005
MG Paragem Shopping Belo Horizonte
2005
MG Shopping Alta Vila Belo Horizonte
2006
MG Woods Shopping Belo Horizonte
2007
MG Villagio Anchieta Belo Horizonte
1987
MG UberShopping Uberlândia
1988
MG Mister Shopping Juiz de Fora
1990
MG Manhuaçu Shopping Manhuaçu
1991
MG Santa Cruz Shopping Juiz de Fora
1992
MG Center Shopping Uberlândia
1993
MG Griff Shop Uberlândia
1994
MG Big Shopping Contagem
1997
MG Montes Claros Shopping C Montes Claros
1998
MG Itaú Power Shopping Contagem
1998
MG Shopping Vale do Aço Ipatinga
1998
MG Betim Shopping Betim
1999
MG Shopping Center Uberaba Uberaba
1999
MG GV Shopping G.Valadares
2000
MG Lavra Shopping Lavras
2005
MG Shopping Minas Sul P de Caldas
2008
MG Terra Parque Shopping Divinópolis
1963
RJ Shopping do Méier1 Rio de Janeiro
1975
RJ Shopping da vea1 Rio de Janeiro
1980
RJ Rio Sul Shopping Center Rio de Janeiro
1981
RJ Barra Shopping Rio de Janeiro
1982
RJ São Conrado Fashion Mall Rio de Janeiro
1983
RJ Rio Design Barra Rio de Janeiro
1984
RJ Casa Shopping Rio de Janeiro
1985
RJ SC Paço do Ouvidor Rio de Janeiro
1986
RJ Norte Shopping Rio de Janeiro
1986
RJ Esplanada da Barra Rio de Janeiro
1988
RJ Rosa Shopping Rio de Janeiro
1988
RJ Shopping Cassino Atlantic Rio de Janeiro
1989
RJ Madureira Shopping Rio de Janeiro
1992
RJ Ilha Plaza Shopping Rio de Janeiro
1993
RJ Via Parque Shopping Rio de Janeiro
1994
RJ Rio Plaza Shopping Rio de Janeiro
1994
RJ Shopping Rio Off-Price Rio de Janeiro
1995
RJ Shopping Nova América Rio de Janeiro
1995
RJ Barra Square Shopping C Rio de Janeiro
1996
RJ Shopping Center Iguatemi Rio de Janeiro
1996
RJ Shopping Tijuca Rio de Janeiro
1997
RJ Recreio Shopping Center Rio de Janeiro
1997
RJ West Shopping Rio Rio de Janeiro
1997
RJ Barra Garden Rio de Janeiro
1998
RJ Downtown Rio de Janeiro
1999
RJ Botafogo Praia Shopping Rio de Janeiro
1999
RJ New York City Center Rio de Janeiro
1999
RJ Bayside Shopping Rio de Janeiro
1999
RJ Quality Shopping Rio de Janeiro
1999
RJ Penha Shopping Rio de Janeiro
2000
RJ Cittá América Rio de Janeiro
2000
RJ Shopping Midtown Rio de Janeiro
2001
RJ Carioca Shopping Rio de Janeiro
2001
RJ Center Shopping Rio Rio de Janeiro
2001
RJ Santa Cruz Shopping Rio de Janeiro
2002
RJ Barra World Shopping Rio de Janeiro
2004
RJ Shopping Millennium Rio de Janeiro
2006
RJ Rio Design Leblon Rio de Janeiro
2006
RJ Shopping Leblon Rio de Janeiro
2007
RJ Bangu Shopping Rio de Janeiro
1984
RJ Bauhaus Shopping Center Petrópolis
1985
RJ Niterói Shopping Niterói
1985
RJ Resende Shopping Resende
1986
RJ Plaza Shopping Niterói Niterói
1989
RJ Sider Shopping Center Volta Redonda
1989
RJ Hiper Shopping ABC Petrópolis
1995
RJ Shopping Grande Rio S. J. de Meriti
1995
RJ Teresópolis Shopping C Teresópolis
1995
RJ Unigranrio Shopping D de Caxias
1995
RJ Teresópolis Shopping C Teresópolis
1996
RJ TopShopping Nova Iguaçu
1996
RJ Macaé Shopping Macaé
1997
RJ Shopping Piratas Angra dos Reis
1997
RJ Bay Market Center Niterói
1997
RJ Friburgo Shopping Nova Friburgo
1998
RJ Cadima Shopping Nova Friburgo
1999
RJ Itaguaí Shopping Center Itaguaí
1999
RJ Itaipu Multicenter Niterói
2000
RJ Passeio Shopping Campo Grande
2000
RJ Nilópolis Shopping Center Nilópolis
2000
RJ Leopoldina Shopping Brás de Pina
2004
RJ São Gonçalo Shopping São Gonçalo
2007
RJ Nalin Shopping S P. da Aldeia
1966
SP Shopping Center Iguatemi São Paulo
1968
SP Shopping Center Lapa São Paulo
1969
SP Shopping Center 3 São Paulo
1975
SP Continental S Center São Paulo
1975
SP Top Center São Paulo
1975
SP Shopping Center Bourbon São Paulo
1976
SP Center Matarazzo São Paulo
1976
SP Shopping Ibirapuera São Paulo
1977
SP Fashion Center Luz São Paulo
1981
SP Shopping Eldorado São Paulo
1981
SP Santana Shopping São Paulo
1982
SP Morumbi Shopping São Paulo
1982
SP Shopping Center Sul São Paulo
1983
SP Fashion S Brás São Paulo
1984
SP Shopping Center Norte São Paulo
1987
SP Lar Center São Paulo
1988
SP Comp. Com. S Interlagos São Paulo
1988
SP S Center Pompéia Nobre São Paulo
1988
SP Shopping Interlagos São Paulo
1988
SP São Paulo Mart Center São Paulo
1989
SP Shopping Center Paulista São Paulo
1989
SP Shopping Pátio Paulista São Paulo
1990
SP Shopping Center Leste São Paulo
1990
SP Shopping Jardim Sul São Paulo
1991
SP Aricanduva Centro C Leste
São Paulo
1991
SP West Plazza Shopping São Paulo
1991
SP Shopping Center Sul São Paulo
1992
SP Shopping Center Penha São Paulo
1992
SP Multi Vila Mariana São Paulo
1993
SP Shopping Matarazzo o Paulo
1994
SP Shopping Butantã São Paulo
1994
SP Shopping Plaza Sul São Paulo
1994
SP Shopping Sp Market São Paulo
1994
SP Shopping D o Paulo
1994
SP Stand Center São Paulo
1994
SP Fiesta Shopping Center o Paulo
1994
SP Shopping Fiesta São Paulo
1995
SP Market Place S Center São Paulo
1995
SP Multilet Água Branca São Paulo
1995
SP D&D S de Decoração São Paulo
1995
SP Shopping Plaza Chic São Paulo
1996
SP Raposo Shopping São Paulo
1996
SP Shopping Metrô Jabaquara
São Paulo
1997
SP Shopping Sílvio Romero São Paulo
1997
SP Shopping Metrô Tatuapé São Paulo
1999
SP Shopping Anália Franco São Paulo
1999
SP S Pátio Higienópolis São Paulo
1999
SP Shopping Light São Paulo
1999
SP Shopping Central Plaza São Paulo
1999
SP Central Plaza S Center o Paulo
2000
SP Shopping Nações Unidas São Paulo
2000
SP Shopping Villa-Lobos São Paulo
2001
SP Frei Caneca. S e C Center São Paulo
2001
SP Metrô Santa Cruz o Paulo
2002
SP Pátio Jardim França o Paulo
2003
SP Brascan Century Open M São Paulo
2003
SP Shopping Porto Geral São Paulo
2003
SP Shopping Capital São Paulo
2004
SP Shopping Itaim Paulista São Paulo
2004
SP Boavista Shopping São Paulo
2007
SP Shopping Metrô Itaquera São Paulo
2007
SP Santana Parque Shopping São Paulo
1980
SP SC Iguatemi Campinas Campinas
1980
SP Shopping S. Bernarndo
1
S B do Campo
1981
SP Ribeirao Shopping Ribeirão Preto
1981
SP Sorocaba Shopping Sorocaba
1985
SP Shopping C Piracicaba Piracicaba
1986
SP SC Americana P Prudente Pres. Prudente
1987
SP Center Vale Shopping São Jose dos C
1987
SP Miramar Shopping Center Santos
1988
SP Golden Shopping S B do Campo
1988
SP Rio Preto Shopping Center S José do Rio P
1989
SP Tropical Shopping Araraquara
1989
SP Alpha Shopping Barueri
1989
SP Bauru Shopping Bauru
1989
SP Bebedouro Shopping C Bebedouro
1989
SP Guará Shopping Guaratinguetá
1989
SP Maxi Shopping Jundiaí Jundiaí
1989
SP Shopping Center Limeira Limeira
1989
SP Carrefour Praia Shopping São Vicente
1989
SP Taubaté Shopping Center Taubaté
1990
SP Garden Catanduva S Catanduva
1990
SP PrudenShopping Pres. Prudente
1991
SP Mogi Shopping M das Cruzes
1991
SP Esplanada Shopping C Sorocaba
1991
SP Riviera de São Lourenço Bertioga
1992
SP Shopping Tamboré Barueri
1992
SP Galleria S Campinas
1992
SP S La Plage Guarujá
1992
SP SC Americanas Osasco
1992
SP S La Plage Guarujá
1993
SP Shoppping Via Direta Americana
1993
SP Franca SC Franca
1993
SP S Jaraguá Indaiatuba Indaiatuba
1994
SP Campinas S Campinas
1994
SP Unimart S Campinas
1994
SP Vale Sul S São Jose dos C
1994
SP UnicS Itu
1994
SP São Roque SC São Roque
1995
SP Araçatuba S Araçatuba
1995
SP Arena Barretos Shopping Barretos
1995
SP S Jaraguá Conceição Campinas
1995
SP Osasco Plaza S Osasco
1995
SP SC Rio Claro Rio Claro
1996
SP S Jaraguá Conceição Campinas
1996
SP S Paineiras Center Jundiaí
1996
SP S Abc Santo André
1996
SP S Fernandopolis Fernandopolis
1996
SP Jaboticabal S Jaboticabal
1997
SP S Colinas São Jose dos C
1997
SP Iguatemi São Carlos São Carlos
1997
SP ABC Plaza S Santo André
1997
SP SC Ibiuna Ibiúna
1997
SP S Parque Balneário Santos
1998
SP S Happy Day Araras
1998
SP S Jaraguá Brasil Campinas
1998
SP Assis Plaza S Assis
1998
SP Interna. S Guarulhos Guarulhos
1998
SP S Multímoda Jundiaí
1998
SP Litoral Plaza S Praia Grande
1998
SP Tivoli S Sta Barbara d'O
1998
SP Praça S S José do Rio P
1999
SP S Flamingo Alpha Mall Barueri
1999
SP Novo SC Ribeirão Preto Ribeirão Preto
1999
SP Ita SC Itpevi
1999
SP Santa Úrsula S Ribeirão Preto
2000
SP Plaza S Itú Itu
2000
SP Auto S Global Santo André
2000
SP Praiamar SC Santos
2000
SP SC Paulistar, Piracicaba
2000
SP Aquarius SC Marilia
2000
SP S São Caetano São Caetano
2001
SP S Jaraguá Araraquara Araraquara
2001
SP Suzano S Suzano
2001
SP Jaú SC J
2001
SP Boqueirão Praia S Praia Grande
2001
SP Boqueirão Praia S Praia Grande
2001
SP S Porto Itaguá Ubatuba
2002
SP S Lupu Araraquara
2002
SP Parque Dom Pedro S Campinas
2002
SP Mauá Plaza S Mauá
2002
SP S Taboão T da Serra
2002
SP Itapetininga Shopping C Itapetininga
2003
SP Golden Shopping Taubaté Taubaté
2003
SP Jacareí Shopping Jacareí
2004
SP Shopping Pátio Barão Guarulhos
2004
SP Esmeralda Shopping Marilia
2005
SP Super Shopping Osasco Osasco
2006
SP Shopping Bonsucesso Guarulhos
2007
SP Shopping Caraguá Caraguatatuba
2007
SP Shopping Brisamar São Vicente
2008
SP Aruã Boulevard M das Cruzes
SP Cosmópolis Shopping Cosmópolis
SP Garça Plaza Shopping Garça
INAUGURAÇÕES PREVISTAS OU PROJETOS
2006
RJ Caxias Shopping D de Caxias
2008
ES Shopping Sul C de Itapemirim
2008
MG Independência Shopping Juiz de Fora
2008
MG Shopping Plaza Anchieta Belo Horizonte
2008
SP Plaza Avenida Shopping S José do Rio P
2008
SP Shopping Cidade Jardim São Paulo
2008
SP Shopping Metrô Tucuruvi o Paulo
2009
MG Shopping Vilarinho Belo Horizonte
2009
SP Villàggio Shopping Sorocaba
2009
SP Shopping Valinhos Valinhos
2009
SP Itapecerica Shopping Itapecerica
2009
SP Bourbon S Pompéia o Paulo
2009
SP Shopping Mooca São Paulo
2009
SP Shopping Vila Olímpia São Paulo
2009
SP Shopping Mogi Mirim Mogi Mirim
2009
SP JK Iguatemi Shopping São Paulo
2009
SP Shopping Granja Vianna Cotia
2009
SP Shopping Bauru Bauru
ES Vita Shopping Cariacica
ES Shopping Barra Sol Vila Velha
RJ Shopping Cabo Frio Cabo Frio
SP S da Praça da Moça Diadema
MG Planeta América Shopping Belo Horizonte
RJ Shopping Plaza Macaé Macaé
SP Alfha Square Barueri
SP Catanduva Shopping C Catanduva
Fontes das informações:
a) ABRASCE, para os casos dos shopping centers filiados;
b) Site dos empreendimentos;
c) Contato, por e-mail;
d) Contato, por telefone, apenas para os casos em que as
estratégias acima não tiveram resultados
1 - Substituiu o Sinos Center, que feixou em 2003.
2 – Substituiu um antigo shopping da cidade.
3 – Antigo Metrópole
Quadro 2: Brasil
Shopping-centers, por regiões, estados e localização dentro do
estado, 1966/2008
UF Capital Fora da capital Total Previsões
Norte 9
0
9
7
Acre 0
0
0
1
Amapá 1
0
1
0
Amazonas 4
0
4
2
Pará 3
0
3
2
Rondônia 0
0
0
1
Rorâima 0
0
0
0
Tocantins 1
0
1
1
Nordeste 42
15
57
11
Alagoas 2
0
2
3
Bahia 8
7
15
4
Ceará 8
2
10
2
Maranhão 4
1
5
0
Paraíba 3
1
4
0
Pernambuco 5
3
8
2
Piauí 2
0
2
0
Rio Grande do Norte 8
1
9
0
Sergipe 2
0
2
0
Centro-Oeste 18
14
32
5
Distrito Federal 9
7
16
1
Goiás 4
4
8
0
Mato Grosso 3
2
3
4
Mato Grosso do Sul 2
1
5
0
Sudeste 126
136
262
26
Espírito Santo 5
5
10
3
Minas Gerais 19
16
35
4
Rio de Janeiro 40
23
63
3
São Paulo 62
92
154
16
Sul 28
40
68
17
Paraná 12
10
22
4
Rio Grande do Sul 12
14
26
11
Santa Catarina 4
16
20
2
Total 223
205
428
66
Fontes das informações:
ABRASCE; site dos empreendimentos; contato, por e-mail e por telefone, com o shopping
Quadro 3: Brasil, Shopping-centers, por regiões, estados, localização dentro do estado e
ano de inauguração, 1966/2008
Até 1977 1978 até 1987 1988 até 1997 1998 até 2007
UF
Capital
Interior
Capital
Interior
Capital
Interior Capital
Interior
Norte 0
0
0
0
5
0
4
0
Acre 0
0
0
0
0
0
0
0
Amapá 0
0
0
0
1
0
0
0
Amazonas 0
0
0
0
1
0
3
0
Pará 0
0
0
0
2
0
1
0
Rondônia 0
0
0
0
0
0
0
0
Rorâima 0
0
0
0
0
0
0
0
Tocantins 0
0
0
0
1
0
0
0
Nordeste 2
0
10
0
15
8
15
7
Alagoas 0
0
1
0
1
0
0
0
Bahia 1
0
4
0
1
3
2
4
Ceará 1
0
1
0
3
1
3
1
Maranhão 0
0
1
0
2
1
1
0
Paraíba 0
0
0
0
1
0
2
1
Pernambuco 0
0
1
0
1
3
3
0
Piauí 0
0
0
0
2
0
0
0
Rio Grande do Norte 0
0
2
0
2
0
4
1
Sergipe 0
0
0
0
2
0
0
0
Centro-Oeste 1
0
2
0
9
5
6
9
Distrito Federal 1
0
1
0
3
2
4
5
Goiás 0
0
1
0
2
3
1
1
Mato Grosso 0
0
0
0
2
0
1
2
Mato Grosso do Sul 0
0
0
0
2
0
0
1
Sudeste 11
0
18
13
51
64
46
57
Espírito Santo 0
0
1
0
2
2
2
3
Minas Gerais 0
0
2
1
6
7
11
8
Rio de Janeiro 2
0
8
4
14
11
16
8
São Paulo 9
0
7
8
29
44
17
38
Sul 1
1
6
3
12
16
9
20
Paraná 0
1
4
0
6
3
2
6
Rio Grande do Sul 1
0
1
0
5
9
5
5
Santa Catarina 0
0
1
3
1
4
2
9
Total
1
15
1
36
16
92
93
80
93
Fontes das informações: ABRASCE; site dos empreendimentos; contato, por e-mail e por telefone, com o shopping
Nota: Os shopping Cosmópolis e Graça não informaram o ano de inauguração.
APÊNDICE III
DADOS SOBRE VUP
Tabela 1: Centro Tradicional
Valor Unitário padrão, por vias, ano, valores totais e percentuais, 1986, 1997 e 2007
Código
Corredores 2007 (R$) (%)
1
1997 (R$) (%)
1
Crescimento
1997-2007
1986
(Cz$) (%)
1
212
Avenida Lafayete Coutinho 122,69
45,37
31,87
21,10
284,97
1000,00
80,00
1434
Avenida Sete de Setembro 270,44
100,00
151,04
100,00
79,05
1250,00
100,00
376
Rua Carlos Gomes 216,36
80,00
101,16
66,98
113,88
1250,00
100,00
1091
Rua Gamboa de Cima 148,1
54,76
65,13
43,12
127,39
550,00
44,00
258
Rua Direita da Piedade 151,45
56,00
40,07
26,53
277,96
750,00
60,00
1402
Rua Forte de São Pedro 151,45
56,00
73,45
48,63
106,19
1100,00
88,00
758
Ladeira da Fonte 86,54
32,00
48,51
32,12
78,40
500,00
40,00
620
Rua Politeama 151,45
56,00
65,13
43,12
132,53
725,00
58,00
795
Largo Dois de Julho 162,26
60,00
65,13
43,12
149,13
750,00
60,00
759
Rua do Cabeça 162,26
60,00
20,78
13,76
680,85
750,00
60,00
822
Avenida Joana Angélica 108,19
40,01
58,81
38,94
83,97
1000,00
80,00
383
Rua Areal de Cima 64,91
24,00
20,78
13,76
212,37
150,00
12,00
773
Ladeira da Montanha 43,27
16,00
12,47
8,26
246,99
500,00
40,00
875
Avenida José Joaquim Seabra 151,45
56,00
31,87
21,10
375,21
550,00
44,00
419
Rua Chile 134,65
49,79
65,13
43,12
106,74
1000,00
80,00
422
Rua do Paraíso 119,4
44,15
62,36
41,29
91,47
550,00
44,00
1064
Rua da Misericórdia 108,19
40,01
65,13
43,12
66,11
875,00
70,00
1318
Ladeira da Praça 118,99
44,00
26,33
17,43
351,92
624,00
49,92
1508
Praça Castro Alves 151,45
56,00
62,36
41,29
142,86
875,00
70,00
941
Rua do Corpo Santo 91,28
33,75
54,05
35,79
68,88
1000,00
80,00
1255
Rua Portugal 101,73
37,62
62,36
41,29
63,13
2500,00
200,00
1051
Rua Miguel Calmon 101,73
37,62
67,91
44,96
49,80
2500,00
200,00
645
Avenida da França 122,69
45,37
67,91
44,96
80,67
2500,00
200,00
242
Rua da Bélgica 101,73
37,62
65,13
43,12
56,20
2500,00
200,00
381
Rua do Carmo 43,27
16,00
12,47
8,26
246,99
100,00
8,00
575
Avenida Estados Unidos 129,82
48,00
65,13
43,12
99,32
2500,00
200,00
676
Avenida Jequitaia 83,77
30,98
45,73
30,28
83,18
750,00
60,00
494
Rua Conselheiro Dantas 101,73
37,62
62,36
41,29
63,13
2500,00
200,00
518
Rua Djalma Dutra 86,54
32,00
44,34
29,36
95,17
700,00
56,00
1505
Ladeira do Funil 54,08
20,00
12,47
8,26
333,68
200,00
16,00
1215
Rua Cônego Pereira 108,19
40,01
44,34
29,36
144,00
375,00
30,00
Fontes: Diário Oficial do Município, de 5 e 6 de dezembro de 1986; e Secretaria Municipal da Fazenda, base de dados sobre o VUP,
de 1997 e 2007.
Notas: 1 – Percentual calculado com base no VUP da Av. Sete de Setembro
Tabela 2: Vale do Camaragibe
Valor Unitário padrão, por vias, ano, valores totais e percentuais, 1986, 1997 e 2007
Código
Corredores 2007 (R$) (%)
1
1997 (R$) (%)
1
Crescimento
1997-2007
1986
(Cz$)
(%)
1
2631
Av.ACM B 378,63
100,00
217,56
100,00
74,03
250,00
100,00
2843
Av Juracy Magalhães nior 220,21
58,16
115,02
52,87
91,45
300,00
120,00
3246
Ladeira da Cruz da Redenção 108,19
28,57
36,03
16,56
200,28
175,00
70,00
3101
Rua João Onofre 64,91
17,14
40,18
18,47
61,55
45,00
18,00
7026
Rua Natal 39,79
10,51
20,78
9,55
91,48
...
...
9928
Rua Metódio Coelho 183,88
48,56
112,25
51,59
63,81
...
...
5212
Rua Marieta Alves 223,3
58,98
139,96
64,33
59,55
...
...
3551
Rua da Polêmica 99,49
26,28
62,36
28,66
59,54
...
...
1487
Rua Teixeira Barros 54,08
14,28
20,78
9,55
160,25
175,00
70,00
2870
Avenida Paulo VI 318,39
84,09
166,29
76,43
91,47
500,00
200,00
3561
Rua Itatuba 103,91
27,44
65,13
29,94
59,54
...
...
3509
Rua do Timbó 216,36
57,14
99,77
45,86
116,86
...
...
3108
Avenida Tancredo Neves C 216,36
57,14
87,3
40,13
147,84
...
...
3108
Avenida Tancredo Neves B 270,44
71,43
139,96
64,33
93,23
...
...
3108
Avenida Tancredo Neves A 378,63
100,00
217,56
100,00
74,03
...
...
5017
Alameda dos Umbuzeiros 216,92
57,29
139,96
64,33
54,99
375,00
150,00
5015
Alameda das Espatódeas 239,36
63,22
139,96
64,33
71,02
375,00
150,00
622
Rua Frederico Simões 324,55
85,72
62,36
28,66
420,45
...
...
5886
Rua Edístio Pondé 161,4
42,63
101,16
46,50
59,55
275,00
110,00
4877
Av Prof. Magalhães Neto 270,44
71,43
105,32
48,41
156,78
500,00
200,00
12568
Av. Prof. Manoel Ribeiro 91,28
24,11
22,17
10,19
311,73
...
...
4923
Avenida Luís Viana A 263,31
69,54
65,34
30,03
302,98
200,00
80,00
Fontes: Diário Oficial do Município, de 5 e 6 de dezembro de 1986; e Secretaria Municipal da Fazenda, base de dados sobre o VUP, de
1997 e 2007.
Notas: ... Informação indisponível
1 – Percentual calculado com base no VUP da Av. ACM B
Tabela 3: Largo do Tanque
Valor Unitário padrão, por vias, ano, valores totais e percentuais, 1986, 1997 e 2007
Código
Corredores 2007 (R$) (%)
1
1997 (R$) (%)
1
Crescimento
1997-2007
1986
(Cz$)
(%)
1
196
Rua Engenheiro Austricliano 54,08
62,49
12,47
95,70
333,68
137,50
100,00
1182
Rua Pedreira Franco 43,27
50,00
5,82
44,67
643,47
42,50
30,91
1387
Avenida General San Martin 64,91
75,01
20,78
159,48
212,37
100,00
72,73
173
Ladeira do Serapião 9,58
11,07
4,85
37,22
97,53
...
...
933
Estrada da Liberdade 54,08
62,49
13,03
100,00
315,04
162,00
117,82
2864
Avenida Santo Antônio 11,19
12,93
5,68
43,59
97,01
...
...
955
Largo do Tanque 86,54
100,00
13,03
100,00
564,16
137,50
100,00
946
Rua de São Lourenço 10,38
11,99
5,41
41,52
91,87
45,00
32,73
3546
Avenida Palmeira 64,32
74,32
4,57
35,07
1307,44
28,50
20,73
740
Ladeira da Graciosa 10,38
11,99
5,41
41,52
91,87
37,50
27,27
Fontes: Diário Oficial do Município, de 5 e 6 de dezembro de 1986; e Secretaria Municipal da Fazenda, base de dados sobre o VUP, de
1997 e 2007.
Notas: ... Informação indisponível
1 – Percentual calculado com base no VUP do Largo do Tanque
Tabela 4: Liberdade
Valor Unitário padrão, por vias, ano, valores totais e percentuais, 1986, 1997 e 2007
Código
Corredores 2007 (R$) (%)
1
1997 (R$) (%)
1
Crescimento
1997-2007
1986
(Cz$)
(%)
1
933
Estrada da Liberdade 54,08
100,00
13,03
100,00
315,04
250,00
100,00
1223
Rua Pero Vaz 54,08
100,00
12,47
95,70
333,68
150,00
60,00
1530
Rua Coronel Tupy Caldas 11,19
20,69
5,82
44,67
92,27
45,00
18,00
474
Rua São Cristóvão 11,19
20,69
5,82
44,67
92,27
100,00
40,00
588
Rua Euzébio de Queiroz 11,19
20,69
5,68
43,59
97,01
75,00
30,00
736
Rua Gonçalves Ledo 11,19
20,69
5,68
43,59
97,01
50,00
20,00
334
Rua Camamu 11,19
20,69
5,82
44,67
92,27
87,50
35,00
597
Rua Dr. Raimundo Mesquita 11,19
20,69
5,82
44,67
92,27
62,50
25,00
1407
Rua General Savaget 10,38
19,19
5,82
44,67
78,35
125,00
50,00
649
Rua Francelino de Andrade 10,38
19,19
5,41
41,52
91,87
42,50
17,00
1727
Av. Sto. Antônio do Guarani 10,38
19,19
5,41
41,52
91,87
...
...
Fontes: Diário Oficial do Município, de 5 e 6 de dezembro de 1986; e Secretaria Municipal da Fazenda, base de dados sobre o VUP, de
1997 e 2007.
Notas: ... Informação indisponível
1 – Percentual calculado com base no VUP da Estrada da Liberdade
Tabela 5: Paripe
Valor Unitário padrão, por vias, ano, valores totais e percentuais, 1986, 1997 e 2007
Código
Corredores 2007 (R$) (%)
1
1997 (R$) (%)
1
Crescimento
1997-2007
1986
(Cz$)
(%)
1
4440
Avenida Afrânio Peixoto 64,32
100,00
31,87
100,00
101,82
25,00
100,00
548
Rua Doutor Eduardo Dotto 21,63
33,63
5,82
18,26
271,65
18,25
73,00
7038
Rua Almirante Tamandaré 11,19
17,40
5,68
17,82
97,01
37,50
150,00
5746
Avenida São Luís 13,6
21,14
1,94
6,09
601,03
...
...
9660
Rua Lírio do Campo 10,38
16,14
5,41
16,98
91,87
...
...
5329
Rua da Austrália 21,63
33,63
5,13
16,10
321,64
...
...
5745
Rua da Bélgica 8,93
13,88
4,57
14,34
95,40
...
...
8760
Rua Piauí 18,27
28,40
12,2
38,28
49,75
25,75
103,00
8752
Rua Munique 10,38
16,14
5,41
16,98
91,87
...
...
8763
Rua Tupi 12,12
18,84
6,1
19,14
98,69
25,75
103,00
5730
Rua 8 de Dezembro 10,38
16,14
5,41
16,98
91,87
...
...
Fontes: Diário Oficial do Município, de 5 e 6 de dezembro de 1986; e Secretaria Municipal da Fazenda, base de dados sobre o VUP, de
1997 e 2007.
Notas: ... Informação indisponível
1 – Percentual calculado com base no VUP da Av. Afrânio Peixoto
Tabela 6: Itapuã
Valor Unitário padrão, por vias, ano, valores totais e percentuais, 1986, 1997 e 2007
Código
Corredores 2007 (R$) (%)
1
1997 (R$) (%)
1
Crescimento
1997-2007
1986
(Cz$) (%)
1
18586
Avenida Dorival Caymmi
2
245,64
100,00
124,13
100,00
97,89
250,00
100,00
1140
Avenida Octávio Mangabeira 122,69
49,95
77,29
62,27
58,74
200,00
80,00
2343
Rua Aristides Milton 86,54
35,23
31,87
25,67
171,54
150,00
60,00
1435
R. 7 de Setembro de Itap 23,86
9,71
12,47
10,05
91,34
75,00
30,00
708
Rua Genebaldo Figueredo 24,95
10,16
13,03
10,50
91,48
150,00
60,00
1149
Rua Palame 40,4
16,45
12,47
10,05
223,98
50,00
20,00
95
Rua Amoreiras 39,79
16,20
20,78
16,74
91,48
50,00
20,00
2
Ladeira do Abaeté 50,4
20,52
26,33
21,21
91,42
100,00
40,00
1114
Rua Olhos D'Água 29,47
12,00
7,62
6,14
286,75
50,00
20,00
7045
Rua Boa Vista 21,77
8,86
11,36
9,15
91,64
...
...
7048
Rua Itaperuna 23,86
9,71
12,47
10,05
91,34
50,00
20,00
4429
Rua Fernando Torres 11,19
4,56
5,82
4,69
92,27
50,00
20,00
Fontes: Diário Oficial do Município, de 5 e 6 de dezembro de 1986; e Secretaria Municipal da Fazenda, base de dados sobre o VUP, de
1997 e 2007.
Notas: ... Informação indisponível
1 – Percentual calculado com base no VUP da Dorival Caymmi
2 – Antiga Estrada Itapuã-Aeroporto.
Tabela 7: Barra
Valor Unitário padrão, por vias, ano, valores totais e percentuais, 1986, 1997 e 2007
Código
Corredores 2007 (R$) (%)
1
1997 (R$) (%)
1
Crescimento
1997-2007
1986
(Cz$)
(%)
1
409
Avenida Centenário 324,55
75,00
169,07
77,71
91,96
450,00
36,00
1545
Avenida Oceânica 375,49
86,77
202,32
93,00
85,59
1375,00
110,00
1019
Av. Alm. Marques de Leão 378,63
87,50
162,14
74,53
133,52
1375,00
110,00
12
Rua Afonso Celso 324,55
75,00
162,14
74,53
100,17
1375,00
110,00
1434
Avenida Sete de Setembro 432,72
100,00
217,56
100,00
98,90
1250,00
100,00
1050
Rua Miguel Burnier 324,55
75,00
162,14
74,53
100,17
750,00
60,00
369
Rua Marquês de Caravelas 378,63
87,50
162,14
74,53
133,52
1150,00
92,00
244
Rua Belo Horizonte 324,55
75,00
166,29
76,43
95,17
650,00
52,00
26
Rua Airosa Galvão 324,55
75,00
166,29
76,43
95,17
875,00
70,00
551
R.Eduardo Diniz Gonçalves 218,90
50,59
91,46
42,04
139,34
500,00
40,00
3129
Rua José Pancetti 238,80
55,19
149,66
68,79
59,56
875,00
70,00
797
Avenida Princesa Isabel 378,63
87,50
169,00
77,68
124,04
1250,00
100,00
Fontes: Diário Oficial do Município, de 5 e 6 de dezembro de 1986; e Secretaria Municipal da Fazenda, base de dados sobre o VUP, de
1997 e 2007.
Notas: ... Informação indisponível
1 – Percentual calculado com base no VUP da Av. Princesa Isabel.
Tabela 8: Brotas
Valor Unitário padrão, por vias, ano, valores totais e percentuais, 1986, 1997 e 2007
Código
Corredores 2007 (R$) (%)
1
1997 (R$) (%)
1
Crescimento
1997-2007
1986
(Cz$) (%)
1
849
Avenida Dom João VI
122,69
100,00
65,13
100,00
88,38
275,00
100,00
491
Rua Padre Daniel Lisboa
86,54
70,54
22,17
34,04
290,35
275,00
100,00
2161
Rua Rio Branco
34,49
28,11
18,01
27,65
91,50
100,00
36,36
561
Rua Emília Couto
64,91
52,91
20,78
31,91
212,37
250,00
90,91
354
R. Monsenhor Antonio Rosa
54,08
44,08
20,78
31,91
160,25
...
0,00
341
Rua Campinas de Brotas
54,08
44,08
22,17
34,04
143,93
400,00
145,45
1487
Rua Teixeira Barros
54,08
44,08
20,78
31,91
160,25
175,00
63,64
3246
Lad. da Cruz da Redenção
108,19
88,18
36,03
55,32
200,28
175,00
63,64
1590
Rua Waldemar Falcão
162,26
132,25
62,36
95,75
160,20
375,00
136,36
1217
R. Com. Pereira da Silva
64,91
52,91
20,78
31,91
212,37
375,00
136,36
3563
Rua Odilon Dórea
39,79
32,43
20,78
31,91
91,48
300,00
109,09
Fontes: Diário Oficial do Município, de 5 e 6 de dezembro de 1986; e Secretaria Municipal da Fazenda, base de dados sobre o VUP, de
1997 e 2007.
Notas: ... Informação indisponível
1 – Percentual calculado com base no VUP da Av. D. João VI.
Tabela 9: Calçada
Valor Unitário padrão, por vias, ano, valores totais e percentuais, 1986, 1997 e 2007
Código
Corredores 2007 (R$) (%)
1
1997 (R$) (%)
1
Crescimento
1997-2007
1986
(Cz$)
(%)
1
3277
Av. Eng. Oscar Pontes 86,54
100,00
67,91
100,00
27,43
500,00
100,00
676
Avenida Jequitaia 83,77
96,80
45,73
67,34
83,18
750,00
150,00
1121
Largo da Calçada 86,54
100,00
42,95
63,25
101,49
575,00
115,00
116
Rua Padre Antônio de Sá 84,91
98,12
44,34
65,29
91,50
42,50
8,50
463
Rua Barão de Cotegipe 82,24
95,03
42,95
63,25
91,48
575,00
115,00
608
Rua Fernandes Vieira 86,54
100,00
44,34
65,29
95,17
350,00
70,00
556
Rua Elias Nazaré 86,54
100,00
42,95
63,25
101,49
...
...
1205
Rua do Imperador 86,54
100,00
30,48
44,88
183,92
400,00
80,00
1093
Rua Nilo Peçanha 86,54
100,00
30,48
44,88
183,92
400,00
80,00
959
Rua Luiz Régis Pacheco 43,39
50,14
12,47
18,36
247,96
75,00
15,00
957
Rua Luiz Maria 43,27
50,00
5,82
8,57
643,47
100,00
20,00
1542
Rua do Uruguay 64,91
75,01
13,03
19,19
398,16
125,00
25,00
1035
Rua Matias de Albuquerque 32,44
37,49
12,47
18,36
160,14
52,50
10,50
144
Rua Araújo Bulcão 37,11
42,88
13,03
19,19
184,80
52,50
10,50
465
Rua Couceiros de Abreu 43,27
50,00
13,03
19,19
232,08
75,00
15,00
Fontes: Diário Oficial do Município, de 5 e 6 de dezembro de 1986; e Secretaria Municipal da Fazenda, base de dados sobre o VUP, de
1997 e 2007.
Notas: ... Informação indisponível
1 – Percentual calculado com base no VUP da Av. Eng. Oscar Pontes.
Tabela 10: Manoel Dias da Silva
Valor Unitário padrão, por vias, ano, valores totais e percentuais, 1986, 1997 e 2007
Código
Corredores 2007 (R$) (%)
1
1997 (R$) (%)
1
Crescimento
1997-2007
1986
(Cz$)
(%)
1
984
Av. Manoel Dias da Silva 263,31
100,00
162,14
100,00
62,40
750,00
100,00
1140
Avenida Octávio Mangabeira 216,36
82,17
77,29
47,67
179,93
500,00
66,67
1060
Rua Minas Gerais 216,36
82,17
73,45
45,30
194,57
750,00
100,00
999
Rua Maranhão 216,92
82,38
112,25
69,23
93,25
750,00
100,00
1423
Rua Sergipe 214,93
81,63
112,25
69,23
91,47
750,00
100,00
84
Rua Amazonas 216,36
82,17
112,25
69,23
92,75
750,00
100,00
1322
Rua Rio Grande do Sul 216,36
82,17
112,25
69,23
92,75
750,00
100,00
1221
Rua Pernambuco 216,36
82,17
112,25
69,23
92,75
750,00
100,00
406
Rua Ceará 270,44
102,71
149,66
92,30
80,70
750,00
100,00
2870
Avenida Paulo VI 318,39
120,92
166,29
102,56
91,47
500,00
66,67
1782
Praça da Luz 305,12
115,88
191,24
117,95
59,55
750,00
100,00
27
Rua Alagoas 216,36
82,17
67,91
41,88
218,60
750,00
100,00
Fontes: Diário Oficial do Município, de 5 e 6 de dezembro de 1986; e Secretaria Municipal da Fazenda, base de dados sobre o VUP, de
1997 e 2007.
Notas: ... Informação indisponível
1 – Percentual calculado com base no VUP da Av. Manoel Dias da Silva
Tabela 11: Itaigara
Valor Unitário padrão, por vias, ano, valores totais e percentuais, 1986, 1997 e 2007
Código
Corredores 2007 (R$) (%)
1
1997 (R$) (%)
1
Crescimento
1997-2007
1986
(Cz$)
(%)
1
2631
Av. ACM A 649,06
100,00
217,56
100,00
198,34
300,00
100,00
5209
Rua Anísio Teixeira 426,38
65,69
139,96
64,33
204,64
...
...
5183
Rua Hermann Neeser 209,46
32,27
139,96
64,33
49,66
...
...
5231
Rua Afonso Ruy 209,46
32,27
139,96
64,33
49,66
...
...
12692
R. Altino Serbeto de Barros 263,31
40,57
58,63
26,95
349,10
...
...
4578
Rua Sílvio Valente 216,36
33,33
91,46
42,04
136,56
...
...
3361
Rua Almeida Garret 216,36
33,33
65,13
29,94
232,20
275,00
91,67
9868
Pr. Vinte e Quatro de Maio 216,36
33,33
99,77
45,86
116,86
750,00
250,00
2515
Território do Amapá 216,36
33,33
112,25
51,59
92,75
750,00
250,00
1322
Rua Rio Grande do Sul 216,36
33,33
112,25
51,59
92,75
750,00
250,00
4666
Alameda Carrara 216,36
33,33
82,27
37,81
162,99
...
...
5180
Rua Rubens Guelli 426,38
65,69
139,96
64,33
204,64
...
...
Fontes: Diário Oficial do Município, de 5 e 6 de dezembro de 1986; e Secretaria Municipal da Fazenda, base de dados sobre o VUP, de
1997 e 2007.
Notas: ... Informação indisponível
1 – Percentual calculado com base no VUP da Av. ACM A
Tabela 12: Periperi
Valor Unitário padrão, por vias, ano, valores totais e percentuais, 1986, 1997 e 2007
Código
Corredores 2007 (R$) (%)
1
1997 (R$) (%)
1
Crescimento
1997-2007
1986
(Cz$) (%)
1
549
Rua Frederico Costa 12,12
18,84
6,1
19,14
98,69
...
...
1187
Rua das Pedrinhas 10,38
16,14
5,41
16,98
91,87
25,00
100,00
4440
Avenida Afrânio Peixoto 64,32
100,00
31,87
100,00
101,82
25,00
100,00
583
R. Eustásio N. dos Santos 11,19
17,40
5,82
18,26
92,27
25,00
100,00
85
Rua Ambrósio Calmon 12,12
18,84
6,1
19,14
98,69
22,50
90,00
2448
Rua Carlos Gomes 43,27
67,27
5,82
18,26
643,47
32,50
130,00
3342
Praça da Revolução 12,12
18,84
6,1
19,14
98,69
32,50
130,00
6664
Rua Dom Pedro II 10,38
16,14
5,13
16,10
102,34
17,50
70,00
743
Rua do Gravatá 12,12
18,84
6,1
19,14
98,69
21,50
86,00
719
Rua da Glória 11,19
17,40
5,68
17,82
97,01
32,50
130,00
694
Rua Osvaldo da Hora 6,39
9,93
3,33
10,45
91,89
10,00
40,00
106
Rua Aníbal Cajado 12,12
18,84
6,1
19,14
98,69
45,50
182,00
Fontes: Diário Oficial do Município, de 5 e 6 de dezembro de 1986; e Secretaria Municipal da Fazenda, base de dados sobre o VUP, de
1997 e 2007.
Notas: ... Informação indisponível
1 – Percentual calculado com base no VUP da Av. Afrânio Peixoto
Tabela 13: São Caetano
Valor Unitário padrão, por vias, ano, valores totais e percentuais, 1986, 1997 e 2007
Código
Corredores 2007 (R$) (%)
1
1997 (R$) (%)
1
Crescimento
1997-2007
1986
(Cz$) (%)
1
00161 Rua Aristóteles Góes 11,19
17,24
5,82
26,25
92,27
80,00
45,71
02460 Rua Bambuí 11,19
17,24
5,82
26,25
92,27
80,00
45,71
02827 Rua Boa Nova 11,19
17,24
5,82
26,25
92,27
80,00
45,71
00315 Estrada de Campinas 12,72
19,60
5,68
25,62
123,94
137,50
78,57
00190 Rua Eng. Austriciliano. 64,91
100,00
12,47
56,25
420,53
137,50
78,57
03025 Rua Góes Calmon 11,19
17,24
5,68
25,62
97,01
80,00
45,71
00723 Rua Goméia 11,19
17,24
5,82
26,25
92,27
80,00
45,71
01044 Rua Melo Moraes Filho 64,91
100,00
22,17
100,00
192,78
175,00
100,00
04426 Rua Nova Esperança 11,19
17,24
5,68
25,62
97,01
80,00
45,71
06679 Rua Rapold Filho 12,12
18,67
6,10
27,51
98,69
80,00
45,71
04127 Rua Rezende de Jesus 12,12
18,67
6,10
27,51
98,69
80,00
45,71
04378 Rua Sete de Agosto 10,38
15,99
5,41
24,40
91,87
22,50
12,86
01470 Tv. Sussunga Velha 10,38
15,99
5,41
24,40
91,87
22,50
12,86
Fontes: Diário Oficial do Município, de 5 e 6 de dezembro de 1986; e Secretaria Municipal da Fazenda, base de dados sobre o VUP, de
1997 e 2007.
Notas: ... Informação indisponível
1 – Percentual calculado com base no VUP Estrada de Campinas
ANEXO I
DADOS SOBRE A ARRECADAÇÃO DE ISS
Tabela 1: Salvador
Imposto Sobre Serviços, por regiões administrativas e valores totais, 2003-2007
Valor Total
Região Administrativa
2003 2004 2005 2006 2007
6.736.535,06
4.995.348,11
4.996.324,64
5.128.464,92
5.531.025,39
Centro 30.005.871,22
34.246.611,54
46.000.236,89
50.690.516,38
54.832.541,90
Itapagipe 2.104.742,42
2.615.831,11
3.135.236,25
3.099.013,07
3.441.466,47
São Caetano 878.896,64
827.106,50
1.102.855,11
1.184.327,77
1.423.034,85
Liberdade 4.534.418,53
3.581.579,47
4.183.346,88
4.814.086,73
4.637.331,42
Brotas 11.880.245,55
12.934.850,69
16.058.919,60
17.454.393,96
19.380.928,39
Barra 14.843.454,84
17.759.529,02
17.710.433,27
21.920.870,62
23.222.619,69
Rio Vermelho 8.698.878,67
9.811.088,97
10.543.558,93
11.546.982,66
12.769.526,16
Pituba 48.267.874,69
52.238.254,74
59.996.647,32
75.526.228,96
85.073.799,43
Boca do Rio 12.253.935,60
12.706.947,08
16.665.402,37
20.791.411,55
23.567.353,86
Itapuã 4.856.910,70
5.799.885,05
7.415.308,85
8.407.926,99
9.207.113,59
Cabula 12.357.671,16
14.292.495,92
17.572.009,09
19.025.862,47
20.324.807,03
Tancredo Neves 8.281.335,44
10.225.349,55
13.200.591,25
17.832.584,82
16.909.314,57
Pau da Lima 2.929.627,48
2.482.066,02
2.556.640,40
3.933.853,41
7.207.892,12
Cajazeiras 703.110,04
775.135,27
845.692,57
1.075.615,43
1.136.735,15
Ipitanga 1.082.343,13
531.156,17
428.729,62
419.202,06
487.754,16
Valéria 1.867.175,56
3.011.675,08
4.113.683,51
4.750.659,48
5.909.273,11
Suburbio Ferroviário 1.503.859,73
2.314.674,74
1.146.946,10
1.658.001,72
1.490.060,57
Total 173.786.886,46
191.149.585,03
227.672.562,65
269.260.003,00
296.552.577,86
Fonte: Prefeitura Municipal de Salvador, Secretaria Municipal da Fazenda.
Tabela 2: Região Administrativa não informada
Imposto Sobre Serviços, por tipo de atividade e valores totais, 2003-2007
Valor Total
Região Administrativa
2003 2004 2005 2006 2007
Administração pública, defesa e seguridade social 3.154.464,86
3.543.398,86
4.006.289,95
4.059.564,68
4.325.300,06
Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aqüicultura 340,02
267,84
...
...
...
Água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação
369,92
...
157,50
...
...
Alojamento e alimentação 4.703,33
9.324,07
17.928,92
15.123,31
20.269,75
Artes, cultura, esporte e recreação 85.716,93
134.450,03
49.999,32
73.931,96
60.161,31
Atividades administrativas e serviços complementares 373.408,80
158.968,31
42.776,51
41.062,72
58.234,83
Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados 2.681.247,22
641.992,19
669.461,21
788.188,86
874.459,90
Atividades imobiliárias 1.465,25
151,49
300,00
200,00
371,00
Atividades profissionais, científicas e técnicas 39.252,90
23.717,86
17.619,69
16.511,23
16.107,42
Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas 30.098,71
15.655,64
14.406,44
39.564,30
69.284,29
Construção 81.674,29
33.360,31
15.980,74
9.134,30
9.881,96
Educação 74.425,50
77.652,10
49.694,31
43.462,95
43.108,78
Eletricidade e gás 159,23
...
...
...
...
Indústrias de transformação 13.226,36
2.685,24
1.447,80
3.597,53
8.477,11
Informação e comunicação 12.370,85
5.271,76
...
...
878,80
Outras atividades de serviços 25.346,39
20.307,49
24.462,39
20.474,27
20.843,13
Saúde humana e serviços sociais 18.590,76
8.338,60
7.002,48
4.261,57
8.356,94
Transporte, armazenagem e correio 139.673,74
319.806,32
78.797,38
13.387,24
15.290,11
Total
6.736.535,06
4.995.348,11
4.996.324,64
5.128.464,92
5.531.025,39
Fonte: Prefeitura Municipal de Salvador, Secretaria Municipal da Fazenda.
Tabela 3: Centro
Imposto Sobre Serviços, por tipo de atividade e valores totais, 2003-2007
Valor Total
Região Administrativa
2003 2004 2005 2006 2007
...
...
...
505,57
54.722,13
Administração pública, defesa e seguridade social 1.986.055,12
2.099.491,56
3.069.989,85
3.023.359,77
3.903.968,07
Agricultura, pecria, produção florestal, pesca e aqüicultura 30.589,17
19.975,44
8.655,30
5.154,28
25.246,81
Água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação
10.106,60
10.135,60
13.227,89
14.356,02
12.422,24
Alojamento e alimentação 739.516,01
762.298,45
1.102.152,76
1.017.363,27
878.063,08
Artes, cultura, esporte e recreação 649.455,03
614.929,13
697.469,98
750.172,17
897.083,08
Atividades administrativas e serviços complementares 2.299.316,02
2.414.647,73
3.366.023,23
3.675.445,55
3.709.134,17
Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados 9.653.460,69
10.080.792,18
15.417.600,99
19.273.296,36
20.246.309,03
Atividades imobiliárias 42.525,53
58.254,77
120.610,61
110.387,64
402.027,01
Atividades profissionais, científicas e técnicas 1.106.518,18
1.217.020,31
1.426.404,02
1.838.204,04
1.952.623,92
Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas 1.021.682,66
1.035.646,39
1.174.661,07
1.338.711,91
1.564.055,68
Construção 351.567,28
402.444,12
431.944,30
649.767,77
828.160,12
Educação 1.893.870,63
2.021.426,19
2.253.695,06
2.305.553,61
2.998.399,08
Eletricidade e gás ...
...
...
...
...
Indústrias de transformação 1.142.068,86
1.070.859,19
1.203.985,22
1.270.170,68
1.343.912,26
Indústrias extrativas 4.030,00
7.472,50
7.523,05
4.242,50
620,00
Informação e comunicação 2.974.120,80
3.565.403,11
5.252.764,89
5.131.818,18
4.517.765,49
Outras atividades de serviços 826.326,40
1.135.583,77
1.481.170,29
1.315.286,37
1.292.717,74
Saúde humana e serviços sociais 1.300.018,65
1.505.430,27
1.652.738,57
1.547.198,57
1.656.553,30
Transporte, armazenagem e correio 3.974.643,59
6.224.800,83
7.319.619,81
7.419.522,12
8.548.758,69
Total
30.005.871,22
34.246.611,54
46.000.236,89
50.690.516,38
54.832.541,90
Fonte: Prefeitura Municipal de Salvador, Secretaria Municipal da Fazenda.
Tabela 4: Itapagipe
Imposto Sobre Serviços, por tipo de atividade e valores totais, 2003-2007
Valor Total
Região Administrativa
2003 2004 2005 2006 2007
...
...
...
...
90,00
Administração pública, defesa e seguridade social 82.423,33
126.308,10
185.605,90
186.421,54
175.308,35
Água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação
75,18
...
971,64
1.120,60
...
Alojamento e alimentação 66.547,90
71.981,22
79.941,73
86.904,63
95.302,19
Artes, cultura, esporte e recreação 7.536,30
7.265,82
17.098,22
13.818,15
16.859,48
Atividades administrativas e serviços complementares 207.796,41
181.540,25
212.919,44
260.227,72
290.837,99
Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados 408.148,04
603.768,34
763.196,46
892.079,85
990.418,92
Atividades imobiliárias 1.752,64
3.947,38
6.482,69
5.326,58
23.594,34
Atividades profissionais, científicas e técnicas 93.167,17
91.879,74
86.159,81
83.115,31
99.393,68
Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas 164.683,53
201.964,46
273.549,71
309.703,78
327.602,21
Construção 41.623,94
41.823,36
36.560,56
40.317,43
55.075,56
Educação 56.807,29
79.042,01
95.157,09
117.460,90
110.650,03
Indústrias de transformação 204.857,79
194.932,79
224.431,02
286.963,39
282.152,96
Informação e comunicação 45.738,78
77.607,47
72.563,97
77.274,63
61.768,77
Outras atividades de serviços 209.802,38
253.912,81
225.519,95
235.592,33
264.019,17
Saúde humana e serviços sociais 293.879,54
451.073,31
540.032,79
345.948,71
455.935,32
Transporte, armazenagem e correio 219.902,20
228.784,05
315.045,27
156.737,52
192.457,50
Total
2.104.742,42
2.615.831,11
3.135.236,25
3.099.013,07
3.441.466,47
Fonte: Prefeitura Municipal de Salvador, Secretaria Municipal da Fazenda.
Nota: ... Informação indisponível
Tabela 5:o Caetano
Imposto Sobre Serviços, por tipo de atividade e valores totais, 2003-2007
Valor Total
Região Administrativa
2003 2004 2005 2006 2007
Administração pública, defesa e seguridade social 24,06
126,00
...
...
...
Água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação
...
...
1.041,99
6.776,58
7.256,12
Alojamento e alimentação 42.793,14
47.543,02
42.650,86
39.264,06
47.103,75
Artes, cultura, esporte e recreação 1.279,93
2.350,00
6.050,15
3.542,91
3.156,55
Atividades administrativas e serviços complementares 42.410,75
74.924,13
67.950,01
49.970,63
30.708,05
Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados 5.835,43
14.748,83
24.699,93
30.159,93
43.452,07
Atividades imobiliárias ...
...
...
...
...
Atividades profissionais, científicas e técnicas 4.260,71
15.371,87
20.741,82
13.076,89
15.159,89
Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas 124.770,21
219.251,00
324.106,64
369.163,52
436.317,24
Construção 270.917,62
46.053,33
73.533,52
57.636,26
82.848,83
Educação 42.180,18
58.264,43
54.309,92
67.828,66
87.895,05
Indústrias de transformação 87.449,05
88.919,40
230.114,91
201.322,06
184.264,98
Informação e comunicação 144.180,89
107.598,11
117.754,05
216.523,97
319.368,88
Outras atividades de serviços 12.647,01
19.362,27
18.706,90
32.287,83
38.855,40
Saúde humana e serviços sociais 52.533,72
53.712,47
51.721,51
30.582,49
29.741,42
Transporte, armazenagem e correio 47.613,94
78.881,64
69.472,90
66.191,98
96.906,62
Total
878.896,64
827.106,50
1.102.855,11
1.184.327,77
1.423.034,85
Fonte: Prefeitura Municipal de Salvador, Secretaria Municipal da Fazenda.
Nota: ... Informação indispovel
Tabela 6: Liberdade
Imposto Sobre Serviços, por tipo de atividade e valores totais, 2003-2007
Valor Total
Região Administrativa
2003 2004 2005 2006 2007
Administração pública, defesa e seguridade social 22.320,71
61.877,97
123.844,06
125.827,33
127.880,48
Água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação
...
...
...
...
...
Alojamento e alimentação 23.342,13
29.398,06
36.214,71
38.846,07
35.319,96
Artes, cultura, esporte e recreação 17.238,53
13.773,07
6.697,78
26.768,31
14.534,38
Atividades administrativas e serviços complementares 696.074,19
108.869,35
117.782,27
114.637,72
133.538,43
Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados 234.312,03
310.398,14
434.074,94
511.348,87
584.115,47
Atividades imobiliárias ...
...
...
...
...
Atividades profissionais, científicas e técnicas 50.466,64
67.288,51
45.234,55
32.364,34
48.698,77
Comércio; reparão de veículos automotores e motocicletas 2.094.192,64
731.013,42
805.170,27
887.647,83
958.178,99
Construção 195.277,84
388.534,81
230.446,84
589.164,40
634.062,20
Educação 118.737,43
143.258,58
160.426,54
178.382,38
165.592,37
Indústrias de transformação 730.232,46
956.154,27
840.865,68
863.434,24
611.330,65
Informação e comunicação 4.068,69
2.197,70
3.446,72
3.424,22
1.824,62
Outras atividades de serviços 46.622,76
41.782,48
48.064,47
197.702,08
205.994,91
Saúde humana e serviços sociais 186.250,61
245.707,03
426.409,21
421.192,71
409.523,06
Transporte, armazenagem e correio 115.281,87
481.326,08
904.668,84
823.346,23
706.737,13
Total
4.534.418,53
3.581.579,47
4.183.346,88
4.814.086,73
4.637.331,42
Fonte: Prefeitura Municipal de Salvador, Secretaria Municipal da Fazenda.
Nota: ... Informação indisponível
Tabela 7: Brotas
Imposto Sobre Serviços, por tipo de atividade e valores totais, 2003-2007
Valor Total
Região Administrativa
2003 2004 2005 2006 2007
Administração pública, defesa e seguridade social 131.873,70
353.236,51
809.876,97
891.140,56
844.426,49
Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aqüicultura 1.081,12
3.395,72
2.334,24
4.587,95
2.047,15
Água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação
75.785,42
102.427,29
39.670,39
29.472,99
22.708,86
Alojamento e alimentação 20.491,52
37.384,72
39.062,82
32.134,90
44.642,00
Artes, cultura, esporte e recreação 121.674,37
137.535,40
144.258,77
152.933,37
257.260,60
Atividades administrativas e serviços complementares 1.124.747,13
941.103,91
1.278.869,32
1.502.890,15
1.699.212,52
Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados 1.790.401,86
1.985.754,83
2.197.855,87
2.466.904,73
3.033.638,22
Atividades imobiliárias 38.207,42
40.885,61
62.650,14
105.989,27
156.513,73
Atividades profissionais, científicas e técnicas 1.007.707,56
858.959,70
607.729,04
889.369,76
811.559,32
Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas 1.503.055,78
2.021.056,29
2.624.525,18
2.764.103,30
3.008.393,23
Construção 340.551,71
293.460,94
392.771,21
475.599,98
704.072,12
Educação 576.172,42
859.586,90
1.105.385,26
1.415.937,33
1.836.743,20
Indústrias de transformação 503.399,41
472.424,46
541.064,85
754.309,39
917.616,73
Indústrias extrativas ...
...
...
...
...
Informação e comunicação 3.334.291,59
3.326.496,21
3.868.351,59
3.386.228,07
3.207.086,25
Outras atividades de serviços 401.624,42
416.875,35
462.276,36
492.350,98
489.290,11
Saúde humana e serviços sociais 632.392,50
798.773,02
1.603.449,90
1.811.564,66
2.013.643,54
Transporte, armazenagem e correio 276.787,62
285.493,83
278.787,69
278.876,57
332.074,32
Total
11.880.245,55
12.934.850,69
16.058.919,60
17.454.393,96
19.380.928,39
Fonte: Prefeitura Municipal de Salvador, Secretaria Municipal da Fazenda.
Nota: ... Informação indispovel
Tabela 8: Barra
Imposto Sobre Serviços, por tipo de atividade e valores totais, 2003-2007
Valor Total
Região Administrativa
2003 2004 2005 2006 2007
...
...
...
...
6.213,06
Administração pública, defesa e seguridade social 1.790.913,25
1.436.754,71
603.631,74
1.918.549,99
4.768.856,82
Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aqüicultura 53.639,62
38.475,14
50.434,92
48.533,68
101.231,27
Água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação
4.252,97
2.195,82
8.101,89
3.405,01
1.148,29
Alojamento e alimentação 1.067.263,27
1.271.590,90
1.430.796,61
1.628.633,97
1.403.450,13
Artes, cultura, esporte e recreação 460.460,06
534.443,59
702.043,88
1.014.759,16
909.546,11
Atividades administrativas e serviços complementares 544.591,80
543.304,91
598.358,22
650.450,98
770.520,11
Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados 2.261.099,97
3.129.224,10
2.381.984,29
2.713.332,86
3.081.164,26
Atividades imobiliárias 396.583,82
251.615,10
414.672,89
417.822,04
799.800,12
Atividades profissionais, científicas e técnicas 1.720.926,94
2.706.076,88
3.646.035,29
4.917.973,37
3.129.631,53
Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas 331.120,94
254.564,21
315.342,25
556.609,30
517.791,91
Construção 1.249.039,88
988.269,55
1.014.677,21
1.148.033,37
1.157.057,08
Educação 610.114,67
868.288,65
650.873,50
586.478,47
623.373,11
Eletricidade e gás 486,98
282,20
189,96
142,26
...
Indústrias de transformação 443.970,37
517.672,78
262.052,37
330.361,51
228.735,91
Indústrias extrativas ...
...
...
...
...
Informação e comunicação 363.175,90
870.457,41
1.126.073,90
1.184.704,92
1.370.655,76
Outras atividades de serviços 397.612,07
375.940,37
498.845,19
487.238,79
471.744,42
Saúde humana e serviços sociais 3.011.919,02
3.809.244,45
3.834.262,05
4.143.423,82
3.706.047,56
Serviços domésticos ...
...
...
...
146,99
Transporte, armazenagem e correio 136.283,31
161.128,25
172.057,11
170.417,12
175.505,25
Total
14.843.454,84
17.759.529,02
17.710.433,27
21.920.870,62
23.222.619,69
Fonte: Prefeitura Municipal de Salvador, Secretaria Municipal da Fazenda.
Nota: ... Informação indispovel
Tabela 9: Rio Vermelho
Imposto Sobre Serviços, por tipo de atividade e valores totais, 2003-2007
Valor Total
Região Administrativa
2003 2004 2005 2006 2007
Administração pública, defesa e seguridade social 44.037,22
37.971,98
103.087,93
121.188,00
128.231,00
Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aqüicultura 1.981,90
...
42,50
145,00
78,28
Água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação
31.570,45
20.405,79
...
...
7.284,18
Alojamento e alimentação 1.558.212,60
2.554.837,21
2.863.463,28
2.946.426,02
2.981.735,50
Artes, cultura, esporte e recreação 256.265,40
235.554,82
263.691,29
224.672,44
266.238,83
Atividades administrativas e serviços complementares 437.702,29
479.275,97
482.773,99
592.960,34
752.872,59
Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados 130.216,43
236.488,75
388.570,63
479.380,19
765.986,35
Atividades imobiliárias 41.717,86
46.907,50
50.649,48
92.600,49
217.392,08
Atividades profissionais, científicas e técnicas 425.651,66
282.725,41
272.957,80
402.184,74
541.834,57
Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas 258.178,86
239.258,31
325.024,36
333.168,81
374.007,39
Construção 653.067,80
441.319,36
445.192,73
460.825,99
406.983,71
Educação 1.323.525,27
1.423.389,15
1.525.870,11
1.618.797,63
1.753.649,37
Indústrias de transformação 91.988,85
71.595,33
84.275,65
83.070,33
65.758,76
Informação e comunicação 284.241,84
215.644,73
333.915,81
409.417,74
359.284,00
Outras atividades de serviços 111.491,71
133.823,23
159.549,37
189.886,77
257.277,31
Saúde humana e serviços sociais 3.029.034,85
3.380.316,61
3.229.753,14
3.514.484,07
3.832.285,25
Transporte, armazenagem e correio 19.993,68
11.574,82
14.740,86
77.774,10
58.626,99
Total
8.698.878,67
9.811.088,97
10.543.558,93
11.546.982,66
12.769.526,16
Fonte: Prefeitura Municipal de Salvador, Secretaria Municipal da Fazenda.
Nota: ... Informação indispovel
Tabela 10: Pituba
Imposto Sobre Serviços, por tipo de atividade e valores totais, 2003-2007
Valor Total
Região Administrativa
2003 2004 2005 2006 2007
...
...
...
...
662,74
Administração pública, defesa e seguridade social 1.848.874,55
2.293.596,25
2.848.390,24
4.381.548,78
4.409.632,47
Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aqüicultura 2.036,20
5.616,83
3.317,48
8.467,98
7.624,81
Água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação
59.229,86
15.105,66
13.496,96
12.483,61
16.089,86
Alojamento e alimentação 748.776,05
854.378,14
1.136.976,18
1.180.689,10
1.471.768,20
Artes, cultura, esporte e recreação 811.762,28
849.153,85
1.172.686,06
1.160.186,21
1.645.747,87
Atividades administrativas e serviços complementares 8.800.557,64
10.503.820,69
14.900.197,21
18.751.894,11
22.105.889,32
Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados 15.798.471,44
14.339.281,54
12.224.432,07
13.626.622,25
16.462.421,60
Atividades imobiliárias 426.705,91
577.930,03
1.267.819,47
4.588.600,42
4.633.896,19
Atividades profissionais, científicas e técnicas 3.176.002,77
3.633.886,42
5.407.640,35
7.472.947,52
7.509.167,64
Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas 2.185.095,37
2.050.830,50
1.804.047,64
2.003.562,67
2.439.882,71
Construção 3.156.895,97
3.294.739,48
2.735.155,17
3.795.418,51
4.460.779,25
Educão 1.606.514,25
1.796.659,02
2.154.648,96
2.167.548,82
2.618.657,30
Eletricidade e s 562.771,48
715.123,41
675.998,16
922.957,24
354.136,90
Indústrias de transformação 672.199,63
835.689,26
1.052.634,84
1.221.011,39
908.496,64
Indústrias extrativas ...
...
...
15.440,09
45.701,75
Informação e comunicação 3.867.105,22
4.660.974,58
5.807.459,47
7.021.809,03
7.373.059,47
Outras atividades de serviços 1.813.193,49
1.847.261,72
1.983.486,23
2.397.244,30
2.685.182,62
Saúde humana e serviços sociais 2.143.444,97
2.427.555,96
2.757.591,14
3.020.293,28
3.936.002,85
Transporte, armazenagem e correio 588.237,61
1.536.651,40
2.050.669,69
1.777.503,65
1.988.999,24
Total
48.267.874,69
52.238.254,74
59.996.647,32
75.526.228,96
85.073.799,43
Fonte: Prefeitura Municipal de Salvador, Secretaria Municipal da Fazenda.
Nota: ... Informação indisponível
Tabela 11: Boca do Rio
Imposto Sobre Serviços, por tipo de atividade e valores totais, 2003-2007
Valor Total
Região Administrativa
2003 2004 2005 2006 2007
...
...
...
80,00
67.698,42
Administração pública, defesa e seguridade social 2.354.207,97
2.994.402,45
5.143.474,53
5.822.520,27
6.585.675,10
Alojamento e alimentação 595.940,89
599.584,14
761.149,31
913.009,78
1.031.060,16
Artes, cultura, esporte e recreação 787.891,64
679.003,67
937.350,30
1.120.121,39
1.339.691,42
Atividades administrativas e serviços complementares 445.540,84
413.630,30
379.167,06
463.160,34
773.251,29
Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados 2.702.494,69
2.758.088,67
3.092.353,99
3.196.468,61
3.786.194,53
Atividades imobiliárias 1.168,96
38.125,86
1.323,88
3.124,82
26.336,43
Atividades profissionais, científicas e técnicas 505.150,57
492.006,36
668.593,63
693.544,98
907.532,73
Comércio; reparão de veículos automotores e motocicletas
759.228,42
731.993,21
949.125,49
718.202,28
934.035,41
Construção 1.491.510,16
1.092.149,92
1.125.119,81
1.587.466,91
1.303.578,63
Educação 586.692,05
820.252,47
1.764.195,57
4.047.601,34
4.534.763,92
Indústrias de transformação 90.949,61
74.991,92
83.531,39
81.599,94
139.698,41
Indústrias extrativas ...
76.981,14
13.142,81
...
...
Informação e comunicação 823.867,89
809.017,52
639.307,38
851.259,42
848.558,43
Outras atividades de serviços 968.897,79
1.024.609,94
991.148,50
1.164.727,08
1.142.590,96
Saúde humana e serviços sociais 43.128,85
47.368,63
59.561,74
61.124,33
67.769,25
Transporte, armazenagem e correio 97.265,27
54.740,88
56.856,98
67.400,06
78.918,77
Total
12.253.935,60
12.706.947,08
16.665.402,37
20.791.411,55
23.567.353,86
Fonte: Prefeitura Municipal de Salvador, Secretaria Municipal da Fazenda.
Nota: ... Informação indisponível
Tabela 12: Itapuã
Imposto Sobre Serviços, por tipo de atividade e valores totais, 2003-2007
Valor Total
Região Administrativa
2003 2004 2005 2006 2007
Administração pública, defesa e seguridade social 899,51
2.359,06
5.358,32
3.482,03
762,58
Água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação
14.334,48
16.257,13
25.688,23
16.088,58
9.850,19
Alojamento e alimentação 937.290,34
1.035.354,33
826.781,76
950.244,59
1.065.290,72
Artes, cultura, esporte e recreação 691.880,82
838.131,10
899.354,41
868.674,80
771.173,35
Atividades administrativas e serviços complementares 582.955,80
177.790,65
332.841,54
749.152,55
1.057.640,65
Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados 237.282,56
336.919,64
445.422,45
509.674,88
574.192,07
Atividades imobiliárias 5.893,71
15.556,96
42.545,50
46.303,54
40.211,83
Atividades profissionais, científicas e técnicas 105.643,04
183.205,82
253.781,49
301.405,22
330.346,90
Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas 396.413,53
606.034,57
631.061,63
477.156,07
560.865,95
Construção 33.191,06
139.251,07
177.688,87
313.711,49
734.118,02
Educação 103.105,53
135.079,32
149.753,41
154.036,31
276.295,67
Eletricidade e gás ...
...
...
4.152,57
3.236,70
Indústrias de transformação 141.830,77
114.750,54
242.956,68
257.922,74
293.365,48
Informação e comunicação 24.375,10
24.080,56
19.191,25
31.135,14
25.999,91
Outras atividades de serviços 32.212,42
43.311,87
52.844,08
65.200,22
61.575,12
Saúde humana e serviços sociais 54.124,19
62.181,56
71.065,83
70.177,31
70.860,50
Serviços domésticos ...
...
...
140,00
...
Transporte, armazenagem e correio 1.495.477,84
2.069.620,87
3.238.973,40
3.589.268,95
3.331.327,95
Total
4.856.910,70
5.799.885,05
7.415.308,85
8.407.926,99
9.207.113,59
Fonte: Prefeitura Municipal de Salvador, Secretaria Municipal da Fazenda.
Nota: ... Informação indisponível
Tabela 13: Cabula
Imposto Sobre Serviços, por tipo de atividade e valores totais, 2003-2007
Valor Total
Região Administrativa
2003 2004 2005 2006 2007
...
...
...
...
5.779,26
Administração pública, defesa e seguridade social 552,53
501,41
14.955,00
4.201,80
9.664,20
Água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação
347,13
...
324,14
313,14
299,95
Alojamento e alimentação 69.512,11
102.791,50
122.041,86
144.740,47
171.758,04
Artes, cultura, esporte e recreação 14.435,50
6.518,03
9.684,40
11.011,15
12.745,58
Atividades administrativas e serviços complementares 3.773.097,86
3.659.539,31
4.032.720,26
4.250.531,24
5.536.493,01
Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados 58.420,71
67.403,42
90.709,87
138.854,75
193.359,89
Atividades imobiliárias 282,47
1.011,29
2.721,98
3.540,42
59.397,28
Atividades profissionais, científicas e técnicas 100.906,42
493.666,95
1.545.485,37
2.042.200,12
1.780.157,74
Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas 387.756,82
479.925,16
562.169,89
464.108,04
536.737,86
Construção 694.004,43
1.048.647,85
1.445.304,90
1.526.019,81
1.056.971,13
Educação 353.430,63
384.041,42
174.714,14
108.653,47
157.500,87
Indústrias de transformação 38.961,28
64.507,41
69.449,66
89.390,74
56.337,26
Informação e comunicação 6.739.051,00
7.708.290,83
9.104.075,71
9.627.570,34
10.078.337,32
Outras atividades de serviços 35.141,57
45.058,68
54.710,59
79.720,89
61.452,95
Saúde humana e serviços sociais 24.766,77
27.846,64
40.735,42
59.383,64
63.268,17
Transporte, armazenagem e correio 67.003,93
202.746,02
302.205,90
475.622,45
544.546,52
Total
12.357.671,16
14.292.495,92
17.572.009,09
19.025.862,47
20.324.807,03
Fonte: Prefeitura Municipal de Salvador, Secretaria Municipal da Fazenda.
Nota: ... Informação indisponível
Tabela 14: Tancredo Neves
Imposto Sobre Serviços, por tipo de atividade e valores totais, 2003-2007
Valor Total
Região Administrativa
2003 2004 2005 2006 2007
Administração pública, defesa e seguridade social 4.093.757,88
4.963.991,35
7.537.812,00
11.959.622,51
10.821.991,51
Água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação
2.186,12
347.978,47
286.695,81
258.311,90
265.600,39
Alojamento e alimentação 21.395,23
22.091,48
39.850,84
49.527,79
66.303,64
Artes, cultura, esporte e recreação 7.055,56
6.107,77
4.788,87
598,18
791,41
Atividades administrativas e serviços complementares 68.118,74
80.377,07
53.006,06
71.844,14
58.358,41
Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados 127.110,97
252.838,01
346.215,91
327.724,38
458.263,70
Atividades imobiliárias ...
916,75
1.066,55
1.234,39
1.387,40
Atividades profissionais, científicas e técnicas 174.669,90
277.558,04
255.308,94
196.744,38
211.719,33
Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas 468.716,26
512.477,97
780.630,91
1.280.693,69
1.406.467,05
Construção 777.952,94
439.954,94
160.724,62
296.998,14
305.492,65
Educão 693.780,82
1.217.174,55
1.169.373,45
1.301.571,92
1.454.773,07
Eletricidade e s 170.674,92
135.187,36
152.062,83
230.669,53
251.651,85
Indústrias de transformação 430.940,25
493.087,36
610.196,66
542.786,35
337.985,24
Indústrias extrativas 3.201,51
576,33
330,05
193,30
...
Informação e comunicação 877.327,05
931.049,16
1.148.641,86
779.566,15
558.138,42
Outras atividades de serviços 19.961,30
32.769,18
73.644,71
73.824,86
259.736,92
Saúde humana e serviços sociais 72.653,49
87.724,16
109.865,54
108.103,80
129.326,48
Transporte, armazenagem e correio 271.832,50
423.489,60
470.375,64
352.569,41
321.327,10
Total
8.281.335,44
10.225.349,55
13.200.591,25
17.832.584,82
16.909.314,57
Fonte: Prefeitura Municipal de Salvador, Secretaria Municipal da Fazenda.
Nota: ... Informação indisponível
Tabela 15: Pau da Lima
Imposto Sobre Serviços, por tipo de atividade e valores totais, 2003-2007
Valor Total
Região Administrativa
2003 2004 2005 2006 2007
Administração pública, defesa e seguridade social 215,77
348,45
250,32
75,00
12,50
Água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação
117.315,27
18.258,18
1.631,95
233,20
756,54
Alojamento e alimentação 16.941,87
9.630,41
13.307,81
17.337,46
13.596,35
Artes, cultura, esporte e recreação 14.493,32
118,92
53.514,89
66.646,26
106.096,13
Atividades administrativas e serviços complementares 234.127,69
209.602,29
259.903,52
271.928,13
297.833,13
Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados 225.442,52
231.431,98
288.876,01
338.142,40
404.054,45
Atividades imobiliárias ...
...
...
31.891,88
173.362,12
Atividades profissionais, científicas e técnicas 4.690,85
10.545,09
21.104,65
26.247,05
18.370,74
Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas 305.677,86
428.423,36
503.740,05
532.919,13
649.258,56
Construção 416.980,43
119.395,76
141.908,42
201.176,50
137.781,39
Educação 278.283,19
351.008,38
270.774,00
1.618.327,99
4.380.316,50
Indústrias de transformação 337.442,33
172.817,84
223.147,80
196.988,19
214.000,87
Indústrias extrativas ...
5.069,88
3.930,22
2.545,78
3.866,99
Informação e comunicação 6.592,51
2.916,98
4.807,38
9.703,52
91.091,79
Outras atividades de serviços 2.395,38
2.788,17
2.805,00
3.259,19
5.296,01
Saúde humana e serviços sociais 24.012,74
54.874,65
47.939,11
26.431,38
20.605,48
Transporte, armazenagem e correio 945.015,75
864.835,68
718.999,27
590.000,35
691.592,57
Total
2.929.627,48
2.482.066,02
2.556.640,40
3.933.853,41
7.207.892,12
Fonte: Prefeitura Municipal de Salvador, Secretaria Municipal da Fazenda.
Nota: ... Informação indispovel
Tabela 16: Cajazeiras
Imposto Sobre Serviços, por tipo de atividade e valores totais, 2003-2007
Valor Total
Região Administrativa
2003 2004 2005 2006 2007
Administração pública, defesa e seguridade social 3.482,16
7.239,87
29.071,88
24.031,31
28.764,81
Água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação
677,28
765,87
1.077,94
699,62
1.796,95
Alojamento e alimentação 7.699,02
8.219,00
9.603,36
12.294,00
8.155,66
Artes, cultura, esporte e recreação 2.007,29
729,66
3.771,27
5.965,03
11.439,61
Atividades administrativas e serviços complementares 46.312,74
19.520,69
26.321,59
21.257,56
18.081,20
Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados 16.500,45
13.331,62
19.072,26
22.116,28
27.152,29
Atividades profissionais, científicas e técnicas 25.818,74
77.950,35
92.867,47
70.816,90
109.644,30
Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas 106.155,19
121.285,31
149.512,80
348.672,84
225.813,70
Construção 24.404,13
6.054,60
13.952,26
17.931,31
11.273,49
Educação 8.401,38
13.887,24
12.379,42
22.840,48
24.264,68
Indústrias de transformação 195.456,51
285.175,74
286.791,12
372.242,43
480.926,96
Indústrias extrativas 15.404,70
...
...
...
...
Informação e comunicação 5.931,08
4.686,84
6.060,47
4.596,30
4.585,71
Outras atividades de serviços 21.810,25
30.284,97
15.752,78
17.761,18
17.231,09
Saúde humana e serviços sociais 157.812,10
134.712,68
162.355,23
124.044,08
145.935,63
Transporte, armazenagem e correio 65.237,02
51.290,83
17.102,72
10.346,11
21.669,07
Total
703.110,04
775.135,27
845.692,57
1.075.615,43
1.136.735,15
Fonte: Prefeitura Municipal de Salvador, Secretaria Municipal da Fazenda.
Tabela 17: Ipitanga
Imposto Sobre Serviços, por tipo de atividade e valores totais, 2003-2007
Valor Total
Região Administrativa
2003 2004 2005 2006 2007
Administraçãoblica, defesa e seguridade social ...
...
...
...
45,00
Água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação
795.761,02
456.807,54
323.686,35
321.737,15
412.408,82
Alojamento e alimentação ... ...
...
...
...
Atividades administrativas e serviços complementares 234.630,39
...
10,00
20,75
295,49
Atividades profissionais, científicas e técnicas 2.084,90
888,33
493,99
535,40
2.915,07
Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas 1.941,72
3.931,31
4.725,24
14.458,43
16.736,00
Construção 16.960,08
25.566,99
32.886,11
58.369,78
3.693,13
Educação 6.773,60
3.656,30
3.188,82
1.753,61
...
Indústrias de transformação 23.181,87
39.785,27
58.523,17
19.385,25
51.088,87
Indústrias extrativas 1.009,55
520,43
829,57
...
55,69
Outras atividades de serviços ...
...
1.413,25
2.941,69
516,09
Transporte, armazenagem e correio ...
...
2.973,12
...
...
Total
1.082.343,13
531.156,17
428.729,62
419.202,06
487.754,16
Fonte: Prefeitura Municipal de Salvador, Secretaria Municipal da Fazenda.
Nota: ... Informação indisponível
Tabela 18: Valéria
Imposto Sobre Serviços, por tipo de atividade e valores totais, 2003-2007
Valor Total
Região Administrativa
2003 2004 2005 2006 2007
Administrão pública, defesa e seguridade social 623,88
299,83
171,30
...
...
Água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação
49,87
...
...
943,50
747,00
Alojamento e alimentação 688,86
46,00
...
...
...
Artes, cultura, esporte e recreação 802,50
...
...
...
...
Atividades administrativas e serviços complementares 200.447,79
126.853,99
77.652,95
104.649,29
71.557,51
Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados 286.810,76
772.971,01
1.589.296,84
1.726.121,20
2.428.217,01
Atividades imobiliárias ...
...
...
...
...
Atividades profissionais, científicas e técnicas 3.022,62
2.188,52
5.343,60
1.270,50
1.149,09
Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas 379.804,76
635.525,13
875.497,13
1.044.996,91
1.274.075,77
Construção 41.027,94
55.803,41
59.536,80
83.722,49
93.500,09
Educação 8.291,45
6.668,19
5.943,54
26.147,60
10.474,28
Indústrias de transformação 242.623,42
453.674,17
466.268,74
608.254,30
710.363,24
Indústrias extrativas 6.041,89
26.819,80
34.460,43
43.152,31
46.153,65
Informação e comunicação ...
191,40
...
...
...
Outras atividades de serviços 22.851,24
23.202,97
584,15
20.919,43
22.088,88
Saúde humana e serviços sociais 8.657,35
6.459,01
5.781,23
2.941,75
236,00
Transporte, armazenagem e correio 665.431,23
900.971,65
993.146,80
1.087.540,20
1.250.710,59
Total
1.867.175,56
3.011.675,08
4.113.683,51
4.750.659,48
5.909.273,11
Fonte: Prefeitura Municipal de Salvador, Secretaria Municipal da Fazenda.
Nota: ... Informação indisponível
Tabela 19: Subúrbio Ferroviário
Imposto Sobre Serviços, por tipo de atividade e valores totais, 2003-2007
Valor Total
Região Administrativa
2003 2004 2005 2006 2007
Administração pública, defesa e seguridade social 13.089,89
12.005,25
63.518,60
38.014,53
89.815,86
Água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação
...
209,00
...
...
...
Alojamento e alimentação 4.480,47
7.271,94
10.286,27
9.349,39
12.882,35
Artes, cultura, esporte e recreação 386,51
257,50
898,21
1.462,29
1.376,66
Atividades administrativas e serviços complementares 33.250,59
29.971,82
11.534,04
8.040,27
6.422,79
Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados 82.241,22
37.178,70
54.782,55
85.749,31
112.538,92
Atividades imobiliárias 379,21
455,26
...
...
...
Atividades profissionais, científicas e técnicas 2.713,96
10.383,77
17.699,98
24.342,50
27.899,08
Comércio; reparão de veículos automotores e motocicletas 120.670,92
90.500,89
96.537,69
144.648,47
84.693,36
Construção 846.183,16
1.192.010,32
52.348,72
99.984,47
22.362,46
Educação 31.948,45
40.897,36
47.804,54
50.985,53
48.679,50
Indústrias de transformação 173.646,20
558.769,44
357.426,23
334.598,33
374.500,53
Indústrias extrativas 3.114,52
3.781,97
3.417,79
11.033,01
17.026,83
Informação e comunicação 1.948,70
393,05
920,84
606,89
542,37
Outras atividades de serviços 16.498,52
21.942,42
14.561,38
21.058,10
23.927,13
Saúde humana e serviços sociais 87.692,02
69.849,75
74.324,15
49.744,44
34.813,22
Transporte, armazenagem e correio 85.615,39
238.796,30
340.885,11
778.384,19
632.579,51
Total
1.503.859,73
2.314.674,74
1.146.946,10
1.658.001,72
1.490.060,57
Fonte: Prefeitura Municipal de Salvador, Secretaria Municipal da Fazenda.
Nota: ... Informação indisponível
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