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“playboys” como por funkeiros
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, se utilizou de minha presença para pregar uma
peça no rapaz. Mas se eu fui usada para confundir Rodriguinho, este também me
confundiu com sua aparência.
estúdio com seu porte elegante em roupas caras de marcas esportivas globais,
o que fez com que eu me perguntasse quem seria ele, pois não me parecera
exatamente um funkeiro ou rapper. No estúdio, as roupas usadas pelos músicos
são mais propriamente as dos fabricantes nacionais de roupas no estilo Hip-Hop,
como a Manos, a XXL e a Blunt. Rodriguinho parecia um empresário bem-sucedido
do meio musical, como eu já vira antes em Brancão, um homem branco e agente de
táxi que atendia a Catra, e a julgar por sua aparência, muito bem-sucedido em seu
ramo. Nesta noite em que nos encontramos na porta da Fundição Progresso, ele
vestia uma blusa da Osklen e uma calça da Taco, rede de lojas que pratica preços
bastante acessíveis. Nos pés trazia um tênis da Puma, marca estrangeira de artigos
esportivos, de preços bastante elevados no mercado nacional.
Mas a confusão não cessa aqui. Um grande e vistoso carro importado, do
tipo caminhonete, preto e de vidros escuros, pára ao portão do estacionamento,
onde aguardávamos para entrar. Me pergunto quem poderia estar ali dentro,
certamente um “playboy”, do tipo desprezado pelos funkeiros. De repente
Rodriguinho, muito à vontade, leva a mão à maçaneta do carro, abre a porta e
cumprimenta o motorista, apertando a sua mão. Tratava-se de Juninho, padrinho
empresa que agencia músicos de Funk e Hip-Hop. Ele vestia uma calça social preta,
de pregas e pernas soltas, uma camisa também social, de listras azul e branco,
para dentro da calça, sobre uma blusa t-shirt de malha branca, cuja gola careca
5 A marca Osklen inspirou o nome de um grupo de cantores e dançarinos de Funk, o Bonde
da Oskley. Essa subversão de seu nome causou espécie nos dirigentes da empresa, como notei
em uma conversa com um de seus funcionários da área de comunicação. Entendem que o jogo
com o nome de sua etiqueta, que remete ainda ao de uma outra marca muito apreciada por
funkeiros, a Oakley, indica a incapacidade destes de proferir de forma correta o nome Osklen. Mas
parafraseando o DJ Ratinho, Oskley já é um “nome outro”, derivado da característica dinâmica do
Funk, que opera através de sucessivos englobamentos a incorporação da estética alheia e que,
através de jogos miméticos, produz diferença.
Na roupa em que Rodriguinho vestia na Fundição Progresso estão duas marcas caras, a carioca
Osklen e a alemã Puma, misturadas à bem mais acessível Taco. Poderia se cogitar se as primeiras
não corresponderiam a cópias dos originais, encontradas em centros de comércio informal
como o Mercadão da Uruguaiana. Entretanto, a empresa Osklen faz forte controle para evitar a
difusão de cópias no mercado e os tênis esportivos usados por funkeiros são preferencialmente
originais, mesmo que usem alguma peça de roupa “falsa”. As tensões entre o falso e o verdadeiro
na indumentária
foram elaboradas em artigo posterior (Mizrahi 2007a), são objeto de aprofundamento em nova
discussão (Mizrahi 2010c) e retornarão no capítulo seis.