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No registro do real, algo aí jamais poderá ser simbolizado e jamais será tal
qual imaginado. Trata-se, evidentemente, do próprio ato sexual. No registro
do simbólico, o sujeito encontra-se representado pelo significante e no
registro do imaginário, encontra-se identificado com o outro; já no registro
do real, o sujeito escapa a toda relação com o outro; ele é, e este ser
encontra-se separado do Outro, presentificando o que no sujeito ex-siste à
sua determinação”. (ALBERTI, 1999, p. 52)
Mas, afinal, como se pode pensar a adolescência? A adolescência é, antes de
mais nada, um longo trabalho de elaboração de escolhas e um longo trabalho de
elaboração da falta no Outro.
Toda escolha pressupõe indicativos, direções, determinantes que lhe são
anteriores. O sujeito os recebe ao longo de sua infância, do mundo a sua volta,
através do que lhe é transmitido pela linguagem, seja ela falada, escrita, visual,
comunicativa ou até pelo silêncio. E o adolescente pode continuar recebendo esses
mesmos indicativos, direção e determinantes, desde que não falte quem lhe possa
transmiti-los.
Quando o adolescente se apropria dos atributos do adulto, por um lado, esses
atributos não asseguram mais aos pais um suplemento de ser um poder a mais, e
ele contestará, a partir daí, toda autoridade que não se apóia mais sobre essa
diferença corporal. De outro, essa apropriação é vizinha ou pode ser concebida
como uma competição com um dos pais do mesmo sexo. Observam-se numerosas
relações entre pais e adolescentes esbarrarem nesse conflito, consciente ou
inconsciente, e animada por cada um dos parceiros: quem é o mais forte agora?
Quem agora é a mais bonita? O que dessa maneira se representa é o
envelhecimento e a morte dos pais.
Enquanto para a criança os pais pareciam sólidos e imortais, aptos, no melhor
dos casos, a suportar e a responder sem sucumbir, e de um modo estruturante, aos
desejos edípicos mais agressivos, os pais do adolescente revelam-se falíveis, como
também mortais: eles poderão morrer de morte natural, pelo efeito da velhice, sem
que seja necessário matá-los.
Quando os pais se separam dos filhos antes destes poderem se separar
deles, invertendo os papéis, a única solução encontrada pelo adolescente nesse
momento em que se vê abandonado, é a de lutar desesperadamente pela atenção
daqueles. Começa então a série infinita de dificuldades e problemas da
adolescência que será tanto maior quanto menor tiverem sido justamente as
referências primárias imprescindíveis para o exercício das escolhas.