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Receava o pássaro-preto, a quem “a
morte confia segredo”... assim lhe dissera
sua mãe e sabia, ao escutar o canto do anum,
ser anúncio de seca e desgraça.
Tinha o menino medo das aves
agoureiras e gritonas, que se lamentavam de
dor, solitárias e tristes em noites escuras.
Aquele canto monótono, a trespassar o
negrume das hora mortas, sempre o
desnorteava, pois jamais encontrara seus
ninhos e pousos.
Não gostava quando via desbastarem
a mata, no preparo do aceiro, sinal de que
iam atear o fogo, afugentador da caça com
sua quentura, fumaça e cinzas. Ouvia de
longe, na fornalha das coivaras, os guinchos
e assobios finos dos sonhins, comedores de
resina de angico, que endoideciam com o
calor. Aos escutá-los, imaginava que talvez a
caipora, guia-da-caça, soltasse também seus
assobios agudos, enfurecida com os homens
e suas labaredas de fogo.
Na queima da mata, crestavam-se,
dentro dos velhos ocos de paus, os favos de
mel das abelhas jandaíra e tubiba, de que ele
e a mãe se regalavam até se enjoarem.
Mãe e filho só possuíam, como vigia
e alertador, um papagaio, a se esganiçar
estridente ao perceber algum desconhecido
se aproximar da lomba do cerro, onde se
equilibrava a casa de duas águas. O menino
recordava-se do dia, em que a mãe cortara a
maniçoba, de onde escorrera o leite
Receava o pássaro-preto, a quem “a
morte confia segredo”... assim lhe dissera
sua mãe e sabia, ao escutar o canto do anum,
ser anúncio de seca e desgraça. [§] Tinha o
menino medo das aves agoureiras e gritonas,
que se lamentavam de dor, solitárias e tristes
em noites escuras. Aquele canto monótono, a
trespassar o negrume das hora[s] mortas,
sempre o desnorteava, pois jamais
encontrara seus ninhos e pousos.
Não gostava quando via [derrubarem]
a mata, no preparo do aceiro, sinal de que
iam atear o fogo, afugentador da caça com
sua quentura, fumaça e cinzas. Ouvia de
longe, na fornalha das coivaras, os guinchos
[do pequeno pixuna] e assobios finos dos
sonhins, comedores de resina de angico, que
endoideciam com o calor. Aos escutá-los,
imaginava que talvez a caipora, guia-da-
caça, soltasse também seus assobios agudos,
enfurecida com os homens e suas labaredas
de fogo. [§] Na queima da mata, crestavam-
se, dentro dos velhos ocos de paus, os favos
de mel das abelhas jandaíra, [cupira, moça
branca] e tubiba, de que ele e a mãe se
regalavam até se enjoarem.
Mãe e filho só possuíam, como vigia
e alertador, um papagaio, a se esganiçar
estridente ao perceber algum desconhecido
se aproximar [do alto] [do cerro], onde se
equilibrava a casa de duas águas. O menino
recordava-se do dia, em que a mãe cortara a
maniçoba, de onde escorrera o leite