num sujeito pleno, completo, porque todo sujeito se inscreve em uma posição
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no discurso e
tem uma tomada de posição perante a forma-sujeito. Essa noção é advinda de Althusser
(1996), o qual afirma que todo indivíduo atua numa sociedade revestido de uma forma
histórica. E é com base nessa condição que ele passa a se relacionar com os saberes das
formações discursivas
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postas em circulação.
Quando Lacan postula a máxima “o inconsciente é estruturado como uma linguagem”,
ressalta a relação estabelecida entre o sujeito e seu discurso, porque o inconsciente, segundo o
autor, nada mais é do que uma cadeia de significantes sobre os quais não se tem controle.
(LACAN, 1966, p. 25). Podemos afirmar, com o autor, que o inconsciente é mais do que o
lugar privilegiado da subjetividade: é o discurso do Outro, é o desejo do Outro. E é a esse
Outro que antecede a própria existência do indivíduo, a que ele tem de se assujeitar para se
constituir como sujeito. É nessa luta com o Outro enquanto linguagem que o sujeito se perde e
se aliena, pois tem a ilusão de ser a origem do seu dizer
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. O sujeito psicológico, ao apontar
para a presença de não-ditos no interior do que é dito de algo que emerge no discurso à revelia
do sujeito falante, vai contra a teoria estruturalista, já que estaria pregando “a morte do
sujeito”. A linguística, ao excluir o sujeito, também nos fornece um suporte teórico que
permite tomá-lo numa nova perspectiva, ou seja, o sujeito pensante (cartesiano) dá lugar a um
sujeito que, ao se valer dos signos, encontra-se numa posição de submetimento à linguagem.
Lacan postula que no plano da demanda o sujeito se dirige ao Outro
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, demanda sua
presença, seu amor e, ao mesmo tempo, é movido por uma força impelente em direção a um
objeto que, no entanto, é faltoso, ou seja, jamais foi conhecido pelo sujeito. Não é possível,
portanto, entender a demanda, que é sempre de amor, sem articular a esse entendimento o
objeto faltoso que habita a demanda e o amor. Esse objeto foi nomeado por Lacan, o objeto a;
é o objeto causa do desejo, aquele que, por incidir como faltoso na experiência, causa o desejo
do sujeito. O desejo do sujeito está no desejo do Outro; é o discurso do Outro e o desejo do
Outro que lhe permitem construir a imagem sobre si.
Esclarecemos que objeto do desejo não é a mesma coisa que objeto a, pela razão de
que, quando o desejo se volta para objetos, o faz revestindo o objeto faltoso que o causa com
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O sujeito, ao relacionar-se com a forma-sujeito (sujeito histórico), pode assumir diferentes posições de sujeito.
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O conceito de formação discursiva (FD) que adotamos nesta pesquisa vem do deslocamento feito por Pêcheux
e Fuchs, que retomam o conceito de FD de Foucault, e diz respeito “ àquilo que, a partir de uma posição dada
numa conjuntura dada, [...] determina o que pode e deve ser dito”. (1988, p. 160).
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Trabalharemos essa questão no próximo subitem. É o que foi nomeado por Pêcheux de “esquecimentos 1 e 2.”
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O conceito de Outro introduzido por Lacan é distinto do outro de Bakhtin. O Outro (Lacan) refere-se ao
inconsciente, ou seja, um lugar simbólico, a lei, a linguagem. O outro (com letra minúscula) diz respeito ao
outro imaginário, lugar da alteridade especular, refere-se ao “eu”; já o “outro” de Bakhtin faz parte do
princípio de alteridade. A AD trabalha ambos os conceitos como constitutivos do sujeito.