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jardim, tomando conta, cuidando das motos, carros antigos da família, limpava,
arrumava, colocava lona, pegava os sapatos dele, engraxava, a gente cuidava
assim e à noite, ia dormir na rua Augusta, morar na casa do Paulinho, ele não
era Paulinho mas a gente gostava de chamá-lo de Paulinho porque ele falava
“mas eu não sou Paulo” e a gente respondia “mas você tem cara de Paulinho”
(risos). E era gostoso, como a casa era grande, o quintal enorme e tinha muito
restaurante aqui para baixo, a gente juntava caixote de tomate, saía catando à
noite pelos restaurantes e quando juntava um cento de caixotes, a gente ligava
para a caixotaria do CEASA, eles mandavam um caminhão e a gente colocava
tudo no caminhão, vendia tudo. Ganhava dinheiro vendendo caixote, o caixote
era caro, a gente reciclava caixote e caixote de laranja, aqueles caixotões, que
jogavam fora, tinha muito restaurante fino aqui pra baixo que jogava aqueles
caixotes de laranja vazia, a gente tinha uma carroça chamada Burro sem Rabo,
a gente saía catando caixote nas ruas. Tinha lá em baixo, aqui na Padre João
Manoel, quase esquina com a Franca, chamava Fórmula 1, tinha um pneu
enorme de fórmula 1 na frente e ali juntava corredores de carro, na esquina
tinha um casarão com uma garagem, ali juntava corredores de stock car,
mecânicos, só porque o restaurante chamava Fórmula 1 e servia comida que
eles queria, então a gente ia pra lá e o dono do Fórmula 1 fazia a gente lavar, a
gente almoçava nos melhores restaurantes, bebia café nos melhores lugares
no Jardins porque à tarde quando a gente ia catar caixote, a gente passava no
Fórmula 1 e ali, a gente lavava os dois banheiros de uso público, do pessoal e
limpava em volta do restaurante, tirar o lixo, existia poucas vendas que tinham
saco de lixo, então era uns tambores de aço, a gente tinha um carrinho, a
gente punha em cima dele, tirava e lavava aquela área. Então o dono do
restaurante mandava trazer almoço para a gente, um prato do dia e a gente
comia. Então todo dia a gente almoçava em um lugar diferente, não gastava
um centavo. Tomava café todo dia em um lugar diferente, um dia era no
Madame Rosita, outro dia era no dr. Vicente, outro dia era com a família
Matarazzo e assim a gente ia, até com o Pedro Diniz, dono do Pão de Açúcar,
na época na Brigadeiro. Tinha um restaurante aqui na Alameda Santos,
chamado Fogueira, uma churrascaria, a gente a mesma coisa, a gente ia
depois das 10 para recolher os caixotes e nisso lavava o banheiro e ajudava a
botar os tambores de lixo para fora. Aí a gente já levava a vasilha, passava na
cozinha e já deixava a vasilha, uma tupperware, quando a gente terminava isso
e estava tudo cheirosinho e bonitinho, o dono da Fogueira, um português, o
Manoel, ele falava “meninos, venham cá, podem levar comida para vocês” e
nós vivíamos comendo prato do dia sem gastar dinheiro. Diversão nossa era
essa. Fruta, nós íamos à dona Maria do Carmo, que tinha uma quitanda aqui
para baixo, na Consolação e lá a mesma coisa, de manhã cedinho, 5 horas da
manhã o caminhão trazia as coisas para ela, ela chegava um pouco mais tarde,
então a gente ia para lá, recebia a mercadoria, colocava tudo na porta da
quitanda e ficava aguardando ela chegar. Nessa, quando vinha assim couve-
flor, nós começávamos a limpar, a tirar as folhas que estavam ruins, a gente
pegava um saco, guardava tudo e aí quando ela chegava, a couve-flor, o
repolho estava tudo bonitinho, limpinho então ela falava “ah, meninos, meus
meninos limparam tudo certinho”, então ela abria e nós colocávamos tudo na
bancada, ajudava ela, uma senhora de idade e ela falava para nós voltarmos à
tarde, então ela nos dava um cruzeiro e a fruta que tivesse a gente podia levar,
então a gente levava banana, maçã, pêra, a fruta da época, uva, caixinha de