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© 2005 Ministério da Sde
Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra,
desde que citada a fonte e que não seja para venda ou qualquer fim comercial.
rie B. Textos Básicos de Saúde
1ª edição – 2005 – tiragem: 2.000 exemplares
Elaboração, edição e distribuição
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Secretaria de Vigilância em Saúde
Departamento de Análise de Situão e Saúde
ORGANIZÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE / ORGANIZÃO MUNDIAL DA SAÚDE
Endereço
Esplanada dos Minisrios, Bloco G,
Edifício Sede, 1.º andar, Sala 134
CEP: 70058-900, Brasília/DF
E-mail: svs@saude.gov.br
Home page: www.saude.gov.br/svs
Instituições promotoras
Ministério da Sde
Organização Pan-Americana da Saúde / Organizão Mundial da Saúde
Centro Latino Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli / CLAVES / ENSP / FIOCRUZ
Organizão
Edinilsa Ramos de Souza e Maria Celia de Souza Minayo
Revisão técnico-científica
Maria Cecília de Souza Minayo
Consultores técnicos
Maria do Socorro Alves Lemos, Carlos Felipe Almeida D’Oliveira, Cláudia Araújo de Lima,
Fernando Tomás Acosta, Tânia Loes, Vilma Pinheiro Gawryszewski, Miguel Malo
Colaboração
Deborah Carvalho Malta, Eugênia Maria Silveira Rodrigues, Valter Chaves Costa, Vilma Pinheiro Gawryszewski
Produção editorial
Capa: Fabiano Camilo
Projeto Gráfico: Fabiano Camilo e Lúcia Saldanha
Diagramação: Lúcia Saldanha
Normalizão: Gabriela Leitão e Vanessa Kelly
Revisão: Lílian Assunção
Impresso no Brasil / Printed in Brazil
Ficha Catalográfica
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.
Impacto da violência na saúde dos brasileiros / Ministério da Saúde,
Secretaria de Vigilância em Saúde. – Brasília : Ministério da Saúde, 2005.
340 p. – (Série B. Textos Básicos de Saúde)
ISBN 85-334-0977-X
1. Violência. 2. Problemas sociais. 3. Saúde pública. I. Título. II. Série.
NLM WA 308
Catalogação na fonte – Editora MS – OS 2005/0580
Apresentação 5
Introdução 7
Violência:
um problema para a saúde dos brasileiro 9
Maria Celia de Souza Minayo
Anexo I 34
Violências envolvendo crianças no Brasil:
um plural estruturado e estruturante 43
Suely Ferreira Deslandes, Simone Gonçalves de Assis, Nilton César dos Santos
Anexo II | 68
Violência na adolescência:
sementes e frutos de uma sociedade desigual 79
Simone Gonçalves de Assis, Suely Ferreira Deslandes, Nilton César dos Santos
Anexo III | 106
Violência contra a mulher:
uma questão transnacional
e transcultural das relações de gênero 117
Romeu Gomes, Maria Celia de Souza Minayo, Cláudio Felipe Ribeiro da Silva
Anexo IV | 135
Violência contra idosos: é possível prevenir 141
Maria Celia de Souza Minayo, Edinilsa Ramos de Souza
Anexo V | 166
Violência interpessoal: homicídios e agressões 171
Edinilsa Ramos de Souza, Maria Luiza Carvalho de Lima, João Paulo Costa da Veiga
Anexo VI | 198
1
2
3
4
5
6
Surio
Suicídio:
violência auto-infligida 205
Maria Celia de Souza Minayo
Anexo VII | 234
Violência no trabalho 241
Carlos Minayo Gómez
Anexo VIII | 272
Violência no trânsito:
expressão da violência social 279
Edinilsa Ramos de Souza, Maria Celia de Souza Minayo, Juaci Vitória Malaquias
Anexo IX | 300
Qualidade da informação sobre acidentes e violências 313
Kathie Njaine, Ana Cristina Reis
Anexo X | 334
7
8
9
10
Apresentação
A
Secretaria de Vigincia em Saúde do Ministério da Saúde e a Organização
Pan-Americana da Saúde apresentam o livro Impacto da violência na saúde
dos brasileiros, uma parceria com o Centro Latino Americano de Estudos da
Violência e Saúde Jorge Careli/Claves/ENSP/Fiocruz. Esta publicão marca nosso
compromisso com o tema da violência, no marco das recomendões do Informe
Mundial da OMS (2002) sobre violência e Saúde, mostrando a importância da produ
-
ção contínua e oportuna de conhecimentos científicos com o propósito de subsidiar o
estabelecimento de políticas públicas para o seu enfrentamento.
O livro sistematiza informações sobre acidentes e violências a partir dos bancos de
dados existentes, o Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) e o de Sistema de
Informações Hospitalares (SIH) e procura refletir mais amplamente sobre o contexto
no qual a violência pode se desenvolver. Os resultados aqui apresentados mostram a
relevância do problema no Brasil, uma vez que a maior ameaça à vida dos jovens em
nosso País, na atualidade, não são as doenças, mas sim a violência. Ao contextualizar o
problema, busca avançar na compreensão dos seus determinantes sociais, analisando
sua freqüência e distribuição em grupos populacionais, identificando os fatores de risco
que podem auxiliar na definição de medidas preventivas e na atuação dos gestores.
Com esta publicão reafirmamos o reconhecimento da violência como um problema
de saúde pública, embora não específico da área da Saúde, uma vez que é resultado de
uma complexa interação de diversos fatores, que podem ser individuais, sociais, eco
-
nômicos, culturais, dentre outros. Por isso, a sua abordagem deve ser interdisciplinar,
apoiada no avanço dos conhecimentos científicos e na superação das desigualdades,
implicando na articulação da segurança, da saúde e do desenvolvimento social, de
-
vendo ser enfrentada pelos diversos setores da sociedade e do Estado.
Por m, pretende-se que os resultados aqui apresentados possam contribuir para o
debate público que se trava hoje na sociedade sobre esta questão, bem como para o
levantamento de novas questões e caminhos.
Jarbas Barbosa da Silva Júnior
Secretário de Vigilância em Saúde
Ministério da Saúde
Horacio Toro Ocampo
Representante do Brasil da Organização Pan-Americana da Saúde
Organização Mundial da Saúde
IMPACTO DA VIOLÊNCIA NA SAÚDE DOS BRASILEIROS
S
ECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SDE /MS
7
Introdão
O
Brasil adentra o século e o milênio com mais um grave desafio de Saúde
Pública: a violência. Com o objetivo de disponibilizar informações, promo
-
ver e facilitar a discuso sobre a questão, o Minisrio da Saúde por meio
da Secretaria de Vigincia em Saúde e em parceria com a Organização Pan-Ameri
-
cana da Saúde e o Centro Latino Americano de Estudos da Violência e Saúde Jorge
Careli/Fundão Oswaldo Cruz da Escola Nacional de Saúde Pública, introduz esta
publicação.
Foram priorizados temas relevantes para o estabelecimento de políticas públicas, haja
vista não ser possível abordar todas as nuances que a violência possa assumir.
Destacam-se a análise da morbimortalidade por acidentes e violências a partir dos
bancos de dados oficiais e, outrossim, iniciativas para o seu enfrentamento. O capí
-
tulo que inaugura o livro, Violência um problema de sde para os brasileiros, busca
conceituar a violência, reconhecendo a complexidade a os limites existentes para o
alcance do propósito. Apresenta, ainda, as diferentes formas e naturezas que a vio
-
lência tem assumido.
No capítulo seguinte, Violências envolvendo crianças no Brasil, os autores pretendem
definir a violência contra a criança e em que medida a violação dos seus direitos com
-
promete o desenvolvimento da sua condição cidadã. o abordadas as dificuldades
enfrentadas por aquelas que crescem nos estratos menos favorecidos da sociedade
brasileira, particularmente quando submetidas ao trabalho ilegal. Apresentam, tam
-
bém, uma revisão da literatura sobre a questão da violência família.
O capítulo Violência na adolescência – sementes e frutos de uma sociedade desigual trata
dos fatores e da magnitude das mortes no segmento populacional mais vitimados
pela violência. Os autores mapeiam as diversas formas de violências que envolvem
os adolescentes, discutindo algumas iniciativas para o seu enfrentamento. Também
são abordados os aspectos das desigualdades existentes na sociedade, que podem fa
-
vorecer a chamada “cultura de violência”, o papel da escola e do trabalho na vida do
adolescente; e fornecem dados sobre a violência juvenil.
A discussão sobre “violência de gênero”, no capítulo Violência contra a Mulher, desenvol
-
ve uma questão de Saúde Pública e de violação dos direitos humanos, à qual acrescen
-
ta exemplos das formas mais habituais de maus tratos e abusos para com as mulheres
no País.
O aumento da esperança de vida do brasileiro levou a um aumento proporcional da
sua população idosa e mostrou a necessidade de discutir as suas questões específicas.
Em Violência contra idosos: é possível prevenir?, os autores se dedicam à tarefa de com
-
preender a situão de violência nesse momento conclusivo da vida. Para tanto, defi
-
nem conceitos e realizam uma ampla revisão bibliogfica das questões pertinentes
a esse grupo, que não cresce apenas em números, mas, principalmente, na qualidade
de vida e de saúde na importância da sua atenção e promoção.
SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SDE / MS
I
MPACTO DA VIOLÊNCIA NA SAÚDE DOS BR ASILEIROS
8
Em Violência interpessoal, homicídios e agressões, apresenta-se um detalhado panora-
ma epidemiológico desse agravo. Algumas hipóteses são levantadas para explicar o
aumento observado nas taxas de homicídios na sociedade brasileira, nas últimas dé
-
cadas. Um segundo enfoque do tema, igualmente relevante, encontra-se no desafio de
construir programas de intervenção no contexto social brasileiro.
Apesar de, ainda nesse contexto, os suicídios representarem, proporcionalmente,
uma pequena parcela do total de causas externas, constituem uma grande preocupa
-
ção para a área da Saúde no plano internacional, merecendo um capítulo especial: Sui
-
dio, violência autoinflingida, em que se discute o problema da subnotificação de casos
e vários modelos explicativos, tanto para os casos fatais quanto para os não fatais.
A violência nas relações e no ambiente de trabalho é o tema do capítulo Violência no
trabalho, que provê o leitor de uma valiosa análise epidemiológica sobre a questão ao
contextualizar as informações disponíveis sobre o assunto. Foram consultadas diver
-
sas fontes relacionadas ao processo saúde-doença do trabalhador, com vistas a supe
-
rar alguns dos problemas de obtenção e compatibilidade dos dados apontados pelos
estudiosos do assunto.
O capítulo Violência no Trânsito traz uma reflexão sobre as conseqüências para a saú
-
de de um processo de urbanização não planejado; entre elas, a morbimortalidade por
lesões causadas no tnsito. Demonstra, ainda, como a Organização Mundial da Saúde
(OMS) pautou o problema, e as estratégias definidas pelo governo brasileiro para o seu
enfrentamento; e discute os fatores determinantes e de risco para mais essa forma
de violência.
O último capítulo, Qualidade da Informação sobre Acidentes e Violências, propõe-se
a uma alise crítica do processo de constrão da informão sobre acidentes e
violências para a Saúde Pública, a partir da geração dos dados, sua sistematizão,
disseminão e uso científico, social e estratégico. Destacam-se, ademais, os papeis
destinados ao Sistema de Informão de Mortalidade (SIM) e ao Sistema de Informa
-
ção Hospitalar (SIH).
O trabalho de reunião de estudos ans ao assunto reflete o entendimento da institui
-
ção de que a violência deve ser analisada, assistida e prevenida de maneira interdisci
-
plinar, envolvendo os diversos setores governamentais em suas ts esferas – federal,
estadual e municipal –, os setores não governamentais organizados e demais expres
-
sões da consciência da sociedade civil. Entre instituições, autoridades e técnicos que
colaboraram com este projeto e são merecedores de agradecimentos sinceros, encon
-
tram-se, especialmente, aos autores dos estudos que motivaram os relatos apresenta
-
dos nesta oportuna e valiosa publicão.
Coordenação Geral de Doenças e Agravos Não Transmissíveis
Departamento de Análise de Situação de Saúde
Secretaria de Vigilância em Saúde
1
Maria
Celia
de Souza
Minayo
Violência
um problema para a
saúde dos brasileiros
SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SDE / MS
I
MPACTO DA VIOLÊNCIA NA SAÚDE DOS BR ASILEIROS
10
Introdão
Em sua origem e manifestões, a violência é um fenômeno sociohistórico e acom-
panha toda a experiência da humanidade. Portanto, ela não é, em si, uma questão
de saúde pública. Transforma-se em problema para a área, porém, porque afeta a
saúde individual e coletiva e exige, para sua prevenção e tratamento, formulação de
políticas específicas e organização de práticas e de serviços peculiares ao setor. Como
lembra um dos importantes documentos da Organização Pan-Americana da Saúde:
A violência, pelo número de vítimas e pela magnitude de seqüelas orgânicas e emocionais
que produz, adquiriu um caráter endêmico e se converteu num problema de saúde pública
em muitos países (...). O setor Saúde constitui a encruzilhada para onde convergem todos os
corolários da violência, pela pressão que exercem suas vítimas sobre os serviços de urgência,
atenção especializada, reabilitação física, psicológica e assistência social (ORGANIZAÇÃO
PANAMERICANA DA SAÚDE, 1994, p. 5).
Como problema social, a presença da violência é lembrada desde o mito de origem
blico que se inicia com uma disputa fratricida e a morte de Abel por Caim, eviden
-
ciando-se a convivência da sociedade humana com as perenes disputas de poder, com
os ódios e com a vontade de aniquilamento de uns pelos outros. Atualmente a OMS
revela em seu Relatório Mundial sobre Violência e Saúde que “todo ano, mais de um
milhão de pessoas perdem a vida e muitas outras sofrem lesões não fatais” (ORGANI
-
ZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2002, p.3), por causas violentas. Brasil, na década
de 90, ou seja, num espaço de dez anos, mais de um millhão de pessoas morreram por
violências e acidentes e dessas, cerca de 400 mil faleceram por homicídios (MINAYO,
SOUZA, 2003). Tanto no mundo como aqui no País, os óbitos inigidos por outros ou
auto-infligidos constituem sério problema social e têm intensas repercussões na saú
-
de pessoal e coletiva.
Os danos, as lesões, os traumas e as mortes causados por acidentes e violências cor
-
respondem a altos custos emocionais e sociais e com aparatos de segurança pública.
Causam prejuízos econômicos por causa dos dias de ausência do trabalho, pelos danos
mentais e emocionais incalculáveis que provocam nas vítimas e em suas famílias
e pelos anos de produtividade ou de vida perdidos. Ao sistema de saúde, as conse
-
qüências da violência, dentre outros aspectos, se evidenciam no aumento de gastos
com emergência, assistência e reabilitação, muito mais custosos que a maioria dos
procedimentos médicos convencionais. lculos estimam que cerca de 3,3% do PIB
brasileiro o gastos com os custos diretos da violência, cifra que sobe para 10,5%
quando se incluem custos indiretos e transferências de recursos (BRICEÑO-LEÓN,
2002). Esse autor comenta, falando da América Latina como um todo, reporta-se a
dados do Banco Interamericano de Desenvolvimento segundo o qual, os danos e as
transferências de recursos que se aqui se processam por causa da violência atingem a
14,2% do PIB da rego e equivalem a 168 milhões de dólares. Para se ter idéia do sig
-
nificado da cifra dos custos diretos da violência no País (3,3% do PIB) ela é ts vezes
maior do que o País investe em Ciência e Tecnologia.
No entanto, a violência também dá lucro. Primeiramente, parte das mortes e lesões
que hoje ocorrem no mundo por essa causa se devem a ações criminosas como tfico
ilegal de armas, de drogas e de outras mercadorias, organizadas internacionalmente
e lucrativas, para as quais, os aparatos violentos garantem e agregam valor. Atual
-
mente, além de representantes de muitos segmentos da sociedade participarem, de
alguma forma, da criminalidade globalizada, floresce aqui no Brasil uma poderosa
forma de comercialização dos sentimentos de insegurança da população: construção
de condomínios com inúmeros dispositivos técnicos que encarecem seus custos e os
tornam segregados; blindagem de carros; servos de segurança patrimonial e pesso
-
al; produção de grades e de armas, dentre outros. Vários autores têm mostrado que
o incremento da violência vem modificando a paisagem e a arquitetura das grandes
cidades brasileiras (SOUZA, 1995, 1996, 1999). Essas mudanças privilegiam os mais ri
-
cos que se isolam em paraísos fictícios, como se fosse possível não se expor à realida
-
de conituosa das grandes metrópoles, marcadas pelo acirramento da questão social,
sobretudo, do desemprego, da persistência das desigualdades e dos anseios frustrados
da juventude que demanda oportunidades de vida e de consumo.
É bem verdade que as expressões da violência que ocorrem hoje no Brasil são muito
mais complexas do que a questão social, como se verá a seguir. No entanto, é sobre
as condições e as circunstâncias da escassez de oportunidades e perspectivas so
-
bretudo no caso da juventude bombardeada pelos apelos de consumo e pela falta de
reconhecimento e de chances sociais que se constrói o crescimento das taxas de
criminalidade e das conseqüências da violência, particularmente, nas regiões metro
-
politanas. A seguir, se apresentam algumas informações quantificadas sobre a mag
-
nitude das violências notificadas no Brasil.
Os dados referentes à morbimortalidade por acidentes e vioncias em capitais, unidades
federativas e aglomeradas para o País, apresentados neste livro, compondo textos, gráfi
-
cos e tabelas, foram extraídos do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM/Datasus/
MS) e do Sistema de Informações Hospitalares (SIH/Datasus/MS) e construídos estatis
-
ticamente pela equipe do Claves
1
. Utilizaram-se os códigos da Classificação Internacional
de Doenças (CID): 9ª revisão: E800 a E999 e 10ª revisão: V01 a Y98. As informações
referentes à população residente, base de cálculo das taxas, correspondem aos dados esti
-
mados pelo IBGE, disponibilizados na home page do Datasus/MS. Os meros de óbitos e
internações e as taxas de mortalidade e de morbidade forma calculados considerando-se
os registros com informações ignoradas de sexo e faixa etária, mesmo quando a tabela ou
gráfico apresenta dados discriminados por essas variáveis.
1
As informões sobre morbimortalidade por violências, apresentadas neste texto, foram constru-
ídas pelo estatístico João Paulo Costa da Veiga. Ele elaborou o Banco de Dados que deu suporte à
discussão, realizando recortes necessários nos bancos do SIM e AIH, do Datasus e construindo
cruzamentos utilizados na análise apresentada.
SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SDE / MS
I
MPACTO DA VIOLÊNCIA NA SAÚDE DOS BR ASILEIROS
12
Nos últimos 20 anos, os homicídios no Brasil tiveram crescimento proporcional de mais
de 200%: passaram de 13.601, no ano de 1980, para 45.343, em 2000. O mais elevado
incremento do femeno se deu nos anos 80. Na década de 90, o número de mortos
continuou alto e se elevando, embora com menos intensidade: de 1991 para 2000 a dife
-
rença foi de 47%. Em 2000, os homicídios corresponderam a 38,3% do total das mortes
por causas externas no Brasil, confirmando-se tendência de acirramento (SOUZA et
al., 2003). Cerca de 70% deles foram cometidos com armas de fogo cujo uso aumentou
intensamente nesse período. Em 1991, 50,3% (15.460) deles ocorreram por armas de
fogo; no ano 2000, esse percentual subiu para 68%, correspondendo ao óbito 30.855 pes
-
soas. A maior parte das vítimas de mortes e dos traumatizados são homens, com taxas
de 44/100.000, comparadas com as de 3,9/100.000 para mulheres, numa razão de 12/1.
Cerca de 70% de todos os homicídios ocorreram, nesses últimos 20 anos, nas faixas etá
-
rias de 10 a 39 anos, mais de 83% deles em jovens do sexo masculino, em sua maioria,
pobres e vivendo nas periferias das grandes cidades (SOUZA et al., 2003).
Embora as causas complexas da violência precisem ser analisadas em seus compo
-
nentes sociohistóricos, econômicos, culturais e subjetivos, é preciso lembrar que suas
conseqüências afetam a saúde individual e coletiva e os servos do setor. As unida
-
des de servos, antes muito mais orientadas para as enfermidades de origem biomé
-
dica, são hoje chamadas para dar respostas às vítimas de lesões e traumas físicos e
emocionais, devendo equipar-se para isso.
Gráfico 1:
Mortalidade propor-
cional por causas
externas segundo
subgrupos específicos.
Brasil, 1991 e 2000
Fonte: SIM/Datasus
0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0
acidentes de trabalho
queda acidental
submersão/sufocação
outros acidente
s
homicídio
suicídio
lesão ig. Acid./inten.
1991
27,94,68,012,530,15,110,3
2000
25,03,66,79,438,35,710,1
acidentes de
trabalho
queda acidental
submersão/sufoca
ção
outros acidente
shomicídiosuicídio
lesão ig.
Acid./inten.
No caso brasileiro, algumas informações sobre o impacto da violência sobre a vida e a
morte dos brasileiros ressaltam a dimensão desse tema no quadro complexo dos pro
-
blemas sociais. As mortes por violências, juntamente com as provocadas por acidentes
que, na Classificação da OMS recebem o nome genérico de “causas externas”, ocupam
o segundo lugar no perfil da mortalidade geral, sendo a primeira causa de óbitos nas
faixas etárias de 5 a 49 anos. Cerca de 1.118.651 pessoas morreram por essas causas de
1991 a 2000. Dessas, 369.068 pessoas foram a óbito por homicídios; 62.480, por suicídio e
309.212, por acidentes e violências no trânsito e nos transportes. As taxas de mortes por
causas externas tiveram forte incremento na década de 80 e permaneceram elevadas
mas estáveis nos anos 90: 69,5/100.000, em 1991, e 69,7/100.000 habitantes, em 2000).
No entanto, no interior das subcausas mudanças importantes. Sobe o peso dos homi
-
cídios: 20,9/100.000 habitantes, em 1991, e 26,7/100.000 habitantes, em 2000; aumenta a
taxa de suicídios: 3,5/100.000 e 4,00/100.000 respectivamente; diminuem os índices de
mortes no trânsito, 19,4/100.000 para 17,5/100.000 e de outros acidentes, de 8,7/100.000
para 6,5/100.000. Cerca de 84% de toda a mortalidade por acidentes e violências em
2000, correspondendo à perda de 99.474 pessoas, ocorreram na população masculina
onde as taxas agregadas são de 119,0/100.000 habitantes. No grupo feminino morreram
18.810 vítimas, numa proporção de 15,9% e 21,8/100.000 habitantes.
No ano 2000, chegaram aos serviços públicos de saúde 693.961 pessoas buscando trata
-
mento hospitalar para lesões e traumas provenientes de acidentes e violências. Esses
agravos ocuparam o 7º lugar no conjunto das internações, incluindo-se o capítulo que
contabiliza internações por gravidez. Retirando-se essa rubrica, as causas externas so
-
bem para o 6.o. lugar. O custo médio de tratamento de pessoas feridas, traumatizadas
ou lesionadas por acidentes e violências foi de R$ 5O6,52 (quinhentos e seis reais e
cinqüenta e dois centavos), bem acima do R$ 403,38 (quatrocentos e três reais e trinta e
oito centavos), que correspondem ao custo médio das internações em geral.
Gráfico 2:
Taxa de mortalidade
por causas externas
segundo sexo.
Brasil, 1991 e 2000
Fonte: SIM/Datasus
SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SDE / MS
I
MPACTO DA VIOLÊNCIA NA SAÚDE DOS BR ASILEIROS
14
Violências e acidentes, ao lado de enfermidades crônicas e degenerativas configuram,
na atualidade, um novo perfil no quadro dos problemas de saúde do País, em que se
ressalta o peso do estilo de vida, das condições sociais e ambientais e da maior
-
longevidade.
1. Conceituando violência
Fenômeno de causalidade complexa
A violência não é uma, é ltipla. De origem latina, o vocábulo vem da palavra vis
que quer dizer força e se refere às noções de constrangimento e de uso da superiori
-
dade física sobre o outro. No seu sentido material o termo parece neutro, mas quem
analisa os eventos violentos descobre que eles se referem a conflitos de autoridade,
a lutas pelo poder e a vontade de domínio, de posse e de aniquilamento do outro ou
de seus bens. Suas manifestações são aprovadas ou desaprovadas, lícitas ou ilícitas
segundo normas sociais mantidas por usos e costumes naturalizados ou por aparatos
legais da sociedade. Mutante, a violência designa, pois – de acordo com épocas, locais
e circunstâncias – realidades muito diferentes. violências toleradas e há violências
condenadas. Como adverte Chesnais, introduzindo sua obra cssica sobre 200 anos
de história da violência na Europa:
O leitor deste livro terá a impressão de entrar num universo fragmentado, disparatado e sem
grande unidade. Mas, a própria violência é que se apresenta como um fenômeno pulveriza
-
do, atingindo a vida privada e a vida pública em todos os seus aspectos, os mais visíveis e
os mais secretos (CHESNAIS, 1981, p. 11).
Encerrar a noção de violência numa definição fixa e simples é expor-se a reduzi-la, a
compreender mal sua evolução e sua especificidade histórica. Como lembra o lósofo
Domenach, introduzindo os registros de um seminário da Unesco sobre o mesmo
tema, em 1981:
Suas formas mais atrozes e mais condenáveis geralmente ocultam outras situações menos
escandalosas, por se encontrarem prolongadas no tempo e protegidas por ideologias ou ins
-
tituições de aparência respeitável. A violência de indivíduos e grupos tem que ser correlacio
-
nada com a do Estado. A dos conflitos, com a da ordem (
Domenach, 1981, p. 40).
A maior parte das dificuldades para conceituar a vioncia vem do fato dela ser um fenô-
meno da ordem do vivido e cujas manifestações provocam ou são provocados por uma
forte carga emocional de quem a comete, de quem a sofre e de quem a presencia. Por isso,
para entender sua dinâmica na realidade brasileira é importante compreender a visão
que a sociedade projeta sobre o tema, recorrendo-se à filosofia popular e ao ponto de vista
erudito. Os eventos violentos sempre passam pelo julgamento moral da sociedade.
Senso comum: violência como crime, corrupção e pecado. A violência dominante
na consciência contemporânea é a criminal e delinqüencial. Esse tipo de fenômeno
nunca teve a tolerância social, uma vez que ele fere, antes de tudo, a moral fundamental
de todas as culturas. Colocando o termo no plural, Chesnais (1981) distingue no ima
-
ginário social atual, três definições de violências que contemplam tanto o âmbito indi
-
vidual quanto o coletivo: no centro de tudo, a violência física, que atinge diretamente
a integridade corporal e que pode ser traduzida nos homicídios, agressões, violações,
roubos a mão armada; a violência econômica que consiste no desrespeito e apropriação,
contra a vontade dos donos ou de forma agressiva, de algo de sua propriedade e de seus
bens. Em terceiro lugar, a violência moral e simbólica, aquela que trata da dominação
cultural, ofendendo a dignidade e desrespeitando os direitos do outro.
Interpretando uma pesquisa de opino realizada com a população carioca em 1994,
pela Rede Globo de Televisão, Luiz Eduardo Soares e Leandro Piquet Carneiro encon
-
traram nos critérios populares quatro nomes para a violência: crime, pecado, corrup
-
ção e miséria (1996). Pecado é o nome da violência interpretada pelo digo religioso,
expressando a natureza ambivalente ou passível de perversão da ppria condição
humana. Corrupção é o nome da violência que contém a moralidade deteriorada e
a traição dos valores. Miséria é o nome da violência, lida pela ótica política, que a
enxerga embutida nas causas e conseqüências da ordem social vigente marcada pela
desigualdade e exclusão. Crime é o nome da violência reduzida à delinqüência.
Em ambos os estudos, as relevâncias são dadas para o sentido moral, econômico e cri
-
minoso dos atos violentos e seu atentado à vida e à integridade social e pessoal. Existe
algo mais constante na história humana que os fenômenos classificados acima? Isso
leva a concluir que, na estrutura do pensamento popular, existe a certeza de que a
violência é parte e resultante das relões, da comunicação e da vida social.
Visão erudita: violência interiorizada na consciência, negação de direitos, ins
-
trumento de poder e portadora de especificidade histórica. Filósofos e cientistas
também têm contribuído para pensar o assunto. Domenach (1981), um dos grandes
pensadores sobre o tema, sublinha a idéia de que a violência está inscrita e arraigada
não nas relões sociais, mas principalmente, é construída no interior das cons
-
ciências e das subjetividades. Portanto, esse fenômeno não pode ser tratado apenas
como uma força exterior aos indivíduos e aos grupos. Sua visão se projeta na dirão
contria ao senso comum que costuma colocá-la como um fenômeno sempre produ
-
zido pelo “outro”:
É demasiado fácil e inecaz condenar a violência como um fenômeno exterior, e inclusive,
como algo estranho ao ser humano, quando, na verdade ela o acompanha, incessantemente,
até na articulação de seu discurso e na afirmão mesma da evincia racional (
DOME-
NACH,
1981, p. 37).
Falando das dificuldades de definições e de julgamento de valor o autor continua:
“estou convencido de que é inútil buscar uma resposta categórica na losofia ou na
moral, ao problema que a violência levanta. Por seu aspecto ontológico, ela não pode
ser dissociada da condição humana” (DOMENACH, 1981, p. 38). Domenach reforça a
idéia de que, sobretudo, ela não pode ser analisada nem tratada fora da sociedade que
a produz em sua especificidade interna e em sua particularidade histórica.
Domenach (1981) e Chesnais (1981) defendem que a percepção negativa e condenatória
das várias formas de vioncia é um passo muito positivo alcançado pela humanidade.
Tal compreensão acompanha o progresso do espírito democrático. É a partir do momento
em que cada pessoa se considera e é considerada cidadã que a sociedade reconhece seu
direito à liberdade e à felicidade e que a violência passa a ser um fenômeno relacionado ao
emprego ilegítimo da força física, moral ou política contra a vontade do outro.
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I
MPACTO DA VIOLÊNCIA NA SAÚDE DOS BR ASILEIROS
16
A associação da percepção da violência como um fenômeno negativo à maior consci-
ência de liberdade e aos direitos humanos, no caso brasileiro, contra qualquer evidên
-
cia empírica, é um fato positivo. Isso pode significar, a par da consciência da inten
-
sificação das manifestações do fenômeno (o que é real), o crescimento e a ampliação
da democracia e dos processos de reconhecimento social (ADORNO, 1995; BURKE,
1995; CHESNAIS, 1981). Exatamente, o final dos anos 70 e o início da década de 80
coincidem com os processos de abertura democrática no país e de crescimento dos
movimentos em prol dos direitos civis e sociais e da emancipação da mulher, da crian
-
ça, dos negros e de outros grupos excluídos.
Arendt (1994), que possui uma das mais vigorosas reflexões sobre o tema, considera a
violência um meio e um instrumento para a conquista do poder. Mas não a confunde
com o poder. Pelo contrio, ressalta que existe violência quando incapacida
-
de de argumentação e de convencimento de quem o detém. Arendt (1990), não
positividade na violência, como outros lósofos ou teóricos parecem enxergar. E ex
-
pressa isso de forma contundente na obra em que analisa o nazismo e o estalinismo,
evidenciando as formas de crueldade que se expressaram nas experiências políticas
totalitárias (1990). Por isso, na construção de sua argumentão, reage aos autores
que promovem uma visão teleológica da violência. Por exemplo, manifesta-se contra
a vio de Engels (1981) que a valoriza como um acelerador do desenvolvimento eco
-
nômico. Questiona como ingênuo e simplificador, o pensamento de Fanon (1961), que
a considera como a vingança dos deserdados. E o concorda nem com Sorel (1992)
que a define como o mito necesrio para a mudança da sociedade burguesa desigual
para uma sociedade igualitária de base popular; e nem com Sartre (1980) que a anali
-
sa como inevitável no universo da escassez e da necessidade.
Freud (1980), igualmente, apresenta e representa várias interpretações da vioncia, em
diferentes etapas de seu pensamento. Em seus primeiros escritos, esse pensador a
associa à agressividade instintiva do ser humano, o que o inclinaria a fazer sofrer e a
matar seu semelhante. Num segundo momento, define-a como instrumento para arbi
-
trar conitos de interesse, sendo, portanto, um princípio geral da ação humana frente
a situões competitivas. Numa terceira etapa, avança para a idéia de constrão de
identidade de interesses. É dessa identidade, segundo o autor, que surgem os víncu
-
los emocionais entre os membros da comunidade humana, levando-os a preferirem
a civilização, o diálogo e a convivência pacífica, ao uso puro e simples da força física
para se impor. Os conflitos de interesse nas sociedades modernas, a partir de então,
passam a ser mediados pelo direito e pela lei; e a comunidade de interesses, pela iden
-
tidade e pela busca do bem coletivo.
O tipo de violência que, neste momento histórico específico, que invade o imagirio e
a opinião pública brasileira, conforme teoriza Michel Wieviorka (1997), tem caracterís
-
ticas pós-modernas. Suas manifestações são múltiplas, mas se tornam particularmente
relevantes nas formas criminais e delinqüências. Por isso, mesmo seus tipos mais tradi
-
cionais e seculares, como as agressões e abusos intrafamiliares e comunitários conser
-
vam suas características, mas são subsumidas pelas expressões mais hegenicas.
Ou seja, a violência de cunho coletivo, tal como se expressa hoje nas grandes cidades
brasileiras constitui-se, primordialmente, como condição de manutenção de negócios
ilegais, freqüentemente de origem globalizada e que se beneficiam das fa cilidades ge
-
radas pelas revolucionárias transformações nos modos de produção de riqueza e dos
aparatos técnico-informacionais e comunicacionais. Tem base econômica. Sua forma
de gestão é, ao mesmo tempo, internacionalizada, capilarizada e em rede, funcional à
promoção de uma veloz circulação financeira, de produtos e de pessoas, à sombra da
desregulamentão dos estados nacionais e nos interstícios da ausência de regulação
internacional (CASTELLS, 1999).
Verdadeiras guerrilhas urbanas dos anos 90, as das gangues de narcotraficantes, por
exemplo, apóiam-se em poderosos sistemas de circulação e troca de produtos ilegais
como drogas e armas e de lavagem do dinheiro. Portanto, é preciso ressaltar que no
mundo da delinqüência pós-moderna, a forma mais hegemônica da violência coletiva
no Brasil, segue a mesma lógica da globalização e se realiza em conluio com a lega
-
lidade. Wieviorka (1997) configura esse tipo de delinqüência utilizando os termos
infra-política e meta-política, para explicar que ela se aproveita da crise de poder dos
estados nacionais e deseja cada vez mais o seu enfraquecimento (infra-política), ou se
transforma na própria política de alguns estados nacionais (meta-política). Exempli
-
cando a forma de agir do crime globalizado Soares também fala do tfico de drogas:
Em seu aspecto de atacado, o tráfico é uma articulação sub-reptícia de malhas internacio-
nais, para as quais concorrem competências administrativas sosticadas, conhecimento de
equipamentos de última geração, acesso a línguas diversas e conhecimento de dinâmicas do
sistema financeiro internacional (SOARES, 2002, p. 42).
Em resumo, a promiscuidade entre legalidade-ilegalidade, o caráter altamente lucra-
tivo dos crimes e sua organização em rede configuram os fatores determinantes das
formas s-modernas de violência que, no Brasil, são responsáveis pelo aumento das
mortes por homicídio e as taxas de criminalidade nos últimos 25 anos.
Um dos pontos mais perversos da delinqüência organizada é a forma de inclusão dos
pobres nos seus lucrativos negócios. Eles se engajam nesses projetos e entram nos
conitos, no front dos combates como uma opção de mercado de trabalho, visando
a status, ao acesso a bens econômicos e ao consumo. É óbvio que existe um ato sub-
jetivo na entrada de qualquer uma pessoa no mundo do crime. Mas isso se dá numa
conjuntura de crescente desemprego e exclusão social, cultural e moral de grupos
populacionais inteiros, pari passu com a exacerbação do apelo ao consumo, fenômeno
relacionado à reestruturação produtiva, à exacerbação da acumulação capitalista e à
ausência de ênfase por parte dos governos, na questão social. Não é desprezível tam
-
bém o embricamento dessas situões macroeconômicas e sociais com o surgimento
de novas subjetividades marcadas pela secularização, pela perda de valor das hierar
-
quias tradicionais e da autoridade familiar e comunitária.
Por se incluírem como a ponta do iceberg dos negócios ilegais, (sobretudo, de drogas
e armas) principalmente os jovens pobres que se apontam a esse tipo de atividade,
têm que se fazer presentes e visíveis, conquistar territórios e defender espaços, ações
que realizam com disciplina militar, rígida hierarquia e sob o controle de poderosas
armas de fogo. Do ponto de vista das relações de poder, essa população incluída pelo
crime e excluída do mercado de trabalho legal, reproduz o que existe de mais autori
-
tário e cruel nas estruturas de poder da sociedade brasileira.
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MPACTO DA VIOLÊNCIA NA SAÚDE DOS BR ASILEIROS
18
Zaluar (2002) lembra que, no mercado de varejo do narcotfico, a arma dá status
aos jovens, ao mesmo tempo em que mudanças na organização vicinal afrouxaram o
controle social informal, tradicionalmente exercido pelos mais velhos sobre os mais
novos. E Soares (2002) argumenta que são duas moedas usadas nessa sedução dos
jovens para o crime: a material e a simbólica. A primeira é trivial, diz o autor. A se
-
gunda é fundamental e freqüentemente subestimada pelos agentes responsáveis pela
formulação de políticas de segurança:
Quando o tráfico oferece ao menino uma arma, dá a ele não apenas um instrumento de opera-
ção econômica, mas um instrumento de constituição subjetiva de afirmação de si mesmo, de
recuperação de sua visibilidade, de imposição de sua presença social (SOARES, 2002, p. 43).
A violência que o jovem pobre e das periferias urbanas reproduz a partir de sua en-
trada no crime organizado, tem relão com a violência do não-reconhecimento que
o acompanha desde o nascimento. Continua Soares,
Esse menino pobre das metrópoles brasileiras, que não encontrou acolhimento na estrutura
familiar, também não foi acolhido pela escola ou pela comunidade, a sociedade passa por
ele como se ele fosse transparente, como se ele não tivesse nenhuma densidade ontológica,
antropológica ou sequer, humana. Quando porta uma arma adquire presença, torna-se
capaz de paralisar o interlocutor pelo medo, de fazer que o transeunte pare na frente dele,
reconhecendo-o afinal, como um sujeito (SOARES, 2002, p. 43).
Cruz Neto e Moreira (2001), Assis (1999), Assis e Constantino (2001), Minayo (1994;
2001; 2002) e Minayo e Souza (1997; 1999; 2003) aprofundam a intricada relação en
-
tre individualidade, subjetividade e circunstâncias sociais herdadas e fortemente in
-
fluentes, lembrando que sempre existe o espaço de opção dos sujeitos, mas que, por
outro lado, os possíveis sociais (Sartre, 1980) são muito limitados para os jovens dos
quais se fala nesta reflexão.
Assim, pode-se concluir que as formas de delinqüência organizada no Brasil, classifica
-
das pela OMS na categoria de violência coletiva (e que a população reconhece como a
própria vioncia), presentes nos últimos 25 anos no Brasil, são subprodutos da esfera
política: denunciam o fim de uma época desenvolvimentista e a decomposição dos sis
-
temas sociais e dos aparatos formais que consolidaram o estado nacional. Enunciam,
também, a exacerbação de novas formas de sociabilidade, construídas com ingredientes
que fazem parte de uma emergente ideologia dominante: a que mescla o consumismo
com o hedonismo, o individualismo com o egocêntrico e o imediatismo. Tais valores
(contra-valores?) dificilmente poderão ser contidos pelas instituições de segurança pú
-
blica, como se acreditava nas origens do Estado Moderno, quando a elas foi conferido o
monopólio da violência em nome da sociedade, para superar a tradição então vigente de
fazer ‘justiça pelas próprias mãos’ (BURKE, 1995; CHESNAIS, 1981).
Nem a losofia popular nem os lósofos eruditos têm uma última palavra sobre o
significado da violência. Muita gente defende um pensamento pragmático sobre o
tema: a violência é boa ou má, positiva ou negativa, segundo as forças históricas que a
sustentam. Exemplos estão aí, em pleno início do século XXI, quando rios chefes de
estado continuam a justificar conflitos políticos e guerras no mundo em nome da civi
-
lizão e da paz e quando pais e mães continuam abusando física e emocionalmente
dos filhos por tradicionais e seculares razões ditas pedagógicas.
2. Visão do setor saúde
A visão do setor saúde sobre o tema da violência tem duas vertentes: uma explicativa,
partindo de uma reflexão filosófica e teórica; outra operacional que se fundamenta na
constatação nos transtornos biológicos, emocionais e físicos que sua dimica provo
-
ca no bem estar e na qualidade de vida das pessoas.
Entre as instituições nacionais e internacionais há, cada vez mais, um consenso em
torno do que Agudelo vem repetindo em rios de seus estudos: “a violência repre
-
senta um risco para a realizão do processo vital humano: ameaça a vida, altera a
saúde, produz enfermidade e provoca a morte como realidade ou como possibilidade
próxima” (1990, 1997). Ou seja, em geral o setor saúde e seus profissionais consideram
as manifestões da violência como negativas para a sociedade e para os indivíduos.
Para a Organização Mundial de Saúde, em seu recente Relatório sobre o assunto, a violên
-
cia constitui o “o uso da força física ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio, con
-
tra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha qualquer
possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicogico, deficncia de desenvolvimento
ou privação(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2002, p. 5).
Quando a OMS divulgou essa definição em 2002, o Ministério da Saúde do Brasil
havia publicado, oficialmente (Portaria MS/GM nº 737 de 16/5/2001) um documento
denominado Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violên
-
ciasintroduzindo um conceito mais ou menos semelhante ao da OMS: “consideram-se
como violências, ações realizadas por indivíduos, grupos, classes, nões que ocasionam
danos físicos, emocionais e espirituais a si próprios e aos outros” (BRASIL, 2001, p. 7).
Nos dois textos está implícito o caráter operacional das definões e reconhecido o
sentido de intencionalidade da violência. No entanto, em ambos faltou mencionar,
explicitamente, a negação e a omissão de cuidados, de socorro e de solidariedade,
como formas de violência. Esses dois pontos merecem comentários. A questão da
intencionalidade situa a violência em seu sentido eminentemente humano, pois só
os humanos, antropológica e convencionalmente, possuem intencionalidade em seus
atos ou omissões. Ressaltando o seu lugar nas relações sociais, desde o nível subjetivo,
a microesfera da família até o âmbito macrosocial e global, a idéia de intencionalidade
mostra que a violência é um fenômeno histórico, portanto, realizado pelas pessoas
dentro de sua cultura, podendo ser reconhecido como tal, analisado e superado.
Mencionar negligência e omiso explicitamente como formas de vioncia é um passo
fundamental para se desnaturalizar processos estruturais e atitudes de poder que se ex
-
pressam em ausência de proteção e cuidados, dentre outras situações, responsáveis pela pe
-
renidade de hábitos econômicos, poticos, culturais e crueldades que aniquilam os outros
ou diminuem suas possibilidades de crescer e se desenvolver.
O Relatório da OMS (2002) não trata dos acidentes que, na Classificação Internacional
das Doenças está dentro da mesma categoria violência na rubrica “causas externas”. Aí
se incluem os agravos e mortes auto-infligidos ou hetero-infligidos. No presente docu
-
mento, também os chamados acidentes serão considerados. O Ministério da Saúde define
que acidente é o evento não-intencional e evitável, causador de mortes ou lesões físicas e
emocionais, no ambiente doméstico ou nos outros ambientes sociais como o do trabalho,
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MPACTO DA VIOLÊNCIA NA SAÚDE DOS BR ASILEIROS
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o do tnsito, o da escola, o do esporte e do lazer” (BRASIL, 2001, p. 8). Esse guia ins-
titucional encontra uma associão entre acidente e violência dizendo que aquele se
apresenta, também, sob formas de agressões heterogêneas quanto ao tipo e às reper
-
cussões. Tendo em vista dificuldades para se estabelecer, com precisão, o caráter de
intencionalidade tanto dos eventos violentos quanto dos acidentes, a sua classificação
comporta sempre um grau de imprecisão. Por exemplo, inúmeros casos em que
pessoas usam o carro para matar alguém ou para se suicidar: como esse ato deveria
ser categorizado? Alguém que acidenta pessoas no trânsito por dirigir embriagada,
não tem intencionalidade na causa originária de sua ação? Um operário que cai de um
andaime inseguro: a negligência da empresa ou dele próprio, poderá ser considerada
sem-intencionalidade?
Nos estudos científicos da área da saúde há pelo menos três correntes que buscam ex
-
plicar a violência. (1) De um lado, estão os que sustentam a idéia de que ela é resultan
-
te de necessidades biológicas. (2) De outro lado, há também autores que explicam-na
a partir, exclusivamente, do arbítrio dos sujeitos, como se os resultados socialmente
visíveis dependessem da soma dos comportamentos individuais, ou se a violência
fosse resultante de doença mental ou estivesse vinculada a determinadas concepções
morais e religiosas. (3) Em terceiro lugar, existem alguns que tratam o âmbito social
como o ambiente dominante na produção e na vitimização da violência, onde tomam
corpo e se transformam os fatores biológicos e emocionais.
No caso das explicações biológicas, rios são os autores que analisam as propen
-
sões dos indivíduos para a agressão ou para o crime. Seus estudos têm origem nas
descobertas de Konrad Lorenz (1979). Consideram que o comportamento violento é
uma resultante dos condicionamentos biogenéticos, sendo, portanto, um fenômeno
inerente à natureza humana. Em diferentes textos sociológicos e da área da saúde, no
entanto, se elaboram críticas à ênfase excessiva na concepção biologicista (MINAYO
et al,1990; MINAYO & SOUZA, 1997, 1999). Esse tema foi particularmente tratado pela
Unesco num semirio em Paris no ano de 1980, e suas importantes reflexões estão
registradas no livro La Violência y sus causas (1981). Nessa obra, dois autores, Laborit
(1981) e Klineberg (1981) discorreram sobre o tema.
Laborit desenvolveu a idéia de que nos sistemas hipercomplexos não se encontram
causas de uma ão, pois a causalidade não pode ser concebida de modo linear
(causa-efeito) de acordo com a interpretão do determinismo do nal do século XIX.
Hoje deve ser considerada a íntima relação entre o que é inato e o que é aprendido so
-
cialmente. O autor trabalha sobre dois temas centrais; as bases neurofisiológicas e bio
-
químicas dos comportamentos fundamentais e a significação funcional dos centros
nervosos superiores. Trata de forma particular a questão da agressividade predatória,
inata, motivada pela fome e da agressividade de competição. Essa se apóia na apren
-
dizagem da gratificação, na busca de dominação e no estabelecimento de hierarquias,
como um comportamento adquirido, vinculado ao acesso a objetos gratificantes. E,
igualmente, analisa a agressividade defensiva, comportamento inato, provocado por
um estímulo doloroso, que chega a ser comportamento adquirido quando é recom
-
pensado ou gera punição. No final de sua exposição conclui Laborit:
Com excão da agressividade predatória que, caberia perguntar se deveria continuar
incluída no marco dos comportamentos agressivos próprios do ser humano, os demais tipos
de comportamento agressivo são, ou o resultado de aprendizagem, e, portanto, suscetíveis de
serem transformados pela sociocultura, ou então, constituem uma resposta elementar a um
estímulo doloroso (LABORIT, 1981, p. 66).
A partir da psicologia social, Klineberg (1981) discute a hipótese da teoria da frustra-
ção-agressão como explicação da vioncia. Resumindo seu pensamento, diz o autor
que vários especialistas concordam que a frustração aumenta a probabilidade do com
-
portamento violento, mas essa não é uma conclusão simples, pois são muitos os fatores
que contribuem também para isso. Os estudos sobre participação em conflitos ou sobre
comportamentos violentos mostram que os que assim agem têm que possuir um certo
grau de controle sobre o próprio destino. E, ao contrário, a sensação de impotência cos
-
tuma gerar apatia e submissão. Em seguida o autor evidencia outras categorias (que em
geral combinam a presença de fatores sociais e biogicos) que contribuem para diferen
-
ciações, na probabilidade de ações de violência individual e coletiva: idade e sexo: uni
-
versalmente os homens cometem mais vioncia que as mulheres e os jovens mais que
outros grupos etários. O autor não deixa de chamar atenção para o fato de que fatores
culturais desempenham papel importante na configuração do problema: o machismo e
a relação inter-machos, por exemplo. Aponta, também, a questão étnica, racial e de classe,
para dizer que nada comprova que os negros são geneticamente mais violentos que os
brancos e que os pobres, mais que os ricos. O fator de dominação política, econômica e
social é muito mais explicativo que o caráter biológico das diferenças, segundo o autor.
A questão da aglomeração demográfica é também lembrada e comparada às situações,
em laboratório, do ajuntamento excessivo de animais, gerando a destruição entre eles.
Mas Klineberg fala do risco das extrapolações que têm sido feitas em relação à explosão
populacional, pois historicamente, não há provas de que elas geram violência.
Klineberg (1981), finalmente, comenta uma grande pesquisa realizada por Wolfang e Fer
-
racuti (1967), ressalvando que a investigação havia sido feita 15 anos atrás. Os estudiosos
aplicaram teste de personalidade em sujeitos que cometeram homicídios. Segundos os
próprios autores, os resultados não o conclusivos. Entre as caractesticas de perso
-
nalidade que aparecem com regularidade figuram o egocentrismo, a falta de controle
emocional, a propensão a ser explosivo, a imaturidade e a incapacidade de estabelecer
contatos sociais duradouros, pouca sensibilidade para com os outros e a forte necessida
-
de de gratificação imediata de seus impulsos. Dir-se-ia que essa listagem apresenta uma
combinação de caractesticas de personalidade, de formação e de educação.
Para complicar mais as dificuldades encontradas para delimitar o lugar de cada fator
numa carreira no mercado da violência, cita-se o extenso e complexo trabalho empíri
-
co realizado por Assis (1999), analisando os mais profundos aspectos biopsicosociais
e as mais sutis diferenças entre jovens infratores e seus irmãos não infratores de duas
cidades brasileiras: Rio de Janeiro e Recife. A autora passa por toda a discussão teóri
-
ca clássica que ora privilegia o social e ora os componentes individuais na origem da
personalidade delinqüente. E conclui que,
Os principais fatores de risco associados à situação de infrator são: consumo de drogas,
círculo de amigos, tipos de lazer violento, baixa auto-estima, falta de reconhecimento de
limites entre certo e errado, fraco vínculo afetivo com a família e com a escola, e sofrer ou
ter sofrido violência por parte dos pais (ASSIS, 1999, p. 201).
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Mas acrescenta que há uma rede social de antecedentes que propiciam uma cultura
de violência, como a existência ou o de pessoas com comportamento delinqüente
na família, violência entre os pais e irmãos e violência na comunidade.
Do ponto de vista das diferenças individuais o estudo revela entre os infratores: com
-
portamento imediatista e nervoso, valente e aventureiro; rebeldia em relação aos pro
-
blemas da vida; dificuldade de controlar a agressividade; dificuldade de empatia com
o outro; baixa auto-estima. Assis tece comentários sobre o que considera “uma linha
tênue” relativa às dificuldades das condições e estilo de vida, separando os iros in
-
fratores e os não-infratores. Por outro lado, do ponto de vista biológico a investigação
evidencia o quanto é problemático demonstrar diferenças herdadas, uma vez que se
trata de pesquisa sobre iros.
Um biólogo brasileiro, Flores (2002) recentemente retomou o assunto da determina
-
ção biológica do comportamento violento, à luz dos avanços da genética. O autor ques
-
tiona o repúdio dos pesquisadores da área de Saúde coletiva em reconhecer as teorias
biológicas como explicação para a violência. Flores parte do princípio de que a contri
-
buição da biologia, da genética do comportamento e da psicologia evolutiva não tem
sido bem compreendida pelos cientistas sociais que analisam o fenômeno. Diz ele:
Genes não são a matéria bruta da evolução; comportamentos, por serem fenótipos, o são.
Comportamentos selecionam genes e não o contrário. É um equívoco assumir que a teoria
evolutiva enfatiza o controle biológico do comportamento. Ao contrário, ela explica como
os fatores ambientais e culturais moldam, não só a evolução do cérebro, mas também o seu
desenvolvimento em cada indivíduo (FLORES, 2002, p. 198).
O autor relaciona a genética à criminalidade violenta pela mediação do conceito de
transtorno de personalidade anti-social. Esse tipo de transtorno, para Flores seria um
problema crônico, que tem início na segunda década da vida, caracterizado, em sua ver
-
são mais profunda, por ausência de culpa, vergonha, remorso, pobreza de relações afeti
-
vas, incapacidade de aprender com a experiência e insensibilidade social. Fundamenta
seu pensamento num trabalho de campo com 560 jovens gaúchos com mais de 14 anos,
vivendo em regime de privação da liberdade, para os quais, em 40% dos casos houve
diagnóstico de problema mental. Esse índice atingiu 90% dos que tinham 19 e 20 anos.
O trabalho desse autor reabre, no Brasil, a discussão sobre a presença dos fatores bio
-
lógicos na construção da violência em outro patamar: a biologia sendo reconfigurada
e culturalizada pelo comportamento e pelo ambiente social. Diz Flores que Reine
& Liu (1998) identificaram uma combinação explosiva para a emergência de com
-
portamentos violentos quando se reúnem (a) fragilidades biológicas, estimadas pela
presença de problemas neurológicos, atraso no desenvolvimento psicomotor e com
-
plicações de parto, e (b) ambiente familiar inadequado e (c) história familiar positiva
para a criminalidade (2002).
As teorias biologicistas, no entanto, não podem ser excessivamente ressaltadas, pois
levam ao reducionismo político. Todo o conhecimento já desenvolvido pela sociologia
e pela psicologia criminal demonstra serem as pessoas das classes subalternas muito
mais facilmente “apreendidas em delitos”, do que as das classes dominantes. E o pró
-
prio Laborit (1981, p. 62) biólogo citado anteriormente, afirma que:
Essa agressividade fundamental, que permite aos dominantes conquistarem e conservarem
sua posição de domínio está tão perfeitamente ritualizada e institucionalizada que deixou
de ser manifesta. Ela adotou o aspecto do direito, da justiça e da auncia de agressividade,
a ponto de se permitir, freqüentemente, profiso de fé humanista, de piedade, de mansidão,
ao mesmo tempo em que estigmatiza as explosões brutais de vioncia dos dominados.
Considera-se, pois, um vício do pensamento e um viés de classe, acreditar que os
pobres são biologicamente mais propensos ao crime por serem mais “apanhados” em
infrações, do que os ricos. O fato de mais de 90% dos apenados brasileiros serem pes
-
soas das camadas populares e de baixa escolaridade não pode ser um argumento para
afirmar que todos estão lá por doença mental. O psicólogo social Venthecourt (1990)
analisando uma rebelião social na Venezuela, provocada por aumento do custo de
vida e dos preços dos transportes blicos, comenta que a maioria dos delinqüentes
de seu país assim o é, não por problemas psicopatológicos, mas por razões sociais:
pela falta mais cabal de oportunidade de se constituir como cidadã. O autor faz uma
distinção entre o baixo percentual de pessoas com psicopatologias que levam ao cri
-
me e a maioria de infratores criados pelas condões adversas da vida.
Lembrando que não é apenas a criminalidade e a delinqüência que configuram a vion
-
cia, ressalta-se que seria difícil explicar uma série de suas manifestações, como as que
ocorrem vitimando crianças, mulheres e idosos, com argumentos biogicos. Sabe-se que
o trio poder, no primeiro caso; a visão patriarcal que alimenta o machismo, no segun
-
do; e desinvestimento e rechaço dos mais velhos por razões políticas e micropolíticas, são
muito mais fortes que as diferenciações biológicas de idade, de sexo e de decrepitude.
Em resumo, todos os exemplos acima chamam atenção para o Embricamento entre os
aspectos biológicos e sociais na construção de tipos de personalidade e subjetividades,
inclusive as que se consideram violentas. Porém, o lócus de expressão dessas subjetivi
-
dades é o contexto histórico-social, em que as particularidades biológicas encontram as
idiossincrasias de cada um e se redefinem nas condições emocionais e socioculturais.
A reflexão desenvolvida acima não torna a tarefa dos profissionais de saúde mais fácil.
Ao contrário, mostra a necessidade de trabalharem não com modelos epidemiológicos,
mas de incluírem a compreensão cada vez mais específica dos fatores e dos contextos
na abordagem dos comportamentos, das ações e dos processos violentos. Igualmente,
torna-se fundamental aprofundar a importância e o papel da subjetividade e das deter
-
minações sociais nas escolhas de possibilidades, por menores que sejam as opções dos
indivíduos. As explicações biogicas, em seu sentido mais restrito, como sendo as deter
-
minantes dos comportamentos violentos, podem ser aceitas nos casos patológicos, nos
quais os indivíduos devem ser avaliados com instrumentos compreensivos específicos.
Tipologia da violência
Neste documento a tipologia proposta para classificação da violência acompanha o
Relatório Mundial da OMS (2002) que categoriza o fenômeno a partir de suas mani
-
festações empíricas:
violência dirigida contra si-mesmo (auto-inigida);
violência interpessoal;
violência coletiva.
Por vioncias auto-infligidas se entendem os comportamentos suicidas e os auto-
abusos. No primeiro caso a tipologia contempla suicídio, ideação suicida e tentativas de
suicídio. O conceito de auto-abuso nomeia as agressões a si próprio e as automutilações.
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MPACTO DA VIOLÊNCIA NA SAÚDE DOS BR ASILEIROS
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As violências interpessoais são classificadas em dois âmbitos: o intrafamiliar e o
comunitário.
• Por violência intrafamiliar se entende a que ocorre entre os parceiros íntimos e
entre os membros da família, principalmente no ambiente da casa, mas não uni
-
camente. Inclui as várias formas de agressão contra crianças, contra a mulher ou o
homem e contra os idosos. Considera-se que a violência intrafamiliar é, em geral,
uma forma de comunicação entre as pessoas e, quando numa família se detecta um
tipo de abuso, com freqüência, ali existe, rotineiramente, uma inter-relação que
expressa de várias formas de violência.
• A violência comunitária é definida como aquela que ocorre no ambiente social em
geral, entre conhecidos e desconhecidos. Consideram-se suas várias expressões como
vioncia juvenil, agressões físicas, estupros, ataques sexuais e inclusive, a vioncia
institucional que ocorre, por exemplo, em escolas, locais de trabalho, prisões e asilos.
Por violências coletivas se entendem os atos violentos que acontecem nos âmbitos
macro-sociais, políticos e econômicos e caracterizam a dominão de grupos e do
Estado. Nessa categoria, do ponto de vista social, se incluem os crimes cometidos por
grupos organizados, atos terroristas, crimes de multidões. No campo político, estão as
guerras e os processos de aniquilamento de determinados povos e nações por outros.
A classificação de violência coletiva contempla também ataques econômicos entre
grupos e nações, geralmente motivados por intenções e interesses de dominão.
À classificação criada pelo Relatório da OMS (2002) acrescenta-se um tipo de violên
-
cia que aqui se denomina estrutural. Essa categoria se refere aos processos sociais,
políticos e econômicos que reproduzem e cronificam a fome, a miséria e as desigual
-
dades sociais, de gênero, de etnia e mantêm o domínio adultocêntrico sobre crianças
e adolescentes. Difícil de ser quantificado, aparentemente, sem sujeitos, a violência
estrutural se perpetua nos processos históricos, se repete e se naturaliza na cultura e
é responsável por privilégios e formas de dominação. A maioria dos tipos de violência
citados anteriormente tem sua base na violência estrutural.
Natureza da violência
Geralmente a natureza dos atos violentos pode ser classificada em quatro modalida-
des de expressão que também são denominadas abusos ou maus-tratos
2
: física, psico-
lógica
, sexual e envolvendo abandono, negligência ou privação de cuidados.
• O termo abuso físico significa o uso da força para produzir injúrias, feridas, dor ou
incapacidade em outrem (BRASIL, 2001);
A categoria abuso psicológico nomeia agressões verbais ou gestuais com o objetivo
de aterrorizar, rejeitar, humilhar a vítima, restringir a liberdade ou ainda, isolá-la
do convívio social (BRASIL, 2001);
2
Os termos violências, abusos, maus-tratos não necessariamente significam a mesma coisa. Há
inclusive várias discussões tricas a respeito, pois cada um deles carrega uma carga ideológica e
histórica específica. No entanto, para os efeitos práticos e de divulgação que este documento tem,
os termos serão utilizados como sinônimos e indiscriminadamente.
A classificação abuso sexual diz respeito ao ato ou ao jogo sexual que ocorre nas
relações hetero ou homossexual e visa a estimular a vítima ou utilizá-la para obter
excitação sexual e práticas eróticas, pornogficas e sexuais impostas por meio de
aliciamento, violência física ou ameaças.
Por negligência ou abandono se entende a ausência, a recusa ou a deserção de cuida
-
dos necesrios a alguém que deveria receber atenção e cuidados.
Todas as tipologias descritas no item anterior comportam as classificações distribuí
-
das no que aqui se considera “natureza da violência.
3. Abordagens da magnitude e dos sentidos da violência
O Relatório da OMS propõe um modelo ecológico de explicação das “raízes da violên-
cia” (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2002).
O primeiro vel busca identificar os fatores biológicos e pessoais que cada pessoa
porta em seu comportamento, concentrando-se nas características que aumentam a
possibilidade do indivíduo ser vítima ou perpetrador de violência.
No segundo nível, são nomeados os fatores relacionais, evidenciando-se as intera
-
ções sociais, nos âmbitos mais próximos dos companheiros, dos colegas, dos parceiros
íntimos, dos membros da família, e sua influência na vitimização ou na perpetração
da violência. No caso dos jovens, o documento rearma a importância dos amigos
como incentivadores de atividades delinqüências e criminosas.
Em terceiro lugar são colocados os fatores comunitários e sua influência na dimi
-
ca da violência. Nesses contextos comunitários são nomeados os locais de trabalho, a
escola e a vizinhança e como problemas, os altos níveis de desemprego, a presença de
tfico de drogas e de armas e componentes de ordem relacional, como o isolamento
social em que vivem determinadas famílias.
Em quarto lugar, o modelo ecológico enfatiza os fatores sociais mais amplos que
contextualizam os índices de violência. Citam-se: normas culturais que justificam
a violência como forma de resolver conitos; atitudes que consideram a opção pelo
suicídio como um direito de escolha individual; machismo e cultura adultocêntrica;
normas que validam o uso abusivo da força pela polícia; normas que apóiam conitos
políticos.
O texto fala ainda das políticas de educão, saúde, econômicas e sociais que con
-
tribuem para manter desigualdades, ou seja, a forma mais perversa de violência es
-
trutural, e lembra que, dentro de uma perspectiva de desenvolvimento humano, são
diferentes os elementos que influenciam a vitimização ou a perpetração de violência
nas várias faixas etárias.
Assumindo a proposta ecogica, o presente documento dá ênfase ao sentido dinâmico
da produção da violência, cuja interpretação se adeqüa à teoria da causalidade complexa
em que “todas as coisas são causadas e causadorase em que se evidenciam a retroali
-
mentação entre os fatores e a reflexividade dos fenômenos. Por isso, a tônica reflexiva e
metodológica proposta é a do imbricamento dos âmbitos biológico, subjetivo e social.
Portanto, para se conseguir dimensionar e compreender o impacto da violência so
-
bre a saúde, fazem-se imprescindíveis estudos interdisciplinares, que trabalhem com
SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SDE / MS
I
MPACTO DA VIOLÊNCIA NA SAÚDE DOS BR ASILEIROS
26
abordagens de triangulação de métodos e incluam uma vio quantitativa e qualita-
tiva do fenômeno. Não basta quantificar os mortos, os feridos, as vítimas e os agres
-
sores. Pois, eles fazem parte de uma realidade histórica e cultural e possuem raes
subjetivas, como extensamente se mencionou anteriormente. Saber a magnitude do
fenômeno e seus sentidos é pré-requisito para a formulação de programas de promo
-
ção e de prevenção propostos pelo setor Saúde.
Do ponto de vista quantitativo é importante produzir conhecimento sobre:
• a magnitude dos fenômenos em suas dimensões traduzidas em morbidade e morta
-
lidade;
• as diferenciões internas e as circunstâncias das fatalidades, dos traumas e das
lesões que constituem as conseqüências da violência;
• os fatores que aumentam o risco de vitimização;
• os fatores que contribuem para a perpetração dos crimes e agressões;
• a especificação demogfica e ambiental dos eventos;
• as configurações de cunho local das expressões de violências que permitam a atuação
por prioridades.
• a triangulação de dados epidemiológicos com informações históricas, culturais e
subjetivas de cunho qualitativo.
Do ponto de vista qualitativo é fundamental criar:
• a compreensão do momento histórico vivido pelo país e pelas regiões dentro do
país, uma vez que a violência costuma ser um termômetro muito importante para
medir as expressões dos conitos, dos projetos, das crises e das expectativas so
-
ciais. Embora a violência seja um fenômeno permanente na história da humanida
-
de, suas formas de manifestação são diferentes no tempo e no espaço;
• a compreensão da dinâmica dos contextos locais, culturais e das raes subjetivas
com que as tipologias de violência se expressam.
• a articulação das informações compreensivas com dados quantitativos sobre os fe
-
nômenos, buscando responder a questões da prática;
• a integração da multiplicidade de atores cidadãos e institucionais na busca de for-
mulação de políticas que afetem direta ou indiretamente a promoção de políticas e
propostas e ação.
Sobre a disponibilidade e qualidade das informações
Para tornar plausível as comparações entre países, a OMS, em seu Código Internacio-
nal das Doenças (CID), criou categorias para classificar os eventos violentos e os aci
-
dentes a serem notificados. Essa classificação se encontra nos códigos E-800 a E-999,
na 9ª revisão da CID e nos V01 a Y98 na 10ª revio.
As principais fontes ociais de informação sobre violências e acidentes no Brasil são: o
boletim de ocorrência policial (BO); o boletim do Departamento Nacional de Estrada de
Rodagem (DNER); a comunicação de acidente de trabalho (CAT); o sistema de informa
-
ções hospitalares (SIH/SUS); o sistema de informação de mortalidade do Ministério da
Saúde (SIM/MS) e o sistema nacional de informações tóxico-farmacológicas (Sinitox).
Cada vez que ocorre um evento violento no País, seu registro passa ou deveria passar,
basicamente, pelas instituições e serviços mostrados nouxograma abaixo:
Como se pode constatar, portanto que, quando chega a se constituir em estatística
oficial (é preciso o se esquecer de que muitos fatos o alcançam o conhecimento
público), a informão de um evento violento passa por rias mãos e percorre di
-
versas instituões, estando condicionada a problemas de idiossincrasia e finalidades
dessas entidades, a questões ideológicas das pessoas que notificam e aos que proce
-
dem à notificação e às dificuldades ou facilidades tecnológicas e operacionais dos
rios sistemas e fontes.
Tendo em vista que toda informão científica veiculada sobre o assunto o está
isenta de problemas ideológicos e de dificuldades operacionais, pode-se dizer que os
dados existentes no Ministério da Saúde e que são também repassados à OMS para
serem consolidados e comparados internacionalmente, não constituem uma verdade
absoluta, são uma constrão social.
Embora exista por parte do Ministério e da maior parte das Secretarias Estaduais e
Municipais uma busca insistente de melhorar a qualidade dos dados, do ponto de vis
-
ta acadêmico, sua validade e conabilidade são temas de preocupação. Na medida em
que os pesquisadores operam no campo teórico e empírico, devem estar sempre aten
-
tos a como são geradas, coletadas, tratadas, organizadas, armazenadas, interpretadas
e disseminadas as informações. Não basta, pois, ter um banco de dados e produzir
alises estatísticas tecnicamente perfeitas a partir dele, sem se perguntar sobre a
qualidade do que está aí armazenado.
O primeiro problema de fidedignidade surge no ato de apreeno e de compreensão
do fenômeno da violência. Aí se cruzam elementos ideológicos com sistemáticas ope
-
racionais. Ideologicamente, a própria sociedade dá ênfase a determinados tipos de
violência e outros são deixados de lado ou o quase invisíveis, como já se referiu na
introdução. Por exemplo, os roubos, as lesões corporais, os homicídios são muito mais
evidenciados do que as violências que ocorrem na família, que as discriminações
raciais e de gênero e que os crimes de tnsito (MINAYO, SOUZA, 1999; CHESNAIS,
EVENTO VIOLENTO
Delegacia de Polícia
Boletim de ocorncia policial
Serviço de Saúde
Estatísticas (hospitalar/
ambulatorial)
Declaração de óbito (DO)
Outras Estatística
Instituições governamentais,
não governamentais e imprensa
Instituto Médico-Legal
Laudo médico e DO
Polícia Civil
Estatísticas
Polícia Militar
Estatísticas
G. Bombeiros
Estatísticas
Secretaria de Segurança Pública
Estatísticas oficiais
Secretarias Estadual e Municipal de Saúde
Estatísticas oficiais
Fonte: SOUZA, E.R. (2002)
SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SDE / MS
I
MPACTO DA VIOLÊNCIA NA SAÚDE DOS BR ASILEIROS
28
1981). A violência psicológica é muito difícil de ser dimensionada. Igualmente, no
Brasil e no mundo, razões de tabus e preconceitos levam a que os suicídios e tentativas
de cometê-los sejam intensamente subnotificados (MINAYO, SOUZA, 2003; SOUZA et
al., 2003; CASSORLA, SMEKE, 1994). E nas próprias unidades de saúde, os profissio
-
nais tendem a produzir informações apenas sobre as lesões e traumas que tratam sem
se perguntar pelo fato ou razão básica que as causou.
Por outro lado, é preciso ressaltar que, embora imperfeitas, o conjunto de fontes de
informação e os esforços importantes que têm sido realizados para sua compatibiliza
-
ção são o bastante para a produção de políticas de âmbito nacional, pois apresentam
indicadores de magnitude, de fatores de risco, de grupos mais vulneráveis e de ten
-
dências, ainda que imperfeitos (MINAYO, SOUZA, 2003). Um grande passo operacio
-
nal deveria ser dado, no sentido de investir nos estudos operacionais para a atuão
nos espos locais (as violências não são abstrações) e para conhecer em profundida
-
de os contextos e a dinâmica da violência em sua especificidade, para que se possa
estabelecer prioridades e agir intersetorialmente com apoio da sociedade civil.
4. Elementos para atuação da área de saúde
A busca de aprofundamento sobre o sentido do fenômeno da violência, malgrado o
campo nebuloso de sua definição, intrínseco às ltiplas formas de sua manifesta
-
ção, permite alguns consensos importantes:
• A vioncia não se resume às delinqüências. Suas formas culturalmente naturalizadas
de agressões intrafamiliares, interpessoais, de discriminações raciais ou contra grupos
especos como homossexuais, de abusos e de dominação contra crianças, mulheres,
idosos, decientes físicos constituem um ambiente sócio-cultural adverso e, freqüen
-
temente, portador de exclusão e de lesões físicas e emocionais. Todas essas formas são
potencializadoras da vioncia social difusa e ampla e se alimentam dela.
• É fato demonstrado pela realidade histórica de que existem no Brasil regiões e cida
-
des onde as taxas de violência são mais elevadas que em outras, sejam quais forem os
tipos de manifestação do fenômeno. Portanto, a configuração espacial precisa ser in
-
cluída e articulada com especificidades históricas, sociais e culturais, visando a ões
de promão e de prevenção. A vioncia não é uma fatalidade nem uma abstração.
• É fruto de observação e de pesquisas que as diferentes formas de violência se arti
-
culam criando uma expreso cultural naturalizada nas relações e nos comporta
-
mentos, atitudes e práticas.
• É sem consistência teórica qualquer proposta de visão positivista que proponha
acabar com a violência num toque de mágica ou de autoritarismo, devendo ela, por
-
tanto, ser sempre analisada como um fenômeno de expressão e parte constitutiva
dos processos históricos complexos, nos quais é possível intervir.
• É o caráter eminentemente humano da violência, que organiza, de forma complexa,
as condições sociais e as especificidades mentais e genéticas com que se manifesta.
E por serem humanas, suas expreses incluem significado e intencionalidade.
• Tem consistência a idéia de causalidade complexa da violência, com ênfase no im
-
bricamento dos fatores históricos, contextuais, estruturais, culturais, conjunturais,
interpessoais, mentais e biológicos. Considera-se que sempre existirão elementos ge
-
rais e especificidades nas formas de apresentação e de reprodução desse femeno.
• É muito mais profícuo, para efeitos de alise, trabalhar com a proposta de que
existem violências em lugar de violência. Elas apresentam manifestões particu
-
lares e geralmente se encontram articuladas, umas potencializando outras.
• É importante investir no conhecimento específico e empírico dos problemas, levan
-
do em conta tempo, espaço, grupos atingidos, gravidade e representação, para com
-
preender e para agir: em sendo um fenômeno humano-histórico, a vioncia está aí
para dramatizar causas, trazê-las à opinião pública e, incomodamente, propor e exi
-
gir mudanças. Porém, a compreensão de cada parte precisa ser articulada ao todo.
• No caso brasileiro, sobretudo nas regiões metropolitanas e nos grandes centros
urbanos, a violência coletiva tende a vicejar persistente e vigorosamente na sua
expressão instrumental, como recurso usado por muitas pessoas e grupos para
conquistar mercados de bens e de poder. De um lado, ela manifesta o sentido de
defasagem entre a oferta de condões e a escassez de espaços para um elevado
percentual de indivíduos. E também vocaliza demandas subjetivas de pessoas e
grupos não contemplados na direção das novas formas de desenvolvimento. Ela é,
por isso também, uma forma de vocalização dos sujeitos não reconhecidos, rejeita
-
dos e marcados pela exclusão e pela discriminação social.
• A chamada violência tradicional, aquela que ressalta os conflitos comuns entre os
cidadãos, as frustrações das paixões entre gêneros, os furtos provocados pela fome,
necessidade ou vício, tudo isso que continua a existir, tem seu espaço, ao mesmo
tempo, subsumido e potencializado pelos gritos de um novo momento histórico,
não ainda de todo claro e compreendido para ser enfrentado pelas forças políticas
(novas forças políticas) renovadoras.
• Neste documento, não se compartilha com o imaginário da inevitabilidade e da fal
-
ta de controle que freqüentemente é evidenciado pela opinião pública em relação
ao fenômeno da violência. O presente e o futuro são criões humanas, com o barro
das circunstâncias ao seu alcance.
Neste texto a violência é entendida como um fenômeno social que afeta a saúde e
frente ao qual o setor tem um papel específico e complementar. As diretrizes aqui
colocadas se fundamentam no documento de Política Nacional de Redução da
morbimortalidade por Acidentes e Violências” (BRASIL, 2001, p. 25-38):
• Incentivo à promoção à adoção de comportamentos e de ambientes seguros e sau
-
dáveis, mobilizando-se a sociedade, em especial a mídia e os setores de educação e
reforçando-se estratégias intersetoriais;
Monitorização da ocorrência de acidentes e violências por meio do estabelecimento de
ões padronizadas de vigilância epidemiogica que incluam: amplião da abrangência
dos sistemas de informação para que incorporem dados de atendimento dos pronto-so
-
corros e dos ambularios; promoção da qualidade e padronização das informações;
Sistematização, ampliação e consolidação do atendimento pré-hospitalar, prevendo-se
a ampliação e implantação desse tipo serviço (quando for o caso), da padronização das
normas e da criação de um sistema nacional de informações relativas a esses serviços;
• Assistência interdisciplinar e intersetorial às vítimas de violência buscando-se uma
articulação do setor saúde com as áreas jurídicas e de segurança, desde os progra
-
mas de atenção sica como o de Saúde da Família até os servos ambulatoriais,
emergenciais e hospitalares;
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MPACTO DA VIOLÊNCIA NA SAÚDE DOS BR ASILEIROS
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• Estruturação e consolidão do atendimento voltado para a recuperação e a reabi-
litação, hoje bastante escasso e salvo raras excões, precário. A operacionalização
dessa diretriz compreende a elaboração de normas relativas à recuperação e à re
-
abilitação, em nível nacional, e ao aparelhamento das unidades de saúde para o
adequado atendimento aos pacientes;
• Capacitação dos profissionais do setor para serem capazes, técnica e humanamen
-
te, de cuidarem das necessidades decorrentes da demanda que o problema das
violências e dos acidentes está criando. Destacam-se como urgentes: treinamento
para a melhoria da qualidade da informão; para o diagnóstico dos eventos; para
as ações de prevenção e de vigincia epidemiológica;
• Apoio ao desenvolvimento de estudos e pesquisas interdisciplinares, estratégicas,
operacionais e avaliativas.
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Anexo 1
SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SDE / MS
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Tabela 1. Distribuição das internações, tempo médio de permanência, custo, taxas de inter-
nação e de mortalidade hospitalar segundo causas externas. Capitais brasileiras, 2000
Capitais % Taxa Custo T.M.P. T.M.H.
Porto Velho 1.423 0,9 4,3 369,07 7,2 2,3
Rio Branco 1.517 0,9 6,0 363,67 7,1 2,0
Manaus 6.452 3,9 4,6 557,32 6,1 2,6
Boa Vista 232 0,1 1,2 413,04 10,7 2,6
Belém 8.591 5,2 6,7 444,14 3,5 2,0
Macapá 1.093 0,7 3,9 344,73 6,6 1,8
Palmas 1.464 0,9 10,7 385,98 2,9 1,5
São Luís 7.963 4,9 9,2 265,35 2,8 1,1
Teresina 1.991 1,2 2,8 420,27 5,3 1,6
Fortaleza 9.458 5,8 4,4 546,84 5,4 2,8
Natal 1.437 0,9 2,0 431,71 5,0 3,8
João Pessoa 2.327 1,4 3,9 513,85 5,7 4,0
Recife 5.661 3,5 4,0 579,14 6,5 5,7
Mace 3.259 2,0 4,1 535,12 4,3 5,3
Aracaju 2.334 1,4 5,1 503,63 4,1 2,6
Salvador 7.866 4,8 3,2 638,07 5,1 4,8
Belo Horizonte 11.905 7,3 5,3 673,19 5,5 3,8
Vitória 964 0,6 3,3 607,35 6,2 5,9
Rio de Janeiro 17.522 10,7 3,0 732,58 10,8 5,1
São Paulo 33.940 20,7 3,3 689,05 5,7 3,7
Curitiba 7.677 4,7 4,8 727,42 4,2 2,7
Florianópolis 903 0,6 2,6 708,84 6,9 2,9
Porto Alegre 7.526 4,6 5,5 544,04 6,0 3,0
Campo Grande 4.585 2,8 6,9 592,08 5,5 2,7
Cuiabá 2.031 1,2 4,2 526,83 6,5 4,2
Goiânia 5.538 3,4 5,1 582,04 4,6 2,6
Brasília 8.122 5,0 4,0 517,05 7,9 3,3
Nº = Número de internações.
% = Proporção entre Capitais.
Taxa = Taxa de internação por mil hab.
Custo = Custo total por cada internação em reais.
T.M.P. = Tempo Médio de Permancia.
T.M.H. = Taxa de Mortalidade Hospitalar por cem internações.
SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SDE / MS
36
Tabela 2. Distribuição das internações, tempo médio de permanência, custo, taxas de internação e de mortalidade hospitalar
por causas externas segundo sexo e faixas etárias. Brasil, 2000
Faixas
Etárias
Masculino Feminino Total
Taxa Custo T.M.P. T.M.H. Taxa Custo T.M.P. T.M.H. Taxa Custo T.M.P. T.M.H.
0 - 9 65.961 3,9 366,65 3,9 0,8 37.831 2,3 362,68 3,8 0,8 103.792 3,2 365,20 3,9 0,8
10 - 14 40.458 4,6 375,05 3,6 0,6 13.748 1,6 377,87 3,9 0,9 54.206 3,1 375,76 3,7 0,7
15 - 19 49.406 5,5 493,62 4,5 2,2 14.221 1,6 427,02 4,4 1,8 63.627 3,5 478,74 4,5 2,1
20 - 24 59.438 7,4 543,53 4,9 2,7 14.632 1,8 437,53 4,4 1,8 74.070 4,6 522,59 4,8 2,6
25 - 29 51.475 7,6 529,62 5,1 2,7 13.028 1,9 443,90 4,5 1,7 64.508 4,7 512,31 5,0 2,5
30 - 39 83.668 6,8 528,89 5,2 3,1 24.796 1,9 444,76 4,6 1,8 108.464 4,3 509,65 5,1 2,8
40 - 49 57.533 6,2 540,13 5,8 3,5 21.977 2,2 470,54 5,0 1,9 79.511 4,1 520,89 5,6 3,1
50 - 59 34.422 5,7 557,22 6,0 4,0 18.564 2,9 518,16 5,2 2,2 52.987 4,2 543,53 5,7 3,4
60 + 42.783 6,5 679,45 6,9 6,6 50.013 6,2 728,78 6,6 4,2 92.796 6,4 706,04 6,7 5,3
Total 485.144 5,8 508,90 5,1 2,8 208.810 2,4 500,98 5,0 2,2 693.961 4,1 506,52 5,0 2,6
Nº = Número de internações.
Taxa = Taxa de internão por mil hab.
Custo = Custo total por cada internação em reais.
T.M.P. = Tempo Médio de Permanência
T.M.H. = Taxa de Mortalidade Hospitalar por cem internações.
Tabela 3. Distribuição das internações, tempo médio de permanência, custo, taxas de internação e de mortalidade hospitalar
segundo causas externas específicas. Brasil, 2000
Causas Externas
%
Taxa
Custo
T.M.P.
T.M.H.
Acidente de transporte
114.395
18,2
0,67
654,60
6,1
4,3
Queda Acidental
270.841
43,1
1,60
467,59
4,3
1,6
Queimadura
10.996
1,8
0,06
705,30
7,9
4,1
Submersão/Sufocação
2.558
0,4
0,02
362,90
4,1
2,2
Outros Acidentes
152.858
24,3
0,90
475,02
4,9
2,4
Lesão Autoprovocada
9.312
1,5
0,05
321,62
3,9
3,2
Agressão
34.132
5,4
0,20
663,75
6,0
5,4
Lesão Ign Acid/Intenc
23.464
3,7
0,14
423,86
5,2
2,3
Outras CE
9.554
1,5
0,06
625,07
7,1
3,0
Total
628.110
100,0
3,70
516,45
5,0
2,6
Nº= Número de internações.
% = Proporção por Causa Específica.
Taxa = Taxa de internão por mil hab.
Custo = Custo total por cada internação em reais.
T.M.P. = Tempo Médio de Permanência
T.M.H. = Taxa de Mortalidade Hospitalar por cem internações.
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38
4. Mortalidade por causas externas segundo faixas etárias. Brasil, 1991 a 2000
Faixas
Etárias
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
0 - 9 6.017 5.966 6.157 6.073 6.150 6.388 5.990 5.547 5.492 5.423
10 - 14 3.185 3.155 3.404 3.674 3.677 3.818 3.483 3.122 2.978 3.016
15 - 19 10.408 9.776 10.457 11.473 12.172 12.447 12.887 13.011 13.092 13.485
20 - 24 14.572 13.800 14.341 15.326 16.237 16.790 17.289 17.366 17.562 18.604
25 - 29 13.492 12.781 13.079 13.635 14.487 14.701 14.898 14.977 14.505 14.599
30 - 39 20.070 19.247 20.583 21.161 22.823 24.327 24.142 23.181 23.217 23.204
40 - 49 12.245 12.078 12.672 13.011 14.473 15.483 15.427 15.091 15.178 15.514
50 - 59 7.713 7.573 7.945 7.936 8.678 8.914 9.148 8.857 8.649 8.915
60 + 11.185 10.872 11.889 11.920 12.421 12.987 13.218 13.184 13.448 13.439
Total 98.887 95.248 100.527 104.209 111.118 115.855 116.482 114.336 114.121 116.199
Tabela 5. Taxas de mortalidade por causas externas segundo faixas etárias. Brasil, 1991 a 2000
Faixas
Etárias
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
0 - 9 17,7 18,0 17,6 17,1 17,1 20,0 18,4 16,8 16,4 16,5
10 - 14 18,7 18,5 19,4 20,7 20,4 21,8 19,6 17,3 16,3 17,4
15 - 19 69,3 63,5 67,7 73,2 76,6 74,6 76,0 75,7 75,2 75,2
20 - 24 107,4 100,8 102,6 108,1 113,0 116,5 118,0 116,8 116,5 115,3
25 - 29 106,8 101,4 100,4 103,2 108,2 113,4 112,9 111,9 106,9 105,4
30 - 39 97,8 90,8 97,3 98,7 105,0 104,5 102,0 96,6 95,4 91,7
40 - 49 87,7 82,2 88,2 89,4 98,1 92,8 91,0 87,9 87,2 80,5
50 - 59 82,0 77,7 82,2 81,0 87,4 83,2 84,2 80,5 77,7 71,3
60 + 104,3 97,2 108,1 106,9 110,0 104,7 105,2 103,8 104,7 92,5
Total 69,5 66,7 68,5 69,8 73,7 75,9 74,9 72,7 71,3 69,7
Tabela 6. Mortalidade por causas externas segundo faixas e tárias e sexo. Brasil, 2000
Faixas
Etárias
Masculino Feminino Total
% Taxa Nº % Taxa Nº % Taxa
0 - 9
3.374 62,3 20,2 2.045 37,7 12,6 5.419 100,0 16,5
10 - 14
2.069 68,6 23,6 947 31,4 11,0 3.016 100,0 17,4
15 - 19
11.666 86,5 129,3 1.817 13,5 20,4 13.483 100,0 75,2
20 - 24
16.908 90,9 210,1 1.693 9,1 20,9 18.601 100,0 115,3
25 - 29
13.221 90,6 194,0 1.373 9,4 19,5 14.594 100,0 105,4
30 - 39
20.541 88,6 166,7 2.654 11,4 20,5 23.195 100,0 91,7
40 - 49
13.451 86,7 144,1 2.057 13,3 20,7 15.508 100,0 80,5
50 - 59
7.442 83,5 124,0 1.471 16,5 22,6 8.913 100,0 71,3
60 + 8.884 66,1 136,0 4.552 33,9 56,9 13.436 100,0 92,5
Total 97.556 84,0 119,0 18.609 16,0 21,8 116.165 100,0 69,7
SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SDE / MS
40
Tabela 7. Taxas de mortalidade por causas externas. Capitais brasileiras, 1991 a 2000
Capitais 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
Porto Velho 119,6 109,4 108,8 104,0 63,7 93,1 86,4 102,4 123,6 137,5
Rio Branco 107,9 127,4 123,0 123,5 114,8 102,7 109,4 96,8 69,4 89,3
Manaus 89,6 82,1 74,7 88,3 92,8 85,5 88,2 89,1 75,5 72,7
Boa Vista 116,5 106,0 96,9 117,3 104,6 129,3 117,7 141,7 148,9 119,7
Belém 70,6 68,9 47,2 48,5 44,5 64,4 70,0 66,4 60,6 51,1
Macapá 86,2 92,8 102,1 126,9 119,3 123,6 93,6 98,0 109,8 93,2
Palmas 28,8 76,0 56,8 92,7 101,3 59,2 59,3 58,7 59,9 88,8
São Luís 68,6 59,6 57,4 52,9 66,9 69,4 65,3 62,6 53,4 53,8
Teresina 41,4 46,8 53,5 50,1 55,9 52,9 53,7 58,5 53,8 63,2
Fortaleza 59,6 55,2 60,5 60,0 81,2 76,8 73,9 57,4 64,7 63,3
Natal 66,1 53,4 54,0 56,2 70,7 68,3 68,7 54,2 52,1 60,2
João Pessoa 61,1 56,2 62,2 67,4 84,2 80,8 57,6 58,8 69,0 65,1
Recife 107,1 91,9 106,2 93,9 103,1 107,7 118,7 126,0 107,9 107,4
Mace 87,6 80,9 87,7 88,1 90,7 93,8 76,6 73,6 66,5 72,6
Aracaju 72,3 147,4 78,6 122,1 98,5 86,4 68,6 78,9 88,7 83,9
Salvador 79,9 77,8 82,1 89,7 67,7 76,9 81,5 81,1 72,0 63,9
Belo Horizonte 70,8 67,6 66,2 66,8 70,9 74,1 79,0 78,5 69,8 68,6
Vitória 132,2 90,7 124,1 126,5 130,7 116,2 137,1 127,1 121,2 98,5
Rio de Janeiro 113,0 108,5 116,4 118,2 114,7 120,1 113,1 110,8 103,3 95,3
São Paulo 97,0 89,0 90,4 94,3 108,2 113,9 107,0 104,7 111,3 98,9
Curitiba 83,1 80,6 86,3 89,1 88,4 84,7 83,3 70,8 69,2 74,0
Florianópolis 59,1 57,3 71,6 78,3 75,7 81,5 75,9 64,3 62,4 64,6
Porto Alegre 77,5 72,5 65,2 69,1 71,5 74,3 77,5 68,0 63,8 67,8
Campo Grande 80,0 86,7 83,9 89,6 99,5 113,5 104,4 78,2 81,9 80,0
Cuiabá 90,1 86,2 82,9 78,3 89,9 103,8 93,0 108,6 107,3 110,1
Goiânia 88,3 82,8 92,4 89,5 110,1 89,0 83,4 77,9 83,8 73,3
Brasília 91,0 84,5 94,5 97,5 102,3 95,3 86,0 82,4 80,3 77,8
Tabela 8. Mortalidade por causas externas segundo sexo. Capitais brasileiras, 2000
Capitais
Masculino Feminino Total
Nº % Taxa % Taxa Nº % Taxa
Porto Velho 393 85,6 235,7 66 14,4 39,3 459 100,0 137,5
Rio Branco 192 85,0 155,8 34 15,0 26,2 226 100,0 89,3
Manaus 874 85,5 127,5 148 14,5 20,5 1.022 100,0 72,7
Boa Vista 203 84,6 202,3 37 15,4 36,9 240 100,0 119,7
Belém 556 85,0 91,4 98 15,0 14,6 654 100,0 51,1
Macapá 240 90,9 172,2 24 9,1 16,7 264 100,0 93,2
Palmas 101 82,8 146,9 21 17,2 30,6 122 100,0 88,8
São Luís 380 81,2 93,5 88 18,8 19,0 468 100,0 53,8
Teresina 380 84,1 113,3 72 15,9 18,9 452 100,0 63,2
Fortaleza 1.145 84,5 114,2 210 15,5 18,4 1.355 100,0 63,3
Natal 342 80,1 102,3 85 19,9 22,5 427 100,0 60,2
João Pessoa 346 88,9 123,8 43 11,1 13,5 389 100,0 65,1
Recife 1.311 85,8 198,1 217 14,2 28,5 1.528 100,0 107,4
Mace 497 85,8 132,0 82 14,2 19,5 579 100,0 72,6
Aracaju 330 85,3 152,9 57 14,7 23,2 387 100,0 83,9
Salvador 1.285 82,3 111,7 276 17,7 21,3 1.561 100,0 63,9
Belo Horizonte 1.238 80,7 117,1 297 19,3 25,1 1.535 100,0 68,6
Vitória 250 86,8 181,2 38 13,2 24,6 288 100,0 98,5
Rio de Janeiro 4.577 82,1 166,5 999 17,9 32,1 5.576 100,0 95,3
São Paulo 8.945 86,7 179,9 1.370 13,3 25,1 10.315 100,0 98,9
Curitiba 956 81,5 125,6 217 18,5 26,3 1.173 100,0 74,0
Florianópolis 153 69,2 92,3 68 30,8 38,5 221 100,0 64,6
Porto Alegre 750 81,3 118,0 173 18,7 23,9 923 100,0 67,8
Campo Grande 446 84,0 138,2 85 16,0 24,9 531 100,0 80,0
Cuiabá 463 87,0 196,5 69 13,0 27,8 532 100,0 110,1
Goiânia 670 83,8 128,6 130 16,3 22,7 800 100,0 73,3
Brasília 1.343 84,5 136,9 247 15,5 23,1 1.590 100,0 77,8
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
Acid. de transporte
103 124 146 122 151 154 159 133 143 89
Submersão/Sufocação
611 666 686 759 774 824 746 699 622 670
Outros Acidentes
151 116 125 117 90 118 98 94 124 79
Homicídio
67 65
81 83 91 83 79 84 85 69
Lesão Ign Acid/Intenc
96 87 115 119 104 127 110 168 140 185
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
Queimadura
Homicídio
Lesão Ign Acid/Intenc
Outros Acidentes
Submersão/Sufocaçã
o
Acid. de transporte
Total C. Externas
Feminino
0,6 0,6 0,9 1,3 2,5 3,8 9,6
Masculino
0,8 0,9 1,3 2,1 5,5 6,0 16,6
Queimadura Homicídio
Lesão Ign
Acid/Intenc
Outros
Acidentes
Submersão/Sufo
caçã
o
Acid. de
transporte
Total C. Externas
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
Acid. de transporte
6,5 6,4 5,9 5,6 5,8 6,8 5,9 5,3 5,1 4,9
Queimadura
0,9 0,8 0,8 0,7 0,7 0,8 0,7 0,7 0,6 0,7
Submersão/Sufocação
4,0 4,0 4,0 3,9 3,9 4,3 3,9 3,8 3,7 4,0
Outros Acidentes
2,1 2,1 2,3 2,0 1,8 2,2 1,7 1,4 1,7 1,7
Homicídio
0,6 0,6 0,6 0,5 0,6 0,8 0,6 0,8 0,7 0,7
Lesão Ign Acid/Intenc
0,8 1,0 1,0 1,2 1,0 1,1 0,9 1,2 1,0 1,1
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
Queimadura
Homicídio
Lesão Ign Acid/Intenc
Outros Acidente
s
Submersão/Sufocaçã
o
Acid. de transporte
Total C. Externas
Feminino
0,6 0,6 0,9 1,3 2,5 3,8 9,6
Masculino
0,8 0,9 1,3 2,1 5,5 6,0 16,6
Queimadura Homicídio
Lesão Ign
Acid/Intenc
Outros
Acidentes
Submersão/Su
f
ocaçã
o
Acid. de
transporte
Total C.
Externas
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
9,0
Acid. de transporte
7,2 7,0 7,1 7,7 8,0 8,4 6,8 6,0 5,7 5,6
Submersão/Sufocação
4,6 4,2 4,6 5,1 4,5 4,9 4,6 4,0 3,6 3,9
Outros Acidentes
1,9 2,5 2,5 2,4 2,3 2,5 1,7 1,4 1,8 1,8
Homicídio
2,2 2,0 2,2 2,1 2,7 2,9 2,5 2,6 2,7 3,2
Lesão Ign Acid/Intenc
1,1 1,4 1,6 1,8 1,4 1,4 1,0 1,8 1,3 1,5
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
Taxa




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

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

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
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

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

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


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
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
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
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

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


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













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



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


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







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
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




0,0
50,0
100,0
150,0
200,0
Masc
152,2 142,0 153,9 154,3 160,6 153,3 154,3 151,1 153,9 136,0
Fem
63,3 59,2 68,8 66,1 66,4 63,7 63,9 63,9 63,3 56,9
Total
104,2 97,2 107,9 106,6 109,7 104,6 105,1 103,7 104,6 92,4
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Ac. de Transporte
33,29 29,40 31,10 31,64 35,72 34,47 34,09 30,76 29,56 25,41
Afogamento
4,64 4,49 5,46 5,61 5,60 6,61 5,70 5,20 5,04 4,54
Demais causas
13,35 12,26 15,01 13,62 12,09 24,56 25,05 20,19 24,82 19,28
Homicidio
10,04 8,61 9,67 9,43 10,52 10,15 9,96 9,96 10,72 9,57
Lesões ignoradas
9,91 11,33 13,92 12,24 9,69 9,29 8,89 12,38 11,47 12,75
Quedas
20,77 19,51 19,90 20,76 21,35 12,54 13,70 17,23 15,88 13,99
Suicidio
7,49 6,37 6,61 7,34 8,15 7,11 7,82 8,06 7,19 6,87
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
272,29
194,58
138,69
136,89
134,37
127,59
125,73
124,96
120,85
116,34
114,75
112,88
110,27
108,59
97,2
8
96,2
8
95,0
5
92,4
5
90,88
89,1
1
86,7
6
86,7
2
86,52
83,6
3
81,60
80,0
3
72,0
2
65,7
5
0 5
0 100 150 200 250 300 350
Porto Velho
Boa Vista
Cuiabá
Campo Grand
e
Palmas
Macapá
Rio de Janeiro
Brasília
Natal
Salvador
Vitória
Goiânia
Teresina
Recife
Belo Horizonte
São Paulo
Curitiba
Brasil
São Luís
Maceió
Florianópolis
Manaus
Aracaju
Fortaleza
Porto Alegr
e
Rio Branco
Belém
João Pessoa
0
20
40
60
80
100
120
140
Masculino
1 4,6 74,1 119,7 104,1 73,7 48,6 30,6 18,3
Feminino
0,7 1,8 6,6 7,3 6,6 6,5 5,1
3 2,5
Total
0,9 3,2 40,5 63,3 54,6 39,2 26,2 16,3 9,6
0-09 10-14 15-19 20-24 25-29 30-39 40-49 50-59 60 e
+
0
10
20
30
40
50
60
Masculino
36,6 35,4 37,3 39,1 43,9 45,4 46,9 48,1 48,7 49,7
Feminino
3,7 3,2 3,4 3,6 4,2 4,6 4,4 4,3 4,3 4,3
Total
20,9 19,1 20,2 21,2 23,8 24,8 25,4 25,9 26,2 26,7
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
0
10
20
30
40
50
60
70
0-9
0,7 0,7 0,8 0,7 0,8 1 0,9 0,9 0,9 0,9
10-14
2,2 2 2,2 2,1 2,7 2,9 2,8 2,6 2,7 3,2
15-19
27,1 23,3 26,7 29 32,4 32 34,5 37,3 37,7 40,5
20-24
44,4 41 43,3 47,9 51,8 54,5 57,4 59,7 61 63,3
25-29
43,7 38,9 40,1 42,8 47,1 50,6 51,7 53,9 53,7 54,6
30-39
34,6 30,8 34,1 34,8 38,6 39,3 39,3 38,6 39,7 39,2
40-49
24,6 22,2 24,1 25,1 28,5 26,8 27,2 27 27,7 26,2
50-59
17,1 15,5 16,1 16 18,2 17,5 17,8 17,2 17,9 16,3
60 e +
10 8,6 9,7 9,4 10,5 10,1 10 10 10,7 9,6
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
-60
-40
-20
0
20
40
60
80
100
Tx Masc
65,7 69,7 54,7 93,3 39,1 75,6
Dif Média
6,1 -16,7 42 -40,5 15,1
Tx Fem
5,2 6,1 3,9 6,7 4,2 5,9
Dif Média
17,3 -25 28,8 -19,2 13,9
Tx Total
34,1 37,4 27,6 47,7 20,7 39,6
Dif Média
9,7 -19,1 39,9 -39,3 16,1
Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
0
1
2
3
4
5
Mortalidade
3,5 3,5 3,7 3,9 4,2 4,3 4,3 4,3 4,0 4,0
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
0 1 2 3 4 5 6 7 8
0-9
10-1
4
15-1
9
20-2
4
25-2
9
30-3
9
40-4
9
50-5
9
60+
Taxas
Faixas Etárias
0,0 0,5 2,9 5,3 5,5 5,8 6,5 6,7 6,8
0-9 10-14 15-19 20-24 25-29 30-39 40-49 50-59 60+
Feminino
23,2
%
Mascuiino
76,8%
Mascuiino
Feminino
1991
N = 5.177
2000
N = 6.778
Masculino
79,6
%
Feminino
20,4
%
Mascuiino
Feminino
0,6
0,8
1,3
1,5
2,5
2,6
2,9
2,9
3,4
3,4
3,5
3,7
3,8
3,9
3,9
3,9
4,1
4,0
4,2
4,5
4,6
5,1
5,3
6,4
6,7
7,1
7,1
8,0
0 2 4 6 8 1
0
Boa Vista
Porto Alegre
Rio Branco
Goiânia
Florianópolis
Campo Grande
Palmas
Macapá
Manaus
Brasília
Vitória
BRASIL
Recife
Belo Horizonte
Porto Velh
o
Teresina
São Paulo
Curitiba
Belém
Fortaleza
Cuiabá
São Luís
Aracaju
Rio de Janeiro
Maceió
João Pessoa
Natal
Salvador
43,90%
300,20%
-26,16%
3,29
%
646,07%
-50,45%
94,46%
-6,33%
7,24
%
1,25
%
-36,51%
-55,27%
-51,43%
-43,37%
-75,45%
-63,74%
-87,83%
-60,88%
503,57%
100,72%
83,99%
52,56%
66,44%
21,00%
184,55%
43,84%
29,59%
-100,00%
0,00%
100,00%
200,00%
300,00%
400,00%
500,00%
600,00%
700,00%
0,0%
5,0%
10,0
%
15,0
%
20,0
%
25,0%
30,0
%
Masculino
1,0% 6,3% 27,5% 27,6% 20,7% 10,5% 4,4% 1,1% 0,3% 0,5%
Feminino
2,9% 8,7% 24,2% 21,8% 19,3% 10,5% 5,5% 4,5% 2,0% 0,6%
Total
1,1% 6,4% 27,4% 27,3% 20,6% 10,5% 4,5% 1,3% 0,4% 0,5%
10-14 15-19 20-29 30-39 40-49 50-59 60-69 70-79 80 e+ Ign
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
NORTE
1,586038 0,844783 0,675801 0,928299 1,812221 1,061459 2,214719 1,757354 0,759195 1,694306
NORDESTE
0,606509 5,35122 0,702707 0,660243 0,814618 0,697714 0,51578 0,393532 0,315906 0,560894
SUDESTE
1,505238 1,471268 1,422335 1,365142 1,034635 1,036745 1,138296 1,010858 0,745389 0,743771
SUL
1,129215 1,258234 0,893074 0,578283 1,583837 2,140684 1,941863 1,371717 1,415008 1,215724
CENTRO OESTE
0,608298 0,794105 0,880982 0,890841 1,218658 1,010665 0,909262 0,840595 0,508523 0,559295
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
0
5
10
15
20
25
30
Incidência
27,5 23,9 17,8 16,4 17,9 16,6 17,5 16,9 13,1 13,1
Mortalidade
0,2 0,16 0,13 0,13 0,17 0,19 0,15 0,15 0,15 0,12
Letalidade
7,1 6,9 7,5000 8,9 9,3 11,3 8,2 9,1 10,2 8,9
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
Total
19,4 18,3 18,4 19,2 21,2 22,6 22,4 19,1 18,4 17,4
Feminino
8,4 7,7 8,0 8,5 9,0 9,6 8,9 7,7 7,2 6,6
Masculino
30,6 29,1 28,9 30,2 33,7 36,0 36,2 30,9 29,8 28,6
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
40,0
45,0
Masculino
5,7 7,3 22,4 41,2 40,6 42,1 41,2 39,6 40,5
Feminino
3,6 3,9 6,8 6,7 6,6 6,8 6,8 8,1 13,1
Total
4,7 5,6 14,7 23,9 23,4 24,0 23,4 23,2 25,4
0-9 10-14 15-19 20-24 25-29 30-39 40-49 50-59 60 e +
0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0
Atropelamento
Colisão
Sem colisão
Outros
Não especificado
Masculino
63,628,15,41,41,6
Feminino
58,834,74,41,01,1
Total
62,729,35,21,31,5
AtropelamentoColisãoSem colisãoOutrosNão especificado













       
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