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açude, represa para plantação, eu acho que é de soja que eles plantavam, alguma
coisa assim. E foi negado sempre. Aí durante um tempo que ele ficou longe, quando
ele chegou a FEPAM já havia liberado para o plantio de eucalipto. Antes, para eles,
a FEPAM não liberou por que ia matar, cobrir uma certa área de mata nativa. E
quando o pai dele voltou já estava tudo pronto, não tinha problema nenhum, e a
propriedade tava cheia de... e já os eucaliptos plantados. Além disso, o menino
mostrou indignação por que estava cheio de placas: Propriedade particular, não
entre. O pai dele cria abelhas e utiliza a propriedade para colocar as caixas de
abelhas. E agora o pessoal não permite colocar, que entrem na propriedade, para
coloca abelhas por exemplo. E o menino disse: o pai disse que vai coloca na estrada
porque na estrada ninguém é dono. Então mais ou menos neste sentido assim: que a
empresa diz uma coisa e daqui a pouco vai ser outra. Então foi esta a colocação dele.
Ele é um aluno bem quietinho, não fala nada e de repente ele falou tudo isso e os
colegas ficaram assim ó (boca aberta) (E1).
Também, o professor E9 oferece indicativos de que se aproveita o espaço escolar para
reforçar este "empreendimento":
Este tema é um tema bem, não é de hoje que se fala , ele já vem, vem vindo de
vagarito, mas vem. Vem sendo formadas as condições ideais para a implantação. A
gente nem percebe, mas se começar lembrar os fatos, pega recortes velhos, palestras,
vai ver quais os palestrantes que vieram aqui da Farsul, do Sindicato Rural,
Cooperativa. Pra teu governo, na abertura do ano aqui letivo, veio o presidente da
Sicredi do vale do Jaguari, sabe qual foi a palestra do começo do ano? Ele falou
sobre monocultura de eucalipto, aqui neste colégio, na abertura do ano. O que o
representante da Sicredi veio dizer? Que é importante plantar, que ele mesmo tem a
roça dele de plantação, que isso é bom, que tantos vão pagar tanto, a palestra de
abertura do ano, foi sobre isso. Veio fazer a apologia da monocultura de eucalipto,
contar a experiência dele, mostrou as fotos dele, os slides dele plantando nas roças
dele, nas terras dele, em Santiago, Itaqui, São Franscisco, estas bandas aqui (E9).
Do mesmo modo, o professor E13 relata como o tema foi abordado na escola:
Foi só assim, eles só ouviram, este senhor, este agrônomo da prefeitura que foi e
explicou para eles o que era o reflorestamento, e a gente veio de lá e comentou
(E13).
Coerente com estas várias entradas de um problema atual na escola, Chassot (2003)
coloca que a Escola não é algo exótico ao mundo onde está inserida, uma vez que faz –
necessariamente - parte dele. Neste sentido, destaca que se a Escola não mudou, ela foi
mudada nestes últimos anos, pois "não temos dúvidas do quanto a globalização confere novas
realidades à Educação" (CHASSOT, 2004, p.25). O educador analisa esta dimensão sob duas
direções:
Primeira, como são diferentes as múltiplas entradas que o mundo exterior faz na sala
de aula e, a outra direção, como esta sala de aula se exterioriza, atualmente, de uma
maneira diferenciada (CHASSOT, 2003, p. 25).
Em relação à primeira, o autor coloca que antes, como, por exemplo, as Escolas dos
nossos avós, eram clausuradas em relação às interferências do mundo externo. Além disso, a