
tos: a) demasiada preocupação com a erudição clássica, como influência deixada
pelos primeiros mestres do Brasil Colónia, os missionários jesuítas; b) o elitismo,
ou seja, a formação de uma elite em geral recrutada entre as famílias mais bem
situadas, com destino a preparar os futuros dirigentes da sociedade, o que se deveu
principalmente ao modelo de universidade importado; c) educação para o consu-
mismo e não para a criatividade académica. Isto fez com que as universidades, em
geral, se comportassem como agentes da manutenção de um status quo, alimentan-
do sempre a distância que nos separa das nações mais desenvolvidas. A preocupa-
ção com uma criatividade académica própria é ainda quase inexpressiva no País; d)
a instituição da Cátedra. Esta, durante mais de um século, deu e, apesar de aboli-
da, ainda continua dando o tom no ensino superior brasileiro. O catedrático, com
efeito, era uma personalidade de renome dentro de determinada especialidade, o
qual reunia, ao seu derredor, uma plêiade de alunos ávidos de aprender a sabedo-
ria do mestre. Com isto, foi-se marcando, em nossas universidades, a mentalidade
de que aprender consiste basicamente em ouvir a quem sabe, guardar seus ensina-
mentos para aplicá-los na realidade da vida. O aprendizado, portanto, limitava-se
quase exclusivamente ao relacionamento entre mestres e alunos.
Grande parte dos docentes universitários de hoje guarda de si uma imagem
de atuais elos de uma corrente de catedráticos. Em consequência disso, a ciência
transmitida nas instituições de ensino superior é a ciência de mestres estrangeiros,
atualizada, às vezes, pelos grandes centros de pesquisa do Ocidente, enquanto que
a criatividade científica não teve, tradicionalmente, lugar nas universidades. Quan-
do esta se realizava, acontecia em institutos estranhos às mesmas. Sirvam, como
exemplo, os Institutos de Manguinhos, no Rio de Janeiro, e Butantã e Biológico,
em São Paulo.
Diante desses poucos elementos levantados, que não pretendem esgotar o
quadro das análises, podemos perceber que, no Brasil, não houve clima para se
imprimir, nas universidades, um comprometimento com os problemas concretos da
Nação.
Mais preocupada em usufruir da criatividade científica de outros povos, a
classe de docentes de nível superior do Brasil pouco se dedicou a construir um
saber vinculado à interpretação da experiência nacional e à análise de sua cultura.
Na realidade, grande parte de estudos, teses e ensaios que se produzem nas univer-
sidades limita-se a ilustrações, com exemplos tirados do ambiente, das teses e teori-
zações elaboradas por cientistas de fora. Bem pouca preocupação existe em obser-
var, inferir e teorizar a partir da própria realidade.
A universidade brasileira passou por diferentes reformas, sendo que a de 1968
procurou dar mais um passo em direção ao compromisso com o desenvolvimento
nacional. Foi quando se deu ênfase à Extensão Universitária, muito embora, depois
de 12 anos de vigência da Lei nº 5.540, de 28/11/1968, ainda não tenha sido
assimilada. Com isto, constata-se, mais uma vez, o antigo brocardo "remendo novo
em pano velho", pois o que há é uma universidade com roupagem nova, enquanto,
em grande parte, as mentalidades continuam as mesmas, anteriores à reforma.
Se o compromisso por parte das instituições de ensino superior com os pro-
blemas da Nação não se constitui na única exigência da renovação de mentalidades,
é, sem dúvida, o traço mais decisivo que lhe falta.
Diante da tarefa de atingir a universidade será conveniente focalizar um pou-
co da realidade brasileira, a qual reclama por ser levada em conta, na busca de se