no livro, foi Ailton Batata
único sobrevivente da guerra entre traficantes que dominou a
favela Cidade de Deus, durante as décadas de 70 e 80 e que é recriada na ficção de Lins. Das
principais personagens do livro, apenas Batata
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teve o codinome mantido no roteiro.
Conhecido como Sandro Cenoura, à época em que era traficante e rival do bandido Zé
Pequeno no domínio das bocas-de-fumo, o morador da favela alegou não ter sido consultado
sobre a divulgação de sua história no livro. Tal polêmica instalada ganhou mais evidência
com a transposição do romance surgido na cena literária, no ano de 1997, para as telas de
cinema
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, em 2002, pelas mãos do cineasta e publicitário paulista Fernando Meirelles com a
participação de Kátia Lund que, após a leitura das páginas do romance de Lins, e atentos aos
interesses do público por esse tipo de conteúdo atrativo, que contempla a violência nos
grandes centros, aliada à pobreza e ao narcotráfico, transformam a obra em filme.
Essa adaptação, realizada no ano de 2002, torna-se um sucesso de bilheteria levando
mais de três milhões de espectadores ao cinema e conquistando vários prêmios
internacionais, entre eles uma indicação ao Oscar americano. Reproduzindo os aspectos
intrincados do livro, como o mundo fechado e quase sem perspectiva da favela, a
fragmentação da narrativa pelos flash-backs constantes, a violência espetacular e
exacerbada, Cidade de Deus, o filme, realiza uma espécie de leitura do livro, utilizando,
entretanto, o ponto de vista em primeira pessoa, diferentemente do que faz Paulo Lins em
sua narrativa literária escrita em terceira pessoa.
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No artigo Uso de nomes reais é criticado, divulgado pelo Jornal Folha de São Paulo, em 13 de jan. de 2003,
moradora da Cidade de Deus, conhecida como D. Ba, 62 anos, diz ter aberto um processo contra Paulo Lins,
por ter encontrado nove páginas do livro dizendo que a mesma era prostituta e dona de um bordel. Na mesma
entrevista, a mãe de Zé Pequeno, bandido que atuou no tráfico da favela e que foi ficcionalizado no romance
com o mesmo nome, diz que o filho não era o monstro que foi recriado na ficção.
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Em entrevista à revista Caros Amigos, nº 74, maio de 2003, Paulo Lins afirma que quando o livro foi lançado
bateu recorde de venda, ganhou dinheiro, mas junto a isso vieram muitos processos, acarretados pelo
surgimento do filme Cidade de Deus. A narrativa cinematográfica faz sucesso e é exibida dentro da própria
favela para os moradores, que se revoltam e começam a exigir direitos. Com a possível indicação ao Oscar
americano, esses processos aumentam e Paulo Lins diz francamente ter torcido para que o filme não fosse
premiado, pensando nos maiores transtornos que isso iria lhe causar. Sobre esses fatos, Alba Zaluar foi
contundente ao afirmar que orientou o escritor para que o mesmo não utilizasse nomes verdadeiros, no livro,
temendo todo esse acontecimento. Além de ter criticado de forma severa o filme por ter, segundo ela, deixado
de utilizar referências musicais cultivadas na favela, tais como o pagode, disse ter se sentido um tanto
responsável ao ver os nomes reais das pessoas, na tela, pelas conseqüências que aquilo traria à comunidade.