
A justiça exige que se diga que o camarada Axelrod, que agora quer converter esta
fórmula errada, que manifestamente tende para o oportunismo, em gérmen de novas
opiniões, no congresso, pelo contrário, mostrou-se disposto a "negociar" tendo dito:
"Mas dou-me conta de que estou a arrombar uma porta aberta" ... (disto mesmo me dou
eu conta no novo Iskra)... "porque o camarada Lénine, com os seus círculos da periferia,
que se consideram partes integrantes da organização do partido, antecipa-se à minha
exigência"... (e não só com os círculos da periferia, mas também com toda a espécie de
uniões operárias: cf. p. 242 das atas, o discurso do camarada Strákhov, e as passagens
citadas anteriormente de Que Fazer? e da Carta a Um Camarada) ... "Restam ainda as
pessoas isoladas, mas também nisto poderíamos negociar." Respondi ao camarada
Axelrod que, falando não era contrário a negociar
(12)
, e tenho de esclarecer agora em
que sentido disse. É precisamente no respeitante às pessoas isoladas, todos esses
professores, estudantes de liceu e outros, que eu teria feito menos concessões; mas se se
tivesse tratado de uma dúvida acerca das organizações operárias, eu consentiria (apesar
de tais dúvidas carecerem absolutamente de fundamento, como demonstrei mais atrás)
em acrescentar ao meu § 1 uma nota aproximadamente do seguinte teor: "As
organizações operárias que aceitarem o programa e os estatutos do Partido Operário
Social-Democrata da Rússia devem ser no maior número possível incluídas nas
organizações do partido." E claro que, falando com rigor, o lugar de tal desejo não é nos
estatutos, que devem limitar-se a definições jurídicas, mas em comentários de
esclarecimento, em brochuras (e já referi que, muito antes dos estatutos, eu tinha dado
explicações neste sentido em brochuras minhas; mas, pelo menos, tal nota não
encerraria nem sombras dessas idéias falsas, que pudessem levar à desorganização, nem
sombras de raciocínios oportunistas
(13)
, nem de "concepções anarquistas" que a fórmula
do camarada Mártov contém indubitavelmente.
A última expressão, que citei entre aspas, pertence ao camarada Pavlóvitch que, com
muita justeza, qualificou de anarquismo o fato de reconhecer como membros elementos
"irresponsáveis e que se incluem a si próprios no partido". "Traduzida em linguagem
corrente - dizia Pavlóvitch, explicando a minha fórmula ao camarada Líber - ela
significa: "Se queres ser membro do partido, tens que reconhecer também as relações de
organização, e não apenas de uma maneira platônica." Ainda que simples, esta
"tradução" mostrou, no entanto, não ser supérflua (como o demonstraram os
acontecimentos posteriores ao congresso), não só para os diversos professores e
estudantes de liceu duvidosos, mas também para os mais autênticos membros do
partido, para as pessoas de cima ... O camarada Pavlóvitch assinalou com não menos
razão a contradição entre a fórmula do camarada Mártov e o princípio indiscutível do
socialismo científico, que com tanta infelicidade citou o camarada Mártov: "O nosso
partido é o intérprete consciente de um processo inconsciente." Exatamente. E é
precisamente por isso que é errado querer que "qualquer grevista" possa intitular-se
membro do partido, porque, se "qualquer greve" não fosse simplesmente a expressão
espontânea de um poderoso instinto de classe e de luta de classes que conduz
inevitavelmente à revolução social, mas fosse uma expressão consciente deste processo,
então ... então a greve geral não seria uma frase anarquista, então o nosso partido
englobaria imediatamente, de uma só vez, toda a classe operária e, por consequência,
acabaria também, de uma só vez, com toda a sociedade burguesa. Para ser
verdadeiramente um intérprete consciente, o partido deve saber estabelecer relações de
organização que assegurem um certo nível de consciência e elevem sistematicamente
este nível. "Para seguir o caminho de Mártov - diz o camarada Pavlóvitch - é preciso
primeiramente suprimir o ponto relativo ao reconhecimento do programa, porque, para