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A moça teve um leve sobressalto; e, dando com os olhos no seu amante, ergueu-
se um pouco sobre a conversadeira, tanto quanto bastou para tomar-lhe as mãos e engolfar-se nos
seus olhares.
Que muda e santa linguagem não falavam essas duas almas, embebendo-se uma
na outra! Que delícia e que felicidade não havia nessa mútua transmissão de vida entre dois
corações que palpitavam um pelo outro!
Assim ficaram tempo esquecido; ambos viviam uma mesma vida, que se comunicava pelo fluido
do olhar e pelo contato das mãos; pouco a pouco as suas cabeças se aproximaram, os seus hálitos se
confundiram, os lábios iam tocar-se.
Jorge afastou-se de repente, como se sentisse sobre a sua boca um ferro em brasa; desprendeu as
mãos, e sentou-se pálido e lívido como um morto.
A menina não reparou na palidez de seu marido; toda entregue ao amor, não tinha outro
pensamento, outra idéia.
Deixou cair a cabeça sobre o ombro de Jorge; e, sentindo as palpitações do seu coração sobre o
seio, achava-se feliz, como se ele lhe falasse, lhe olhasse e lhe sorrisse.
Foi só quando o moço, erguendo docemente a fronte da menina, a depôs sobre o recosto da
almofada, que Carolina olhou seu amante com surpresa, e viu que alguma coisa se passava de
extraordinário.
- Jorge, disse ela com a voz trêmula e cheia de angústias, tu não me amas.
- Não te amo! exclamou o moço tristemente; se tu soubesses de que sacrifícios
é capaz o amor que te tenho!...
- Oh! não, continuou a moça, abanando a cabeça; tu não me amas! Vi-te todo
o dia triste; pensei que era a felicidade que te fazia sério, mas enganei-me.
- Não te enganaste, não, Carolina, era a tua felicidade que me entristecia.
- Pois então saibas que a minha felicidade está em te ver sorrir. Vamos, não me
ames hoje menos do que me amavas há dois meses!
- Há dois momentos, Carolina, em que o amor é mais do que uma paixão, é
uma loucura; é o momento em que se possui ou aquele em que se perde, o objeto que se ama.
A menina corou e abaixou os olhos sobre o tapete.
- Dize-me, tornou ela para disfarçar a sua confusão, o que sentiste hoje no
momento em que as nossas duas mãos se uniram sob a bênção do padre?
Jorge estremeceu, e ia soltar uma palavra que reteve; depois disse com algum
esforço:
- A felicidade, Carolina.
- Pois eu senti mais do que a felicidade; quando nossas mãos se uniam tantas
vezes e que nós conversávamos horas e horas, eu era bem feliz; mas hoje, quando ajoelhamos, não
sei o que se passou em mim; parecia-me que tudo tinha desaparecido, tu, eu, o padre, minha mãe, e
que só havia ali duas mãos que se tocavam, e nas quais nós vivíamos!
O moço voltou o rosto para esconder uma lágrima.
- Vem cá, continuou a moça, deixa-me apertar a tua mão; quero ver se sinto
outra vez o que senti. Ah! naquele momento parecia que nossas almas estavam tão unidas uma à
outra que nada nos podia separar.
A moça tomou as mãos de Jorge, e, descansando a cabeça sobre o recosto da
conversadeira, cerrou os olhos e assim ficou algum tempo
- Como agora!... continuou ela, sorrindo. Se fecho os olhos, vejo-te aí onde estás. Se escuto, ouço a
tua voz. Se ponho a mão no coração, sinto-te!
Jorge ergueu-se; estava horrivelmente pálido.
Caminhou pelo gabinete agitado, quase louco; a moça o seguia com os olhos; sentia o coração
cerrado; mas não compreendia.
Por fim o moço chegou-se a um consolo sobre o qual havia uma garrafa de