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Especialista: É raro ver um homem com cinqüenta anos com ejaculação rápida, porque de 25 a 40 o problema, se não for tratado, ele
vai se desgastando tanto, a qualidade do relacionamento, a estima pessoal, que chega um momento, o indivíduo começa a dormir
mais tarde que a mulher, ele começa a fugir do relacionamento, enfim, o desejo vai diminuindo de tal intensidade que chega uma
hora que ele tem uma falha.
Juan: Mas eu acho assim...Desculpa!
Silvia: Pode falar!
Juan: Aconteceu comigo já! Quando eu tenho muito desejo por uma mulher, você já acorda pensando nessa mulher, você já acorda
com tesão, ereto, aí você, eu ligo pra ela, no telefone você já fica todo excitado; no caminho você vai encontrar com ela, já vai no
caminho excitado; quando você encontra, a excitação já ta muito grande. Eu...acontece essa ejaculação rápida porque você já ta
muito excitado.
Especialista: Não é só excitado sexualmente, é mentalmente. Você ta ansioso também. Você não ta relaxado, você não ta tranqüilo.
Ter desejo com tranqüilidade é uma coisa, você ter desejo com ansiedade é outra coisa. Porque você ta preocupado em agradar...
Silvia: Mas o que que faz? Chega na casa da moça e já pergunta “onde é toalete, por favor, pra eu já acalmar?” ou o que que faz?
Especialista: Não... É o que ele falou “eu vim assim idealizando uma relação ou, sei lá, preocupado em te fazer feliz”. Acho que o
indivíduo tem que descarregar essa tensão, ouvir música, tem massagem, tem técnica de relaxamento, tem n coisa que você pode
fazer na intimidade que vai criar uma sensualidade extremamente elevada (fim da entrevista com Juan).
Tema: violência praticada pelos jovens (Programa Silvia Poppovic)
Silvia Poppovic: Agora no dia 29 de março uma notícia chocou os paulistanos. Uma garota, uma estudante, Elen Ferreira, de apenas
17 anos, foi assassinada na porta da escola. E não foi assalto, não foi briga de gangue, não foi nada disso, foi um crime passional
cometido por uma colega de escola, uma outra menina também de apenas 17 anos. E a Marilane Cândido Ferreira é a mãe da Elen e,
apesar de toda essa dor, ela ta aqui com a gente hoje pra falar justamente desse impacto que...se você é mãe, se você é jovem, dá pra
imaginar esse impacto que ela ta vivendo, que emoção, que desespero, que desamparo a Marilane não deve ta passando. Mas, de
qualquer forma, o fato dela ta aqui no nosso programa...Eu agradeço demais a sua presença aqui porque eu acho que é até uma
maneira de reagir, de um jeito positivo a essa situação. A sua filha foi morta por uma briga de mulheres, quer dizer, as duas
namoravam o mesmo rapaz. A sua filha namorava esse rapaz, essa moça que matou ela também namorou esse rapaz e, de repente,
ela por ciúmes resolveu matar a sua menina da maneira mais covarde como nós todos ficamos sabendo. A sua filha participava de
gangues, brigava com outras meninas na escola, quer dizer, ela era uma menina violenta, qual era o perfil da Elen?
Marilani Cândido Ferreira: Uma pessoa muito calma como eu, muito tranqüila, tinha muitas amizades, invejada por isso. Ela
namorou com essa pessoa em 2003, desmanchou esse namoro em começo de 2004 por intervenção dessa menina. Eu acho que ela
julgava que ela tava gostando dele e a minha filha continuou a vida. Depois disso, ela namorou duas outras pessoas, inclusive um
relacionamento terminou há um mês atrás. Ela estava muito chateada porque ela gostava muito dessa pessoa. E simplesmente de lá
pra cá, desde essa época que ela namorou, ela foi visada por essa pessoa.
Silvia: por essa menina? Essa outra moça que matou ela? Ela foi visada do que?
Marilani: Ela simplesmente dizia que ia catá-la, pegá-la, tanto é que em 2005, ela sofreu uma violência por parte dessa menina.
Silvia: Uma vez ela já havia apanhado?
Marilani: Apanhou, ficou com o dedo do pé quebrado, várias escoriações pelo corpo, hematomas.
Silvia: E como é que vocês reagiram a isso, quer dizer, uma filha sua apanhar na rua já é uma coisa que você vai na polícia né? Quer
dizer você já não aceita uma situação dessas.
Marilani: Fui, fui a polícia, fiz ocorrência. Só que são menores. Nem pai, nem mãe, nem ninguém apareceu no dia, só minha mãe e
ela, porque na época eu estava trabalhando. O ano passado ela não estudou pelo que ocorreu, ela ficou com medo e perdeu o ano.
Este ano ela falou “mãe, eu vou enfrentar, eu vou estudar”. Justo na escola que ela foi, no primeiro dia de aula, ela encontrou essa
menina lá. Ela chegou pra mim, no primeiro dia de aula, “mãe, não vai prestar, mas eu vou enfrentar”. Porque logo no primeiro dia
ela olhou feio pra minha filha e simplesmente foi uma coisa planejada, bem planejada, porque essa aluna não ia pra escola
constantemente, mais faltava do que ia, e nessa segunda-feira, dia 27, ela já foi armada e disposta a fazer o que ela cometeu.
Silvia: Como é que ela matou a sua filha?
Marilani: (ao choro) Ela levou uma facada, com certeza num lugar vital, pelo que dizem, a facada pegou assim (perto do coração),
deve ter pegado em alguma veia e ela morreu esvaindo em sangue, foi o que os médicos falaram pra mim quando eu cheguei no
hospital. Quatro médicos olharam pro meu rosto e falaram que não puderam fazer nada por ela, nada. Porque ela morreu
simplesmente jorrando sangue e não tinha nada pra ser feito. Segundo a mãe, pelos depoimentos, pelas pessoas que chegam em mim
e contam, disse que ela já tinha problemas com essa filha em casa, sempre teve e nunca tomou providência nenhuma, enquanto com
a minha filha eu nunca tive problema nenhum e acontece uma coisa dessa.
Silvia: Eu acho uma fatalidade, uma coisa que não tem, que não tem explicação lógica...E é uma sensação que... quantos outros
filhos você tem?
Marilani: Eu tenho só mais uma...
Silvia: Mais uma menina... como é que ela ta?
Marilani: Ela enfrenta melhor do que nós, talvez pela idade dela, ou talvez pela ingenuidade dela porque ela só tem seis anos. Ela ta
melhor do que todos nós em casa.
Silvia: Vocês estão impactados ainda né?
Marilani: Estamos!
Silvia: Porque é covarde, é uma surpresa, quer dizer é uma coisa que você não pode, isso não ta no script de nenhuma mãe, de
nenhuma família, de imaginar uma possibilidade, de uma filha ser morta com 17 anos por causa de briga de namorado e de repente a
pergunta: por que numa briga de namorado uma outra jovem acha que é tão fácil ir lá e matar uma outra menina na porta da escola?
Eu acho que é isso que começa a fazer parte do nosso dia-a-dia e que não era assim. Era na calada da noite, era escondido, um
crime... era uma coisa muito mais...hoje não! A menina tem quase que uma autorização, ela se sente autorizada pra ir na porta da
escola, na luz do dia, pegar uma arma e matar uma outra menina na frente de todo mundo.
Especialista: A impressão que dá é que no máximo pode acontecer uma vergonha, uma punição, mas culpa do estrago que foi feito...
essa noção, esse acesso a lei de achar que algumas coisas pode e outras não pode, essa é a grande dificuldade, o grande desafio da
nossa sociedade. Isso não começou assim. Vai aos poucos, cada vez mais vão piorando as situações de abuso e nunca é da noite pro
dia.
Silvia: É uma questão de impunidade, quer dizer, ela deve achar que não vai acontecer nada com ela, porque ela é mais jovem, ela
tem 17 anos e é a primeira vez que ela faz umas coisas dessas, quer dizer, deve passar esse tipo de raciocínio.
Especialista: E acho que tem a ver, se a gente olhar, com um contexto que é maior, a historia daquela dancinha que foi feita no
congresso... esse tipo de atitude vai mostrar que a impunidade ta ai e não tem problema pra todo mundo, ta dado. Então, às vezes,
nem é uma questão dos dados estatísticos de ta aumentando ou não. É de que cultura que a gente ta criando do que pode ou do que
não pode ser feito, do que constrange ou não constrange, do que a gente sente vergonha, do que a gente não sente vergonha.