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Cena VIII
Joana, Brites, Peres, Inês e Mendes.
MENDES – Podes levá-la, compadre; mas olha, que arrastando-a pelas ruas que
estão cheias de povo, vais expor-te e expô-la às zombarias e às risadas de todos...
PERES – Se ela pusera cabeça fora da cadeirinha, mato-a!...
MENDES (Rindo) – E que, abusando do teu nome, mandei embora a cadeirinha...
teus escravos me obedeceram... e foram-se.
PERES – Padrinho corrompido e corruptor!... não faltam cadeirinhas de aluguel a
passar, e vê o que faço a teu despeito e em tua própria casa (A Inês) Filha amaldiçoada,
espera aqui! (Abre a porta do quarto onde está Benjamim: empurra Inês para dentro
tranca a porta e tira a chave).
JOANA – Peres, aí não, Peres!... (Mendes puxa Joana).
BRITES – Meu pai! nesse quarto, não! (Mendes puxa Brites).
PERES (Ao postigo
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) – Há de passar alguma cadeirinha...
JOANA – Peres! não sabe o que fez!... (Mendes puxa-a).
MENDES (As duas) – Calem-se!... estão entornando o caldo...
JOANA – Minha filha não pode estar trancada... ali...
BRITES – Não pode, meu pai; atenda!...
PERES (Ao postigo) – Pode e quero!... está muito bem... está perfeitamente naquele
quarto! é minha vontade que ali fique... uma. duas horas até que passe uma cadeirinha!
(Joana e Brites agitadas).
MENDES – Aprovo, compadre, aprovo, e tomo tabaco. (Toma).
Cena IX
Joana, Brites, Peres, Mendes, Pantaleão, Cônego Benedito e logo, Inês e Benjamim.
PANTALEÃO – Eu e o nosso amigo cônego Benedito (Entram).
MENDES (A Benedito) – Chegou a propósito, meu vigário geral!
BENEDITO (Aperta a mão de Mendes) – Sra. Joana! menina Brites!
(Cumprimenta).
PERES – Cônego! (Vem apertar-lhe a mão).
BENEDITO – Peres!... sei que aflição te consome; há, porém, na igreja remédio
para todos os sofrimentos. Que é da menina Inês, contava com ela aqui... e vim...
PERES – Inês está trancada por mim naquele quarto; mas quem dispõe do seu
destino, sou eu só,
MENDES – Tal e qual, meu amigo, e tanto que ele trancou-a no quarto, deixando-a
fechada e só com o seu namorado!...
PERES – Oh!... calúnia infame!... (Abre a porta do quarto e saem dele Inês e
Benjamim) Miserável! (A Benjamim, Benedito sustem Peres).
BENJAMIM – Oh, e esta? tenho eu a culpa de que o senhor trancasse a menina no
quarto, onde eu estava tão sossegado!...
BENEDITO – Vem cá, Peres!... (A um lado) Não estás vendo, que a providência o
quer?...
PERES – Juro que não sabia... que ele estava lá...
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Pequena abertura quadrada numa porta, de onde se permite observar sem abrir.