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Saneamento Básico: Em Busca da Universalização
e de controle de qualidade, estes serviços, estarem concedidos a
um único concessionário. A idéia de um modelo que conceba a
decomposição dos serviços em sub-sistemas independentes, apa-
rentemente, subverte esta lógica e, baseada na certeza da ne-
cessidade de mantê-la, esta idéia jamais foi discutida a sério.
O fulcro da discussão está na viabilização econômica da presta-
ção do serviço que necessitaria de um grande número de ativi-
dades para garantir a sustentabilidade econômica do conjunto.
Mas as empresas que detêm as concessões, já há mais de vinte
anos, por razões de ordem administrativa, praticam a terceirização
dos serviços, que poderiam assumir a característica de parce-
ria
45
, mas que freqüentemente assumem um caráter tradicional
no qual, segundo Armando Souza Prado
46
“o preço é decisivo
para a transferência”, o que pode permitir distorções: “compor-
tamentos simulados para preservar interesses individuais; utili-
zação de mão de obra não especializada, gerando resultados téc-
nicos insatisfatórios e inexpressivos; exploração econômica da
mão-de-obra; estimulando a desmotivação, baixa produtivida-
de, alta rotatividade e reclamatórias trabalhistas;
descumprimento de obrigações trabalhistas como fonte de ren-
da; taxa de administração incompatível com os custos
operacionais, salários pagos e encargos sociais; interferências da
contratante na administração da atividade para obter um míni-
mo de qualidade.”
47
O que claramente se conclui é que a argumentação da necessi-
dade da integralidade dos serviços para a manutenção da sua
rentabilidade não se sustenta, uma vez que os próprios conces-
sionários fazem esta decomposição. Não é possível que a em-
presa contratada, como terceirizada para fazer ligação domicili-
ar, ou para fazer desobstrução de redes de esgotos, não tenha
rentabilidade. O que dizer, então, de uma empresa que opere
uma estação de tratamento de água ou de esgotos, um poço
profundo ou uma barragem em sistema de BOT
48
, quando as
empresas arcam inclusive com os custos de investimento de ape-
nas um segmento dos inúmeros que existem no sistema e, claro,
são rentáveis.
47. Idem.
45. A terceirização é inseparável
da idéia de parceria.
Segundo Lívio Antonio
Giosa a terceirização “é um
processo de gestão pelo
qual se repassam algumas
atividades para terceiros –
com os quais se estabelece
uma relação de parceria –
ficando a empresa
concentrada apenas em
tarefas essencialmente
ligadas ao negócio em que
atua” in Parceria na
administração Pública, Di
Pietro, Maria Sylvia Zanella
– Editora Atlas, São Paulo,
1999.
46. Citado em Parceria na
administração Pública, Di
Pietro, Maria Sylvia Zanella
– Editora Atlas, São Paulo,
1999.
48. BOT, Build – Operate –
Transfer, modalidade de
contratação de serviços de
terceiros no qual o
investidor privado constrói
o equipamento (estação de
tratamento ou qualquer
outro) o opera e cobra por
esse serviço durante um
período definido em
contrato e ao final deste
entrega o equipamento ao
contratante. Pretende
estimular e promover a
participação do investidor
privado na transferência de
tecnologia para o setor
público no desenvolvimento
de infra-estrutura urbana.