
ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO 11
Uma educação democrática deve levar em consideração as diferenças individuais e,
portanto, oferecer oportunidades de aprendizagem conforme as habilidades, interesses, estilos
de aprendizagem e potencialidades dos alunos. Nesse sentido, alunos com altas habilidades/
superdotados merecem ter acesso a práticas educacionais que atendam às suas necessidades,
possibilitando um melhor desenvolvimento de suas habilidades. Segundo Renzulli (1986), o
propósito da educação dos indivíduos superdotados é fornecer aos jovens oportunidades
máximas de auto-realização por meio do desenvolvimento e expressão de uma ou mais áreas
de desempenho onde o potencial superior esteja presente (p. 5).
Várias são as razões para justificar a necessidade de uma atenção diferenciada ao
superdotado. Uma delas é por ser o potencial superior um dos recursos naturais mais preciosos,
responsável pelas contribuições mais significativas ao desenvolvimento de uma civilização.
Com relação a esse aspecto, Sternberg & Davidson (1986) lembram, por exemplo, que, quando
se volta à História e se buscam os pilares das grandes civilizações, invariavelmente as
contribuições artísticas, filosóficas e científicas, frutos da inteligência, talento e criatividade
de alguns indivíduos ou grupos de indivíduos, são apontadas ou enaltecidas. Com relação à
educação infantil, sabe-se que o período que antecede a educação fundamental é da maior
importância para o desenvolvimento cognitivo e psicossocial. Nesse período, as influências
do ambiente desempenham um papel fundamental para o desenvolvimento do potencial de
cada criança. Propiciar condições que permitam a ela expressar seus interesses e desenvolver
possíveis talentos deveria ser o ponto de partida de uma educação diferenciada.
Observa-se, entretanto, que poucas são as oportunidades educacionais oferecidas ao
aluno com altas habilidades/superdotado para desenvolver de forma mais plena as suas
habilidades. Uma possível explicação para este cenário são os vários mitos sobre o
superdotado, freqüentes em nossa sociedade, que constituem entrave à provisão de condições
favoráveis à sua educação. Predomina, por exemplo, a idéia de que esse indivíduo tem recursos
suficientes para desenvolver suas habilidades por si só, não sendo necessária a intervenção
do ambiente. No entanto, é preciso salientar e divulgar entre educadores que o aluno com
altas habilidades/superdotado necessita de uma variedade de experiências de aprendizagem
enriquecedoras, que estimulem seu potencial. Outro mito é a de que essa criança apresenta
necessariamente um bom rendimento escolar. Porém, o que se tem observado é que indivíduos
superdotados podem apresentar um rendimento aquém de seu potencial, revelando uma
discrepância entre seu potencial e seu desempenho real (Alencar & Fleith, 2001; Alencar &
Virgolim, 1999). Muitas vezes, o aluno com altas habilidades/superdotado pode ficar
desmotivado com as atividades implementadas em sala de aula, com o currículo ou métodos
de ensino utilizados (especialmente a excessiva repetição do conteúdo, aulas monótonas e
pouco estimuladoras, e ritmo mais lento da classe).
Acredita-se, ainda, que superdotação é um fenômeno raro e que são poucas as crianças
e jovens de nossas escolas que poderiam ser considerados superdotados. O que pode ser
salientado é que se realmente as condições forem inadequadas, dificilmente o indivíduo com
um potencial maior terá condições de desenvolvê-lo. Assim, da mesma forma que uma boa
semente necessita de condições adequadas de solo, luz e umidade para desenvolver-se,
também o aluno com altas habilidades/superdotado necessita de um ambiente adequado
estimulador e rico em experiências. Observa-se, também, uma tendência no sentido de se
acreditar que os superdotados estariam concentrados em apenas uma parcela da população,
que seria entre indivíduos do sexo masculino, de nível socioeconômico médio. De modo geral,