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Nos anos 1990, a mudança da política econômica – especialmente com a contra-
reforma do Estado, as privatizações e o aprofundamento da abertura da economia –
implicou numa espécie de redução do setor produtivo
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e do volume de ocupações não-
agrícolas, considerando-se o crescimento da população economicamente ativa.
Em conseqüência do mal desempenho do emprego assalariado agrícola e não
agrícola, o número do total de pessoas ocupadas aumentou somente 11,5% na
década, [...] num ritmo médio anual de 1,1%, absorvendo, em média, por ano
somente cerca de setecentos mil novos trabalhadores, praticamente metade do
aumento anual da população ativa (em média 1,3 milhão por ano). Por esse
motivo, na década de 1990, houve uma verdadeira explosão do desemprego
aberto que passou de menos de 5% da PEA, em 1989, para 10,4% em 1999. A
população ativa continuou aumentando em ritmo intenso (em torno de 2%a.a.),
apesar de a população total estar crescendo somente 1,5% a.a., metade do ritmo
que prevaleceu até meados da década de 1970. [...] Trata-se, não obstante, de um
estreitamento do mercado de trabalho que ocorreu em um país em que a
população ativa ainda cresce em ritmo muito expressivo, [...] com o que o
aumento do desemprego e do desalento em participar da atividade econômica é
muito mais produto da incapacidade de absorção do crescimento da população
ativa do que da redução no número absoluto de pessoas com emprego
assalariado, ao contrário do que sucede em países onde os efeitos sobre o
mercado de trabalho de uma reestruturação da economia com pouco investimento
e lento aumento do produto em meio a um lento crescimento da população ativa
(BALTAR In: PRONI e HENRIQUE (orgs.), 2003, p. 123 & 125).
Por sua vez, os processos de reestruturação produtiva implementados no Brasil
apresentam uma tendência a acentuar o desassalariamento, não pela diminuição do número
absoluto de assalariados, e sim porque os empregos formais extintos não têm sido
retomados com a melhoria da atividade econômica, conforme dito acima, sendo,
predominantemente, transformados em subempregos, embora assalariados. O que se revela
estruturalmente baixo é o crescimento da economia nos moldes em que está sendo
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“As transformações na economia brasileira durante a década de 1990, provocadas pela liberalização das
importações e da entrada e saída de capital e pela mudança no papel do Estado, modificaram expressivamente
a composição setorial e por posição na ocupação da geração de oportunidades de trabalho em atividades não-
agrícolas. De um lado, diminuiu a participação na geração do total de ocupações, de setores como a indústria
de transformação, outras atividades (finanças), e outras atividades industriais (extração mineral e serviços de
utilidade pública), tendo aumentado a de setores como comércio de mercadorias, serviço doméstico,
construção civil, educação, alojamento e alimentação, serviços auxiliares da atividade econômica, saúde e
serviços domiciliares (segurança e limpeza). De outro, diminuiu a participação na geração do total de
ocupações, dos empregos celetista e estatutário em estabelecimentos, tendo aumentado as de empregados sem
carteira, empregadores, trabalhadores por conta própria, trabalhadores sem remuneração (estagiários e
membros da família que ajudam os por conta-próprias) e serviço doméstico remunerado” (BALTAR In:
PRONI e HENRIQUE (orgs.), 2003, p.138).