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INÊS CARDIN BRESSAN
AFRÂNIO COUTINHO, CRÍTICO E HISTORIADOR DA LITERATURA
BRASILEIRA: UMA LEITURA.
ASSIS – SP
2007
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INÊS CARDIN BRESSAN
AFRÂNIO COUTINHO, CRÍTICO E HISTORIADOR DA LITERATURA
BRASILEIRA: UMA LEITURA.
Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências de Letras
de Assis – UNESP – Universidade Estadual Paulista, para a
obtenção do título de Mestre em Letras (Literatura e Vida
Social).
Orientador: Doutor Luiz Roberto Velloso Cairo.
ASSIS – SP
2007
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3
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Biblioteca da F.C.L. – Assis – UNESP
Bressan, Inês Cardin
B843a Afrânio Coutinho, crítico e historiador da literatura brasilei-
ra: uma leitura / Inês Cardin Bressan. Assis, 2007
196 f.
Dissertação de Mestrado – Faculdade de Ciências e Letras
de Assis – Universidade Estadual Paulista.
1. Crítica. 2. Literatura brasileira – História e crítica. 3. Cou-
tinho, Afrânio, 1911-2000. I. Título.
CDD 801.95
869.909
4
Dedico este trabalho ao meu filho, razão da
minha vida; ao meu marido, querido
companheiro de sempre, que me perdoou do
tanto que o esqueci, por muitas e muitas horas
seguidamente, nestes últimos quatro anos de
trabalho; a minha mãe, que pelo seu exemplo,
me ensinou o amor à leitura; a minha irmã
Cecília e a toda a minha família, pela paciência
em me ouvir falar da pesquisa.
5
Agradeço em especial ao meu orientador Prof.
Luiz Roberto Velloso Cairo, pela atenção,
carinho e dedicação que sempre me destinou e
aos meus amigos Maria Miguel, Cipriano e
Silvânia, por todo o apoio e compreensão
durante esta etapa.
6
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo central a leitura da obra do historiador e crítico literário
Afrânio Coutinho (1911-2000), bem como a apresentação de seu método crítico, ressaltando o
seu pensamento a respeito da literatura como fenômeno estético, fugindo da abordagem
positivista, que estudava o fenômeno literário a partir de valores extrínsecos como a biografia
do autor, o contexto histórico no qual este estava inserido, dentre outros, sem levar em
consideração os fatores intrínsecos do mesmo. Além disso, traça-se um panorama analítico
das histórias de literatura brasileira publicadas antes e depois d'A Literatura no Brasil, com
considerações a respeito de seus autores. Motivou a realização do trabalho, a necessidade
sentida de uma releitura da obra de Afrânio Coutinho, salientando que A Literatura no Brasil,
sua principal obra, é um projeto escrito a várias mãos, o que faz dela um vasto painel de
múltiplas visões, que leva o leitor à absorção de um número maior de pontos-de-vista a
respeito do fato literário.
Palavras-chave: Literatura Brasileira, História Literária, Crítica Literária, Afrânio Coutinho.
7
ABSTRACT
The present dissertation has the work of the literary critic and history scholar Afrânio
Coutinho (1911-2000) as its central point, as well as the presentations of his critical method,
emphasizing his thoughts about literature as an esthetic phenomenum, leaving behind the
positivist approach which studied the literary work from extrinsic values like the author’s
biography, the historical context in which the work was inserted, among other values, without
taking its intrinsic values into account. Besides this, an analytical map of the histories of the
Brazilian literature published before and after. A Literatura no Brasil is done, with
considerations about its authors. The need to reread the work of Afrânio Coutinho motivated
the accomplishment of the dissertation, emphasizing the A Literatura no Brasil, his main
work, is a project written by many hands, which makes it a vast panel of multiple visions, that
leads the reader to the absorption of a larger number of point-of-view concerning the literary
act.
Key words: Brazilian Literature, Literary History, Literary Criticism, Afrânio Coutinho
(1911-2000).
8
AFRÂNIO RETRATO INSTANTÂNEO
Graça Coutinho
Em eterna tela
Te perduro
Fotografo em letras
História de vida
Aura imortal
Afago teu saber
Em minha essência
Tentando manter viva
A chama insana
De lutar sem armadura
Enquadro em close
Suas idéias
Gravo takes de pensamento
Congelo em câmera lenta
Imagens para o infinito
9
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 11
1. AFRÂNIO COUTINHO: UM OLHAR SOBRE O HISTORIADOR E O CRÍTICO
LITERÁRIO ........................................................................................................................... 14
1.1 Breve histórico da crítica literária brasileira ................................................................... 17
1.2 O método crítico de Afrânio Coutinho ........................................................................... 20
2. HISTÓRIAS DA LITERATURA PUBLICADAS ANTES D’ A LITERATURA NO
BRASIL [1955], DE AFRÂNIO COUTINHO ...................................................................... 48
3. A LITERATURA NO BRASIL: A VISÃO DO ORGANIZADOR .................................. 77
3.1 Prefácio da primeira edição - 1955 ................................................................................. 91
3.2 Prefácio da segunda edição –1968.................................................................................. 97
3.3 Prefácio da terceira edição 1986 ................................................................................... 107
3.4 Literatura Brasileira – Introdução................................................................................. 107
3.5 O Barroco ..................................................................................................................... 111
3.6 Neoclassicismo e Arcadismo. O Rococó ...................................................................... 114
3.7 O Movimento Romântico ............................................................................................. 116
3.8 A crítica literária romântica .......................................................................................... 118
3.9 Realismo. Naturalismo. Parnasianismo ........................................................................ 119
3.10 Crítica Naturalista e Positivista .................................................................................. 120
3.11 O Regionalismo na ficção........................................................................................... 121
3.12 Simbolismo. Impressionismo. Modernismo ............................................................... 124
3.13 O Modernismo na ficção ............................................................................................ 127
3.14 A Crítica Modernista .................................................................................................. 127
3.15 Nota Explicativa ......................................................................................................... 130
3.16 Ensaio e Crônica ......................................................................................................... 131
3.17 Historiografia Literária em novo rumo ....................................................................... 132
10
3.18 Ainda e sempre a Literatura Brasileira ....................................................................... 133
3.19 Ainda e sempre a Língua Brasileira ........................................................................... 135
3.20 Visão final .................................................................................................................. 137
4. HISTÓRIAS DE LITERATURA PUBLICADAS DEPOIS D’A LITERATURA NO
BRASIL [1955], DE AFRÂNIO COUTINHO .................................................................... 140
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 154
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 159
BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................. 162
ANEXO .................................................................................................................................. 167
11
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objetivos principais a leitura da obra do
historiador e crítico literário Afrânio Coutinho (1911-2000), a discussão de seu método crítico
e a análise de textos de sua autoria publicados n’A Literatura no Brasil (1955). Considerando
a importância da obra crítica e historiográfica do referido autor para as letras brasileiras, este
trabalho justifica-se por propor tais objetivos e dar relevância à obra A Literatura no Brasil
que se estabelece, nos anos 50 do século XX, juntamente com a Formação da Literatura
Brasileira, de Antonio Candido, como um divisor de águas da historiografia e da metodologia
dos estudos literários no Brasil, até então marcados por uma visão positivista e historicista.
Vários estudos têm sido feitos sobre o ensaio historiográfico de Antonio
Candido e de sua obra crítica, no entanto, passado meio século da publicação da história da
literatura brasileira de Afrânio Coutinho, há muitas referências, pequenos artigos, mas poucos
estudos verticalizados a respeito d’A Literatura no Brasil, ou mesmo do conjunto de sua obra
crítica. Daí a necessidade da realização de uma dissertação de mestrado sobre esta importante
obra, apontando para uma reflexão sobre as idéias críticas de seu idealizador.
Em A tradição afortunada (1968), Afrânio Coutinho chama a atenção para a
coerência da literatura brasileira e para o fato de que, desde 1830, a preocupação com o
conceito de nacionalidade é uma temática comum entre os críticos e historiadores. Tanto o
Romantismo quanto o Realismo, ressaltando as suas particularidade, buscaram no encontro
dessa fórmula nativista constituir esse sonho brasileiro. No século XIX, procurou-se a
afirmação da nacionalidade através da “cor local”, de assuntos históricos, dos costumes e das
tradições populares, para se poder chegar ao século XX em plena maturidade.
N’A Literatura no Brasil, o crítico demonstra uma clara dimensão de sua
preocupação com o registro das letras brasileiras, traçando um painel completo de tudo que se
fez aqui em termos de produção e de crítica literária. É com Afrânio Coutinho que a crítica
12
literária brasileira se profissionaliza. Sua obra é extensa e requer um estudo minucioso. Ao
lado de Antonio Candido, é notória sua influência nos críticos, historiadores e estudiosos da
área de Letras, carecendo por isso mesmo de uma reflexão que venha proporcionar uma
revisão e conseqüente reavaliação de suas idéias.
Embora este trabalho seja uma pesquisa de caráter bibliográfico, houve certa
dificuldade em encontrar todas as obras de Afrânio Coutinho, o que justifica a ausência de
análise de algumas delas.
O trabalho obedecerá às seguintes etapas: no primeiro capítulo, a ênfase é para
o mestre de cerimônia d’A Literatura no Brasil e o panorama de sua vida literária. Além
disso, realiza-se também um mapeamento de suas obras, ressaltando-se o seu método crítico,
cujas análises privilegiam o estético. No segundo capítulo, pretende-se realizar um estudo
comparado das histórias da literatura brasileira publicadas antes d’A Literatura no Brasil
(1955), enfocando pressupostos e visões de cada autor, ressaltando tanto os pontos em
comum, quanto os divergentes. São eles: Domingos José Gonçalves de Magalhães, Joaquim
Norberto de Souza e Silva, Santiago Nunes Ribeiro, Francisco Adolfo de Varnhagen,
Ferdinand Wolf, Fernandes Pinheiro, Sílvio Romero, José Veríssimo, Ronald de Carvalho,
Arthur Motta, Afrânio Peixoto, Nelson Werneck Sodré, Bezerra de Freitas, José Osório de
Oliveira e Antônio Soares Amora.
No terceiro capítulo, trata-se da estrutura d’A Literatura no Brasil, as
modificações ocorridas desde a primeira edição de 1955, até a última de 2003, o estudo dos
textos da autoria de Afrânio Coutinho, refletindo sobre suas idéias críticas, sempre em diálogo
com autores contemporâneos. No quarto capítulo, são analisados alguns aspectos das histórias
da literatura brasileira publicadas após A Literatura no Brasil, a citar, Antonio Candido,
Alfredo Bosi, José Guilherme Merquior, Luiz Roncari, Luciana Stegagno Picchio e José
Aderaldo Castelo, apontando os pontos que as aproximam ou as distanciam da visão proposta
13
por Afrânio Coutinho, uma vez que coube a ele, em 1955, estabelecer no seu projeto de
história da literatura brasileira, uma periodização estilística, e, ao organizar uma obra coletiva,
oferecer aos leitores múltiplas visões sobre a literatura brasileira.
14
1. AFRÂNIO COUTINHO: UM OLHAR SOBRE O HISTORIADOR E O CRÍTICO
LITERÁRIO
Conhecer o fato e o contexto histórico que geraram uma obra é fundamental,
no entanto a verdadeira obra de arte não se sujeita aos limites de tempo e de espaço. Ela é
atemporal e universal porque registra algo que faz parte da essência da condição humana, e,
por isso mesmo, mexe com a sensibilidade e com a consciência de qualquer ser humano.
Estabelecer a diferença entre literatura e história da literatura colabora na compreensão do
fato literário. Na visão conceitual de Afrânio Coutinho (1911-2000):
A literatura é uma arte, a arte da palavra, isto é, produto da imaginação criadora,
cujo meio específico é a palavra e cuja finalidade é despertar no leitor ouvinte o
prazer estético e sua crítica deve obedecer a esses elementos intrínsecos
(COUTINHO, 2003, p. 46).
Para história da literatura, buscou-se o significado no ensaio de Eduardo
Coutinho (1946), “Comparativismo e historiografia literária”:
História da Literatura não é o mero registro acumulativo de tudo o que se produziu,
nem a simples compilação de temas ou formas, mas a reescritura constante de textos
anteriores com o olhar do presente, os historiadores da literatura engajaram-se no
que Fernand Braudel designou de uma verdadeira dialética entre o passado e
presente, e passaram a orientar suas obras por critérios calcados nessa dialética. Os
fatos, os fenômenos ou acontecimentos relatados pelo historiador literário ocorreram
no passado, mas como seu relator também é um indivíduo historicamente situado,
ele constrói sua narração à luz de uma visão comprometida com o tempo e o local da
enunciação. Como construção discursiva, a história literária é a narrativização de
eventos literários, e como tal ela não pode fugir ao movimento hermenêutico
referido (COUTINHO in MOREIRA, 2003, p.16).
Existe
1
uma necessidade e uma vontade de representar o passado, de fazê-lo
presente e a história é a reconstituição de algo sucedido, feito na tentativa de reconstruir o que
houve, logo uma das maneiras para representar o passado com eficácia, é o texto literário.
Neste capítulo o enfoque é para a figura de Afrânio Coutinho, que tão bem representou o
passado literário brasileiro, e para o panorama da vida literária deste historiador e crítico.
1
No que se refere a citações, foram mantidas as transcrições literais
15
Pretende-se também tecer alguns comentários sobre suas obras, sua fortuna crítica e
especificamente demonstrar qual o seu método crítico, cujos trabalhos privilegiam a
valorização do estético.
Afrânio Coutinho viveu 89 anos, de 1911 a 2000. Que Brasil abrigou este
crítico literário e que marcas teria deixado em sua produção?
A República estava consolidada e Prudente de Morais (1841-1902) foi o
primeiro civil a ocupar a presidência. Entre 1895 e 1897, ocorre a tragédia de Canudos,
narrada por Euclides da Cunha (1866-1909) em Os Sertões, publicado em 1902. Neste
período, o vulto mais importante da Literatura Brasileira era Machado de Assis (1839-1908),
de prestígio incontestável. Coube-lhe, naturalmente, a presidência da Academia Brasileira de
Letras (ABL), quando um grupo de quarenta escritores fundou-a, em 1897.
No Rio de Janeiro, a vida literária era ativa. Os escritores encontravam-se em
rodinhas e nas confeitarias para discutir as últimas novidades, e foi, neste palco, que o
Modernismo despontou em São Paulo, concretizando-se na Semana de 22. A problematização
de uma “linguagem brasileira”, iniciada com este novo movimento, amadureceu na literatura
social de 1930. Afrânio Coutinho era jovem, quando a Literatura Brasileira passava por estas
importantes transformações, e o Brasil vivia momentos agitados. Era o início do ano de 1930,
e o país vivia as conseqüências da crise econômica mundial, gerada pelo crack da Bolsa de
Nova York, em 1929. Na época da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a Literatura
Brasileira registrou um estado novo de coisas, bem acentuado por Carlos Drummond de
Andrade (1902-1987) como sendo a “nova aurora”, com uma literatura de nível superior.
Surgem, então, Graciliano Ramos (1892-1953), José Lins do Rego (1901-1957), Dionélio
Machado (1895-1985), Érico Veríssimo (1905-1975), Jorge Amado (1912-2001) e Raquel de
Queirós (1910-2003).
16
Renard Perez, em matéria para o jornal O Correio da Manhã, em 1957, no Rio
de Janeiro, afirmou ter sido a data de nascimento do crítico alterada de 1911 para 1910, a fim
de que pudesse entrar para o ensino superior. Cursou a Faculdade de Medicina, na Bahia, e
embora tivesse concluído o curso, não exerceu a profissão de médico. Era um aluno exemplar,
apaixonado por leitura e um estudante que, até no bonde, aproveitava o seu tempo para ler.
Sua paixão por leitura era tamanha que passou a ser conhecido, entre os colegas, “por aquele
aluno que sempre tinha embaixo do braço um livro, mas nunca um livro de medicina”
(PEREZ in LIMA, 1984, p. 425). Com o que lhe sobrava da mesada, adquiria exemplares dos
clássicos da literatura, completando, desta forma, suas coleções de Machado de Assis, Eça de
Queiroz (1845-1900) e tantos outros. Foi orador da turma de Medicina e, sobre seu discurso, o
crítico baiano Carlos Chiacchio (1884-1946) publicou, em 1931, um ensaio crítico. Afrânio
Coutinho relegou a profissão de médico e substituiu-a pela literatura.
O crítico atuou na imprensa baiana, divulgando as idéias de Daniel Rops (1901-
1965) e Jacques Maritain (1882-1973), cujas obras também traduziu. Mais tarde, relacionou-
se com Daniel Rops, Denis de Rougemount (1906-1985) e Emannuel Mounier (1905-1950),
mas recebeu influências de Jacques Maritain, retornando à fé católica e sendo seu aluno,
posteriormente, em Nova York. Ainda segundo Renard Perez, no que se refere à crítica
literária, as preferências literárias de Afrânio Coutinho sempre foram Samuel Taylor
Coleridge (1772-1834), Charles Sainte-Beuve (1804-1869), Benedetto Croce (1866-1952),
Paul Valéry (1871-1945), T. S. Eliot (1888-1965) e J. B. Du Bos (1670-1742). Entre os livros
que prezava estavam a Poética, de Aristóteles, a Bíblia e a Ilíada e a Odisséia, de Homero.
Apreciava, também, Michel E. de Montaigne (1533-1592), Blaise Pascal (1623-1662),
Gustave Flaubert (1821-1880) e William Shakespeare (1564-1616). Figuraram, entre outros
escritores portugueses de sua preferência, Padre Antônio Vieira (1608-1697), Dom Francisco
Manuel de Melo (1608-1666) e Luís Vaz de Camões (1525-1580). No Brasil, seu gosto recaía
17
sobre Machado de Assis, Graciliano Ramos, Castro Alves (1847-1871) e Carlos Drummond
de Andrade.
Em 1932, o autor em pauta deixou o país para secretariar a edição brasileira do
Reader’s Digest – as “Seleções”, e durante os cinco anos em que esteve em Nova York,
dedicou-se a cursos de literatura e crítica literária, aprimorando sua performance como crítico
e publicando artigos sobre o Brasil nas revistas americanas Commonweal, Free World e New
Leader.
1.1 Breve histórico da crítica literária brasileira
Segundo Afrânio Coutinho, o Brasil vivia no início de 1870, uma profusão de
inovações, e o Romantismo esvaía-se. Em 1880, uma nova era se iniciava, e esta foi dominada
pelo espírito filosófico, científico, de cunho materialista, naturalista e determinista. Nesta
época, a crítica seguia, basicamente, o critério sociológico, e a obra deveria ser estudada em
função das condições que tinham envolvido seu nascimento: origem, ambiente, influências da
raça e do meio, participação e intenção do autor. Alguns críticos eram impressionistas, outros,
no entanto, exerciam a crítica como um ato reflexivo, baseado em doutrinas e visando ao
julgamento do valor estético com cuidado e critérios devidos. Ainda segundo ele, se a
literatura evoluía, também evoluía a crítica e autores como Rocha Lima (1855-1927) e
Capistrano de Abreu (1853-1927) fundaram a Academia Francesa – sociedade informal, sem
direção em cujas reuniões, os sócios faziam discursos e apresentações de livros que tinham
lido. Sílvio Romero (1851-1914), José Veríssimo (1857-1916) e Araripe Júnior (1848-1911)
foram nomes expressivos na crítica naturalista/positivista. Nos escritos de Sílvio Romero,
Afrânio Coutinho afirmou haver o predomínio de uma concepção sociológica da literatura, e
18
sendo as obras literárias vistas como documentos. No que se refere a José Veríssimo, mostrou
ser ele beletrista e carente de cultura literária, e em relação a Araripe Júnior afirmou ser este
possuidor de um espírito mais cultivado na literatura universal, pois ele repelia a rigidez
doutrinária e suscitava a revisão de conceitos.
Na visão de Andrade Murici (1895-1984), no Simbolismo, havia uma
campanha de silêncio e de derrota para com este movimento. Assim, alguns autores não
superavam a timidez no que se referia aos modismos e às originalidades estéticas desta época.
A crítica, então, era incipiente, no entanto Nestor Vítor (1868-1932) foi o crítico simbolista de
maior expressão, ao lado de Gonzaga Duque (1863-1911) e Colatino Barroso (1873-1931).
Para Murici, Nestor Vítor possuía um estilo indomável e agreste, todavia obteve compreensão
por parte de Sílvio Romero, Ronald de Carvalho (1893-1935), Alceu Amoroso Lima cognome
Tristão de Athayde (1893-1983) e Afrânio Coutinho, pois exercia a crítica com sustentação.
Em parte por efeito da deficiência de informação cultural na maioria dos
Simbolistas que fizeram crítica, é manifesta neles a ausência de nítida consciência
dos aspectos doutrinários da tendência. Eram freqüentes o elogio e a defesa, muitas
vezes apaixonados, sobretudo, por Cruz e Souza (MURICI apud COUTINHO,
2002, p. 536).
Afrânio Coutinho afirma que embora o Modernismo tenha tido uma geração de
“espíritos críticos”, nenhum exerceu a crítica propriamente dita. Ocorreu um paradoxo entre o
processo de criação realizado por tais espíritos e o fato de nenhum deles ter sido levado
adiante. Mário de Andrade (1893-1945) e Tristão de Athayde exerceram sua crítica fora do
Movimento Modernista, embora esta crítica tenha chegado com atraso à década de 1950. Para
Coutiho, Mário de Andrade foi o verdadeiro crítico do Modernismo, mas foi Álvaro Lins
(1912-1970) que, em 1941, constatou a superação do Modernismo.
Pode se dizer que o Modernismo se fez sem a crítica e até contra a crítica, não
apenas a terrível “crítica falada” das ruas, dos salões e das livrarias, a que se referia
Sainte-Beuve, mas até contra a crítica dos jornais e das revistas, a crítica “oficial” e
atuante (COUTINHO, 1999, p. 591).
E ainda:
19
A crítica modernista, praticada por escritores que houvessem formado o seu espírito
modernista depois de 1922 (...) somente aparecerá na “terceira década”, ou seja, por
volta de 1940 (COUTINHO, 1999, p. 593).
Quanto à classificação da crítica Modernista, juntamente com Wilson Martins
(1921), afirmou:
É natural que a crítica tenha respondido a inspirações diversas nessas diferentes
fases da evolução literária. Procurar caracterizá-la é fazer a história da crítica
brasileira do Modernismo aos nossos dias. Pode-se dizer de uma forma geral, que a
nossa crítica foi sociológica, num primeiro período, social, num segundo período e
estética no seguinte – orientação, esta última que, havendo-se manifestado pelos
meados dos anos 40, prolonga-se e se consolida a partir de 1950 (COUTINHO,
1999, p. 598).
No período em que a crítica foi sociológica (1922-1928), os autores afirmaram
ser Oswald de Andrade (1890-1954), Tristão de Athayde, Nestor Vítor, e João Ribeiro (1860-
1934), os nomes mais expressivos desta fase. A literatura passou, então, a ser um instrumento
de ação sócio-política. A escala sociológica foi substituída pela crítica social (1930-1940),
destacando-se Mário de Andrade e Álvaro Lins. Segundo Wilson Martins, na crítica estética
de 1945, embora houvesse críticos que a exerciam, não havia ainda um teórico que tratasse
dela, baseando-se em métodos e doutrinas. Foi em 1948 que surgiu Afrânio Coutinho, cuja
obra:
Marca, por assim dizer, a “conscientização” correta dos problemas literários. (...)
Suas idéias essenciais podem ser assim resumidas: necessidade de criação de uma
consciência crítica para a nossa literatura, o que somente será possível pelo estudo
superior e sistemático de Letras; reconsideração dos problemas técnicos da poesia,
da ficção e do drama, especialização por parte da crítica inclusive em face dos
próprios gêneros literários; defesa da perspectiva estético-literária na apreciação da
literatura, contra o predomínio do método histórico; alargamento das influências
estrangeiras; descentralização intelectual do país, “conforme nossa realidade, que é
de base regional”, enfim, reconhecimento da autonomia própria da literatura e da
crítica (MARTINS in COUTINHO, 2002, p. 267).
Ainda segundo Martins, no Brasil, Afrânio Coutinho foi um dos primeiros a
levantar mais veementemente a bandeira de uma crítica universitária em que o estudo do
texto, da retórica, das formas, dos elementos construtivos da obra aparecessem como objeto
principal da crítica.
20
1.2 O método crítico de Afrânio Coutinho
Na sua trajetória crítica, Afrânio Coutinho produziu textos voltados para o
estabelecimento de uma consciência crítica baseada em critérios e padrões, tendo sido
chamado por Alceu Amoroso Lima de “o mais alto representante e introdutor da chamada
‘nova crítica’ entre nós” (LIMA in COUTINHO, 1987, p.14).
De 1948 até 1953, na seção “Correntes Cruzadas”, no suplemento literário
Diário de Notícias, Coutinho pôde iniciar seu trabalho de renovação da crítica literária,
defendendo, sobretudo, a metodologia estética para a análise do fenômeno literário. Em 1951,
alguns destes textos foram reunidos num volume intitulado Correntes Cruzadas, publicado
pela editora A Noite. No prefácio desta obra, Alceu Amoroso Lima afirmou referindo-se a ele:
De 1935 a nossos dias, ninguém se debruçou sobre a nossa literatura, com mais
amor, mais compreensão e mais capacidade expositiva do que essa biblioteca viva,
individual e ambulante de nossas letras (...) e nos tem dado, em qualidade e em
quantidade, a maior contribuição crítica expositiva, mas também criadora, que até
hoje foi dada à nossa criação estético literária (LIMA in COUTINHO, 1987, p. 14).
Durante a leitura de alguns textos referentes à obra Correntes Cruzadas, notou-
se que alguns autores referem-se a eles como crônicas, e outros, como ensaios. Segundo
Afrânio Coutinho, em Da crítica e da nova crítica (1957), o termo crônica sofreu uma
transformação, pois anteriormente era caracterizado como um gênero histórico. A partir desta
caracterização, passou a ser chamada de crônica a publicação semanal em jornais de
comentários e assuntos marcantes daquela semana, ou até acontecimentos que marcaram o
próprio autor. Tal termo também era usado para indicar relatos e comentários de fatos em
pequenas seções de jornais e acabou sendo definido pela própria literatura que produzia. Em
português, crônica passou, então, a ser um gênero, aliás, um gênero híbrido (mistura de
jornalismo e literatura). Como em outras obras há a denominação de ensaios para os textos
21
produzidos em Correntes Cruzadas, optou-se por chamá-los de ensaios, por eles se tratarem
de estudos:
O que nós chamamos no Brasil de ensaio (referente à literatura) é crítica. O sentido
que lhe emprestamos é de “estudo” crítico, pois a palavra neste passo perdeu o
sentido original, assumindo o feitio de estudo acabado, concludente, depois de
análise e pesquisas (COUTINHO, 1987, p. 277).
Embora a seção “Correntes Cruzadas” não fosse somente de crítica literária,
Afrânio Coutinho demonstrava através dela, suas idéias e crenças num estudo de literatura a
partir de métodos críticos.apresenta-se a seguir uma síntese das idéias introduzidas por ele,
durante os cinco anos em que estes ensaios foram publicados:
Durante muito tempo a literatura brasileira foi empírica e vista como resultado
de fatores externos não possuindo uma consciência crítica. A busca por esta consciência era
demonstrada semanalmente por Afrânio Coutinho:
A primeira idéia é a da necessidade de criação de uma consciência crítica para a
nossa literatura, que venha corrigir a atitude acrítica e empírica, segundo a qual a
literatura é um produto exclusivo das forças inconscientes, telúricas, selvagens,
virgens, primitivas, expressão do gênio local, indisciplinado, original (COUTINHO,
1987, p. 23).
Para a criação desta consciência, Afrânio Coutinho sugere um aprofudameto do
estudo superior de Letras, pois a profissionalização dos escritores gera o crescimento
intelectual, e conseqüentemente, ter-se-á melhores poetas, autores e até críticos.
O instrumento dessa reforma de conceitos e métodos de trabalho intelectual terá de
ser o ensino superior de letras ministrado nas Faculdades de Filosofia e Letras.
Criando melhores professores de letras e investigadores literários, estes, por sua vez,
melhorarão o ensino de letras no curso secundário. Daí sairão melhores poetas,
melhores romancistas, melhores críticos, melhores pesquisadores e trabalhadores
intelectuais. Não serão mais diletantes, autodidatas os homens de letras
(COUTINHO, 1987, p.23).
Decorrentes desses fatores haveria a melhora da retórica, a reconsideração da
poesia, da ficção e do drama, pois se há autores, escritores e poetas mais capacitados, há a
necessidade de melhores críticos mais eficientes.
22
Afrânio Coutinho deixa entrever sua oposição ao método histórico quando se
refere à “defesa da perspectiva estético-literária na apreciação da literatura contra o
predomínio do método histórico” (COUTINHO, 1987, p. 24). Sua ênfase é dada ao poético,
pois a história só tem valor na medida em que auxilia na compreensão da obra, funcionando
como um meio e não um fim.
Embora o crítico considere as influências estrangeiras importantes, ele sugere
que seja negada a passividade de recepção de valores estrangeiros. O que ressalta é o
aproveitamento adequado de tais influências. A valorização da produção intelectual
provinciana, também é um outro pressuposto de Afrânio Coutinho, pois ele afirma que:
A descentralização intelectual, conforme com a nossa realidade, que é de base
regional. Corresponde isso também a uma valorização da vida intelectual das
províncias absorvidas, anuladas pela Metrópole, que constitui o pólo de atração
permanente, concentrando os recursos e os postos de direção intelectual
(COUTINHO, 1987, p. 26).
Tido como um crítico intermediário entre uma crítica amadora e uma crítica
profissional, Afrânio Coutinho esclarece sua posição de inovação diante da “nova crítica”,
esta como atividade autônoma, porque a não observação do aspecto estético da literatura
conduz ao seu próprio desprestígio:
Não escapa a ninguém, todavia, a posição, quase diria ridícula, ao menos sem
sentido, dos que se esforçam por manter-se fiéis à Literatura nesse momento no
Brasil. Nunca foi a atmosfera tão pouco propícia ao exercício das letras puras. O
desprestígio da inteligência desinteressada mostra como não há lugar na sociedade
profundamente materializada de nossos dias senão para o combate político
(COUTINHO, 1987, p. 26).
O embate entre o empírico e o científico também foi observado pelo próprio
agente desta transformação, ou seja, o choque de duas tendências: o velho impressionismo e o
estabelecimento de critérios críticos. O ideal da crítica é ser o mais científica possível.
Duas tendências chocam-se nos dias correntes, no tocante à conceituação da crítica:
de um lado o velho impressionismo, em suas formas artísticas e seus espécimes
bastardos; do outro lado, as tendências ao estabelecimento de critérios críticos de
cunho objetivo, critérios “científicos” (COUTINHO, 1987, p. 28).
23
O autor d’A Literatura no Brasil fez ainda referência aos prejuízos do vício que
marcou os estudos literários do século XIX , que:
Por força do positivismo metodológico, nos estudos sistemáticos de letras, segundo
os critérios inspirados em Kant, Lessing, Herder, etc produziu-se máxime nos meios
universitários, uma exacerbação da erudição em detrimento da crítica, responsável
por um amontoado de mediocridades e futilidades saídas dos prelos universitários
(COUTINHO, 1987, p. 31).
A observação de uma obra de arte a partir de todos os seus aspectos, fará com
que a crítica literária alcance o seu objetivo, pois “o método ideal em crítica literária é o
integral, que hoje está sendo propugnado pelas correntes e figuras mais avançadas em todo o
mundo” (COUTINHO, 1987, p. 32).
A obra de arte é polimorfa e não será bem vista enquanto encarada por uma só face
do prisma. O conjunto de perspectivas é que oferece oportunidade para uma visão e
mediante certas técnicas de abordagem. Ao passo que outras escondem seus
segredos se são colocadas sob a luz de refletores (COUTINHO, 1987, p. 33).
Reforçando a idéia do autor, no que se refere à visão e análise da obra de arte:
O ideal crítico é ver a obra de arte em globo, mercê de um método integral, que use
os métodos de investigação extrínsecos e os intrínsecos ou ergocêntricos; os
genéticos, - psicológicos, sociológicos, histórico, cultural, - mas sem o predomínio
de um deles (COUTINHO, 1987, p. 34).
Também foi divulgada por Afrânio Coutinho, o estabelecimento de uma reação
de oposição ao método biográfico no qual, após a leitura de ensaios críticos conhece-se muito
mais sobre a vida do autor do que propriamente sobre a obra literária em questão.
Tal colocação do problema crítico põe em relevo a necessidade de uma reação
contra a preocupação biográfica em crítica, tão larga e tão devastadora entre nós,
onde, como bem acentua Afonso Arinos de Melo Franco, a biografia monopoliza as
atenções dos críticos e historiadores literários (COUTINHO, 1987, p. 35).
Afrânio Coutinho ressalta o conflito entre a crítica e a história, no entanto, a
sugestão é para que haja a fusão entre elas:
Mas esse conflito entre a crítica e a história literária tem outra conseqüência
igualmente funesta: é o desprezo dos historiadores e eruditos literários pela
literatura viva, contemporânea. Em geral, erudição literária confunde-se com
Literatura passada. É o que caracteriza a Literatura acadêmica, o espírito acadêmico
em Literatura (COUTINHO, 1987, p. 35).
24
No Brasil, há uma maior atribuição de valor à vida literária, que propriamente à
literatura, conseqüência do tipo de vida dos escritores brasileiros, que preferem viver
literariamente a se proporem a uma obra de criação:
A vida literária suplanta as obras. Enquanto a Literatura brasileira denota certa
pobreza em obras, é muito rica em figuras de homens curiosos, de homens de
espírito, numa palavra, em vidas. E a vida que se desenvolve em torno da Literatura
é de fato mais interessante, de modo geral, do que importantes as obras
(COUTINHO, 1987, p. 36-37).
Afrânio Coutinho também ressalta a resistência existente no exercício da crítica
desenvolvida com critérios, pois com ela se perdem os apadrinhamentos, os elogios
falsificados, as falácias e deixa exposta a fraqueza do escritor:
Quem quer que se arrogue a função de dizer coisas experimentará logo a reação.
Conhecerá os olhares de constrangimento, os sussurros significativos, os risinhos de
mofa, os silêncios reticenciosos, por vezes as reações desabridas, os castigos
exemplares, e as advertências caridosas. Verá relações esfriarem, sentirá a
boicotagem silenciosa ou pública, viverá sempre à margem (COUTINHO, 1987, p.
41).
Certamente, que durante o período de exposição destas idéias, Afrânio
Coutinho recebeu várias acusações e, dentre elas, está a de que suas propostas não saíam da
teoria para a prática. Em resposta, ele afirmou:
Talvez haja lugar aqui para mais uma nota pessimista ou ao menos de humildade:
nossa incompetência para realizar-nos, para concretizar aquilo que idealizamos ou
visualizamos. Falecem-nos as disciplinas, os recursos, mesmo quando não
ignoramos onde estão. As gerações como a de quem aqui escreve, comprometidas
por graves deficiências de formação e falta de orientação, agravados tais defeitos
pelas circunstâncias locais, é natural que se vejam peadas no realizar a operação de
passagem dos princípios básicos e dos planos teóricos para o plano da prática
(COUTINHO, 1987, p. 43).
Em texto escrito em 1995, para o jornal O Comércio do Porto, em Portugal,
Jacinto do Prado Coelho (1920-1984) observa que Afrânio Coutinho também recebeu
influências de Helmut Hatzfeld e René Wellek (1903-1995), cuja convivência determinou o
rumo de seu trajeto intelectual e cujas influências marcaram toda a sua trajetória. René
Wellek, juntamente com Austin Warren, são da geração de intelectuais que conciliam o
ensino de literatura ao da crítica, e esta foi introduzida no ensino superior. Ambos deixaram
25
clara sua posição de ensino de literatura sem qualquer ligação com as correntes atuantes da
vida, pois para eles os métodos extrínsecos têm valor, ainda que relativo, para a análise.
Os ensaios publicados no jornal, na seção “Correntes Cruzadas” após o ano
de 1953 até 1957, foram reunidos e publicados, no livro Da crítica e da nova crítica pela
Editora Civilização Brasileira, em 1957. Neste volume, reúne-se com algumas alterações
uma seleção destes ensaios publicados no suplemento literário do Diário de Notícias do
Rio de Janeiro. Embora diversos, os textos trazem como elo a preocupação com o
problema da crítica, sua natureza, função e finalidades e em especial as teorias e métodos
revolucionários que caracterizam sua fase atual de evolução. O enfoque das meditações é a
noção de que segue operando desde o início do século, uma transformação nas doutrinas e
métodos críticos.
Da crítica e da nova crítica, de 1957, traz a teoria do método crítico de
Afrânio Coutinho, cuja tradição foi baseada em Manfred Kridl, Warren e Wellek. Neste
livro Afrânio Coutinho distingue a crítica pela sua natureza e função: a primeira é uma
tarefa de analisar, interpretar e julgar a obra de arte literária com princípios e doutrinas; a
segunda é uma forma leve de crítica aplicada, ao mesmo tempo em que é um tipo de
jornalismo, visando informar o público sobre o movimento editorial. Há diversos tipos de
crítica: impressionista, judicante, biográfica, psicológica, histórica.
Referindo-se à crítica brasileira, aponta que esta tem sido exercida de duas
maneiras, uma no sentido estrito e a outra de forma militante. Nesta época somente eram
considerados críticos aqueles que dispunham de um rodapé ou seção biográfica de jornal,
por isso a crítica não passava do nível superficial, pois eram autores jovens,
despreparados, que a exerciam. Para Afrânio Coutinho, a crítica não é compatível com a
improvisação, o amadorismo, mas, necessita de doutrina e precisa ser encarada com um
espírito profissional.
26
Os principais pontos sustentados no livro Da crítica e da nova crítica são:-
a existência da diferença entre a crítica e o review, embora no século XIX e no início do
século XX fossem exercidos conjuntamente; - a atual situação de vida e o tipo de
jornalismo existente favorecem a crítica do tipo review; - só cabe ao review fazer a crítica
semanal, pois a crítica literária propriamente dita é uma atividade complexa e caminha em
direção ao livro, à revista, à cátedra; já a do review caminha para o rodapé e outras seções
de jornais sob formas de comentários. Para ele, fazer crítica com comentários nos rodapés
ou folhetins do jornalismo é confundi-la com propaganda ou noticiário.
Embora editado em 1957, Da crítica e da nova crítica possui uma
linguagem acessível para estudantes de nível superior e traz um manancial de informações
para quem quer se aprimorar no estudo da crítica literária. Abre também um leque de
teorias estrangeiras e delineia um panorama literário dos últimos cinqüenta anos.
Desde 1948, o autor d’A Literatura no Brasil defende a doutrina da crítica
intrínseca, baseiadae na análise dos elementos intrínsecos da obra:
Por ser de natureza estética, o fato literário, é histórico, isto é, acontece num
tempo e num espaço determinados. Há nele elementos históricos que o
envolvem como uma capa e o articulam com a civilização – personalidade do
autor, língua, raça, meio geográfico e social, momento; e elementos estéticos,
que constituem o seu núcleo, imprimindo-lhe ao mesmo tempo as características
peculiares, que o fazem distinto de todo outro fato da vida (econômico, político,
moral, religioso): tipo de narrativa, enredo, motivos, ponto de vista, personagem,
linha melódica, movimento, temática, prosódia, estilo, ritmo, métrica, etc.,
diferindo conforme o gênero literário, e ao mesmo tempo, contribuindo para
diferenciá-lo. Na organização da obra de arte, estes últimos elementos formam o
“intrínseco”, enquanto os primeiros constituem o “extrínseco”. Analisá-la nos
elementos intrínsecos, pelo interior, é fazer crítica intrínseca ou ergocêntrica ou
estética; a crítica extrínseca é a que encara a obra pelo seu exterior, ou elementos
extrínsecos, históricos (COUTINHO, 2003, p. 9).
Até 1957, esta foi dominada pelo estudo dos fatores exteriores que
condicionam a gênese do fato literário e era a repercussão das teorias de Taine e Saint-
Beuve, do naturalismo e do determinismo biológico, social e geográfico e do biografismo.
Seu pensamento diretor é de que à crítica compete analisar a obra em si, seus elementos
27
intrínsecos, ou seja, aqueles que lhe comunicam a especificidade artística. No que se refere
a este método Afrânio Coutinho estabelece:
Quanto aos métodos de estudo da obra literária, continua Kridl, dividem-se em
duas sortes (sic): extraliterários e literários, ou como querem Warren e Wellek,
extrínsecos e intrínsecos, estes últimos também chamados por Lempicki
ergocêntricos. Ao primeiro grupo pertencem os estudos não concernentes com a
obra literária propriamente, mas antes como seu autor e o meio: - genético,
psicológico, histórico e cultural (COUTINHO, 1987, p. 149).
Tal método destina-se a estudar tudo o que existe na obra literária em si,
não a estudando como documento histórico:
A fim de render justiça à obra literária, deve-se adotar um método integral de
estudá-la. Integral, este método abraça tudo, sem exceção, que existe na obra
literária; literário, ele estuda todos os elementos dentro dos limites da obra, do
ponto de vista literário. A obra de arte será estudada não como documento
histórico-cultural, nem como um sistema filosófico ou político, nem mesmo
como conjunto de conselhos para a vida prática, mas como objetos artísticos,
mudos independentes, imaginários, criados por meio de artifícios específicos e
únicos (COUTINHO, 1987, p. 150).
Tais postulados representativos do método de análise exposto são os
seguintes: a distinção do “ego privado” e do “ego artístico” do autor é necessária a fim de
que, ao analisar uma obra, o crítico ocupe-se dela especificamente e não com os fatores
externos a ela, seu autor e as condições externas de produção desta, pois “a origem de uma
obra, mesmo quando de conhecimento possível, não explica sua essência, tampouco sua
forma derradeira, que é a que interessa; a obra não poderá ser tratada como documento
social ou histórico, pois “o conhecimento do ambiente pode ajudar o estudo da obra, mas
não é necessário para a sua apreciação como Literatura”; o critério de julgamento de valor
não é a vida do autor, pois “valores estéticos são por sua natureza valores de objetos. É o
valor estético que faz de nosso objeto uma obra de arte”; e, finalmente no que se refere à
divisão no campo do trabalho, Coutinho separa-o em três ramos principais: “a)-poética ou
teoria literária; b)investigação literária no sentido estrito, c) teoria de pesquisa literária ou
metodologia” (COUTINHO, 1987, 151).
28
1959 é o ano da publicação de Introdução à literatura no Brasil,
compilação da introdução geral e dos capítulos introdutórios, escritos por Afrânio
Coutinho aos estilos literários d’A Literatura no Brasil. Nele visualiza-se o princípio
diretor, de uma periodização estilística adotado em sua história literária. O livro A
Introdução à Literatura no Brasil apresenta a seguinte estrutura: “Introdução Geral”; “Do
Barroco ao Rococó”; “O Movimento Romântico”; “Realismo, Naturalismo,
Parnasianismo”; “O Regionalismo na Prosa de Ficção”; “Simbolismo, Impressionismo,
Modernismo” e uma bibliografia. Apesar de nas edições recentes d’A Literatura no Brasil
terem sido acrescentados outros textos, a Introdução permaneceu com o mesmo número
de capítulos.
Conceito de Literatura Brasileira é uma publicação da Ediouro, de 1960,
que abrange dois livros – Conceito de Literatura Brasileira (1960) e Euclides, Capistrano
e Araripe (1959) – a que se acrescentaram, posteriormente, outros ensaios. O primeiro é
“Teoria da História Literária Brasileira”, que Discorre sobre o problema da interpretação
da definição de literatura brasileira e de quando ela começou. O marco inicial seria a
consolidação da obra de Anchieta juntamente com Gregório de Matos (1623-1696) e
Antônio Vieira. O segundo, “A Periodização Literária”, mostrou ser ela um dos problemas
mais difíceis. Apontou a periodização estilística como aquela que traz vantagens, podendo
abolir “as tiranias, sociológica, política e cronológica” (COUTINHO, 1960, p. 23). O
terceiro, “Instinto de Nacionalidade”, enfoca o nacionalismo literário, cuja busca
preocupou a inteligência dos estudiosos das Letras do século XIX. Ressalta as figuras de
Machado de Assis e de José Lins do Rego, que conciliavam o ideal nacional com a
universalidade:
O que fez Machado de Assis, e o que fez José Lins do Rego, foi aproveitar a
matéria-prima brasileira, dentro daquele “instinto de nacionalidade”,
subordinando-a ao processo transfigurador no contato com os grandes mestres e
modelos. Não há sobre isso a menor dúvida quanto a Machado: conhecem-se as
29
suas fontes, que ele usou sem reservas, a exemplo dos maiores. No que
concerne a José Lins, a respeito do seu aparente desapreço, era espírito
cultivado, e sua formação estética e novelesca está patente inclusive por suas
próprias confissões. No entanto, quem mais brasileiro, nos últimos anos do que
o autor de Bangüê? Eis aí o verdadeiro nacionalismo, aquele que ressalta da
fecundação exercida pelo espírito universal no magma nacional (COUTINHO,
1968, p. 36-37).
No quarto, intitulado de “Formação da Literatura Brasileira”, Afrânio
Coutinho estabelece sua oposição às idéias de Antonio Candido (1918). E, finalmente, o
último deles, “O Rio de Janeiro e a Unidade da Literatura”, demonstra as atividades
literárias do Rio de Janeiro, desde o início de sua vida artística.
Euclides, Capistrano e Araripe, de 1959, é, segundo nota preliminar, a
reunião de três trabalhos de épocas diversas, embora reflitam a mesma preocupação com
as questões de literatura brasileira. “Os Sertões, obra de ficção” é o primeiro deles e trata
de uma tentativa de definição do gênero do livro e também da procura de sua
interpretação. Quanto aos outros ensaios sobre Capistrano de Abreu e Araripe Júnior,
possuem o objetivo de compreender a fase naturalista da crítica literária brasileira.
“Araripe Júnior e o Nacionalismo Literário” é o último ensaio do livro e foi um trabalho
apresentado como tese à Faculdade Nacional de Filosofia, em 1957, para concorrer à livre
docência de Literatura Brasileira.
Crítica e Poética, de 1968, é uma obra que reúne cinco ensaios, que tratam da
crítica shakespeariana e das atuais tendências da crítica no Brasil. Tais textos realçam o valor
da contribuição aristotélica, nos quais observa que a experiência estética possui uma
finalidade em si mesma, pois toda a arte tem seu próprio valor.
Também em 1968, escreveu A tradição afortunada (o espírito de
nacionalidade na crítica brasileira), que segundo Afonso Arinos de Melo Franco (1905-
2006) foi a obra em que Afrânio Coutinho atingiu seu ápice como crítico. Nela o autor realiza
O primeiro livro de síntese na sua experiência crítica, ao reunir, em um só panorama
expositivo, o estudo da evolução do pensamento crítico brasileiro do século XIX,
30
considerado sob o aspecto especial do nacionalismo (FRANCO in COUTINHO,
1968, p. 18).
Esta obra foi sua tese no concurso para a cadeira de Literatura Brasileira, na
Faculdade Nacional de Filosofia, e nela, ao invés de abordar somente temas nacionais sob a
forma de crítica, passou a analisar o espírito nacional apresentado pelo ambiente de seu país.
Dividida em seis capítulos, A tradição afortunada mostra temas desde o instinto de
nacionalidade, as suas fontes e a própria nacionalidade da literatura brasileira até a sua
originalidade. Por fim, no último capítulo, que leva o nome do livro, o autor discorre sobre o
pensamento crítico do século XIX, as fases da literatura, seus autores, a questão da língua e o
processo de continuidade da Tradição Afortunada. Afirma ele, que esse texto é uma obra de
“idéias literárias”, baseando-se em ensinamentos do norte-americano Arthur Lovejoy (1873-
1962).
No capítulo I, intitulado “Instinto de Nacionalidade”, o autor faz uma releitura
analítica do ensaio de mesmo nome de Machado de Assis, escrito em 1872. Tal análise
continua com fragmentos do ensaio e as considerações de Coutinho. Na conclusão afirma que
seu intuito foi o de apresentar um corpo de teorias críticas e historiográficas, com o objetivo
de estabelecer a definição da literatura brasileira, sua origem, seu primeiro escritor, suas
características, sua periodização, enfim a definição do caráter da literatura. Aponta os
primeiros autores que escreveram sobre a literatura brasileira, entre eles, Varnhagen (1816-
1878) e Gonçalves de Magalhães (1811-1882). Após demonstrar a visão de vários críticos
românticos sobre a nacionalidade da literatura, inicia o quinto capítulo versando sobre a
originalidade dela, pois esta deveria ser representada nas obras para se firmar como tal. No
Romantismo, a “cor local” e a incorporação do ambiente brasileiro se estabeleceram
efetivamente, no entanto, foi o Realismo que lhe emprestou traços da doutrina positivista e
determinista, no que se refere à origem da literatura nos fatores meio, raça e momento.
31
Ressaltou a teoria da “obnubilação brasílica”, de Araripe Júnior, que Afrânio Coutinho
afirmou:
A força diferenciadora da pressão exterior, isto é, do meio físico – solo, paisagem,
flora, clima – sobre as forças mentais do homem, deu lugar ao fenômeno que Araripe
designa como a obnubilação brasílica: a adaptação dos colonos ao novo meio, por
um processo de mimetismo, esquecendo os hábitos da mãe-pátria (COUTINHO,
1968, p. 130).
O crítico realiza uma exposição de todos os autores que apresentaram
periodização literária; contudo, é no sexto capítulo que ele explicita sua tese, demonstrando
que, a partir de 1839, as preocupações mais freqüentes dos críticos, teóricos e historiadores
eram a busca da nacionalidade literária, cujo pensamento crítico formou a base da teoria
moderna da literatura brasileira. Discorda da tese de que há uma literatura colonial e outra
nacional, pois existe uma só literatura desde o início, quando o homem europeu pôs os pés em
solo brasileiro e passou pelo processo da obnubilação, e a partir daí o que se produziu foi a
criação de uma tradição nova, o amor pela terra e o sentimento da natureza. Segundo ele, não
se pode exigir que uma época represente e pense de acordo com os estilos posteriores, pois
cada uma possui a sua peculiaridade. Atribui ao indígena grande consideração prestada à
literatura, desde o início até o Modernismo, pois o indianismo, segundo ele, é uma “criação
anchietana” (COUTINHO, 1968, p. 171). Para a literatura não basta apenas a reprodução de
paisagens, linguagens, mas se faz necessário aquele “sentimento íntimo” que tão bem
acentuou Machado de Assis em seu ensaio “Instinto de Nacionalidade”:
Esses traços é que a literatura traduz, consciente e inconscientemente, através dos
personagens, dos episódios, das cenas, dos conflitos, dos enredos, das descrições de
usos, tradições, e costumes, das reações psicológicas dos tipos, do comportamento e
atitudes dos indivíduos, das suas relações psicológicas. Tudo isto é o que constitui o
“caráter psicológico” ou o “sentimento íntimo” de uma literatura identificável nas
obras e diferente de todas as demais literaturas (COUTINHO, 1968, p. 180).
Afrânio Coutinho aponta como equivocada a relação de nacionalidade literária
e política, pois não se pode esperar que um país alcance o grau de nação para que sua
literatura se firme. Se há uma nação, é porque anteriormente a ela, a literatura já era
32
expressiva. Explicita também sua idéia de oposição ao pensamento de Antonio Candido e
marca o início da literatura brasileira com o Barroco. Sugere que se deixe para Portugal a
literatura portuguesa e para o Brasil a brasileira, que, bem ou mal, pouco ou muito, foi o que
de melhor se pôde fazer. Para ele, é com o Modernismo que a literatura atinge a sua
maturidade, e o estabelecimento de uma tradição brasileira dá-se pela criação de muitas
gerações de escritores, fiéis aos temas, aos estilos e aos critérios de sua época. Enxerga a
nacionalidade literária como processo evolutivo e finaliza afirmando que quanto mais
integrado está o artista em seu ambiente, mais sólida e coerente será a sua obra.
“Correntes Cruzadas” foi, durante muito tempo, um suplemento literário, do
jornal Diário de Notícias, no qual Afrânio Coutinho escrevia semanalmente. No entanto,
muito daquilo que fora anteriormente publicado acabou sendo editado em livros. Crítica e
Críticos, de 1969, é o resultado da reunião destes textos cuja temática se repete: o problema
da crítica. Neles o autor expõe sua posição em favor de uma análise baseada em elementos
intrínsecos, e encara seu trabalho como sendo de militância, pois “há, todavia, um dever a que
o escritor não pode escapar, é dar testemunho da liberdade do espírito, é reivindicar o respeito
à sua liberdade” (COUTINHO, 1987, p. 523). As publicações deste livro são ensaios de 1943
a 1966.
Na década de 1960, a expansão das universidades, no Brasil, fez surgir um
expressivo público da classe média, mais intelectualizado, inclinado a participar mais
ativamente da vida cultural do país. É este o público que lia os suplementos literários dos
jornais. Era para estes leitores que Coutinho apresentava o reflexo de seus estudos na
América. Segundo Sieglinde B. Monteiro Autran, no texto Magister Excelsius, Magnus
Amicus, a experiência adquirida nos Estados Unidos, como professor visitante da
Universidade de Columbia e de outros estados americanos, foi fundamental para o autor
desenvolver seu trabalho na Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
33
Seus estudos foram realizados centrados também na área de biblioteconomia, e tal
aprendizado foi adquirido com muita dedicação. No entanto, as inovações trazidas por ele
provocaram desapontamento naqueles que, pelo desânimo, permaneciam num sistema
obsoleto.
Antologia Brasileira de Literatura é uma coleção de três volumes, publicados
entre 1967 e 1969. O primeiro trata do Romance e do Conto, o segundo do Lirismo e o
terceiro da Epopéia, do Teatro, do Ensaio, da Crônica, da Oratória, das Máximas, das Cartas,
das Memórias, dos Diários, e da Crítica. Cada um possui a mesma introdução, no entanto, em
todos eles há explicações sobre como trabalhar cada gênero, o que enriquece muito o trabalho
do professor em sala de aula. Em 1984, houve a fusão destes três livros em um só - As Formas
da Literatura Brasileira - uma publicação voltada ao público universitário. Sob a direção de
Afrânio Coutinho, inclusa na coleção de Textos e Idéias, esta antologia é um complemento às
obras dele, e o critico inova quando centra-se na teoria e metodologia do ensino de literatura.
Na introdução, o autor dedica uma parte aos professores e ressalta que “o uso desta antologia
deve ser feito a serviço da literatura. A língua é apenas um instrumento, e deve ser
subsidiário, em função da leitura e interpretação do texto” (COUTINHO, 1984, p. 27).
Altamente didático, prossegue oferecendo ao leitor os caminhos para o estudo da literatura,
sugerindo, ainda, que embora esta antologia não ofereça obras integrais, cumpriu o seu
objetivo que era o de ser um estudo literário. Em cada capítulo o autor discorre e define o
gênero. Só então ele parte para a fragmentação de textos, fragmentação esta que foi um pouco
modificada para a segunda publicação, num só volume, mas nada que possa ter prejudicado os
estudos literários.
Caminhos do pensamento crítico teve sua primeira edição em 1974, tendo sido
publicados dois volumes de uma série de cinco, e a segunda em 1980, em dois volumes, que
abrangeram os cinco programados para a primeira edição. Segundo nota da editora o objetivo
34
desta obra é o de destacar as bases teóricas das várias correntes e movimentos da literatura
brasileira. Em “Nota Explicativa”, Afrânio Coutinho explicita que esta antologia procura
agrupar o que de melhor se escreveu no Brasil, no que se refere à evolução da crítica
brasileira e sua classificação, a fim de colaborar com os estudos literários e também com o
leitor comum. O plano geral da obra compreende dois volumes, e em cada capítulo o autor faz
uma explanação do que será desenvolvido, citando bibliografia em notas de rodapés e textos
de cada autor contemplado nesse trabalho. Na “Introdução”, houve o estabelecimento de treze
itens mostrando a “evolução histórica, temática, os métodos de abordagem, tentativa de
classificação. As grandes linhas e escolas e figuras principais” (COUTINHO, 1980, p.14).
Ressalta que as primeiras manifestações do pensamento crítico-literário, no Brasil, surgem nas
Academias Literárias dos séculos XVII e XVIII; no entanto, é no Arcadismo que o
pensamento crítico se mostrou pelo verso. Segundo Afrânio Coutinho, nas primeiras décadas
do século XIX realçam-se a indecisão e o sincretismo. Em 1836, surge o Romantismo com
Suspiros poéticos e saudades, de Gonçalves de Magalhães; a valorização da natureza e a
busca da brasilidade são os temas que permeavam as preocupações dos críticos brasileiros,
destacando-se, neste período Gonçalves de Magalhães, Santiago Nunes Ribeiro, Joaquim
Norberto de Sousa e Silva entre outros.
Afrânio Coutinho prossegue afirmando que a luta pelo caráter nacional é uma
constante e que o ideário crítico baseia-se no materialismo e no culto da ciência. A tríade
meio, raça e momento, de Hippolyte Taine, condicionava a concepção de literatura. São
nomes expressivos deste período Araripe Júnior, Sílvio Romero e outros. A preocupação
excessiva com a forma acaba por reduzir a crítica à censura gramatical, e a corrente de críticos
historiadores dá ênfase ao historicismo, confundindo a crítica com a história. Houve, então,
uma reação em nome do valor literário, cabendo ao crítico externar a impressão e o prazer que
a obra lhe despertasse no momento da leitura. O impressionismo durou pouco tempo em
35
virtude do esvaziamento doutrinário. Contra as teorias impressionistas desponta o Simbolismo
mostrando que “há lugar no fenômeno literário, não só para os aspectos materiais da vida, mas
também para o lirismo, o sonho, a lenda, o mito, o ideal, o imaginário, o símbolo”
(COUTINHO, 1980, p. 18).
A crítica estética também foi apresentada ao Brasil, através de nomes como
Machado de Assis, Henrique Abílio (1893-1932) e Mário de Andrade. Nela a literatura é
constituída de fatores intrínsecos à obra. Coutinho finaliza a “Introdução”, afirmando ser esta
um reflexo da evolução da crítica literária desde o início do Romantismo até o Modernismo,
só que somente apontando autores já falecidos. Permeada de ensaios completos e fragmentos
de textos, esta obra traz um vasto panorama crítico-literário para aqueles que queiram
aprimorar seus conhecimentos no que se refere à visão evolutiva e classificatória da crítica
literária.
Notas de Teoria Literária teve sua primeira edição em 1976. Nela, Afrânio
Coutinho objetiva oferecer aos estudantes de Letras das Universidades, ao aluno do nível
médio e ao vestibulando, as teorias sobre os pontos fundamentais do estudo da literatura. Para
ele, o ensino de literatura não deve estar subordinado ao da língua, mas baseado em textos, ou
seja, sempre partindo de um texto para supor o ensino dela. Ele acreditava estar no nível
médio o momento de ensinar literatura, e também o momento para desenvolver a apreciação,
a discriminação entre o bom e o mau a fim de apurar e cultivar o gosto. Tal livro tem como
pressuposto básico uma filosofia da literatura e uma teoria sobre seu ensino. Possui uma
linguagem acessível e também colabora com os professores no que se refere ao ensino da
literatura por conta de seu caráter didático.
Do Barroco, de 1994, é uma publicação conjunta da Editora da UFRJ e Edições
Tempo Brasileiro. Num primeiro momento, Afrânio Coutinho explicita que o texto “Aspectos
da Literatura Barroca” foi produzido em virtude do concurso para o Colégio Pedro II com a
36
tese do mesmo nome, em 1951. A partir daí não cessaram as publicações nesta linha. Afrânio
Coutinho afirma ter sido seduzido pelo Barroco desde os tempos da Bahia, “contaminada pela
espiritualidade e religiosidade dos Jesuítas, criadores do Barroco” (COUTINHO, 1994, p. 9).
Durante a leitura desta obra é possível notar a influência de autores
estrangeiros, como Welleck, Hatzfeld e Wölfflin (1864-1945), no que se refere aos conceitos
de Afrânio Coutinho ao afirmar que o Barroco foi tido como uma fase de transição,
representando o desenvolvimento natural do Renascimento, que passa então a vigorar.
Embora este texto não seja parte integrante da obra A Literatura no Brasil, Afrânio utiliza-se
da periodização para adequar os estilos:
De modo geral, o termo é hoje empregado para designar o período literário
subseqüente ao Renascimento, equivalente ao século XVII, embora não
rigidamente, podendo-se adotar as datas limites de 1580 e 1680, com variações de
acordo com os países (COUTINHO, 1994, p. 270).
Organizado em vinte e sete capítulos, o texto O Barroco inclui todo o caminho
percorrido pelo autor desde os tempos em que, da Bahia partiu para os Estados Unidos, e lá
pôde aperfeiçoar-se nos estudos literários. Também há um capítulo dedicado a Antônio
Vieira, no qual o crítico concede-lhe um lugar de mais alto relevo. Ressalta Gregório de
Matos e Botelho de Oliveira como os dois primeiros poetas e finaliza com uma extensa
bibliografia sobre o Barroco, confirmando o que disse nas demais produções: o primado da
literatura no Brasil é o Barroco. Os textos “O Barroco” e “Vantagens da Periodização
Estilística” fazem parte d’A Literatura no Brasil, e serão analisados no próximo capítulo.
Segismundo Spina (1924), em seu texto Um lembrete aos prefaciadores,
observou que Afrânio Coutinho liderou um movimento interessado em separar o ensino de
Letras da Faculdade de Filosofia, e acabou criando, em 1968, a Faculdade de Letras da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), cuja direção assumiu, organizando as partes
pedagógica e situacional. Enfrentou, ainda, a falta de espaço hábil para abrigar tantos alunos e
tratou dos problemas e das crises, procurando sempre prestar assistência aos estudantes, até
37
mesmo aos que estavam presos em quartéis e no Departamento de Ordem Política e Social
(DOPS), levando tranqüilidade à rebelião estudantil, naquela unidade universitária, durante o
período da ditadura militar (1964-1985). Foi também o criador do curso de Pós-Graduação em
Letras da UFRJ, o primeiro do país. A busca e a luta pela implantação de Cursos e Programas
de Pós-Graduação, na Faculdade de Letras, acabaram por lhe render algumas inimizades.
Entrou para a Academia Brasileira de Letras (ABL) em 1962 e em 1978, após dez anos de
constantes trabalhos, entregou ao seu sucessor a Faculdade de Letras que idealizara.
No que se refere à Oficina Literária Afrânio Coutinho (OLAC), Wilton
Cardoso, em seu texto Um capítulo inédito na história da literatura brasileira, apontou que,
quando muitos supunham Afrânio Coutinho cansado, ele despojou-se de sua biblioteca e do
conforto de seu lar, criando, em sua casa, a OLAC:
Uma obra minha de maior importância. Eu fiz na minha casa, socializando minha
biblioteca; achei que aquilo devia ser parte de um todo, ser julgado e apreciado por
pessoas. A biblioteca passou a ser pública. Para consulta e pesquisa. Oficina
Literária Afrânio Coutinho (OLAC), uma obra que foi feita como marca minha,
pensando em socializar a minha biblioteca (COUTINHO, 2003, p. 33).
A OLAC funcionou de 1979 a 1992. De acordo com os dados pesquisados na
Enciclopédia da Literatura Brasileira (1989), esta Oficina foi uma sociedade civil, legalmente
registrada e sem fins lucrativos. Seu objetivo era a realização de atividades culturais,
especificamente na área de Letras, atendendo aos professores, alunos e pesquisadores do Brasil
e do exterior. Em um prédio de três andares, em Ipanema, Rio de Janeiro, a residência de
Afrânio Coutinho esteve durante 13 anos a serviço da cultura brasileira. Com 100.000
volumes, “entre livros e periódicos, nacionais e estrangeiros, e um rico acervo de documentos e
recortes de jornais sobre escritores e assuntos literários” (COUTINHO, 1989, p. 1176), em
1981, a OLAC iniciou um programa de cursos de extensão cultural, nas áreas de Letras, cultura
brasileira e literatura comparada, entre eles, oficinas de prática de poesia, prosa, roteiros, letras
de música. Tais cursos tiveram a coordenação de Graça Coutinho e Rita Moutinho, e, no que se
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refere aos projetos de pesquisa, contou com o desenvolvimento destes, que resultaram em
publicações como a coleção Fortuna Crítica e a Enciclopédia da Literatura Brasileira “esta
última encerrando o maior levantamento de informações já realizado acerca da literatura
brasileira” (1989, p. 1176). A OLAC também promoveu o assessoramento aos escritores e
estudiosos, servindo à comunidade e incentivando a cultura nacional. Sua diretoria era
composta pelo: Presidente: Afrânio Coutinho, Vice-Presidente: Eduardo de Faria Coutinho,
Diretora-Bibliotecária e Tesoureira: Maria da Graça Coutinho de Góes, e demais diretores e
pesquisadores. Atualmente sua biblioteca pertence à Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), compondo o maior acervo específico de Letras do Brasil, que mantém o ambiente de
trabalho de Afrânio Coutinho e seu arquivo pessoal.
Segundo Leodegário A. de Azevedo Filho (1927), na “Introdução” de
Miscelânea de Estudos Literários, 1984, o nome Afrânio Coutinho projetou-se no Brasil e no
exterior, graças à sua atividade intelectual intensa e fecunda. Professor Titular de Literatura
Brasileira, sempre esteve presente na sala de aula, além de ser Diretor da Faculdade de Letras
da UFRJ e Coordenador Geral dos Cursos de Pós-graduação em Letras, mas foi na Literatura
que encontrou a sua grande paixão. Embora tenha sido um grande crítico literário, o autor por
muitas vezes deixou transparecer seu lado poético, principalmente quando se tratava de
escrever sobre a Bahia. Quando da escrita de seu texto Minha Bahia, aludiu poeticamente à
terra natal:
Ela não me sai da alma. Tudo me fez lembrá-la com emoção, com saudade infinda,
minha Bahia, a cidade mágica, encantada. Então, dir-se-á por que você saiu, por que
foi embora? Sim. Parti, um dia. Mas foi para melhor recordar. Para sentir mais. Para
enxergar melhor. Dentro, no dia-a-dia, as coisas esmaecem não se dá atenção,
importância, acostuma-se. Longe, valores, belezas, costumes, crescem, ficam vivos
na memória, avultam, tornam-se carne da carne. Passam a viver a toda hora, nos
vários lugares, em toda a parte. A gente vê melhor (COUTINHO, 2003, p. 15).
Ainda que crítico literário, não seriam as palavras acima vindas do âmago de
um poeta? Jorge Amado, em texto escrito para o Diário de Notícias, de 1961, no Rio de
Janeiro, afirmou que quando polemistas solicitaram a Afrânio Coutinho sua opinião sobre ser
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ou não ser o Brasil uma nação, este, com voz mansa, respondeu: “O Brasil, eu não sei não...
Agora a Bahia, ah! A Bahia eu posso afirmar, sem sombra de dúvida, é uma nação” (AMADO
in LIMA, 1984, p. 411).
Para Segismundo Spina, Afrânio Coutinho batalhou também contra o didatismo
que imperava, tanto nas universidades quanto nas publicações em geral, mostrando a
necessidade de uma consciência bibliográfica, através de um código comum e técnico. Nesta
época, implantou-se o curso de Biblioteconomia, no Brasil, cujos frutos foram o 1º Congresso
Nacional de Biblioteconomia, realizado no Recife; a fundação do Instituto Brasileiro de
Bibliografia e Documentação, e a Comissão Paulista de Bibliografia. Até então, as obras
apresentavam edições cujas bibliografias não eram precisas, e, muitas vezes, a escassez de
dados impedia a localização das mesmas. A este respeito, Spina afirmou:
Lembra-me o Professor Afrânio Coutinho, quando, na organização e supervisão da
monumental A Literatura no Brasil, obra coletiva, a maioria professores
universitários, assinalava a bagunça dos aparatos bibliográficos, em que muitas
vezes o autor citava errado até as próprias obras (SPINA in LIMA, 1984, p. 65).
Apontou ainda que se deveu a Afrânio Coutinho esta mentalidade nova sobre
princípios da Ciência Bibliográfica, como se pode constatar no mesmo artigo:
Essa revisão de mentalidade devêmo-la a Afrânio Coutinho. Porque dizer que
Afrânio introduziu, aqui no Brasil, o New Criticism americano e inglês na década de
50 (depois de sua experiência no Readers Digest e nos cursos realizados na
Universidade de Columbia); dizer que propugnou por uma crítica literária
fundamentalmente estética, e que a partir de sua tese de Concurso, em 1950, deu
início à revelação de uma vasta bibliografia – de livros e revistas – dos modernos
estudos no Barroco, é por demais sabido. Todas essas dimensões do seu pioneirismo
em prol da moderna cultura intelectual no Brasil são por demais louváveis; mas o
alicerce dessas revelações só seria possível se ao autodidatismo e aos hábitos
pessoais reinantes não se sobrepusesse a renovação mental que conseguiu implantar,
ensinando ao intelectual brasileiro os postulados da Ciência Bibliográfica (SPINA
in LIMA, 1984, p. 65).
Ivan Teixeira, em “Fortuna Crítica”, série de seis artigos sobre as principais
correntes da crítica literária, publicado na revista Cult, de 1998, afirma que a maior
contribuição do New Criticism, para a literatura foi o fato do texto literário passar a ser um
texto autônomo, isto é, ser entendido como uma entidade independente. Ao invés da obra
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literária ser a expressão da personalidade do autor, ela é o resultado do trabalho do seu
espírito. Segundo Teixeira, o New Criticism acreditava que para a interpretação de uma obra
literária não se devia levar em conta as intenções do autor. Ainda aponta Ivan Teixeira que
Afrânio Coutinho foi um dos primeiros a incorporar entre nós os princípios do New Criticism
e citou como exemplo A Literatura no Brasil. Quanto à afirmação de que Afrânio Coutinho
trouxe para o Brasil as idéias do New Criticism, afirmou que há aqueles que o consideram
divulgador, contudo o próprio autor esclareceu no texto “Crítica de mim mesmo”:
O que trouxe na minha bagagem, depois de cinco anos de estudos e contatos
intelectuais, não foi o new criticism apenas, mas toda uma global doutrinação pela
renovação da crítica literária que, no Brasil, estava dominada pelo impressionismo
velho e sovado, e, pior ainda, transformado ou degenerado em simples jornalismo,
ou achismo, do gostei ou não gostei, praticado à larga pelos donos de rodapés da
crítica literária (COUTINHO in LIMA, 1984, p. 491).
Considerou ainda, que jamais quis ser um divulgador do New Criticism, pois
nunca o praticou, mas este foi um dos caminhos do qual se utilizou para chegar onde
pretendia.
Segundo o cearense Pedro Paulo Montenegro (1928), os esforços do Coutinho
frutificaram-se e a crítica literária tomou forma e entrou imperiosa no ensino universitário,
pois ele nunca conseguiu entender uma crítica literária criadora desligada das universidades.
Seu trabalho consistiu em retirar a consciência dos literatos, do impressionismo, da
superficialidade e da dependência das demais ciências. Até então, a crítica literária brasileira
era movida pela intuição e presa ao esquema francês do século XIX. Com certa obstinação
mostrou todo um sistema de idéias novas, e embora ele não se submetesse a qualquer tipo de
parcialismo no reconhecimento da verdade, não deixou de reconhecer e salientar sua estima e
admiração pelo mestre Alceu Amoroso Lima. Pautou seus esforços por destruir o que estava
comodamente estabelecido e levantou uma nova concepção de valores, em favor de uma
crítica literária fundada em fatores inerentes ao próprio texto literário.
41
Leitor de Aristóteles, considerava-o o grande mestre da crítica literária
científica, deixando na Poética as normas a serem seguidas. São elas:
Observação do fato literário, na sua intimidade; análise de seus elementos com
todos os recursos disponíveis; a descrição, a classificação destes elementos, isolados
ou não; o estudo de seus processos de produção e recepção e o julgamento de seu
valor. E ainda centra-se nesta última norma, a diferença entre a ciência e crítica.
Sem julgamento, conclui, não há crítica (MONTENEGRO in LIMA, 1984, p. 51).
Para Montenegro, coube a Coutinho a valorização dos escritores brasileiros,
quase sempre subordinados às abordagens coloniais e às influências estrangeiras. Para ele, era
necessário sair do empirismo e da improvisação, recorrer-se a um trabalho doutrinador e
teórico, além do aprofundamento nos problemas de princípios e de métodos. Uma das grandes
contribuições neste sentido e, segundo ele, a maior que poderia ter deixado, foram as obras A
Literatura no Brasil [1955] (2003) e a Enciclopédia de Literatura Brasileira publicada em
1989, em dois volumes, pela Global Editora.
No que se refere à publicação d’A Literatura no Brasil, Leodegário A. de
Azevedo Filho, na “Apresentação” do texto Miscelânea de Estudos Literários, afirma que
Afrânio Coutinho, como historiador de Literatura, analisou os critérios existentes de
periodização literária e os pôs em prática na obra coletiva A Literatura no Brasil, cujo
princípio diretor é o estético, cujo critério de periodização é o estilístico, método novo e
considerado até revolucionário pelos enfoques dados, ressaltando escolas literárias e períodos
de transição. Na nota do editor da obra A Literatura no Brasil, de 1955, consta que em 1952,
ele foi encarregado pelo professor Leonídio Ribeiro (1893-1976), então diretor do Instituto
Larragoiti, de planejar e dirigir a publicação de uma história literária, com a colaboração de
uma equipe de especialistas, e após a primeira edição de 1955, José Régio, em publicação
para o Jornal Diário de Notícias, de Portugal, fez a seguinte referência:
Apareceu o primeiro volume da obra “A Literatura no Brasil”, distribuída pela
Livraria São José, do Rio de Janeiro – Editorial Sul-Americana S.A. “Anuncia-se
em três volumes, com numerosas fotografias e autógrafos, da autoria de cinqüenta
42
especialistas chefiados pelo prof. Afrânio Coutinho, assistido pelos escritores
Barreto Filho e Eugênio Gomes” (RÉGIO in LIMA, 1984, p. 437).
Afrânio Coutinho afirmou ter realizado este trabalho coletivo, do qual
participaram professores universitários e ele próprio, para oferecer aos estudiosos de
Literatura e seu apreciadores, um manancial de informações, no qual há vários pontos de
vista. Uma história de literatura sem o “demônio da cronologia”, que desenvolve uma
proposta inovadora, planificada sistematicamente segundo critérios novos. A Literatura no
Brasil veio para demonstrar que, não se podia mais pensar uma história da Literatura
Brasileira de uma maneira única, e com ela, despontou, entre os brasileiros, um método
periodizador estilístico, e não cronológico, sociológico e político, como confirma Eduardo
Portella (1932), no texto Afrânio Coutinho: o estabelecimento de uma nova ordem.
As datas perdiam todo o seu poder. Já não existiam datas, porém, núcleos
estilísticos. A literatura isenta de interferências estranhas à sua índole, passava a ser
compreendida em sua soberana autonomia. E orientada por critério eminentemente
literário, A Literatura no Brasil procedia a eficaz e objetiva visão daqueles
conceitos e daquela valoração estagnada que cercava o destino dos nossos autores,
dos nossos movimentos, da nossa literatura. Consciente ainda da precariedade das
orientações enciclopédias, e sabendo da incompreensão histórica que representava
uma aventura individual, cercou-se Afrânio Coutinho de uma equipe de estudiosos
do processo literário brasileiro, e realizou um empreendido inédito destinado a
reformular completamente os postulados que informavam a nossa historiografia
literária. E foi o que aconteceu (PORTELLA in LIMA, 1984, p. 415).
Em ensaio escrito em Correntes Cruzadas, afirmou que a primeira edição d’A
Literatura no Brasil, em 1955, teve assistência dos escritores Eugênio Gomes (1867-1972) e
Barreto Filho (1908-1980) e foi financiada pelas companhias do Grupo Sul América e do
Banco Hipotecário Brasileiro, sem interesse comercial algum. Apontou também que os textos
apresentados para fazer parte da obra, sofreram alguns acréscimos, reduções, ou retoques para
se adequarem à perspectiva estabelecida. Outra observação que o autor fez, nesta seção, no
que se refere à A Literatura no Brasil, é a de que os leitores não estando acostumados a este
tipo de publicação, estranharão a ausência dos nomes dos autores frente a cada capítulo. Isto
se dá, justamente para parecer a eles que não se trata de um trabalho individual, mas de uma
obra como um todo. Prossegue dissertando ser o público atraído, muitas vezes, pelos nomes
43
dos autores, mas que este interesse deveria ser relegado a segundo plano. Coutinho
mencionou que recebeu críticas por ter sido lançado o primeiro volume em dois tomos, e
explicou que por motivos de ordem financeira e também devido à dificuldade de entrega dos
textos a ela atinentes, publicou-se primeiramente o segundo, ficando o primeiro volume para
ser lançado assim que fosse concluído. Quando um ano depois ficou pronto o volume I,
verificou-se a impossibilidade de publicá-lo em um só tomo, não restando, pois, alternativa
senão publicá-lo em dois tomos, condição esta que foi modificada na segunda edição, de
1968.
Enciclopédia de Literatura Brasileira oferece dados referenciais da vida da
literatura brasileira até 1985. Sua elaboração e redação foram efetivadas na OLAC, sob a
responsabilidade de Afrânio Coutinho e José Galante de Souza (1913-1986). Em nota à
segunda edição (2001), para a realização desta, a pesquisa estendeu-se até 2001 e teve a
metodologia do trabalho organizada por Graça Coutinho e Rita Moutinho. Na primeira
edição, a equipe reunia-se em torno dos cem mil volumes que oferece o acervo de Afrânio
Coutinho. Para a segunda, no entanto, a internet viabilizou as pesquisas e colaborou muito no
trabalho. A primeira edição contou com 13.500 verbetes e à segunda somaram-se mais de
2.600, e logo, surgiu revista e atualizada, contudo, o texto que se refere à Literatura Brasileira,
origem, conceitos, caracteres e evolução, assinado por Afrânio Coutinho, foi mantido com
fidelidade. Em 1990, em publicação do Jornal do Commercio, Austregésilo de Ataíde (1870-
1960) ABL, registrou, no que se refere à Enciclopédia de Literatura Brasileira:
Ao receber os dois volumes compactos da Enciclopédia da Literatura Brasileira,
devo confessar a surpresa de quem se vê diante de uma realização considerada
muito acima das expectativas mais otimistas, no plano da cultura, em suas máximas
expressões de arte e ciência. Perguntei-me se não era desconhecimento da minha
parte de tentames que a operosidade forrada convertia nesses dois volumes em
prova de que, fora dos nossos olhos, existem obras monumentais. Não é outra a
adjetivação a ser usada para qualificar a Enciclopédia que Afrânio Coutinho e seus
numerosos companheiros de jornadas literárias oferecem em testemunho de um
labor que confere ao Brasil, no plano intelectual e nas concepções gráficas, um lugar
que corresponde ao que já ocupamos como uma das grandes potências da economia
do mundo (ATAÍDE in COUTINHO, 1990, p. 16).
44
A primeira edição necessitou de um grande número de colaboradores, devido a
sua dimensão, que, segundo seu autor, foi idealizada e trabalhada desde 1954, com a reunião
de bibliografias e tantas outras organizações para a realização de um trabalho desta
envergadura. A OLAC e um acordo com a FENAME (Fundação Nacional de Material
Escolar), de 1979, possibilitaram acelerar o processo de sua produção. Assim como A
Literatura no Brasil, esta enciclopédia, segundo seu autor, obedece a:
Um conceito poético ou estético de literatura. A sua concepção é de que a literatura
é uma arte – a arte da palavra -, palavra esta que adquire por um tratamento especial
de artifícios retóricos, poéticos e estilísticos – uma dimensão nova, transformando-a
numa linguagem literária que transcende a “língua padrão” e ganha um “sentido”
próprio (COUTINHO, 2001, p. 23-24).
Para a segunda edição, como já havia dados coletados, necessitou-se de um
número menor de colaboradores. Tanta e tamanha dedicação resultou num trabalho rico que
assiste os estudiosos e pesquisadores de Letras. Tal obra fala por si só, pois oferece um
monumento a todos aqueles que buscam o aperfeiçoamento e a descoberta de novos saberes.
Os textos escritos por Afrânio Coutinho que estão presentes na Enciclopédia e n’A Literatura
no Brasil serão analisados no capítulo seguinte.
Muitos foram os trabalhos realizados por Afrânio Coutinho e nesta campanha
que desencadeou, cujo objetivo era a renovação dos métodos de crítica, provocou reações e
controvérsias naqueles acostumados ao comodismo literário:
A renovação dos métodos e processos da crítica literária, bem como por uma
reforma dos costumes literários, de acordo com a mais pura ética do homem de
letras, provocou naturalmente reações e controvérsias, as quais evidenciaram a
grandeza e atualidade do problema que procurava enfrentar (COUTINHO, 1968, p.
135).
Se houve reações de controvérsias, também houve reações favoráveis, fato este
confirmado no testemunho de Alceu Amoroso Lima:
A figura proeminente dessa fase crítica mais recente é o sr. Afrânio Coutinho, que,
estreando em 1935, durante a segunda fase do modernismo, deu-nos em 1940 o seu
estudo sobre A filosofia de Machado de Assis que chamou a atenção para o seu
nome e com os prefácios aos volumes já publicados da obra coletiva, pôr ele
45
dirigida – A Literatura no Brasil, na qual colaboraram cerca de 50 escritores,
marcou um turning point em nossa crítica moderna. [...] Com o neomodernismo e a
campanha de renovação empreendida por Afrânio Coutinho e de tanta repercussão
nas novas gerações, emergiu o estudo do texto, a expressão verbal, a forma, como
sendo o objeto capital da função crítica. Com isso deslocou-se de nôvo a crítica no
sentido do objeto [...]. Daí o nome de crítica formalista que podemos dar a êsse tipo
mais recente da crítica literária entre nós, que marca uma tendência decidida no
sentido do abandono do amadorismo crítico, por uma prática profissional, mais
cuidada, dessa atividade. [...]. Ao lado do nome de Afrânio Coutinho e da obra de
que data, afinal, o início dessa nova perspectiva em nossa crítica, devemos
mencionar alguns nomes que começam a revelar-se desse nôvo tipo de crítica que
inicia uma era nova, no balanço de nossa crítica literária (LIMA apud COUTINHO,
1968, p.135-136).
E o testemunho de Eduardo Portela (1932):
Por isto fêz necessário o estabelecimento imediato de uma nova ordem. Todos, os
lúcidos, os que não se marginalizavam, reconheciam a falência do antigo sistema. O
ambiente se tornou propício à instauração do nôvo regime crítico. Apoderava-se do
país uma mentalidade nova, a do conhecimento aparelhado, da conclusão científica.
A fase do amadorismo estava sepultada. O espírito da Universidade começava a
comandar os estudos literários no Brasil. Afrânio Coutinho foi o principal servidor
dessa causa: a da reformulação crítica, da renovação metodológica. Êle mostrou,
com intransigência e às vezes até com violência todo um sistema de idéias novas,
que se opunha radicalmente àquela entidade inconseqüente e amorfa que era a
crítica nas mãos de nossos críticos de então. E ao mesmo tempo em que lutava para
destruir o cômodamente estabelecido, a mistificação institucionalizada, o que
parecia definitiva e inarredàvelmente instalado no país, Afrânio Coutinho afrontava
e erguia a complexa tábua de valores: a princípio combatida, dificultada, e logo em
seguida, confirmada, aplaudida. É verdade que êle se inscrevia num movimento de
âmbito universal pela renovação dos processos e métodos de pesquisa e
investigação literária. E não tardou para que essa consciência, êsse impacto
renovador conquistassem tôda a nossa motivação crítica, transformando por
completo o nosso modo de operar criticamente e repercutindo, de maneira particular
e positiva, em nossa própria concepção do fenômeno literário [...] (PORTELA apud
COUTINHO, 1968, p.136-137).
Quando questionado sobre a articulação da periodização estilística n’A
Literatura no Brasil, Afrânio Coutinho responde que, desde 1942, seus estudos estiveram
voltados para esta causa, pois não concebia a divisão da literatura em história geral e história
literária. Algumas publicações foram, no entanto, “a pedra de toque na renovação que se
processou em sua mente, no sentido de superar as velhas periodizações cronológica e política
em historiografia literária” (COUTINHO, 1987, p. 599). Baseado em Wellek, o qual deixou
expresso em seu ensaio Theory of Literature o estudo sobre o Barroco, como estilo individual
e de época, ou seja, como estudo literário. Os estudos de Helmut Hatzfeld sobre o estilo
barroco, também serviram “como trampolim para muitas renovações na crítica e historiografia
46
literária modernas, e a periodização estilística foi uma das noções que deles mais lucraram
(COUTINHO, 1987, p.600).
Assim, quando encarregado do planejamento e direção d’A Literatura no
Brasil, estabeleceu a periodização estilística, que era fundamentada na doutrina estético-
literária e não na histórico-literária. Quanto às acusações que recebeu por ter-se utilizado
deste tipo de periodização, Afrânio Coutinho respondeu:
O que combato é o uso de expressões como “Século XIX” para designar a literatura
produzida nesse século, através do qual várias épocas estilísticas se sucederam, cada
qual com a sua característica própria. Ao colocar em seu lugar denominações
literárias – Romantismo, Realismo, Simbolismo, etc., não me parece que esteja
apenas dando denominações diferentes à sucessão cronológica, nem substituindo as
indicações cronológicas por etiquetas estéticas, como afirma Wilson Martins, mas
sim procurando definir estilos literários que, isto sim, se sucederam no tempo do
Século XIX, possuindo cada qual a sua unidade interna sua identidade, sua tipologia
comum, seu sistema de normas (como quer Wellek), que os caracterizam
irrevogavelmente, como tendo aparecido naquele tempo (COUTINHO, 1987, p.
611).
Eduardo de Faria Coutinho, em texto escrito em 1988, por ocasião da posse no
Pen Club, sob o título “Afrânio Coutinho: o Incansável Pensador”, observou as contribuições
de Afrânio Coutinho para a literatura brasileira. Como ponto inicial marca o estabelecimento
da “nova crítica” que provocou uma mudança radical no meio literário. Em meados do
século XX a crítica literária jazia estática, salvo com algumas exceções, baseava-se no
impressionismo e sociologismo.
Com seus ensaios publicados em “Correntes Cruzadas”, e que mais tarde foram
publicados em livros, Afrânio Coutinho, em 1948 iniciou o que Eduardo Coutinho chama de
“derrocada do historicismo”, estabelecendo uma análise intrínseca do fato literário, primando
pelo texto. O filho do autor d’A Literatura no Brasil esclarece que, embora o propagador da
“nova crítica” valoriza os fatores intrínsecos do texto, ele não desconsidera o contexto
histórico-social em que a obra foi produzida, e que, devido a mal-entendidos em virtude
destas colocações, gerou-se um certo desconforto àqueles aferrados aos métodos tradicionais.
Eduardo Coutinho recomenda àqueles que quiserem melhor esclarecimento sobre estas
47
questões, a leitura da ‘A Literatura no Brasil, “obra, antes de tudo, de história literária.
Combate-se ali o historicismo no sentido definido anteriormente, mas respeita-se plenamente
a história” (COUTINHO apud COUTINHO, 2003, p. 61).
Para Eduardo Coutinho, outro ponto crucial de Afrânio Coutinho, e que requer
maior observação, foi mostrar que a literatura brasileira adquirira sua personalidade e
atingira sua plenitude total, tanto na lírica quanto na ficção, desde o início de sua
nacionalidade. Com A tradição afortunada, Afrânio Coutinho mostrou que a presença da
literatura brasileira ocorreu desde as suas primeiras manifestações.
Com o objetivo de transformar a crítica literária brasileira e o ensino de Letras,
o autor d’A Literatura no Brasil volta-se para as universidades e implanta um novo sistema
de ensino de literatura com a criação da Faculdade de Letras, na UFRJ, que se tornou modelo
no país todo.
Afrânio, mais uma vez imbuído da experiência vivida no exterior, onde as
Escolas ou Departamentos de Letras já haviam conquistado ampla e reconhecida
tradição, e do espírito de batalha que sempre o caracterizou, conseguiu, não sem
grande e penoso esforço, torná-los independentes, e lançou a pedra fundamental
de uma instituição que já possui hoje cerca de trezentos professores e um corpo
discente de mais de quatro mil alunos (COUTINHO apud COUTINHO, 2003, p.
63).
São inegáveis as conquistas literárias que ocorreram a partir dos estudos e
publicações de Afrânio Coutinho. Não há como fechar os olhos diante de tanta contribuição,
e decorrentes dela, as modificações que surgiram no meio literário. A própria visão crítica
deixando de lado seu papel impressionista e exercida á luz de critérios, a organização
bibliográfica, a periodização estilística e tantos ensaios e livros que auxiliam o trabalho do
professor em sala de aula, no aprendizado de literatura, enfim nos estudos de literatura no
Brasil. Sua história não é um vade-mécum para profissionais das Letras, no entanto, ela se
faz obrigatória em todas as estantes e cabeceiras daqueles que pretendem aprimorar seus
estudos e conhecimentos sobre a literatura brasileira de uma maneira coletiva.
48
2. HISTÓRIAS DA LITERATURA PUBLICADAS ANTES D’ A LITERATURA NO
BRASIL [1955], DE AFRÂNIO COUTINHO
Desde o “Ensaio histórico sobre a literatura no Brasil” (1836), de Domingos
José Gonçalves de Magalhães até A Literatura Brasileira no Brasil (1955), a periodização da
literatura brasileira passou por uma evolução significativa. No Romantismo, estabeleceu-se o
desejo de definir o que fosse literatura nacional e organizar a história dessa literatura, e muitos
autores adentraram neste campo a fim de organizar e de estabelecer o cânone literário, fato
registrado por Luiz Roberto Velloso Cairo em seu texto “História da Literatura, Literatura
Comparada e Crítica Literária: frágeis fronteiras disciplinares”:
O Romantismo vai difundir o sentimento nacional e criar o conceito deliteratura
nacional” como expressão mais completa da evolução espiritual de uma nação,
gerando conseqüentemente o desejo dos indivíduos de construírem histórias das
literaturas modernas. Histórias que perdessem o caráter de registro de livros e
passassem a ser histórias das obras e das idéias (CAIRO in MOREIRA, 2003, p.
70).
No primeiro capítulo, “Afrânio Coutinho: um olhar sobre o historiador e crítico
literário”, foi apresentado o panorama da vida literária deste historiador e crítico, com alguns
comentários sobre as suas obras, sua fortuna crítica e seu método crítico. Neste segundo
capítulo objetiva-se fazer uma análise comparada das histórias da literatura brasileira que
foram publicadas antes d’A Literatura no Brasil [1955], de Afrânio Coutinho; analisar alguns
aspectos da visão destes autores, cada um inserido em seu contexto histórico; apontar seus
conceitos e métodos no que se refere à Literatura Brasileira, e mostrar como estas histórias se
organizam. A partir da leitura de textos, introduções e prefácios, obra completa ou parte dela,
das Histórias da Literatura que cada um escreveu, basear-se-ão as considerações aqui
expostas, apontando alguns pontos em comum e outros divergentes de cada autor citado.
Seguindo a cronologia da publicação, são estes os textos com o registro de seus respectivos
autores, relacionados:
49
1 1836, “Ensaio histórico sobre a literatura no Brasil”, de Domingos José Gonçalves de
Magalhães (1811-1872).
2 1840, História da literatura brasileira, de Joaquim Norberto Sousa Silva (1820-1891).
3 1843, “Da nacionalidade da literatura brasileira”, de Santiago Nunes Ribeiro (? -
1847).
4 1847, “Ensaio histórico sobre as letras no Brasil”, de Francisco Adolfo de Varnhagen
(1816-1878).
5 1863, O Brasil Literário de Ferdinand Wolf.
6 1872, Resumo da história literária, de Fernandes Pinheiro (1805-1876).
7 1888, História da Literatura Brasileira de Sílvio Romero (1851-1914).
8 1916, História da literatura brasileira, de José Veríssimo (1857-1916).
9 1919, Pequena história da literatura brasileira, de Ronald de Carvalho (1893-1935).
10 1930, História da literatura brasileira de Arthur Motta.
11 1931, Noções de história da literatura brasileira, de Afrânio Peixoto (1876-1947).
12 1938, História da literatura brasileira: seus fundamentos econômicos, de Nelson
Werneck Sodré.
13 1939, História da literatura brasileira, de Bezerra de Freitas.
14 1942, História breve da literatura brasileira, de José Osório de Oliveira.
15 1954, História da literatura brasileira (séculos XVI-XX) de Antônio Soares Amora
(1917).
GONÇALVES DE MAGALHÃES (1632-1724) foi o primeiro escritor a dar
início à linhagem de historiadores literários brasileiros. Com o seu texto “Ensaio histórico
50
sobre a literatura no Brasil”, o autor de Suspiros poéticos e saudades (1836) foi o precursor de
uma visão periodológica da literatura, cujo trabalho estudou a origem, o caráter e a evolução
da literatura brasileira, seus cultores e as circunstâncias favoráveis ao seu florescimento.
Afrânio Coutinho, em Caminhos do pensamento crítico, afirmou que anterior a
Gonçalves de Magalhães, Ferdinand Wolf, profundo conhecedor da literatura latina, expôs à
Europa que já havia aqui uma literatura própria e que, pelo seu caráter peculiar, ela se
distinguia da portuguesa. As considerações feitas por Gonçalves de Magalhães sobre a
literatura brasileira foram anteriores às dele e, no entanto, percebe-se uma comunhão de idéias
no que se refere ao caráter da literatura brasileira. Gonçalves de Magalhães afirmou diante de
uma literatura que se pressentia fértil: “Cada povo tem a sua literatura própria, como cada
homem seu caráter particular, cada árvore tem seu fruto específico” (MAGALHÃES in
COUTINHO, 1972, p. 24). À vista de tal afirmação, acredita-se que, embora se recebessem
influências estrangeiras significativas, havia, ainda que em parte, um produto literário próprio,
ou seja, a literatura brasileira.
No que se refere à periodização, o autor distingue duas etapas históricas:
período anterior a 1808 e posterior a ele. No século XVI – século do descobrimento – não
marca escritor algum; no século XVII – poetas e prosadores com produção de propensão
religiosa e período infértil; no século XVIII, houve alguma produção literária, e finalmente no
século XIX – as transformações e a idéia de pátria imprimem novo aspecto à literatura.
Despreza a idéia da imitação e sugere que os caminhos literários devem ser guiados pela
genialidade dos próprios talentos individuais nacionais.
Sobre a História da Literatura Brasileira, 1840, de JOAQUIM NORBERTO
SOUSA e SILVA, Roberto Acízelo de Souza ao fazer a apresentação da edição de 2002
considera que embora o autor possua uma obra bem extensa, seus estudos literários são o que
de melhor ele produziu. Em 1840, antes portanto de publicar a sua História, publicou o
51
Bosquejo da história da poesia brasileira e, ainda naquela década, dois ensaios de
historiografia literária no Minerva brasiliense: “Estudos sobre a literatura brasileira durante o
século XVII” (1843), e “Considerações gerais sobre a literatura brasileira”(1844), sendo que
foi através do Bosquejo que se tornou o precursor na tentativa de sistematização da história da
literatura brasileira.
Sua História da Literatura é um produto inacabado, pois Joaquim Norberto
não teve oportunidade de reunir os capítulos já publicados, finalizá-los e publicá-los em livro.
As duas edições em livro desta história foram feitas uma final do século XX, e a outra no
século XXI, quase cento e cinqüenta anos após sua publicação na Revista Popular. A primeira
foi organizada por José Américo, em 1997, e a segunda, por Roberto Acízelo de Souza,
datada de 2002 e editada sob o título de História da Literatura Brasileira e outros ensaios.
Quanto à organização, a edição de 2002 apresenta sua parte inicial voltada para a história, a
nacionalidade e a originalidade da Literatura Brasileira. Por algumas vezes nota-se a presença
de uma linguagem altamente poética em seus textos. Quando discorre sobre o que aconteceu
com a literatura, desde o início, não economiza metáforas, antíteses, inversões e ainda dispõe
de um nacionalismo excessivo ao se referir ao país, pelos próprios títulos dos textos por ele
produzidos, como: “Inspiração que oferece a natureza do Novo Mundo a seus poetas, e
particularmente o Brasil”.
Nada de gasto, nada que sinta a lima européia deve ser ouvido no país das
maravilhas, onde tudo é novo, onde corre uma seiva de fogo, onde o pensamento se
eleva e se engrandece, livre, virgem, natural e belo. Assemelhar-se-á a América ao
nosso continente? A poesia que ela revela deve parecer-se com a poesia que se
aprende nos livros? Não; bastante forte é ela para ser aplicável a tudo e
indistintamente a tudo, como aquela de que se acham regras fixas e reproduzidas há
séculos. Lá, onde tudo se mostra cintilante de sublimes belezas, radiante das mais
vivas cores; lá, onde montanhas gigantescas se alevantam escarpadas, ásperas,
terríveis, sobre abismos cujos flancos tenebrosos encobrem águas que se não vêem,
mas que se ouvem rugir entre rochedos, e donde parece que saem vozes que fazem
estremecer (SILVA, 2002, p. 126-127).
Joaquim Norberto relatou um histórico das tribos indígenas brasileiras,
nomeando-as, mostrando seus costumes e sua maneira de viver em comunidade. No relato das
52
lendas indígenas, há uma oposição em relação ao estilo do autor; enquanto sua linguagem
apresenta-se erudita, as lendas surgem cheias de simplicidade, característica do povo
indígena. No que se refere ao século XVII, Joaquim Norberto contou quase toda a trajetória
de Gregório de Matos, citando e analisando algumas de suas poesias. Dedicou um capítulo às
“Academias” e acrescentou também “Cartas Circulares” dirigidas aos acadêmicos e ainda as
“Máximas”, políticas, cristãs, militares. Enfim, sua história é um relato rico, tanto em textos,
quanto em notas de rodapé.
No capítulo “Bosquejo da história da poesia brasileira”, Joaquim Norberto
estabeleceu uma divisão da Literatura Brasileira, sendo a primeira época contada desde o
descobrimento do Brasil até fins do século XVII; ressaltando a influência jesuítica; Bento
Teixeira, Gregório de Matos e Botelho de Oliveira (1636-1711). A segunda: do começo até
meado do século XVIII, marcou a fundação da Academia Brasílica dos Esquecidos, com João
de Brito e Lima (1671-1700) e Gonçalo Soares da França (1689-1753). Terceira época: do
século XVIII, período em que houve a fundação de várias associações literárias, entre elas, a
Arcádia Ultramarina. Quarta época: início do século XIX até a proclamação da independência
nacional, no começo do século, grandes poetas destacaram-se e, embora com idéias várias, já
sentiam a necessidade do estabelecimento de mudanças na poesia brasileira. Quinta época:
desde a proclamação da Independência até a reforma da poesia; quando houve um
despontamento da literatura. Segundo o autor em pauta, foram “Grandes de nomes os poetas
que floresceram em tanta glória” (SILVA, 2002, p. 303). Sexta época: da reforma da poesia, à
luz de teorias européias, quando o Brasil, com entusiasmo, desponta para a glória literária. Há
a fundação da Arcádia Brasileira e aponta Gonçalves de Magalhães como a expressão mais
significativa do período.
53
Afirmou o crítico que, para a elaboração de tais divisões, foram observados,
não só os acontecimentos políticos, mas também as evoluções íntimas da literatura, que, em
seguida, foram reavaliadas, registrando-se novas considerações.
As épocas são meras divisões históricas, difíceis de reter na memória com todos os
autores que nelas aparecem, o que não sucede quando nos referimos à divisão
cronológica. O grande monarca francês que associou as artes, as ciências e as letras
às grandezas do seu reinado não abrangeram os cem anos do século a que por
excelência conferiu a posteridade o seu nome, e, entretanto não se diz os poetas da
época, mas do século de Luís XVI (SILVA, 2002, p. 53).
No que se refere à definição de literatura, Joaquim Norberto afirmou ser “esta
como a humanidade, pois é um círculo imenso, que sempre se engrandece e cujo eixo único, o
ponto de intersecção, é Deus” (SILVA, 2002, p. 25).
No capítulo “Considerações gerais sobre a literatura brasileira”, Joaquim
Norberto manteve seu tom enfático, e o permeou de pontos de interrogação, como quase todos
seus textos, e em sua construção, utilizou-se de termos indígenas. A tônica deste ensaio são as
lutas e derramamentos de sangue. Ao apontá-los, Joaquim Norberto afirmou terem sido estes,
campos férteis para a matéria-prima da poesia. “A língua brasileira” é um ensaio em que o
autor enfatizou a presença e a existência de uma língua genuinamente brasileira. A coletânea
encerra-se com “Histórias de poetas”, no qual há a presença de “Poetas moribundos”, e é
apresentada uma seleção de poemas construída pelos poetas em seu estado final, versos de
despedida demonstram o pressentimento do fim. “Poetas repentistas” mostra que há muito
tempo já se criava o repente, hoje no Brasil privilégio dos nordestinos. “Cronologia”,
“Bibliografia do autor” e “Bibliografia sobre o autor” encerram a obra.
Maria Eunice Moreira, em seu texto “Um rato de arquivo: Joaquim Norberto
de Souza e Silva e a História da literatura brasileira” (2003), inserido na obra de sua
organização História da literatura: Teorias, temas e autores, 2003, afirmou sobre as reflexões
do autor em pauta que:
54
A importância de Joaquim Norberto de Sousa e Silva para a história da literatura
brasileira avalia-se por dois pontos significativos: o primeiro, diz respeito à
definição de um critério orientador à cronologia e à seleção literárias; o segundo,
recai sobre o modelo de escrita dessa história que, nos anos posteriores, seria
observado por outros historiadores (MOREIRA, 2003, p. 354).
Tal assertiva coincide com as observações feitas por Afrânio Coutinho, no
volume III d’A Literatura no Brasil, no texto “A Crítica Romântica”. Segundo ele, a postura
de Joaquim Norberto em favor de uma literatura brasileira foi decisiva. Foi ele que “Planejou
uma história da literatura brasileira, na qual estabelecia critérios de periodização e
determinava o seu início no século XVI” (COUTINHO, 2002, p. 328).
SANTIAGO NUNES RIBEIRO, chileno de nacionalidade, veio para o Brasil
ainda criança. Fundou a revista Minerva brasiliense, da qual foi o principal colaborador e
diretor. Escreveu, em 1843, “Da nacionalidade da literatura brasileira” que é, “um ensaio
fundamental na evolução da idéia de nacionalidade” (COUTINHO, 1972, p.42). Tal ensaio,
pela época em que foi escrito, constituiu um marco na história da literatura pátria pelas
considerações e pelos questionamentos ali presentes, justamente em um período em que a
literatura despontava para a sua evolução. Seu tom é contestador e acreditava que o clima e o
meio social da terra recém-descoberta influenciariam na escritura das obras produzidas neste
solo. “As condições sociais e o clima do novo mundo necessariamente devem modificar as
obras nele escritas nesta ou naquela língua da velha Europa” (RIBEIRO apud COUTINHO,
1972, p.46).
No que se refere ao conceito de literatura, Santiago Nunes Ribeiro afirma:
A literatura é a expressão da índole, do caráter, da inteligência social de um povo
ou de uma época. A poesia é a mais súbita forma de literatura: ela procura
compreender e exprimir por meio da linguagem o que há de mais belo, puro e santo
na vida exterior do século, ou na vida misteriosa da íntima consciência: as outras
artes são formas secundárias desta (RIBEIRO apud COUTINHO, 1972, p. 48).
Quanto à periodização da literatura brasileira, estabelece uma divisão em três
períodos, sendo o primeiro o do descobrimento (José de Anchieta -1534-1597-) até meados do
55
século XVII; o segundo em meados do século XVII (Cláudio Manoel da Costa - 1729-1789)
até 1830; e o terceiro, a partir de 1830.
O “Ensaio histórico sobre as letras no Brasil”, de 1847, faz parte da obra mais
famosa antologia da literatura brasileira, o Florilégio da poesia brasileira, de FRANCISCO
ADOLFO DE VARNHAGEN. Nele o autor faz um levantamento do que se escrevia por aqui,
defende a existência da nacionalidade de nossa literatura e foi quem estabeleceu o cânone da
literatura brasileira. Além do ensaio introdutório, o Florilégio vem acompanhado de um
prólogo no qual ele mostra os critérios em que se baseou para a seleção dos textos e
conseqüente estabelecimento do cânone.
O leitor perdoará a pretensão do título que vai no rosto. Intitulamos este livro –
Florilégio da poesia brasileira - mas repetimos que não queremos por isso dizer,
que oferecemos o melhor desta, porém sim (com alguma exceção) o que por mais de
americano tivemos. Escolhemos as flores, que julgamos mais adequadas para o
nosso fim, embora seja alguma menos vistosa, outra pique por alguns espinhos, esta
não tenha aroma, aquela pareça antes uma descorada orquídea, e aquela outra uma
parasita criada com a ajuda da seiva alheia, etc (VARNHAGEN, 1850, p. 14).
Francisco Adolfo de Varnhagen demonstra seu sentimento de nacionalidade ao
contemplar em sua obra os poetas nascidos no Brasil, a iniciar pela obra do colono Gabriel
Soares, (1527), que residiu dezessete anos na Bahia. O Brasil, por ser um país novo, não tinha
ainda seus poetas, eles precisariam nascer e produzir seus frutos, e foi dentro das tribos
indígenas que eles surgiram. Nelas havia cantores, cujas canções relembravam as façanhas de
seus antepassados. Ao perceberem tal habilidade, os jesuítas trataram de conciliar a poesia e a
música com o ensino de catequese.
De tom poético, o texto de Francisco Adolfo de Varnhagen observa que os
primeiros impulsos à poesia e ao teatro vieram das apresentações de autos sacros, e que dos
colégios jesuítas saíram os primeiros poetas e humanistas brasileiros.
Vicente Salvador (1534-1636), Padre Domingos Barbosa (1632-1685)),
Martinho e Salvador Mesquita, Manoel de Moraes e o Padre Vieira, foram os poetas
56
destacados, juntamente com Gregório de Mattos, a quem ele dá posição de relevância. No
texto há fragmentos de poemas seguidos de comentários do próprio autor, que marca o
Arcadismo e a Academia dos Esquecidos (1724), na Bahia, e a Academia dos Seletos, no Rio
de Janeiro. Entre os autores árcades destaca: Cláudio Manoel da Costa, Tomás Antônio
Gonzaga (1744-1807), Silva Alvarenga (1749-1814), Basílio da Gama (1740-1795) e Santa
Rita Durão (1720-1784).
Em 1955, a Companhia Editora Nacional publicou, em São Paulo, a tradução
da obra Le Brésil Littéraire – histoire da la litterature brésilienne, de FERDINAND WOLF,
intitulado O Brasil Literário – história da literatura brasileira. Sua tradução foi feita por
Jamil Almansur Haddad (1914), quase cem anos após a primeira edição em francês, de 1863,
publicada na Europa. O objetivo do autor era, segundo sua dedicatória ao Imperador do
Brasil, levar a literatura deste país ao conhecimento da Europa. No prefácio da obra, o
tradutor afirmou ser esta uma história literária cujo método foi o de marcar o momento
romântico, pois para ele tal movimento estava ligado ao nacional, e sua crítica reside no fato
de o autor obter importância à medida que tiver contribuído para firmar o caráter nacional da
literatura. Ainda segundo Jamil Almansur Haddad, grande parte desta obra foi dedicada a José
Gonçalves de Magalhães, cuja figuração cronogica foi a primeira mundialmente aceita.
A seguir Haddad aponta, em nota de rodapé, o parecer de Sílvio Romero
(1855-1914) sobre a obra de Wolf:
O livro de Ferdinand Wolf, Le Brésil Littéraire (1863), tem sido e continua a ser
com razão o oráculo de todos na matéria; porque é único em seu gênero. O escritor
austríaco foi o primeiro a fazer um quadro mais ou menos inteiro da nossa
literatura, quadro pálido e incorreto, é certo, mas que se impõe, por estar no
singular. E já lá vão bastantes anos que o livro foi publicado e até bem pouco era o
compêndio oficial de nossos cursos (ROMERO in WOLF, 1955 p. 17).
José Veríssimo (1857-1916) qualificou tal história da literatura como
“estimável”, pois até aquela data havia sido a primeira narrativa completa e sistemática.
Na visão de Arthur Motta, o livro de Wolf :
57
É o mais fornido de indicações concernentes ao Brasil, do que o precedente. Além
da parte histórica, sem descontinuidade, desde os primórdios da nossa formação
histórica até meados do século XIX, apresenta uma antologia de autores nacionais,
desde Euzébio de Matos até Francisco Adolfo Varnhagen (MOTTA in WOLF,
1955 p. 19).
Ferdinand Wolf, quando escreveu o prefácio da obra, apontou que a literatura
brasileira não era conhecida na Europa por não haver acessibilidade de material, e que alguns
destes chegaram as suas mãos devido à amizade que mantinha com os brasileiros José
Gonçalves de Magalhães, Manuel de Araújo Porto-Alegre (1806-1879) e Ernesto Ferreira
França. Afirmou, também, que os primeiros colonos brasileiros eram os filhos de portugueses
e conviviam com os elementos literários trazidos de Portugal; que sua cultura literária
indígena era ínfima e que esses habitantes tinham apenas alguns poemas, hinos religiosos ou
até melodias guerreiras.
No que se refere à periodização da literatura, estabeleceu também uma divisão.
O “Primeiro Período: da descoberta do Brasil até o século XVII” (cultura européia trazida
pelos jesuítas); o “Segundo Período: primeira metade do século XVIII” (extensão da cultura
literária, fundação das sociedades literárias); o “Terceiro Período: segunda metade do século
XVIII” (emancipação da influência da Metrópole); o “Quarto Período: do início do século
XIX até a emancipação política e literária” (influência francesa e inglesa); o “Quinto Período:
de 1840 até os dias atuais”(desenvolvimento da literatura nacional). Esta divisão foi, segundo
Wolf, a prescrita por Joaquim Norberto, com alteração apenas do quarto para o quinto
capítulo. O capítulo é finalizado com a citação do material por ele consultado para a
elaboração da história.
O Brasil literário é dividido em dezoito capítulos, sendo o primeiro dedicado à
introdução da cultura literária pelos jesuítas e Bento Teixeira Pinto como o mais antigo poeta
brasileiro. No que se refere ao Romantismo, o autor afirmou: “Romantismo não é
58
subjetivismo, nem lirismo, nem deliqüescência mórbida, não é exagero melodramático, nem
loucura” (WOLF, 1955 p. 8). Quanto ao desenvolvimento da literatura e sua origem, diz:
A literatura brasileira começou mais ou menos como as suas irmãs da Europa;
desenvolveu-se a princípio sob a égide da Igreja e mercê do cuidado dos seus
servidores. Os missionários cristãos foram os que lançaram as primeiras sementes;
foram os únicos a trazer alguma cultura literária e a ter interesse em conservá-la e
disseminá-la; pois queriam fazer conquistas a um tempo espirituais e intelectuais,
enquanto os conquistadores, leigos, soldados e aventureiros, sem instrução na maior
parte das vezes, não tinham sido levados ao Novo Mundo senão pela atração de
glória e riqueza (WOLF, 1955 p. 18).
Nos outros capítulos, o autor dedicou-se aos poetas, ao teatro e às óperas.
Dissertou sobre o panorama político, econômico e social e de como este influenciou a
literatura. A referência aos poetas é uma constante, visto serem eles, segundo Wolf, de grande
importância para as letras brasileiras. No capítulo XIII, o autor fez a primeira referência à
linguagem; nos posteriores, referiu-se ao momento de emancipação política, à influência da
escola romântica e aos elementos nacionais.
Todo o livro é permeado de notas de rodapés e tanto no próprio texto quanto
nas notas, aparecem fragmentos de poemas, alguns seguidos de análises. Nos capítulos XVII e
XVIII, último do volume, o autor fez referência à poesia dramática, às tragédias e à
introdução do Romance na literatura brasileira. Ferdinand Wolf encerra o volume chamando o
texto de ensaio com uma antologia em anexo.
Resumo da história literária, do Cônego Fernandes Pinheiro, de 1872, é um
volume hoje encontrado apenas em acervos de obras raras, e portanto de difícil acesso, no
entanto, o volume único do Curso Elementar de Literatura Nacional, 1862, do mesmo autor,
é o prenúncio do Resumo da História Literária, que, foi escrito dez anos depois daquela obra.
Na “Introdução” à primeira edição, Fernandes Pinheiro relatou que, quando foi nomeado
Professor de Retórica, Poética e Literatura Nacional, sentiu necessidade de um livro que
viesse preencher um espaço vazio do curso. Para tanto se dedicou a este trabalho estudando
autores pertinentes aos períodos e deixando que permanecesse a mesma ortografia dos
59
autores, respeitando sua dicção, que segundo ele, preservaria também a fisionomia dos
mesmos.
Em janeiro de 1864, em Lisboa, os senhores Luiz Augusto Rebello da Silva e
Antônio da Silva Tullio no que se refere ao Curso Elementar, comentaram:
Se esta obra, pela sua índole peculiar como compendio, ainda não é o livro de que
tanto carecem as nossas lettras, parece-nos todavia um dos escriptos mais
completos e noticiosos que sahiu dos prelos brazileiros, ou portuguezes, nos
ultimos tempos (sic) (PINHEIRO, 1883, p.1).
A obra de Fernandes Pinheiro é dividida em quarenta e três lições, sendo que
na primeira, ele se dedica à origem da Língua Portuguesa, traçando seu histórico, pois
acreditava ser ela o instrumento da literatura. Na segunda há uma breve noção de literatura,
sua divisão e o estabelecimento do significado próprio da palavra. Elabora ainda o seu
conceito original:
Literatura é antes poderoso elemento de civilisação, alavanca de Archimedes com
que se póde abalar qualquer systema político por mais solidas que sejam suas bases.
Entregue a mãos mercenarias, dominada por maleficas intenções, póde causar
tantos males quanto bens della se colhe quando bem dirigida (sic) (PINHEIRO,
1883, p. 10).
No que se refere ao caráter original da literatura brasileira, Fernandes Pinheiro
o desconsidera, pois afirmou que esta se fez a partir da portuguesa. Aponta Durão, Basílio da
Gama, os Caldas, S. Carlos, os Alvarengas e Cláudio M. da Costa como precursores. Chama a
literatura portuguesa de nacional e, por não haver literatura brasileira estabelece o termo
nacional para designar as duas.
Na espécie satírica, o autor de maior expressão foi Gregório de Matos e marca
o gênero épico e o romance. A quinta época organiza-se com poucas diferenças das
anteriores, e a cada subtítulo e autor citados, foram acrescentados suas obras, trechos e
análises destes. São freqüentes também as notas de rodapé. Até a quinta época, quase todo o
texto é voltado à Literatura Portuguesa.
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Segundo o autor, até o momento da escrita desta obra, não houve divisão entre
as duas literaturas, pois os costumes e o clima brasileiros não eram suficientes para constituir
uma literatura independente. Destaca a figura de Magalhães e cita trechos de seus escritos.
Observou que as monografias que vários brasileiros escreviam seriam documentos para
estudos futuros. Tais considerações encerram a obra.
De leitura árdua, o Curso Elementar e o Resumo da história literária, de
Fernandes Pinheiro são permeados de arcaísmos e refletem muito mais a Literatura
Portuguesa que a Brasileira, deixando-lhe espaço somente na parte final.
A História da Literatura Brasileira, escrita por SÍLVIO ROMERO, teve sua
primeira edição publicada em 1888, e a segunda em 1901, ambas foram publicadas em dois
volumes. A partir da terceira edição, por Nélson Romero, filho de Sílvio Romero passou a
contar com cinco volumes. Na primeira edição, Romero propõe a seguinte divisão para a
literatura: a) - Período de formação (de 1592, data suposta da publicação da Prosopopéia, de
Bento Teixeira Pinto, a 1768, data da publicação das Obras poéticas, de Cláudio Manoel da
Costa); b) - Período de desenvolvimento autonômico (de 1768 a 1836, data da publicação de
Suspiros poéticos e saudades, de Magalhães); c) - Período de reação romântica (de 1836 a
1875, ano do aparecimento dos Ensaios de filosofia e crítica, de Tobias Barreto); d) -
Finalmente o Período de reação crítico-naturalística, (de 1875 a 1893, data dos Broquéis, de
Cruz e Sousa).
Na segunda edição, sugeriu duas outras possibilidades. Uma seria, 1º Período
clássico (de 1549, data da fundação do Colégio da Baía, a 1836); 2º Período romântico (de
1836 a 1870, ano das primeiras reações anti-românticas); 3º Período (das reações anti-
românticas, de 1870 a 1900 e anos posteriores, até a formação de algum movimento nacional
novo e original, que venha a substituir as escolas atuais). E a outra: 1º Período (puramente
61
clássico, de 1592 a 1792); 2º Período (de transformações ulteriores), desde as Liras, em 1792,
até os simbolistas.
No que se refere ao objetivo da sua História da Literatura, Sílvio Romero
aponta as leis que presidiram e continuam a determinar a formação do gênio, do espírito, do
caráter do povo brasileiro. Como Joaquim Norberto Sousa Silva, também registra as
dificuldades encontradas para a produção de uma História da Literatura. Diante da dúvida de
quais autores contemplaria nesta História da Literatura, optou por autores nascidos no Brasil,
e também por aqueles que, embora nascidos em Portugal, tiveram suas vidas estabelecidas em
território brasileiro. Sua pretensão era escrever um trabalho naturalista à luz dos critérios
popular e étnico para explicar o caráter nacional, e não deixar descobertos os critérios
positivista e evolucionista no que se refere à relação do Brasil com a humanidade.
Sua História da Literatura contém duas partes bem distintas: no primeiro
volume, mostram-se os elementos de uma história natural das letras, estudam-se as condições
do determinismo literário, as aplicações da geologia e da biologia às criações do espírito. No
segundo volume, traça-se o resumo histórico das quatro grandes fases da literatura brasileira:
Período de formação: 1500-1750 – inicia-se com a descoberta do país, e vai até os
meados do século XVIII; período de desenvolvimento autonômico 1750-1830 –
descoberta das minas, impulso autonômico do país dentro de suas limitações;
período de transformação romântica 1830-1870 – principia com o romantismo
político de Constant e o afastamento do lusitanismo literário e período de reação
crítica (de 1870 em diante) – reação crítica naturalista, busca da harmonização das
nossas tradições (ROMERO, 1943, p. 43).
Por fim, afirmou Sílvio Romero que a divisão por ele proposta não se atenta
exclusivamente aos fatos literários, pois para ele:
A expressão literatura compreende todas as manifestações da inteligência de um
povo: - política, economia, arte, citações populares, ciências... e não, como era de
costume supor-se no Brasil, somente as intituladas belas-letras, que a-final
cifravam-se quase exclusivamente na poesia! (ROMERO, 1943, p. 44).
62
No que se refere à literatura, concebe-a como organismo e como o resultado da
combinação de três fatores, meio, raça e correntes estrangeiras, cabendo ao crítico reconhecer
as influências estrangeiras na literatura e descrevê-la.
Assim, pois, cumpre não perder de vista serem os fatores primordiais e permanentes
de nossa vida espiritual, respectivo de nossa literatura, - a natureza e a raça, que lhe
constituem o organismo e a alma, e ser o fator móbil, variável, externo – a
influência, a imitá-lo estrangeira. Aberta a quem desconhece os primeiros; erraria
quem escondesse o último (ROMERO, 1943, p. 258).
Para ele, o meio influi em decisões políticas, sobre as legislações internas, no
fato da escravidão e também nas criações estéticas literárias, pois bom humor e condições
físicas fortes advêm do contexto em que os autores vivem. Diferenciando-se de Joaquim
Norberto, Sílvio Romero escreve que a civilização americana é um processo de transformação
da cultura européia. Antes da autonomia política e literária, seguiu-se o modelo da metrópole,
o que acabou sendo uma dupla imitação, pois esta além de realizar, imitava também.
O crítico propõe, ainda, a problemática da definição do que seja o brasileiro e
aborda a diferenciação étnica que teve quatro séculos para efetivar-se: o português, o índio, o
africano, mais o clima e suas influências estrangeiras (francesa). Toda essa interação levou ao
mestiçamento moral e físico, tal qual ele o define. É dessa junção de almas e de sangues que
se faz o brasileiro, definindo-se assim seu critério etnográfico. Não acredita Sílvio Romero
que os primeiros 50 anos do século XVIII sejam um período literário no Brasil, pois não se
percebe evolução espiritual nos brasileiros e não vê motivos que marquem uma fase como os
primeiros quarenta anos do século XIX.
Apresenta sua própria divisão, ainda que modificada, e por fim tem uma visão
mais sintética, sendo: período de formação ou período clássico, de 1592 a 1836; e período de
desenvolvimento ou de reações ulteriores, de1836 até a época atual (da escrita da obra), e a
continuar pelos anos adiante.
63
Segundo Medeiros de Albuquerque (1867-1934), para Sílvio Romero os livros
de Ferdinand Wolf, de Sotero dos Reis (1800-1871) e de Joaquim Norberto foram de pouca
serventia devido à magra contribuição que lhe prestaram. Sílvio Romero esforça-se
prodigiosamente na produção de sua História da literatura, pois tinha mais propensão à síntese
do que à análise, fato que o tornava melhor expositor de generalidades que julgador de
personalidades, e seu critério de julgamento de autores variava constantemente.
JOSÉ VERISSÍMO estabeleceu-se e alcançou renome como crítico literário na
ciadade do Rio de Janeiro, e em 1916 a Livraria Francisco Alves & Cia publicou sua História
da Literatura Brasileira.
Suzana Vargas, poetisa e Mestre em Teoria Literária pela UFRJ, fez uma
“Breve Introdução explicativa ao ideário crítico da época”, para a edição de 1998, e nela
afirmou que o método crítico de José Veríssimo contrapôs-se ao de Sílvio Romero, pois este
encarava as obras do ponto de vista documental, biológico e sociológico. Já Veríssimo adota o
ponto de vista estético-literário, valorizando a expressão do belo e reconhecendo os nomes
que tiveram relevância. Segundo a autora, a História da Literatura Brasileira, de Veríssimo,
ao lado da História da Literatura Brasileira, de Sílvio Romero, e a Pequena História da
Literatura Brasileira, de Ronald de Carvalho, foram os primeiros livros que, com seriedade e
relevância, sistematizaram os estudos literários brasileiros de caráter histórico e biográfico.
A História da literatura brasileira, de José Veríssimo, apresenta dezenove
capítulos, e se inicia com “A Primitiva sociedade colonial” e “Primeiras manifestações
literárias”, passa pelo Romantismo, ao qual o autor dedica sete capítulos. Ainda há dois
capítulos sobre o “Teatro e a Literatura dramática”, “Publicistas, Oradores e Críticos” e
finaliza com um capítulo dedicado a Machado de Assis, cuja genialidade Veríssimo
antecipou-se em reconhecer. Para Veríssimo, a emancipação literária brasileira se deu com o
Romantismo, juntamente com a emancipação política. Considerou duas divisões para o
64
desenvolvimento da Literatura brasileira: Período colonial, no qual se estabeleceram a
“Primitiva sociedade colonial”, “As Primeiras manifestações literárias”, “O Grupo baiano”,
“Gregório de Matos” e “Aspectos Literários do século XVIII”. Com a “Plêiade mineira”
estabeleceu-se um período de transição entre colônia e nação, e com os “Predecessores do
romantismo” iniciou-se o Período nacional. Segundo Susana Vargas, o Período Colonial deixa
a desejar pela quantidade e extensão, já que a ênfase foi no caráter didático e cronológico. O
Período nacional inicia-se já com a emancipação política e sob influência de outras culturas,
expressando o compromisso do autor com a cultura de seu país.
Diferentemente de Sílvio Romero, que aponta a hereditariedade e a adaptação
como sendo forças indispensáveis à literatura, José Veríssimo mostra que o caráter dominante
de sua crítica não foi um traço científico; mas, moral, voltado para a independência. Protestou
contra o nacionalismo literário e especialmente crítico. Este foi, certamente, o ponto que mais
o diferenciou dos seus companheiros. A crítica romântica empenhou-se em proclamar a
autonomia da literatura brasileira e a exaltação nacional, no entanto, a realista já encontrou
este problema resolvido.
No prefácio da 5ª edição da História da Literatura Brasileira (1968), Tristão
de Athayde, pseudônimo de Alceu Amoroso Lima, afirma que nela aparecem, ainda que
mínimos, sinais de autonomia literária brasileira, pois Veríssimo reconheceu a Literatura
Brasileira como autônoma e não apenas como um “ramo da literatura portuguesa”.
Demonstrou também que a linguagem constitui fator preponderante na diferenciação e na
independência de uma literatura, além de atribuir ao Romantismo o início da literatura
brasileira. E Tristão de Athayde comunga desta idéia.
Ainda segundo Alceu Amoroso Lima, José Veríssimo considerava a literatura
dentro de um conjunto de atividades sociais e as obras como sendo o objeto da própria crítica,
centrada nelas e não nos autores, evitava adjetivações encomiásticas ou depreciativas, e ainda
65
analisava os dois lados do texto, seus prós e os seus contras. “Seu realismo é que o levou a
manter-se a meio-termo, do psicologismo de Araripe Júnior e do sociologismo de Sílvio
Romero” (LIMA in VERÍSSIMO, 1969, p. 17-18).
Propõe as divisões da Literatura Brasileira como a própria divisão da história:
período colonial e período nacional.
As duas únicas divisões que legitimamente se podem fazer no desenvolvimento da
literatura brasileira, são, pois, as mesmas da nossa história com o povo: período
colonial e período nacional. Entre os dois pode marcar-se um momento, um estádio
de transição, ocupados pelos poetas da Plêiade Mineira (1769-1795) e, se quiserem,
os que os seguiram até os primeiros românticos (VERÍSSIMO, 1969, pp. 4-5).
Segundo o crítico, não foram mais de três os poetas que se mostraram
impressionados pela sua terra, cantaram-lhe as belezas naturais com um exagerado ufanismo.
Sobre o período nacional afirmou: “Toma outra feição que a puramente portuguesa a nossa
literatura no segundo período, o nacional” (VERÍSSIMO, 1969, p. 5).
No início da História da Literatura Brasileira, José Veríssimo alerta o leitor
que excluiu desta obra os textos que não considerava literatura, pois seu livro é um sinônimo
de belas letras. Embora a definição germânica afirme que tudo o que se escreve num país,
tanto poesia lírica quanto economia política, romance e direito público, teatro e artigos de
jornal, e até o que não se escreve seja literatura, o autor deixou explícita a sua posição de
contrariedade com este tipo de afirmação.
Para ele, a literatura portuguesa é a mãe da literatura brasileira, pois ela foi
permeada de um mau patriotismo dos historiadores que valorizavam tudo o que era escrito,
por isso não pretende a história por ele escrita, um cemitério cheio de autores mortos, salvo no
período colonial, que se ocupará de sujeitos e obras escassos ou até de nenhum valor literário,
como todas da época o são. José Veríssimo do ponto de vista histórico, elenca autores e livros,
que ainda tenham algum valor de iniciadores, precursores dos movimentos literários, pois:
66
É justamente naquele período de formação, o mais insignificante sob o aspecto
estético, mas não o menos importante do ponto de vista histórico, que mais
numerosos se nos depararão obras e indivíduos de todo mofinos. Temos, porém, de
contar com eles, pois nessa formação atuaram sequer com o seu exemplo e
ajudaram a manter a tradição literária da raça (VERÍSSIMO, 1969, p. 13).
O conceito diretor que presidiu esta história foi o de uma história da literatura
brasileira que englobasse as atividades literárias que sobreviveram na memória de um povo e
de uma nação. E ainda assim, foram postos à luz alguns nomes que bem pouco, ou quase nada
representaram. Quanto aos elementos biográficos, e outros dados cronológicos, José
Veríssimo atribuiu-lhes extrema importância, pois é através deles que se situam os autores e
as obras, indicando-lhes a ação e a reação. Obras e não livros são, sob o olhar de José
Veríssimo, imediato objeto da história da literatura. Sua noção é de que uma obra literária
precisa ser possuidora de virtude de pensamento, expressão que conquiste a estima e o agrado
geral. Se assim não o for, ela é morta. “Um livro pode constituir uma obra, vinte podem não
fazê-la. São obras e não livros, escritores e não meros autores que fazem e ilustram uma
literatura” (VERÍSSIMO, 1969, p.14).
O autor tentou, na exposição desta história da literatura, caminhar entre os
gêneros literários, poesia épica, lírica ou dramática, história e romance. Embora não quisesse
com esta obra, ocupar-se dos autores mortos, fica quase impossível por se tratar das duas fases
da literatura brasileira.
Sobre José Veríssimo e sua História da Literatura Brasileira, Fábio Lucas, ao
escrever o prefácio da obra de Ronald de Carvalho, Pequena História da Literatura
Brasileira, afirma que, embora José Veríssimo difira de Sílvio Romero em tantos aspectos,
compartilha com ele a idéia de Literatura como fonte da evolução nacional. Luiz Roberto
Velloso Cairo, em seu texto “História da Literatura, Literatura Comparada e Crítica Literária:
Frágeis Fronteiras Disciplinares”, de 2003, observou sobre o discurso de José Veríssimo:
Na história da literatura de José Veríssimo, seu discurso expressa índices bastante
curiosos que revelam uma enorme lucidez do crítico e historiador, como por
67
exemplo o caráter transitório do próprio cânone, ao apontar para uma constante
revisão que deverá ser praticada pelos historiadores futuros (CAIRO in MOREIRA,
2003, pp. 74-75).
RONALD DE CARVALHO é o autor da Pequena História da literatura
brasileira [1919] que, embora tenha sido escrita numa época da transição da estética literária,
manteve-se ligada à tradição anterior, pois seu autor recebeu influências de Sílvio Romero e
de José Veríssimo. Se bem que histórico, o primeiro capítulo enfatiza o meio geográfico e
mostra a opinião de escritores estrangeiros e também a do próprio autor sobre o Brasil, que é a
de citar a majestade dos encantos da fauna e da flora brasileiras. Aponta ainda a formação e o
desenvolvimento da literatura brasileira, bem como as influências estrangeiras e estabelece a
divisão da literatura em três períodos distintos: 1º) período de formação, obra exclusiva do
pensamento português de 1500 a 1750; 2º) período de transformação, neutralização da
influência lusitana pelos poetas da escola mineira (1750-1830) e 3º período autonômico
chegada das influências das correntes européias pelos românticos e naturalistas e a
nacionalidade da Literatura (1830 em diante).
Os capítulos II e III são dedicados à poesia e às lendas populares. Neles o autor
inicia o “Período de formação”, mostrando o aspecto geral da sociedade brasileira do século
XVI e as influências estrangeiras. No IV e V capítulos, há o nascimento do sentimento
nativista, com “A Escola baiana”, “ Gregório de Matos”, e com as “Academias literárias”.
Finaliza o “Período de formação” ressaltando a figura de Gregório de Matos, Frei Vicete
Salvador e Sebastião Rocha Pita”. O “Período de transformação” englobou o VI e o VII, cujo
teor está voltado para “A Escola mineira”, os “Poetas menores”, “Prosadores” e os “Últimos
árcades”. No capítulo VIII, é mostrado “O Período autonômico”, dedicado ao “Romantismo”
e IX ao “Naturalismo”. O capítulo XI finaliza a primeira edição desta obra, e nas outras
edições foi acrescentado o XII, escrito por Fábio Lucas que discorreu sobre os “Tempos
modernos: a década de 20”.
68
Segundo Fábio Lucas (1931),
Depois da notoriedade de Sílvio Romero e de José Veríssimo como historiadores de
nossa literatura, o mais conhecido condensador do panorama literário brasileiro foi
Ronald de Carvalho. Dizia-se que, afinal, tínhamos um historiador brasileiro “com
estilo”, já que os outros não lograram a reputação de serem grandes escritores. Para
Medeiros de Albuquerque, Ronald de Carvalho é o primeiro de nossos historiadores
que sabe escrever (LUCAS in CARVALHO, 1984, p. 16).
No que se refere ao pensamento de Sílvio Romero, Fábio Lucas observou a
similaridade de pensamento de Ronald de Carvalho, no tocante à valorização demasiada dos
fatores extrínsecos da produção da obra, a sua ênfase no fator racial e também acreditou no
cientificismo da produção literária, assim como fez Sílvio Romero, fato este também
observado por Luiz Roberto Velloso Cairo:
Tido como o primeiro dos historiadores da literatura brasileira que realmente sabia
escrever, Ronald de Carvalho repete os modelos das histórias anteriores, reforçando
mesmo a visão de história da civilização apresentada por Sílvio Romero. Seu
conceito de literatura é bastante amplo, na medida em que as obras são vistas como
monumentos (CAIRO in MOREIRA, 2003, p.77).
Para Ronald de Carvalho, a literatura é um processo que está em movimento e,
por isso, sujeito as modificações e aperfeiçoamentos, e ainda:
As literaturas são como os seixos no fundo quieto dos rios: precisam de muitas e
diferentes águas para se tornarem polidas. E se, por um lado podem ficar menores,
perdem, por outro, certas arestas duras e agressivas, infinitamente mais nocivas à
sua perfeição (CARVALHO, 1984, p. 51).
Na opinião de Fábio Lucas, a Pequena História da Literatura Brasileira
constitui um marco na historiografia literária do país, pois não chegou a sofrer o esquecimento
pelo qual passou a História da Literatura, de Sílvio Romero.
A História da Literatura Brasileira, de ARTHUR MOTTA, foi publicada em
três volumes, em 1930, em São Paulo. No “Prefácio” da obra, o autor estabelece para a
primeira parte, os itens que ele chama de “parte estática”, na qual estuda a natureza
fundamental de um organismo. Nela estão incluídos os antecedentes históricos, os
movimentos europeus e o caráter da Literatura Portuguesa, além de mostrar como a província
69
de Santa Cruz se formou, o meio físico, suas tradições, até chegar à fisionomia própria da
Literatura Brasileira. Em seguida marca a parte concreta, na qual há a apreciação dos
escritores e suas obras. Além disso realça as bibliografias e biografias e inclui a crítica.
Capítulos de síntese, quadros sistemáticos, estabelecidos com critério cronológico; índices
analíticos, onomásticos e em ordem alfabética e quadros cronológicos estão no final de cada
volume. Segundo ele, o método histórico e a ordem cronológica estabelecem importantes
critérios, e marcam divisores de tempo, pois a história civil de um povo prevalece sobre ele.
Assim utiliza-se de séculos para fixar os fatos relativos ao tempo e a épocas ou períodos
literários para a sua significação e importância. Transitando entre os termos “era” e “época”,
Arthur Motta, após estabelecer várias divisões para a literatura, opta pela divisão em época,
sendo a 1ª Época a do descobrimento até a independência (época de formação); a 2ª Época
estende-se das tentativas de autonomia ao advento do Romantismo (época de transformação)
e a 3ª Época alonga-se do Romantismo à contemporaneidade (época de expansão econômica).
No que se refere à divisão em gêneros literários, afirmou ser esta desconexa,
pois traz dificuldades na distribuição de assuntos e não condiz com o método cronológico que
também norteou seu trabalho.
Quanto ao conceito de literatura, o autor o repete como sendo “bellas lettras”,
no entanto, para o contexto de uma História da jiteratura, apontou-o diferentemente:
Creio mesmo que se não pode mais permutar ou alterar o significado da palavra
litteratura, como synonymo de bellas lettras. Mas apesar disso, insisto em se tornar
necessário abranger na “História da literatura” as manifestações múltiplas da
mentalidade de um povo, consideradas as influencias recíprocas das sciencias, da
philosophia, da historia, da política e das artes com a litteratura, como o fazem
aliás, vários escriptores francezes (MOTTA, 1930, p. 23).
Arthur Motta teve como objetivos, ao elaborar este trabalho, reunir os
elementos de estudo com sua linearidade lógica e natural, investigar as origens e buscar
estabelecer o progresso da história literária brasileira e dar uma contribuição valiosa ao Brasil
literário. A certeza de que seus três volumes contribuíram para os estudos brasileiros permeia
70
o pensamento de todo leitor que se aventura a correr os olhos sobre sua extensa obra, no
entanto, devido à dificuldade vocabular, permeada de arcaísmos, a leitura da História da
Literatura Brasileira de Arthur Motta tornou-se lenta e cansativa, para pesquisadora.
Noções de História da Literatura Brasileira, de AFRÂNIO PEIXOTO é o
resultado de um curso de férias que foi ministrado no Rio de Janeiro, em 1931, para atender a
universitários dos Estados Unidos que vieram conhecer o Brasil. Coube a Peixoto a tarefa de
ministrar aulas sobre Literatura Nacional, por isto a elaboração da obra. Estruturada em
períodos curtos, seu autor se reporta a Taine e a sua teoria sobre o meio, raça e momento,
ressaltando sua importância, sem extrapolações, dando a ela somente o seu papel necessário.
Como ponto fulcral da literatura, afirmou:
Maior, ou tanta importância, tem, nos factos literarios, essa idéia que em geral
menosprezamos, ou não prezamos como as primarias, de raça e de meio: é que a
literatura, e as artes, são decorrências sociaes, reflectem, derivam, continuam, como
a flor na ponta do galho, o ramo, o tronco, as raízes, de que provêm; a sociologia
mais do que a physiologia, explica, directamente, os phenomenos literários. O
romantismo teve raízes políticas e foi em arte uma emancipação revolucionaria
contra o classicismo, que representava o antigo regimen (PEIXOTO, 1931, p.17).
Discorda da teoria de que os gêneros literários são fixos, pois eles estão
condicionados ao tempo, e este muda mais rapidamente que os homens. Encara a literatura
como moda, pois também a arte literária se torna enfadonha e necessita de novidades.
Todo mundo sabe o que é a moda. Um phenomeno sociológico, collectivo,
propagado por um cabeça, um meneur, às vezes obscuro, da multidão, e que a
conduz, se preparada para receber esta influência (PEIXOTO, 1931, p. 17).
Afrânio Peixoto faz referência aos trabalhos de história da Literatura anteriores
ao seu citando: Ferdinand Denis, Ferdinand Wolf, Fernandes Pinheiro, Sílvio Romero, José
Veríssimo, Ronald de Carvalho e Arthur Motta. Como primeiro poeta marcou Gonçalves
Dias, afirmando que naquela época, havia uma maior preocupação com a “colocação do
pronome”, ou seja, aspecto formal da língua que propriamente com o aspecto literário
nacional.
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Noções de História da Literatura Brasileira é organizada em seis capítulos. O
autor aborda temas relacionados à política, à sociologia, às ciências e à literatura e apresenta
ilustrações da flora brasileira, dos indígenas e de seu modo de vida. Um espaço é dedicado
aos autores citados, às biografias e às obras. Uma sinopse com datas e respectivos
acontecimentos encerra todos os capítulos. Neles há o estabelecimento da trajetória da
literatura colonial com cartas e documentos, em especial a “Carta de Caminha” e enfatiza-se a
imitação da Metrópole, o “Cultismo”, e a Reação contra a ela. Observa-se também trechos de
poemas seguidos de comentários e o fato marcado de que José de Alencar foi o primeiro
escritor a escrever “em brasileiro”. Literatura abolicionista e a proclamação da República
encerram esta parte. Finalmente, escreveu sobre as influências estrangeiras, Naturalismo,
Parnasianismo e o Simbolismo, e ainda sobre a Política na Independência, na Abolição e na
República. Figuram dentro da obra gravuras de autores e réplicas de capas de livros
publicados anteriormente.
Em 1938, a Livraria José Olympio publicou a 1ª edição da História da
Literatura Brasileira – seus fundamentos econômicos, de NELSON WERNECK SODRÉ. A
segunda edição foi publicada em 1940 e a terceira em 1960. Tal obra é apresentada numa
linguagem contundente e já no índice há o estabelecimento tríplice da periodização: Literatura
colonial, Esboço da literatura nacional e Literatura nacional.
Na Introdução, Nelson Sodré valoriza os historiadores Sílvio Romero e José
Veríssimo, pois estes mostraram “as íntimas ligações existentes entre a manifestação literária
e o meio social” (SODRÉ, 1960, p. 2). No que se refere ao conceito de literatura, apela para
conceitos já existentes de W. Emerson (1803-1882), Charles Du Boss e José Veríssimo, não
esboçando um conceito próprio. Ainda na introdução, Sodré traça um paralelo entre o
pensamento de José Veríssimo e o de Sílvio Romero, apontando os pontos em comum entre
os dois autores. Na primeira parte da obra, “Literatura colonial”, o autor discorre sobre as
72
origens do Brasil, quanto ao seu aspecto econômico, e ressalta o trabalho dos jesuítas como
sendo o grande foco de difusão da cultura. As primeiras manifestações literárias ocorreram
justamente em virtude do trabalho dos jesuítas através de espetáculos, que eram representados
pelos próprios índios. Dedica ainda alguns capítulos à vida urbana no Rio de Janeiro, às
mudanças de costumes e ao papel da mulher.
A segunda parte, Esboço da literatura nacional, é a mais extensa da obra.
Dividida em quatorze capítulos, oito deles foram dedicados ao Romantismo, suas origens e
bases. Nos outros, dedica-se ao indianismo, afirmando ser esta característica merecedora de
um tratamento especial dentro da obra, pois foi ele a mola propulsora da literatura e de sua
popularização.
Na terceira e última parte, chamada de “Literatura nacional”, o autor trata do
Modernismo, movimento que veio para destruir o que já estava pronto e construir algo novo.
Fontes bibliográficas e um índice onomástico encerram a obra. A História da literatura
brasileira, de Nelson Werneck Sodré, foi a primeira e talvez a única a dedicar um espaço à
mulher:
Em nenhum outro aspecto como no tratamento dado às mulheres essa mudança
revelou tão nitidamente. O resguardo oriental começaria a ceder terreno.
Emancipava-se, vagarosamente sem dúvida, a esposa, como a filha, da áspera
condição doméstica. (...) Cito agora o provérbio português ao qual fiz alusão: “Uma
mulher já é bastante instruída quando lê corretamente as suas orações e sabe
escrever a receita da goiabada” (SODRÉ, 1960, p.159).
Desde a Introdução até o índice onomástico, há a presença constante de
citações de outros autores, teóricos ou não. Cada capítulo segue acrescido de notas literárias.
Como o próprio título da obra denota, houve pouquíssimas, ou quase nenhuma presença da
análise de poemas e fragmentos de prosa. A linguagem não é poética e também não se sente o
leitor motivado a continuar a sua leitura, talvez devido ao fato de não apresentar nuances
poéticas. Seu discurso parece mais com o de uma obra política/social, provavelmente pela
formação marxista do autor.
73
A História da Literatura Brasileira, de BEZERRA DE FREITAS, tem sua
primeira edição em 1939, pela Livraria da Globo, em Porto Alegre. A obra possui um único
volume e nele o autor discorre sobre as condições de formação da Literatura brasileira, as
influências recebidas e dedica uma parte significativa à Língua Portuguesa, utilizando, para
tanto, o referencial teórico de Teófilo Braga (1843-1924). Para ele, as épocas históricas da
Língua Portuguesa, coincidem com as fases da Literatura, apresentando a seguinte divisão: 1ª
– desde a elaboração de documentos jurídicos até final do século XIV; 2ª – separação entre os
escritores e o povo – começo do século XVI; 3ª – estabelecimento de disciplina gramatical –
século XVI e XVII; 4ª – prevalecimento da doutrina árcade – século XVIII e 5ª – fim do
pedantismo gramatical – início do Romantismo.
Quanto à evolução da Literatura Brasileira, Bezerra de Freitas estabeleceu:
“Fase da formação (da primitiva sociedade colonial à plêiade mineira) fase do
desenvolvimento (dos predecessores do romantismo aos naturalistas) e fase de reação crítica
(do parnasianismo aos dias atuais)” (FREITAS, 1939, p. 55).
A partir daí, divide os capítulos por séculos, acrescentando fragmentos de
poemas, fotos e desenhos dos autores mais significativos. Dedica também um espaço à crítica,
enfatizando os nomes de Sílvio Romero, José Veríssimo e João Ribeiro. Quanto à história da
literatura brasileira, afirmou que esta deve ser estudada através das correntes estéticas, pois:
A história da literatura brasileira não é uma simples enumeração de escolas e
grupos, mais ou menos apaixonados, ávidos do predomínio das suas fórmulas e
cânones estéticos. É a crônica animada e múltipla da nossa civilização (FREITAS,
1939, p. 263).
No que se refere à literatura, acrescentou: “A literatura só interessa como
expressão de um sentimento ou de uma vontade. Sensível a todas as tendências do mundo
moderno, ela procura se colocar sob o signo da beleza nova” (FREITAS, 1939, p. 275). Ele
acreditava ser a literatura e a arte instrumentos de combate à dor e de defesa da cultura.
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Estabeleceu uma sistematização de representações para a literatura, sendo, no século XVI, a
poesia mística de Anchieta; no século XVII, a sátira de Gregório de Matos; no século XVIII,
Basílio da Gama e o lirismo de Tomaz Antônio Gonzaga; no século XIX, indianismo de
Alencar ou romantismo de Gonçalves Dias e Álvares de Azevedo (1831-1852).
Considerações sobre o movimento Modernista e sobre o romance contemporâneo finalizam a
obra.
Em 1942, a Editorial Inquérito Lda, publica a História Breve da Literatura
Brasileira, em Lisboa, de JOSÉ OSÓRIO DE OLIVEIRA. Como o próprio título sugere, o
texto é breve, fez-se num único volume e foi construído em linguagem poética.
Sob o signo literário nasceu, portanto, a terra de Santa Cruz. E quem nos signos
acredite poderá assim explicar o facto de tão propício ter sido sempre à literatura o
clima do Brasil. Desde os primeiros anos da sua infância, acompanharam-lhe os
passos homens de letras (OLIVEIRA, 1942, pp.7-8).
Referindo-se a Anchieta, Osório de Oliveira afirma que a origem de um
escritor é o que menos importa, dando relevância a sua produção e estilo: “mas se a origem é
o que menos importa num escritor, tem primordial importância o estilo de vida que o formou
e a sua cultura literária, ou seja, o seu espírito” (OLIVEIRA, 1942, p. 9).
Sílvio Romero, João Ribeiro José Veríssimo e Arthur Motta estão presentes no
que se refere aos fatores e à periodização da literatura. Chama sua obra de ensaio e divide a
literatura em dois períodos: um em que a literatura é exterior ao meio, no qual descreve a
natureza de fora e adota os caracteres e sentimentos europeus, e o outro em que: “A literatura,
identificada com o meio, passa a exprimir, duma maneira brasileira, o que é o Brasil”
(OLIVEIRA, 1942, p. 21).
Há na obra, poucos poemas e, embora inclua o Modernismo, não há
fragmentos de prosa. Dedica boa parte aos poetas românticos e dá destaque a Castro Alves e a
Machado de Assis. A certa altura estabelece um capítulo à diferenciação lingüística,
75
demonstrando a originalidade da língua brasileira, pois esta não poderá ser confundida com a
portuguesa. No que se refere à periodização, não há um estabelecimento claro desta; nem de
escolas literárias, nem tampouco o autor dedicou a elas quaisquer capítulos, somente o fez ao
Parnasianismo, no entanto, apesar de no capítulo seguinte discorrer sobre o Simbolismo,
chamou o capítulo de Simbolistas. À crítica literária não há referência, e a conquista definitiva
do caráter nacional é o tema que finaliza a obra. Não há sugestões bibliográficas, notas de
rodapés, nem referências importantes a autores, levando o leitor a concordar com o próprio
autor, que no início do texto chamou esta história de ensaio.
ANTONIO SOARES AMORA , em 1954, publica sua História da Literatura
Brasileira (séc. XVI-XX), em São Paulo, pela Editora Saraiva. A obra é organizada em um
único volume, estabelecendo, desde o índice, a sua periodização. No primeiro capítulo, há um
panorama da Literatura Brasileira e sua divisão histórica em Era Luso-brasileira e Era-
Nacional, mas somente nos capítulos posteriores ele discorre sobre a periodização mais
especificamente. Para ele, foi com o Romantismo que se iniciou a autonomia literária
brasileira, e aponta como característica principal desta fase a “coincidência de idéias entre as
pessoas”, que ele chama de paralelismo. Na Era Luso-brasileira da literatura, há duas épocas,
a primeira época do século XVI a XVII – Quinhentismo e Seiscentismo português; e a
segunda época do século XVIII, chamado de “Setecentismo português” e “Academia dos
esquecidos”.
Na Era Nacional está a autonomia histórica evoluindo há cento e cinqüenta
anos. Para ela o autor estabeleceu a seguinte divisão periodológica: 1ª Época Nacional –
Romantismo (1808-1868); 2ª Época Nacional – Realismo (1868-1893); 3ª Época Nacional –
Simbolismo (1893-1922) e 4ª Época Nacional – Modernismo (1922-1945).
A periodização literária coincide com os acontecimentos políticos, no entanto,
Amora afirma que:
76
Não é demais lembrar que numa divisão histórica, como a que se expôs os fatos
históricos que indicam a fronteira entre eras e épocas não valem senão como
índices ou pontos definidos numa faixa de claro-escuro ou de transição de um estilo
de cultura para outro; as divisões propostas não são, portanto, rígidas nem os fatos a
elas relacionados, causas únicas e absolutas de superação de uma época histórica
por outra (AMORA, 1963, p. 12).
Esta História da Literatura Brasileira é organizada em oito capítulos e possui
uma linguagem acessível. Não há textos dos autores, como poemas, fragmentos de prosa, nem
análises destes, no entanto, há uma análise histórico-literária brasileira, como se propôs o
autor, no início dela.
Em 1836, defendendo a idéia de que cada povo tem a sua própria expressão
literária, Gonçalves de Magalhães deu início às primeiras observações a respeito da literatura
brasileira e foi o precursor da visão periodológica. Soma-se a ele em 1840, Joaquim Norberto
Sousa Silva cujo olhar estava voltado à nacionalidade e à originalidade. Santiago Nunes
Ribeiro, assim como posteriormente, Sílvio Romero, estabelece que as condições sociais e o
clima interferem na escritura das obras. E com Francisco Adolfo de Varnhagen em 1847, há o
levantamento de tudo o que se produziu aqui, juntamente com o estabelecimento do cânone.
O processo evolutivo continua e cada autor estudado neste capítulo ofereceu o
que pôde fazer de melhor para as letras brasileiras, ainda que sua história fosse para divulgar a
literatura brasileira para a Europa, como é o caso de Ferdinand Wolf. Outros ainda
reconheceram a genialidade de escritores, como Machado de Assis, antes mesmo que outros o
fizessem. Tantas foram as influências que o próprio Ronald de Carvalho assume ter “bebido
na fonte” de Sílvio Romero e de José Veríssimo. É assim que se faz história da literatura. Não
há como renegar o passado, pois é nele que se encontram as tendências e a vida literária de
outrora, pois ainda que em diferentes abordagens, cada historiador deixou suas marcas e
também o registro de suas reflexões sobre a consolidação e a efetivação do estudo das letras
brasileiras, pois muitos foram aqueles que se interessaram pela história literária escrevendo e
desenhando a tradição afortunada brasileira.
77
3. A LITERATURA NO BRASIL: A VISÃO DO ORGANIZADOR
No capítulo II, foi realizada uma análise comparativa das Histórias da
Literatura Brasileira anteriores d’A Literatura no Brasil [1955]. Neste terceiro capítulo
pretende-se apresentar a organização d’A Literatura no Brasil, as modificações ocorridas
desde a primeira edição (1955)
2
, até a última (2003), bem como o estudo analítico dos textos
de autoria de Afrânio Coutinho naquela obra, efetuando reflexões sobre as idéias críticas do
autor, em diálogo com autores contemporâneos.
Até o momento, A Literatura no Brasil organizada por Afrânio Coutinho teve
seis edições: a primeira em 1955, a segunda em 1968, a terceira em 1986, a quarta em 1997, a
quinta em 1999 e a sexta em 2003.
Os colaboradores da edição de 1955 foram: Aderbal Jurema (1912-1986),
Adonias Filho (1915-1990), Alceu Amoroso Lima, Antonio Candido, Antônio Soares Amora,
Armando de Carvalho (1903), Augusto Meier (1902-1970), Barreto Filho, Braga Montenegro
(1917-1979), Brito Broca (1903-1961), Câmara Cascudo (1898-1986), Cândido Jucá Filho
(1900-1982), Carlos Burlamáqui Kopke (1916), Cassiano Ricardo (1895-1974), Darcy
Damasceno (1922-1988), Décio de Almeida Prado (1941-2000), Domingos Carvalho da Silva
(1915), Edgar Cavalheiro (1911-1958), Eduardo Portela, Eugênio Gomes, Evaristo de Morais
Filho (1914), Fausto Cunha (1923-2001), Fernando de Azevedo (1894-1975), Franklin de
Oliveira (1916-2000), Herman Lima (1902-1978), Hernani Cidade (1887), Heron de Alencar
(1921-1972), José Aderaldo Castelo (1921 -? ), José Andrade Muricy (1895), José Galante de
Souza, Josué Montelo (1917-2006), Luís Delgado (1906), Luís Viana Filho (1908), Mário
Barata, Mário da Silva Brito (1916), Matoso Câmara Jr. (1904-1970), Moisés Velinho (1901),
Otávio de Faria (1908-1980), Peregrino Júnior (1898-1983), Péricles Eugênio da Silva Ramos
2
Alguns exemplares da quinta edição (1999) não foram localizados.
78
(1919-1992), Renato de Almeida (1895), Rodrigo Otávio Filho (1892-1969), Segismundo
Spina, Waltensir Dutra (1926), Wilson Lousada (1914-1979), Wilson Martins, e Xavier Placer
(1916).
A primeira edição contou então com três volumes e cinco tomos e sua
organização foi a seguinte:
PLANO GERAL DA OBRA
Volume I – 2 tomos, Volume II – 1 tomo, Volume III – 2 tomos.
VOLUME I – TOMO I
INTRODUÇÃO – BARROCO – NEOCLASSICISMO – ARCADISMO
I PARTE
Introdução Geral
1. O panorama renascentista
2. A língua literária
3. O folclore: literatura oral e literatura popular
4- A escola e a literatura
5- O escritor e o público
6- A literatura e o conhecimento da terra
TOMO II
II PARTE
BARROCO – NEOCLASSISMO – ARCADISMO
1. Do barroco ao rococó
79
2. As origens da poesia
3. A literatura jesuítica
4. Antônio Vieira
5. Gregório de Matos
6. O mito do ufanismo
7. A oratória sacra
8. O movimento academicista
9. Neoclassicismo e Arcadismo
ROMANTISMO
10. O movimento romântico
11. Os pródomos do romantismo
13. Gonçalves Dias e o indianismo
14. O individualismo romântico
15. Castro Alves
16. José de Alencar e a ficção romântica
VOLUME II
REALISMO – NATURALISMO – PARNASIANISMO
INTRODUÇÃO: REALISMO – NATURALISMO – PARNASIANISMO
1. Um precursor: Manuel Antônio de Almeida
2. A ficção naturalista: Aluísio de Azevedo, Inglês de Souza, Júlio Ribeiro, Adolfo Caminha.
3. Machado de Assis
80
4. Raul Pompéia
5. Lima Barreto e Coelho Neto
6. O regionalismo na prosa de ficção
a)- Grupo nortista
b)- Grupo nordestino
c)- Grupo baiano
d)- Grupo central
e)- Grupo paulista
f)- Grupo gaúcho
7. O conto, do realismo aos nossos dias
8. A evolução da literatura dramática
9. A renovação parnasiana
VOLUME III - TOMO I
SIMBOLISMO – IMPRESSIONISMO – MODERNISMO
1. Simbolismo – Impressionismo – Modernismo
2. Presença do imbolismo
3. O impressionismo na ficção
4. Joaquim Nabuco – Rui Barbosa
5. Euclides da Cunha
6. Sincretismo e transição: o penumbrismo
7. Sincretismo e transição: o Neoparnasianismo
81
8. A Reação espiritualista
9. A revolução modernista
10. O modernismo na poesia
VOLUME III – TOMO II
1. O modernismo na ficção
2..A crítica e as idéias literárias
3. Ensaio e crônica. oratória
4. A literatura, a filosofia, o jornalismo
5. A literatura e as artes
6. A literatura infantil
7. A vida literária
Com a direção de Afrânio Coutinho e com a assistência de Eugênio Gomes e
Barreto Filho, a edição de 1955 surgiu com algumas inovações, como por exemplo, ser um
trabalho histórico de literatura brasileira escrito a várias mãos. Em seus volumes nota-se a
presença de gravuras, ilustrações e fotocópias de alguns manuscritos originais. De caráter
didático, logo no início Afrânio Coutinho define o objetivo do trabalho:
Esta obra, A Literatura no Brasil, tem por escopo o levantamento da história da
literatura brasileira. Seu plano pressupõe uma conceituação e uma metódica
(COUTINHO, 1955, p. 15).
A partir daí, o autor disserta sobre a questão da história literária, a periodização
e as soluções brasileiras, só então se voltando para a definição da literatura e seus caracteres
brasileiros. Em todo o texto percebe-se a presença de notas de rodapés, fragmentos de poesias
e poemas, e no final de cada exemplar há bibliografia dos colaboradores. Parte sempre de uma
paginação que se encerra a cada troca de livro, no entanto, nas edições posteriores inicia o
82
primeiro volume com uma numeração seqüencial e finaliza somente no sexto. Afrânio
Coutinho afirma que a bibliografia tem o objetivo de “indicar algumas fontes de estudo e as
obras principais referentes apenas aos períodos e aos movimentos literários neste volume”
(COUTINHO, 1955, p. 959). O terceiro volume – o maior em extensão é dedicado ao
Simbolismo, ao Impressionismo e ao Modernismo, e embora o índice indique o capítulo
“Modernismo na Ficção”, este só aparecerá no segundo tomo, do III volume. Comparando-se
a edição de 1955 com a exata e eficiente organização das edições atuais d’A Literatura no
Brasil, ela é um tanto desorganizada no que se refere à especificidade do sumário. Este
aparece confuso, ora dividido em partes, ora em tomos, e não há alerta aos leitores sobre que
tipo de organização foi estabelecida. Tal desorganização confunde o leitor contemporâneo
acostumado a um detalhamento mais específico.
A edição de 1968 foi organizada em seis volumes, apresentando algumas
modificações. Manteve-se a estrutura básica da primeira edição e a partir do terceiro volume,
denominado Romantismo, aparecem as primeiras alterações: foram acrescentados textos sobre
“A crítica romântica” e “Manuel Antônio de Almeida”. O que estava publicado no segundo
volume, passa a fazer parte do terceiro, tendo sido acrescentados, além dos já citados, os
textos “A crítica naturalista e positivista” e “Euclides da Cunha”. A denominação “grupo”
passa a ser “ciclo”, e alguns tópicos que na primeira edição (1955) estavam no terceiro
volume migram para o VI.
Foram seus colaboradores: Aderbal Jurema, Adonias Filho, Afonso Arinos de
Melo Franco, Alceu Amoroso Lima, Américo Jacobina Lacombe (1909), Andrade Murici,
Antonio Candido, Antônio Olinto (1919), Antônio Soares Amora, Armando Carvalho, Assis
Brasil (1932), Augusto Meyer, Bandeira de Melo (1918), Barreto Filho, Carlos Burlamáqui
Kopke, Luís da Câmara Cascudo, Luís Costa Lima (1937), Cândido Jucá Filho, Carlos
Cassiano Ricardo, Darci Damasceno, Décio de Almeida Prado, Dirce Côrtes Riedel (1915),
83
Domingos Carvalho da Silva, Edgard Cavalheiro, Eduardo Portela, Emanuel de Morais
(1921), Eugênio Gomes, Evaristo de Morais Filho, Fausto Cunha, Fernando de Azevedo,
Franklin de Oliveira, Herman Lima, Hernâni Cidade, Heron de Alencar, Ivo Barbieri (1934),
J. Matoso Câmara Jr., José Aderaldo Castello, José Paulo Moreira da Fonseca (1922), Josué
Montelo, Luís Delgado, Luís Viana Filho, Mário da Silva Brito, Moisés Vellinho, Otávio de
Faria, Peregrino Júnior, Péricles da Silva Ramos, Renato de Almeida, Segismundo Spina,
Sônia Brayner (1939), Walmir Ayala (1933), Waltensir Dutra, Wilson Lousada, Wilson
Martins, Xavier Placer e Rodrigo Otávio Filho.
A edição de 1986, publicada pela José Olympio em co-edição com a Editora da
UFF, também com seis volumes, surge mais detalhada, e o índice, que até as edições
anteriores era generalizado, surge específico e apresentado em cada volume, prestando ao
leitor um serviço de organização eficiente. O plano geral da obra está presente em todos os
volumes, o que anteriormente só ocorria no primeiro. No que se refere aos textos, houve
algumas alterações: em alguns casos o acréscimo de dois a quatro textos; e em outros, houve
sua reestruturação. Optou-se por uma nova forma de títulos: o termo “era” foi acrescentado a
todos, passando a ser Era Neoclássica, Era Romântica, Era Naturalista e assim por diante.
É importante ressaltar que o legado de Afrânio Coutinho para os leitores ocorre
de maneira especial nesta edição, pois o seu filho Eduardo de Faria Coutinho apresenta-se
como Co-diretor na organização da obra.
Foram seus colaboradores: Aderbal Jurema, Alceu Amoroso Lima, Américo
Jacobina Lacombe, Andrade Murici, Antonio Candido, Antônio Soares Amora, Armando de
Carvalho, Assis Brasil, Augusto Meyer, Barreto Filho, Câmara Cascudo, Cândido Jucá Filho,
Carlos Burlamáqui Kopke, Cassiano Ricardo, Darci Damasceno, Domingos Carvalho da
Silva, Edgard Cavalheiro, Eduardo Portela, Emanuel de Morais, Eugênio Gomes, Evaristo de
Morais Filho, Fernando de Azevedo, Franklin de Oliveira, Hernani Cidade, Heron de Alencar,
84
Fausto Cunha, Ivo Barbieri, José Aderaldo Castello, José Ariel Castro, José Paulo Moreira da
Fonseca, Josué Montello Moisés Vellinho, Luís Costa Lima, Luís Delgado, Luís Viana Filho,
Mário Chamie, Mário da Silva Brito, Otávio de Faria, Peregrino Júnior, Péricles Eugênio da
Silva Ramos, Renato de Almeida, Rodrigo Otávio Filho, Sílvio Castro, Waltensir Dutra,
Wilson Lousada, Wilson Martins, Wilton Cardoso e Xavier Placer.
A quarta edição (1997), publicada pela Global editora, foi co-editada com o
Ministério da Educação e Cultura, tendo sido enviada aos colégios estaduais, oferecendo aos
professores e aos alunos um importante material de pesquisa. Organizada em seis volumes, A
Literatura no Brasil (1997) atende a um leitor mais exigente no que se refere à formatação
estrutural e organizacional. No volume I, foi acrescentada uma “Bibliografia da Literatura
Brasileira e Assuntos Afins”. O Plano Geral da Obra aparece em todos os volumes,
facilitando a pesquisa. Do segundo ao quinto volumes não há alterações, no entanto no sexto
surgem novos textos que tratam do Pós–Modernismo, a literatura da década de 80/90, e dois
capítulos referentes à literatura e à língua brasileiras, de autoria de Afrânio Coutinho, escritos
no período de 1984 a 1987.
Foram seus colaboradores: Aderbal Jurema, Adonias Filho, Afonso Arinos de
Melo Franco, Albertus Marques, Alceu Amoroso Lima, Américo Jacobina Lacombe, Álvaro
de Sá (1935) Andrade Muricy, Antonio Candido, Antônio Olinto, Antônio Soares Amora,
Armando de Carvalho, Assis Brasil, Augusto Meyer, Barreto Filho, Cândido Jucá Filho,
Carlos Burlamáqui Kopke, Cassiano Ricardo, Darcy Damasceno, Décio de Almeida Prado,
Dirce Cortes Riedel, Domingos Carvalho da Silva, Eduardo Matos Portela (1932) Emanuel de
Morais, Eugênio Gomes, Evaristo de Morais Filho, Fausto Cunha, Fernando de Azevedo,
Franklin de Oliveira, Herman Lima, Hernani Cidade, Heron de Alencar, Ivo Barbieri, João
Alexandre Barbosa, Joaquim Branco (1940), José Aderaldo Castello, José Paulo Moreira da
Fonseca, Josué Montello, Luís Câmara Cascudo, Luís Costa Lima, Luís delgado, Luís Viana
85
Filho, Mário da Silva Brito, Moisés Vellinho, Otávio de Faria, Peregrino Júnior, Péricles
Eugênio da Silva Ramos, Renato de Almeida, Rodrigo Otávio Filho, Segismundo Spina,
Sônia Brayner, Valtensir Dutra, Walmir Ayala, Wilson Lousada, Wilson Martins, Wilton
Cardoso de Sousa e Xavier Placer.
A quinta edição (1999) foi encontrado somente um volume e não houve
alterações decorrentes da quarta edição.
A edição de 2003 foi uma publicação póstuma, realizada pela Global Editora,
não apresentando alterações desde a de 1997. Somente os comentários, na capa final,
inovaram quando da mudança de editora. No VI volume foram acrescentados a conclusão e
outros tópicos importantes. Colaboraram: Aderbal Jurema, Adonias Filho, Afonso Arinos de
Melo Franco, Albertus Marques, Alceu Amoroso Lima, Américo Jacobina Lacombe, Álvaro
de Sá, Andrade Muricy, Antonio Candido, Antônio Olinto, Antônio Soares Amora, Armando
de Carvalho, Assis Brasil, Augusto Meyer, Bandeira de Melo, Barreto Filho, Cândido Jucá
Filho, Carlos Burlamáqui Kopke, Cassiano Ricardo, Darcy Damasceno, Décio de Almeida
Prado, Dirce Cortes Riedel, Domingos Carvalho da Silva, Edgard Cavalheiro, Eduardo Matos
Portela (1932), Emanuel de Morais, Eugênio Gomes, Evaristo de Morais Filho, Fausto Cunha,
Fernando de Azevedo, Franklin de Oliveira, Herman Lima, Hernani Cidade, Heron de
Alencar, Ivo Barbieri, João Alexandre Barbosa, Joaquim Branco (1940), José Aderaldo
Castello, José Paulo Moreira da Fonseca, Josué Montello, Luís Câmara Cascudo, Luís Costa
Lima, Luís Delgado, Luís Viana Filho, Mário da Silva Brito, Moisés Vellinho, Otávio de
Faria, Peregrino Júnior, Péricles Eugênio da Silva Ramos, Renato Almeida, Rodrigo Otávio
Filho, Segismundo Spina, Sônia Brayner, Valtensir Dutra, Walmir Ayala, Wilson Lousada,
Wilson Martins, Wilton Cardoso de Sousa e Xavier Placer.
A organização da edição de 2003 é a seguinte:
VOLUME I
86
Plano geral da obra (seis volumes)
Nota da editora (da 4ª edição)
Nota da editora (da 3ª edição)
Nota do editor (da 2ª edição)
Dados bibliográficos de Afrânio Coutinho
Dados bibliográficos de Eduardo de Faria Coutinho
PRELIMINARES
Prefácio da primeira edição (1955)
Prefácio da segunda edição (1968)
Prefácio da terceira edição (1986)
Prefácio da quarta edição (1997)
1. Literatura brasileira (introdução)
PRIMEIRA PARTE – GENERALIDADES
2. O panorama renascentista
3. A língua literária
4. O folclore: literatura oral e literatura popular
5. A escola e a literatura
6. O escritor e o público
7. A literatura e o conhecimento da terra
8. Gênese da idéia de Brasil
9. Formação e desenvolvimento da língua nacional
87
Bibliografia da literatura brasileira e assuntos afins
VOLUME II
Plano geral da obra (seis volumes)
SEGUNDA PARTE - ESTILOS DE ÉPOCA - ERA BARROCA
10. O Barroco
11. As origens da poesia
12. A literatura jesuítica
13. Antônio Vieira
14. Gregório de Matos
15. O mito do ufanismo
16. A oratória sacra
17. O movimento academista
Bibliografia sobre o Barroco
ERA NEOCLÁSSICA
18. O Neoclassicismo e o Arcadismo. O Rococó
19. A literatura do setecentos
20. O Arcadismo na poesia lírica, épica e satírica
21. Prosadores neoclássicos
22. Do neoclassicismo ao romantismo
VOLUME III
Plano geral da obra (seis volumes)
88
TERCEIRA PARTE – ESTILOS DE ÉPOCA – ERA ROMÂNTICA
23. O movimento romântico
24. Os pródomos do romantismo
25. Gonçalves Dias e o indianismo
26. O individualismo romântico
27. Castro Alves
28. José de Alencar e a ficção romântica
29. A crítica literária e romântica
30. Manoel Antônio de Almeida
Bibliografia sobre o Romantismo
VOLUME IV
Plano geral da obra (seis volumes)
SEGUNDA PARTE – ESTILOS DE ÉPOCA – ERA REALISTA
31. Realismo. Naturalismo. Parnasianismo
32. A crítica naturalista e positivista
33. A ficção naturalista
34. A renovação parnasiana na poesia
35. Machado de Assis
36. Raul Pompéia
37. Joaquim Nabuco. Rui Barbosa
38. Euclides da Cunha
89
39. Lima Barreto. Coelho Neto
40. O regionalismo na ficção
Bibliografia sobre Realismo, Naturalismo e Parnasianismo
ERA DE TRANSIÇÃO
41. Simbolismo. Impressionismo. Modernismo
42. Presença do Simbolismo
43. O impressionismo na ficção
44. A crítica simbolista
45. Sincretismo e transição: O penumbrismo
46. Sincretismo e transição: o neoparnasianismo
47. A reação espiritualista
Bibliografia sobre o simbolismo
VOLUME V
Plano geral da obra (seis volumes)
SEGUNDA PARTE – ESTILOS ÉPOCA – ERA MODERNISTA
48. Revolução modernista
49. Modernismo na poesia
50. Vanguardas
51. Modernismo na ficção
52. A crítica modernista
VOLUME VI
90
Plano geral da obra (seis volumes)
TERCEIRA PARTE–RELAÇÕES E PERSPECTIVAS
53. Nota explicativa
54. Evolução da literatura dramática
55. Evolução do conto
56. Literatura e jornalismo
57. Ensaio e crônica
58. Literatura e filosofia
59. Literatura e artes
60. Literatura e pensamento jurídico
61. Literatura infantil
62. O Verso: permanência e evolução
Conclusão
63. O Pós-Modernismo no Brasil
64. A nova literatura brasileira (o romance, a poesia, o conto)
65. A nova literatura (década de 80/ anos 90)
66. Visão prospectiva da literatura no Brasil
67. Historiografia literária em novo rumo
68. Ainda e sempre a literatura brasileira
69. Ainda e sempre a língua brasileira
70. Visão final
91
Bibliografia sobre crítica literária
Biobliografia dos colaboradores
Índice de nomes, títulos e assuntos.
Os textos escritos por Afrânio Coutinho presentes n’A Literatura no Brasil
estão dispostos na mesma ordem apresentada na obra.
3.1 Prefácio da primeira edição - 1955
“Prefácio da primeira edição”, de 1955, é o primeiro texto d’A Literatura no
Brasil, no qual Afrânio Coutinho apresenta os objetivos: o levantamento da História da
Literatura Brasileira e o estabelecimento de conceitos e métodos.
De caráter altamente didático, traz um sumário a fim de orientar o leitor que
percorre seu texto e também para sua melhor compreensão. Aponta os conceitos e as
características da literatura, desenvolvendo-os, estabelecendo um panorama nítido do que vem
a ser literatura, quais suas influências e soluções. Ressalta-se aqui, que tal texto não se faz
para leitores inexperientes, no entanto, pela sua estruturação didática, abre-se um leque de
informações, que enriqueceria qualquer leitor, seja ele menos ou mais amadurecido.
Afrânio Coutinho trata da questão da historiografia literária que, durante o
século XIX, teve seus estudos baseados nos métodos históricos, documentais, eruditos e
positivos nele o estudo da literatura consistia no apuro das condições que envolviam as
criações literárias e também a apontava a reação de oposição tais métodos, gerada pela Escola
Estética que propunha o método estético ou crítico para a análise da obra. A partir do século
XIX, houve várias ramificações dentro das perspectivas do método histórico, e neste período a
92
crítica literária passa a ter maior consciência do conteúdo estético da obra de arte, enquanto
objeto de uma crítica fundamentada na própria interpretação do texto, contrapondo-se, deste
modo, ao método histórico.
Uma das inovações de Afrânio Coutinho é a periodização estilística. Segundo
ele, tal periodização liberta a literatura de algumas “tiranias” geradas pelas divisões propostas
que misturam denominações originárias da história geral e das divisões políticas. Ao
expressar este pensamento, Coutinho aproxima-se de Machado de Assis, que no ensaio
“Instinto de Nacionalidade”, afirma:
Interrogando a vida brasileira e a natureza americana, prosadores e poetas acharão
ali farto manancial de inspiração e irão dando fisionomia própria ao pensamento
nacional. Esta outra independência não tem sete de Setembro nem campo de
Ipiranga; não se fará num dia, mas pausadamente, para sair mais duradoura; não será
obra de uma geração, nem duas; muitas trabalharão para ela até perfazê-la de todo
(ASSIS, 1962, p. 159).
Soma-se a esta idéia, a de René Wellek que afirma:
Um período é assim uma seção de tempo (dentro do desenvolvimento universal)
dominado por um sistema de normas, padrões e convenções literárias, cuja
introdução, alastramento, diversificação, integração e desaparecimento podem ser
traçados (WELLEK in COUTINHO, 1997, p.14-15)
Não havendo compromissos com datas fixas não há barreiras explícitas entre os
períodos, podendo um imbricar-se no outro, mesclando-se, apresentando ou não as mesmas
características, ainda que sejam opostas. A fim de exemplificar, segundo a sua concepção, o
Arcadismo pode apresentar a clareza e a simplicidade própria do Maneirismo e ao mesmo
tempo expressar a sensualidade do Barroco. Se houver uma divisão em eras ou por
acontecimentos relevantes da história, há o menosprezo destas interpenetrações. Diferencia-
se, portanto, Afrânio Coutinho de outros historiadores citados no primeiro capítulo desta
dissertação.
A historiografia literária no Brasil passou a ser encarada com preocupação
conceitual e metodológica. Afrânio Coutinho aponta nomes como os de Ferdinand Wolf,
93
Fernandes Pinheiro, Sílvio Romero, José Veríssimo, Ronald de Carvalho, Arthur Mota e
Afrânio Peixoto que, embora se diferenciando em suas classificações, relacionaram a história
literária aos fatos da história política e social do país. Determina, então, os estilos Barroco,
Neoclássico, Árcade, Romântico, Realista, Naturalista, Parnasiano, Simbolista, Impressionista
e Modernistas como divisão da Literatura Brasileira.
Afrânio Coutinho destaca algumas características no processo evolutivo da
história da literatura brasileira, entre elas: o predomínio do lirismo herdado do espírito
passional e melancólico dos portugueses. Embora haja esta afirmação, ela se enfraquece
considerando a visão do autor no que se refere à “obnubilação brasílica”, termo usado por ele,
retomando a idéia de Araripe Júnior, para expressar as transformações sofridas pelo homem
europeu ao transpor os trópicos. A influência americana transformou-o em um novo homem.
A partir desta transformação, houve a criação de uma literatura como produto exclusivo em
suas particularidades e formas, produto brasileiro, com características únicas. Assim sendo, a
exaltação da natureza advinda deste lirismo apresenta-se por meio do ufanismo no tocante à
valorização da terra e da natureza, resultando nas diversas correntes regionalistas a saber: o
indianismo, o sertanismo, o caipirismo entre outros.
Da falta desta consciência de continuidade, percebe-se na produção brasileira a
ausência de retomada daquilo que já foi consagrado. Os escritores sempre partem do começo
como se não houvesse uma tradição que lhes antecedesse. A cada escola literária há sempre a
importação de novos rumos, novas técnicas, numa total negação daquilo que fora produzido.
Usando o que fora enunciado por Eliot, em seu célebre ensaio “Tradição e talento individual”,
Afrânio Coutinho afirma que o que falta é esta continuidade, este caminho evolutivo que
aproveite o amadurecimento das gerações anteriores:
Nenhum poeta, nenhum artista, tem sua significação completa sozinho. Seu
significado e apreciação que dele fazemos constituem a apreciação de sua relação
94
com os poetas e artistas mortos. Não se pode estimá-lo em si é preciso situá-lo para
contraste e comparação, entre os mortos (ELIOT, 1989, p. 39).
José Veríssimo, no que se refere ao valor histórico de um estilo literário, em
sua História observou:
[...] uma escola literária não morre de todo porque outra a substitui como uma
religião não desaparece inteiramente porque outra a suplanta, também não acontece
que um movimento ou manifestação coletiva de ordem intelectual, uma época
literária ou artística, seja sempre conforme o seu princípio e conserve inteira a sua
fisionomia e caráter (VERÍSSIMO, 1969, p.10).
Conforme pensamento de ambos, todo escritor pertence a uma tradição e que
merece ser respeitada, pois foi ela que colaborou na sua formação. De idéias favoráveis ou
opostas ao pensamento do autor, ela existiu primeiro, então que seja dado a ela o seu valor
real.
Um outro aspecto levantado por Afrânio Coutinho refere-se ao fato de que há
um divórcio entre o pólo produtor de literatura e o povo, pois há que se considerar que a
literatura é feita para aqueles mesmos que a produziram, uma vez que o público iletrado, que
constitui a grande massa no Brasil, não tem acesso nem apuro estético para entrar em contato
com as grandes obras.
No contato com Afrânio Coutinho, sente-se a preocupação de um crítico com o
processo de produção da literatura no Brasil, visto que na sua visão esta se encontra atrelada
apenas a uma classe restrita que a aprecia enquanto objeto estético. Em vários pontos, o autor
deixa entrever a preocupação com uma literatura genuína que atenda às necessidades do
público, combatendo-se a inacessibilidade.
Tais idéias refletem-se na ausência de consciência técnica marcada pelo
autodidatismo em que a obra raramente chega ao estágio de objeto estético, e isto Afrânio
Coutinho classifica como uma produção baseada “no culto da improvisação”, retomando os
pressupostos teóricos de Umberto Eco, quando este afirma que a produção do texto literário é
uma pequena porcentagem de inspiração e outra bem maior de transpiração. Aponta ainda que
95
a falta de organização profissional faz com que o exercício das Letras seja um trabalho com
pouca ou nenhuma remuneração, fazendo com que os escritores possuam duas profissões e
não tenham garantia de mercado, pois o excesso de funções que o escritor exerce conspira
para a não formação do espírito literário, como se pode constatar na citação abaixo:
O que se deseja é que o trabalho intelectual, o produto do espírito encontrem
mercado garantido e organizado. E que o intelectual disponha de funções
apropriadas à sua natureza. Nos países onde a profissão remunera, os intelectuais
exercem o seu mister nas universidades, nas editoras, nas revistas e jornais,
ambientes condizentes com o seu trabalho pessoal. Entre nós, dispersos por
atividades heterogêneas ou presos na administração pública, onde tudo conspira
contra o espírito, seremos sempre em literatura uns biscateiros e uns diletantes. A
vida literária, assim é um luxo, uma excrescência (COUTINHO, 2003, p. 33).
Tais condições resultam de uma produção “bastarda, na qual se misturam
pérola e bagaço” (COUTINHO, 2003, p. 34), que configuraria uma literatura superficial,
imitativa, sem personalidade e com uma fisionomia inconfundível.
Ainda nesta linha Afrânio Coutinho aborda a questão literatura e política,
afirmando que ambos os assuntos encontram-se por demais entrelaçados, visto que o homem
de letras na sua concepção é um espécime raro. Isto repercutiu em fatores como: conceito de
literatura, de história literária e sua periodização, deixando antever uma literatura
compreendida não em sua função específica, mas como um meio de ação. Casos comuns na
literatura brasileira apresentam-se desde a colonização, pois os jesuítas tinham a função dupla
de catequizar e alfabetizar e utilizavam a literatura como pretexto. Caso similar foi o do Padre
Antônio Vieira que, a pretexto do ensino religioso, produziu seus sermões; embora na
oposição e sonhando com a independência do Brasil, os árcades estavam, em sua maioria,
atrelados à causa política.
Afrânio Coutinho refere-se às influências estrangeiras e diz que o brasileiro
sempre foi afetado tanto pela cultura herdada de Portugal, quanto pela chegada de imigrantes,
pela importação de idéias e pela imitação, e o Brasil marcado pelo hábito de olhar para a
Europa, daí percebe-se a sua interação com críticos contemporâneos do porte de Silviano
96
Santiago (1936-2006) que em O entre-lugar do discurso latino-americano (1978), afirma ser
a literatura brasileira marcada pela imitação, pois os latinos lêem muito, mas escrevem pouco;
no entanto isto não subtrai da literatura a sua capacidade de dialogar com os grandes clássicos
uma vez que a produzida aqui é marcada pela paródia, pela transformação daquilo que se lê,
não sendo, desta forma, uma assimilação pacífica.
Pelo extermínio dos traços originais, pelo esquecimento da origem, o fenômeno da
duplicação se estabelece como a única regra válida de civilização. É assim que
vemos nascer por todos os lados essas cidades de nome europeu cuja única
originalidade é o fato de trazerem antes do nome de origem o adjetivo “novo” ou
“nova”: New England, Nueva España, Nova Friburgo, Nouvelle France, etc
(SANTIAGO, 1978, p. 16-17).
Referindo-se ao Plano e Conceito da Obra, ele aponta a doutrina e os
princípios de organização d’A Literatura no Brasil, e não se atém a elementos exteriores ou
periféricos da obra literária. Embora seja a favor de uma teoria estética, ele não despreza os
fatores externos ao texto, no entanto, os coloca-os em seu devido lugar. Quando da definição
de literatura, afirmou:
A literatura é uma arte, a arte da palavra, isto é, produto da imaginação criadora,
cujo meio específico é a palavra e cuja finalidade é despertar no leitor ouvinte o
prazer estético e sua crítica deve obedecer a esses elementos intrínsecos
(COUTINHO, 2003, p. 46).
No que se refere ao conceito de História da Literatura, mostra que esta
compreende seu desenvolvimento autônomo no decorrer do tempo, e seu estudo é o uso de
todos os métodos de análise e interpretação crítica das obras literárias. Para ele o aspecto
histórico prepara o terreno para a crítica, e esta se realiza no material intrínseco que a obra de
arte fornece.
Em uma concepção centrada no leitor, Hans Robert Jauss, em seu livro A
História da literatura como provocação à teoria literária, observa que a história da literatura
como sempre fora produzida apresenta as obras individualmente em seqüência cronológica, e
no que se refere a autores, afirma:
97
A biografia dos autores e a apreciação do conjunto de sua obra surgem aí em
passagens aleatórias e digressivas, à maneira de um elefante branco. Ou, então, a
história da literatura ordena seu material de forma unilinear seguindo a cronologia
dos grandes autores e apreciando-os conforme o esquema de “vida e obra” (JAUSS,
1994, p.7).
Segundo ele, a qualidade e a categoria do que se produz não resultam nem das
condições em que foram escritas as obras, nem tampouco do seu posicionamento no
desenvolvimento de gênero, mas da receptividade do leitor, ou seja “dos critérios de
recepção” (JAUSS, 1994, p.7). Para ele, o referido livro se construiu com o objetivo de haver
“compreensão histórica tendo por veículo a experiência estética” (JAUSS, 1994, p.73).
Afrânio Coutinho prossegue apontando que um trabalho coletivo inspira-se na
idéia de que não é mais possível a história literária, senão como tarefa de cooperação.
Procurou-se impor uma linha de objetividade, procurando fugir à temerosa ciência de mera
opinião pessoal sobre os criticados. Admite-se a contribuição histórica, mas a crítica deve
primar pelo estudo do texto propriamente dito, interpretando-o à luz da tradição literária. A
história literária é uma tarefa em andamento, cabendo a cada geração refazê-la e completá-la.
3.2 Prefácio da segunda edição – 1968
O “Prefácio da segunda edição”, de 1968, é estruturado de forma simples, e
nele Afrânio Coutinho mostra-se mais amadurecido. Se no anterior ele inicia apontando o
objetivo da escritura do texto, neste ele procura suscitar no leitor certa complacência no que
se refere a alguma deficiência do trabalho. Em ambos, seu autor afirma que esta obra é uma
história da literatura e aponta como precursor da Literatura Brasileira, José de Anchieta. Se no
primeiro ele afirma que “já se foi o tempo em que literatura era uma brincadeira para o ócio
dos privilegiados” (COUTINHO, 2003, p. 103), no segundo mostra-se um crítico preocupado
com os caminhos da literatura no Brasil. Valorizar aquilo que pertence à literatura brasileira e
98
como buscar esta valorização são suas preocupações, o que faz então com que ele reafirme
seus conceitos anteriormente escritos. Eles não foram alterados e sua postura diante deles
também não.
Diferencia-se do “Prefácio” à primeira edição logo no início, quando ao invés
de mostrar o objetivo da obra, fala um pouco de si. Se no “Prefácio da primeira edição” ele
escreve sobre a história literária, agora ele o faz em forma de revisão, esclarecendo que tanto
em um prefácio quanto no outro, esta obra é uma história da literatura brasileira, e não da
cultura brasileira, e também que está oferecendo aos estudiosos e interessados um manancial
de informações e opiniões da atual geração de pesquisadores e apreciadores de literatura.
Neste texto Afrânio Coutinho responde às críticas que a primeira publicação
recebeu, ou seja, que não há n’A Literatura no Brasil, estudo dos historiadores e da
historiografia brasileira, ao que ele responde que desde o princípio ela se estabeleceu dentro
de um plano e será sempre fiel a ele, que é o estético, observado desde a periodização por
estilos, até “a focalização das obras e não no ambiente social e histórico, geográfico ou racial
(COUTINHO, 2003, p. 61). Outra crítica refere-se ao fato de ser o organizador desta obra um
inimigo da cronologia, “e que a tendo expulsado pela porta, ela entrou de novo pela janela”
(COUTINHO, 2003, p 106). Ele se justifica afirmando que essa acusação não procede, visto
que a cronologia está presente nesta obra desde a sua introdução; no entanto, o que ele refuta
é o exagero de valor atribuído a ela, levando à tirania cronológica.
Insista-se. A periodização estilística não pretende estabelecer-se sobre a negação ou
superação da cronologia, mas incluí-la, construir-se sobre ela, a partir dela, ou
levando-a em consideração, pois os fatos estéticos que ela designa são fatos dotados
de realidade, acontecidos num tempo e num ligar, em “situação” histórica e
geográfica (COUTINHO, 2003, p. 107).
Em ambos os textos, expõe que a história literária não deve ser baseada em
“documentos”, e sim em “monumentos”, para que não seja muito mais histórica que literária.
99
Quanto à abordagem do estudo do fato literário, também há uma reafirmação de conceitos. No
“Prefácio da primeira edição, encontra-se:
Outro tipo de história literária é o que considera as obras em termos da tradição
literária, no processo de desenvolvimento da própria literatura, como arte, em
relativa independência de fundo de cena, ambiente, ou autor, relacionando as obras
com as outras do mesmo gênero ou do mesmo estilo (COUTINHO, 1955, p. 16).
Já no “Prefácio da segunda edição” lê-se:
A outra perspectiva de abordagem é a que estuda o fato literário em termos de
tradição literária, no processo de desenvolvimento da própria literatura, relativa
independência do fundo de cena ou ambiente e autor. Procura encarar a obra como
um todo, com personalidade própria, autônoma caracterizada pelas soluções
estruturais e as convenções que o autor usou dentro das tradições dos diversos
gêneros (COUTINHO, 1968, p. 63).
Outra afirmação que aparece em ambos os textos é a respeito do fenômeno
literário. No “Prefácio à primeira edição” aparece:
Essa concepção não isola o fenômeno literário como um bólide no espaço.
Reconhece suas relações e laços com o todo da vida humana. Mas exige que ele seja
encarado, por usa vez, como um todo, como uma unidade específica, com elementos
e caracteres peculiares, com natureza e finalidades próprias, “um sistema orgânico
de sinais” (Wellek), para cujo estudo e interpretação se impõe um método especial,
o método crítico ou “poético” (COUTINHO, 1955, p. 17).
E no segundo:
O que se sustenta aqui é a natureza peculiar do fato literário, sua origem na
imaginação criadora, sua finalidade em despertar prazer estético, sua natureza
específica formada por elementos que só nele e para ele existem, sua autonomia em
face dos outros fatos da vida. Mas defendendo sua autonomia e suas características
próprias não se quer, de modo algum implicar o seu isolamento em relação aos
demais fenômenos da vida. Nega-se não o isolamento, mas o condicionamento e
dependência [...] (COUTINHO, 1968, p. 78).
No que se refere ao conceito de literatura, observa-se que há pouca diferença
entre os textos, apenas o acréscimo de alguns termos:
A literatura é uma arte, a arte da palavra, isto é, um produto da imaginação criadora,
cujo meio específico é a palavra, e cuja finalidade é despertar no leitor ouvinte o
prazer estético (COUTINHO, 1955, p. 61).
Há similaridade de idéias no segundo prefácio:
100
A literatura é o produto da imaginação criadora, artística, é uma forma de arte, a arte
da palavra, cuja finalidade é apenas despertar o prazer estético (COUTINHO, 1968,
p. 79).
No prefácio de 1968, foram acrescidos textos referentes à nova crítica. Tais
textos demonstram que esta não se cumpre como gênero literário, pois não é um deles. E
quanto ao seu conceito, estabelece que “a nova crítica não é apenas um instrumento de
análise” (COUTINHO, 2003, p. 90). E por ser a natureza da crítica um ponto muito discutido,
afirma:
A crítica literária tem por meta os gêneros, mas não é um deles. Ela os estuda, sem
se confundir com eles. Ela é uma atividade reflexiva, intelectual, da natureza da
ciência, adotando um método rigoroso, tanto quanto o das ciências, mas de acordo
com sua própria natureza, um método específico, para um objetivo específico, o
literário, a obra de arte da palavra. Não é uma atividade imaginativa, embora
consinta no auxílio da imaginação (COUTINHO, 2003, p. 88).
Segundo Afrânio Coutinho, não importa à crítica literária analisar no livro a
intenção do autor, ou ainda a imagem social que o livro reflete, mas averiguar o processo
literário que o autor empregou para traduzir a sua visão de mundo, pois está aí o ponto de
diferenciação entre um autor e outro, é aí que ele se individualiza. Conhecer e analisar esses
itens dentro da obra, e como um determinado escritor chegou a este caminho ou usou este
artifício, estabelecer relações entre eles e a visão do mundo de cada um, e o modo como ele os
utilizou com êxito são alguns dos objetivos da crítica literária, estética, formalista ou
estruturalista. A crítica estética é aquela que vai buscar dentro do texto aquilo que o autor lhe
deu de mais bonito e de maior valor, que encontra o “sentimento íntimo” do criador diante do
que produziu.
A fim de não se formarem profissionais amadores quanto às Letras, Afrânio
Coutinho afirma que fazer literatura não é somente um dom ou ser possuidor de uma boa
imaginação, mas que há na arte um aspecto de aprendizado elementar, inicial e que se aprende
a performance de fazê-la.
101
No que se refere à periodização, ele o faz por estilos literários tendo em vista
ser este um dos problemas dos mais difíceis da ciência histórica:
Por ser difícil, o problema não pode ser descartado simplesmente. Não podemos
evitá-lo. Não é solução deixar de enfrentá-lo. Esse ceticismo repugna ao espírito de
rigor científico. A periodização depende da teoria da literatura, da teoria da evolução
literária e da evolução humana. Os períodos não devem ser meros nomes ou
etiquetas arbitrárias, nem seções de tempo puramente mecânicas ou didáticas, sem
ligação com o conteúdo ou a realidade interna nas épocas e as forças imanentes que
as geraram e dirigiram (COUTINHO, 2003, p. 68).
A produção de histórias de literatura sempre foi uma tarefa de difícil
elaboração, o que se confirma em Afrânio Coutinho quando pontua as dificuldades
encontradas na organização d’A Literatura no Brasil, e que atualmente ratifica-se no ensaio
de Luís Augusto Fischer (1958): “Para uma descrição da literatura brasileira no século XX”
que se refere à escritura de histórias da literatura, no livro Literatura & história – perspectivas
e convergências, ao afirmar que não há mais disposição para a elaboração de um trabalho que
abranja toda a história da literatura brasileira:
Para dizer de modo breve, parece que não há mais apetite para montar, de forma
consistente, um relato de tipo histórico que dê conta da literatura brasileira
especialmente daquela surgida entre nós nos últimos cinqüenta anos (FISCHER, in
VÉSCIO, 1999, p. 97).
As dificuldades encontradas por Afrânio Coutinho na escritura da obra A
Literatura na Brasil, ocorreram devido a suas inovações, dentre elas o fato de se tratar de um
trabalho feito por várias mãos. Houve, no entanto, a preocupação de seu organizador, de
realizá-lo de maneira pura, sem restrições e sem extremismos, conciliando a liberdade da
colaboração com o interesse de unidade da obra. Seu cunho coletivo leva a um estranhamento
por parte do leitor, visto que este pode não estar habituado a esse tipo de trabalho, pois o que
deve aparecer não é a autoria individual, mas o livro como um todo. Quanto à conciliação
entre a história e a crítica, esforçou-se para que fosse um trabalho de renovação crítica.
Como no primeiro prefácio, Afrânio Coutinho reafirma suas idéias no que se
refere à periodização estilística; no entanto, neste, ele mostra as suas vantagens, entre elas a
102
abolição das tiranias sociológica, política e cronológica. Tal periodização é construída e
fundamentada em um esquema estilístico que descreve os períodos em sua ascensão ou em
sua decadência. A periodologia estilística não isola os fenômenos no tempo e permite a
compreensão dos movimentos literários em sua amplitude. É o caso do Realismo, que é visto
como um fenômeno estilístico, tanto no plano individual quanto no plano de época, não se
detendo somente ao séc. XIX.
Segundo Afrânio Coutinho, sempre muito comum fora a tese de que a
literatura brasileira começou depois da independência política, e que antes ela não passava de
prolongamento da portuguesa. Antes de ser nação o Brasil tinha toda uma situação que o
diferenciava de seu colonizador. Havia aspirações, fala, dança e canto, enfim uma gama de
manifestações que foram tomando forma e construindo o país. Para Afrânio Coutinho, assim
também como no primeiro prefácio, ele sustenta a idéia de que a literatura já era brasileira
mesmo antes da independência, e teve início com os escritos de Anchieta.
Dedica um espaço para “Lingüística, Literatura e Crítica”, o que não ocorre no
primeiro prefácio, e mostra que há um trabalho grande neste sentido a fim de se estabelecer
um consenso, relegando a cada um a sua importância.
Afrânio Coutinho diferencia-se dos demais historiadores quando n’A
Literatura no Brasil privilegia a crítica literária em seus textos a partir do Romantismo. Se
neste vêem-se autores como: Francisco A. de Varnhagen, Ferdinand Denis (1798-1890),
Santiago Nunes Ribeiro, Joaquim Norberto, Fernandes Pinheiro e Machado de Assis
preocupados em conferir à tessitura literária trajes e postura específica, sente-se em Afrânio
Coutinho a preocupação em delimitar espaço, também para a crítica realista. Note-se a
influência das escolas literárias sobre os escritores brasileiros, a citar Émile Zola, por meio do
romance experimental, bem como Gustave Flaubert, cujas linhas temáticas são voltadas para
o Realismo.
103
Aproximando Afrânio Coutinho de Antonio Candido, observa-se neste a idéia
de que o crítico deve aprender a enxergar uma obra sob diferentes ângulos, independente de
sua ideologia religiosa ou política. Analisar a eficácia técnica com que a obra é construída é
um dos fatores que demonstrarão a cultura literária do crítico, determinando desta forma, o
sucesso ou o fracasso do trabalho. Se em Afrânio, há a valorização dos aspectos intrínsecos da
obra, Antonio Candido afirma que “[...] há duas grandes concepções de crítica literária,
baseada em dois métodos distintos: o extrínseco e o intrínseco” (CANDIDO in TEIXEIRA,
1998, p. 38). Conforme Antonio Candido, a abordagem tradicional preocupa-se com os
aspectos externos à organização da obra de arte literária, como a biografia do autor, fatores
ligados às condições raciais, psicológicas, ecológicas, sociais e históricas. Tal método valoriza
as obras nestes aspectos, no entanto não considera o conhecimento do leitor no que se refere
aos componentes estruturais que as fazem uma obra de arte.
Ainda segundo, o método intrínseco, ao contrário, busca os aspectos formais
ou imanentes do texto, que passa a ser um organismo autônomo. Esse tipo de abordagem
chamada formalista ansiava por histórias literárias sem o nome de autores a fim de que o
crítico se voltasse exclusivamente para os elementos internos da obra literária, tais como:
palavras, imagens, estrutura, estilo, personagens, cenários, temas, tonalidade, ritmos, enfim
significados explícitos e implícitos. À guisa deste método, Afrânio Coutinho estabelece a
organização d’A Literatura no Brasil, omitindo os nomes dos colaboradores abaixo dos
títulos, somente mencionando-os na orelha do livro.
Vale lembrar que Heloísa Buarque de Hollanda, pesquisadora da UFRJ, em seu
ensaio “A questão do mútuo impacto entre a historiografia literária e os estudos culturais”,
apontam que, por volta dos anos 1960 e 1970, ocorreu a crise dos estudos literários e que
havia uma oposição entre as idéias de análise intrínseca e a extrínseca do texto literário:
O confronto mais explícito frente ao qual todo estudante deveria se posicionar
naquela época, era o embate Afrânio Coutinho/UFRJ X Antonio Candido/USP, o
104
embate do texto autocontido e do texto imerso na história e na sociedade
(HOLLANDA apud MOREIRA, 2004, p.33).
Há que se considerar, no entanto, que não deve haver uma valoração excessiva
de apenas um método, pois a formação de um escritor vai depender de como ele foi
construído e o que interferiu em sua formação. Segundo o próprio Afrânio Coutinho, literatura
se ensina e se aprende e a grande esperança de formação de escritores está nas Faculdades de
Letras.
Ao analisar o soneto de Camões, Ivan Teixeira, na Revista CULT, agosto de
1998, utiliza os métodos extrínseco e intrínseco, este conseqüência do New Criticism:
Aquela triste e leda madrugada,
cheia toda de mágoa e de piedade,
enquanto houver no mundo saudade,
quero que seja sempre celebrada.
Ela só, quando amena e marchetada
saía, dando ao mundo claridade,
viu apartar-se de uma outra vontade ,
que nunca poderá ver-se apartada.
Ela só viu as lágrimas em fio
que, de uns e de outros olhos derivadas,
se acrescentaram em grande e largo rio.
Ela viu as palavras magoadas
que puderam tornar o fogo frio,
e dar descanso às almas condenadas.
A leitura que a crítica tradicional faz deste soneto é a partir do registro emotivo
de um dado biográfico: Camões, que tinha como amante D. Isabel Tavares, despede-se dela
partindo para o exílio na Índia, retratando a dor da despedida, no poema. No entanto, quando
lido pela perspectiva do New Criticism, a apreciação do soneto abandona a preocupação
biográfica, e tenta entendê-lo como uma história de ficção em que dois amantes se separam
sem o desejar, o que acarreta um dilaceramento por parte do “eu lírico”, levando-o a perder o
seu equilíbrio, e que a intensidade do seu sofrimento atenua o tormento das almas
condenadas. É notável a riqueza de interpretação atribuída ao método intrínseco! Nem uma
valorização extrema do método extrínseco, nem tampouco uma valorização extrema do
105
método intrínseco; somente a união destas teorias poderá levar a uma análise literária
consciente e passível de um julgamento eficaz.
Numa abordagem sociológica, Roberto Reis, em seu texto “Preguiça pastosa”,
observa que não há como desconsiderar os ideais de engajamento de um escritor durante o
processo de produção de uma obra, e exemplifica com Alfredo Bosi, mostrando que ele não
sucumbiu à “preguiça pastosa”, deixando seus ideais de lado, pelo contrário, participou
ativamente do jornal Brasil Urgente”, que era uma publicação dos padres dominicanos, em
oposição à ditadura militar, pondo-se a serviço do processo de democratização. Roberto Reis
mostra que não é somente este o fato que vai fazer com que a leitura de sua História concisa
da literatura brasileira, seja modificada:
Mas acho que estas facetas de sua biografia devem se colocadas na mesa: não
porque o fato de ele ter reagido ao regime militar necessariamente modifique a nossa
leitura da História concisa, mas porque lhe confere maior transparência. Em outras
palavras: as suas convicções decerto terão contribuído, por maior que possa ter sido
seu esforço de isenção e de busca de objetividade, na interpretação que ele oferece –
de novo, com competência em muitos aspectos admirável – em sua obra mais
conhecida (REIS, 2006, p.129).
Tais afirmações enfatizam a visão de Roberto Reis de que a abordagem
intrínseca não deve ser a única a ser considerada no momento de enfrentamento de um texto
criticamente.
Contrapondo-se aos métodos extrínsecos e intrínsecos, em uma abordagem
centrada no leitor, Joana L. M. de Araújo afirma em seu ensaio “A formação, os
deslocamentos: modos de escrever a história literária brasileira”, de 2006:
A “beleza” de um texto não se revela na forma, na estrutura, na imanência textual,
nem tampouco em qualidades vagas, transcendentes que nos permitiriam afirmar a
beleza de obras clássicas eternas. Essa “beleza” é antes resultado de um encontro do
texto como leitor (ARAÚJO in JOBIM, 2006, p.29).
Retomando as idéias de Ivan Teixeira de que a história da crítica e seus
fundamentos muito auxiliam na leitura e na análise literária, ele afirma:
106
[...] boa parte do melhor resultado vem da própria obra, quando lida e relida com
atenção. Drummond afirma que as coisas são tristes, consideradas sem ênfase.
Alberto Caeiro adverte que até as pedras adquirem graça se a gente olha devagar
para elas. Aí está a chave: o texto fala pela voz do crítico que deve olhar com ênfase
e devagar para as palavras (TEIXEIRA, 1998, p.41).
Leyla Perrone Moisés (1942), no ensaio “Escolher e/é julgar”, atribui à
modernidade a pretensão do julgamento de uma obra sem critérios, ainda que eles existam, no
entanto, retoma o pensamento de Afrânio Coutinho quando afirma: “se algo chamado crítica
literária pode ainda existir, não pode evitar a questão do valor literário e eximir-se do
exercício de um julgamento estético” (MOISÉS, 1982, p.162). Reiterando o pensamento de
Afrânio Coutinho, a autora deixa explícito o pensamento favorável ao critério estético de
análise literária.
David Salles, em discurso proferido na entrega a Afrânio Coutinho do título de
Doutor Honoris Causa, da Universidade Federal da Bahia, em 1984, afirmou que a ação do
referido autor, no que diz respeito à crítica literária, equivale a de um “desbravador, de um
combatente, incansável, procurando retirar a consciência crítica dos literatos do
impressionismo, da superficialidade, da dependência subserviente às demais ciências”
(SALLES in LIMA, 1984, p.39). E ainda, não se limitou a este fato a sua contribuição, ele é o
introdutor, no Brasil de linhas de estudo crítico de importantes teóricos da literatura, a citar
Arthur Lovejoy (1873-1962) e Paul Thieghen.
Afrânio Coutinho era um homem preocupado com os caminhos futuros da
literatura, sabia também que a ela são dados alguns direitos, ou melhor, foram conquistados, e
extrapolar é um deles. O escritor é aquele que sabe usar as palavras, e transformar a realidade
cotidiana, permeada de mesmices, em uma outra que somente os sensíveis e os estudiosos
poderão entender. Em meio a essa constante busca, situa-se a transição, e em Afrânio
Coutinho tem-se a confirmação desta idéia, pois para ele a história literária é uma realização
constante; à guisa deste referencial, cabe ao escritor mostrar o que há de belo e de poético nas
107
letras brasileiras, ao crítico filtrar este conceito e dar diretrizes para que a literatura caminhe.
E aos estudiosos de literatura, refazê-la, completá-la e valorizar o que de mais importante uma
nação possui. O historiador de literatura é como um mineiro. Cumpre-lhe a tarefa de separar a
ganga e de retirar o metal aproveitável, deixando-o polido. Mas para que ele possa extrair a
essência do trajeto literário, é imprescindível que ele conheça seus anseios, e saiba o que é
literatura brasileira, literatura como expressão pura de uma vivência humana.
3.3 Prefácio da terceira edição 1986
O “Prefácio da terceira edição” traz referência ao Modernismo e aos novos
rumos que foram impressos na produção literária nacional a partir de 1960, quando despontou
um período já cognominado de Pós-Modernismo, organizado em torno de revistas e pelos
grupos de vanguarda.
3.4 Literatura Brasileira – Introdução
No capítulo I, da Introdução d’A Literatura no Brasil, volume I, está o que
melhor reflete o pensamento de Afrânio Coutinho em extensão e profundidade. Nele há o
estabelecimento de definições e critérios, seu conceito de literatura e o método que adotou na
obra o estilístico ressaltando sua oposição aos métodos puramente histórico, sociológico,
biográfico, poético, moralista e religioso. Trata dos gêneros literários, classificando somente
as obras que possuem cunho estético, descartando aquelas de conteúdo filosófico, científico,
didático e jornalístico.
108
A cada período literário, Afrânio Coutinho faz algumas considerações traçando
um panorama geral da literatura brasileira e os autores de maior expressão. Estabelece a
periodização da literatura brasileira em Barroquismo, Arcadismo, Neoclassicismo,
Romantismo, Realismo, Naturalismo, Parnasianismo, Simbolismo, Impressionismo e
Modernismo, a partir dos estilos estéticos dominantes em cada período.
No século XVII, o estilo Barroco encontrou maior expressão, através das obras
literárias de Gregório de Matos, e os sermões, de Padre Antônio Vieira.
No que se refere ao Romantismo, Afrânio Coutinho afirmou ser este um
período de autonomia política e de grande progresso em muitos aspectos do Brasil. São Paulo,
Rio de Janeiro, Salvador e Recife eram sedes das academias de ensino superior fomentando o
crescimento intelectual, foi com ele que o homem encontrou um ambiente fecundo para o seu
processo de adaptação. Oficialmente o Romantismo iniciou-se com Suspiros poéticos e
saudades (1836), de Gonçalves de Magalhães tendo como figuras expressivas: José Bonifácio
de Andrada e Silva (1763-1838) e Frei Francisco Mont’Alverne (1784-1858) que
apresentaram em seus textos as características de lirismo, de oratória, de jornalismo e de
história.
Dividiu o Romantismo em quatro fases: 1
a
fase ou do grupo fluminense (1836–
840), com Gonçalves de Magalhães, Porto Alegre e Torres Homem (1812-1876) Sua principal
característica foi a poesia lírica ligada a certos aspectos do Neoclassicismo, ainda que
apresentasse nuanças Românticas. A 2
a
fase ou do indianismo (1840–1850) caracterizou-se
pelo movimento de valorização do indígena, de seus costumes e de sua expressão. José de
Alencar, a quem Afrânio Coutinho chamou de patriarca da literatura brasileira, foi o centro da
revolução romântica, e Gonçalves Dias, se destacou na poesia lírica e épica. A 3
a
fase ou do
individualismo e do subjetivismo (1850–1860) é a do “mal do século”. Nela destacam-se:
Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu (1839-1860), Junqueira Freire (1832-1855),
109
Fagundes Varela (1841-1875). Finalmente, na 4
a
fase ou liberal e social (1860–1870), Castro
Alves, Bernardo Guimarães, Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882), Manuel Antônio de
Almeida (1831-1861) e Visconde de Taunay (1843-1899) são os autores que merecem
destaque.
A partir de 1870, o Realismo e o Naturalismo nasceram de uma reação
contrária ao Romantismo, influenciados pelas doutrinas européias de cunho positivistas,
materialistas, deterministas, evolucionistas e materialistas. Os ideais de Comte, Taine, Buckle,
Spencer, Darwin, Haeckel e Ratzel revolucionaram a cultura brasileira e marcaram a Escola
do Recife, que teve em Sílvio Romero seu principal seguidor. Não tardou para que esta
revolução chegasse rapidamente às letras, e trouxesse para a literatura brasileira as idéias de
Flaubert (1821-1880), Stendhal (1783-1842), Balzac, Maupassant (1850-1893) e,
principalmente de Zola (1840-1902). De Portugal, vieram as contribuições de Antero de
Quental (1842-1891), Ramalho Ortigão (1836-1915), Eça de Queirós, cujas fórmulas eram
ora realistas, ora naturalistas. No Realismo brasileiro, a maior expressão é Machado de Assis
e no Naturalismo José do Patrocínio (1853–1905), Inglês e Souza (1853–1918), Adolfo
Caminha (1867–1897), Domingos Olímpio (1860– 1906), Franklin Távora (1842 1888) e
Aluísio Azevedo.
O Parnasianismo é expressão da poesia dentro do Realismo-Naturalismo,
sendo os principais autores: Alberto de Oliveira, Raimundo Correia, Olavo Bilac, e Vicente
de Carvalho.
O Simbolismo constitui-se em uma reação antiparnasiana. Opondo-se ao
espírito de objetivismo, de realismo e de exteriorização, surgiu o espírito individualista e de
interiorização, que usava a simbologia como recurso poético As principais expressões: Cruz e
Sousa (1861-1898), Alphonsus de Guimarães (1870-1921), Emiliano Perneta (1860-1921) e
B. Lopes (1859-1916).
110
O Impressionismo é o resultado da fusão do Realismo–Naturalismo com o
Simbolismo, em prosa e ficção. No romance e no conto as maiores expressões foram: Raul
Pompéia (1863-1895), Graça Aranha (1868-1931) e Adelino Magalhães (1887-1968), contudo
o Realismo-naturalismo entraria no século XX através de Coelho Neto (1864-1934), de Lima
Barreto (1864-1934) e da corrente regionalista.
A partir da Semana de 22, em São Paulo, deu-se a revolução Modernista que
não envolveu só a literatura, mas toda a vida nacional. Segundo Afrânio Coutinho, “se o
Romantismo foi a autonomia literária, o Modernismo foi a maioridade” (COUTINHO, 2003,
p. 141) e os autores procuraram destruir as formas obsoletas utilizando-se de ferramentas
como o escândalo, a piada e a irreverência, posteriormente, veio a reconstrução. É dividido
em três fases: A 1
a
fase, a da rebelião e a da destruição caracterizada pelo predomínio da
poesia e entre os autores principais, figuravam Mário de Andrade, Manuel Bandeira (1886-
1968), Menotti Del Picchia (1892) e Oswald de Andrade. A 2
a
fase, a da reconstrução sobre
moldes novos foi a fase de prosa e ficção com características regionalistas e sociais. No
movimento no Nordeste, os principais vultos eram José Américo de Almeida (1887-1980),
José Lins do Rego, Jorge Amado, Graciliano Ramos e Raquel de Queirós. No Centro-Sul,
outro grupo se desenvolveu mais preocupados com a alma humana. Entre os vinte e cinco
autores citados estão: Vinícius de Morais (1913-1980) e Carlos Drummond de Andrade. Na 3
a
fase, após a 2
a
Guerra, surge uma geração preocupada com o problema formal e verbal na
qual figuram nomes como João Cabral de Melo Neto (1920), Ledo Ivo (1915) e tantos outros.
Do início ao fim da leitura é perceptível o caráter estético que ele atribui à obra
literária. A literatura brasileira é hoje reconhecida e possui força e fisionomia para se impor.
Diante de tantos trabalhos e estudos existentes, atualmente, neste aspecto, torna-se mais
facilmente possível vislumbrar alguns conceitos e formas literárias; no entanto, há algum
tempo atrás, quando não havia bibliografias e estudos pertinentes aos assuntos, estes conceitos
111
requeriam ampla visão de mundo, muito estudo e dedicação. Um crítico não se faz de um
momento para o outro, no entanto, Afrânio Coutinho teve o privilégio de pensar primeiro, de
ser um daqueles que se juntou aos precursores dos ideais estéticos, para depois, transmiti-los
aos leitores, a fim de que fossem remodelados e aperfeiçoados. A cada um o seu valor, dentro
de seu tempo.
Leodegário de Azevedo, na apresentação do livro Miscelânea de Estudos
Literários – homenagem a Afrânio Coutinho, de 1984, afirma que através de sua seção
“Correntes Cruzadas” Afrânio Coutinho “desenvolveu um amplo programa de renovação
técnica e metodológica dos estudos de literatura brasileira” (AZEVEDO in LIMA, 1984, p.
18), baseando-se em doutrinas e em métodos contribuindo assim, para o esclarecimento do
fato literário.
3.5 O Barroco
“O Barroco” é o capítulo 10, do volume II, d’A Literatura Brasileira. Nele
Afrânio Coutinho explicita que as obras da literatura portuguesa, do século XVI, têm como
objetivo os descobrimentos marítimos e suas conseqüências. O Quinhentismo português
constitui-se de elementos medievais, clássicos e nacionais. A literatura produzida nos três
primeiros séculos foi fundamentada em motivos econômicos: destes derivam as primeiras
letras brasileiras. O crítico chama de literatura de expansão ou de descobrimento os primeiros
livros escritos no Brasil, por portugueses brasileiros sobre os fatos, as coisas e os homens
daqui. O reconhecimento do caráter Barroco do Brasil, de meados do século XVI ao final do
século XVIII, impõe uma nova periodização. Para Afrânio Coutinho, o termo Classicismo é
impróprio quando usado para rotular manifestações literárias díspares como o Renascimento,
112
o Seiscentismo e o Setecentismo, incluindo autores como Camões, Vieira e os árcades, e estas
etiquetas impedem de enxergar as diferenças estilísticas das manifestações que vão do final da
Idade Média até ao Romantismo, não podendo os autores serem chamados de clássicos só por
imitá-los.
Afrânio Coutinho baseia-se nos critérios de Hatzfeld para marcar muitas das
características da literatura barroca. O que diferencia a arte barroca das demais é a infinidade
de detalhes. Recursos lingüísticos como antíteses, paradoxo, assíndetos e outros aparecem
freqüentemente na literatura barroca com o intuito de traduzir o estado de conflito interior do
homem. Entre os autores que Afrânio Coutinho cita, estão Croll, Góngora, Evelyn E. Urrhan,
Maggioni e Dvorak (1841-1904) que mostram conceitos e características do Barroco, e é a
partir destes estudos que ele emite o seu juízo: “Barroco é um movimento estético de âmbito
universal, uma forma de alto valor artístico” (COUTINHO, 2002, p. 29), reafirmando:
A literatura no Brasil colonial é literatura barroca e não clássica, como até há pouco
tempo era regra denominá-la. A literatura nasceu no Brasil sob o signo do Barroco,
pela mão dos jesuítas. E foi ao gênio plástico do Barroco que se deveu a
implantação do longo processo de mestiçagem que constitui a principal
característica da cultura brasileira (COUTINHO, 2003, p. 29).
Ressalta o trabalho de Anchieta e aponta Antônio Vieira como o vulto mais
expressivo da prosa barroca e, na poesia, os destaques são Gregório de Matos e Botelho de
Oliveira. Na literatura política e jurídica encontra-se Frei Vicente do Salvador e Rocha Pita
(1660-1738). O Brasil não teve Renascimento, passou da Idade Média para o Barroco, e este
estilo não ocorreu só nas artes visuais e literaturas, mas exerceu papel importante na
autonomia brasileira contra a dominação portuguesa.
Neste capítulo, Afrânio Coutinho trata do Barroco como um estilo que impõe
uma nova periodização, pois o Classicismo é impróprio quando usado para rotular
manifestações literárias díspares. Em síntese, uma das contribuições de Afrânio Coutinho foi
reconhecer em Antônio Vieira a figura de mais alto relevo na prosa barroca, e na poesia, no
113
Quinhentismo brasileiro marcas peculiares do Barroco, ou seja, a literatura deste período,
século XVI, expressa os intuitos do colonizador europeu, enquanto na Europa, vive-se o surto
da expansão marítima, o Brasil vive as conseqüências desta expansão. Segundo a ótica de
Afrânio Coutinho a literatura aqui produzida reflete a necessidade da catequização, mas não
deixa de ser brasileira, pois na sua concepção, não se pode exigir de um povo mais do que ele
pode oferecer em dado momento.
No que se refere ao Barroco, Leodegário de Azevedo afirma que se deve a
Afrânio Coutinho a revalorização do estilo barroco e que ainda não houve quem melhor
observasse os critérios existentes na periodização literária:
(...) o autor, combatendo o conceito tradicional de Barroco, revaloriza este estilo
literário em meio brasileiro. Trata-se de um dos pontos mais altos de sua obra, além
de ser uma de suas contribuições mais positivas à história de nossa literatura
(AZEVEDO in LIMA, 1984, p. 20).
No que se refere a ser Anchieta o precursor das letras, Leodegário de Azevedo
comunga da mesma idéia de Afrânio Coutinho.
E com Afrânio Coutinho estamos de acordo, quando vê em Anchieta o fundador de
nossas letras, pois não há quem possa negar, no piedoso jesuíta, a genuína inspiração
poética revelada desde os bancos escolares. Não que a sua obra seja de primeira
qualidade do ponto-de-vista rigorosamente estético, pois não raro assume feições de
literatura dirigida. Mas nenhum critério de valoração estética, aplicado à sua obra,
poderá negar-lhe a beleza ingênua de sua poesia, por mais rigoroso que seja
(AZEVEDO in LIMA, 1984, p.21).
Uma das contribuições de Afrânio Coutinho refere-se ao Maneirismo, item
acrescentado nas edições mais recentes d’A Literatura no Brasil. Trata de um movimento que
tem despertado os estudos de teóricos como Helmut Hatzfeld e George Weise, entre outros.
Sua definição é de um período estético imediatamente anterior ao Barroco, não sendo um
momento da história da arte, mas sim uma tendência. Segundo Afrânio Coutinho, o
Maneirismo pode ser considerado um pré-barroco, e cita a obra de Anchieta e a Prosopopéia,
de Bento Teixeira, como publicações que apresentam reflexos maneiristas. E é M. Maggioni
que estabelece a definição do termo: “Maneirismo não parece ser um estilo, mas uma maniera
114
(manierismo) que está para o estilo como a caricatura está para o retrato” (MAGGIONI, apud
COUTINHO, 2003, p. 35).
Em Alfredo Bosi (1936), na História Concisa da Literatura Brasileira, não há
reflexões sobre esta tendência nem tão pouco ela aparece na Formação da Literatura
Brasileira, de Antonio Candido.
3.6 Neoclassicismo e Arcadismo. O Rococó
O capítulo dezoito, do volume II d’A Literatura no Brasil, “Neoclassicismo e
Arcadismo. O Rococó” escrito por Afrânio Coutinho, mostra que no início do século XVIII, à
sombra das academias literárias pratica-se uma literatura anêmica e sem sabor e uma
historiografia de memórias. O movimento Arcádico da Itália passou por Portugal e pelo
Brasil. Em Portugal, instalou-se com a Arcádia lusitana. (1756–1774) e no Brasil, com os
poetas da “escola mineira”. Seu marco inicial foram as Obras Poéticas de Cláudio Manuel da
Costa, sendo Basílio da Gama o único a pertencer realmente à Arcádia Romana, com o nome
de Termindo Sipílio, pois os brasileiros foram árcades sem filiações. Alguns críticos, entre
eles, Sílvio Romero e José Veríssimo põem em relevo a importância dos árcades brasileiros e
o Arcadismo mineiro incorpora o individualismo e o sentimento da natureza marcando o
início do lirismo pessoal brasileiro. Para Afrânio Coutinho, é impossível estabelecer limites
entre Barroquismo, Neoclassicismo ou Arcadismo, Iluminismo e Pré-Romantismo, pois estas
épocas oferecem uma unidade interna. As características do Arcadismo e Barroquismo se
encontram em diversos autores de períodos e nações diferentes, por isso não se pode tomá-las
isoladamente.
115
O termo Rococó foi utilizado como expressão artística só no final do século
XIX. Em literatura, o Rococó é um estilo francês e suas características comparam-se ao
Barroco. Enquanto neste impera o teatro da palavra, o claro e o escuro, e as paixões humanas
em profundidade, naquele impera a ação; as coisas brancas, e a superficialidade das paixões.
No que se refere ao Barroco, Afrânio Coutinho diferencia-se de outros autores
contemporâneos quando reconhece José de Anchieta como o vulto mais expressivo da prosa
barroca e Gregório de Matos e Botelho de Oliveira na poesia.
Alfredo Bosi é conciso ao afirmar que “no Brasil houve somente ecos do
Barroco europeu durante os séculos XVII e XVIII: Gregório de Matos, Botelho de Oliveira,
Frei Itaparica (1704-1768) e as primeiras academias repetiram motivos e formas do
barroquismo ibérico e italiano” (BOSI, 1994, p. 34). Para o crítico, o espaço reservado a José
de Anchieta situa-se nas origens, momento em que trata da literatura produzida no século XVI
considerando os textos de informação, com destaque para a Carta de Pero Vaz de Caminha e
o Diário da Navegação, de Pero Lopes de Souza.
Já na Formação da literatura brasileira, Antonio Candido não atribui ao
Barroco espaço literário, nem a José de Anchieta o início da literatura.
Em fases iniciais, é freqüente não encontrarmos esta organização [das obras em
sistemas desarticulados que formam a tradição] dada a imaturidade do meio, que
dificulta a formação dos grupos, a elaboração de uma linguagem própria e o
interesse pela força da inspiração individual, seja pela influência de outras
literaturas. Mas elas não são representativas de um sistema, significando quando
muito seu esboço. São manifestações literárias, como as que encontramos, no
Brasil, em graus variáveis de isolamento e articulação, no período formativo inicial
que vai das origens no século XVI, com os autos de Anchieta, às Academias do
século XVIII (CANDIDO, 1981, p. 24).
Considera a literatura brasileira “ramo da portuguesa” (CANDIDO, 1981,
p.28) e que dependendo da perspectiva adotada pode-se “considerá-la independente desde
Gregório de Matos ou só após Gonçalves Dias e José de Alencar” (CANDIDO, 1981, p.28).
116
Se em Afrânio Coutinho, não há um isolamento da estética Arcádica, pois se
percebe uma visão sincrônica das diversas manifestações, em Antonio Candido o Arcadismo é
o momento decisivo e de suma importância, pois, nele as “manifestações literárias vão
adquirir no Brasil características orgânicas de um sistema” (CANDIDO, 1981, p. 43).
Neste capítulo, Afrânio Coutinho refere-se ao fato de que, no século XVIII,
várias tendências se inter-relacionam: a decadência do Barroco valoriza o Classicismo que
renasce no Arcadismo. Tais considerações demonstram a periodização estilística, tão
observada pelo autor no decorrer da obra.
3.7 O Movimento Romântico
O Romantismo, sob a égide de Afrânio Coutinho, em seu textoO movimento
romântico”, (capítulo 23) d’A Literatura no Brasil, não é “um estilo artístico, individual e de
época [...], um período estilístico, conjunto de atividades em face da vida e um método
literário” (COUTINHO, 2003, p. 4). Em Portugal, foi introduzido por Almeida Garret (1825)
e, no Brasil, Domingos José de Magalhães foi seu precursor. Com características de
revolução, o Romantismo possuía seus ideais de renovação marcados pela fusão da literatura
com a política; atitude revolucionária, intenção antilusa e indianista. Afirma Afrânio Coutinho
ser um problema complexo classificar e distribuir os escritores românticos brasileiros, visto
ser o próprio movimento muito amplo. Distingue Pré-romantismo de Romantismo.
Pré-Romantismo: (1808-1836) É um corpo de tendências, temas, idéias, sem,
constituir doutrina literária homogênea com remanescentes classicistas e arcádicos,
e elementos novos (COUTINHO, 2003, p. 21).
Afrânio Coutinho divide o Romantismo em quatro grupos: o primeiro grupo
foi iniciado pelo grupo fluminense, com o manifesto romântico de 1836, caracterizou-se,
117
pelas tendências contraditórias de conservadorismo e pela nova estética. O segundo grupo, de
1840 a 1850, foi diverso do anterior embora inclua figuras do primeiro. Predominam a
descrição da natureza, panteísmo, indianismo, idealização do selvagem e originalidade. O
terceiro grupo, de 1850 a 1860, caracteriza-se pelo individualismo, pela desilusão, pelo
cinismo e pelo “mal do século”. O quarto grupo apresentou-se depois de 1866, e nele os
gêneros adquiriram maior autonomia estética.
Quanto ao significado e legado do Romantismo brasileiro, Afrânio Coutinho
enfoca que a literatura recebeu dele contribuições definitivas e os gêneros literários ganharam
autonomia e consistência. Com ele a literatura deixou de ser instrumento de ação religiosa e
moral para tornar-se a expressão estética do espírito do povo. Houve a consolidação da poesia
e da ficção brasileira. Quanto à crítica e às idéias literárias, a contribuição romântica deixa
para trás a preocupação biográfica e antológica e o espírito de isolamento acadêmico. Quanto
à linguagem, o movimento romântico desempenhou papel revolucionário, com a luta pelos
direitos de um dialeto brasileiro, a libertação dos clássicos portugueses. Para Afrânio
Coutinho, pela primeira vez o Brasil teve um movimento enraizado no solo e na realidade
nacionais, que agiu com força religiosa, social e nacional, pois é a partir daí que o Brasil
passou a ter uma literatura própria, e conseqüentemente há melhora do público leitor.
O historiador Alfredo Bosi (1994), na História concisa da literatura brasileira,
num capítulo denominado “Da ilustração ao pré-romantismo”, afirma que neste período a
produção literária é anêmica, destacando Glaura, de Silva Alvarenga e os Primeiros Cantos
de Gonçalves Dias. Afirma ainda que:
Seria curioso investigar o porquê de tanta má poesia durante esse período rico em
mudanças econômicas e políticas na sociedade brasileira. [...] E mesmo que a data
final fosse recuada para 1836, ano da publicação de Suspiros Poéticos e Saudades
de Gonçalves de Magalhães, marco da literatura romântica, ainda assim teríamos
três décadas e meia e certamente duas gerações de curtíssimo fôlego lírico (BOSI,
1994, p. 80).
118
Se, para Afrânio Coutinho, foi no Romantismo “que se constituiu o nervo
desse processo que determinou a autonomia da literatura brasileira” (COUTINHO, 2003,
p.29), ou seja, é a partir do Romantismo que se inicia a literatura propriamente dita, para
Antonio Candido, é no Romantismo que se configura o sistema literário com a tríade escritor,
obra e público.
Embora para Coutinho o legado da literatura brasileira tenha nascido com a
chegada do português, foi no Romantismo que ocorreu um amadurecimento do público leitor,
pois este foi um estilo que expressou as primeiras nuanças da brasilidade, firmando, assim, os
gêneros literários.
Ainda se reportando ao pensamento de Leodegário de Azevedo, no que se
refere à visão de Romantismo brasileiro de Afrânio Coutinho, “quanto ao Romantismo no
Brasil, o quadro que nos oferece é completo, representando mesmo uma das sínteses de
melhor estruturação que conhecemos sobre a matéria” (AZEVEDO in LIMA, 1984, p.21).
3.8 A crítica literária romântica
O capítulo 29 de “A crítica literária romântica” traz informações sobre a
criação da crítica literária, que, durante o Romantismo, caminhou lado a lado com a criação
literária e depois de grandes esforços veio a formar um sistema autônomo. Segundo Afrânio
Coutinho, o sentimento da natureza, as idéias da nacionalidade e da originalidade, o
indianismo, critérios de definição do escritor brasileiro, o início da historiografia literária,
literatura da fase colonial e o problema da periodização são sugestões de resposta aos
questionamentos vigentes da época que partiu do ideário crítico romântico que buscava,
justamente, elucidar o caráter brasileiro da literatura. A consolidação do instinto de
119
nacionalidade foi o ponto culminante do Romantismo. Os críticos de maior expressão deste
período são Santiago Nunes Ribeiro, Joaquim Norberto de Souza e Silva, Macedo Soares e
José de Alencar.
Diferenciando-se dos demais historiadores, Afrânio Coutinho dá uma atenção
especial à crítica literária, ressaltando que a mesma apela para o que de mais peculiar existe
na cultura brasileira: “a cor local”. Valoriza a idéia defendida por Machado de Assis de que a
crítica deve ser fecunda e exercida à luz de métodos estéticos.
3.9 Realismo. Naturalismo. Parnasianismo
O Capítulo 31, no IV volume, trata do “Realismo. Naturalismo e
Parnasianismo”. Nele, Afrânio Coutinho afirma serem estes os três grandes movimentos
literários que florescem na prosa e na poesia durante a segunda metade do séc. XIX,
penetrando no séc. XX.
No que se refere às características do Realismo, Afrânio Coutinho reporta-se
ao trabalho de A. Hibbard cuja idéia mostra a busca da verdade por meio do fiel retrato de
personagens que são concretos e conhecidos.
No Brasil, a obra de Eça de Queirós (1845-1900) exerceu grande influência sobre
os brasileiros. Numa época dominada pelo sentimentalismo com resquícios do Romantismo,
Eça de Queirós publicou O crime do Padre Amaro, mais tarde O Primo Basílio e, através
deles, manteve com o Brasil uma ligação constante. A literatura evolui do Romantismo para
o Realismo e, em 1880, começam a aparecer os primeiros frutos. É a partir d’O Mulato, de
Aluísio Azevedo, que a ficção, o conto ou o romance aparecem ora Realista, ora Naturalista.
Como escola, o Naturalismo não durou mais que a década de 1880. Fizeram parte dele os
120
autores Aluísio Azevedo (1857-1913), Adolfo Caminha, Domingos Olímpio, Martins Pena
(1815-1848), Manuel Antônio de Almeida, Lima Barreto e Cardoso de Oliveira.
Afrânio Coutinho destina um capítulo ao Realismo, Naturalismo e
Parnasianismo, mas ressalta que embora tenha adotado a divisão periodológica dos
movimentos e estilos, ele o faz procurando escapar à divisão meramente cronológica, que
segundo ele, faz-se arbitrária e é apenas ponto de referência. Percebe-se o historiador
preocupado com a estética ao delimitar a imprecisão dos dados históricos sobre o valor do
produto literário. No seu discurso, sente-se sobrepujar as categorias estéticas, os
temperamentos artísticos, as tendências gerais da alma humana que podem no seu entender
estar presente em quaisquer épocas.
3.10 Crítica Naturalista e Positivista
O capítulo 32 trata da “Crítica naturalista e positivista”. Segundo Afrânio
Coutinho, na década de 1970 a palavra de ordem era ciência e após ter esgotado o
Romantismo, com a crítica romântica em crise, o culto da ciência cresce e toma conta dos
espíritos. Frente a este culto a crítica adquire um instrumental de análise e valorização até
então desconhecidos. À luz dos pressupostos de Taine, todos os produtos do espírito e os fatos
históricos obedecem a uma lei comum: originam-se da ação mecânica de três fatores
essenciais: raça, meio e momento. Há uma posição de inconformidade com uma simples
leitura da obra e análise da biografia do autor, com uma outra que procurasse explicar antes de
julgar e que estabelecesse a ligação da obra com as condições ou fatores que lhe deram
nascimento.
121
Na era materialista, Afrânio Coutinho ressalta a importância da obra crítica de
Sílvio Romero, observando que com a sua história a literatura brasileira adquiriu
personalidade e seu reconhecimento, trata de críticos como Rocha Lima, Capistrano de Abreu,
Araripe Júnior, José Veríssimo e outros de menor expressão.
No que se refere à crítica impressionista, Afrânio Coutinho observa que esta se
tratava de “uma impressão, e não de um julgamento, e valia na medida do preparo e dos dotes
de quem a exercia” (COUTINHO, 2003, p.65). Esta fase de impressionismo crítico foi vivida
num momento em que crítica era uma impressão e não um julgamento, no entanto, foi
somente com a revolta modernista que houve uma reação contra essa atitude. Críticos
impressionistas de maior expressão: Tristão de Athayde, Mário de Andrade e Henrique
Abílio.
3.11 O Regionalismo na ficção
“O Regionalismo na ficção” é o capítulo 41, do volume IV, escrito por Afrânio
Coutinho que trata do fato de, embora o Romantismo ser um movimento de grande
importância nacional, nele houve a valorização do Brasil regional. Há, porém, diferenças
entre o regionalismo romântico e o que foi vivido pelas gerações realistas: aquele era uma
forma de escape do presente para o passado idealizado, enquanto este considerava a existência
contemporânea e o ambiente vivido.
Outra importante contribuição de Afrânio Coutinho é o tratamento dado aos
regionalismos, marcando a presença de diversos ciclos, como o Nortista, na Amazônia, em
que o personagem caboclo desempenhou grande papel. A natureza, embora agressiva e
áspera, fascina e deslumbra e o homem que lá vive enfrenta a melancolia e a monotonia. Os
122
autores de maior expressão foram: Inglês de Souza, José Veríssimo, Euclides da Cunha,
Raimundo Morais, Rodolfo Teófilo (1853-1932), Alberto Rangel (1871-1945), J. Coutinho de
Oliveira, Lívio César, Alfredo Ladislau (1882-1934) e finaliza citando Cobra Norato (1931),
de Raul Bopp (1898-1984) e Macunaíma (1928), de Mário de Andrade, que se situam entre as
obras que a Amazônia inspirou.
Outro ciclo marcado por ele é o Nordestino, ocorrido na segunda metade do
século XIX, que recebeu influência direta da literatura francesa, e os escritores eram
motivados pela independência política. Sob o signo do Romantismo nasceu o regionalismo na
prosa de ficção, para depois se misturar ao Realismo e ao Naturalismo (Zola e Eça). Os
romancistas do grupo nordestino não eram dramáticos, nem líricos. A literatura era mais
descritiva e paisagística, e os autores oscilavam entre o sentimento romântico e a didática
naturalista. Ao fazer um levantamento da ficção nordestina, cita Franklin Távora cujo único
romance é feito em moldes indianistas e se inquietou diante do termo “Literatura do Norte”,
dito por José de Alencar, ao qual respondeu:
Norte e Sul são irmãos, mas são dois. Cada um há de ter uma literatura sua, porque o
gênio de um não se confunde com o do outro. Cada um tem suas aspirações, seus
interesses, e há de ter, se já não tem, sua política. (TÁVORA, in COUTINHO, 2003,
p. 251).
Com o Ciclo Baiano inicia-se o ciclo da terra, do qual são destaques Rosendo
Muniz Barreto (1845) e Xavier Marques (1861-1942). O romance baiano abrange elementos
históricos, tensão social, diversas comunidades rurais e narrativa objetiva e direta. Ressaltam-
se os autores: Rosendo Muniz Barreto, Xavier Marques, Lindolfo Rocha (1862-1911), Fábio
Lopes dos Santos Luz, J. M. Cardoso de Oliveira, Afrânio Peixoto, Anísio Melhor (1935-
1991), Nestor Duarte (1902-1970), D. Martins de Oliveira (1906-1974), Rui Santos (1960),
Jorge Amado, Clóvis Amorim (1911-1970), James Amado (1922) e Santos Morais.
No Ciclo Central, as obras regionalistas exigem preferências para com
ambientes rurais, onde o elemento humano é o centro da obra. Precursor dos regionalistas foi
123
Bernardo Joaquim da Silva Guimarães (1825-1884), destacando-se ainda, Joaquim Felício dos
Santos (1828-1895), com a história documental, e Afonso Arinos de Melo Franco, Valdomiro
Silveira (1873-1941), Monteiro Lobato (1882-1948), Avelino Fóscolo (1864-1944), Aldo
Luís Delfino dos Santos, Amadeu de Queirós, João Lúcio Brandão, Abílio Velho Barreto
(1883-1959); José Godofredo de Moura Rangel (1884-1951); Aristides Rabelo e João
Guimarães Rosa (1908-1967) ponto alto do regionalismo no Brasil, mas que realiza um
regionalismo diferenciado, universal.
No Ciclo Paulista, surge o Urupês, de Monteiro Lobato, obra afortunada que
abrirá novos caminhos. Entre os autores citados estão Manuel Batista, José Agudo que
escreveu meia dúzia de volumes e descreveu cenas da vida paulistana, Ezequiel Freire (1849-
1890), Vicente Augusto de Carvalho.
O regionalismo literário também se refletiu no Rio Grande do Sul,
consubstanciando-se no Ciclo Gaúcho. O documento literário mais antigo é um soneto
satírico, do final do século XVIII. Em 1910, sob o influxo do Naturalismo, o regionalismo
gaúcho atinge seu período de clímax. Os principais autores são: Alcides Maia (1878-1944),
Simões Lopes Neto (1865-1918), Darci Azambuja (1903-1970), Ciro Martins (1908) e Érico
Veríssimo (1905-1975).
É interessante notar que Afrânio Coutinho apresenta uma visão global dos
diversos regionalismos, valorizando a produção literária de cada região, fugindo à
caracterização daquele regionalismo que se atém às produções nordestinas, ou seja, a
chamada “Geração de 30”. Para o autor, as diversas gerações se irmanam, ostentando cada
qual a sua marca que, embora diferentes, fazem parte de uma mesma literatura.
Se para ele a presença da atividade regionalista é marcada pelos ciclos e suas
manifestações espaciais, o mesmo se observa em Tânia Franco Carvalhal em ensaio de nome
“Periodização e regionalização literárias”, no qual afirma estar “a periodização vinculada às
124
condições de surgimento dos fatos literários no tempo, e a região está estreitamente ligada a
coordenadas de espaço” (CARVALHAL, 2003, p.111), fornecendo desta forma, contribuições
relevantes para a realização da historiografia literária.
3.12 Simbolismo. Impressionismo. Modernismo
No capítulo 41, do volume IV, sob o título “Simbolismo, Impressionismo e
Modernismo”, Afrânio Coutinho escreve sobre uma literatura em mudança. No Brasil, o
Simbolismo possuiu uma marca idealista, e enfrentou a oposição e a hostilidade, e seus
seguidores foram cognominados nefelibatas. Embora adversários do movimento, alguns
parnasianos, como Coelho Neto e Alberto Oliveira (1857-1937) foram impregnados Dele. Em
1910, reinava uma atmosfera de dúvida e inquietação e tanto o Simbolismo quanto o
Parnasianismo permaneciam intactos.
Reportando-se às idéias de Hibbard, Afrânio Coutinho (2003) mostra as
características da literatura Impressionista, que são: registro das impressões; tônica na
essência do momento; valorização da cor, luz, ar; reprodução de emoções, sentimento
individuais; ruptura com as convenções tradicionais da narrativa; interpretação da natureza; a
vida em constantes transformações; a razão sobrepujando as sensações. Os traços
preferenciais do estilo Impressionista são a impassibilidade e a impersonalidade, a oposição à
sintaxe clássica, o anacoluto (ordem inversa da frase), a supressão da conjunção, o modo
imperfeito, o uso de metáforas e símiles, a linguagem expressiva e sonora e a linguagem da
fantasia e expressão.
Segundo Afrânio, no Brasil, a primeira grande repercussão impressionista foi
Raul Pompéia (1863-1895) Machado de Assis revela uma certa independência do Realismo, o
125
que o conduz também ao Impressionismo. Graça Aranha e outros apresentam o dualismo
entre Realismo e Simbolismo. O Naturalismo não se desenvolve plenamente pelas condições
sociais, e de 1910 a 1920 surge a fase de transição, misturando-se elementos parnasianos,
simbolistas e impressionistas, chegando ao Modernismo. Tendências como Expressionismo,
Futurismo, Dadaísmo e Super-realismo surgem e conduzem à revolução Modernista. As
últimas décadas do século XIX e meados do século XX assistiram a uma transformação das
artes, da cultura e das letras com a realidade brasileira.
No século XX, a literatura possui como corrente central a busca da brasilidade
e esta se tornou tema importante no Modernismo. Algumas tendências de vanguardas
influenciaram esta fase: o futurismo, o dadaísmo, o cubismo, o ultraísmo, enfim, todos
remetendo a uma situação de oposição à tradição literária ocidental.
A Semana de 22 cumpre seu papel revolucionário e atinge seus objetivos
propostos. Posterior a ela, o movimento continuou através de grupos e correntes principais.
São eles:
a) Dinamista, cuja base é o culto do movimento e velocidade; b) Primitivista,
buscava a renovação; c) Nacionalista: nacionalização da literatura segundo os
motivos brasileiros; d) Espiritualista: defendiam a tradição e o mistério; e)
Desvairista: liberdade de pesquisa estética, renovação da poesia (COUTINHO,
2003, p. 355).
O Modernismo foi inaugurado na Semana de 22, valorizando o espírito
moderno, em detrimento do passado. Nele distingue-se uma sucessão de fases e cada uma
ofereceu certa unidade geral marcadas por três gerações. A primeira fase de 1922, a 1930,
apresenta a ruptura com o passado. Abriu caminho para sua ânsia de pesquisa e liberdade
estética. A segunda fase, de 1930 a 1945, colhe os resultados do presente, substituindo o
caráter destruidor pela intenção construtiva; e a terceira fase, de 1945 em diante, que assiste
ao apuramento formal cada vez mais preciso. No plano da crítica, houve grande contribuição,
foi um movimento de âmbito nacional e teve em Mário de Andrade a sua maior expressão.
126
Para Afrânio Coutinho, o movimento modernista produziu uma completa
mudança de mentalidade. Grandes foram suas conquistas: a atualização do Brasil; a libertação
do colonialismo mental; o nacionalismo; a revitalização do regionalismo, do tradicionalismo e
do folclore; a descentralização intelectual; a consciência da brasilidade, o sentido autônomo
da literatura brasileira; o profissionalismo e o diletantismo; a primazia da vida literária sobre a
literatura propriamente dita; a questão da língua; a reespiritualização das elites e das massas; a
alteração da forma da poesia; a definição da fisionomia da ficção; o aspecto original da
crônica; o encontro da literatura dramática com o público mais entusiasta; a crítica não como
gênero literário, mas acompanhando o desenvolvimento da literatura.
Essa tendência renovadora levantou-se principalmente contra a orientação
historicista, sociológica ou psicológica, de cunho determinista, a que se devem os
principais trabalhos da crítica brasileira anterior. Era o estudo da literatura como um
documento de uma época, sociedade, raça ou grande individualidade, jamais como
monumento estético (COUTINHO, 2003, p. 379).
O Modernismo foi grande em tendências e seus resultados mostram que o
equilíbrio entre o novo e o clássico foi reconquistado.
Neste intervalo, Afrânio Coutinho enfoca três momentos importantes. Em
relação ao Simbolismo, acentua a crítica de Machado de Assis, por meio do Realismo
transfigurado. Cabe ressaltar que Afrânio Coutinho caracteriza a prosa impressionista, dando
espaço para um estilo pouco apontado por demais historiadores, também incorpora o termo
decadentismo, que, segundo ele, é posteriormente chamado de Simbolismo, no qual
predominavam os dados impessoais, as sinestesias, o onírico, entre outros.
Outra contribuição significativa de Afrânio Coutinho para a historiografia
literária é a caracterização do Impressionismo como estilo. Após enumerar suas
características, à luz dos conceitos de Addison Hibbard, Coutinho aponta Raul Pompéia como
a primeira grande figura do Impressionismo brasileiro.
127
Quanto ao Simbolismo, Impressionismo e Modernismo, Leodegário de
Azevedo afirma que o trabalho de Afrânio Coutinho muito acrescentou à historiografia pátria
literária, pois “trata de uma caracterização do Impressionismo como forma específica de
estilo, e aqui corrige erros já bem enraizados em nossa literatura (AZEVEDO in LIMA,1984,
p. 22). Acrescenta ainda que as considerações em torno do nacionalismo literário elucidam
muito esta questão.
3.13 O Modernismo na Ficção
“O Modernismo na ficção” é o título do Capítulo 51, do V volume d’A
Literatura no Brasil. Afrânio Coutinho estabelece que a classificação da Ficção Modernista
efetiva-se em duas correntes: a social e territorial, e a psicológica. De 1930 a 1945, com a
explosão modernista, a ficção adquire fisionomia e personalidade próprias, e a publicação de
Macunaíma, de Mário de Andrade, e A bagaceira, de José Américo de Almeida foram
significativas, pois se abria um novo ciclo, de qualidade de produção e pela contribuição em
geral dos autores que a representavam.
Retomando o Regionalismo na ficção, Afrânio Coutinho aponta autores do
porte de Raquel de Queiroz, José Américo de Almeida e acentua que Jorge de Lima (1893-
1953), embora não fugindo à condição de poeta, tentou fundir os dois gêneros.
3.14 A Crítica Modernista
No capítulo 52, do V volume d’A Literatura no Brasil, Afrânio Coutinho trata
da crítica modernista, afirmando que, no Modernismo esta não fora exercida e que chegou
128
com grande atraso, na década de 1940. De 1930 a 1940, a crítica exercida foi a social, e os
autores que se destacaram foram Mário de Andrade, que a exerceu por dois anos, de 1938 a
1940, e Álvaro Lins que foi o continuador de Tristão de Athayde, com a crítica estética e a
política. Nesse período, a literatura já havia adquirido sua fisionomia e exigia critérios
estéticos de apreciação. Aderiram ao método estético, diversos autores, cuja formação era
diferente. Antonio Candido situa-se entre as duas tendências. A princípio encaminhava-se
para uma concepção sociológica, e logo passou à estética, representada na Formação da
Literatura Brasileira.
Wilson Martins, um dos colaboradores d’A Literatura no Brasil, trata da crítica
estética de 1945 por fazer referências a Afrânio Coutinho. Segundo ele a crítica estética, de
1945, foi conduzida por diversos fatores, entre eles o esgotamento natural da literatura pós-
modernista, a modificação da conjuntura social e o ensino universitário das Letras. Em 1948,
surge o teórico da crítica estética, Afrânio Coutinho, cuja obra marca a “conscientização”
correta dos problemas literários. Suas idéias essenciais são:
Necessidade de criação de uma consciência crítica para nossa literatura o que
somente será possível pelo estudo superior e sistemático de letras; reconsideração
dos problemas técnicos da poesia, da ficção e do drama; especialização por parte da
crítica, inclusive em face dos próprios gêneros literários; defesa da perspectiva
estético-literária na apreciação da literatura, contra o predomínio do método
histórico; alargamento das influências estrangeiras; descentralização intelectual de
país, conforme a nossa realidade, que é de base regional; enfim, reconhecimento da
autonomia própria da literatura e da crítica (COUTINHO, 2003, p. 627).
A crítica brasileira fez mais progresso, na sua definição, entre 1922 a 1965, do
que no meio século anterior. Ela se encaminha a uma “especialização” cada vez maior. Por
isso se desliga da história e da sociologia. Ainda que o conhecimento objetivado pela atual
seja apenas o literário, Wilson Martins não deixa de citar outros autores que também
contribuíram neste campo, no entanto o fato deles não a terem exercido fundamentados em
métodos, deixam seus estudos pormenorizados.
129
Ao atingir os últimos anos de 1950, a crítica sofre divisões e modificações.
Esta geração divide-se e se renova graças a estas transformações, atinge a autoconsciência,
domínio de métodos e técnicas, preferindo a formação universitária. Este movimento
renovador recebe o nome de nova crítica. A reação em favor da autonomia literária de uma
crítica estética fundada na análise da obra foi o objetivo de Afrânio Coutinho, que escreveu
vários textos citados neste trabalho. A campanha de renovação dos métodos e processos de
crítica literária provocou reações e controvérsias. Sobre o resultado e espírito desse trabalho, o
autor cita os testemunhos de Alceu Amoroso Lima, Eduardo Portela e Rui Mourão (1929-?).
A seguir, algumas idéias fundamentais que integram a estrutura crítica do movimento:
Necessidade de criação de uma consciência crítica para a literatura brasileira;
valorização do ensino superior de Letras, criação do espírito profissional e de
especialização na crítica; defesa da abordagem e perspectiva estético literária;
valorização da concepção estética da crítica; estabelecimento de critérios de cunho
objetivo científico; delegação para o segundo plano da preocupação biográfica em
crítica, revisão dos conceitos historiográficos, pondo em relevo o fenômeno literário
em sua autonomia (COUTINHO, 2003, p. 641).
Segundo Afrânio Coutinho, estes são os pontos centralizados por um
pensamento diretor, competindo à apreciação estética analisar a obra pelos seus elementos
intrínsecos. A verdadeira crítica, em oposição à do último século historicista, é aquela que
utiliza métodos literários.
O movimento da nova crítica tornou-se importante e continua dando os seus
frutos. Consolidou-se sob forma de consciência grupal essa nova mentalidade da crítica. Foi o
que significou o congresso de Crítica e História Literária, no Recife, em 1960, demonstrando
o amadurecimento da consciência apreciativa e uma atitude de seriedade em relação aos
estudos literários. Tal mentalidade ocorre pela educação nas universidades. Anteriormente era
amadora, e com o Congresso e as universidades ela foi se formando. Os progressos sobre
crítica constituem um marco na mudança de mentalidade brasileira.
130
No que se refere à Crítica modernista, Afrânio Coutinho ressalta que embora
tenha sido uma geração de “espíritos críticos”, não foi uma geração de “profissionalismo
crítico”. O amadurecimento desta se dá entre 1922 e 1965. E a partir do congresso de Crítica e
História Literária, de 1960, no Recife, a crítica adquire uma aura profissional, não sendo
exercida por amadores, menos “achistas”
3.15 Nota Explicativa
Relações e perspectivas é o título do VI volume d’ A Literatura no Brasil, e o
capítulo 53 intitula-se “Nota explicativa”. Nele Afrânio Coutinho explicita a constituição do
trabalho e estuda alguns gêneros isoladamente: o dramático, o conto, a crônica, a literatura
infantil e, finalmente, um quadro atual da nova literatura brasileira, com suas tendências e
expressões mais marcadas, oferecendo um panorama da literatura no Brasil desde o início até
a atualidade, ou seja, 1986, quando é publicada a obra. A visão empregada foi a estética e não
a sociológica, para estar de acordo com o princípio diretor do texto.
Se de um lado o método estético aboliu os capítulos sobre meio, raça,
momento, por outro, a adoção do critério crítico fez com que as obras fossem encaradas como
“monumentos” e não como “documentos” culturais. Outra característica da obra é a
bibliografia, visto ser esta o ponto de partida essencial da historiografia literária. Para Afrânio
Coutinho “é impossível conceber trabalho intelectual, de crítica e de histórias literárias, sem o
apoio bibliográfico” (COUTINHO, 2003, p. 7).
A cooperação e a equipe também são fatores novos no Brasil. Os capítulos
foram entregues aos críticos e aos especialistas de diversos pontos do Brasil, com o intuito de
não só dividir as responsabilidades, mas de estabelecer uma visão geral do que pensam os
131
críticos atuais a respeito do passado literário. Segundo Coutinho, a realização desta obra por
um único autor seria tarefa difícil, devido à situação atual abrangente, da cultura.
A “Nota Explicativa” é uma atitude de respeito ao leitor. Sente aí o brilhar da
estética da recepção, mostrando um autor preocupado com o leitor e também com o caminhar
dos estudos literários brasileiros e com a atualização destes.
3.16 Ensaio e Crônica
No capítulo 57, cujo título é Ensaio e Crônica, Afrânio Coutinho discorre
sobre os gêneros literários, em sua concepção estética. Nessa perspectiva eles “dividem-se em
dois grupos: aqueles em que os autores utilizam-se de um método para atingir o leitor e
aqueles em que os autores o fazem indiretamente, usando artifícios intermediários”
(COUTINHO, 2003, p. 117). Ao primeiro grupo pertencem o ensaio, a crônica, o discurso, a
carta, o apólogo, a máxima, o diálogo e as memórias. São os que podem ser chamados de
“ensaísticos”. Ao segundo grupo, pertencem: o gênero narrativo, a epopéia, o romance, a
novela, o conto, o gênero lírico e o gênero dramático.
Há diversos gêneros literários participando d’A Literatura no Brasil. São eles:
a oratória, a epistolografia, as memórias, os diários, as máximas e a biografia. A oratória:
gênero de grande cultivo no Brasil, na ausência da imprensa era o meio mais acessível de
atingir o povo. A carta ou epístolas é a troca de informações e amabilidades entre duas
pessoas distantes. No Brasil, tal gênero não tem tanto valor e raramente de dá publicidade a
ele. Algumas exceções, normalmente são as publicações das cartas de Pedro Nava, de
Drummond. Afrânio Coutinho ressalta as cartas de Machado de Assis e de Monteiro Lobato
132
(de alto valor literário). Sob o âmbito literário e estético, as mais importantes são as de Mário
de Andrade a Manuel Bandeira.
A biografia é o gênero mais histórico que literário, cultivada no Brasil desde
muito tempo, destacando-se na época da Colônia, O novo orbe seráfico (1858) de Frei
Antônio Santa Maria Jaboatão. A própria história literária da época era um misto de antologia
e notícia biográfica. Na linha de fonte bibliográfica as obras que se destacam são de:
Sacramento Blake, (Dicionário bibliográfico brasileiro) e de Inocêncio, (Dicionário
bibliográfico português).
Para os gêneros literários, Afrânio Coutinho dá uma nova conotação,
abrangendo a tríade épico-narrativo, lírico e dramático e incorpora os textos de fundo
ensaístico. Aponta a crônica como um gênero híbrido, pois nela se misturam literatura e
jornalismo.
3.17 Historiografia Literária em novo rumo
Afrânio Coutinho inicia o capítulo 67 afirmando que está finalizando a obra e
que tentará ligá-la à tradição da história brasileira. Afirma que a historiografia literária é um
ramo da história geral, pois há relações entre os historiadores gerais e os literários. Traça um
histórico da historiografia literária e afirma que, na geração naturalista, Sílvio Romero
consagrou a concepção historicista e sociológica da literatura e também um método histórico
para a história literária, sendo com ele consolidada a historiografia literária.
O autor d’A Literatura no Brasil idealizou-a e a executou imbuído das novas
orientações, teorias estéticas e literárias contemporâneas, desde sua estada nos Estados
Unidos, entre 1942 e 1947. Não somente seu princípio diretor, mas também sua divisão
133
periodológica foram baseados na concepção estética. Pensou-se também em minimizar os
fatores extrínsecos (raça, meio, momento) quando libertou a evolução literária da tirania
cronológica da época (1950) em que foi escrita. Esta obra entrosa-se com o movimento da
nova crítica e seus princípios ainda não foram superados. Ela é um tratado da história literária
brasileira, até pelo âmbito e totalidade de sua estrutura. Reforça as transformações que
ocorreram no ensino literário, até então baseados na memorização de nomes, títulos e datas,
passando a basear-se na leitura e na análise de textos, dando prioridade à produção
contemporânea.
Reiterando o que já havia sido expressado anteriormente, Coutinho salienta
que na organização desta obra, procurou fugir da tirania sociológica e da cronológica, tendo
pautado seus escritos no princípio estético.
3.18 Ainda e sempre a Literatura Brasileira
O recorte que ora se faz, trata de uma seqüência de ensaios escritos por Afrânio
Coutinho, de 1984 a 1987, nos quais ele abrange a necessidade de se efetivar a autenticidade
da literatura e da língua brasileiras. Ressalta ainda que está nas Universidades a grande
esperança da nação, pois é lá que se efetivará uma literatura profissional.
O capítulo 68, do VI volume, tem o título “Ainda e sempre a Literatura
Brasileira”. Nele Afrânio Coutinho mostra que em relação às origens da literatura brasileira,
confrontam-se duas teorias: a dos que defendem a origem precoce, na era romântica, e a dos
que defendem da origem dirigida pelos escritores do Barroco. Os primeiros confundem a
origem d literatura com a independência nacional. O Brasil não teve Renascimento; passou da
Idade Média para o Barroco, que é espanhol, e Portugal e Espanha não se entendiam, sendo o
134
espírito brasileiro marcado pela controvérsia luso-espanhola. Afirma, sem hesitação, que o
Brasil nasceu Barroco e que este espírito gerou a independência mental e a marcou. Tudo o
que se fez no Brasil Colonial, deve-se a esta inspiração, inclusive o próprio Romantismo.
Para Afrânio Coutinho, a expressão literatura brasileira vem sendo empregada
desde o começo do séc. XIX, sobretudo na década de 20, e o discurso de Gonçalves de
Magalhães foi um dos primeiros pronunciamentos de brasileiro acerca da existência autônoma
da literatura. Quem primeiro empregou a expressão, foi Santiago Nunes Ribeiro e, no mesmo
ano, Joaquim Norberto. Desta forma ela foi utilizada como definição para a produção literária
do Brasil.
Segundo Afrânio Coutinho, ao observar cuidadosamente o estágio atual da
literatura, percebe-se que ela possui uma fisionomia própria, identidade nacional e se
identifica com o país. Tudo isto resulta da evolução histórica, de uma “tradição afortunada”, e
é isso que se encontra em alguns autores brasileiros os quais mostram a cultura e o povo, o
sincretismo religioso e o cultural, o irracionalismo, o desrespeito inato por qualquer sistema,
por quaisquer leis, ilogismo. Enfim, o que saiu deste caldeirão, deste laboratório formidável,
foi o que constituiu o Brasil.
A obra de arte literária é a expressão de um sonho coletivo. Tanto que a
literatura brasileira está para as outras literaturas em posição de igualdade e não de submissão.
Trabalhou-se arduamente e isto vale também para a Língua Portuguesa, pois ela é tão
estrangeira quanto as outras. Tanto a Literatura Portuguesa, quanto a Língua só interessam se
forem ensinadas em função da Literatura Brasileira e da Língua Brasileira. A partir de agora,
não mais se precisará periodizar a evolução literária por estilos de época europeus, pois há
que se encontrar definições próprias para os períodos.
Não posso deixar de concluir, portanto. A Literatura Brasileira, como a música
popular, é a maior demonstração da autonomia mental brasileira, que não
135
encontramos em outros setores da nossa vida. E com isso, ela é, no conjunto, a
maior literatura das Américas (COUTINHO, 2003, p. 304)
No que se refere à emancipação da literatura, Afrânio Coutinho faz um
histórico sobre os autores da época e sugere a leitura de alguns autores novos, entre eles,
Nélida Piñon, para conhecermos realmente o que é língua brasileira. Quanto às raízes
culturais informa que erroneamente o aluno secundarista era instruído sobre a história
européia, e esta passava a ser de seu convívio diário. As verdadeiras raízes eram esquecidas.
A história oficial era como os portugueses construíram sua colônia e sobre os índios apenas se
sabia coisas pitorescas. A cultura negra também trouxe uma formidável contribuição, e só
alguns estudiosos lhe deram alguma atenção.
3.19 Ainda e sempre a Língua Brasileira
O capítulo 69 tem seu início com um decreto presidencial publicado em 26
de
junho de 1985, a fim de haver a promoção da aprendizagem da Língua Portuguesa. Tal
documento teve como relator o professor Afrânio Coutinho.
Compreendia-se que a língua brasileira deveria seguir seu curso, diferente da
língua portuguesa, e numerosos escritores no séc. XIX escreveram incorporando à linguagem
escrita as formas faladas. Só na República criou-se o Brasil brasileiro, e Gilberto Amado
(1887-1969), em Minha Formação no Recife, mostrou o nascimento do Brasil e o esmorecer
da Europa dentro do povo brasileiro, fenômeno este que teve sua marca no Modernismo. No
que diz respeito à literatura, tem-se uma plêiade de escritores que nada deixam a desejar aos
estrangeiros.
Segundo Afrânio Coutinho, ficou então denominado para os idiomas de
Portugal e Brasil, Língua Portuguesa, no entanto a evolução do idioma justifica a mudança
136
para Língua Brasileira. Afirma ainda que quem faz a língua é a comunidade que a fala, o povo
e não as gramáticas, por isso elas tomam a nacionalidade de quem as usa. Prossegue
mostrando Decretos, Históricos e Cartas para relatar as discussões em torno da nomeação da
língua portuguesa para a língua brasileira.
Este trabalho não pode entrar no campo dos especialistas desta área, pois eles
já existem, e foram indicados na bibliografia desta obra. No entanto, ressalta que um aspecto
deve ser comentado - o da norma culta -, que o relatório da Comissão Ministerial acentua
como sendo fundamental, e que corresponde à portuguesa. Para o crítico, submeter a massa
brasileira à norma culta de Portugal é “crime de lesa-pátria”. Aponta as alterações de
regência, conjugação verbal e mostra que o que se impõe é a criação de uma filologia
brasileira. Já existe, há mais de vinte anos, uma que ainda não deu frutos: a Norma Urbana
Culta.
A sensibilidade de um povo é expressa através da língua. A origem pode ser a
mesma, mas a história não, por isso Afrânio Coutinho aconselha a renunciarmos a ensinar e a
falar como os lusos, pois não somos um povo morto, nem possuímos uma língua morta. Faz
crítica ao ensino, e diz que os alunos estão distantes da realidade da língua falada e do idioma
de Portugal.
Segundo Coutinho, a formação do professor é superficial e o ensino nas
Faculdades de Letras é inócuo. O período de três semestres de curso de língua não forma
profissionais com o mínimo de competência para lecionar no Ensino Médio. A prática de
leitura e de redação é a saída para um bom ensino da língua, e o que ocorre é o contrário: a
ênfase dada é ao ensino da gramática e não ao que seja essencial na língua, isto é, ler, escrever
e falar.
O mestre ainda cita o artigo de José Carlos Oliveira, que dá ênfase ao fato de
que a fala atual brasileira é decorrência do trabalho de escritores do Modernismo, pois era
137
considerado ignorante da língua quem não seguisse os purismos lusitanos. Aponta o
Modernismo como o movimento que pôs fim à subserviência às normas lusas. Quem faz a
língua é o povo, e os escritores a apreendem e codificam. É através dela que um povo se
identifica e demonstra a sua identidade nacional. A língua nacional do Brasil é a brasileira, e é
através dela que os escritores se expressam nas obras que criam e que um povo se identifica e
demonstra sua identidade nacional.
3.20 Visão final
No capítulo 70, Afrânio Coutinho traça um quadro da literatura brasileira na
atualidade, (ressalte-se que era a época da publicação, há quase trinta anos) e que cessada a
Segunda Guerra Mundial ela foi percorrida por uma corrente constituída por um grupo de
poetas que passou a ser conhecido como “geração de 45”. Caracteriza-se como uma terceira
fase do Modernismo ou sua continuação. Essa mudança refletiu em outras partes, como a
pintura e a música. E houve também as novas influências T.S. Eliot, Proust , Paul Valéry,
Ungaretti (1888-1970), Fernando Pessoa, Rainer M. Rilke (1875-1926) e Lorca.
Marcaram a fase muitos acontecimentos importantes, entre eles o surgimento
da poesia concreta, e a crítica passou por um esforço renovador. A velha crítica cedeu lugar à
nova, cuja base se faz na análise e julgamento estético do texto ou da obra. Destacando entre
eles: Afrânio Coutinho, José Aderaldo Castelo, Antonio Candido e Luís Costa Lima. A partir
de 1960, surgem vários movimentos com características próprias e novas enfocando
diferentes tendências: Concretismo, Neoconcretismo, Poesia-práxis, Poema-processo, Poema-
objeto, Catequese poética, grupos de poesia alternativa, poesia marginal, e tropicalismo.
138
Em 1960, o Modernismo está morto, mas seus efeitos benéficos, suas
realizações positivas e suas contribuições válidas não se podem deixar de registrar. Nenhum
movimento literário tem início e término fixo. Entrosam-se e sobrepõem-se entre o novo e o
velho. Em resumo, a literatura brasileira no final do século XX, à custa da produção dos
escritores atuais afirma-se como uma literatura própria, autônoma, peculiar, com autonomia e
identidade nacionais.
Muitas foram as contribuições de Afrânio Coutinho para o campo da crítica e
da história literárias, e registram-se aqui alguns pareceres como o de Leodegário de Azevedo,
referindo-se ao trabalho do crítico e à obra A Literatura no Brasil:
Não se pode mais discutir, pelo menos quando se encara o problema com isenção de
ânimo, a contribuição admirável de Afrânio Coutinho para a nossa teorização e para
a nossa historiografia literária, devendo-lhe a cultura brasileira a melhor história
literária de nossa época. E sobretudo vale notar o novo rumo que deu à crítica no
Brasil, nela introduzindo nova concepção e novos métodos, revalorizando ainda o
estilo barroco e introduzindo elementos novos no critério também novo de
periodização estilística de nossa literatura. A grande obra de equipe que é A
Literatura no Brasil certamente ficará em nossa história literária como o esforço
mais sério de nossa época no sentido da valoração estética das letras brasileiras
(AZEVEDO in COUTINHO, 1984, p. 23).
Eis o parecer de Alceu Amoroso Lima, quando da escrita do ensaio “O
Copérnico de nossas letras”:
A qualificação, portanto, de Copérnico de nossas letras, não é apenas uma figura de
retórica. A tarefa de fazer atualmente um balanço geral de nossa literatura parecia
definitivamente fora de cogitação. Só mesmo a extraordinária capacidade intelectual
e organizadora de Afrânio Coutinho conseguiria esse milagre de uma obra coletiva
como essa de A Literatura no Brasil, em seis volumes, sob sua orientação pessoal e
colaboração própria, com um espírito comunitário e pluralístico, que remata com
chave de ouro meio século de dedicação artística insuperável de nossas letras
(LIMA in COUTINHO, 1984, p. 29).
A opinião de José Paulo Moreira da Fonseca:
Afrânio Coutinho hoje em dia constitui uma das presenças incontornáveis na cultura
brasileira, um dos marcos bem visíveis na paisagem que se arma, uma fabrique
como se dizia na pintura antiga, uma construção geométrica e concisa ao mesmo
tempo observatório, o arsenal da boa instrumentação topográfica a fim de que as
boas medições de terreno se possam fazer com segurança (FONSECA in
COUTINHO, 1984, p. 418).
E ainda o pensamento de Eduardo Portella:
139
Ao Sr. Afrânio Coutinho se tem acusado de ser apenas retórico: como se a de
retórico não fosse uma condição honrosa numa literatura onde o improviso ou a
espontaneidade, inconseqüentes, quase nunca procuram no rigor teórico o seu
fundamento. E o Sr. Afrânio Coutinho procurou justificar-se com palavras
verdadeiramente lúcidas: “Não há mal nenhum em que alguém faça a crítica dos
padrões vigentes e aponte novos caminhos a outrem deixando a completação do
esforço na prática” (14). São essas, palavras de 1953, palavras de ensaísta que não
reivindica mais do que um lugar no teórico quadro da literatura brasileira
contemporânea. Assim, a Literatura no Brasil atendeu a mais do que o seu modesto
desejo de então. É a obra não apenas de história literária, mas de teoria e de crítica
literária também (PORTELLA, 1958, p. 54).
Após a leitura da obra A Literatura no Brasil foi perceptível para a
pesquisadora a preocupação do autor no que se refere ao estudo e à atualização da literatura
brasileira. Todos os seus textos demonstram uma literatura em que as periodizações estanques
não sobreviveram e há um apelo para uma vio mais ampla, na qual o fenômeno literário é
visto como um todo e como resultado da produção artística que envolve o homem que
escreve, considerando seu conhecimento prévio de mundo. A observação dos fatores
extrínsecos e a utilização dos intrínsecos para a análise literária refletem as concepções de
Coutinho em toda a sua produção. O leitor, por sua vez, confere-lhe um sentido unívoco e o
texto, com sua carga ideológica, propicia o que Umberto Eco afirma sobre os labirintos do
texto, ou seja, o leitor é conduzido pelo seu fio de Ariadne que lhe estabelece um sentido
final. Afrânio Coutinho deixou para os leitores um legado excepcional para a compreensão da
literatura brasileira demonstrando um amor latente pelas artes, que se observa na leitura de
seus textos densos, repletos de carisma e ternura pela produção literária.
140
4. HISTÓRIAS DE LITERATURA PUBLICADAS DEPOIS D’A LITERATURA NO
BRASIL [1955], DE AFRÂNIO COUTINHO
No capítulo III, “A Literatura no Brasil: visão do organizador”, foi apresentada
a organização d’A Literatura no Brasil e o estudo dos textos de Afrânio Coutinho nesta obra.
Neste quarto capítulo pretende-se demonstrar as histórias de literatura brasileira publicadas
depois d’A Literatura no Brasil, apontando os pontos em comum e os divergentes entre os
autores, considerando que esta obra foi um divisor de águas, marcado principalmente pela
periodização estilística e pela “nova crítica” literária brasileira .
Mantendo a cronologia de publicação, são estas as histórias de literatura
citadas nesta dissertação e seus respectivos autores:
1- 1959, Formação da literatura brasileira, de Antonio Candido.
2- 1970, História concisa da literatura brasileira, de Alfredo Bosi.
3- 1977, De Anchieta a Euclides: breve história da literatura brasileira, José Guilherme
Merquior (1941-1991).
4- 1995, Literatura Brasileira: dos primeiros cronistas aos últimos românticos, de Luiz
Roncari.
5- 1997, História da literatura brasileira: do desenvolvimento até os dias atuais, de
Luciana Stegagno Picchio.
6- 1999, A Literatura Brasileira: origens e unidade (1500-1960) de José Aderaldo
Castello.
Formação da Literatura Brasileira (momentos decisivos), de 1959, de
ANTONIO CANDIDO, trata de dois períodos importantes da formação da literatura: o
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Arcadismo e o Romantismo. Estabelece a periodização na divisão em anos: 1750 a 1836,
1836 a 1880. Apesar de não ter a nomenclatura “História”, a Formação da Literatura
Brasileira [1959] (1981), não o deixa de ser, pela forma como o autor trabalha a questão da
historiografia literária. Diferente dos autores vistos anteriormente, Candido objetiva mostrar a
importância do Arcadismo e do Romantismo para a formação da literatura brasileira, teoria
esta que se confirma ao verificar o subtítulo “momentos decisivos”. Todo o volume I é
voltado para o Arcadismo e o volume II para o Romantismo. A obra foi escrita entre 1945 e
1951 e o alicerce central de elaboração foram os textos, somados a um pouco de crítica e aos
textos informativos. Seu objetivo principal é a interpretação e o juízo crítico, a partir do gosto
e da fruição. Ao término de cada volume, há referências bibliográficas nas notas de rodapé e
bibliografia.
No “Prefácio da 1ª edição”, o autor expôs que a literatura brasileira é recente,
de pouca solidez, e que caberia aos brasileiros amá-la, pois somente desta maneira é que ela
seria forte e expressiva:
Comparada às grandes, a nossa literatura é pobre e fraca. Mas é ela, não outra, que
nos exprime. Se não for amada, não revelará a sua mensagem; e se não a amarmos,
ninguém o fará por nós. Se não lermos as obras que a compõe, ninguém as tomará
do esquecimento, descaso ou da incompreensão (CANDIDO, 1981, p. 10).
Trata-se de uma literatura que teve sua origem na literatura portuguesa e que,
ainda assim, dependeu da influência de duas ou três para se constituir. A propósito de sua
origem afirmou:
Jamais afirmei a inexistência de literatura no Brasil antes dos períodos estudados.
Seria tolice pura e simples, mesmo para um ginasiano. No sentido amplo, houve
literatura entre nós desde o século XVI; ralas e esparsas manifestações, sem
ressonância, mas que estabelecem um começo e marcam posições para o futuro
(CANDIDO, 1981, p. 15-16).
Antonio Candido faz alusão ao pensamento de Fernandes Pinheiro no que se
refere ao modismo literário, pois seria ignorância acreditar que há “tesouros de originalidade”,
que cada escritor é uma caixa de surpresas cujos pensamentos e escritos nunca foram
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pensados ou ditos por alguém. Atribui a suas leituras de criança e de adolescência influências
de Sílvio Romero e Ronald de Carvalho, no entanto foi José Veríssimo quem lhe ofereceu
subsídios para sua formação. Finaliza o “Prefácio da primeira edição” com agradecimentos
àqueles que colaboraram para efetivação da obra.
No “Prefácio da 2ª edição”, Candido explicita alguns de seus conceitos,
sugerindo aos leitores que se utilizem de todo o livro, e que não fiquem limitados à
Introdução. Para ele, do século XVI ao século XVIII, houve “Manifestações Literárias”, pois
não havia ainda a existência de um público e nem um conjunto de produtores de literatura. As
obras eram “raras e esparsas” e a literatura só adquiriu plena nitidez na primeira metade do
século XIX. Além disso, considera que há várias maneiras de estudar literatura:
Suponhamos que, para se configurar plenamente como sistema articulado ela
dependa da existência do triângulo “autor-obra-público”, em interação dinâmica, e
de uma certa continuidade da tradição. Sendo assim, a brasileira não nasce, é claro,
mas se configura no decorrer do século XVIII, encorpando o processo formativo,
que vinha de antes e continuou depois (CANDIDO, 1981, p.16 vol.1).
Reforça também que esta é a sua maneira de enxergar o fenômeno literário,
não descartando outras possibilidades, e que a literatura brasileira passou a interagir com a
sociedade a partir do século XIX. Define os períodos que foram estudados na obra
(Arcadismo e Romantismo), pois são eles afastados pela estética, porém, próximos pela
história, e reforça que somente a partir deles é que se pode “falar de literatura plenamente
constituída, sempre dentro da hipótese do sistema” (CANDIDO, 1981, p. 16). A partir deste
pensamento, esboçou o terceiro pressuposto, que é a abordagem dos métodos históricos e
estéticos simultaneamente, e no que se refere ao quarto pressuposto, ele afirma que é o papel
representado pelos dois períodos, ou seja, a aplicação do terceiro critério. O quinto
pressuposto refere-se à definição da literatura:
Quero me referir à definição da nossa literatura como eminentemente interessada.
Não quero dizer que seja “social”, nem que deseje tomar partido
ideologicamente. Mas apenas que é toda voltada, no intuito dos escritores ou na
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opinião dos críticos, para a construção duma cultura válida no país (CANDIDO,
1981, p. 18).
E prossegue ainda afirmando que “Literatura é um sistema de obras ligadas por
denominadores comuns, que permitem reconhecer as notas dominantes duma fase”
(CANDIDO, 1981, p. 23). Antonio Candido considera a literatura brasileira como ramo da
portuguesa, utilizando para ambas, brasileira e portuguesa, o termo “literatura comum”.
Finaliza o “Prefácio da segunda edição” mostrando que a partir de uma abordagem estética e
histórica é possível alcançar uma crítica estética mais eficaz.
No “Prefácio da sexta edição”, embora breve, ressaltou que esta deveria ter
sido submetida à nova revisão, no entanto, está sem alterações justamente para mostrar o que
foi feito há tempos, e sugerir o aceite dos erros com serenidade.
Formação da Literatura Brasileira (momentos decisivos) é dividida em
dezesseis capítulos, distribuídos em dois volumes, sendo oito capítulos para cada um, no
primeiro há referências sobre os traços gerais da literatura brasileira, autores, Cartas Chilenas,
enfim refere-se ao Arcadismo. O segundo é dedicado ao “Nacionalismo Literário” e ao
“Romantismo”; no último capítulo, intitulado “A Consciência Crítica”, o autor mostra que, no
Romantismo a crítica foi incipiente e que só teve real importância do ponto de vista histórico,
pois foi ela a responsável pela criação do conjunto orgânico chamado literatura, dando suporte
aos escritores no tocante ao nacionalismo literário, colaborando na identificação dos autores,
na própria avaliação de suas obras e também traçando as biografias. Encerram a Formação da
Literatura Brasileira “Biografias sumárias”, “Notas bibliográficas” e “Índice de nomes”.
De leitura leve, Formação da Literatura Brasileira trouxe uma contribuição
decisiva para a crítica e a formação literária. Nela autores e obras estão diretamente ligados e
há comunicação entre eles, embora a aproximação dentro de um mesmo estilo seja muito mais
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freqüente. Candido valoriza o estético, mas também não se abstém do método histórico,
porque não se pode conceber uma obra desligada de seus fatores externos.
ALFREDO BOSI escreveu a História Concisa da Literatura Brasileira (sua
primeira edição foi em 1970, pela editora Cultrix) e desde então, sempre há reedições, estando
na 41ª edição, fato surpreendente para os leitores de histórias de literatura. Nela, desde o
índice, é perceptível que a periodização estabelecida, para a Literatura Brasileira é estilística,
pois não fixa datas limítrofes para tais períodos, simplesmente classifica-os de acordo com
sua época. “A Condição Colonial” é o primeiro capítulo, no qual figuram a literatura de
informação, os escritores que produziram cartas e documentos e poemas de Anchieta, com
análise e comentários. No segundo, “Ecos do Barroco”, o autor reflete sobre a situação da
referida estética nos países germânicos, os autores do período, inclusive os chamados
Menores, e encerra este capítulo com as Academias. No terceiro, o autor estabelece dois
momentos: o poético, chamado de “Arcádia”, e o ideológico, chamado de “Ilustração”. Entre
eles figuram fragmentos de poesia, análises e notas bibliográficas de rodapé. E no quarto
capítulo, “O Romantismo”, esclarece que embora o conteúdo estético seja importante, a
ênfase no contexto não deve ser desprezada.
Segundo Alfredo Bosi, a compreensão global dos elementos contextuais é que
vai favorecer o entendimento da leitura. Gonçalves de Magalhães foi citado como o marco
inicial para a introdução do Romantismo brasileiro, assim como Álvares de Azevedo,
Laurindo Rabelo, Junqueira Freire entre outros. Quanto à consciência crítica, Bosi afirma que
durante o Romantismo a ênfase era dada à autonomia do país, cita autores como Joaquim
Norberto Souza e Silva, Santiago Nunes Ribeiro entre outros. O “Realismo” tem inicio no
capítulo cinco, destacando os críticos Sílvio Romero, Araripe Júnior e José Veríssimo. O
sexto capítulo é dedicado ao “Simbolismo”, o sétimo ao “Pré-Modernismo” e “Modernismo”
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e o oitavo capítulo finaliza a obra com “Tendências Contemporâneas”, “Bibliografia” e
“Índice de nomes”.
Otto Maria Carpeaux (1900-1978), na orelha da História Concisa da
Literatura Brasileira, escreveu que:
Trata-se dessas obras, poucas, que a gente não coloca numa estante qualquer, mas
em cima da mesa de trabalho, para consulta permanente. Já tive oportunidade de
observar a amplitude de sua documentação básica e a segurança do julgamento
(CARPEAUX in BOSI, 1994).
Franklin de Oliveira também comentou:
É preciso frisar que, na sua abordagem culturalista do fato literário, acentuando a
modulação política, Alfredo Bosi não relega a segundo plano a especificidade
literária. Este enfoque múltiplo do nosso patrimônio cultural faz da História da
Literatura Brasileira um livro indispensável (OLIVEIRA in BOSI, 1994).
A obra não é extensa, conta com 528 páginas, possui uma linguagem acessível
e atrai pela sua especificidade em relação aos escritores que estão incluídos no volume. É
organizada em oito capítulos, bibliografia e índice de nomes, sendo usada em muitas
Universidades como vade-mécum dos professores de literatura e seus respectivos alunos.
JOSÉ GUILHERME MERQUIOR foi diplomata, filósofo, escritor e bacharel
em Direito. Escrita na Alemanha, De Anchieta a Euclides - Breve História da Literatura
Brasileira, 1971, figura entre suas obras e é apresentada apenas em um único volume. De
organização sintética, esta história é dividida em quatro capítulos, sendo que no Prefácio,
denominado “Ao Leitor”, Merquior evidencia sua preocupação com a receptividade do
público, registrando que esta não é uma obra extensa para não levar o leitor à exaustão, sua
organização obedece a três critérios básicos: acessibilidade, seletividade e senso de forma.
Utiliza uma linguagem acessível justamente para não manter afastado o leitor menos
experiente, pois na verdade não havia um público específico a ser atingido, mas sim um geral,
que normalmente, pelo próprio tecnicismo da linguagem, afasta-se deste tipo de obra. Opta
ainda pelo critério de alta seletividade: “O leitor só encontrará aqui os principais autores
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brasileiros – o que numa literatura tão jovem como a nossa, nos reduz no período considerado,
a algumas dezenas de nomes” (MERQUIOR, 1996, p. 7).
Considerando o objetivo de atingir o público em geral, o critério de selecionar
os autores, em número ínfimo, desperta o interesse de um leitor, menos experiente, que já
desmotivado diante de um número extenso de livros, opta por um volume menor. De Anchieta
a Euclides - Breve História da Literatura Brasileira visa demonstrar uma perspectiva única
do processo de evolução das letras brasileiras, e a preocupação com a forma é apenas o ponto
de partida da análise literária, cujo fim é a interpretação crítica. No que se refere a este campo,
José Guilherme Merquior afirma que há um afastamento da crítica literária quando esta fica
atenta somente ao texto, pois “O texto literário só “fala” quando posto no contexto, - no
contexto dos seus irmãos de gênero e estilo, e no contexto concreto de sua época”
(MERQUIOR, 1996, p. 8). Evidencia sua posição antagônica ao pensamento de Afrânio
Coutinho, que deixou explícita a idéia de que a obra deve falar por si só, enfatizando os
aspectos intrínsecos da mesma.
Se José Veríssimo definiu literatura como sendo “arte literária”, e tudo o que
se escreve com o objetivo desta arte com os elementos específicos dela, Merquior também vê
a literatura como arte, mas voltada ao símbolo, à idéia de representação de imagem:
Arte é símbolo; literatura é arte; portanto toda descrição do texto, toda “análise
imanente”, já é por força decifração do simbólico, visão do texto como signo de
algo que o transcende. O poder de referência ao mundo pertence à própria natureza
da linguagem literária, em qualquer das suas encarnações estilísticas (MERQUIOR,
1996, p. 8).
Embora haja alguns pontos divergentes entre Merquior e Afrânio Coutinho, no
que se refere à divisão da literatura, ambos adotaram o critério estilístico. Para eles, a
evolução das formas literárias é um processo autônomo e os dois colocam José de Anchieta
como a primeira grande figura de literato, com toda sua obra refletida na atividade
missionária. Merquior não faz uma divisão sistematizada da Literatura Brasileira, mas no
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índice aparecem as seguintes divisões: “A Literatura na Era Barroca no Brasil” – Até 1770;
“O Neoclassicismo” (1760-1836); “O Romantismo” (1836–1875) e “O Segundo
Oitocentismo” (1877-1902).
O Capítulo I, “De Anchieta a Euclides – Breve História da Literatura
Brasileira” é voltado para o Barroco, a Colonização literária e toda a celebração da nova terra.
No ângulo de uma literatura documental, este capítulo visa auxiliar, segundo Merquior, a
compreensão do Brasil histórico como berço de uma literatura nacional. No Barroco figura a
primeira literatura brasileira profana, que se estenderá até 1750. Escritores como Padre
Antonio Vieira e Gregório de Matos permeiam este capítulo. No capítulo II, que ele chamou
de “O Neoclassicismo- 1760-1836”, demonstra um despontar de uma literatura consciente,
ainda que não com ciência de sua brasilidade. Análises de poemas e um trecho dedicado ao
Brasil independente encerram este capítulo. “O Romantismo 1836-1875” nomeia o capítulo
III; influências estrangeiras, Gonçalves Dias, Gonçalves de Magalhães, Martins Pena, José de
Alencar estão elencados em seu interior. No IV e último capítulo “O Segundo Oitocentismo -
1877-1902” é o mais longo e nele há considerações sobre a República Velha, Naturalismo,
Parnasianismo, Poesia Simbolista, encerrando-se com Machado de Assis. Um “Apêndice” foi
acrescentado com a “Bibliografia Seleta” e também um “Quadro Cronológico” que fornece
uma visão geral, em colunas. A primeira mostra o que ocorreu na história política e social,
geral e do Brasil; a segunda coluna diz respeito aos marcos da literatura ocidental e a outras
artes, e na terceira estão os marcos literários que se referem somente à Literatura Brasileira.
Tal quadro é de fácil entendimento e o leitor é convidado a completá-lo com outros pontos
que achar importantes.
História da Literatura Brasileira, de LUCIANA STEGAGNO PICCHIO, teve
sua primeira edição publicada em de 1972, foi escrita nas bibliotecas de Roma, Cambridge,
Massachussets e New Haven, com o título La letteratura brasiliana, sob o número 42, de uma
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coleção de 50 volumes, cujo nome era Le letteratura del mondo, da editora Sansoni –
Accademia, Florença – Milão. Foi publicada numa edição econômica de livros de bolso,
sendo a primeira edição no Brasil datada de 1997, e a segunda em 2004.
Segundo os editores, na “Nota Editorial” da edição de 2004, Luciana Stegagno
Picchio surpreende pela visão de conjunto da cultura literária por ser ela uma estrangeira.
Depois de 25 anos da primeira edição, houve a necessidade de uma revisão total e uma
atualização, tornando o volume mais útil para o público de hoje. Tal atualização contou com o
acréscimo do período de 1964
a 2003. A História da Literatura brasileira, de Luciana S.
Picchio é dividida em dezessete capítulos, o primeiro de caráter geral e os outros dezesseis, de
caráter específico, um total de 743 páginas. Epígrafes abrem os capítulos e ao final de cada
um a autora apresenta uma bibliografia geral.
De grafia modernizada, o livro encanta os leitores pela forma afetuosa e precisa
com a qual a autora se apresenta. Por se tratar de uma obra seletiva, Luciana S. Picchio
desculpa-se pelo fato de ter deixado de marcar alguns autores, no entanto daqueles que
contemplaram em sua História, há poemas ou fragmentos deles. Fichas biográficas vêm no
final de cada capítulo, e tais fichas se atêm aos autores isolados, oferecendo dados que,
embora não foram citados, possam interessar aos estudiosos de história. Quando da leitura de
seu livro, é possível perceber referência explícita a autores como Afrânio Coutinho, no
entanto a alusão a Antonio Candido é velada.
Isto é, discutiu-se, e com base em critérios extra-literários, se deveria falar em
literatura brasileira desde o primeiro momento em que um europeu (português) pôs
os pés em solo americano, ou se, ao contrário, toda e qualquer expressão literária
local, do Brasil colônia, devia ser considerada como simples ramificação da cultura
da mãe-pátria européia (PICCHIO, 2004, p. 18).
Sílvio Romero e José Veríssimo são citados como aqueles que iniciaram a
historiografia literária com embasamento científico. Embora a autora tenha procurado
conciliar os critérios estilístico e cronológico, prevaleceu o estilístico. A presença de
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monografias dá um tom científico/acadêmico à obra. E no que se refere à configuração da
literatura brasileira, afirmou:
Do século XVI até hoje, a literatura se configura no Brasil como processo de
autodefinição: em nível coletivo, com a descrição de uma paisagem geográfica
humana “diferente”; em nível individual, com a efusão lírica que acompanha a
verificação introspectiva do Homo brasilicus (PICCHIO, 2004, p. 19).
Segundo a autora, a própria escrita de uma História da Literatura faz
reconhecer a legitimidade dos fatos literários sob a perspectiva histórica. Contextualiza
historicamente o ponto inicial, em que o Brasil procura buscar sua autonomia, e comunga com
idéia de Antonio Candido quando afirma ser a literatura brasileira, a princípio, expressão da
portuguesa. Ainda segundo Luciana Picchio, Candido é o autor mais completo entre críticos
brasileiros, pois ele é tão atento ao fato estilístico quanto ao histórico. No que se refere à
Introdução, esta foi dividida em onze partes e nela, a autora afirma que qualquer escritor que
se aventure a escrever sobre a História da literatura brasileira, depara-se com um problema:
definir o objeto a ser estudado, cujo elo principal é a língua utilizada pela comunidade. Traça
o objetivo de sua obra que é o de ser uma “interpretação da literatura brasileira válida em
todos os níveis. Sua destinação primeira é para um público estrangeiro” (PICCHIO, 2004,
p.22). No que se refere à expectativa do público diante de sua História, esclarece:
O presente volume, mais que “uma história dos brasileiros no seu desejo de ter uma
literatura”, quer ser de um lado, um guia histórico para a inteligência dos fatos
literários isolados e do outro, uma tentativa de balanço, sob o ângulo sincrônico, de
nossa atual visão estética e de nosso gosto (PICHIO, 2004, p. 23).
A autora pede a seus leitores que considerem este livro “um ato de amor pelo
Brasil e sua literatura” (PICCHIO, 2004, p. 24), e afirma que esta obra é uma tarefa em
andamento, ainda que finalizada, pois estará sempre atenta às novas visões e leituras de textos
e trabalhos mais recentes.
Literatura Brasileira: dos primeiros cronistas aos últimos românticos, de
LUIZ RONCARI, foi publicada pela Edusp, em 1995. Desde a sua primeira página, inova
150
quando, como epígrafe, utiliza a reprodução de uma tela de Guignard “Os Noivos”, e ainda
afirma que escreve o livro como resposta a um questionamento particular em “que livro
gostaríamos de ter estudado literatura brasileira” (RONCARI, 1995, p. 13). É, segundo ele,
um livro voltado para alunos de segundo grau, de cursinho e também para aqueles que se
interessem em estudar literatura. Seu objetivo é fazer com que, através da literatura, os
leitores possam estabelecer relações de vivência, obter um enriquecimento pessoal e
satisfação.
Fundamenta-se na teoria de Antonio Candido quando afirma ser os fatos
históricos importantes para esclarecer a natureza da literatura. A obra é dividida em quatro
capítulos, e o primeiro ele chama de “O Homem da Terra – Visões, Contato e Catequese,
Temas e Imagens Inaugurais”. Seu início é marcado pelo panorama histórico e com a
definição de literatura ocidental “é como um ser vivo que acompanha o desenvolvimento da
história, renovando-se constantemente à medida que se transmite, se difunde e incorpora em
seus seios novas obras” (RONCARI, 1995, p. 20). Segundo ele, como e por que um livro
morre ou se eterniza é um dos problemas mais difíceis e amplos do estudo literário. Encara a
literatura como caráter formador e selecionar as obras que possuam tal característica, é para
ele a tarefa mais delicada deste livro:
Selecionar aqueles textos que apresentem melhores possibilidades de formação, nos
quais os leitores encontrem elementos efetivos para estruturar-se sensível e
intelectualmente e conhecer mais profundamente o homem e o mundo em que vive,
é uma das tarefas mais delicadas de um livro como este (RONCARI, 1995, p. 21).
A fim de delinear o conceito de literatura brasileira, o autor agrupa todas as
literaturas na nomenclatura “ocidental”, por serem todas unidas “num mesmo tronco, como se
fossem galhos de uma mesma árvore” (RONCARI, 1995, p. 22). Para ele a literatura só
adquire forma própria a partir das vivências locais, das influências externas e do contato com
o novo e o velho. Dedica uma parte considerável à Carta de Pero Vaz de Caminha, com
151
comentários e análise e outra a José de Anchieta, com fragmentos e poemas seguidos de
análise. Gravuras com arte voltada aos índios permeiam todo este capítulo.
No capítulo dois, que Roncari (1995, p 94) chama de “A praça e o púlpito –
literatura e vida colonial – O negro no verso e na prosa”, o autor mostra o “que significava
escrever ou fazer literatura no Brasil, do século XVIII”, e que, segundo ele, foi um século de
alta devoção católica. Ressalta as figuras de Gregório de Matos e de Padre Antônio Vieira,
do qual reproduz poemas e sermões. Gravuras coloridas voltadas para a “cor local”
permeiam todo o segundo capítulo.
O terceiro ele nomeia “A poesia do século do ouro – A terra, o amor e a guerra
– Formas poéticas e relações coloniais”, e faz crítica social quando trata das riquezas
brasileiras:
Criou-se e alimentou-se o mito de que graças a essas riquezas, que gozaremos um
dia, somos o país do futuro. Mas, a cada dia que passa, esse futuro parece que fica
mais distante, com as terras se tornando propriedades de poucos, e as árvores,
pássaros e animais silvestres se extinguindo pela voracidade dos ocupantes e
descaso com sua preservação (RONCARI, 1995, p.185).
A imagem de que o Brasil é de fato um paraíso e que todos os homens podem
viver retirando dele sua subsistência e seu deleite está de certa forma incrustada nas gerações
contemporâneas, que não se dão conta de que todas as riquezas brasileiras são limitadas.
Manuel Botelho de Oliveira, Camões e Basílio da Gama são autores citados, juntamente com
comentários e análises de fragmentos de alguns poemas. Gravuras coloridas representando a
rotina “brasileira” e as frutas tropicais, de artistas plásticos estrangeiros que aqui estiveram,
permeiam este capítulo. Cita ainda o Barroco e o Arcadismo, enfatiza as obras escritas
representadas, por vezes, por fragmentos.
O quarto capítulo, que ele chama de “O romântico brasileiro – raça, ego, e
nação – A procura da identidade literária”, marca a independência política com a literária
num momento em que o homem americano não sendo mais colono nem indígena, busca
152
saber quem é realmente. Quando trata do Romantismo, Luiz Roncari o faz especificando
toda a amplitude do termo e, seguindo a orientação da obra, estabelece:
Uma visão de mundo, uma forma de o homem de determinado período histórico, no
caso a primeira metade do século XIX, representar e interpretar o próprio homem e
o mundo a partir dos conhecimentos e valores da época (RONCARI, 1995, p. 286).
Para ele, é em Antonio Candido que se encontra o “estudo mais importante e
completo sobre o Romantismo” (RONCARI, 1995, 291).
Reserva um amplo espaço a Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo, Castro
Alves, juntamente com seus poemas, comentários e análises. Observa a nova posição do
escritor, que encontra um público não tão interessado em leituras que retratam as paisagens
brasileiras, mas que têm seus olhos voltados às descobertas científicas e aos avanços do
conhecimento. Um espaço é dedicado a autores como Joaquim Manuel de Macedo, com um
longo trecho de A Moreninha, a Manuel Antônio de Almeida, com fragmentos de Memórias
de um Sargento de Milícias, e a José de Alencar, com O Guarani. Finaliza com o teatro de
Martins Pena e a análise de duas peças, um glossário e fonte iconográfica, somando um total
de 637 páginas.
Embora seja um livro extenso, sua leitura apraz pela proximidade estabelecida
com o leitor desde o princípio. Apenas alguns autores foram selecionados, assim como suas
principais obras, no entanto a lição maior deixada por Luiz Roncari foi a de várias visões de
literatura, tanto no seu aspecto original quanto no pedagógico, enfatizando o que o próprio
autor expõe na orelha do livro:
Como o interesse do livro está centrado na intersecção da literatura com a sociedade,
do fenômeno literário com a vida social que se estruturou o Brasil, muitas vezes as
características estilísticas dos grandes períodos literários perderam em importância
para outros aspectos e dimensões da literatura (RONCARI, 1995).
A literatura brasileira: origens e unidade (1500-1960,) de JOSÉ ADERALDO
CASTELLO teve sua primeira edição em 1999 e a primeira reimpressão em 2004. Organizada
em dois volumes a obra possui vinte e cinco capítulos, um apêndice e um índice remissivo de
153
autores. A partir da relação homem-terra, José Aderaldo Castello considera fundamental
esclarecer as origens, a evolução e a definição da literatura brasileira, apoiando-se num
esquema de periodização fundamentada nos “‘influxos externos’ – tudo o que resulta da ação
adventícia, e ‘internos’ – tudo o que resulta da reação autóctone, brasileira e mestiça, ambas
estimulando a relação homem-terra” (CASTELLO, 1999, p. 20).
No que se refere à periodização, o autor a estabelece em Período Colonial, do
século XVI ao XVIII; Período Nacional I, século XIX; e Período Nacional II, século XX. No
Período Colonial registra o nativismo, no Barroco, no Arcadismo e no Romantismo observa
que, embora seja o Arcadismo muito mais valorizado pelos românticos, é “o Barroco que de
fato se projeta até aos nossos dias” (CASTELLO, 1999, p. 23).
No Período Nacional I, século XIX, faz referência ao Romantismo, Poesia
Científica, Realismo, Naturalismo, Parnasianismo e Simbolismo. Nele os fatores passam a ser
originais, visto cessarem as influências do colonizador. O nativismo evolui para o
nacionalismo; o indianismo divide-se em literatura, proteção ao índio e estudos científicos e a
formação da consciência crítica. Os desdobramentos dos grupos para representarem o Brasil
dão início aos ciclos regionalistas, cuja tônica é o rural brasileiro. O que era tido como
principal para o primeiro período, neste segundo já não é tão importante, pois há a iniciativa e
estímulos. Os modelos, as teorias e a poética passam pelo crivo da crítica, diretamente ligada
à representação da realidade brasileira. Segundo o autor, este período poderia ser chamado de
Período Romântico, pois este movimento encontrou “raízes entre nós” (CASTELLO, 1999, p.
26). É um século que ao mesmo tempo em que busca sua auto-afirmação nacional,
enfatizando uma identidade própria, volta seus olhos para a Europa, estabelecendo uma
sucessiva importação de idéias.
O terceiro Período Nacional II, século XIX, é, segundo o autor, “por
excelência de síntese e de maturidade” (CASTELLO, 1999, p.28). Nele há a investigação do
154
caráter nacional, o surgimento de criação própria e o enriquecimento dos ciclos, cujas
temáticas modificam-se para a cana-de-açúcar, a imigração e o urbano. Vale ressaltar que o
autor afirma ser o Período Romântico um dos alicerces para o Modernismo, pois “sob muitos
aspectos, do ponto de vista interno, o Modernismo é uma forma de neo-romantismo”
(CASTELLO, 1999, p.28).
A Literatura Brasileira: origens e unidade (1500-1960,) tem caráter didático e
o autor finaliza suas considerações sobre a obra oferecendo ao leitor um resumo do que foi
exposto no interior do livro, no entanto estabelece, desde o início, que suas pesquisas foram
fundamentadas em revistas e jornais do século XIX, e também em arquivos e bibliotecas.
Paulo Roberto Pereira, refere-se à obra de José Aderaldo Castello, na orelha do
livro:
Deve-se pôr em relevo, ainda, sua formulação de autor-síntese e de obras-síntese,
para caracterizar as fases marcantes da nossa literatura em todo o seu processo de
formação crítica. E, a partir do Romantismo, a valorização, nos principais centros
urbanos do país, da publicação de jornais e revistas, enfatizando o papel
fundamental dos periódicos no processo de socialização cultural. Advém de tudo
isso a originalidade de perspectiva que visa à unidade, tradição e identidade, fazendo
dessa nova obra de José Aderaldo Castello um marco inovador nos estudos de
história da Literatura Brasileira (PEREIRA in CASTELLO, 1999).
Após a publicação d’A Literatura no Brasil [1955], de Afrânio Coutinho,
houve outras publicações de histórias de literatura brasileira, entre elas estão as comentadas
neste capítulo.
Em 1959, Antonio Candido tece considerações sobre a importância do
Arcadismo e do Romantismo, como momentos decisivos para a formação da literatura
brasileira enquanto sistema. Posterior a Antonio Candido, Alfredo Bosi e José Guilherme
Merquior alimentam-se dos pressupostos de Afrânio Coutinho e estabelecem a periodização
estilística em suas obras, não se fixando em datas limítrofes.
155
Em 1972, encontra-se em Luciana Stegagno Picchio a única referência
explícita a Afrânio Coutinho, pois embora muitos o tenham lido, poucos a ele se referem. Em
1995, Luiz Roncari, fundamentado em Candido, afirma ser os fatos históricos importantes
para esclarecer a natureza da literatura, e demonstra que a imagem estabelecida nos
primórdios de que o Brasil é um país de riquezas inesgotáveis se cristalizou nas gerações
contemporâneas, que não se dão conta de que tais riquezas são finitas. Finalmente, na virada
para o século XXI, José Aderaldo Castello publicou sua história voltada para o
estabelecimento da origem, da evolução e da definição da literatura brasileira, contribuindo
também para esclarecer este processo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
156
Em 1955, Afrânio Coutinho inova com a periodização estilística em uma obra
escrita a várias mãos: a publicação d’A Literatura no Brasil, que levou o leitor a certo
estranhamento, visto não estar acostumado a este tipo de publicação:
Diante de um passado literário que necessitava de uma atualização, Afrânio
Coutinho tem a percepção de pensar primeiro, e obedecendo aos critérios geográfico e
estilístico, busca autores de maior destaque de norte a sul do país e presenteia os leitores, os
pesquisadores, os estudiosos e os apreciadores de literatura com a publicação d’A Literatura
no Brasil.
Embora Afrânio Coutinho afirme que “nossos primeiros historiadores literários
foram mais historiadores do que homens de letras” (COUTINHO, 2003, p. 61), ele não deixa
de valorizar a colaboração que tais historiadores deixaram, e por algumas vezes é possível
perceber a presença de suas idéias e pensamentos destes historiadores nos pressupostos de
Afrânio Coutinho, ainda que, muitas vezes, opondo-se a ela.
A originalidade prevista por Gonçalves de Magalhães e Francisco Adolfo de
Varnhagen, os critérios para a periodização de Joaquim Norberto Souza e Silva, a idéia de
nacionalidade de Santiago Nunes Ribeiro, a tradição missionária marcada por Ferdinand
Wolf, o prazer intelectual que a literatura oferece na visão de José Veríssimo, a literatura
como processo em movimento em Ronald de Carvalho, a beleza das letras ressaltada por
Arthur Motta e a literatura como defesa da cultura, vista em Bezerra de Freitas são fatores
possíveis de serem notados, e confirmados no discurso de Afrânio Coutinho quando ele define
sua teoria e suas idéias, pois para ele conceber literatura é perceber a realidade não como algo
solto, mas inserido em um contexto social maior.
Anterior a Afrânio Coutinho, o Cônego Fernandes Pinheiro desconsidera o
caráter original da literatura brasileira, Sílvio Romero com seu critério positivista, Afrânio
157
Peixoto e Nelson Werneck Sodré, José Osório e Antônio Soares Amora apresentam conceitos
literários distantes do que o autor d’A Literatura no Brasil apresenta, no entanto nesta obra
Afrânio Coutinho cita alguns deles e deixa entrever alguns de seus conceitos.
Posterior à primeira edição d”a Literatura no Brasil, houve publicações de
outras histórias da literatura, entretanto elas não foram voltadas para o público leitor
inexperiente, certamente devido ao fato da literatura brasileira já ter percorrido sua infância e
adolescência e estar em sua maioridade, não havendo mais a necessidade de afirmação por
possuir caráter e fisionomia própria. Em autores como Antonio Candido, Alfredo Bosi, José
Guilherme Merquior, Luciana Stegagno Picchio, Luiz Roncari e José Aderaldo Castello nota-
se uma preocupação em oferecer aos estudiosos, apreciadores e pesquisadores de literatura,
um manancial de informações, certamente tentando preencher as lacunas que os primeiros
historiadores deixaram devido à dificuldade encontrada na busca do material de pesquisa.
Embora não haja um ponto de vista único sobre o início da literatura, muitas foram as
tentativas de periodização literária e de estabelecimento do início dela, de definição e de
esclarecimentos sobre o fato literário, no entanto tais reflexões não podem ser consideradas
desvalidas, pois cada autor fez o que pôde de melhor em seu contexto de época. É nesta
busca, nesta ânsia pelas descobertas, que a literatura brasileira se revela e se consolida.
A literatura é a manifestação artística mais completa de um povo e o poeta é
aquele que, além de transformar em palavras a mesmice do cotidiano, cria mundos mágicos e
recria a sociedade. O crítico literário possui uma missão não mais complexa: a de enfrentar a
arte literária com veias críticas. Tal enfrentamento, ou se consome nos “achismos” tão
refutados por Afrânio Coutinho, ou se solidifica no embasamento teórico e no estudo de
teorias e métodos. Com ele, a crítica literária brasileira ganha força, conquista seu espaço nas
universidades e o Brasil assiste à derrocada da crítica exercida sem critérios nem padrões.
158
A questão do nascimento da literatura brasileira provoca discussão no meio
acadêmico e o embate entre os críticos toma forma e se efetiva. Para Afrânio Coutinho sua
origem data do momento em que o homem europeu pôs os pés em solo brasileiro, sofrendo o
fenômeno da “obnubilação brasílica”, teoria que Araripe Júnior tão bem efetivou e
estabeleceu nos meandros da crítica literária. Marcando o início da literatura brasileira, nas
obras de José de Anchieta, Afrânio Coutinho organiza a monumental A Literatura no Brasil,
estabelece que uma história de literatura não é tarefa de um homem só e presenteia os seus
leitores com textos de sua autoria e também de outros autores, criteriosa e geograficamente
selecionados, apresentando múltiplas visões dos períodos literários. Coube a este crítico a
inovação de publicar uma obra coletiva, cujo princípio diretor é o estético, e o critério de
periodização, o estilístico. Como toda idéia inovadora, foi também passível de críticas e de
aprimoramento. Muitos autores vieram depois dele, no entanto, partir de algo já estabelecido
torna a tarefa não menos valiosa, mas melhor elaborada. É mais fácil criar a partir de uma
idéia pronta, aprimorá-la e transformá-la. É assim que a literatura brasileira se estabelece e se
consolida. A produção de uma história da literatura brasileira nos dias atuais, não se apresenta
como uma idéia comum, pois esta já está efetivada e com a sua maioridade estabelecida. Faz-
se história de literatura, quando na participação de congressos, simpósios, seminários,
semanas de extensão e tantos outros eventos desta natureza, lá estão prontamente, os
participantes e apresentadores de trabalhos e comunicações, organizando debates e mesas-
redondas em torno do Brasil literário, escrevendo a história da literatura brasileira.
A preocupação com o ensino de literatura sempre esteve presente nos textos de
Afrânio Coutinho, no entanto sua colaboração se perpetua através de sua obra, cujo legado
também foi passado de pai para filho. Além da herança moral, a herança literária efetiva-se
com a co-direção de Eduardo Coutinho, na edição de 1986, d’A Literatura no Brasil.
159
A realização de uma leitura em torno da obra crítica e de história literária de
Afrânio Coutinho é um trabalho árduo e requer, além de disposição, uma inquietação diante
do ensino de literatura brasileira. A praticidade e a viabilidade que as obras de histórias da
literatura de menor extensão oferecem aos professores e leitores, aliadas ao comodismo
literário sugerem a abstenção de títulos como A Literatura no Brasil, no ensino de literatura
brasileira, que é buscada por poucos profissionais. Esta realidade efetiva-se, quando em busca
das obras do referido autor, entre as bibliotecas de faculdades e universidades públicas e
particulares, o acervo limitava-se a poucos exemplares e muitas vezes, nem a coleção
completa d’A Literatura no Brasil, com os seis volumes. Justamente por tal fato, demonstrar
aos leitores uma leitura da obra de quem trabalhou pela crítica literária e pela literatura
brasileira constituiu o objetivo deste trabalho.
A leitura das obras de Afrânio Coutinho não se esgota em virtude de sua
riqueza e quem a lê com atenção acaba descobrindo uma evidência: ele foi um crítico
extremamente atento às inovações literárias e manteve seu olhar sempre voltado para as
universidades, pois é nelas que se constroem os homens de letras brasileiras. Enfim, o leitor
pode escolher: são muitas as páginas escritas com o olhar voltado para a historiografia e a
crítica literária brasileira. E há certeza de estar lendo o mais didático crítico literário que o
Brasil já produziu.
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167
ANEXO
Organizada por Maria da Graça Coutinho de Góes
BIBLIOGRAFIA DE AFRÂNIO COUTINHO
3
(Ordem cronológica)
3
Mantido o grifo original.
168
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Ouro, s/d.
Os retirantes de José do Patrocínio. Brasília, MEC/INL, s/d.
Cabocla de Ribeiro Couto. Rio de Janeiro, Ed. de Ouro, 1957.
A literatura no Brasil. Rio de Janeiro, Sul Americana, 1955-1959. 4 v.
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Obra completa de Machado de Assis. Rio de Janeiro, Aguilar, 1959, 3 v.
Brasil e brasileiros de hoje; enciclopédia de biografias. Rio de Janeiro, Foto Service, 1961, 2
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Bugrinha de Afrânio Peixoto. Rio de Janeiro, Ed. de Ouro, 1961.
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Obra completa de Carlos Drummond de Andrade. Rio de Janeiro, Aguilar, 1964.
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Estudos literários de Alceu Amoroso Lima. Rio de Janeiro, Aguilar, 1966.
Maria Bonita de Afrânio Peixoto. Rio de Janeiro, Ed. de Ouro, 1966.
O mundo como vontade e representação de Schopenhauer. Rio de Janeiro, Ed. de Ouro, 1966.
Obra completa de Euclides da Cunha. Rio de Janeiro, Aguilar, 1966, 2 v.
Anchieta de Jorge de Lima. Rio de Janeiro, Ed. de Ouro, 1967.
Dom Casmurro de Machado de Assis. Rio de Janeiro, Ed. de Ouro, 1967.
O salto mortal de Ascendino Leite. Rio de Janeiro, Ed. Ouro, 1967.
Os servos da morte de Adonias Filho. Rio de Janeiro, Ed. de Ouro, 1967.
Terra de santa Cruz de Viriato Corrêa. Rio de Janeiro, Ed. de Ouro, 1967.
Diálogos das grandezas do Brasil de Ambrósio Fernandes Brandão. Rio de Janeiro, Ed. de
Ouro, 1968.
Obra poética de Vinicius de Moraes. Rio de Janeiro, Aguilar, 1968.
Obra critica de Araripe Júnior. Rio de Janeiro, Casa Rui Barbosa, 1958, 1960, 1966, 1971. 5
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Maria Dusá de Lindolfo Rocha. Brasília, MEC/INL, 1969.
O Ateneu de Raul Pompéia. Brasília, MEC/INL, 1971.
Os brilhantes de Rodolfo Teófilo. Brasília, MEC/INL, 1972.
Augusto dos Anjos. Brasília, INL, 1973 (Col. de literatura brasileira, 10)
Mocidade morta de Rocha Pombo. Brasília, MEC/INL, 1973.
No hospício de Rocha Pombo. Brasília, MEC/INL, 1973.
Carlos Drummond de Andrade. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira/MEC, 1977. (Col.
Fortuna Crítica).
Graciliano Ramos. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira/MEC, 1977. (Col. Fortuna Crítica,
2).
Cassiano Ricardo. Rio de Janeiro, Civilização Brasiliera/MEC, 1979 (Col. Fortuna Crítica, 3).
Cruz e Souza. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira/MEC, 1975.
Manuel Bandeira. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira/MEC, 1980. (Col. Fortuna Crítica,
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São Paulo, Ano 35, 184 (201-220): 203-220.
Os problemas da nacionalidade e originalidade da literatura brasileira. Revista
Iberoamericana, Washington, 34 (65): 11-44.
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Pedro II, s.d.
O homem moderno e o humanismo. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Rio de
Janeiro, 28 (65): 15-27, jan./mar. 1957.
______. Cadernos Brasileiros. Rio de Janeiro, 1 (2): 18-25, jul/set. 1959.
O homem e os livros. Palestra realizada no Instituto, aos 13 de maio de 1933. Rev.do Instituto
Geográfico e Histórico da Bahia, (59): 483-98, 1933.
O Fantástico e o realismo mágico em literatura. Revista da Bahia, jul. 1935.
A Literatura na Pesquisa da nova ordem de vida. A Ordem, jan. 1936.
A Aventura poética contemporânea. A ordem, Rio de Janeiro, jul-ago. 1936.
RAMOS, Alberto Guerreiro. Uma revisão necessária: Rui Barbosa, Revista da Bahia, set.
1936.
Humanismo integral cristão. A Ordem. Rio de Janeiro, nov./dez. 1936.
O Humanismo, ideal de vida. A Noite, Rio de Janeiro, 1938.
Problema da cultura e missão do intelectual. Mensário do jornal do comércio, fev. 1938.
Vocação da América. A Ordem, Rio de Janeiro, out. 1938.
Personalismo e cristianismo. Revista do Brasil, fev. 1939.
O Cristianismo diante dos fascismos e do comunismo. A Ordem, maio, 1939.
Reabilitação da inteligência. Revista do Brasil, ago. 1939.
Machado de Assis e o problema do mestiço. Revista do Brasil, fev. 1940.
O Humano no regional. Revista do Brasil, set. 1941.
O Trabalho e a vida. Revista do Brasil, 4 (39): 1-7, set. 1941.
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Jacques Maritain e a estrutura da civilização. Revista Brasileira, 1 (3): 1-7, set. 1941.
Brazil: Laboratory of civilization. Free world; a monthly magazine devoted to democracy and
world affairs, 6 (2): 172-5, aug. 1943.
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Phenomenological research, 6 (2): 186-93, dec. 1943.
Testemunho. A Ordem, Rio de Janeiro, Mai/jun. 1946.
Ensaio e crônica. Internato, (4): 23-9, out. 1953.
O Ensino de literatura no curso secundário. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Rio
de Janeiro, 21 (54): 3-15, abr./jun. 1954.
A nova crítica. Revista do Livro, Rio de Janeiro, 3/4: 256-8, dez, 1956.
Novas tendências da crítica brasileira. Rev. Hispânica Moderna, 23 (2): 150-4, abr. 1957.
A Nacionalização da literatura brasileira no pensamento crítico de Araripe Júnior. Revista
Brasileira, Rio de Janeiro, 9 (21-22): 68-87, jan./jun. 1958.
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A Literatura brasileira e a idéia nacional. Rev.Brasiliense. São Paulo, (17): 98-117, mai/jun.
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O Modernismo na literatura brasileira. Cadernos Brasileiros, Rio de Janeiro, 1 (1): 14-28,
abr./jun. 1959.
O Impressionismo na literatura brasileira. Cadernos brasileiros, Rio de Janeiro, 4 (3): 5-16,
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Afrânio Peixoto, entre a cidade e o sertão. Cadernos Brasileiros, (5): 39-47, set./out. 1963.
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Machado de Assis. New York. Columbia Univ. 1967. Separata da Revista Hispânica
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Conceito de crítica em Alceu Amoroso Lima. Revista Interamericana de Bibliografia,
Washington, 3 (17): 299-305, jul./set. 1967.
A crítica literária romântica. Separata da Revista do livro, Rio de Janeiro, n. 38, 1969.
Pós-graduação em letras. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, 58 (128): 306-13,
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Apresentação. In: Congresso Internacional da Literatura Ibero-ameriaca, 18, Rio de Janeiro,
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O globalismo crítico. Românica europea et americana. Bonn, 155-65, 8 jan. 1980.
4. Obras traduzidas e revisão de traduções:
BONNEFON, Charles. História da Alemanha. Trad. De Afrânio Coutinho. São Paulo,
Companhia Editora Nacional, 1941.
MARITAIN, Jacques. Humanismo integral; uma visão nova da ordem cristã. Trad. de
Afrânio Coutinho. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1941.
MARITAIN, Jacques. Os direitos do homem. Trad. de Afrânio Coutinho. Rio de Janeiro, J.
Olympio, s/d.
ROPS, Daniel. Péguy. Trad. de Afrânio Coutinho, Rio de Janeiro, Agir, 1947.
177
HUMPHERY, Robert. O fluxo da consciência. Trad. de Gert Meyer. São Paulo, Mcgraw Hill
do Brasil, 1976.
MEYERHOFF, Hans. O tempo na literatura. Trad. de Myrian Campello. São Paulo, Mcgraw
Hill do Brasil, 1976.
5. colaboração em jornais:
De 1934 a 1937 colaborou no jornal O Imparcial, de Salvador, Ba.
De 1937 até 1984 colaborou no jornal A Tarde, de Salvador, Ba.
Em 1940 a 1941 colaborou no jornal O Estado da Bahia, de Salvador, Ba.
Os seus artigos de todo esse período eram habitualmente transcritos em jornais
do Rio de Janeiro, como: Jornal do Comércio, Diário de Notícias e O Jornal e de Belo
Horizonte, O Diário.
A partir de 1948, inaugurou uma seção no Suplemento Literário do Diário de
Notícias do Rio de Janeiro, intitulada Correntes Cruzadas, a qual durou até 1960.
Colaborou também no Jornal do Brasil entre 1976 e 1977.
Nos anos de 1979 a 1982, colaborou no jornal Última Hora, do Rio de Janeiro.
Tem colaborado também no Suplemento Literário do jornal Minas Gerais,de
Belo Horizonte.
A partir de 1983 vem colaborando no Jornal do Comércio do Rio de Janeiro.
Também nos últimos anos seus artigos são transcritos nos jornais Zero Hora
Porto Alegre, RS; Correio Braziliense de Brasília, DF; A Tarde de Salvador, BA; Diário de
Pernambuco, de Recife; O Povo, de Fortaleza, CE, e outros.
178
Toda esta colaboração está arquivada na OLAC (Oficina Literária Afrânio
Coutinho), assim como as de referência.
II – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Foram fichados e referenciados alguns artigos sobre Afrânio Coutinho, os de
maior importância. Ainda existem vários outros não referenciados, mas arquivados em pastas
em ordem cronológica, na AFRANIANA (OLAC).
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