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dirigida – A Literatura no Brasil, na qual colaboraram cerca de 50 escritores,
marcou um turning point em nossa crítica moderna. [...] Com o neomodernismo e a
campanha de renovação empreendida por Afrânio Coutinho e de tanta repercussão
nas novas gerações, emergiu o estudo do texto, a expressão verbal, a forma, como
sendo o objeto capital da função crítica. Com isso deslocou-se de nôvo a crítica no
sentido do objeto [...]. Daí o nome de crítica formalista que podemos dar a êsse tipo
mais recente da crítica literária entre nós, que marca uma tendência decidida no
sentido do abandono do amadorismo crítico, por uma prática profissional, mais
cuidada, dessa atividade. [...]. Ao lado do nome de Afrânio Coutinho e da obra de
que data, afinal, o início dessa nova perspectiva em nossa crítica, devemos
mencionar alguns nomes que começam a revelar-se desse nôvo tipo de crítica que
inicia uma era nova, no balanço de nossa crítica literária (LIMA apud COUTINHO,
1968, p.135-136).
E o testemunho de Eduardo Portela (1932):
Por isto fêz necessário o estabelecimento imediato de uma nova ordem. Todos, os
lúcidos, os que não se marginalizavam, reconheciam a falência do antigo sistema. O
ambiente se tornou propício à instauração do nôvo regime crítico. Apoderava-se do
país uma mentalidade nova, a do conhecimento aparelhado, da conclusão científica.
A fase do amadorismo estava sepultada. O espírito da Universidade começava a
comandar os estudos literários no Brasil. Afrânio Coutinho foi o principal servidor
dessa causa: a da reformulação crítica, da renovação metodológica. Êle mostrou,
com intransigência e às vezes até com violência todo um sistema de idéias novas,
que se opunha radicalmente àquela entidade inconseqüente e amorfa que era a
crítica nas mãos de nossos críticos de então. E ao mesmo tempo em que lutava para
destruir o cômodamente estabelecido, a mistificação institucionalizada, o que
parecia definitiva e inarredàvelmente instalado no país, Afrânio Coutinho afrontava
e erguia a complexa tábua de valores: a princípio combatida, dificultada, e logo em
seguida, confirmada, aplaudida. É verdade que êle se inscrevia num movimento de
âmbito universal pela renovação dos processos e métodos de pesquisa e
investigação literária. E não tardou para que essa consciência, êsse impacto
renovador conquistassem tôda a nossa motivação crítica, transformando por
completo o nosso modo de operar criticamente e repercutindo, de maneira particular
e positiva, em nossa própria concepção do fenômeno literário [...] (PORTELA apud
COUTINHO, 1968, p.136-137).
Quando questionado sobre a articulação da periodização estilística n’A
Literatura no Brasil, Afrânio Coutinho responde que, desde 1942, seus estudos estiveram
voltados para esta causa, pois não concebia a divisão da literatura em história geral e história
literária. Algumas publicações foram, no entanto, “a pedra de toque na renovação que se
processou em sua mente, no sentido de superar as velhas periodizações cronológica e política
em historiografia literária” (COUTINHO, 1987, p. 599). Baseado em Wellek, o qual deixou
expresso em seu ensaio Theory of Literature o estudo sobre o Barroco, como estilo individual
e de época, ou seja, como estudo literário. Os estudos de Helmut Hatzfeld sobre o estilo
barroco, também serviram “como trampolim para muitas renovações na crítica e historiografia