
Affonso Hebert: ecletismo republicano no Rio Grande do Sul
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características neoclássicas. Esta transformação, muitas vezes, foi feita por meio de
legislação, a fim de atribuir um caráter de modernidade às cidades.
Essas obras alteraram a linguagem arquitetônica provincial, que passou de seu
caráter militar e rústico para uma forma de expressão mais citadina e burguesa. O
empirismo colonial deu lugar a referências da arquitetura clássica aplicadas pelos
arquitetos e construtores locais. Essa transferência durante o Império marca o
advento do neoclacissimo
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no Brasil. Hebert começou a sua carreira de arquitetura
nesse contexto.
As alterações mais notáveis na arquitetura da província começam a ser feitas junto a
Praça Marechal Deodoro. Em 1849, o arquiteto Phillip von Normann é chamado para
reformar o edifício da Casa da Real Fazenda, a fim de adaptá-lo ao novo uso como
Assembléia Legislativa. Em seguida, o mesmo arquiteto projeta dois edifícios muito
parecidos para o lado norte da Praça: o Teatro São Pedro (1850) e a Casa da
Câmara (1858)
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. Em 1860, o Palácio Provincial tem sua fachada reformada. Os
beirais são eliminados para dar lugar a uma platibanda cega que contorna o
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Conforme REIS FILHO (2002), a origem do neoclássico no Brasil é identificada pela a contratação
da missão cultural francesa, chefiada por Lebreton, chegada ao Rio de Janeiro no início do século
1816, que reunia, entre diversos artistas de renome da Europa, o arquiteto Grandjean de Montigny,
acompanhado de assistentes e de artífices. O objetivo de D. João VI era utilizar os mestres europeus
para “estabelecer no Brasil um Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, em que se promova e
difunda a instrução e conhecimentos indispensáveis aos homens destinados não só aos empregos
públicos da administração do Estado, mas também ao progresso da agricultura, mineralogia, indústria
e comércio, fazendo-se , portanto, necessário aos habitantes o estudo das Belas Artes com aplicação
referente aos ofícios mecânicos cuja prática, perfeição e utilidade depende dos conhecimento
teóricos daquelas artes e difusivas luzes das ciências naturais, físicas e exatas...” (TAUNAY 1956,
p.18) o projeto foi retardado, e somente em novembro de 1826 foram inaugurados os cursos da que
foi denominada Imperial Academia de Belas-Artes.
A arquitetura elaborada sob influência da Academia era caracterizada pela clareza construtiva e
simplicidade de formas. Apenas alguns elementos construtivos como cornijas e platibandas eram
explorados como recursos formais. Em geral, as linhas básicas da composição eram marcadas por
pilastras, sobre as quais, nas platibandas dispunham-se objetos de louça do Porto, como: urnas; ou
figuras representando as quatro estações do ano, os continentes, as virtudes etc. As paredes, de
pedra ou de tijolo, eram revestidas e pintadas com cores suaves, como branco, rosa, amarelo ou azul
pastel e sobre esse fundo se destacavam as janelas e portas, enquadradas em pedra aparelhada e
arrematadas em arco pleno, em cujas bandeiras dispunham-se rosáceas com vidros coloridos.
Os corpos de entrada, salientes, compunham-se de escadarias, colunatas e frontões de pedra
aparentem formando conjuntos, cujas linhas severas evidenciam um rigoroso atendimento às normas
vitruvianas. Nesses pontos, sobretudo, é que se aplicava com esmero a imaginação dos arquitetos,
na utilização dos ensinamentos acadêmicos, com o objetivo de marcar as obras em termos de estilo.
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O edifício da Casa da Câmara sofreu um incêndio na década de 1950. Ocupa o local, atualmente, o
edifício do Palácio da Justiça (1953-1968), projeto dos arquitetos Luis Fernando Corona e Carlos
Maximiliano Fayet.