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RESUMO
O novo momento do capitalismo, conhecido como Terceira Revolução Industrial,
caracteriza-se por grandes transformações de natureza econômica, social, política e
tecnológica, cujas conseqüências têm tido relevantes impactos no mundo do
trabalho, dentre as quais a instabilidade do emprego, exigindo do profissional a
constante busca pela garantia da própria empregabilidade, em um mercado cada
vez mais competitivo. Esse cenário abriu espaço para a maior participação da
mulher no mercado de trabalho, não só pela necessidade de complementação da
renda familiar e pelas novas oportunidades surgidas, mas também pela quebra dos
padrões comportamentais que essas mudanças trouxeram. Hoje, a presença
expressiva de mulheres em cargos e funções cada vez mais diversificados mostra
que elas vêm ampliando seu espaço no âmbito público de produção; contudo, sua
antiga situação de discriminação foi apenas atenuada, uma vez que as condições de
inserção da mulher no mercado ainda são inferiores em relação às dos homens.
Além disso, mesmo emancipada profissionalmente, a mulher tem sido, muitas vezes,
desafiada no que diz respeito ao desempenho de papéis ligados a questões de
gênero, o que implica continuar sendo a principal responsável pelas funções do lar.
A complexidade da situação feminina agrava-se na atualidade, com a crescente
demanda do mercado por qualificação, exigindo da mulher uma tripla jornada de
trabalho, aqui entendida como a conciliação das atividades profissionais, familiares e
educacionais. Mesmo diante da relevância do papel que a mulher vem assumindo
na economia e na sociedade, tal importância nem sempre é reconhecida. Objetivou-
se, com esta pesquisa, analisar como as mulheres lidam com as pressões advindas
da necessidade de conciliação das atividades profissionais, o cuidado com a família
e as exigências da educação continuada. O presente estudo se sustentou em três
marcos teóricos: mudanças no mundo do trabalho a partir da Terceira Revolução
Industrial; inserção da mulher no mercado de trabalho: ampliação do espaço
feminino, dificuldades e pressões encontradas; mecanismos de defesa freudianos e
estratégias defensivas no trabalho (segundo Dejours). Trata-se de uma pesquisa
qualitativa, cujos sujeitos são cinco mulheres inseridas no mercado de trabalho,
alunas do Mestrado Profissional de Administração da FEAD e mães de, pelo menos,
um filho. Para alcançar o objetivo proposto, a coleta de dados ocorreu através de
entrevista semi-estruturada, buscando obter as histórias orais temáticas dessas
mulheres, que foram solicitadas a narrar a trajetória do trabalho em sua vida, suas
responsabilidade no lar e a realização do curso de mestrado. O material das
entrevistas foi submetido à técnica de análise do conteúdo e organizado em cinco
categorias temáticas: trabalho, atividades do lar, mestrado, conciliação da tripla
jornada de trabalho e significado da vida profissional. Os resultados da pesquisa
apontam formas criativas que as mulheres têm utilizado para lidar com as atividades
da tripla jornada de trabalho. Segundo conceito dejouriano, o sofrimento criativo
acontece quando se tem liberdade de transformar criativamente seu trabalho, ou
seja, quando a organização do trabalho possibilita a expressão dos desejos e
necessidades do sujeito, sendo, portanto, mediador da saúde. Nesse caso, o
trabalho é exercido com prazer. As mulheres entrevistadas relataram sua satisfação
por poderem trabalhar, estudar e ter sua família, sendo as atividades da tripla
jornada de trabalho, uma escolha e, portanto, não se constituindo em fator de
adoecimento ou de fadiga, apesar do cansaço oriundo do acúmulo de atividades.
Palavras-chave: Mulher. Trabalho. Estratégias Defensivas.