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série EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE volume 1
gundo Mann, esses fatos delinearam o surgimento do que ele chamou de
a Epidemia das Reações Sociais
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, na qual o preconceitoeadiscriminação
foram potencializados como resposta nas diferentes sociedades, em rela-
ção à doença e aos diretamente atingidos por ela.
No Brasil, da mesma forma, os primeiros casos de aids eram relati-
vos a homossexuais masculinos e usuários de drogas injetáveis. No entan-
to, esse perfil vem sofrendo mudanças no curso da epidemia. Enquanto o
total de casos acumulados na década de 80 – 90, na população masculina,
por relações homossexuais correspondia a 36% das notificações, em 2001,
este percentual tinha caído para 16,1%, ao passo que os registros da trans-
missão por via heterossexual cresceram de 9,9% para 40%, no mesmo
período. Ainda na população masculina, os casos de transmissão por uso
de drogas injetáveis caíram de 19,5% para 14,5% no mesmo período.
Na população feminina, a transmissão por via heterossexual tam-
bém cresceu, passando de 44,2% (casos acumulados até 1990) para 80,8%
no ano de 2001. Os casos de transmissão por uso de drogas injetáveis,
neste segmento, caíram de 31,4% para 5,7% no mesmo período.
Estesnúmerosmostram aalteração mais significativano perfil, onde
a via de transmissão heterossexual passou a ser a mais freqüente –
heterossexualização da epidemia.
Em conseqüência dessa primeira alteração, surgiu uma segunda: a
feminilização da epidemia. Quando em 1990 a razão homem/mulher de
casos notificados era de 7:1, em 2001, passou a ser de 1,8:1.
Outro aspecto relevante é a tendência à pauperização da epide-
mia e, tomando a escolaridade como o indicador desta tendência, ve-
rifica-se que “até 1982, 100% dos casos entre pessoas com escolarida-
de conhecida eram daquelas que tinham nível superior ou até 11 anos
de escolaridade. De lá para cá, a situação se inverteu. Hoje, mais de
60% dos casos de aids são registrados entre analfabetos ou pessoas
com até oito anos de estudo”
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.
Apesar da tendência mundial da epidemia apontar para a sua
juvenilização, os dados emitidos pelos Boletins Epidemiológicos do Mi-
nistério da Saúde mostram que, no Brasil, o crescimento proporcional dos
casos de aids na faixa etária de 13 a 24 anos vem caindo: até 1990, 16,7%
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Daniel e Parker,1991 – ATerceira Epidemia.
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O ProgramaBrasileiro, 2002. Ministério da Saúde.