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corporativas, pois reconhece e valoriza os saberes para além da Psiquiatria
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.
Conforme Passos (2006, p.1, grifos nossos),
Quando dizemos que o CAPS é uma ação psicossocial é porque o
cuidado se dá no limite entre o individual e o coletivo. Foi nesta
experiência–limite que o movimento da reforma psiquiátrica fez
sua aposta e é aí que os serviços substitutivos devem afirmar os
seus dispositivos de intervenção (...) uma experiência–limite entre
o individual e o coletivo, e se afirmamos que estes termos se
distinguem, mas não se separam é porque outra relação de
inseparabilidade se coloca: aquela entre clínica e política. (...) no
campo da reforma psiquiátrica, clinica e política são domínios que
não se distinguem.
As propostas de atenção em saúde mental na direção da Reforma
Psiquiátrica têm implícita uma orientação ético-política articulada ao SUS e aos
seus princípios norteadores: saúde, como um direito fundamental e dever do
Estado, enfatizando o acesso universal na atenção em saúde mental com base
em integralidade, intersetorialidade, eqüidade, universalidade, igualdade e no
controle social (no sentido da participação popular dos usuários e familiares). Esta
concepção do SUS ampliou o conceito de saúde para além da dimensão biológica,
pois o processo saúde/doença está contido numa relação com o contexto
econômico, social e cultural do País, ou seja, abrange situações de moradia,
saneamento, renda, alimentação, educação, acesso lazer e bens. Expressa a
necessidade de uma abordagem intersetorial e interdisciplinar, sobre o alicerce
dos conceitos de eqüidade, integralidade e universalidade, que visam, por meio da
abordagem interprofissional, atender às necessidades de saúde, de modo amplo.
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Como já abordamos anteriormente, historicamente o campo da saúde mental, no Brasil, esteve
sob dominação do modelo biomédico, ou seja, houve uma ênfase nos saberes biológicos
traduzidos na valorização dos “sintomas” e na terapêutica do isolamento social/cura em detrimento
das dimensões subjetivas e sociais do louco. Os saberes sobre o “social” e a “subjetividade” eram
importantes neste modelo na medida em que contribuíam para a avaliação das condições sociais e
“emocionais” para “adequar” o usuário e família na comunidade, contribuindo, desse modo, para
“harmonia” institucional e social. O trabalho da equipe se realizava de forma fragmentada e
compartimentada, intervindo, quando necessário, e cada um fazendo sua parte para que “todo”
funcionasse “bem”, sob centralidade do saber médico. Os usuários e familiares, nesse contexto, se
apresentavam como “despossuídos” de decisões, sendo convocados para “obedecer“ às
recomendações dos técnicos. Este modo de trabalhar em saúde, associado aos fatores da
ineficiência e enclausuramento de grande parte dos usuários nos hospitais psiquiátricos, em
condições insalubres e desumanas, começou a ser questionado a partir do Movimento de Reforma
Psiquiátrica que se inicia em 1978, com o Movimento dos Trabalhadores de Saúde Mental.