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movimentos messiânicos forçosamente se referem a crises sócio-
politicas, ao nível estrutural ou organizatório
9
.
Nem todos os autores estão de acordo com este ponto que define os
movimentos messiânicos como movimentos sociais essencialmente sócio-
políticos; um exemplo é Marco Antônio Villa, que retrata o movimento dos
seguidores do Conselheiro de Canudos a partir da ótica historicista do
materialismo dialético, incorporando-o às lutas sociais.
Para o autor nos movimentos sociais messiânicos a religião se mistura ao
protesto social, o fato de a religiosidade popular servir de expressão às
insurreições de caráter popular coloca o problema da ambigüidade da religião
como protesto e alienação. Segundo Villa para o sertanejo, a religião não é
apenas um instrumento de transformação social, mas a fonte inspiradora de
um mundo novo
10
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9
PEREIRA DE QUEIROZ, Maria Isaura - O messianismo no Brasil e no mundo; p. 338.
10
VILLA, Marco Antônio – Canudos – O povo da terra. São Paulo: Attica, 1995. p. 39. O
autor, porém, discorda do fato da denominação de movimento messiânico ao movimento social
de Canudos, crendo-o muito mais um movimento social, discordando da classificação de
Antônio Mendes Maciel como um messias. Villa passa em revista às teorias e autores mais
comuns ao movimento de Canudos e, extensivamente, aos movimentos messiânicos (todos
citados neste trabalho). O primeiro autor que Villa comenta é Edmundo Moniz (p. 236). Para
Villa, Moniz tentou buscar no marxismo ortodoxo a fonte explicativa, associando Antonio
Conselheiro a Thomas Müntzer e a Thomas More buscando uma visão progressista que
Canudos, definitivamente, não possuía. “Moniz, segundo a tradição do marxismo brasileiro,
desconsiderou a influência religiosa como se a religião fosse somente um invólucro que
encobrisse as relações de ordem material. Assim, a religião não passa de uma interpretação
desfocada da realidade” (p. 237). Para Villa não era possível afirmar que Canudos era uma
comunidade socialista: havia propriedade privada e acumulação de bens e capitais (vide os
irmãos Villanova). O comunitarismo era produto da tradição sertaneja, fórmula encontrada por
Antônio Conselheiro para manter milhares de conselheiristas em uma região pobre de recursos
naturais. Rui Facó, também citado mais acima, cuja tese principal seria que “os fenômenos do
misticismo ou messianismo, que se convencionou chamar de fanatismo, disseminados pelos
sertões em nosso passado ainda recente, têm um fundo perfeitamente material e servem
apenas de cobertura a esse fundo. É sua exteriorização” (FACÓ, 1988, p. 9/10, Apud VILLA,
p.238). Para Villa, esse tipo de interpretação, que desqualifica a luta sertaneja porque esta não
se adapta ao modelo de revolução ocidental, apenas repete a cantilena de que os movimentos
sócio-religiosos rurais não passam de uma ideologia típica de movimentos pré-políticos (como
em Hobbsbawn) (p. 239). O médico Nina Rodrigues é acusado por Villa de ter sido o
responsável pela interpretação de que a guerra de Canudos simbolizou o choque entre o litoral
e o sertão; o primeiro civilizado, vivendo um tempo histórico da Europa, o segundo inculto,
num estágio inferior de civilização. Àqueles que tentam imputar a Canudos o título de último
Quilombo, Villa argumenta que o arraial teria começado apenas após a abolição da
escravatura e os negros representavam apenas 19% da população de Canudos, tomados
como base a contagem dos prisioneiros e sua caracterização racial. Para Villa, a partir das
prédicas integrais de Antônio Conselheiro, publicadas por Ataliba Nogueira em 1978, e de
outros documentos legados por aqueles que presenciaram o evento Canudos, seria possível
afirmar que no arraial não havia espera coletiva pelo Milênio (p. 239). Os conselheiristas não