91
produções podem garantir grandes riquesas e sólida estabilidade
economica. Odiernamente sobrepujam a lavoura cafeeira, não obstante ser
inagavel a pesada concorrência do Ouro Verde na balança da economia
brasileira. Ainda que assim seja, que o município de Lençóis esteja
preparado para um surpreendente desenvolvimento da indústria da cana e
cultivo algodoeiro, os agricultores não devem depositar cega esperança
numa única monocultura. Por que, nesta terra, num país em posição como
o Brasil, as oscilações de preços são sempre ascendentes. Terminado o
conflito, entretanto, o qual não tardará, segundo autorizados prognosticos,
a dúvido de baixa pode ocasionar um fenômeno de órdem econômica
como o após guerra de 1914. Depois da guerra de 1914, as compras e
vendas passaram por estágio de seis meses de paralização total,
desiquilibrando completamente a vida comercial. E os desastres foram tão
irreparaveis tanto quanto eram invaraveis e grandes os estoques e
produções. Os municípios policultores, como tivemos exemplo próprio, e
o comércio miudo foram os que mais sobreviveram ao colapso
econômico. (...) Por isso convem estarmos precavidos com as
monoculturas e os estoques. A pás vem aí.
34
Além da tendência de tratar localmente dos assuntos, grande também é a
incidência de editoriais com tons otimistas. Mesmo ao retratar uma guerra, o semanário
apresenta um volume representativo de textos sobre economia com enfoques otimistas.
Na maioria das vezes, o otimismo aparece rebuscado em assuntos como o aumento da
possibilidade exportação dos produtos locais e nacionais. Expressões como “reanimar
sericultores” ou “garantir os mercados”, assim como adjetivações do tipo “grandes
estoques e produções”, “transformação rápida” e “rica atividade produtiva” exibem o
caráter de “a guerra pode nos fazer bem” com o qual os textos são construídos. O
editorial “Causas da guerra”, veiculado no dia 2 de abril de 1944 e transcrito a seguir na
íntegra, consiste em um exemplo claro do tom otimista utilizado pelo jornalista
Alexandre Chitto ao abordar assuntos ligados à economia:
Ha poucos dias, tivemos o ensejo de ouvir um conceituado negociante e
criador de gado de Ribeirão Preto, um dos principais centros pastoris
paulistas. Depois de feitas inúmeras referências sobre sua terra, o nosso
interlocutor disse nos que em Ribeirão Preto o comércio de gado,
atualmente, é um fato surpreendente, todavia os negócios seguem um
círculo vicioso. Isto é, compra-se e vende se em alta escala, porem o gado,
quasi totalmente, permanece no município. E a uma pergunta nossa por
qual motivo esse comércio de retenção, talvês suscetivel de baixa após
guerra, o abastado fazendeiro prognosticou-nos que o fim da conflagração,
de forma alguma, poderá afetar o mercado de gado. Haverá, antes,
tendências para maiores altas. Dados os primeiros passos pora o
armistício, a Europa importará gado não apenas com o fim de abastecer-se
de carne, mas tambem para repovoar da pecuária, as regiões devastadas
pelo vai e vem dos exércitos em luta. E o Brasil, naturalmente, se
apresentará como um dos principais fornecedores. E de fato, conforme
pensa o nosso interlocutor, não se pode por em dúvida que, enquanto a
indústria bélica norte-americana não for transformada em aparelhamento
de produção, nossa Pátria será o fornecedor número um dos mercados
34
O Eco, edição de 20/06/1943, p.1.