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cabeça ao algoz não só perdoar as injúrias recebidas como igualmente que
dava contente a vida pela futura felicidade do povo maranhense
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.
Esse homem que nada hesitou para gozar a liberdade, esse homem
que sacrificou o que tinha de mais precioso, pelo amor que consagrou à sua
pátria, esse homem teve coragem bastante para praticar um ato que ele sabia
que acarretaria sobre si o ódio implacável dos tiranos (nossos opressores)
mas que era o único meio dele concorrer para a liberdade da pátria, esse
homem que por tantos títulos merece uma página na nossa história escrita
com distinção, esse homem que foi a primeira vítima da nossa emancipação
política. [...]. Um homem de sentimentos mais nobres, de uma alma tão
elevada não é um homem comum. É um grande, é um herói
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.
Por fim, na estrutura dessas revistas não podemos deixar de mencionar a seção de
Variedades, que tratava dos mais diversos assuntos em uma mesma página, desde notas sobre
as viagens de homens ilustres, até pequenos pensamentos, passando por notícias acerca das
últimas descobertas científicas e considerações sobre culturas de outros países.
Com relação a esse último aspecto, cabe salientar o grande número de ensaios que
dissertavam sobre as mais diversas culturas, como a chinesa, a francesa e a muçulmana, por
exemplo. Nesses fragmentos, que muitas vezes eram originários de anotações de viagem, os
leitores eram informados sobre os costumes, os modos, a culinária e as crenças de distintas
culturas e até mesmo sobre o seu comportamento social, como, por exemplo, num longo
ensaio publicado na Revista Popular sobre os modos da mulher em diferentes países. O autor,
Luís de Castro, destaca a condição subalterna da mulher em diferentes locais, como na
Inglaterra, onde a legislação não reconhece a mulher enquanto indivíduo, ou na China, onde a
viuvez é perpétua, sendo comum os casos de mulheres que se matam imediatamente após o
falecimento do marido.
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Outros assuntos de destaque dessa seção eram as inovações, como o
aparecimento de máquinas de costura americanas, que recebeu longos elogios dos redatores
da Revista Popular,em 1862. Apesar de seu espaço ser menor se comparado com as outras
seções, coube a seção de anedotas a divulgação de episódios cômicos que somados às
charadas e às cartas enigmáticas, proporcionaram divertimento aos leitores, que percorriam as
páginas da história, da literatura, da poesia, do romance, da biografia e, finalmente ,concluíam
a leitura das revistas com uma seção que, ao promover o riso, não deixava de lado a instrução:
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Acajá.., 31 de agosto de 1861, 23..
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Ibidem, p.27.
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Castro elaborou para essa seção curiosas observações sobre a condição da mulher em várias partes do globo.
Esse autor - que se destaca como o principal colaborador da seção dedicado ao belo sexo -assim se pronunciou a
respeito da condição feminina na China: “ O homem é o chefe e deve mandar, a mulher lhe é sujeita e deve
obedecer. Esta sujeição é perpétua: solteira, ela deve obediência a seu pai; na falta deste a seus irmãos; casada,
deve-a ao marido, e viúva fica sob a inspeção e guarda do filho mais velho. [...]. Fora de casa, não deve ela ter
negócios ou cuidados de qualquer natureza que sejam[...]Não deve dormir jamais sem luz.[...]. Revista Popular,
20 de junho de 1859, p. 213.