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geralmente teria que pagar com sua vida. Não havia liberdade de escolha.
Conforme Leite apud Adragão (2002, p. 31)
Na Antiguidade, a religião costumava andar intimamente associada à vida
do povo. Cada nação, tribo ou clã tinha os seus deuses próprios que se
supunham defender e proteger o povo. Cumpria venerá-los e evitar-lhes as
iras, em especial provocadas pela infidelidade ou mau procedimento de
alguns membros da comunidade, por meio de sacrifícios, preces e outros
actos rituais. Não aceitar a religião nacional ou não a praticar, equivalia, de
certa maneira, a ser infiel ao próprio povo e a atrair sobre ele as iras da
divindade; pelo tal facto era geralmente considerado crime grave, punido,
por vezes, até com a pena de morte.
No início da era Cristã, a Bíblia registra um incidente onde percebemos os primeiros
sinais da liberdade de religião. Tal ocorreu quando os líderes judeus prenderam os
apóstolos e os recolheram à prisão pública e depois os levaram ao Sinédrio
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para
serem interrogados, chegando-se a seguinte situação:
Eles, porém, ouvindo, se enfureceram e queriam matá-los. Mas,
levantando-se no Sinédrio um fariseu, chamado Gamaliel, mestre da lei,
acatado por todo o povo, mandou retirar os homens, por um pouco, e lhes
disse: Israelitas, atentai bem no que ides fazer a estes homens. Porque,
antes destes dias, se levantou Teudas, insinuando ser ele alguma coisa, ao
qual se agregaram cerca de quatrocentos homens; mas ele foi morto, e
todos quanto lhe prestavam obediência se dispersaram e deram em nada.
Depois desse, levantou-se Judas, o Galileu, nos dias do recenseamento, e
levou muitos consigo; também este pereceu, e todos quantos lhe
obedeciam foram dispersos. Agora, vos digo: da de mão a estes homens,
deixai-os; porque, se este conselho ou esta obra vem de homens,
perecerá; mas, se é de Deus, não podereis destruí-los, para que não
sejais, porventura, achados lutando contra Deus. E concordaram com ele.
(ATOS, 6: 33 a 39)
Nota-se que o parecer do Juiz Gamaliel foi uma verdadeira defesa da liberdade de
religião. Depois dessa intervenção os apóstolos foram soltos, e seguiram em sua
missão de pregar o evangelho de Jesus Cristo, dando início à religião Cristã, que
rapidamente de difundiu e fortaleceu, passando a incomodar os governantes do
Império Romano.
Com isso os Cristãos passaram a serem perseguidos pelos Romanos até o século
IV d.C. Relatos históricos mostram que o Imperador Nero, no ano 64 d.C., incendiou
Roma e acusou os Cristãos como autores do incêndio, o que resultou em terrível
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Sinédrio era o grande concílio religioso em Jerusalém, composto de cerca de setenta homens judeus. Sob os
Romanos, referido tribunal judaico tinha larga autoridade na Palestina.