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de a formação de muitos desses compositores
brasileiros ter-se dado no velho continente, seguindo,
na maioria das vezes, escolas progressistas.
Assim, para citar alguns dos mais conhecidos
compositores do período, observa-se que Leopoldo
Miguez estudou em Portugal e na Bélgica; Henrique
Oswald, na Itália; Alexandre Levy esteve na Itália
e na França; enquanto Alberto Nepomuceno teve
a sua formação na Itália, na Alemanha e na França.
(Uma boa panorâmica sobre esse assunto pode
ser encontrada no artigo Compositores românticos
brasileiros: estudos na Europa, de Maria Alice Volpe).
a música brasileira da escola alemã,
considerada moderna, afastando-a do
lirismo excessivo da escola italiana.
Assim, Brahms e Wagner foram
modelos em detrimento de Rossini
e Verdi. No entanto, os programas
musicais se mantiveram ecléticos.
Em um futuro não distante, Debussy,
Fauré, Sant-Säens, entre outros,
seriam somados a esse grupo.
As trocas com a Europa também
moldaram o crescente nacionalismo
musical brasileiro. Não podemos
perder de vista que, na época, a visão
européia sobre o Brasil afirmava
a “impossibilidade de uma nação
Nepomuceno, Messager declarou
que a obra colocava o autor entre os
melhores da música moderna (Pereira,
op. cit.; 305). Darius Milhaud
concordava com essas considerações
e estava desejoso da publicação do
Trio para levá-lo para a Europa
(Pereira, op. cit.; 308).
Após essas considerações, pode-
se questionar a pretensão
atualizadora, anti-passadista, dos
“novos modernos”. A geração de
compositores da Primeira República
já se ocupava em manter-se
atualizada, já que as trocas com
a Europa eram freqüentes, além
civilizada nos trópicos e ainda por cima miscigenada”.
(Odália apud Reis, 2002; 94). Logo, nada mais natural
que, no princípio, os brasileiros imitassem os europeus
para mostrarem que também eram capazes e, portanto,
civilizados. Como exemplo temos José Maurício Nunes
Garcia (1767-1830), que compôs, entre outras tantas
obras, uma Missa de Réquiem considerada obra-prima.
Em uma etapa posterior, utilizaram-se temas nativos
com roupagem européia. O exemplo clássico são
as óperas O Guarani e O Escravo, de Antônio Carlos
Gomes (1836-1896). Após, a inspiração viria da música
popular urbana, eventualmente da popular rural
ou folclórica, representada pela Série
Brasileira ou o prelúdio O Garatuja,
de Alberto Nepomuceno e pelos
Tangos, Polcas e Valsas, de Ernesto
Nazareth. Um grande passo nesse
caminho nacionalista foi a odisséia
nepomucena de escrever canções
sobre poemas em português, feito que
ainda sequer havia se concretizado em
Portugal, segundo Viana da Mota.
Continuando a migração dos pólos,
chega-se ao extremo oposto, onde
a música brasileira se vestiria de
acordo com a sua sonoridade nativa,
independente da citação folclórica.
Foi um dos caminhos trilhados por
Para se ter em conta o espírito
desbravador desses compositores, vale
lembrar que até por volta de 1880,
ópera e bel canto eram sinônimos
de música no Brasil – e no restante
da América. Foi a partir dessa década
que se deu efetivamente a introdução
da música sinfônica e camerística nos
eventos musicais brasileiros, tendo
Miguez, Oswald e Nepomuceno
como grandes divulgadores.
As mudanças de meios de
expressão e gosto pretendidos não
visaram a substituição da ópera pela
música sinfônica ou de câmera.
Tinham como objetivo aproximar
Alexandre Levy, Sinfonia.
Edição da Sociedade Brasileira
de Musicologia. São Paulo.
FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL –
DIVISÃO DE MÚSICA E ARQUIVO SONORO
Leopoldo Miguez. Desenho assinado
por Henrique Bernardelli em 1903.
FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL –
DIVISÃO DE MÚSICA E ARQUIVO SONORO