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Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Centro de Estudos e Pesquisas em Agronegócios
Programa de Pós
-
Graduação em Agronegócios
A
R
elação
entre Estratégias, Recursos e
Performance
:
Uma Investigação
em Empresas de Vinhos Finos d
o
Cluster
da
Serra G
aúcha
Eduardo de Oliveira Wilk
Orientador: Prof. Jaime Evaldo Fensterseifer
Tese apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Agronegócios da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
como requisito parcial para a obtenção do
título de Doutor em Agronegócios
Porto Alegre
2006
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Ao estímulo e prazer intelectual que
experimentei no CEPAN ao longo destes
quatro anos, e às pessoas que contribuíram
para esta grande experiência.
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AGRADECIMENTOS
Quando
decidimos ingressar em um curso de doutorado, estamos empreendendo uma
jornada cuja dimensão compreenderemos ao chegar ao final. Este período pode ser tanto
mais frutífero e prazeroso quanto melhores forem os nossos mestres, os nossos colegas e as
nos
sas fontes de inspiração. Felizmente, eu tive sorte em todos estes aspectos, e classifico os 4
anos de doutorado entre os melhores de minha vida.
Por tudo isto, gostaria de agradecer primeiramente ao Professor Dr. Jaime Evaldo
Fensterseifer, por investir e
m meu trabalho desde que nos conhecemos.
À Professora Dra. Lilia Maria Vargas, uma das grandes responsáveis pelos meus
primeiros passos no mestrado e
pela minha carreira acadêmica
.
Ao amigo e Professor Dr. Jean Phillipe Revillion, pela inteligente convivência de
pesquisa, exemplo de dignidade e amizade.
À colega Kelly Lisandra Brüch que muito admiro e respeito, por sua capacidade de
trabalho e grandes feitos que ainda realizará.
À querida esposa Tatiana, minha inspiração maior, e cada vez mais, uma companh
eira
de trajetória acadêmica.
Também agradeço ao IBRAVIN aos especialistas que participaram da pesquisa e a
todas as empresas e instituições que gentilmente cederam seus dados.
Finalmente, sou grato ao CEPAN e toda sua equipe por ter
em
acolhido minhas
pes
quisas e
ao CNPq, por ter custeado
meus estudos nestes quatro anos.
RESUMO
A inter
-relação entre estratégias, recursos e
performance
das firmas é o foco central de
investigação deste trabalho. Através da abordagem denominada como Visão da Firma
Baseada
em Recursos,
estudou
-se o caso do
Cluster
Vitivinícola da Região da Serra Gaúcha,
vi
sando à análise de sua competitividade. Como contribuição teórica à área de estratégia, foi
proposto e detalhado um esquema de classificação de recursos em
clusters
, intro
duzindo
-
se os
conceitos de Recursos Sistêmicos
,
Recursos de Acesso Restrito e Recursos Singulares.
A
investigação base
ou
-se em dados coletados através de entrevistas estruturadas realizadas com
executivos e especialistas de
54
empresas produtoras de vinhos finos. O objetivo principal foi
o estudo da influência exercida pelos recursos estratégicos sobre a
performance
das firmas.
Complementarmente,
foi investigado qual o papel das estratégias das firmas sobre o acesso a
estes recursos. Os resultados evidenciaram uma influência positiva dos recursos e das
estratégias
sobre a
performance,
auxiliando na compreensão das
assimetrias
competitivas
entre as firmas do
cluster
.
Palavras
-
chave: Clusters, Visão da Firma Baseada em Recursos
,
Vitivinícola
.
ABSTRACT
The interrelationships of strategy, resources and performance of the firms is the main
subject of this work. Through the lens of the Resource Based View of the Firm, we stud
ied
the case of the South Brazilian Wine Cluster, analyzing its competitiveness.
As
a theoretical
contribution to the strategy field, we proposed and detailed a classification scheme of
resources in clusters
, introducing the concepts of Sy
stemic Resources, Singular Resources and
Constrained Access Resources. The study
was
based on data collected trought in-depth and
structured interviews with experts and executives of 54 fine wine produccing firms. The
results were analysed by qualitative and quantitative techniques. The main goal was the
identification of the influence of resources on the firms’ performance. In addition, we studied
the role of firm’s operational strategies on access to these resources. The results evidenced a
positive effect of resources and strategies on performance, improving the understanding
of
competitive
assimetries
between
firms in the cluster.
Keywords: Clusters, Resource Based View of the Firm,
Wine Sector
.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1
-
Hierarquia de Recursos
................................
................................
................................
.............................
29
Figura 2
-
Modelo Analítico de Peteraf
................................
................................
................................
....................
31
Figura 3
-
Abordagens Relevantes ao Estudo de Clusters
................................................................
.......................
40
Figura 4
-
Dinâmica de
Spillovers
de Conhecimento em
Clusters
................................................................
..........
50
Figura 5
Arcabouço Teórico
-
Conceitual da Pesquisa
................................
...........................................................
51
Figu
ra 6
-
Modelo Analítico de Diferenciais de
Performance
................................................................
.................
57
Figura 7
-
Produção de Uvas no RS
................................................................
................................
..........................
68
Figura 8
-
Contexto Estrutural do
Cluster
Vitivinícola da Serra Gaúcha
................................
................................
69
Figura 9
-
Passos para a Identificação e Validação dos Recursos
................................................................
...........
81
Figura 10
-
Distribu
ição Geográfica das Firmas Estudadas
................................................................
.....................
94
Figura 11
-
Relação entre as Variáveis de Pesquisa
................................
................................
................................
.
95
Figura 12
-
Combinações de Estraté
gias
................................................................................................
................
104
Figura 13
-
Rede de Relações Cooperativas
................................................................................................
...........
110
Figura 19
-
Recursos,
Spillovers
e
Performance
-
Variáveis Preditivas
................................................................
171
Figura 20
-
Análise de Diferenciais de
Performance
................................................................
.............................
185
LISTA DE
QUADROS
Quadro 1
-
Lista de Recursos
Estratégicos
................................
................................................................
................
92
Quadro 2
-
Variáveis Relativas a Dados Gerais
................................................................
................................
.......
96
Quadro 3
-
Variáveis de Pesquisa
-
Estratégias
................................
................................
................................
......
105
Quadro 4
-
Variáveis de Pesquisa
-
Recursos Singulares
................................................................
.....................
106
Quadro 5
-
Variáveis de Pesquisa
-
Recursos Singulares
................................
................................
....................
107
Quadro 6
-
Variáveis de Pesquisa
-
Recursos de Acesso Restrito
................................................................
.........
108
Quadro 7
-
Variáveis de Pesquisa
-
Spillovers
................................
................................................................
.......
111
Quadro 8
-
Variáveis de Pesquisa
-
Performance
................................................................................................
..
114
Quadro 9
-
Recursos Singulares
e Efeitos Individuais
................................
...........................................................
187
Quadro 10
-
Recursos de Acesso Restrito
e Efeitos Individuais
................................................................
............
189
Quadro 11
-
Spillovers
e Efeitos Individuais
................................................................
................................
..........
190
Quadro 12
-
Análise de Hipóteses
................................................................................................
..........................
194
LISTA DE
TABELAS
Tabela 1
Produção, Exportação e Consumo de Vinhos no Mundo (2003)
-
Principais Países
..........................
63
Tabela 2
-
Volumes de Vinho Comercializados no Brasil (Litros)
-
2000 à 2005
................................
..................
72
Tabela 3
-
Grupo de Especialistas
................................
................................
................................
.............................
79
Tabela 4
-
Grau de Especialização
................................................................................................
............................
97
Tabela 5
-
Sistema de Suprimento de Uvas
................................................................................................
............
10
0
Tabela
6
-
Sistema de Elaboração de Vinhos
................................................................................................
.........
103
Tabela 7
-
Idade das Empresas
................................
................................
................................................................
119
Tabela 8
-
Tempo de Produção de Vinhos Finos
................................................................................................
....
120
Tabela 9
-
Produção Média de Vinhos Finos
................................................................................................
.........
121
Tabela 10
-
Número de Funcionários
................................
................................................................
.....................
122
Tabela 11
-
Grau de Especialização
................................................................................................
.......................
123
Tabela 12
-
Sistema de Produção de Uvas
................................
................................
................................
.............
124
Tabela 13
-
Sistema de Elabor
ação de Vinhos
................................
................................................................
.......
124
Tabela 14
-
Categorias Estratégicas
................................................................
................................
........................
125
Tabela 15
-
Scores de
Terroir
................................
................................................................................................
.
127
Tabela 16
-
Competência Enológica
................................................................................................
.......................
128
Tabela 17
-
Competência Vitícola
................................................................................................
..........................
129
Tabela 18
-
Recursos de
Acesso Restrito
................................................................................................
................
130
Tabela 19
-
Fontes de
Spillovers
-
Entidades
................................................................................................
.........
131
Tabela 20
-
Fontes de
Spillovers
Eventos
................................................................................................
...........
131
Tabela 21
-
Fontes de
Spillovers
-
Parcerias
................................................................................................
...........
132
Tabela 22
-
Fontes de
Spillovers
-
Mão de Obra Especializada
................................
................................
.............
132
Tabela 23
-
Preço Médio dos Vinhos Finos
................................................................................................
...........
133
Tabela 24
-
Número de Novos Produtos
................................................................
................................
.................
134
Tab
ela 25
-
Número de Vinhos Selecionados para o Evento ABE
-
PREM50
................................
.....................
135
Tabela 26
-
Número de Vinhos Selecionados para o Evento ABE
-
PREM15
................................
.....................
135
Tabela 27
-
Variação de
Market Share
................................................................................................
...................
136
Tabela 28
-
Grau de Especialização e Médias em Recursos
................................
................................
..................
137
Tabela 29
-
Estratégia de Suprimento de Uvas e Médias em Recursos
................................................................
.
139
Tabela 30
-
Grau de Tecnificação e Médias em Recursos
................................................................
.....................
140
Tabela 31
-
Grau de Especialização e
Performance
................................
................................
...............................
141
Tabela 32
-
Sistema de Suprimento de Uvas e
Performance
................................
................................
.................
142
Tabela 33
-
Grau de Tecnifi
cação e
Performance
................................................................................................
..
143
Tabela 34
-
Categorias Estratégicas e
Performance
................................................................
..............................
145
Tabela 35
-
Coeficientes de Regressão para
Recurs
os Singulares
................................................................
.........
151
Tabela 36
-
Análise ANOVA
-
Recursos Singulares
................................................................
.............................
153
Tabela 37
-
Coeficientes de Regressão
-
Recursos Singulare
s
................................................................
..............
154
Tabela 38
-
Regressão Linear
-
Recursos de Acesso Restrito
................................................................
................
157
Tabela 39
-
Análise Anova
-
Recursos de Acesso Restrito
................................
................................
....................
158
Tabela 40
-
Coeficientes de Regressão
-
Recursos de Acesso Restrito
................................................................
..
159
Tabela 41
-
Regressão para
Recursos Singulares
e de
Ace
sso Restrito
................................................................
.
162
Tabela 42
-
Análise Anova
-
Recursos Singulares
e de
Acesso Restrito
................................
...............................
163
Tabela 43
-
Coeficientes de Regressão
-
Recursos Singulares e de
Acesso Restrito
................................
............
164
Tabela 44
-
Coeficientes de Regressão para
Spillovers
................................................................
..........................
167
Tabela 45
-
Análise Ano
va
-
Spillovers
................................
................................
................................
..................
168
Tabela 46
-
Coeficientes de Regressão
-
Spillovers
................................
................................
...............................
169
Tabela 47
-
Regressão para Recursos e Spillovers
................................................................................................
.
173
Tabela 48
-
Análise ANOVA para Recursos e
Spillovers
................................................................
......................
174
Tabela 49
-
Coeficientes de Regressão para Recursos e
Spillovers
................................................................
.......
175
Tabela 50
-
Recursos,
Spillovers
e
Performance
-
Síntese das Análises de Regressão
................................
.......
177
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABE
-
Associação Brasileira de Enologi
a
AGAVI
-
Associação Gaúcha de Vinícolas
APEX
-
Agência Brasileira de Promoção de Exportações
APL
-
Arranjo Produtivo Local
APROMONTES
-
Associação dos Produtores dos Altos Montes
APROVALE
-
Associação dos Produtores do Vale dos Vinhedos
APROBELO
-
Associação dos Produtores de Monte Belo
ASPROVINHO
-
Associação dos Produtores de Vinhos de Montanha
AVIGA
-
Associação das Vinícolas de Garibaldi
CEFET
-
Centro Federal de Educação Tecnológica
EMBRAPA
-
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
EMATER
-
Empres
a de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado
FECOVINHO
-
Federação das Cooperativas Vinícolas
FEPAGRO
-
Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária
IBRAVIN
-
Instituto Brasileiro da Uva e do Vinho
ICTA
-
Instituto de Ciência e Tecnologia de Alimento
s da UFRGS
LAREN
– Laboratório de Enologia de Caxias do Sul
NEG
-
New Economic Geography
NGE
-
Nova Geografia Econômica
NTT
-
New Trade Theory
OIV
-
Organização Internacional da
Uva
e do Vinho
RBV
-
Resource Based View of The Firm
Sig.
-
Significância Est
atística
UCS
Universidade de Caxias do Sul
UFRGS
-
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UVIBRA
-
União Brasileira da Vitivinicultura
VBR
-
Visão da Firma Baseada em Recursos
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
................................................................
................................
................................
....................
13
1.1
ÁREA
TEMÁTICA
E
ANTECEDENTES
................................
................................................................
.........
15
1.2
DEFINIÇÃO
DO
PROBLEMA
E
OBJETIVOS
................................................................
................................
20
1.3
RELEVÂNCIA
................................
................................................................
................................
...................
21
1.4
ASPECTOS
METODOLÓGICOS
................................................................................................
.....................
22
1.5
ESTRUTU
RA
DO
TRABALHO
................................................................................................
........................
23
2 REVISÃO DA LITERA
TURA
................................................................
................................
..........................
24
2.1
VISÃO
DA
FIRMA
BASEADA
EM
RECURSOS
................................................................
............................
24
2.2
CLUSTERS
................................................................................................................................
.........................
36
2.3
ARCABOUÇO
TEÓRICO
-
CONCEITU
AL
DA
PESQUISA
................................................................
..........
51
3 MODELO ANALÍTICO
PROPOSTO
................................................................................................
.............
52
3.1
RECURSOS
E
CLUSTERS
-
CONSIDERAÇÕES
ESTRATÉGICAS
................................
..............................
52
3.2
DESENVOLVIMENTO
DE
UM
SISTEMA
DE
CATEGORIAS
DE
RECURSOS
EM
CLUSTERS
..............
54
3.3
MODELO
ANALÍTICO
DE
DIFERENCIAIS
DE
PERFORMANCE
................................
..............................
57
3.4
HIPÓTESES
................................
................................................................................................
........................
59
4 O CLUSTER VITIVIN
ÍCOLA DA SERRA GAÚCH
A
................................................................
.................
62
4.1
INTRODUÇÃO
- O
VINHO
NO
MUNDO
................................................................
................................
.......
62
4.2
O
VINHO
NO
BRASIL
................................................................................................................................
......
65
4.3
CONTEXTO
ESTRUTURAL
E
GEOGRÁFICO
................................................................
..............................
66
4.4
DESEMPENHO
PRODUTIVO
................................................................
................................
..........................
72
4.5
CONS
IDERAÇÕES
SOBRE
A
COMPETITIVIDADE
................................
................................
....................
74
5 DESENVOLVIMENTO D
A ETAPA EXPLORATÓRIA
................................................................
.............
77
5.1
MÉTODO
................................................................................................................................
............................
77
5.2
RESULTADOS
DA
ETAPA
EXPLORATÓRIA
................................................................
..............................
83
6
DESENVOLVIMENTO DA
PESQUISA DESCRITIVA
................................
................................
...............
93
6.1
DELINEAMENTO
DA
PESQUISA
................................................................................................
..................
93
6.2
R
ESULTADOS DA
P
ESQUISA
D
ESCRITIVA
................................................................................................
...........
117
7 DISCUSSÃO DOS RESU
LTADOS
................................................................
................................
.................
180
7.1
Q
UESTÕES
E
SSENCIAIS
................................................................
................................
................................
......
180
7
.2
R
ESUMO DAS
H
IPÓTESES
................................
................................................................
................................
...
194
8 CONCLUSÃO
................................................................
................................
................................
....................
196
8.1
PRINCIPAIS
ACHADOS
................................................................................................
.............................
196
8.2
CONTRIBUIÇÕES
DERI
VADAS
DA
PESQUISA
................................
................................
....................
197
8.3
LIMITAÇÕES
E
SUGESTÕES
PARA
PESQUISAS
FUTURAS
................................
..............................
199
8.4
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
................................................................
................................
........................
201
GLOSSÁRIO
................................................................
................................
................................
.........................
202
APÊNDICE A
-
QUEST
IONÁRIO PARA AS EMPR
ESAS VINÍCOLAS PRODU
TORAS DE VINHOS
FINOS
................................................................................................................................
................................
.....
224
APÊNDICE B
-
LISTA DE EMPRESAS VINÍCOLAS ENTREVISTAD
AS
................................
...............
227
13
1 INTRODUÇÃO
Por que algumas firmas são mais bem-sucedidas do que outras? O que fizeram as
empresas de sucesso para serem o que são hoje? Quais as fontes de desempenho superior?
Qual o papel das estratégias, dos recursos e das regiões sobre a
performance
das firmas?
Nos últimos anos, estas e outras questões similares têm si
do objeto de um significativo
número de estudos no meio acadêmico. Grande parte destes estudos
têm
destaca
do
a
importância dos distritos industriais e aglomerações geográficas de firmas ou
clusters
,
descrevendo
-os como ambientes indutores de competitividade, inovação e desenvolvimento
econômico.
Na base da competitividade observada em
clusters
reside uma série de fenômenos
exógenos às firmas, tais como o extravasamento de conhecimentos e tecnologias no ambiente,
denominado efeito
spillover
, o compartilhame
nto de recursos especializados
,
e o acesso a uma
série de fatores locais intangíveis e não
-
transacionáveis no mercado.
A busca de teorias para o estudo destes fenômenos remete à possibilidade de uma
aplicação estendida da abordagem
denominada
Visão da Firma Baseada em Recursos (VBR).
A premissa central desta abordagem é de que a
performance
superior à média em uma
indústria é influenciada pela presença de recursos estratégicos raros, escassos e dificilmente
imitáveis pelos concorrentes, propiciando a sustentação de vantagens competitivas para as
firmas que os possuem, acessam ou controlam.
14
Ao analisar-
se
um
cluster
sob a ótica da VBR, além dos recursos individuais de cada
firma, podemos observar também uma série de bens públicos que podem ser considerados
como recursos de alto valor estratégico por serem dificilmente reproduzíveis, traduzindo-
se
em vantagens perante outras regiões concorrentes. Como são de acesso comum a todos, estes
bens públicos não influenciam a capacidade de competição das firmas entre si, mas sim, das
firmas do
cluster
em relação às firmas de outras regiões.
Muitas vezes, também estão presentes certos recursos que não são individuais, nem
totalmente públicos, sendo acessados de forma restrita por grupos específicos de firmas. Este
ace
sso diferenciado se dá por diversos motivos, seja porque as firmas destes grupos seguem
determinadas estratégias, seja porque estão melhor localizadas dentro do
cluster
, ou
simplesmente, por serem mais preparadas e eficientes para apropriá
-
los.
Investigaç
ões preliminares realizadas no
Cluster
Vitivinícola da Região da Serra
Gaúcha demonstraram uma grande heterogeneidade de
performance
entre as firmas, sendo
também observada uma grande heterogeneidade nas dotações de recursos que estas firmas
possuíam
ou ac
essavam (
FENSTERSEIFER,
200
4
).
Compreender de que forma estes recursos, intra e extra-firma, influenciam as
diferenças de
performance
observadas, constitui o objetivo central desta pesquisa.
Tendo como base um processo de entrevistas estruturadas com executivos e
especialistas setoriais, investiga-se as inter-
relações
entre estratégias, recursos e
performance
em 54 empresas elaboradoras de vinhos finos instaladas na Serra Gaúcha. Como contribuição
teórica à área de estratégia, busca-se detalhar um esquema de classificação e um modelo de
análise de recursos estratégicos em
clusters
.
15
1.1
ÁREA TEMÁTICA E ANTECEDENTES
O tema maior em que se insere esta pesquisa é o estudo das estratégias empresariais.
Tendo não mais do que quatro décadas, esta é uma área relativamente nova, cujo início foi
marcado por uma sucessão de propostas e modelos conceituais amplos, orientados em sua
maioria para o planejamento empresarial de longo prazo. D
estacam
-se neste período os
estudos de Ansoff (
1965,
1967), Learned
et al.
(1969),
Ackoff (1970) e Andrews (1971), entre
vários outros que auxiliaram a estabelecer os marcos referenciais da área.
Atualmente,
a área de estratégia encontra-se em meio a uma importante mudança, e as
ciências econômicas desempenham um papel central neste pro
cesso
, auxiliando na
compreensão de questões críticas como a razão da existência das firmas
(COASE
, 1937
;
NORTH, 1990; WILLIAMSON, 1985; DEMSETZ, 1988
),
os seus mecanismos e processos
de crescimento (PENROSE, 1959; CHANDLER, 1962), a natureza do seu compor
tamento
competitivo (PORTER, 1980; 1985), evolutivo (
NELSON
;
WINTER, 19
82
; PAVITT, 1984;
HODGSON, 1998; FREEM
AN,
1982,
1991,
1992;
SAVIOT
TI; METCALFE, 1991; DOSI;
MALERBA; ORSENIGO, 1
994
), e inovativo (SCHUMPETER, 1934; LUNDVALL, 1988;
DOSI, 1988
;
METCALFE
, 1988
), como e por que diferem entre si (
NELSON, 1991
), e ainda,
qual a influência destas diferenças sobre a sua
performance
(BETTIS, 1981;
SCHMALENSEE, 1985; R
UMELT, 1991; VENKATR
AMAN
;
RAMANUJAM, 1
986
).
Cada uma destas questões representa uma linha de pesquisa à parte, com um extenso
conjunto de trabalhos a ser explorado. Entre todas, uma das mais desafiadoras é o estudo das
causas de variação de
performance
entre as firmas, pois relaciona-se à busca de explicações
para o próprio sucesso empresarial.
16
Co
m efeito, em mercados perfeitamente competitivos, como nos modelos econômicos
neoclássicos, todas as firmas chegariam no longo prazo à uma situação de simetria de
desempenho, e as eventuais diferenças não passariam de fenômenos transientes, logo
corrigidos
pelos mecanismos de mercado (
BRITO
;
VASCONCELLOS,
2004). Esta situação,
entretanto,
não é constatada na
realidade
, pois, na grande maioria das indústrias, as firmas
apresentam importantes
diferenças de
performance
entre si
.
Em um primeiro momento, a busca de explicações para estas variações centraram-
se
na análise do papel da estrutura da indústria sobre a conduta estratégica de cada firma,
assumindo
-se a premissa de que a
performance
era determinada predominantemente por
condições exógenas e não controláveis pelas firmas (BAIN, 1956, 1963; MASON, 1949;
PORTER, 1980; CAVES
;
PORTER, 1977; WARIN
G, 1996; SCHMALENSEE
, 1985
).
O pressuposto central deste enfoque, conhecido como
estrutura
-
conduta
-
desempenho
,
é de que as firmas e estratégias individuais tem um papel reduzido e um pequeno espaço de
manobra diante de fatores condicionantes mais fortes, como o contexto e as regras da
indústria em que estas participam.
Esta foi a base teórica de sustentação do modelo de forças competitivas proposto por
Porter (1980, 1985) que exerceu grande influência na área de
estratégi
a na década de
1980
.
Contudo, e
mbora
os trabalhos específicos deste autor tenham obtido projeção e
reconhecimento
, o paradigma original da
estrutura
-
conduta
-
desempenho
sempre foi alvo de
inúmeras críticas, dificultando o seu reconhecimento como teoria explicativa mais ampla para
a
performance
(
HAY
; MORRIS, 1991; HILL; DEEDS, 1996). Parte destas críticas deve-se à
escassez de evidências empíricas sobre os efeitos da estrutura da indústria sobre a
17
perform
ance
,
existindo apenas tentativas pontuais neste sentido (
MAURI
;
MICHA
ELS, 1988;
MCGAHAN, 1999; BRUSH
;
BROMILEY
; HENDRICKX,
1999)
.
Uma importante mudança de foco ocorreu a partir dos trabalhos de
Schmalensee
.(1985) e Rumelt (1991). Em um estudo com 1774 empresas de vários setores
industriais dos Estados Unidos, Schmalensee (1985) investigou diversas fontes de variação de
performance
entre as firmas, inclusive a estrutura da indústria. Entre os principais resultados
deste
estudo
ficou demonstrado que o fato de pertencer a uma “corporação” respondia por
uma parcela não significativa da variação de
performance
, a “indústria” à qual a firma
pertencia respondia por 19%, e a fatia de mercado detida pela firma respondia por apenas
0,62%. Contudo, como ponto frágil em sua análise, 80% da variação observada permaneceu
inexplicada.
Dando seqüência a esta linha de pesquisa, Rumelt.(1991), em uma ampliação do
trabalho de Schmalensee.(1985), analisou a mesma amostra com diferentes observações no
tempo, encontrando resultados de 0,80% para ao efeito corporação, 16,16% para o efeito
indústria e 46,37% para o efeito firma, restando uma variação de 36,67% devida a outros
fatores. Isto significa que, excetuando-se todas as outras fontes, 46,37% das variações de
performance
observadas eram devidas a fatores internos às firmas, e não à estrutura da
indústria.
Estas conclusões, posteriormente confirmadas por outros autores, como Roquebert
et
al.
(1996), McGahan e Porter (1997), Mauri e Michaels (1998) e Brito e Vasconcelos.
(2004)
,
alimentaram o interesse da comunidade acadêmica por uma série de propostas com foco nas
competências, capacitações e recursos das firmas, consubstanciadas na Visão da Firma
Baseada em Recursos
(VBR).
18
Esta abordagem, cujas bases vem sendo formuladas há algumas décadas, tem exercido
um papel de destaque no pensamento estratégico contemporâneo, com um expressivo
conjunto de trabalhos.
Mahoney (2001) por exemplo, analisou as similaridades e distinções entre a VBR e a
teoria econômica dos custos de transação. Alvarez e Buzenitz (2001) exploraram como a
VBR pode ampliar o estudo do empreendedorismo. Priem e Buttler (2001) exploraram os
desafios metodológicos no estudo da VBR introduzindo uma importante polêmica sobre o
papel da causalidade e da tautologia envolvida na definição dos recursos estratégicos.
Harrison, Hitt e Hoskisson (2001) e Wilk e Fensterseifer (2003b) exploraram as implicações
da complementariedade de recursos em aquisições e alianças estratégicas interfirmas.
Castanias e Helfat (1991) pesquisaram a relação entre recursos gerenciais e
performance
.
Por
fim,
Peng (2001) tratou das implicações da VBR para o estudo das companhias
multinacionais e estr
atégias em mercados emergentes.
Dentre todos estes focos, uma aplicação da VBR que apresenta proeminente produção
é a análise das estratégias de diversificação de negócios (
CRISTENSEN
;
MONTGOMERY,
1981; BETTIS, 1981; RUMELT, 1984; MONTGO
MERY
; WERNERFELT, 1988;
MARKIDES
;
WILLIAMSON, 1994; CH
ATTERJEE
;
WERNERFELT
, 1991
).
Em um
trabalho
referencial neste assunto, Rumelt (1984) demonstrou que as
estratégias de diversificação baseadas em negócios alinhados dentro do mesmo núcleo de
conhecimentos, tecnologias e habilidades apresentam desempenho superior àquelas em que a
empresa entra em áre
as de negócio não
-
re
lacionadas ou muito diversas.
19
Partindo desta
amplitude
de
trabalhos, co
mpreende
-se que a VBR representa um
a
abordagem
a ser ainda integrada em conversações sucessivas com vários outros campos de
pesquisa na área da estratégia (
MAHONEY
;
PANDIAN
,.1992).
Con
tudo, a análise da
literatura sobre aplicações em um contexto de
cluster,
objeto desta pesquisa, revela que são
poucas e tímidas as tentativas de ampliação desta teoria em uma fronteira mais ampla, com
algumas exceções.
A
lgumas
das primeiras citações de aplicação da VBR em
clusters
situam-se nos
trabalhos de Gabor (1991), Enright (1993), Harrison (1992, 1994), Foss (1996) e Lawson
(1999
).
Grande
parte destes trabalhos ressalta a importância de considerar-se os recursos
externos às firmas sob um enfoque est
ratégico,
sem no entanto, desenvolverem de forma mais
aprofundada a questão.
Uma iniciativa mais consistente deve-se a Hoffman (2002), que investigou 48
empresas situadas em
clusters
de produtos cerâmicos na Espanha e no Brasil, estudando as
relações entre os recursos “internos” e o desempenho das firmas. Entre diversos aspectos
avaliados, suas principais conclusões evidenciaram a importância das redes colaborativas no
acesso aos recursos relevantes para a competitividade.
Por fim, previamente
à presente
pesquisa, Wilk e Fensterseifer (2003
a
) desenvolveram
um primeiro esforço de identificação de recursos estratégicos no
Cluster
Vitivinícola da Serra
Gaúcha, utilizando uma abordagem baseada em mapas cognitivos.
Como principais resultados
deste trabalho fo
i
identificado
um conjunto de elementos diferenciais desta região
que
, sob a
ótica de recursos,
representam
potenciais
fontes
de vantagem
competitiva a serem exploradas.
20
1.2 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA E OBJETIVOS
Diante dos elementos apresentados, diversas questões podem ser identificadas como
focos de interesse para investigação. Dentre todas, aquela que esta pesquisa objetiva
responder com maior precisão é a seguinte:
Qual a influência dos diversos tipos de recursos presentes
no
Cluster
Vitivinícola da
Serra Gaú
cha
sobre a
performance
das firmas
ali instaladas
?
Para responder esta questão define-se o seguinte conjunto de objetivos orientativos do
esforço de pesquisa:
(1) Identificar e categorizar os recursos estratégicos do
Cluster
Vitivinícola da Serra
Gaúcha;
(
2) Identificar a influência destes recursos sobre a
performance
das firmas
locais
;
(3) Analisar a relação entre as diversas estratégias adotadas por estas firmas e o acesso
aos recursos
do
cluster
;
(4) Identificar o efeito dos
spillovers
sobre a
performanc
e
d
estas
firmas
;
(5) Analisar a influência da localização geográfica de uma firma dentro do
cluster
sobre
a
performance
;
(6
) Analisar a influência das parcerias de uma firma dentro do
cluster
sobre a
performance
.
21
1.3 RELEVÂNCIA
Considera
-se esta pesquisa relevante tanto por suas contribuições teóricas quanto
práticas.
No aspecto teórico, a primeira contribuição centra-se no aperfeiçoamento dos
estudos de variação de
performance
, através da introdução da perspectiva de
clusters
,
incluindo elementos como os
spillovers
e os recursos
extra
-
firma
. Inserindo-se esta
perspectiva, pode-se ampliar o entendimento sobre os fenômenos competitivos que ocorrem
entre as firmas em uma indústria e sobre o papel das regiões e conce
nt
rações geográficas
sobre
estes fenômenos.
A segunda contribuição teórica se no âmbito da abordagem VBR. Embora o
desenvolvimento de trabalhos empíricos neste tema seja crescente, ainda são poucos os que se
propõem a avançar na identificação dos recursos específicos de uma indústria, como aqui
se
propõe. Igualmente, a aplicação desta teoria em um contexto extra-firma representa uma
proposta ousada e desafiante, mas que pode se reverter em uma nova forma de pensar as
interações entre as firmas e as regiões onde estão inseridas.
Sob um ponto de vista prático, acredita-se que compreender o papel estratégico
desempenhado pelos vários tipos de recursos extra-firma em um cluster contribui para uma
maior eficácia na formulação de políticas públicas e privadas, lançan
do um novo olhar sobre o
papel dos re
cursos na promoção da competitividade das regiões.
Especificamente para o
Cluster
Vitivinícola da Serra Gaúcha, a utilidade é imediata,
uma vez que as
empresas ali instaladas enfrentam uma crescente concorrência internacional, e
também de outras regiões do país, e
necessitam
elaborar estratégias mais efetivas, apoiadas
nas vantagens diferenciais e recursos específicos d
esta
região.
22
1.4 ASPECTOS METODOLÓGICOS
Esta pesquisa caracteriza
-
se como um estudo empírico do tipo correlacional. Embora o
método predominante a ser adotado seja quantitativo-estatístico, o estudo aprofundado de um
cluster
de empresas implica na combinação de múltiplas fontes de informação e abordagens.
Partindo desta premissa, pode
-
se demarcar dois momentos ou etapas que foram seguidas
neste
trabalho: (a)
etapa exploratória
e (b)
pesquisa
descritiva.
A etapa exploratória teve como objetivo principal a identificação dos recursos
estratégicos do
cluster
. Para tanto, foram adotadas duas abordagens qualitativas: a observação
participante em programas setoriais e entrevistas em profundidade com especialistas. Os
resultados desta etapa por si configuram-se como uma importante aquisição, uma vez que
nenhum estudo sobre este
cluster
foi realizado até o momento com o grau de detalhamento
aqui
proposto.
A pesquisa descritiva, realizada na seqüência, teve por objetivo a investigação das
relações entre estratégias, recursos e
performance.
Com base nos recursos identificados na
etapa exploratória foram desenvolvidas as variáveis de investigação, que serviram de base
para a elaboração do questionário a ser aplicado às empresas. Os resultados finais foram
analisados através de técnicas estatísticas
multivariadas
.
Considerando
-
se
a necessidade de elaboração dos resultados da primeira etapa para
o
delin
ea
mento
d
as
variáveis aplicadas na segunda etapa, para fins de maior clareza e
seqüenciamento lógico na leitura, a pesquisa será apresentada em dois capítulos distintos,
cada um contendo os respectivos método
s
ou técnicas
e
os
resultados.
23
1.5 ESTRUTURA DO
TRABALHO
Os capítulos deste trabalho
estão
organizados da seguinte forma: nesta Introdução
aprofundou
-se o contexto da pesquisa, detalhando os trabalhos que a antecederam, a
relevância, os objetivos a serem atingidos e a
linha
metodológica adotada.
No
Cap
ítulo 2 é elaborada uma revisão da literatura, na qual exploram-se os
fundamentos, modelos e conceitos da
Visão da Firma Baseada em Recursos
e
de
Clusters
.
No
Capítulo
3
é
apresenta
do o modelo analítico proposto, detalhando
-
se as concepções
teóricas adota
das e as hipóteses de investigação.
No Capítulo 4 é
detalha
do o
cluster
em estudo,
apresentando
-
se
o seu contexto
histórico e geográfico, os dados de desempenho, os principais agentes e instituições e uma
breve análise crítica do contexto competitivo atu
al.
No Capítulo 5
detalha
-
se
a etapa exploratória, iniciando pelos passos metodológicos
adotados e, na seqüência, os recur
sos estratégicos identificados.
No Capítulo 6
,
apresenta
-
se
a pesquisa descritiva, detalhando as variáveis de
investigação, as técnic
as estatísticas adotadas e os resultados obtidos na pesquisa de campo.
No Capítulo
7,
discute
-se os resultados obtidos, resgatando uma série de questões
essenciais que motivaram a pesquisa.
No capítulo 8 são sintetizadas as contribuições, as sugestões para novas pesquisas e as
considerações finais.
Por fim, são apresentadas as referências bibliográficas, um glossário de termos
vitivinícolas utilizados ao longo do trabalho e
os
apêndices
contendo o questionário de
pesquisa
e lista de empresas pesquisadas
.
24
2 REVISÃO DA LITERATURA
Este capítulo apresenta os principais conceitos, construtos e lógicas econômicas da
Visão da Firma Baseada em Recursos e de
Clusters.
Ao final, sintetiza-se os elementos
teóricos sobre o quais se desenvolve a pesquisa.
2.1 VISÃO
DA FIRMA BASEADA EM RECURSOS
Uma das primeiras citações ao valor estratégico dos recursos pode ser encontrada nos
estudos de David Ricardo (1817), que destacavam em sua época os ganhos potenciais
advindos de
terras
de produtividade superior. Na lógica de Ricardo, quando uma terra de
produtividade superior é escassa em relação à demanda por seus serviços, terras menos
produtivas terminam por serem colocadas no processo, elevando os custos médios de
produção de uma forma geral. Neste contexto, aquele que possuir as terras mais produtivas
poderá apropriar um diferencial ao utilizá-las ou “arrendá-las” a terceiros.
Os
ganhos
derivados deste diferencial foram denominados Rendas da Terra, e sua lógica econômica
posteriomente denominada na literatura como
Renda
s Ricardianas.
As
Rendas Ricardianas, assim definidas, derivam da escassez de um recurso ou fator
produtivo em relação à demanda por seus serviços, de forma que um preço superior poderá
ser obtido através de seu uso, venda ou aluguel (
RICARDO,
1817
). A captura e a sustentação
sistemática de Rendas Ricardianas através do uso de recursos raros, escassos e de
produtividade superior, representa um dos pilares centrais da Visão da Firma Baseada em
Recursos
.
25
Embora a VBR seja
inspira
da
em parte
na
s idéias de Ricardo (1817), a
grande
referência contemporânea nesta abordagem é atribuída à economista Edith Penrose, cuja obra
propagou a idéia de que os recursos são o principal fator indutor e regulador do crescimento
das firmas. Em suas palavras:
“U
ma firma é mais do que uma unidade administrativa, ela é
também uma coleção de recursos produtivos, onde a escolha dos diferentes usos destes
recursos ao longo do tempo é determinada por uma decisão administrativa.
(
PENROSE,
1959
, p. 24).
Na concepção desta autora, as firmas crescem somente à medida que ganham
eficiência em suas atividades rotineiras, liberando tempo, atenção gerencial e recursos para a
busca de novos negócios. Suas
propostas
, embora originais, permaneceram em segundo p
lano
no cenário acadêmico até a década de 1980, quando uma série de trabalhos deu novo folêgo
ao tema iniciando a trajetória de destaque da VBR que se apresenta hoje. O primeiro destes
trabalhos deve-se à Wernerfelt (1984)
que
, em um artigo intitulado The Resource Based View
of the Firm, cunhou formalmente o termo. Na seqüência, Barney (
1986,
1989, 1991),
apresentou uma série de contribuições que extendem-se desde regras para caracterização e
análise do valor estratégico de recursos até reflexões importantes sobre o processo de
aquisição de recursos em condições de incerteza. Deste então, diversos trabalhos e autores
subseqüentes se agregaram a estas contribuições iniciais, consolidando a sua inserção da VBR
na área de estratégia.
Para compreender os seus fundamentos, três tópicos-chave serão desenvolvidos: (a) as
definições e categorias de recursos, (b) os conceitos associados à VBR presentes na literatura
estratégica; e (c) os condicionantes estratégicos de um recurso.
26
2.1.1 Definições e c
ategor
ias de r
ecursos
Sob um ponto de vista operacional, os recursos de uma empresa podem ser
classificados de diversas formas, de acordo com a função que desempenham e suas
características intrínsecas. No âmbito da VBR todavia, esta é considerada uma tarefa crítica
uma vez que os recursos mais valiosos e de interesse estratégico são freqüentemente aqueles
que apresentam maior dificuldade de observação (
GODFREY
;
HILL
,
1995
). Uma análise da
literatura neste tópico revela desde conceituações amplas até tentativas mais refinadas de
capturar os diversos elementos de uma atividade empresarial que podem ser compreendidos
como recursos.
Wernerfelt (1984, p.172) por exemplo, define um recurso como “Qualquer coisa que
possa ser pensada como uma força ou fraqueza de uma firma.” Para Barney (1991), os
recursos de uma firma consistem em todos os ativos tangíveis e intangíveis, humanos e não
humanos que são possuídos e controlados por uma firma que permitem que esta agregue valor
aos seus produtos e serviços. Para Penrose (1959, p.67) “Um recurso pode ser visto como um
conj
unto de possíveis serviços.”
Assim,
não são os recursos de uma forma estática que são
importantes mas sim, os serviços que eles prestam.
Barney (1991) e Penrose (1959) citam três categorias principais: recursos físicos,
recursos humanos e recursos organizacionais. Grant
(1991)
cita ainda os recursos
tecnológicos, financeiros e reputacionais. Complementarmente, Nelson e Winter (1982) e
Itami e Roehl (1987), incluem as rotinas organizacionais como recursos relevantes. Uma
forma mais simples e amplamente adotada para a classificação dos recursos consiste em
dividi
-
los em duas grandes categorias: recursos tangíveis e recursos intangíveis.
27
2.1.1.1
Recursos Tangíveis
Recursos tangíveis são todos aqueles que podem ser efetivamente observados e
medidos, ou seja, possuem uma natureza física e/ou mensurável. Conforme detalham
Hitt,
Ireland
e
Hoskinsso
n (2002), entre os recursos tangíveis incluem-se os recursos financeiros,
os equipamentos, os imóveis e instalações e as terras, entre outros. Com algumas exceções,
como
no caso de equipamentos altamente especializados, terras altamente produtivas ou com
localização superior por exemplo, os recursos tangíveis normalmente representam fatores que
podem ser copiados ou adquiridos no mercado e, desta forma, não se caracterizam como
fontes primárias de
performance
superior sustentável.
2.1.1.2
Recursos Intangíveis
Recursos intangíveis são aqueles que não possuem propriedades físicas e são de difícil
observação e principalmente, mensuração. Nesta categoria incluem-se as rotinas i
nternas,
aptidões e habilidades das pessoas na empresa, a sua cultura, os conhecimentos acumulados, a
capacidade de inovação, as patentes, a capacidade empreendedora, a imagem perante o
mercado e a sociedade em geral (embora este seja um recurso cada vez mais mensurável) e,
por fim, o capital de relacionamentos da firma, contemplando clientes, fornecedores
,
fontes de
tecnologia e fontes de financiamento, entre outros (WINTER, 1987; BARNEY, 1991, 2001;
GRANT, 1991; EISENHARDT; MARTIN, 2000). Em função de sua natureza, os recursos
intangíveis são difíceis de transferir, substituir ou desenvolver rapidamente, caracterizando-
se
como potenciais fontes de
assimetrias competitivas
entre as firmas.
28
2.1.2 Competências, capacitações e c
onceitos
a
ssociados
Uma série de conceitos associados à ideia de recursos tem sido utilizados para
expressar os fatores intra-firma que contribuem na geração de vantagens competitivas. Para o
entendimento mais amplo deste tema faz
-
se importante
explorar estes conceitos
.
Na área de
gestã
o
difunde
-se o conceito de core competences ou
competências
essenciais
”, proposto por Prahalad e Hamel (1990). Na definição destes autores, uma
core
competence
pode ser compreendida como uma complexa harmonização de habilidades e
tecnologias, definindo um núcleo de conhecimentos em que a empresa apresenta a sua maior
excelência
e, a partir do qual, pode adicionar valor em múltiplos produtos. A idéia central por
trás deste conceito está em entender que cada empresa deve buscar identificar as áreas de
domíni
o de conhecimento em que se destaca em relação aos seus concorrentes (HAMEL e
HEENE, 1994)
.
De forma
complementar
às competências, muitos autores utilizam o termo
core
capabilities
ou
capacitações centrais
”, para definir áreas de atividade interna que dã
o suporte
aos esforços competitivos das firmas (
HAMILTON
; SINGH, 1992; COLLIS, 1994
;
SNOW
;
HREBINIAK,
1980
;
STALK; EVANS; SHULMAN, 1992
).
As
capacitações
distingüem-
se
das
core competences no sentido em que referem-
se
geralmente a elementos mais
operaciona
is
, relacionados diretamente com as atividades da
empresas
. Nesta linha de
pensamento, Selznick (1957) utilizou o termo capacitações distintivas para expressar
atividades em que uma empresa se diferencia de seus pares. Alguns autores utilizam
ainda
o
term
o
ativos estratégicos para definir qualquer elemento interno de uma firma que exerça um
papel relevante em seus esforços competitivos (
AMIT
;
SCHOEMAKER, 1993
).
29
Teece, Pisano e Shuen (1997) cunharam o termo capacitações dinâmicas, definido-
as
como a capacidade das firmas de reconfigurarem o seu conjunto de recursos diante das
mu
danças no ambiente competitivo. Em uma lógica similar, Wilk e Fensterseifer (
2002
,
2003
b) exploraram os processos competitivos que oco
rrem
ex
-
ante
ao estabelecimento dos
mercados efetivos nos quais os recursos serão úteis. Uma das idéias centrais desenvolvida
nestes trabalhos é que, para uma firma desenvolver ou adquirir recursos estratégicos em
condição de vantagem em relação aos concorrentes, deve ter capacidades superiores de
iden
tificação, apropriação e controle destes recursos. Na presente pesquisa, estas ca
pacidades
serão referidas como
capacitações preemptivas
.
Essencialmente, todos os termos buscam capturar distintas expressões dos recursos
internos de uma organização, contribuindo para o enriquecimento da terminologia da VBR. A
Figura 1 busca sintetizar estas contribuições
delineando
suas relações.
Figura
1-
Hierarquia de Recursos
Fonte
:
Adaptado de
PRAEST
,
1998
,
p.6
.
Capacitações
Dinâmicas e
Preemptivas
Recursos
Financeiros
Ativos Tangíveis
Equipamentos
Imóveis
Terras
Recursos da Firma
Competências
(core competences)
Capacitações
(core capabilities)
Exper
iências,
Habilidades
Capacidade de
aprendizado
Rotinas
Organizacionais
Recursos Físicos
ou Mensuráveis
Patentes, Marcas,
Relacionamentos, Imagem
Ativos Intangíveis
30
No esquema proposto, pode-se entender as core competences como uma agregação
maior de uma série de capacitações e habilidades.
As
core competences buscam expressar o
talento maior de uma empresa e as
capacitações
, por sua vez, revelam
-
se mais adequad
as para
expressar aspectos de natureza operacional (
AMIT
; SCHOEMAKER, 1993; COLLIS, 1994
).
Os conceitos de ativos tangíveis e intangíveis por sua vez, buscam capturar expressar a idéia
de posse de um conjunto de capacitações, competências e habilidades de
uma firma.
Enquanto estes conceitos são mais presentes na literatura em
gestão,
o conceito de
recursos é usado na literatura econômica de uma forma mais ampla e genérica, abrangendo
todas estas expressões e por isto, consta no topo da hierarquia proposta.
A partir destas definições, aprofunda-se a seguir um segundo ponto importante, que é
a identificação dos atributos que
caracterizam
a condição
estratégic
a
de um recurso.
2.1.3 Atributos e
stratégicos
A idéia de sustentação de desempenho superior a partir de recursos está diretamente
associada à condição de que estes recursos possam ser protegidos da concorrência, criando
assimetrias competitivas para as firmas que os possuem (
FOSS,
1997
).
A análise da literatura visando identificar os vários tipos de
mecan
ismos que
dificult
am este acesso aos concorrentes conduz a uma ampla lista de conceitos, mas todos
com uma forte superposição de idéias. Barney (1991) propôs que um recurso estratégico deve
ter uma combinação de quatro atributos: valor, raridade, inimitabilidade e capacidade de
apropriação pela organização.
31
De uma forma bastante ampla, Wernerfelt (1984) afirma que os recursos valiosos são
aqueles para os quais podem ser erguidas barreiras ou defesas contra ao acesso dos
competidores.
Peteraf (1993) em um marco organizativo na área, buscou sintetizar estas diversas
visões em quatro macro-
condicionantes:
condição de heterogeneidade
,
limites à competição
ex
-
ante
,
limites à competição ex
-
post
e
imperfeita mobilidade
, ilustra
dos na
Figura 2.
Figura
2 -
Modelo Analítico d
e
Peteraf
Fonte:
PETERAF
, 1993, p.
186
.
2.1.3.1 Condição de h
eterogeneidade
De acordo com Peteraf (1993), a
heterogeneidade
em uma indústria envolve situações
em que a presença de recursos estratégicos é limitada em quantidade e, ao mesmo tempo,
escassa em relação à demanda. Nesta condição, as empresas com recursos superiores mas
escassos
, podem acessar menores custos médios do que as demais empresas; não podem, no
LIMITES À
COMPETIÇÃO
EX
POST
LIMITES À
COMPETIÇÃO
EX
ANTE
HETEROGENEIDADE
MOBILIDADE
IMPERFEITA
VANTAGEM
COMPETITIVA
SUPERADAS
PELOS CUSTOS
RENDAS
SUSTENTADAS
RENDAS
RICARDIANAS
RENDAS
MANTIDAS
DENTRO
DA
EMPRESA
32
entanto, expandir rapidamente a sua produção, mesmo que os preços pagos pelo mercado
sejam muito altos. Os preços altos, por sua vez, induzem empresas menos eficientes a
entrarem no mercado. Por fim, ao atingir-se o equilíbrio entre demanda e oferta e uma
normalização de preços, estas empresas menos eficientes terão seus ganhos rebaixados e as
empresas de baixo custo podem colher rendimentos acima da média (Rendas Ricardianas)
utilizando os seus
recursos superiores
.
2.1.3.2 Limites à c
ompetição
ex
-a
nte
A existência de limites à competição
ex
-
ante
implica em que, anteriormente a uma
empresa estabelecer uma posição superior em recursos, deve existir uma competição limitada
por esta posição. Na visão de Peteraf (1993), uma posição em recursos pode ser uma fonte
de lucros acima da média se uma empresa tiver a chance de adquiri-los em ausência de
competição. O valor dos recursos não pode ser de conhecimento de todos os competidores
antes de sua aquisição, pois isto geraria competição, elevação de preços e uma conseqüente
erosão dos possíveis lucros no processo de concorrência pela aquisição dos mesmos. Neste
raciocínio, os lucros provêm da incerteza ou de assimetrias de informação na fase inicial do
processo que permitem que o
s
ganhos não sejam superados pelos custos.
2.1.3.3 Limites à c
ompetição
ex
-p
ost
A necessidade de limites à competição
ex
-
post
implica em que, após uma empresa
adquirir uma posição de vantagem através de um conjunto de recursos heterogêneos em
relação aos seus concorrentes, devem existir fatores que permitam a durabilidade desta
heterogen
eidade, de forma a preservar-se a posição superior adquirida. Rumelt (1987)
denomina estes fatores como mecanismos de isolamento argumentando que, ao atuarem como
barreiras à concorrência, permitem a criação de assimetrias duráveis entre as firmas
.
33
Entre
os diversos mecanismos citados
,
encontram
-se a imperfeita imitabilidade e
imperfeita substituição de um recurso (BARNEY, 1989, 1991; PETERAF, 1993), a
ambigüidade causal e a
não
-codificação do conhecimento (
NELSON
;
WINTER, 1982;
LIPPMAN
;
RUMELT, 1982; REED; DEFILLIPPI, 1990), as dependências de caminho,
eficiências de escala em ativos e interconexão entre estoques de ativos (
DIERICKX
;
COOL,
1989
), e a presença de deseconomias de compressão de tempo (SCHERER, 1967;
MANSFIELD,
1968
).
A
imperfeita imitabilidade significa que o recurso tem uma condição única, e que
todas as cópias serão de menor valor e a imperfeita substituição significa que o recurso não
poderá ser trocado por outro sem uma perd
er
valor
(BARNEY,1991
).
Por sua vez, a ambigüidade causal está presente quando os próprios competidores não
conseguem identificar qual é o recurso valioso. Do mesmo modo que a
não
-codificação do
conhecimento
ou as rotinas organizacionais tácitas, a ambigüidade causal implica na
dificuldade de rastrear, a partir de uma posição competitiva, qual o recurso que sustenta
aquela posição. Neste tipo de mecanismo, as idiossincrasias do processo de aprendizado e a
informação imperfeita sobre onde está a vantagem, ou sobre quais as suas fontes, antes de
representarem um problema,
revelam
-se uma condição desejável perante os concorrentes
(
REED
;
DEFILLIPPI,
1990
).
Por sua vez, uma dependência de caminho significa que um recurso ou ativo foi
desenvolvido e acumulado em um processo ao longo do tempo ou de uma seqüência de
eventos históricos e etapas de aprendizado, envolvendo acertos e erros. Esta condição
significa que um concorrente em potencial teria que replicar e percorrer o mesmo caminho
para chegar a uma mesma posição em termos de recursos.
34
Como colocam Dierickx e Cool
(1989,
p.
1506)
recursos
dependentes de caminho
“S
ão
ativos estratégicos acumulados lentamente, através da adesão a um conjunto consistente de
políticas e estratégias ao longo do tempo.” Elementos tais como a reputação da empresa no
mercado ou a posse de uma marca de sucesso exemplificam ativos com dependência de
caminho
, que não podem ser imitados rapidamente pelos competidores, mesmo diante de
grandes investimentos (
TEECE;
PISANO
;
SHUEN,
1
997;
LIEBERMAN
; MONTGOMERY,
1988; DIERICKX
;
COOL, 1989
).
Os
ganhos de escala em ativos são vantagens de eficiência derivadas da acumulação
de recursos que não são possíveis àquelas firmas que os utilizam em menores volumes.
Complementarmente, as interconexões entre estoques de ativos são ganhos possíveis quando
o uso combinado dos vários tipos de recursos de uma firma proporciona efeitos sinérgicos,
não acessíveis quando de sua utilização individual (
DIERICKX
;
COOL, 1989
).
Por fim, de forma similar às dependências de caminho, as deseconomias de
compressão de tempo são descritas como retornos decrescentes que ocorrem quando se
acelera o tempo necessário para desenvolvimento de um recurso ou acumulação de um ativo
estratégico
(
MANSFIELD
,
1968).
Nesta lógica, uma empresa atuando em um mercado competitivo poderia acelerar o
desenvo
lvimento de um novo produto adquirindo uma patente ou um pacote tecnológico, mas
os custos de aquisição poderiam ser sensivelmente mais elevados do que o desenvolvimento
interno em um horizonte de tempo mais longo.
35
2.1.3.4 Imperfeita m
obilidade
A
imperfeit
a mobilidade é uma condição em que, embora um recurso possa ser
negociado, ele é muito mais valioso na empresa em que atualmente é empregado do que
poderia ser em outra. Os recursos são imperfeitamente móveis quando, de alguma maneira,
possuem características especializadas que os tornam adaptados exclusivamente para as
necessidades da empresa que os possui (
REED
;
DEFILLIPPI, 1990). Outra fonte
de
mobilidade imperfeita de um recurso ocorre quando estes produzem valor se utilizados em
conjunto com os outros recursos da firma, sendo denominados neste caso de ativos
co
-
especializados
(
TEECE, 1986, 1987; B
LACK
;
BOAL,1994
).
Podem também ocorrer situações de dificuldade de transferência, nas quais um recurso
não pode ser utilizado com igual eficiência em outro ambiente ou os custos de transferência
são excessivamente elevados em relação ao seu valor (
RUMELT, 1984)
.
Nesta mesma linha de pensamento, existem situações em que os recursos estão
configurados de tal forma que se torna difícil, tanto para o vendedor qu
anto para o comprador,
analisá
-los e determinar o seu valor individual. Estas assimetrias de informação fazem com
que um provável comprador não tenha acesso a uma avaliação substantiva destes recursos,
dificultando, portanto, a sua negociação (
BARNEY, 1991
).
A consideração dos fatores e atributos condicionantes descritos acima, embora não
seja exaustiva, revela critérios fundamentais para a análise dos recursos de uma firma,
sinalizando o caminho para a identificação daqueles que possuem valor estratégico.
Ao
mesmo tempo, esta análise pode dar acesso a uma visão mais profunda do potencial de
geração de vantagens
a partir de recursos
em
clusters
, como discute
-
se subseqüentemente.
36
2.2 CLUSTERS
A idéia de que as concentrações geográficas de firmas produzem ambientes favoráveis
ao desenvolvimento econômico e competitivo apareceu na literatura de forma mais
consistente no século XIX, mais precisamente nos trabalhos d
e
Alfred Marshall
(1890, 1919).
Ao estudar concentrações industriais nas cidades de Manchester e Sheffield na
Inglaterra,
Marshall
(1890) concluiu que o desenvolvimento destas áreas, por ele
denominadas como "distritos industriais”, é induzido por uma série de externalidades ou
economias externas positivas, derivadas da proximidade entre firmas, fatores de produção e
sociedade.
Estas “economias de aglomeração”, das quais as firmas individuais podem se
beneficiar, são possíveis em função da especialização crescente da mão de obra, da facilitação
do acesso a fornecedores de matérias-primas, componentes e serviços, como também, da
trasmissão mais eficiente de conhecimentos entre os agentes em relação a regiões mais
dispersas. Nas palavras de Marshall (1890, p. 234), existe nos distritos industriais uma
“atmosfera industrial” que cria o meio adequado à boa
difusão de idéias entre os agentes:
São tais as vantagens que as pessoas que seguem uma mesma profissão
especializada obtêm de uma vizinhança próxima, que desde que uma indústria
escolha uma localidade para se fixar, permanece por longo espaço de tempo. Os
segredos da profissão deixam de ser segredos, e, por assim dizer, ficam soltos no ar,
de modo que as crianças absorvem inconscientemente grande número deles.
Aprecia
-se devidamente um trabalho bem feito, discutem-se imediatamente os
méritos de inventos e melhorias na maquinaria, nos métodos e na organização geral
da empresa. Se uma lança uma idéia nova, ela é imediatamente adotada por outros,
que a combinam com sugestões próprias e, assim, essa idéia se torna uma fonte de
outras idéias novas. Acabam por surgir, nas proximidades desse local, atividades
subsidiárias que fornecem à indústria principal instrumentos e matérias-
primas,
organizam seu comércio e, por muitos meios, lhe proporcionam economia de
material.
37
Em sua formulação original, o distrito m
arshalliano
é uma região em que a estrutura
de negócios é formada por pequenas firmas locais, que realizam investimentos e decisões de
produção localmente. Uma substancial quantidade de negócios é transacionada dentro do
distrito, muitas vezes, estimulando contratos de longo prazo. Acessando novas idéias, os
agentes econômicos se encarregam de aperfeiçoá-las e gerar novos conhecimentos em uma
base incremental, que contribui para o desenvolvimento do distrito e para uma transformação
nas possibilidades de produção das firmas. Como argumenta Giuliani
(2002,
p. 3), “N
este
contexto, o conhecimento adquire a característica de um bem público, difundido através de
spillovers
ou
externalidades
.
Seguindo
-se aos estudos de Marshall (1890), faz-se importante notar que alguma
atenção adicional foi dada ao problema da localização das firmas nos trabalhos de Weber
(1909),
Christaller (1933), Pérroux (19
77
), Harris (1954), Myrdal (19
60
) e Hirschman (19
61
)
mas, após isto, o foco da teoria econômica voltou-se durante um longo período para
outros
temas
no
s
níve
is
micro e macro-
econômico.
Nos anos 1980 e 1990, diversas pesquisas sobre aglomerações industriais em várias
regiões do mundo estimularam um resgate progressivo das idéias de Alfred Marshall e uma
sistemática renovação no estudo deste tema. Destacam-se neste período os estudos de Piore e
Sabel (1984), Bellandi (1982, 1996), Brusco (1982), Becattini (1987, 1990, 1991), Sforzi
(1989), Sabel et al. (1989), Dei Ottati (1991), Becattini e Rullani (1993, 1996),
Rabel
l
otti
(19
95),
Porter (1990, 1998a, 199
8b
), Amin e Thrift (1994), Krugman (1991, 1996, 2000
),
Herrigel (1993), Paniccia (1998), Enright (1998) e Scott (198
2
, 198
3
, 1998
), entre
outros
.
Em uma das contribuições mais relevantes ao tema, Becatinni (1990, 1991) através
de
uma série de pesquisas sobre distritos industriais na Itália, extendeu a análise dos efeitos
38
puramente econômicos das aglomerações para uma perspectiva mais ampla, incluindo
aspectos sociais, culturais e institucionais como fundamentos do crescimento industrial local.
Suas propostas reforçam a dimensão socio-territorial, introduzindo a idéia de
embeddedness
como elemento chave para a compreensão dos distritos industriais.
O termo
embeddedness
, que pode-se traduzir livremente como “inserção”, expressa a
idéia de interdependência que ocorre entre os diversos atores em um distrito industrial. Esta
idéia é a base de uma concepção moderna dos distritos, também denominada como
neo
-
marshalliana
, na qual, firmas, sociedade e instituições são visualizados como en
tidades
fortemente enraizadas no território, constituindo um espaço de organização econômico
-
social
-
político onde as pessoas vivem, convivem e trabalham de forma muito próxima
(
GRANOVETTER, 1985; B
ECATTINI, 1991; COOK
E;
MORGAN, 1998
).
Uma segunda contribuição importante deve-se a Porter (1990, 1998
a,
19
9
8b
), que
conduziu estudos de competitividade em vários países e indústrias, buscando mapear os
fatores que influenciam a capacidade competitiva das nações. Com base nestes estudos, o
autor propôs um modelo d
e análise no qual a competitividade de uma nação em um dado setor
industrial é dependente de quatro fatores: rivalidade entre as firmas, sofisticação dos
mercados locais, existência de indústrias e serviços de suporte, adequação dos fatores de
produção e apoio governamental e institucional. Dada a projeção de Porter (1990) no meio
governamental e de gestão, suas propostas
contribuíram
para dar popularidade ao tema de
aglomerações
industriais, tratadas
por este autor
sob a denominação de
clusters
.
Nas palavras de Porter (1998a, p.197) um
cluster
pode ser definido como “U
ma
concentração geográfica de empresas interconectadas, fornecedores especializados,
provedores de serviços, firmas em indústrias relacionadas, instituições, (por exemplo
39
universidades, agências padronizadoras, associações comerciais) em um campo particular,
que competem, mas também cooperam
.
Em uma definição alternativa, Haddad (1999, p.24) descreve os
clusters
como
“Indústrias e instituições que possuem ligações particularmente fortes entre si, tanto
horizontalmente quanto verticalmente e, usualmente, incluem empresas de produção
especializada, empresas fornecedoras, empresas prestadoras de serviços, instituições de
pesquisa, instituições públicas e privadas de suporte
.”
No Brasil é corrente o uso do termo Arranjo Produtivo Local (APL), o qual tem um
sentido muito similar ao de
cluster
:
“Arranjos Produtivos Locais são aglomerações
territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais com foco em um conjunto específico
de
atividades econ
ômicas
que apresentam vínculos mesmo que incipientes.” (
ALBAGLI
;
BRITO, 2002
, p.3). Da mesma forma que os
clusters
, os APLs
envolvem
a proximidade
entre
empresas, fornecedores de insumos e equipamentos, prestadoras de serviços, mercados locais,
entidades
de representação e associativas, escolas, universidades; instituições de pesquisa e
desenvolvimento; representações políticas e entidades de promoção e financiamento
.
À parte de freqüentes discussões semânticas em torno das diferenças entre os
conceitos
de
clusters
, distritos industriais e APLs, em essência, todos têm como elemento
comum a idéia de que as aglomerações afetam a produtividade das firmas, e desta forma,
podem vir a incrementar a
performance
econômica de uma região (
HENDERSON,
1986;
BEESON, 1987; SAXENIAN, 1994, 1999; CHANDLER; HAGSTRÖM; SÖLVELL,
1998;
HILL
; BRENNAN, 2000;
MARTIN
; SUNLEY, 2003). Partindo desta introdução ao tema, a
seção seguinte apresenta uma revisão das principais idéias e teorias que m dominado o
estudo de
clusters
nas úl
timas décadas.
40
2.2.1 Principais aportes t
eóricos
O estudo de
clusters
tem se caracterizado como um tema multifacetado, que envolve
uma confluência de diversas escolas de pensamento. Como argumenta Paniccia (2002), não
existe algo que se poderia denominar como uma “teoria específica” de
clusters
,
mas sim
, uma
série de abordagens de apoio ao estudo deste fenômeno. Como ilustra a Figura 3, neste
amálgama de teorias e abordagens entram elementos da economia da inovação, geografia
econômica, economia das organizações e do
mainstream
econômico, entre outros. Cada um
fornece uma contribuição parcial à compreensão de como, e porque, desenvolvem-se as
aglomerações industriais, como discute
-
se a seguir.
Figura
3 -
Abordagens Re
levantes ao Estudo de Clusters
Fonte: adaptado de
DAHL
,
2001, p.15 e
PERDERSEN
, 2001
.
Economia da
Inovação
Geografia
Econômica
Economia das
Organizações
Mainstream
Econômico
Teoria do
Crescimento
Endógeno
New
Trade Theory
Teoria da Localização
Sistemas Nacionais de Inovação
Distritos Neo
Marshallianos
Nova Econom
ia
Institucional
Visão da Firma
Baseada em Recursos
Nova Geografia
Econômica
Spillovers
Tecnológicos
Spillovers de
Conhecimento
Localizados
Abordagem de
Clusters de Porter
Desenvolvimento
Regional
Economia Evolucionária
Paradigmas e Trajetórias
T
ecnológicas
41
2.2.1.1
Mainstream
e
conômico
Como autores associados ao
mainstream
econômico
1
, além de Marshall (1890),
destacam
-se Weber (1909), Christaller (1933), Lösch (1940), e mais recentemente, Romer
(1986, 1990, 1994) e Lucas (1988), entre vários outros que abordaram o tema. Embora
autores anteriores, como Cantillon (1755), tratassem da importância da questão espacial,
Marshall (1890) é considerado a referência “canônica” neste tema uma vez que visualizou,
muito à frente de seu tempo, elementos como o conhecimento, as redes de relacionamentos e
outros fatores intangíveis como componentes de um sistema econômico, propondo uma lógica
de pensamento que só recentemente veio a ter seu valor reconhecido.
Weber (1909), Christaller (1933) e Lösch (1940) estudaram a questão de localização
das firmas (teoria da localização) sob um enfoque de otimização dos custos de três fatores:
produção, trabalho e
transporte
. Embora estes autores não focalizem especificamente os
distritos industriais, consideram os custos de transporte como elementos centrais em seus
modelos. Uma vez que os custos de transporte estão relacionados ao fator geográfico, as
decisões das firmas individuais de um mesmo segmento podem convergir em última análise,
para a instalação em locais adjacentes, induzindo a formação de aglomerados.
Trabalhando em um segundo tópico de interesse, a teoria do crescimento endóge
no
2
,
Romer (
1986) desenvolveu um modelo para a compreensão dos
retornos crescentes de escala
,
revolucionando as teorias tradicionais de crescimento econômico (
SOLOW
, 1956, 1957
,
1988
).
1
Mainstream
econômico é um termo utilizado para definir a linha de pensamento e autores mais ortodox
os da economia..
2
A idéia de crescimento endógeno e retornos crescentes de escala já é tratada nos trabalhos de Smith (1776), Ricardo (1817),
Cournot (1838), Young (1928), Kaldor e Mirrlees (1962) e Arrow (1962), mas ainda não equacionada de forma satisf
atória
como em Romer (1986), a quem é atribuído o crédito pela modelagem mais consistente neste tema.
42
Este modelo busca explicar porque determinados países (e por ex
tensão
, regiões)
apresentam taxas de crescimento sustentadas ao longo do tempo. Diferentemente do modelo
neoclássico de crescimento, no qual o conhecimento e a tecnologia são variáveis externas e,
lida
-se com a premissa de retornos descrescentes dos fatores, no modelo proposto por Romer
(1986)
, as organizações produtivas são também organizações que aprendem, a geração de
conhecimentos é endógena e suas aplicações acumulam-se ampliando as possibilidades
produtivas das firmas. Esta teoria revela-se extremamente útil para a compreensão da
dinâmica de crescimento econômico das regiões e de
clusters
e inspirou uma série de
proposições desenvolvidas subseqüentemente por Krugman (2000), aperfeiçoando a teoria de
comércio internacional (New Trade Theory) e iniciando um movimento de renovação no
âmbito da
Geografia Econômica.
2.2.1.2 G
eografia e
conômica
A segunda grande área que contribui com o estudo de
clusters
é a Geografia
Econômica, na qual pode-
se
destacar os trabalhos de Bunge (1962), Piore e Sabel (1984),
Massey (1984), Barnes (2000), Cooke e Morgan (1998), Scott (1998); Baptista (1998),
Malberg e Maskell (2002), Martin e Sunley (2003), Fujita (1999)
,
e
Fujita
,
Krugman
e
Venables (
1999
)
e
Fujita e T
h
isse (2002),
entre outros
.
O foco da geografia econômica centra-se em descrever e explanar os fatores que
influenciam as decisões de localização, abordando questões como as relações entre produção
e mercado, rotação de mão de obra, logística e atratividade de regiões, mas também, de uma
forma subjacente, observando os mecanismos de difusão de conhecimentos facilitados pela
proximidade
geográfica.
43
Após um período de estagnação produtiva, esta área passou por uma renovação
conceitual e teórica a partir de contribuições de
Fujita
,
Krugman
e Venables (
1999
),
considerados os grandes arquitetos da corrente conhecida como
Nova Geografia Econ
ômica
.
Esta corrente incorpora avanços no tratamento da localização das firmas, modelando
de forma mais eficiente uma série de fatores microeconômicos de aglomeração. No modelo
proposto por estes autores, como coloca Suzigan (2000), existe um binômio de forças
“centrípetas” e “centrífugas” de aglomeração que atuam dinâmicamente estimulando ou
repelindo a aglomeração espacial-econômica. Entre as forças centrípetas estão a densidade de
relações com mercados locais, os retornos crescentes de escala e as trocas de conhecimentos
tecnológicos. Por sua vez, entre as forças centrífugas, estão os custos de congestionamentos,
saturação de mercados, elevação de custos de fatores de produção, poluição e outras
externalidades negativas, que induzem à dispersão das atividades. Em síntese, o grande papel
destas contribuições consistiu
na
revitaliza
ção do debate
na
área, estimulando o interesse pelo
tema de aglomerações.
2.2.1.3 Economia da i
novação
Destacam
-se na área de Economia da Inovação os trabalhos referenciais de
Sch
umpeter (1934), Nelson e Winter (1974, 1977,
1982
), Dosi (1988), Lundvall (1985,
1992,
2004
),
Freeman (
1982
, 1987,
2004
),
Camagni (1991), Pavitt (1998), Malerba e Orsenigo
(1993), Andersen (1996), Breschi e Malerba
(1997)
, Jaffe (1986, 2000)
,
Jaffe
e
Trajt
enberg
(1999)
e Malerba (2005)
,
entre outros.
Grande parte destes autores relaciona a inovação com a proximidade e concentração
das firmas
,
principalmente como resultado dos extravasamentos de conhecimentos
44
tecnológicos. Estes extravasamentos contribuem para o desenvolvimento de
capacitações
localizadas,
que podem ser compreendidas como a capacidade de um ambiente de estabelecer
bases que promovam localmente processos coletivos de aprendizagem (DAVIES, 1979;
BATHELT
;
MALMBERG
; MASKELL, 2002
).
Todavia, embora a proximidade estimule as trocas, nem todas as empresas em um
cluster
ingressam nestes processos de aprendizado, existindo outros fatores intervenientes,
como
,
por exemplo, a capacidade de absorção e a lógica dominante da firma (PRAHALAD;
BETTIS
,
1986;
LANE
;
LUBATKIN
,
1998).
A
capacidade de absorção, como definem Cohen e Levinthal (1990), é a capacidade
que uma firma tem de reconhecer, assimilar e aplicar novos conhecimentos externos,
incorporando
-
os em suas estratégias e em sua base prévia de conhecime
ntos.
A
lógica dominante é definida por Prahalad e
Bettis
(1986) como a estrutura cognitiva
e os padrões de decisão estratégica incorporados em uma firma ao longo do tempo, a partir
dos quais esta confronta as mudanças no ambiente de negócios. Em uma concepção simples,
estes conceitos representam a maneira de pensar e decidir de uma firma, consubstanciada em
seus gestores
.
Complementarmente, os conceitos de
paradigmas
,
trajetórias
e regimes tecnológico
s
associados a Dosi (1982), Nelson e Winter (1977) e Malerba e Orsenigo (
1993,
199
7), entre
outros, representam uma contribuição importante, identificando fatores que podem auxiliar a
explicar as diferenças de
performance
entre as firmas em um
cluster
.
A idéia subjacente a
estes
conceitos é de que a evolução tecnológica é marcada por vários caminhos de
desenvolvimento que interagem em um processo seletivo até que um paradigma se imponha
sobre os demais
, tornando custosa a adoção de tecnologias fora do padrão estabelecido
.
45
Uma vez que estes mecanismos seletivos são influenciados pelos modelos mentais dos
diversos agentes de um setor, os resultados podem
ser
tanto
positivos,
estimul
ando
o
progresso técnico,
quanto
negativos, bloqueando investimentos em
trajetórias
com as quais
estes agentes não estejam ambientados, mesmo que estas sejam superiores
.
Neste sentido,
muitas vezes a evolução tecnológica se d
ará
em uma direção que nem sempre é a melhor em
termos de progresso técnico atuando como um limitante à competitividade.
Por fim, Lundvall (
1992
), trabalhando o conceito de Sistemas Nacionais de Inovação
detalha a importância de uma superestrutura de geração de conhecimentos que se estenda
além das firmas individuais, introduzindo uma lógica que ajusta-se ao papel das instituições
de pesquisa situadas em
clusters.
2.
2.1.4 Economia das o
rganizações
No âmbito da Economia das Organizações, diversos conceitos desenvolvidos
contribuem
ao estudo dos aglomerados de firmas. Trabalhos baseados em recortes analíticos
na linha de cadeias produtivas por exemplo, ao analisarem as interações entre as firmas,
fatores de produção e mercado estimulam uma visão sistêmica dos sistemas produtivos,
necessária ao estudo de
clusters
(
DAVIS
;
GOLDBERG
, 1957).
A abordagem da Nova Economia Institucional e a Teoria dos Custos de Transação
fornec
em elementos para a análise das relações inter-firmas equacionando
questões
-
chave
como confiança, oportunismo, freqüência de transações e a especificidade de ativos, entre
outros.
Quando as firmas e seus fornecedores encontram-se co-localizados geografica
mente,
o oportunismo é de certa forma desestimulado diante das desvantagens de ser excluído das
relações do
cluster
.
46
Este mecanismo termina por se refletir em maior competitividade, na medida em que
reduz os custos das transações e, conseqüentemente, dos produtos finais (COASE, 1937;
WILLIAMSON,
1975, 1985
)
.
Por
sua vez, os trabalhos de Porter (1990) e a literatura em VBR, referidos, trazem
importantes modelos para o entendimento dos fenômenos competitivos que permeiam as
aglomerações industriais.
2.2.2
Spillovers
de c
onhecimento em
c
lusters
Na base do conceito de
cluster
reside
a idéia de que a proximidade gera uma série de
externalidades que beneficiam a competitividade e inovação das firmas co-
localizadas
(
MARSHALL
,
1890).
Conceitualmente, as externalidades podem ser entendidas como efeitos econômicos
indiretos, positivos e negativos, cujos custos não são cobertos pelos mecanismos de mercado
(
NICHOLSON
, 1995). Estes efeitos existem, em maior ou menor magnitude, em todas as
áreas de atividade, e são considerados hoje um componente importante das equações que
buscam explicar o desenvolvimento econômico das firmas, regiões e países.
Entre os vários tipos de externalidades, uma das mais relevantes ao estudo de
clusters
são as externalidades associadas ao conhecimento tecnológico, também referidas na literatura
como
spillovers
de conhecimento ou transbordamentos tecnológicos. A maioria dos estudos
neste tópico tem discriminado entre os
spillovers
estáticos, que geram vantagens de
produtividade e custos mais imediatos, e os
spillovers
dinâmicos, associados à acumulação e
compartilhamento de conhecimentos e tecnologias.
47
Como colocam Carlaw e Lipsey (2002),
os
spillovers
estáticos podem ser entendidos
como aqueles que produzem um efeito c
onstant
e e pontual, como por exemplo, o acesso
privilegiado a informações sobre o mercado, sem no entanto, produzirem nenhuma
transformação irreversível nas firmas que os recebem, nem gerarem crescimento econômico.
Os
spillovers
dinâmicos, por sua vez, são aqueles que produzem
efeitos
transformadores e cumulativos sobre as firmas e sobre suas possibilidades produtivas,
potencializando o crescimento econômico. Uma vez difundidos, são geradas mudanças
tecnológicas em todos os agentes, e o valor da base de conhecimentos de um
clust
er
pode ser
incrementado ou mesmo, novas oportunidades e aplicações podem ser
criadas.
A discussão sobre os
spillovers
dinâmicos m centrado-
se
em torno de duas linhas de
pensamento
, uma denominada modelo M.A.R, derivada dos estudos de Marshall (1890),
Arrow (1962)
e
Romer (1986),
e a outra, derivada dos estudos de
Jacobs (1969).
A principal diferença entre as duas é que a primeira defende que os
spillovers
mais
importantes são aqueles que ocorrem em um ambiente intra-indústria, associados à
proximidade
geográfica, enquanto a segunda, denominada como modelo de Jacobs (1969),
defende que os
spillovers
fundamentais são aqueles derivados da diversidade industrial e não
da concentração. A idéia subjacente a este modelo é de que ocorre uma “fertilização cruzad
a”
pelo movimento de técnicas, conhecimentos e instrumentos entre indústrias, gerando novas
aplicações e usos que estimulam a inovação e o crescimento (
JACOBS
,
1969,
1985).
O debate entre autores que defendem a especialização e autores que defendem a
dive
rsidade tem estimulado uma série de estudos empíricos, com resultados diversos e de
certa forma, contraditórios
.
Com
efeito,
Glaeser
et al.
(1992)
encontraram
evidências de que a
48
diversidade estimula a inovação, enquanto a especialização possui efeitos negativos. Na linha
contrária
, Henderson (2003), encontrou evidências de
spillovers
e efeitos importantes de
produtividade derivados da especialização.
Por trás destas propostas divergentes, existe na prática uma grande dificuldade de
medição dos
spillovers,
principalmente de spillovers de conhecimento, pois, como coloca
Krugman
(1991, p.53) “Os fluxos de conhecimento são invisíveis, eles não deixam rastros de
papel através dos quais possam ser mensurados e avaliados
.”
Tratando desta questão,
Jaffe
,
Trajtenbe
rg e Henderson
(1993
)
desenvolveram
um
método para o estudo da geografia dos
spillovers
a partir de citações de patentes, o qual tem
sido replicado por diversos autores (
FROST, 2001
). Como um dos
principais resultados destes
trabalhos está a constatação de que os
spillovers
de conhecimento são fortemente localizados,
ou seja exibem efeitos mais fortes na proximidade de suas fontes.
Nesta mesma linha, Anselin et al. (1997) analisaram a influência da pesquisa
universitária pública e das pesquisas privadas sobre a inovação em empresas norte
americanas. Suas conclusões demonstraram que os efeitos mais fortes deste tipo de
spillover
centram
-se em um raio de 50 kilômetros das instituições, e que estes efeitos descrescem em
50% a cada 30 kilômetros adicionais. Em relação às pesquisas privadas, os autores não
encontraram resultados importantes, denotando uma distinção importante entre o
conhecimento público e o privado.
Como destacam Audretsch e Feldman (1996), Jaffe (1986)
e
Rosenthal e Strange
(2000), a proximidade revela-se mais importante quando os conhecimentos envolvidos são
49
não
-codificados ou de natureza tácita
3
. Neste contexto, os principais mecanismos de
transmissão são a mobilidade da mão de obra especializada e os contatos informais que
ocorrem dentro do
cluster
.
Por sua vez, os conhecimentos mapeados e tecnologias codificadas, ou seja, descritos
e registrados em alguma forma de linguagem, podem ser transmitidos mais facilmente para
além da região onde são gerados. Contudo, o equacionamento desta questão não é simples,
uma vez que a aplicação efetiva de conhecimentos tecnológicos, mesmo que mapeados,
envolve
, com freqüência, uma estrutura de apoio, treinamento e suporte que muitas vezes não
está presente fora das áreas especializadas onde estes conhecimentos são gerados (
ANSELIN
et al.
,
1997;
HANSEN,
2000
).
Q
uando o conhecimento derivado de pesquisas não pode ser retido de forma eficaz
nos
limites da firma, pode-se criar um contexto que desestimule os investimentos privados em
inovação ou mesmo, afetar a d
ecisão de localização das firmas
(
NORDHAUS, 2004
).
Audretsch
e Feldman (1996
)
abordaram
esta questão, demonstrando que os
investimentos públicos são melhor explorados pelas pequenas empresas, enquanto as grandes
fir
mas buscam apoiar-se em suas próprias estruturas de pesquisa. Ao considerar-
se
este
contexto
,
torna
-se clara a importância das instituições públicas e fundos de pesquisa, atuando
como estruturas ao mesmo tempo indutoras e mediadoras da inovação
em
clusters
.
3
Este tipo de conhecimento, como definem Nonaka e Takeuchi (1995) é aquele que possui uma natureza
abstrata, residindo nas pessoas, em suas habilidades, e em suas atitudes e, dada esta natureza, não pode ser
facilmente negociado ou transferido entre os agentes econômicos sem um efetivo processo de interação.
50
Em essência, as evidências empíricas apontam para a importância de todas estas
propostas e linhas de pensamento.
C
ada uma contribui em um contexto distinto, não existindo
um posicionamento dominante na literatura.
Partindo da consideração dos
spillovers
estáticos, dinâmicos e inter-
indústria
s, na
Figura 4 busca-
se resumir as idéias
-
chave e relações derivadas destas contribuições.
Figura
4 -
Dinâmica de
Spillovers
de Conhecimento em
Clusters
Conforme a representação proposta, o
bserva
-se que no ambiente intra-
cl
uster
interagem diveros tipos de
spillovers.
O acesso facilitado à informações e fatores de
produção,
expressando
-se como
spillovers
estáticos. O compartilhamento de pesquisas enriquecendo a
base coletiva de conhecimentos e expressando-se como
spillovers
d
inâmicos
, e as redes de
relacionamento entre as firmas e a rotação de mão de obra, atuando como importantes meios
de troca. Uma parte do conhecimento gerado nas instituições, por ser codificado, extravasa
para fora das fronteiras do
cluster.
Por outro lado
,
spillovers
externos, advindos de outras
indústrias
,
também adentram as fronteiras do
cluster
, contribuindo positivamente no
desenvolvimento de novas aplicações e aperfeiçoamentos tecnológicos na indústria principal
do
cluster
.
Relações
Informais, Redes
Firmas
Spillovers
Estáticos
Spillovers
Dinâmicos
Base de
Conhecimentos
Local
Conhecimentos
Tangíveis
Conhecimentos
Intangíve
is
Distância Geográfica
Instituições
Públicas de
Pesquisa
Fronteiras do
Cluster /
Indústria
Patentes
Tecnologias
Mapeadas
Conhecimentos
de Domínio
Publico
Spillovers
Inter
-
Regionais e
Inter
-
Industriais
51
2.3 ARCABOUÇO TEÓRICO
-
CON
CEITUAL DA PESQUISA
A partir dos conceitos, teorias, premissas e modelos apresentados nesta revisão teórica,
faz
-se importante resgatar e selecionar os elementos que constitu
em
o arcabouço principal
sobre o qual desenvolve
-
se esta pesquisa
, os quais buscou
-
se sintetizar na
Figura 5
.
Figura
5 –
Arcabouço
Teórico
-
Conceitual da Pesquisa
CLUSTERS
PREMISSAS DE BASE
As firmas são di
ferentes quando às suas dotações
de recursos estratégicos.
Diferenças nas dotações de recursos estratégicos
causam diferenças de
performance
.
Estas diferenças de
performance
são relativamente
estáveis.
As firmas buscam incrementar ou maximizar a sua
perfo
rmance.
Penrose (1959), Wernerfelt (1984), Barney
(1991),
Grant(1991), Foss (1997
).
VBR
ARCABOUÇO TEÓRICO
-
CONCEITUAL
PREMISSAS DE BASE
A concentração espacial de atividades de um
mesmo setor ou indústria gera especialização dos
fatores de produçã
o, que se tornam mais eficientes e
acessíveis para as firmas locais.
Esta proximidade geográfica entre firmas e fatores
de produção gera s
pillovers
que podem ser
capturados pelos integrantes do
cluster.
A troca de conhecimentos em
um
cluster
favorece a
ino
vação e a aprendizagem, influenciando a
performance
das firmas.
Marshall (1890), Krugman (1996),
Porter (1998),
Malmberg e Maskell (2002)
CONCEITOS DE APOIO
Spillovers
Localizados
Spillovers
Tecnológicos Intra
-
indústria
Spillovers
Inter
-
indústrias
Ap
ropriabilidade e Lógica Dominante
Trajetórias, Paradigmas e Regimes Tecnológicos
Marshall (1890), Arrow (1962), Jacobs (1969), Dosi
(1982), Romer (
1986), Prahalad e Bettis ( 1986), Cohen
e
Levinthal (19
90), Malberg e Maskell (2002).
Os recursos de uma r
egião podem ter valor estratégico
.
Diversos bens públicos são marcados por long
a
s trajet
órias
de desenvolvimento e especialização
.
O
s recursos disponíveis às firmas
e
m um
cluster
são apropriados de diversas maneiras.
Os mecanismos de isolamento da VBR pode
m ser aplicados na análise de recursos externos às firmas
.
Gabor (1991), Enright (1993), Harrison (1992), Foss (1996), Lawson (1999), Hoffman (2002)
CARACTERÍSTICAS
-
CHAVE DOS
RECURSOS ESTRATÉGICOS
Adicionam valor aos produtos e serviços da firma.
Forne
cem suporte às suas estratégias competitivas.
São escassos, raros, difíceis de copiar ou substituir.
Estão associados a mecanismos de isolamento
contra a concorrência.
Penrose (1959), Wernerfelt (1984) Dierickx e Cool
(1989), Rumelt (1984), Barney (1991),
Grant(1991),
Peteraf (1993).
52
3 MODELO ANALÍTICO PROPOSTO
Neste capítulo busca-se desenvolver uma conversação entre a VBR e o tema de
Clusters
, a partir da qual pro
põe
-se um sistema de categorias para recursos estratégicos,
equacionando a sua interação em um modelo analítico de diferenciais de
performance
. Por
fim, com base nestes elementos, elabora
-
se as diversas hipóteses investigadas nesta pesquisa.
3.1 RECURSOS E
CLUSTERS
-
CONSIDERAÇÕES ESTRATÉGICAS
Quando
analisa
-
se
um ambiente de
cluster
sob a ótica da VBR, faz-se necessário
considerar uma lógica ampliada de acesso aos recursos, e não somente os recursos internos
das firmas. Primeiramente, deve-se levar em conta a existência de
spillovers
no ambiente, que
podem funcionar como uma via informal de transferência, acesso ou aquisição de recursos
(
MARSHALL,
1890).
Cada empresa pode produzir extravasamentos de conhecimentos, tecnologias e outros
que venham a beneficiar as demais firmas ali presentes. A condição de proximidade permite
que muitas capturem benefícios parciais mesmo sem deter a posse de nenhum recurso
estratégico, influenciando de forma positiva a sua
performance
. Em outra via, podem ser
gerados
spillover
s
negativos que venham a afetar a imagem do
cluster
ou influenciar de forma
errônea a conduta estratégica das firmas e causar efeitos de perda de
perfomance
.
Por esta lógica, a convivência em um
cluster,
ao contrário de uma interação entre as
firmas unicamente via mercado, pode levar a uma redução gradual das diferenças de
performance
sustentadas a partir de recursos, na medida em que os
spillovers
inter
-
firmas
53
produzem uma situação que tende ao equilíbrio. Contudo, e
stima
-se que este processo é
influencia
do pela inovação e empreendorismo das firmas, que contribuem para realimentar
sistematicamente as assimetrias (
SCHUMPETER
,
1934
).
Como segundo ponto, devem ser considerados os efeitos gerados pelo acesso aos
recursos internos ao
cluster
mas externos às firmas. Na concepção explorada nesta pesquisa,
considera
-se a possibilidade de estes recursos também possuírem mecanismos de isolamento
em relação ao ambiente externo ao
cluster
e influenciarem de forma sustentável a
performance
das firmas.
Ao introduzir-
se
o termo “acesso” considera-se que, embora sejam recursos externos
às firmas, muitos deles possuem acesso restrito, adquirindo uma condição denominada na
literatura econômica como club goodsou “bens de clube”, que podem ser entendidos como
tipos de bens acessados somente por quem pertence a um “clube” ou grupo. Por sua vez,
outros recursos do
cluster
também podem ter natureza estratégica mas produzir um impacto
sobre todas as firmas de forma indistinta, sendo, neste caso, classificados como “bens de uso
c
omum”
(
CORNES
;
SANDLER
,
1965,
1996).
Estas concepções levam a uma mudança na lógica original da VBR na medida que
introduzem o papel dos recursos externos e a idéia de acesso seletivo na explicação de
variações de
performance
entre as firmas.
Com efeito, fica evidente a oportunidade para um novo tratamento dos recursos em
clusters
incorporando a idéia de mecanismos de isolamento e de acesso diferenciado aos
recursos externos às firmas. A busca de um modelo para esta aplicação implica no
desenvolvimento d
e um sistema de categorias para recursos em
clusters
, apresentado a seguir.
54
3.2 DESENVOLVIMENTO DE UM SISTEMA DE CATEGORIAS DE RECURSOS EM
CLUSTERS
A partir dos elementos discutidos, propõe-se um sistema de categorias para a
classificação de recursos estratégicos, incorporando três conceitos: recursos singulares
,
recursos sistêmicos
e
recursos de acesso restrito
, a seguir definidos.
3.2.1 Recursos Singulares
Os
recursos singulares são aqueles que pertencem às firmas individuais. São
derivados da trajetória individual de cada firma, de sua história, de contratos de longo prazo
efetuados, de processos de acumulação de conhecimentos, aquisições oportunas, herança
natural ou mesmo, do desenvolvimento deliberado ao longo do tempo.
Segundo a hipótese central da VBR, os recursos singulares devem induzir diferenças
de competitividade entre as firmas em um
cluster
e permitem a sustentação de desempenhos
acima da média. Uma distinção importante que se propõe em relação aos modelos de análise
tradicionais da VBR, é q
ue estes recursos podem ser dividos em duas sub
-
categorias:
recursos
singulares específicos
e
recursos singulares genéricos.
Os
recursos singulares específicos são aqueles que tem relação direta com a indústria
em que a firma atua, ou seja, são recursos de posse individual e raros na medida em que nem
todos os possuem, mas aplicáveis e úteis somente na indústria ou segmento de negócio
predominante no
cluster
. Na presente pesquisa esta sub-categoria trata-se dos recursos de uso
específico para a indústria vitivinícola. A segunda sub-categoria, referida como
recursos
singulares genéricos, são recursos de posse individual mas de aplicação em diversos setores,
55
como por exemplo “capital de marca” ou “rede de relacionamentos com o varejo”, entre
diversos outros que são característicos da maioria dos ramos de negócio. Faz-se importante
notar também que os recursos singulares de ambos os tipos, embora exerçam seu efeito
principal sobre as firmas que os possuem, podem produzir também, efeitos externos
secundários (s
pillovers
) em um ambiente de
cluster
, beneficiando não os seus
“proprietários” mas também outras firmas.
3.2.2
Recursos Sistêmicos
Os
recursos sistêmicos são aqueles que não pertencem às firmas individuais
e
impactam indistintamente a
performance
de todas. São recursos ou bens para os quais não
rivalidade no uso, e podem ser compartilhados por todos. De forma distinta dos
recursos
singulares
,
os
recursos sistêmicos não influenciam a competição entre firmas dentro de um
cluster
mas sim, relacionam-se positivamente aos diferenciais de eficiência em relação a
firmas externas ao
cluster
. Estes recursos são associados geralmente com a presença de
deseconomias de compressão de tempo e dependências de caminho, na medida em que não
podem ter seu desenvolviment
o acelerado a um custo viável
(
DAVID,
1985
;
POSSAS,1996
).
Sua formação se através de múltiplos processos. Primeiramente, desenvolvem-
se
através dos
spillovers
de conhecimentos das firmas individuais, que são consolidados na
forma
de
conhecimento coletivo. Em um segundo processo, esses recursos são decorrentes de
herança natural ou desenvolvem-se historicamente sendo marcados pela
imobilidade
, como
por exemplo as condições turísticas,
eda
focli
máticas, a cultura
,
e o capital social de uma
região. Finalmente, esses recursos podem desenvolver-se também por iniciativa
governamental ou pelo esforço organizado de empresas
no
cluster
, tais como os recursos
56
representados por instituições de governança, centros de
educação
e formação, centros
logísticos e outros. Neste último caso, embora tendo origem em iniciativas explícitas qu
e
poderiam ser replicadas por
concorrente
s, esses recursos também possuem suas próprias
condiç
ões
de trajetória e especialização, que atuam como um fator
es
de sustentação
estratégica contra
a concorrência.
3.2.3 Recursos de Acesso Restrito
Os
recursos de acesso restrito não pertencem a nenhuma firma individual, mas podem
ser acessados de maneira privilegiada
somente
por um subconjunto de firmas. Enquanto os
recursos sistêmicos beneficiam todas as firmas, os recursos de acesso restrito beneficiam
apenas grupos distintos de firmas.
O acesso restrito se em função de múltiplos fatores, entre eles a iniciativa das
firmas de acessá-los, sua condição prévia em termos de recursos e conhecimentos
complementares, vantagens de posicionamento geográfico (como por exemplo em uma região
com denominação de origem), sua participação na história da formação do
cluster
(que
permite muitas vezes o acesso preemptivo a recursos) e seu capital de relacionamentos dentro
do
cluster
(melhorando o fluxo de informação estratégica).
Muitas vezes, as empresas não possuem uma base de conhecimentos adequada à
compreensão das formas de utilização deste tipo de recurso, permanecendo à margem do
grupo que os utiliza, ou então, estão presentes assimetrias de informação, fazendo com que
nem mesmo identifiquem os recursos disponíveis.
Caso se manifestem estas condições, estes recursos podem vir a induzir a formação de
grupos estratégicos
compostos por firmas diferenciadas de a
lta
performance
dentro do
cluster
.
57
3.3 MODELO ANALÍTICO DE DIFERENCIAIS DE
PERFORMANCE
Cada uma das categorias de recursos propostos atua diferentemente sobre as firmas,
possivelmente exercendo efeitos distintos sobre a sua
performance
. A Figura 6 a segui
r,
apresenta um modelo analítico que busca representar as relações entre
recursos
estratégicos
,
spillovers
e seus efeitos diferenciais sobre a
performance
.
Figura
6 -
Modelo Analítico de Diferenciais de
Performance
No modelo ilustrado, as firmas A e B possuem recursos singulares e podem acessar
também os
restritos.
Conforme os elementos previamente discutidos, é esperado que estas
firmas se diferenciem competitivamente das demais, atingindo o nível mais alto de
perfor
mance
.
Firma
G
Firma
H
Nível de
Performance
Recursos
de Acesso
Restrito
Recursos
Sistêmicos
do Cluster
Recursos
Singulares
Recursos
Singulares
Spillovers
Firma
D
Firma
E
Firma
C
Firma
F
Performance
Si
stêmica
Firma
A
Spillover
s
Firma
B
58
As firmas C
,
D e E acessam predominantemente os recursos de acesso restrito e
igualmente, espera-se que se diferenciem do
cluster
como um todo, atingido
todavia,
uma
performance
inferior que as primeiras. Já as firmas
F
,
G
e
H
não possuem
recursos
singulares
e acessam poucos ou nenhum recurso restrito, elas se mantêm em um nível de
competitividade
que denomina-
se
como
performance sistêmica, sustentada
predominantemente pelos
recursos sistêmicos
e pelos
spillovers
.
Este
nível representa a média
esper
ada de
performance
quando se retira completamente o efeito dos recursos singulares e
recursos de acesso restrito
.
Estas firmas contudo, só apropriam spillovers
quando
estes
possuem caráter sistêmico, ou seja, quando a sua apropriação é independente de cond
ições
prévias das firmas.
Ao avançarmos na questão de gestão dos recursos, a classificação proposta remete a
papéis gerenciais distintos para cada caso. Para os recursos sistêmicos, em função de sua
importância coletiva, é interessante o estabelecimento de uma estrutura de coordenação
setorial ou governamental
de forma a garantir um nível satisfatório de performance sistêmica
.
Os
recursos de acesso restrito usualmente são alvo de esforços de governança por
parte daquelas firmas que fazem maior uso, muitas vezes sendo organizados através de
associações.
Para os recursos singulares a gestão se dá primordialmente através da percepção
gerencial e das estratégias competitivas de cada firma, mas, mesmo
desta forma
, em benefício
do
cluster
, esta gestão deve refletir um certo grau de interesse coletivo uma vez que os
spillovers
são
derivados das firmas de alta
performance
.
59
3.4 HIPÓTESES
O argumento central da VBR é de que a posse e a exploração de recursos estratégicos
permite às firmas o atingimento de uma
perfo
rmance
acima da média de seus pares em uma
indústria (
BARNEY
,
1991
). Conforme o modelo proposto nesta pesquisa, quando pertencem
a uma firma individual estes recursos são denominados
como
recursos
singulares
. Esta
concepção nos leva à formulação da primeir
a hipótese de pesquisa:
H1: O uso de
recursos singulares
influencia positivamente a
performance
das firmas.
Além dos recursos singulares, propõe-
se
nesta pesquisa a consideração dos
recursos
de acesso restrito
,
que
são aqueles que podem ser acessados e utilizados de maneira
privilegiada apenas por um subconjunto determinado de firmas.
Para o
setor vitivinícola pode
-
se citar, por exemplo, a estrutura de pesquisa científica presente em instituições públicas e a
localização em regiões com denominação de origem, entre
vários
outros. Na medida em que
possuem valor estratégico e condições de apropriação parcial, o acesso diferenciado a estes
recursos está relacionado à formação de assimetrias competitivas e diferenças de
performance
entre estes grupos em um
clust
er
, o que leva à formulação da segunda hipótese:
H2: O uso de recursos de acesso restrito influencia positivamente a
performance
das
firmas que os utilizam.
De acordo com o modelo proposto na seção anterior, espera-se um efeito mais
pronunciado do
recursos
singulares sobre a performance e um efeito menor a partir dos
60
recursos de acesso restrito, uma vez que estes são menos excludentes que os primeiros.
Partindo desta lógica formula
-
se a terceira hipótese de pesquisa.
H3
: Os
recursos
singulares
exercem um efeito maior sobre a performance do que os
recursos
de acesso
restrito
.
Em todo ramo de atividade econômica, e principalmente em ambientes de
concentração industrial, as firmas estão sujeitas ao efeito de externalidades ou
spillovers
gerados por seus pares (
MARSHALL,
1890). Estes
spillovers
podem ser positivos, quando a
atuação de uma empresa em proveito próprio gera benefícios às outras, ou negativos, quando
esta atuação impõe custos (
PINDICK
;
RUBINFELD
,
2002
).
No caso específico de um
cluster
vitivinícola, em que pode haver a identificação de
um produto com uma região por parte do consumidor (como é usual nos países produtores
tradicionais), a presença de empresas com produtos de alto nível de qualidade, marcas
reconhecidas e
performance
superior pode vir a criar efeitos externos positivos para todo o
cluster
, melhorando a imagem da região e, em certo grau, a imagem de todos os produtos ali
desenvolvidos. Esta lógica leva à quarta
e quinta
hipótese
s
de pesquisa:
H4
:
O acesso a fontes de
spillovers
influencia positivamente a
performance
das
firmas.
H5:
A presença de recursos singulares influencia positivamente a
performance
das
firmas em um
cluster
.
61
Seguindo a mesma lógica da hipótese H5
,
os recursos de acesso restrito podem
influenciar positivamente as firmas que os acessam, mas também, influenciar a
performance
coletiva do
cluster
. A consideração destes efeitos leva à formulação da quinta hipótese de
pesquisa:
H6: A presença de
recursos
de acesso restrito influencia positivamente a
performance
das firmas em
um
cluster
.
Estudos realizados por Jaffe (1986, 2000) e
Anselin
et al. (1997) demonstraram um
incremento na produção inovativa de firmas diretamente relacionado à proximidade
geográfica em relação a estruturas de geração de conhecimento, como universidades e centros
de pesquisa. Estes incrementos estariam relacionados não ao acesso direto aos recursos,
mas também às comunicações informais em função da proximidade geográfica
,
complementada pelas parcerias entre as firmas. Estas concepç
ões
levam à formulação da
sétima
, oitava
e nona
hipóteses de pesquisa.
H7
:
A proximidade de localização em relação
aos
centros de pesquisa influencia
positivamente a
performance
das firmas em um
cluster
.
H8: A proximidade de localização em relação a firmas de
performance
su
perior
influencia positivamente a
performance
das firmas em um
cluster
.
H9: O número de parcerias formais e informais, exerce influência positiva sobre a
performance das firmas parceiras.
62
4
O CLUSTER VITIVINÍCO
LA DA SERRA
GAÚCHA
Neste capítulo, partindo de um breve contexto da industria vitivinícola mundial
apresenta
-se o
cluster
estudado, delineando suas origens, seu contexto geográfico e sua
organização estrutural.
4.1 INTRODUÇÃO
-
O VINHO NO MUNDO
A história do vinho se confunde com a própria história da humanidade e
pesquisadores que sustentam a hipótese de que este produto era elaborado e consumido no
perído neolítico
(
MC
GOVERN
,
2003
).
Durante muito tempo cercado por uma aura simbólica, e muitas vezes até religiosa, o
vinho atravessou os séculos e se popularizou, transformando-se hoje em um alimento de
consumo freqüente para a maioria dos países desenvolvidos.
Conforme dados do Organização Internacional da Uva e do Vinho
OIV
(2006), a
produção mundial de vinhos nos últimos cinco anos situ
ou
-se na faixa de 26.000 milhões de
litros ao ano, destacando-se como principais produtores a França, Itália,
e
Espanha.
Juntamente com Portugal, estes paí
ses
são reconhecidos como “velho mundo vitivinícola”
e
respondem por mais de 60% do volume total produzido, conforme apresenta a Tabela 1 a
seguir.
Contudo, é crescente a representatividade dos países conhecidos como “novo mundo
vitivinícola”, cujos principais representantes são a Austrália, Argentina, Estados Unidos,
África do Sul e Chile.
63
Ao contrário do “velho mundo”
,
onde a produção é milenar e envolta em tradição,
em
grande parte destes países, a produção de vinhos é um agronegócio como outro qualquer e
tem
como principal foco a exportação.
Tabela
1 –
Produção, Exportação e
Consumo de Vinhos no Mundo
(2003)
-
Principais Países
Produção
Litros
% Part.
Ranking
Exportação
Litros
% Part
Ranking
Consumo
Per Capita
Litros/ano
França
4.
636
.0
00.000
17,4%
1.5
14
.8
00.000
20,76%
55,4
Itália
4.4
08
.6
00.000
16,5%
1.
291
.6
00.0
00
17,71%
51,1
Espanha
4.
280
.2
00.000
16,0%
1.
235
.9
00.000
16,94%
33,6
USA
2.
077
.0
00.000
7,8%
329
.3
00.000
4,51%
8,1
Argentina
1.
322
.5
00.000
5,0%
1
85
.2
00.000
2,54%
11º
32
Australia
1.
019
.4
00.000
3,8%
5
36
.5
00.000
7,35%
21,3
Africa do Sul
8
85
.3
00.000
3,3%
2
39
.4
00.000
3,28%
10º
7,7
Alemanha
819
.1
00.000
3,1%
2
77
.3
00.000
3,80%
24,4
Portugal
7
34
.0
00.000
2,8%
3
11
.3
00.000
4,27%
52,6
Chile
6
68
.2
00.000
2,5%
10º
4
02
.9
00.000
5,52%
16,1
Brasil
262.000.000
1,0%
21º
1.5
00.00
0
0,02%
43º
1,8
Mundo
26
.
672
.8
00.000
7.2
95
.1
00.000
Fonte: OIV
,
2006
.
Paralelamente a esta ampliação do número de países produtores, a produção e o
consumo mundial têm-se reduzido nas últimas décadas, o que contribui ainda mais para o
acirramento da
competição internacional. Na França, onde o consumo chegou a
ultrapassar
60
litro
s per capita, hoje consomem-
se
55
litros, na Itália esta queda foi de
59
para
51
litros e
mesmo na Argentina, o consumo caiu de 37 para 30 litros per capita ao ano. Na base de
ste
fenômeno está uma mudança de comportamento caracterizada pelo consumo em menor
quantidade e pela busca de vinhos de maior qualidade e valor.
De forma associada, a base de consumidores também esse alargando, ou seja, mais
pessoas ingressando no consumo diário ou freqüente de vinhos. Em uma análise otimista,
64
especialistas no tema estimam que, com o tempo esta tendência pode vir a reverter a queda
nos volumes globais de consumo, iniciando assim, um novo ciclo de crescimento para o setor
(
AZPIAZU
;
BASUA
LDO,
2003
).
Considerando este contexto, tanto os países do novo quanto do velho mundo têm
desenvolvido complexos esforços de planejamento estratégico da vitivinicultura, visando
manter e expandir a sua participação no futuro deste setor. O produto vinho, todavia, tem
algumas peculiaridades importantes que devem ser consideradas ao se analisar o quadro
mu
ndial. Como coloca Aguiar (1999
, p.25):
“O vinho não é uma mercadoria qualquer, não pode ser produzido em qualquer
lugar, e deve obedecer a regras bem mais complexas do que a simples minimização
dos custos de produção. A localização das vinhas, à semelhança de qualquer outra
unidade de produção, está submetida à regra das vantagens comparativas; cada
região tem as suas e estas são bem mais importantes e determinantes da sua imagem
e posição no mercado do que u
nicamente os custos de produção
.”
No Brasil, em que pese a pouca expressão de sua produção e consumo, estes esforços
encontram
-se em andamento, com a consolidação recente de um plano estratégico para os
próximos 20 anos, denominado VISÃO 2025. Para entender as possibilidades da indústria
b
rasileira
neste futuro faz-se importante olhar para o passado, compreendendo as origens
desta atividade no país e a sua trajetória de desenvolvimento até o presente, con
forme
apresenta
-
se a seguir.
65
4.2 O VINHO NO BRASIL
A introdução da atividade vitivinícola no Brasil iniciou-se com a colonização
Portuguesa
no século XVI, contudo, o seu desenvolvimento atual é atribuido a chegada dos
imigrantes italianos à Região da
Serra Gaúcha, por volta de 1875.
Na primeira fase de desenvolvimento do setor, as uvas cultivadas restringiram-
se
quase que unicamente ao tipo “
Vitis labrusca
”, as quais apresentaram fácil adaptação ao clima
e ao solo da região (
LAPOLLI
,
MELLO, TRARBACH,
1995).
Apesar das vantagens de adaptação, estas variedades não permitem a produção de
vinhos mais sofisticados, e consequentemente, de maior valor no mercado, restringindo
-
se aos
produtos da categoria reconhecida como
“Vinhos de Mesa”
4
.
Através deste produto consolidou-se na região uma trajetória tecnológica baseada na
produção em escala, em um contexto industrial no qual a minimização dos custos de matéria
prima e o estímulo à produtividade nos parreirais eram o paradigma dominante, conforme
citam vário
s especialistas consultados.
Uma mudança importante neste padrão ocorreu a partir de 1974, com a instalação de
empresas multinacionais na região. Estas empresas, em sua maioria de origem européia e
americana, ajudaram a introduzir no mercado brasileiro vinhos baseados em variedades
Vitis
4
Os vinhos de mesa, ou vinhos comuns representam uma categoria de produtos populares existente
na
maioria
das regiões vitivinícolas do mundo, sob várias denominações como vin de tablena França,
taffelwein”
na
Alemanha e vino de távola” na Espanha. Contudo, somente no Brasil este vinhos são elaborados com as
variedades “
labrusca
” que lhe conferem c
aracterísticas de sabor e aromas limitadas
e bastante distint
as
.
66
Viníferas
”, as quais dão origem a produtos mais complexos em aromas e sabor e mais
alinhados com os padrões do mercado internacional. Estes vinhos são atualmente
categorizados como “
V
inhos
F
inos”.
Com o passar do tempo, a gradual especialização dos fatores de produção, e a
transferência de conhecimentos entre estas empresas e alguns grupos de firmas locais foi
contribuindo para a modernização do setor e a formação de algumas empresas altamente
especializadas, que hoje são capazes de elaborar produtos de
razoável
qualidade e
sofisticação
,
embora ainda em volumes bastante bai
xos perante os padrões mundiais
.
4.3 CONTEXTO ESTRUTURAL E GEOGRÁFICO
Conforme dados do Instituto Brasileiro do Vinho (I
BRAVIN
,
2005) existem
atualmente
cerca de 650 vinícolas e 15.000 viticultores atualmente no Rio Grande do Sul.
Uma das principais características deste setor é a sua diversidade, com importantes contrastes
em termos de perfis empresariais, tecnológicos e agrícolas.
As vinícolas distribu
em
-se em vários segmentos produtivos, dedicados a diferentes
produtos. Assim, tem-se empresas exclusivamente dedicadas a vinhos finos, empresas
especializadas em vinhos espumantes, empresas dedicadas aos vinhos de mesa, empresas de
sucos e aind
a, empresas
que atuam neste quatro
segmentos.
Assim como no resto do mundo, a indústria de vinhos no Brasil apresenta baixas
barreiras à entrada, sob um ponto de vista técnico, na medida em que as tecnologias e o
conhecimento estão disponíveis e,
à
partir de adequado
s investimentos qualquer nova empresa
pode se estabelecer rapidamente no negócio. Contudo, sob um enfoque estratégico,
alguns
fatores limitantes apresentam-se na consolidação de imagem de marca (e mesmo de região)
,
67
que exigem tempo, e no desenvolvimento de redes de distribuição adequadas, as quais
implicam na superação de uma série de assimetrias de informação sobre o mercado.
Dada a atratividade das margens no segmento e vinhos finos, o número de novas
empresas tem crescido a cada ano. Em 2003 haviam no Brasil aproximadamente 100
empresas atuando com vinhos finos, enquanto em 2005 este número ampliou-se para 185
empresas, embora grande parte destas, produzindo pequenos volumes, ainda experimentais.
Apesar de ser um setor fragmentado, uma concentração expressiva da produção em oito
empresas, que juntas representam cerca de 74% do total
comercializado
.
A indústria não apresenta economias de escala importantes sob um ponto de vista
puramente industrial, mas sim, algumas economias de escopo na questão de distribuição de
produto, as quais favorecem as empresas mais diversificadas, que atuam com produtos de
menor preço.
Conforme será discutido subseqüentemente, a concorrência se principalmente com
os produtos importados, sendo que as empresas nacionais trocam fatias em um mercado no
qual tem cada vez menor participação. Existem diversos tipos e segmentos de vinhos finos,
definidos por categorias de preço e qualidade, mas o grande volume elaborado no Brasil
centra
-
se nos vinhos do tipo varietal vinífera, o q
ual pode
-
se entender como a categoria básica
deste produto
, seguida das ca
tegorias reserva e gran
-
reserva, em menor escala
.
A viticultura por sua vez é marcada por pequenas propriedades, com distintos graus de
organização e práticas produtivas, com um tamanho médio de 2,5 hectares dedicados ao
plantio de parreirais (
LAPOLLI,
MELLO, TRARBACH,
1995
).
A zona de maior concentração industrial, que delimita o
cluster
em estudo, fica
localizada na região da serra
nordeste, a cerca de 120 Km de Porto Alegre, cap
ital do estado.
68
Os principais municípios envolvidos na atividade são Bento Gonçalves, Garibaldi,
Farroupilha, Caxias do Sul, Flores da Cunha, Cotiporã, Veranópolis, Nova Pádua, Antônio
Prado e Monte Belo. Cada um, apresenta diferentes níveis de produ
ção
de uvas e, de forma
associada, também de presença de vinícolas
, conforme observa
-
se na Figura
7
a seguir.
Figura
7 -
Produção de Uvas no RS
Fonte:
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
-
IBGE
, 2005
Pode
o
bserva
r-
se
que os municípios com maior atividade são Caxias do Sul e Bento
Gonçalves, destacando-se também uma grande área na região da Campanha, onde
d
esenvolve
-
se atualmente um importante
pólo de expansão
deste setor (FERREIRA, 2005
).
Além das vinícolas e viticultores, estão presentes no
cluster
diversos outros agentes
incluindo
fornecedores de insumos e equipamentos, associações, instituições de governança e
69
empresas dedicadas ao turismo e alimentação, os quais estão ilustra
dos
esquematicamente n
a
Figura
8
a seguir
.
Figura
8 -
Contexto Estrutural do
Cluster
Vitivinícola da Serra Gaúcha
Como primeira instituição influente sobre o
cluster
encontra
-se o Ministério da
Agricultura, seguido pelas Secretarias Estadual e Municipais da Agricultura, os quais
atuam em aspectos diversos, dentre eles a fiscalização de uvas e vinhos. De forma
associada, a CONAB Companhia Brasileira de Abastecimento, desempenha um papel
fundamental participando anualmente no processo de definição
de preços das uvas.
A coordenação estratégica das atividades do
cluster
es a cargo do IBRAVIN-
Instituto Brasileiro da Uva e do Vinho, que tem a proposta de ser o fórum maior de debate
FOMENTO , REGULAÇÃO
FISCALIZAÇÃO, COORDENAÇÃO
Produtores de
Mudas
Fertilizantes,
Pesticidadas,
Herbicidas
Produtores de
Uvas
Barris
Garrafas
Tampas e rolhas
Equipamentos de
Elaboração do Vinho
Rótul
os
Estabelecimentos
Vinícolas/
Instalações de
processamento
Relações Públicas e
Propaganda
Publicações
especializadas
Serviços de turismo
e alimentação
Organizações Educacionais e de Pesquisa
EMBRAPA/ CNPUV
EMATER, CEFET, FEPAGRO, ICTA
IBRAVIN
UVI
BRA
FECOVIN
AGAVI
FECOVINHO
AVIGA
ABE
APROVALE
APROBELO
APROMONTES
APEX E
WINES FROM BRAZIL
PROMOÇÃO DE MERCADO
INTERNACIONAL
Ministério da
Agricultura
Secretaria Estadual
da Agriculatura
Secretarias
Municipais da
Agricultura
CONAB
70
e encaminhamento de ações coletivas para o setor. A manutenção deste
instituto, criado em
1998, é feita com recursos públicos, derivados de um fundo criado para o desenvolvimento
da vitivinicultura.
Juntamente com o IBRAVIN atuam diversas entidades e associações setoriais como
a APROVALE Associação de Produtores do Vale dos Vinhedos, a UVIBRA - União da
Vitivinicultura Brasileira, a AGAVI
-
Associação Gaúcha de Vitivinicultores e outras, que
desenvolvem a defesa de interesses de grupos específicos.
Uma série de esforços de internacionalização vem sendo realizados no âmbito de
um consórcio de exportações, denominado Wines from Brazil. Este programa iniciou-
se
com o apoio da APEX Agência Brasileira de Promoção de Exportações, e hoje
representa uma das iniciativas mais promissoras desenvolvidas no
cluster
.
Por sua vez, a melhoria tecnológica e a difusão de conhecimentos científicos no
cluster
é suprida por diversas entidades federais e estaduais como EMBRAPA- Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a EM
ATER
Empresa de Assistência Técnica e
Extensão Rural do Estado, o CEFET- Centro Federal de Educação Tecnológica, a
FEPAGRO
– Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária e o ICTA -
Instituto
de
Ciência e Tecnologia de Alimentos da UFRGS.
Na questão de fornecimento de insumos existem elos frágeis, que limitam a
competit
ividade das empresas ali instaladas. Pelo lado da viticultura um dos elos carentes
de desenvolvimento refere-se à produção de mudas, as quais em sua maioria ainda são
importadas. Neste aspecto, a questão crítica não se limita apenas ao custo, mas também em
relação a uma série de deficiências de fiscalização que ocorrem neste processo, muitas
71
vezes
, permitindo a entrada de mudas contaminadas, que terminam por introduzir doenças
e viroses prejudiciais aos vinhedos da região.
Um segundo ponto frágil situa-
se
em relação aos defensivos, fertilizantes e demais
químicos para a viticultura. Apesar da existência de uma ampla estrutura de fornecimento
destes itens, existe uma falta de conhecimento dos viticultores quanto ao uso dos produtos,
tornando
-os expostos à políticas oportunistas de vendas que contribuem para o aumento
dos custos de produção.
Sob o aspecto de componentes e insumos para vinícolas, existem itens que são
supridos de forma satisfatória, como equipamentos, tanques de fermentação e produtos
enológic
os
, e itens nos quais o
cluster
perde em competitividade em relação a outro países,
como garrafas, rolhas e barris de carvalho. Especificamente no caso das garrafas, existem
apenas dois fornecedores no país, os quais se dedicam à produção em maior escala para a
indústria cervejeira, tendo preços pouco competitivos para a pequena escala de aquisição
do setor vinícola. As rolhas tem sua matéria-prima importada de Portugal e da Espanha,
sendo processadas no país por 5 fabricantes.
Por sua vez, o fornecimento de barris de carvalho é predominantemente oriundo da
França e Estados Unidos, também representando um importante item de custos a ser
considerado. Por fim, três elos frágeis citados em entrevistas são as organizações e
estruturas de promoção e propaganda setorial, as publicações especializadas e a estrutura
de gastronomia e enoturismo, as quais passam por uma adaptação ao atual ciclo de
desenvolvimento da região.
72
4.4 DESEMPENHO PRODUTIVO
Considerando todos os tipos de vinhos elaborados, o Brasil ocupa hoje a 21ª posição
na produção mundial elaborando um
a média de 260 milhões de litros de vinhos ao ano.
Cerca
de 90% da produção nacional está concentrada no Rio Grande do Sul, em sua maior parte, no
Cluster
da Serra Gaúcha. Conforme apresenta a Tabela 2 a seguir, o vinho de mesa ainda é o
principal produto do estado representando em média 70% do total de vinhos elaborados.
Tabela
2 -
Volumes de Vinho Comercializados no Brasil (Litros)
-
2000 à 2005
2000
2001
2002
2003
2004
2005
Mer
cado Interno
Vinhos de Mesa
220.689.693
221.358.508
227.379.868
217.040.287
224.795.969
270.671.067
Vinhos Finos
34.108.895
28.652.875
25.375.559 23.271.496
19.747.341
21.913.837
Espumantes
4.136.072
4.018.453
3.741.546
4.204.213
4.805.681
5.682.526
Total
259.128.105
250.712.154
253.150.054
240.581.298
244.973.187
293.840.490
Importações
Vinhos Finos
28.288.448
28.058.114
24.183.853 26.798.940
36.070.461
37.495.327
Percentual
45%
49%
49%
54%
65%
63%
Total Vinhos Finos
63.397.343
56.710.
989
49.559.412 50.070.436
55.817.802
59.409.164
Total Mercado Interno
(Vinhos Finos)
63.397.343
56.710.989
49.559.412 50.070.436
55.817.802
59.409.164
Total Mercado Interno
(Nacionais e Importados)
287.416.553
278.770.268
277.333.907
267.380.238
281.043
.648
331.335.817
Mercado Externo
Vinhos de Mesa
333.910
159.716
67.524
42.671
225.862
577.425
Vinhos Finos
86.934
48.783
56.738
21.675
137.025
392.167
Espumantes
1.278
1.400
623
27
6.428
22.698
Total
420.844
208.499
124.262
64.346
362.887
959.59
9
Total Mercado Interno e
Externo
(Nacionais)
259.548.949
250.920.653
253.274.316
240.645.644
245.336.074
294.800.089
Fonte:
União Brasileira de Vinícolas
,
2005
.
Em função de uma série de aspectos mercadológicos e logísticos, uma parcela
importante d
este produto (35%) é remetida a granel para indústrias engarrafadoras
dos estados
73
de
São Paulo e Rio de Janeiro, que reprocessam o vinho de mesa e o transformam em
grandes volumes de produtos de consumo popular, os quais tem impulsionado o crescimento
deste segmento.
Conforme previamente citado, c
omparativamente a outros países, no Brasil o consumo
de vinho ainda é extremamente baixo, restringindo-se à cerca de
1,8
litros por pessoa/ano
enquanto
na França e Itália, o consumo chega a ser de 50 litros por pessoa/ano (OIV, 2006)
.
Nos últimos cinco anos, o volume de vinhos comercializados no país cresceu
aproximadamente 15% no total mas este crescimento deve-se em grande parte à expansão dos
vinhos de mesa cuja venda aumentou em 22%. Especificamente no que tange aos vinhos
finos, objeto desta pesquisa, os volumes de vinhos brasileiros comercializados no mercado
interno apresentaram uma redução de 35% no período,
enqu
anto os vinhos importados
tivera
m um aumento de 32%.
Além da troca de fatias entre importados e nacionais, a interpretação de especialistas
para esta redução é que o consumidor de baixa renda está migrando de produtos mais
sofisticados para os produtos populares anteriormente citados, enquanto o consumidor de
maior poder aquisitivo está mudando o comportamento em direção a menores volumes de
consumo e maior qualidade (seguindo a tendência mundial).
Outro fenômeno associado que potencialmente também se manifesta no país é o
alargamento da base de consumidores diante dos apelos à saúde freqüentemen
te associados ao
consumo de vinhos, porém
,
estes consumidores tem como produto de “entrada” os vinhos de
mesa de uvas Vitis labrusca”, efetivamente mais acessíveis. No mercado externo por sua
vez, a participação do país é inexpressiva e, recentemente a
s
exportações começaram a
crescer através dos esforços coordenados de um consórcio de empresas.
74
Os números modestos entretanto, não significam um impeditivo
insuperável
, pois, a
partir de esforços organizados, a própria Austrália, um país com pouca tradiçã
o neste produto
,
aumentou suas exportações em 500% em cerca de 10 anos.
O principal exemplo que este e outros países do novo mundo deram foi que, uma
adequada organização estrutural do setor, associada a estratégias consistentes de produção de
qualidade,
permitiu
em poucos anos a superação da falta de tradição milenar e de imagem,
oferecendo ao mercado produtos competitivos que logo conquistam seu espaço junto ao
consumidor. No Brasil ainda restam lacunas de ambos os tipos a serem preechidas, como
discute
-
se a seguir.
4.5 CONSIDERAÇÕES SOBRE A COMPETITIVIDADE
Um dos produtos mais competitivos do
Cluster
da Serra Gaúcha é o vinho espumante,
o qual os especialistas tem classificado entre os melhores do mundo.
Esta qualidade se deve à uma série de condições edafoclimáticas locais, que conferem
aos produtos um conjunto de características organolépticas amplamente desejadas para vinhos
deste tipo. A exploração destas características e virtudes locais, todavia, passa por um ampla
transformação das empresas da região, superando uma série de lacunas tecnológicas e
culturais (
ZANU
S
;
TONIETTO, 2003
).
Com efeito, durante um longo tempo, desde a sua origem, o
cluster
desenvolveu-
se
com base nos vinhos de mesa, comercializados em grandes volumes no mercado interno.
Atr
avés deste produto consolidou-se uma trajetória tecnológica baseada na produção em
escala, em um contexto industrial no qual a minimização dos custos de matéria prima, o
estímulo à produtividade nos parreirais, e a adulteração da genuinidade dos produtos eram o
75
pa
drão
dominante na região, conforme citam vários especialistas consultados.
Procedimento
grotescos como a adição de água, aromas e corantes aos vinhos, foram mais de uma vez
detectados em análises nas últimas décadas. Contudo, a falta de informação do consumidor
quanto aos produtos e quanto a estes fatos contribuiu para a manutenção destas práticas até
recentemente.
Com a expansão do negócio de vinhos finos no país, na década de 1970, diversas
destas empresas tentaram ingressar no negócio, defrontando-se com um conjunto de desafios
de difícil superação. Uma questão crítica é que, estando atreladas durante décadas ao
paradigma de produção de vinhos de mesa, estas empresas deixaram de acumular os recursos
tecnológicos
,
vitícolas
, e mesmo culturais, essenciais à produção de vinhos finos, ficando de
certa forma,
bloqueadas
fora
do negócio
.
Aquelas
poucas que superaram estes desafios dividem hoje o segmento juntamente
com as empresas novas,
fundadas
já em um contexto de qualidade e empreendedorismo.
Como se diria em linguagem
viti
vinícola
,
são empresas bien nascidas
5
”, que ingressam no
setor com uma filosofia produtiva moderna, voltada para produtos mais sofisticados e de
padrão internacional
.
Por
trás do mundo das uvas, d
as
vin
ícolas
, e da confrontação ca
da
vez maior com os
produtos
importados, desenvolve-se no momento presente uma competição subjacente entre
paradigmas
, a qual ainda está distante de sua resolução (DOSI, 1982; DOSI; ORSENIGO,
1988;
RUTTAN, 1996;
ARTHUR, 1988
)
.
5
Bem
-
nascidas, nascidas sob um contexto favorável.
76
De um lado estão cerca de 540 empresas atuando exclusivamente na elaboração de
vinhos de mesa, grande parte delas com um baixo padrão tecnológico, conforme apontam
diagnósticos recentes (
REVILLION
, 2005). De outro, pouco mais de 80 empresas elaborando
vinhos finos e tentando consolid
ar
uma imagem positiva para a região (IBRAVIN, 2005).
Fundamentalmente,
é uma disputa entre externalidades negativas e positivas a
tuando
sobre um recurso sistêmico, que é a imagem
vitivinícola
da região. Em um processo
dinâmico, a
imagem
positiva gerada pelo sucesso dos vinhos finos e espumantes tem sido
apropriada pelo restante do setor, o que se comprova pelos incrementos nas vendas de vinhos
de mesa. Se considerar-
se
os mecanismos de mercado e as forças econômicas como
dispositivos de seleção entre para
digmas e tecnologias, as perspectivas são negativas
, uma vez
que o consumidor brasileiro é ainda pouco conhecedor dos produtos e apresenta uma longa
tradição de consumo de vinhos de mesa. Por outro lado, a crescente presença de vinhos finos
importados nas grandes redes pode exercer um efeito educativo indireto, que se traduzirá em
médio prazo em uma efetiva mudança na preferências de consumo.
Neste contexto, uma das questões estratégicas críticas a ser respondida pelos agentes e
instituições setoriais é se, ao ocorrer esta inversão de preferências, o
cluster
estará preparado
fazer a mudança e capitalizar as oportunidades de expansão
,
dire
cionando sua produção para
vinhos
de maior valor agregado
.
Como segundo ponto crítico, faz-se importante compreender também se um dia as
empresas do
cluster
irão se posicionar de forma sólida em um contexto de competição
internacional, focalizando-se na elaboração de produtos para os quais tem vantagens naturais
como os espumantes.
Espera
-se que este estudo venha a contribuir nesta direção, aumentando
a compreensão do fatores que definem o sucesso n
o negócio de vinhos finos
.
77
5 DESENVOLVIMENTO DA ETAPA EXPLORATÓRIA
A
etapa exploratória teve como objetivo a compreensão da dinâmica competitiva e a
identificação dos recursos estratégicos do
cluster
. Esta etapa envolveu a observação
participante em programas de desenvolvimento setorial, o levantamento e análise de fontes
secundárias, a definição de um grupo de especialistas, a realização de entrevistas em
profundidade e a análise de conteúdo destas entrevistas, tendo como produto final a
elaboração de uma lista de recursos estratégicos. Esta lista subsidiou posteriormente o
desenvolvimento do questionário de pesquisa.
5.1 MÉTODO
Descreve
-
se a seguir os métodos utilizados
em cad
a atividade da
etapa exploratória
.
5.1.1 Observação participante em programas s
etoriais
Um dos subsídios para o entendimento da dinâmica do
cluster
e identificação dos
recursos estratégicos foi a participação ativa do pesquisador no programa VISÃO 2025,
de
senvolvido no período da pesquisa.
Este programa teve como ponto de partida a elaboração de um plano estratégico
setorial contemplando um horizonte de 20 anos. Para elaboração deste plano, ao longo de
2004 e 2005, foram desenvolvidas 20 entrevistas com entidades setoriais, 50 entrevistas
estruturadas com vinícolas, 150 entrevistas estruturadas com viticultores, 10 seminários para
grandes públicos e 30
workshops
, com duração média de 4 horas cada, envolvendo a
participação ativa de um grupo de 60 especialistas e 10 pesquisadores.
Metodologicamente,
classifica
-
se este envolvimento como uma abordagem de observação participante.
78
A Observação Participante é uma estratégia de pesquisa que visa ganhar familiaridade
com um grupo de indíviduos (ou de empresas) e suas práticas através do intenso
envolvimento com este grupo em seu ambiente natural.
Este tipo de pesquisa envolve uma variedade de métodos: entrevistas informais,
observação direta, participação na vida do grupo, discussões coletivas, análise de domuentos
produzidos pelo grupo e levantamento historiográfico (
MANN,
1975
).
O processo de observação participante desenvolvido neste trabalho, embora tenha
contemplado as etapas acima descritas, foi resultado de uma oportunidade viabilizada e não
de um planejamento formal previamente definido no projeto da pesquisa. Desta forma, os
achados foram considerados apenas como fontes complementares. Sendo assim, os principais
benefícios e informações derivadas deste processo foram três:
1.
ampliar a compreensão qualitativa
sobre o papel dos diversos atores do
cluster
;
2.
elaborar uma lista prévia dos p
otenciais recursos relevantes, e
3.
ampliar a compreensão do modo de operação de algumas empresas de alto
desempenho.
Um ponto importante a destacar é que ao desenvolver-se contatos próximos com a
maioria das empresas de alta
performance
e conhecer a sua história, um benefício indireto foi
o entendimento dos elementos precursores que levaram à formação e aquisição dos principais
recursos estratégicos destas empresas, um aspecto que
é explorado na seção de resultados.
79
5.1.2 Formação do grupo de e
specialistas
O grupo de especialistas foi formado com dois objetivos: (1) contribuir na
identificação dos recursos estratégicos do
cluster
e (2) avaliar e validar os instrumentos de
coleta de
dados. Alguns cuidados foram importantes n
a
seleção
dos especialistas.
Primeiramente, a disponibilidade de tempo
para
rodadas de discussão, de forma que o
processo desenvolvido não se constituísse em uma simples transmisssão de conhecimentos
individuais
de cada
especialista
ao pesquisador, mas também, na assimilação e reflexão sobre
os conteúdos expressos pelos outros
especialistas
, conduzindo cada indivíduo a um
aperfeiçoamento de sua visão em relação ao problema estudado.
Como segundo aspecto desejável, buscou-se selecionar especialistas que possuíssem o
que se poderia definir como um amplo
welthanshaung
, ou visão de mundo sobre o negócio
vitivinícola, possuindo uma capacidade analítica mais distanciada e neutra sobre o setor e
sobre o
cluster
analisado
.
Como terceiro ponto, buscou-se conjugar percepções complementares,
contemplando
várias áreas de especialização. Tomando em consideração estes objetivos, formou-se um
grupo de 10 especialistas com vivência em diversas áreas
-
chave, conforme detalha a
Tabe
la 3.
Tabela
3 -
Grupo de Especialistas
Área Chave
Experiência
Desenvolvimento tecnológico
10 anos
Mercado
12 anos
Planejamento estratégico
7 anos
Enologia
( 4 especialistas)
25 anos; 10 anos; 20 anos; 22 anos
Agronomia
(2 e
specialistas)
15 anos; 10 anos
Políticas públicas
12 anos
80
5.1.3 Entrevistas em p
rofundidade
As entrevistas em profundidade foram em mero de 10, com duração média de 50
minutos. Para garantir maior eficácia no processo presencial, previamente à realização das
entrevistas, os especialistas receberam uma explanação detalhada sobre o teor da pesquisa, o
detalhamento da questão investigada e dos conceitos teóricos abordados. As entrevistas foram
registradas por escrito. Na análise de conteúdo foi utilizada a técnica de “análise por
categorias”. Esta técnica, conforme K
rippendorff
(
1980)
, consiste basicamente das seguintes
etapas:
Preparação das informações: Consiste na transcrição das entrevistas na íntegra
e
leitura detalhada para destacar e selecionar os
aspectos relevantes ao estudo.
Unitarização:
Consiste na separação do texto em parágrafos de acordo com o tema e
sucessivas sínteses para identificar as unidades de registro. Nesta etapa excluem-se as partes
do texto não relevantes e busca
-
se ressaltar os
parágrafos que contêm idéias
-
chave.
Categorização:
Consiste no agrupamento das unidades de registro ou conceitos das
várias entrevistas de acordo com as suas similaridades. Nesta etapa uma das técnicas é o
registro dos parágrafos em cartões e o agrupamento destes cartões de acordo com os grupos
de idéias e conceitos a que estão associados.
Relação dos dados: Consiste na relação de conceitos-chave identificados (no presente
caso, os conceitos representando os potenciais recursos estratégicos).
81
5.1.4
Process
o de identificação e validação dos recursos e
stratégicos
Concluído o processo de entrevistas em profundidade e análise de conteúdo foi
identificado um conjunto de conceitos representativos de recursos estratégicos em potencial.
A validação deste conceitos seguiu um roteiro estabelecido, visando avaliar a presença de
atributos estratégicos
, conforme ilustrado na Figura 9
.
Figura
9 -
Passos para a Identificação e Validação dos Recur
sos
O recurso é de
posse
individual
?
S
S
S
Recurso
Singular
Recurso de
Acesso Restrito
Co
-
especialização, assimetria informacional, não codificação do
conhecimento, escassez, não
-
negociabilidade, imob
ilidade,
dependências de caminho, etc...
Recurso não estratégico
N
O recurso
produz efeitos
sobre todas as
firmas
?
Recurso Sistêmico
Potencial de
apropriabilidade
N
N
O recurso possui
atributos
estratégicos
relevantes ?
Identificação dos recursos
em potencial
Análise de conteúdo
Entrevistas com
o grupo de
especialistas
Validação com Especialistas
Lista Validada de Recursos Estratégicos
Lista Preliminar de Recursos Estratégicos
82
Cada conceito foi analisado conforme uma sequência de passos para classificação:
primeiramente verificou-se a sua condição de valor estratégico, analisando se o recurso
possuía atributos ou mecanismos de isolamento, avaliando-se a presença de condições de
co
-
especialização
,
assimetria informacional
,
não codificação do conhecimento
,
escassez
, não
-
negociabilidade
,
imobilidade
,
dependências de caminho, entre outras, conforme os
pressupostos teóricos previamente apresentados. Partindo deste teste, avaliou-se a seguir se o
recurso é do tipo
singular
, de acesso restrito ou
sistêmico,
classificando-o nas respectivas
categorias.
Cumpridas estas etapas, foi elaborada uma “lista preliminar de recursos estratégicos”.
A lista assim composta representou o resultado a
gregado das entrevistas individuais. O grande
tema guia das discussões foi a presença ou não de atributos estratégicos, de forma que se
pudesse caracterizar a condição de dificuldade de imitação ou subsitituição dos recursos que
estavam sendo propostos.
Esta lista preliminar foi a seguir novamente apresentada ao grupo de especialistas,
visando validar os resultados obtidos. A lista foi apresentada presencialmente na maioria dos
casos e também via e-
mail
. Em caso de sugestão de exclusão ou alteração de algum recurso
listado, a proposta de mudança e a respectiva argumentação foi exposta aos demais membros
em novas consultas, até que se chegasse a um consenso considerado satisfatório pelo
pesquisador.
83
5.2 RESULTADOS DA ETAPA EXPLORATÓRIA
A partir das entrevistas com especialistas setoriais foram identificados os diversos
recursos estratégicos singulares, de acesso restrito e
sistêmicos
do
cluster
estudado, os quais
são detalhados a seguir
.
5.2.1
Recursos Singulares
Na categoria de recursos singulares foram identificados três recursos específicos da
atividade vitivinícola e três recursos de caráter mais genérico, potencialmente aplicáveis a
outros segmentos empresariais. Os recursos específicos foram os recursos de
terroir
, a
competência enológica e a competência vitícola. Os recursos genéricos identificados foram o
capital de marca, o capital de relacionamentos com fornecedores de tecnologia e a cultura de
orientação para o mercado, conforme detalha
-
se a seguir
Recursos de
Terroir
:
os recursos de
terroir
conte
mplam
as características do solo, do
microclima, do relevo e do ecossistema do local, as quais são responsáveis pela
qualidade do vinhedo e das uvas. Conceitualmente, todo
terroir
pode ser considerado
único mas, em algumas localizações específicas podem estar presentes características
vantajosas para a produção de vinhos finos. Os principais atributos estratégicos
associados a este recurso são a inimitabilidade
e a
imobilidade.
Competência Enológica: representa o conjunto de conhecimentos e experiências em
enologia disponíveis à firma, agregando a experiência nacional e internacional do
enólogo, o tempo de atuação, o tipo de relação profissional, e o envolvimento com
atividades de pesquisa. Os principais atributos estratégicos associados a este recurso
são a
dependência de caminho
,
a co
-
especialização
e as
assimetrias de informação
.
Competência Vitícola: representa a experiência em viticultura disponível à firma,
84
agregando elementos como a prática de experimentos com novas variedades, a
existência de um agronômo ou técnico agrícola, o tipo de relação profissional
deste
agrônomo ou técnico com a empresa e o seu envolvimento com pesquisa. Os
principais atributos estratégicos associados a este recurso são a dependência de
caminho
, a mobilidade imperfeita e
as
ass
imetrias de informação e a
co
-
especialização
, derivadas da experimentação e compreensão dos elementos do
terroir
.
Capital de Marca: representa o valor da marca e dos ativos ligados à marca ou
marcas possuídas pela firma, expresso por elementos como reputação, notoriedade,
fidelidade e qualidade percebida, entre outros. O atributo estratégico central neste tipo
de recurso é a dependência de caminho, na medida em que uma firma não pode
acelerar a formação de capital de marca, tendo que percorrer uma longa trajetória no
mercado.
Rede de Relacionamentos com Fornecedores de Tecnologia: expressa uma
condição em que a firma possui acesso privilegiado a tecnologias nacionais e
internacionais, através de uma rede de relacionamentos. Neste recurso os principais
atrib
utos estratégicos são a
complementaridade
ou
co-especialização de ativos e o
acesso preemptivo
a inovações em tecnologia.
Cultura de Orientação para o Mercado: é o grau em que a empresa concentra
esforços gerenciais no atendimento das necessidades do mercado e no
desenvolvimento e ampliação de sua participação. Como atributos estratégicos estão
presentes a dependência de caminho e a longa curva de aprendizado envolvendo
assimetrias de informação
sobre o mercado.
85
5.2.2 Recursos de Acesso Restrito
Na categoria de recursos de acesso restrito foram identificados sete recursos
envolvendo
uma
instituiç
ção
de pesquisa local (EMBRAPA), uma região com Indicação de
Procedência (Vale dos Vinhedos), um programa de exportação de vinhos (Wines from Brazil
)
e quatro rot
as turísticas organizadas, detalhados a seguir
Centro de pesquisas da EMBRAPA- CNPUV: a EMBRAPA é um órgão federal
voltado para a pesquisa agropecuária com unidades em vários estados do país. Sua
unidade CNPUV- Centro Nacional de Pesquisas em Uva e Vinho, foi estabelecida em
1984 em Bento Gonçalves e é dedicada ao desenvolvimento científico da fruticultura
mas com grande ênfase no setor vitivinícola. Este centro desenvolve pesquisas de
novas variedades de uvas, práticas vitícolas e processos vinícolas, contando com mais
de 40 pesquisadores como formação de mestrado e doutorado. Suas pesquisas e
desenvolvimentos são públicas e de livre acesso às empresas do
cluster
e de fora do
cluster
.
Como principais atributos estratégicos associados estão presentes os
inve
stimentos de longo prazo, representando importantes dependências de caminho e
co
-especialização de ativos, na medida em que os pesquisadores desenvolvem
estudos
voltados aos problemas específicos da região. Além dos efeitos restritos a EMBRAPA
pode também ser uma fonte de efeitos sistêmicos, na medida em que enriquece a base
coletiva de conhecimentos do
cluster
.
Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos: de acordo com a lei brasileira,
considera
-se Indicação de Procedência o nome geográfico - do país, da cidade, da
região ou da localidade - que
tenha
se tornado conhecido como centro de extração,
produção ou fabricação de determinado produto ou de prestação de determinado
serviço
(
A
PROVALE,
2006
).
86
A Indicação de Procedência do Vale dos Vinhedos foi obtida em 2002, e incorpora os
seguintes aspectos regulatórios:
Conjunto de cultivares autorizadas, todas da espécie Vitis vinifera ;
Conjunto restritivo de produtos vinícolas autorizados;
Limite de produtividade máxima por hectare;
Padrões de identidade e qualidade química e sensorial mais restritivos,
com aprovação obrigatória dos vinhos por um grupo de experts em
degustação;
Elaboração, envelhecimento e engarrafamento na área delimitada;
Conselho Regulad
or
;
Sinal distintivo para o consumidor,
e
nor
mas específica
s de autocontrole;
Conjunto de cul
ivares controlado
.
Como
atributos estratégicos associados a este recurso estão presentes
as
dependências de caminho, a
co
-especialização de ativos, a
escassez
(terras
limitadas)
,
a
inimitabilidade
e a
imobilidade
.
Programa
de exportação Wines from Brazil: o Projeto Setorial Integrado (PSI) de
Exportação de Vinhos e Derivados do Brasil (que utiliza o termo Wines from Brazil
como "bandeira" promocional) prevê ações como treinamento gerencial, pesquisa e
prospecção de mercado, adequação das empresas e de produtos para exportação,
promoção comercial e participação em feiras internacionais, entre outras. Um de seus
focos é a capacitação para exportação de vinhos elaborados com uvas Vitis viniferas e
de espumantes, produtos com maior valor agregado do
cluster
. É um programa aberto
às empresas do
cluster
, desde que ingressem nas atividades de capacitação. Conta
atualmente com 16 empresas participantes e tem apresentado resultados expressivos
desde a sua
implantação em 2002.
Está ass
ociado
à
dependências
de caminho
.
87
Rota Turística Vale dos Vinhedos: é uma rota de vinícolas e estabelecimentos
relacionados, localizada entre os municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte
Belo do Sul. A partir do sucesso de um grupo de empresas ali instaladas, nos últimos
10 anos, o Vale dos Vinhedos foi se transformando em uma rota turística altamente
organizada e sinalizada com uma completa infra
-
estrutura voltada ao enoturismo. Foi a
primeira região do Brasil a conquistar a Indicação de Procedência e é uma das rotas
mais bem sucedidas do
cluster
. Os principais atributos envolvendo rotas turísticas são
a
inimitabilidade
e a
imobilidade
.
Rota Turística Caminhos da Montanha: situa-se no distrito de Pinto Bandeira, em
Bento Gonçalves. É uma rota turística relativamente nova, no qual tem se instalado
empresas de alto padrão de qualidade. Está associada à
imobilidade
e
inimitabilidade
.
Rota dos Espumantes: esta rota está localizada no município de Garibaldi e envolve
6 vinícolas e diversas pequenas cantinas (micro-champanharias) em implantação. Foi
considerada um
recurso
de acesso
restrito
por estar intrinsecamente relacionada
com
as empresas desta cidade e com a especialização em produção de espumantes que é
atribuída ao local. Está associada aos atributos de
imobilidade
,
inimitabilidade
, co-
especialização de ativos
e
dependências de caminho.
Rota Turística dos Altos Montes: situa-se nos municípios de Flores da Cunha e
Nova Pádua
.
É uma rota turística ainda em consolidação, na qual
estão
empresas de
alto padrão de qualidade
,
mas também empresas de padrão intermediário, dedicada a
produtos menos nobres
. Está associada à
imobilidade
e
inimitabilidade
.
88
Associação UVIBRA: a UVIBRA é uma entidade setorial criada 34 anos. Está
localizada no município de Bento
Gonçalves
RS e tem como principais objetivos o
aprimoramento da produção vinícola e o controle de qualidade dos vinhos e derivados,
a elaboração de estatísticas setoriais, a difusão de conhecimentos técnicos na área da
vitivinicultura e enologia, a promoção do incremento do consumo de vinho no país e
no exterior e a defesa dos interesses da vitivinicultura perante as entidades públicas e
privadas
.
Está associada aos atributos de dependência de caminho, assimetrias de
informação
e
imperfeita imitabilidade
.
Associação AGAVI
: é uma entidade setorial fundada em 1981, com sede na cidade de
Flores da Cunha. Esta entidade tem por objetivos congregar produtores de vinho do
Estado do Rio Grande do Sul, divulgar os benefícios do Vinho para a saúde humana e
desenvolv
er ações visando aumentar o consumo de Vinho no Brasil. Esassociada
aos atributos de dependência de caminho, imperfeita imitabilidade e a uma condição
de
assimetrias de informação
sobre as empresas e suas estratégias locais.
Associação APROVALE: a Associação dos Produtores de Vinhos Finos foi criada
com a finalidade de organizar e defender os interesses dos produtores desta micro-
região. Seus objetivos incluem entre outros o desenvolvimento de ações que
promovam a organização e preservação do espaço físico do Vale dos Vinhedos, o
estímulo e a promoção do potencial turístico da região, o aprimoramento sócio cultural
dos associados, seus familiares e da comunidade e a preservação e proteção à
indicação geográfica dos vinhos da região “Vale dos Vinhedos” (APROVALE, 2006).
Este recurso está associado aos atributos de dependência de caminho
,
co
-
especialização de ativos
,
inimitabilidade
e
assimetrias de informação
.
89
Associação APROMONTES: fundada em 2002, a Associação de Produtores dos
Vinhos dos Altos Montes é uma associação de onze vinícolas localizadas nos
municípios de Flores da Cunha e Nova Pádua. A missão da Apromontes é promover a
organização de área geográfica determinada para a produção de vinhos finos, visando
sua certificação de origem, divulgação e comercialização. Este recurso está associado
aos atributos de dependência de caminho
,
co
-especialização de ativos
,
inimitabilidade
e
assimetrias de informação
.
Associação Brasileira de Enologia (ABE): fundada em 1976, a ABE
congrega
enólogos de todos o p
s com o objetivo de promover o intercâmbio de experiências e
conhecimentos. Entre as suas ações estratégicas, busca promover a cultura vitivinícola
e estabelecer a difusão de conhecimentos entre os enólogos e consumidores. È uma
instituição
reconhecida intern
acionalmente
,
participa
ndo com avaliadores em diversos
concursos internacionais de vinhos. Está associada aos atributos de dependência de
caminho
,
co
-
especialização de ativos
,
inimitabilidade
e
assimetrias de informação
.
Associação AVIGA: assim como as demais entidades setoriais, a Associação das
Vinícolas de Garibaldi tem como objetivo a defesa dos interesses das empresas da
cidade
, desenvolve
ndo
esforços de revitalização d
a
imagem
do município
como
tradicional produtor de espumantes. Está associada aos atributos de dependência de
caminho
,
co
-
especialização de ativos
,
inimitabilidade
e
assimetrias de informação
.
90
5.2.3 Recursos Sistêmicos
Na categoria de
recursos
sistêmicos
foram identificados se
is
recursos envolvendo
instituições de
governança
locais (
IBRA
VIN
), um programa de desenvolvimento estratégico
(VISÃO 2025), duas instituiç
ões
de formação educacional e pesquisa (CEFET, UCS),
um
laboratório de análises enológicas (LAREN), um conjunto de ativos de legislação (LEI DO
VINHO) e um conjunto de ativos de i
magem da
região
,
detalhados a seguir
IBRAVIN
- Instalado em Bento Gonçalves, RS, o Instituto Brasileiro do Vinho tem
como missão a representação estratégica e política do Setor Vitivinícola Brasileiro,
promovendo a governança e a defesa dos interesses das várias cadeias produtivas que
o compõem. O IBRAVIN é a instância representativa do Brasil perante a
Organização
Internacional da Uva e do Vinho (O.I.V.), organismo maior da vitivinicultura mundial
em termos técnicos e cie
ntíficos.
Está associado aos atributos de dependência de
caminho
e
assimetrias de informação
Programa VISÃO 2025: o programa estratégico VISÃO2025 tem como objetivo o
estabelecimento de ações estratégicas para a Indústria de Vinhos do RS, contemplando
um horizonte de 20 anos à frente. Estas ações estão consubstanciadas em um plano,
desenvolvido ao longo de 2004 e 2005 por um grupo de especialistas setoriais com a
coordenação técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e CEPAN –
Centro de Estudos e Pesquisa em Agronegócios. Contempla ações em 5 áreas
temáticas: Mercado, Tecnologia, Legislação, Logística e Gestão. Está associado aos
atributos de dependência de caminho
,
co
-especialização de ativos e assimetrias de
informação
.
91
CEFET:
o Centro Federal de Educação Tecnológica, localizado em Bento Gonçalves,
é uma instituição de ensino médio e superior dedicada ao ensino da enologia e
viticultura.
É o único no Brasil a formar Técnicos e Tecnólogos em Enólogia e
Viticultura.
Representa um
recurso
sistêmico
porque
, através da formação de turmas
anuais
, contribui para o
aument
o da competência enológica coletiva do
cluster
. Está
associado
aos atributos de
dependência
de caminho
e
co
-
especialização de ativos
.
UCS
:
A Universidade de Caxias do Sul é uma instituiç
ão
privada
de ensino superior,
com atuação na região nordeste do Estado do Rio Grande do Sul. Desenvolve cursos
de nível superior em diversas áreas associadas ao setor vitivinícola, exercendo um
papel central na formação de mão-
de
-obra especializada e geração de co
nhecimentos,
os
quais tem efeito
s
sistêmicos
importantes para as empresas da região. Está associado
principalmente à
co
-
especialização
de ativos
.
LAREN:
O
Laboratório de Referência Enológica está instalado em Caxias do Sul e
atua desde 2001 na análise química dos vinhos nacionais e importados, fornecendo
apoio à fiscalização desenvolvida pela Secretaria Estadual da Agricultura, à qual está
subo
rdinado. Desenvolve um papel sistêmico
ao
induz
ir
o aprimoramento da
qualidade dos vinhos e facilita o cumprimento da legislação vitivinícola brasileira.
Está associado
aos atributos de
dependência de caminho
e co
-
especialização
de ativos.
Ativos de Imagem da Região da Serra: Estes ativos representam uma conjugação
dos
atrativos turísticos, da cultura, da tradição e da história do cluster, os quais
consolidam a imagem vitivinícola da região. É um recurso sistêmico na medida em
que influencia a todos os que estão ali localizados.
Est
ão
associados aos atributos de
dependência de caminho
,
co
-
especialização de ati
vos
e
inimitabilidade
, entre outros
.
92
Como síntese deste capítulo, no Quadro 1 a seguir,
relaciona
os diversos recursos
identificados, e os respectivos atributos estratégicos
associados a cada um
.
Definição
Atributos Estratégicos
Recursos Singulares
Terro
ir
privilegiado
Inimitabilidade;
i
mobilidade
Competência enológica
Competência vitícola
Dependência de caminho, co
-
especialização
de ativos
,
assimetrias de informação
Capital de marca
Dependência de caminho
Capital de relac
.
com fornecedores de tecno
logia
Assimetrias de informação
Cultura de Orientação para mercado
Dependência de caminho,
assimetrias de informação
Recursos de Acesso Restrito
Centro de P
esquisas da EMBRAPA
Dependência de caminho, c
o-
especialização
de ativos
Indicação de Procedênci
a do Vale dos Vinhedos
Dependência
de caminho, co
-
especialização de ativos,
escassez (terras limitadas), inimitabilidade
e
imobilidade.
Programa de exportação
Wines from Brasil
Dependências de Caminho
Rota Turística Vale dos Vinhedos
Rota Turística Caminhos da Montanha
Rota dos Espumantes
Rota Turística dos Altos Montes
Imobilidade, inimita
bilidade
Associação UVIBRA
Associação AGAVI
Dependência de caminho,
assimetrias de informação
,
imperfeita imitabilidade
Associação APROVALE
Dependência de
ca
minho,
assimetrias de informação
,
i
mpe
rfeita imitabilidade,
co
-
especialização de ativos
(estrut
.
de turismo + vinícolas)
Associação
ASPROVINHO
Associação APROMONTES
Associação
AVIGA
Dependência de caminho,
assimetrias de informação
,
imperfeita imitabilidade
Recursos Sistêmicos
IBRAVIN
Dependência de caminho
,
assimetrias de informação
,
i
mperfeita imitabilidade
Programa VISÃO2025
D
ependência de caminho, co
-
especialização de ativos
,
assimetrias de informação
.
Universidade de Caxias do Sul
-
UCS
Co-
es
pecialização de ativos.
Centro Federal de Educação Tecnológica
CEFET
Laboratório de Enologia
-
LAREN
Dependências de caminho
,
co
-
especialização de ativos
Ativos de Imagem da Região da Serra Gaúcha
Dependência de caminho, co
-
especialização de ativos e
i
nimitabilidade
Quadro
1-
Lista de Recursos
Estratégicos
93
6 DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA DESCRITIVA
A
pesquisa descritiva teve como objetivo investigar as inter-relações entre três
elementos: estratégias, recursos e
performance.
Com
base nos resultados da etapa
exploratória, foi desenvolvido um conjunto de variáveis e um questionário estruturado,
respondido por
executivos
-chave e enólogos das empresas estudadas. Nas seções seguintes
serão apresentados o delineamento desta etapa de pesquisa, incluindo a população estudada,
as variáveis de investigação e as técnicas estatísticas adotadas e, por fim, os resultados
encontrados.
6.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA
Detalha
-
se a seguir o delineamento da pesquisa.
6.1.1 População
a
lvo
A pesquisa focaliza as empresas instaladas no
Cluster
Vitivinícola da Serra do RS que
produziram em 2003, pelo menos 10.000 litros de vinhos finos para comercialização com
marca própria, em garrafas de até 750 ml, e que atuavam neste segmento um mínimo de
três anos. Este ponto de corte foi definido conjuntamente com o grupo de especialistas como
uma escala mínima para que uma firma esteja comercialmente engajada no negócio de vinhos
finos. A especificação de embalagem deve-se ao fato de que este tipo de garrafa representa o
padrão internacional para as categorias de produto estudadas.
A população definida por estes critérios totalizou 54 empresas, que representavam
95
% da produção de vinhos finos do Brasil em 2003
(descartou
-se apenas as empresas
artesanais
e as que n
ão participam do
cluster
).
94
A distribuição geográfica destas empresas, conforme ilustra a Figura 10, está
concentrada num raio de 59 kilômetros de Bento Gonçalves, que é claramente a região de
maior concentração na produção de vinhos finos e também, a sede das principais instituições
de pesquisa, formação e governança do
cluster.
Figura
10
-
Distribuição Geográfica das Firmas Estudadas
Fonte:
A
ssociação de Turismo da Serra Gaúcha,
200
6.
De acordo com os critérios estabelecidos, o estudo se aproxima de um modelo de
censo, pois estudou-se toda a população de interesse instalada no
cluster
. Esta condição
permite o relaxamento de uma série de restrições quanto à distribuição e significância
estatística
dos dados, uma vez que não se está tratando de uma amostra probabilística, mas
sim,
realizando
um est
udo descritivo de uma população e de seus parâmetros reais
.
95
6.1.2 Definição das variáveis de i
nvestigação
De acordo como a concepção adotada na pesquisa,
foram
analisadas
as
relaç
ões entre
variáveis em dois níveis interdependentes. Conforme ilustra a Figura 11 a seguir, os recursos
representam ao mesmo tempo uma variável dependente do fator estratégias e variáveis
independendes atuando sobre o fator
performance
.
Figura
11
-
Relação entre as Variáveis de Pesquisa
Uma das
hipóteses
centrais investigadas nesta pesquisa é de que cada tipo de recurso
estratégico existente em um
cluster
possui uma influência distinta sobre a
performance
das
firmas.
U
ma
idé
ia
associada é que as estratégias das firmas estão relacionadas
aos
diferentes
graus de acesso aos recursos do
cluster
, e também influenciam indiretamente a sua
performance
.
O foco de interesse centra-se não nas estratégias competitivas desenvolvidas no
mercado, as quais foram objeto de trabalhos preliminares, mas sim, em aspectos associados a
estratégias de produção
,
como as tecnologias e sistemas produtivos e o grau de especialização
em vinho finos adotados por cada empresa. Busca-
se
assim, uma compreensão dos distintos
tipos de empresas vinícolas presentes no
cluster
, entend
endo
suas posturas em relação à
recursos e comprometimentos com
a
qualidade.
Estratégias
Recursos
Performance
Variáveis
dependentes
Variáveis
Independentes
Variáveis
Independentes
Variáveis
dependente
s
96
Como procedimento pado em estudos deste tipo, todas as variáveis, escalas e o
instrumento de pesquisa a
plicado
passaram por um processo de validação por juízes e práticos,
representados pelo grupo de especialistas (
MALHOTRA
,
200
1
).
6.1.2.1 Dados g
erais
O primeiro conjunto de variáveis, apresentado no Quadro 2, tem como objetivo
levantar informações gerais sobre a idade, a experiência com vinhos finos, o número de
funcionários
e os volumes de produção de cada empresa nas categorias de vinhos finos em
estudo. Embora alguns destes itens não sejam diretamente utilizados nas análises finais, todos
contribuem par
a um melhor entendimento do perfil das empresas estudadas.
Definição
Descrição
Operacionalização
IDADE
Especifica a experiência da empresa com o
negócio de vinhos e a sua cronologia de
participação no
cluster
.
É medida pelo tempo em anos desde a
fundação
da empresa.
TEMPRODVF
Especifica a experiência da empresa com o
negócio através do tempo que ela produz e
vende vinhos finos engarrafados
.
É medida pelo tempo em anos que a
empresa oferta no mercado seus próprios
vinhos finos engarrafados em garrafas de
7
50 ml.
VOLPROD
VFVARIETAL
Especifica o volume de produção de vinho
s
finos do tipo varietal.
É medido pelo volume em milhares de
litros elaborados por ano, para este tipo
de produto, consideran
do
-
se a média do
período de 2000
a 2004.
VOLPROD
VFRESERVA
Esp
ecifica o volume
de produção
de vinhos
finos do tipo reserva.
É medido pelo volume em milhares de
litros elaborados por ano, para este tipo
de produto, consideran
do
-
se a média do
período de 2000
a 2004.
VOLPROD
VFGRANRESERVA
Especifica o volume de produ
ção de vinhos
finos do tipo gran reserva
.
É medido pelo volume em milhares de
litros elaborados por ano nesta categoria
de produto, considerando
-
se a média do
período de
2000
a 2004.
NUMFUN
Especifica a quantidade de mão de obra
empregada no negócio viníc
ola.
É medido pelo numero total de
funcionários da empresa
.
Quadro
2 -
Variáveis Relativas a Dados
Gerais
97
6.1.2.2 Estratégias
O estudo das estratégias nesta pesquisa contemplou elementos que capturam os
principais pontos de escolha operacional para uma empresa do setor vitivinícola, que são o
grau de especialização em vinhos finos, o sistema de suprimento de uvas e o sistema de
elaboração de vinhos, discutidos a seguir.
Grau de Especialização
O grau de especialização é definido pelo percentual que a produção de vinhos finos
representa sobre o volume total de vinhos produzidos pela empresa (PERCENTVF).
Devido à trajetória histórica do
cluster
, uma grande parcela das empresas possui como
produto principal o vinho de mesa, sendo o vinho fino uma linha minoritária em seus
negócios. Este é um aspecto relevante, uma vez que são produtos destinados a mercados
completamente distintos, que utilizam uvas e processos produtivos com padrões e exigências
de qualidade
bastante
distintas.
Neste
contexto, a especialização pode ser um precursor para o acúmulo de
competências superiores
na
elaboração de vinho finos, que se refletirão posteriormente na
performance
dos produtos. Para classificar as empresas segundo seu grau de especialização,
adotou
-
se duas categorias, expostas na Tabela
4
a seguir:
Tabela
4 -
Grau de Especialização
Categoria
Critério de Classificação
Especialista
PERCENTVF
75
Generalista
PERCENTVF
75
98
O ponto de corte de 75% foi adotado após uma análise da distribuição de freqüências
do grau de especialização nas empresas estudadas, a qual demonstrou claramente um padrão
de concentração nos dois extremos da escala. Estes padrões de concentração repetem-se para
outros itens analisados e a interpretação com o grupo de especialistas é de existem níveis
operacionais mínimos e imperativos de otimização de investimentos que levam as empresas a
não adotarem posições intermediárias na escala, tendendo para as posições mais extremas.
Inicialmente cogitou-se o estabelecimento de uma categoria intermediária,
denominada como produto dominante, tomando como inspiração um sistema adotado por
Rumelt (1984) em um trabalho referencial sobre diversificação. Todavia, não foi detectada
nenhuma empresa que se enquadrasse neste padrão. C
onsidera
ndo
este contexto, o ponto de
corte escolhido permite uma separação com boa margem de segurança entre os dois grupos.
Sistema de Suprimento
de Uvas
O sistema de
suprimento
de uvas contempla aspectos como a origem das uvas, as
práticas
agrícolas adotadas e a forma de acompanhamento da produção. Basicamente, a
vinícola pode escolher entre três opções principais: (a) simplesmente comprar as uvas no
mercado, (b) adquiri-las de produtores que ela acompanha tecnicamente (produtores
integrado
s), e (c) produzir as uvas em vinhedos próprios. Cada uma das estratégias apresenta
vantagens e desvantagens a serem consideradas.
A primeira opção, que baseia-se em adquirir as uvas de produtores desconhecidos ou
muito heterogêneos, restringe a firma a poucas formas de controle sobre a qualidade,
geralmente avaliando estas uvas apenas quando estão colhidas, e quando nenhum
procedimento maior pode ser adotado para melhorar a sua qualidade.
99
A segunda opção, baseada em adquirir as uvas de produtores integrados, representa
uma estratégia mais avançada de suprimento, na medida em que a firma desenvolve
acompanhamento técnico dos vinhedos e pode interferir no seu manejo. Isto permite maior
controle sobre elementos como o ponto de colheita, a produtividade dos vinhedos e o grau de
maturação fenólica (um indicador específico de qualidade das uvas), entre diversos outros. O
acompanhamento destes indicadores fornece condições para a obtenção de uvas mais maduras
e com precursores de aromas mais evoluídos, que podem, se bem trabalhadas na cantina,
originar vinhos de qualidade superior (
CARRAU,
1978
).
A terceira opção estratégica, a produção própria, representa o sistema ideal do ponto
de vista de controle sobre a matéria prima, na medida em que a firma desenvolve
seus
próprios experimentos (em produção com terceiros não é viável realizar experimentos que
resultem em baixa rentabilidade ao produtor) e potencialmente, uma observação mais
intensiva da evolução dos parreirais.
É uma regra de comum entendimento no mundo vitivinícola, que quanto maior a
produtividade em volume extraída de um vinhedo, menor será a qualidade potencial das uvas.
Ao se realizarem práticas de “podas precoces” e “derrubada de cachos” reduzindo a produção
em volume de uma parreira, esta planta desenvolve uma redistribuição de sua vitalidade
biológica nos cachos restantes, produzindo uvas de maior qualidade e potencial enológico
(VOGT,1971
).
Esta é uma prática muitas vezes antieconômica quando analisada sob a perspectiva dos
viticultores, contudo, para as vinícolas pode representar a diferença entre ter a matéria-
prima
para elaborar um vinho de alta qualidade ou limitar-se a produzir um vinho de desempenho
mediano, que pode ser desenvolvido por qualquer concorrente menos preparado.
100
Este
é um ponto polêmico, que pode facilitar a distinção entre as empresas que estão
no negócio apenas por oportunismo, aquelas que estão ingressando e se estruturando, e as que
realmente possuem vocação e foco em vitivinicultura de qualidade.
Partindo destas considerações, desenvolveu-se três variáveis para investigar a
produção de uvas: (a) percentual em volume de uvas próprias (PERCENTUVP), (b)
percentual em volume de uvas adquiridas de produtores integrados (
PERCENTUVINT
), e (c)
percentual em volume de uvas comprada
s no mercado (
PERCENTUVCOMP
).
Embora muitas empresas tenham afirmado possuírem produtores cativos, ou seja,
produtores dos quais compram freqüentemente, nesta pesquisa a estratégia de produção
integrada foi considerada válida somente quando a empresa demo
nstro
u possuir uma efetiva
estratégi
a de integração, caracterizada pela disponibilização de profissionais de suporte
agronômico e
pelo estabelecimento
de uma
relação de longo prazo com estes produtores.
Visando capturar estratégias mistas de suprimento, e não apenas as opções puras,
desenvolveu
-se com base nas variáveis acima, três categorias para classificação do sistema de
produção de uvas,
conforme a Tabela
5
a seguir:
Tabela
5 -
Sistema de Suprimento de Uvas
Categoria
Critér
io de Classificação
Produção Própria
PERCENTUVP
70 %
Produção Integrada
PERCENTUVINT
=
PERCENTUVCOMP
Uvas Compradas
PERCENTUVCOMP
>
PERCENTUVINT
101
Da mesma forma que no item anterior, estes pontos de corte foram escolhidos com
base em consulta ao
grupo de especialistas, sendo considerados como bastante representativos
da política dominante de suprimentos à qual a empresa está comprometida.
Sistema de Elaboração de Vinhos
O sistema de elaboração de vinhos contempla as instalações, conhecimentos tácitos e
explícitos e as tecnologias utilizadas na elaboração do vinho. Neste aspecto, a vinícola pode
estar situada em um gradiente tecnológico que se extende desde simples pipas de madeira
artesanais, a instalações completamente computadorizadas, que permitem controlar cada
etapa do processo de vinificação.
Na segunda metade do século XX, como resultado de uma série de pesquisas
desenvolvidas na Europa, foram identificados diversos aspectos críticos do processo de
vinificação até então desconhecidos. Uma das principais descobertas foi de que o mau
controle de temperaturas no processo de fermentação, que ocorre logo após as uvas serem
maceradas (esmagadas) e colocadas em tanques, favorece o desenvolvimento de bactérias e
leveduras indesejáveis, resultando
em queda na qualidade dos vinhos (CARRAU , 1978).
Desde que este tema foi estudado, e as tecnologias de suporte difundidas, o controle de
temperaturas de fermentação tem sido a base de um dos saltos tecnológicos mais importantes
no negócio mundial do vinho. Como coloca Copat (2006) “A elaboração do vinho é antes de
tudo uma ciência microbiológica, e o entendimento e controle deste fator é um dos elementos
chave para a qualidade final do produto”.
Complementarmente, os processos adicionais de controle da vinificação, que
envolvem análises de laboratório em várias fases do processo e técnicas como a pisagem,
102
delestagem e micro-
oxigenação
6
entre outras, revelam-se condições essenciais para a
elaboração de vinhos de alta qualidade ou alta
performance.
Uma segunda questão relevante refere-se às práticas de higiene. Más condições de
higiene da cantina e dos equipamentos favorecem a proliferação de microorganismos
oportunistas, que podem contaminar os vinhos compromentendo a sua qualidade final.
Usualmente cantinas com más condições de higiene lançam mão de produtos
conservantes e estabilizantes em doses excessivas, o que pode se refletir negativamente na
própria sanidade dos produtos e em danos aos consumidores.
As instalações de armazenamento dos vinhos são um outro fator importante. Neste
quesito, as empresas podem armazenar o produto em pipas de madeira (que podem gerar
contaminações indesajáveis), em piletas de concreto ou tanques de fibra de vidro, em tanques
de aço inox expostos ao clima (que geram flutuações de temperatura sobre o vinho pronto)
e em tanques de inox protegidos e com atmosfera interna inerte (o melhor sistema do ponto de
vista de proteção e conservação do produto).
As práticas de envelhecimento dos vinhos, por sua vez, são um ponto crítico e
polêmico. Vinhos de qualidade podem ou não lançar mão de envelhecimento em barris de
carvalho, e posteriormente em caves subterrâneas após engarrafados. Todavia, na intenção de
agradar um mercado consumidor entusiasta, muitas vezes desconhecedor dos pr
odutos, muitas
empresas lançam mão de um processo de pseudo-envelhecimento, adicionando ao vinho
pedaços de
madeira em forma de serragem ou pequenos blocos, denominados como “
chips
”.
6
A pisagem e delestagem são técnicas baseadas em movimentação mecânica do mosto de uvas maceradas
visando o aumento das trocas e extração
de substâncias aromáticas e cor das cascas e dos grãos.
A microoxigenção atua no mesmo sentido, mas baseia
-
se em revolver o mosto por meio de jatos de ar.
103
Esta tecnologia tem cunho extremamente comercial, e não adiciona ao vinho as
propriedades que um envelhecimento real proporciona, todavia, tem sido utilizada no mundo
inteiro por empresas de produção em larga escala
, o que contribuiu para a sua difusão.
Estes elementos, controle de fermentação, práticas de higiene, sistemas d
e
armazenamento e práticas de envelhecimento constituíram um roteiro orientativo utilizado
para entrevista e observação direta do sistema vinícola em cada uma das empresas estudadas.
A partir das práticas adotadas, atribuiu-se a cada empresa um grau de te
cnificação
(GRAUTECNIF) que foi associado a três categorias, conforme a Tabela
6
a seguir:
Tabela
6 -
Sistema de Elaboração de Vinhos
Categoria
Critério de Classificação
Baixa Tecnologia
GRAUTECNIF = 1
Média Tecnologia
GRAUTECNI
F = 2
Alta Tecnologia
GRAUTECNIF = 3
As empresas caracterizadas como de Baixa Tecnologia apresentam um quadro geral
de controle frágil sobre a fermentação, controles de temperatura inexistentes ou artesanais,
orientações esporádicas de enólogos, análises químicas mínimas, poucas ou nenhuma prática
de favorecimento das trocas no mosto, nenhuma prática de higiene formalizada,
armazenamento exposto a variações de temperatura e contaminações, e nenhum sistema de
envelhecimento.
As empresas caracterizadas como de Média Tecnologia apresentam controle pontual
do processo de vinificação, sistemas de controle de temperatura de fermentação precários,
análises laboratoriais mínimas, práticas mínimas de favorecimento das trocas do mosto,
práticas de higiene esporádicas e não sistematizadas, armazenamento em pipas ou piletas com
104
más condições de conservação, uso regular de
chips
ou nenhum sistema de envelhecimento.
As empresas caracterizadas como de Alta Tecnologia, apresentam controle de todo o
processo de vinificação, sistemas de frio e controles automatizados, análises laboratoriais
freqüentes em todas as etapas, ou mesmo laboratórios próprios, uso de enzimas e reguladores
da fermentação, práticas diversas de favorecimento das trocas, remontagem, pisagem,
microoxigena
ção, práticas de higiene c
onstant
e, APPCC
7
ou similares, armazenamento em
tanques com atmosfera controlada e envelhecimento em barricas e caves apropriadas.
Feitas estas considerações, a partir da combinação entre grau de especialização,
sistemas de produção de uvas e grau de tecnificação, chega-se a 18 configurações possíveis,
conforme a Figura 1
2
a seguir:
Figura
12
-
Combinações de Estratégias
Cada uma destas configurações representa uma categoria estratégica distinta,
com
diferentes implicações em termos de acesso aos recursos dos
cluster
e por conseguinte para a
Produção
Própria
Produção
Integrada
Uvas
Compradas
Especialista
Generalista
Baixa
Tecnologia
Média
Tecnologia
Alta
Tecnologia
105
performance
das firmas, cuja compreensão constitui um dos objetivos deste estudo.
O Quadro 3 a seguir apresenta a descrição e o detalhamento operacional das v
ariáveis
a partir das quais serão analisadas as estratégias em cada um dos componentes propostos.
Definição
Descrição
Operacionalização
PERCENTVF
Especifica o nível de
especialização no negócio
através do volume percentual
de vinhos finos em
relação à
pro
dução total de vinhos da
empresa
É medido pelo percentual de vinhos finos
sobre o volume total de litros de vinho
elaborados pela empresa ao ano.
C
onsidera
-
se no levantamento o período
de 2000
à
2004
.
PERCENTUVPROP
Especifica o percentual de
uvas próprias
utilizado pela
empresa em seus vinhos
finos.
É medido pelo percentual de Kg de uvas
de origem de vinhedos próprios em
relação ao total utilizado pela empresa na
elaboração dos seus vinhos finos.
C
onsidera
-
se no
levantamento o período
de 2000 à 2004
.
PERC
ENTUVINT
Especifica o percentual de
uvas de produtores
integrados utilizado pela
empresa em seus vinhos
finos.
É medido pelo percentual de Kg de uvas
de origem de vinhedos de produtores
integrados em relação ao total utilizado
pela empresa na elaboração do
s seus
vinhos finos.
C
onsidera
-
se no
levantamento o período de 2000 à
200
4.
PERCENTUVCOMP
Especifica o percentual de
uvas compradas utilizado
pela empresa em seus vinhos
finos.
É medido pelo percentual de Kg de uvas
de origem comprada no mercado em
relaçã
o ao total utilizado pela empresa na
elaboração dos seus vinhos finos.
C
onsidera
-
se no
levantamento o período
de 2000 à 2004
.
GRAUTECNIF
Define o grau de tecnologia
empregado no sistema
vinícola da empresa.
É medido por
uma escala
de 1 a 3
atribuíd
a
a pa
rtir de uma
grade de questões
sobre instalações e processos, conforme
questionário
detalhado
no
Apêndice
1.
C
onsidera
-
se no
levantamento o período
de 2000 à
200
4.
Quadro
3 -
Variáveis de Pesquisa
-
Estratégias
7
APPCC - Análise de Perigos e Ponto Críticos de Controle, uma técnica bastante difundida para análise e
organização e normatização de sistemas de higiene em produção de alimentos (SERVIÇO NACIONAL DE
APRENDIZAGEM COMERCIAL
-
SENAI,
1999).
106
6.1.2.3 Recursos
O desenvolvimento de variáveis para a investigação dos recursos tem como base os
recursos singulares
e
de acesso
restrito
do
cluster
, identificados na etapa explorátória.
Recursos Singulares
Os
recursos singulares escolhidos para inclusão no questionário foram aqueles
específicos do setor vitivinícola, que são os recursos de
terroir,
competência enológica e
competência vitícola. Para investigar o
SCORETERROIR
utilizou-se um conjunto de
variáveis representando aspectos específicos, e uma variável agregada,
conforme
o Quadro 4.
Definição
Descrição
Operacionalização
SCORETERROIR
Especifica o score indicador da
qualidade geral do
terroir
explorado
pela firma
.
É uma variável agregada calculada pela
média aritmética dos
scores
de solo,
relevo, clima, insolação
e altitude
.
SCORESOLO
Especifica o score indicador da
qualidade do solo no
terroir
explorado
pela firma
.
É medido por um
s
core
de 1 a 10
atribuído pelos entrevistados em uma
escala de satisfação com as condições
de solo do
terroir
.
SCORERELEVO
Especifi
ca o score indicador da
qualidade do relevo no
terroir
explorado pela firma
.
É medido por um
s
core
de 1 a 10
atribuído pelos entrevistados em uma
escala de avaliação das condições de
relevo do
terroir
.
SCORECLIMA
Especifica o score indicador da
qualidade
do clima no terroir
explorado
pela firma
.
É medido por um
s
core
de 1 a 10
atribuído pelos entrevistados em uma
escala de avaliação das condições de
clima do
terroir
.
SCOREINSOL
Especifica o score indicador da
qualidade da insolação no
terroir
explorado
pela firma
.
É medido por um
s
core
de 1 a 10
atribuído pelos entrevistados em uma
escala de avaliação das condições de
insolação do
terroir
.
SCORE
ALT
Especifica o score indicador da
qualidade da altitude no
terroir
explorado pela firma
.
É medido por um
sc
ore
de 1 a 10
atribuído pelos entrevistados em uma
escala de avaliação das condições de
altitude do
terroir
.
Quadro
4 -
Variáveis de Pesquisa
-
Recursos Singulares
107
Para avaliar a competência enológica utilizou-se variáveis contemplando a
mensuração da experiência nacional e internacional do enólogo, o tempo de empresa e a
condição de apropriabilidade de seu conhecimento. A competência vitícola foi investigada
através de três variáveis: condição de apropriabilidade de
conheciment
os
agronômicos,
experimentação com varietais e pesquisa agronômica, conforme
datalhado n
o Quadro5
.
Definição
Descrição
Operacionalização
APROPENO
Designa a condição de apropriabilidade
do conhecimento do enólogo.
É medida por uma escala
com três
alternati
vas
: (1) consultor, (2)
contratato e (3) co
-
proprietário.
EXPENOTMP
Define a experiência do enólogo pelo
tempo em que está formado.
É medida pelo tempo em anos que o
enólogo está formado em curso
superior ou técnico
EXPENOINT
Designa a presença de exper
iências
internacionais do enólogo
É medida pelo tempo em anos de
atuação do enólogo em firmas
internacionais
EXPENO
TMP
FINT
Define a experiência
internacional
do
enólogo pelo tempo em que
atuou no
exterior
.
É medida pelo tempo
total
em anos
que o enólogo
a
tuou no exterior
PESQ
ENO
Define o envolvimento do enólogo em
atividades de pesquisa ou docência,
como indicador de aperfeiçoamento
É medida através de uma variável
dicotômica, com valor 1 para
envolvimento com pesquisa e valor 0
para não
-
envolvimento.
C
ONSULTENOINT
Define se a empresa utiliza serviços de
consultoria enológica internacional para
melhoria de vinhos.
É medido através de uma variável
dicotômica, com valor 1 para
utilização de serviços e valor 0 para
ausência.
APROPAGRO
Designa a condição de
apropriabilidade
do conhecimento do agrônomo chefe da
firma
É medida por uma escala
com três
alternativas
: (1)
empresa sem
agrônomo, (2) agrônomo
consultor e
(3) agrônomo contratato
EXPERVAR
Define o envolvimento da firma em
atividades de pesquisa e expe
rimentos
com novas variedades de uvas para
vinhos finos
É medido através de uma variável
dicotômica, com valor 1 para empresa
que desenvolve experimentação e
valor 0 para empresa que não
-
desenvolve.
PESQAGRO
Define o envolvimento do agrônomo em
atividades
de pesquisa ou docência,
como indicador de aperfeiçoamento
profissional
É medida através de uma variável
dicotômica, com valor 1 para
envolvimento com pesquisa e valor 0
para não
-
envolvimento.
Quadro
5 -
Variáveis de Pesquisa
-
Recursos Singulares
108
Recursos de Acesso Restrito
Os
recursos de acesso restrito escolhidos para a pesquisa foram os ativos turísticos,
a
Indicação de Procedência, os centros de pesquisa (EMBRAPA), e o Programa de Exportação
Wines from Brazil, detalhados no Quadro 6 a seguir. As associações setoriais também foram
definidas previamente como
recursos
de acesso restrito, pois se constituem em verdadeiros
club goods”. Contudo, uma vez que o principal papel destas associações é a difusão de
informações estratégicas, a condição de participação foi utilizada como um indicador de
acesso a fontes de
spillovers
.
Definição
Descrição
Operacionalização
ASSESSEMBRAPA
Define a utilização de
assessorias ténicas da
EMBRAPA
É medida por
uma escala com três alternativas
:
(
1) não usa assessoria (2) assessorias
esporádicas e (3) assessorias freqüentes
I.P.
Define a participação na
Indicação de Procedência do
Vale dos Vinhedos
É medida através de uma variável dicotômica,
com valor 1 para participação e valor 0 para
não par
ticipação.
PARTWINFBRA
Define a participação da
empresa no consórcio de
Exportação Wines from
Brazil
É medida através de uma variável dicotômica,
com valor 1 para participação e valor 0 para
não participação.
ROTTURVV
Define a participação da
empresa
na rota turística do
Vale dos Vinhedos
É medida através de uma variável dicotômica,
com valor 1 para participação e valor 0 para
não participação.
ROTTURCAM
Define a participação da
empresa na rota turística
Caminhos da Montanha
É medida através de uma
variável dicotômica,
com valor 1 para participação e valor 0 para
não participação.
ROTTURAPROMN
Define a participação da
empresa na rota turística dos
Altos Montes
É medida através de uma variável dicotômica,
com valor 1 para participação e valor 0 p
ara
não participação.
ROTTURESPUM
Define a participação da
empresa na rota turística dos
Espumantes
É medida através de uma variável dicotômica,
com valor 1 para participação e valor 0 para
não participação.
Quadro
6 -
Variáve
is de Pesquisa
-
Recursos de Acesso Restrito
109
6.1.2.4
Spillovers
Os
spillovers
foram estudados a partir de cinco variáveis:
participação em associações,
participação em eventos científicos nacionais e internacionais, número de firmas nas quais o
enólogo at
uou no Brasil e no exterior, representando
spillovers
internos e externos, a distância
geográfica da firma em relação aos centros de pesquisa instalados no
cluster
e, por fim, o
número de firmas parceiras.
A participação em associações representa o acesso a um recurso restrito do tipo “bem
de clube”, que tem como função maior a defesa dos interesses de grupos de associados. Para
que isto ocorra, são promovidas reuniões freqüentes visando a troca de informações e o
alinhamento estratégico entre as firmas, c
onfigurando
-se assim, em uma importante fonte de
spillovers
.
Por sua vez, a participação em eventos científicos, que ocorrem no
cluster
com uma
freqüência de mais de 20 por ano, pode ser considerada uma medida bastante clara do esforço
de busca de
spillov
ers
de conhecimentos de cada firma.
O mero de firmas em que o enólogo atuou é uma variável que visa avaliar uma
segunda fonte importante de trocas citada na literatura em
clusters,
que é a rotação de mão-
de
-
obra especializada.
A distância geográfica em relação
ao
centro de pesquisa (EMBRAPA) busca medir a
influência da localização da firma sobre a captura de
spillovers,
analisando se existem efeitos
importantes derivados d
a proximidade em relação a este recurso
.
110
Um fator a ser discutido na seqüência é que este centro encontra-se localizado
próximo
das
regiões com maior empreendedorismo no segmento de vinhos finos, o que
significa que a medida proposta também avalia a captura de
spillovers
originados por esta
atividade empresarial mais intensa.
As parcerias foram avaliadas utilizando-se um modelo de representação de relações
baseado na teoria dos grafos
(WILSON, 1985)
, a
partir do
qual calcula
-
se as relações diretas e
indiretas de cada firma em vários níveis, conforme ilust
ra esquematicamente a Figura 1
3
.
Figura
13
-
Rede de Relações Cooperativas
No esquema ilustrado, a firma hipotética W exerce parceria primária com as firmas G,
M, Y
e R
as quais, possuem relações secundárias com
K e T, J e L, e Z e Q
,
respectivamente.
Por fim, a firma N possui relações terciárias com U e a firma Z com S e X. No esquema
representado, a firma W possui relações com um total de 13 firmas do total de 16 presentes
na rede. Com base neste raciocínio calculou-se para cada firma um
score
de densidade de
ligações ou “domínio” sobre a rede, representado pela variável “DOM”, utilizando-a para a
G
T
K
S
Relações
Secundárias
Y
W
Z
M
N
R
Q
Relações
Terciárias
X
U
J
Relações
Primárias
Firmas
C
E
F
111
avaliação das parcerias com outras firmas como fontes de
spillovers
.
Partin
do dos elementos
apresentados, o Quadro 7
sintetiza as variáveis utilizadas par
a investigação dos
spillovers.
Definição
Descrição
Operacionalização
PARTUVIBRA
Define a participação da empresa como
associada da UVIBRA.
PARTAG
AVI
Define a participação da empresa como
associada da AGAVI.
PARTAPROV
ALE
Define a participação da empresa como
associada da APROVALE.
PARTAPROMN
Define a participação da empresa como
associada da APROMONTES
.
PARTAVIGA
Define a participação da empre
sa como
associada da AVIGA
.
É medido através de uma variável
dicotômica, com valor 1 para
participação e valor 0 para não
participação.
NUMEVENTNA
Define a busca de conhecimento através do
número de eventos científicos nacionais que
a empresa participa por ano.
É medido pelo número médio de
eventos científicos nacionais que a
empresa participa por ano.
NUMEVE
NINT
Define a busca de conhecimento através do
número de eventos científicos nacionais que
a empresa participa por ano.
É medido pelo número médio de
eventos científicos nacionais que a
empresa participa por ano.
DOM
Define as relações informais da
empre
sa
,
diretas e indiretas, estimadas através do
número de firmas com a qual a
empresa
analisada tem relações de parceria na
população estudada
.
É medido através do número de
empresas citadas como parceiras de
troca informal de
conhecimentos
enológicos, merca
dológicos e
técnicos. No cálculo final do
score
DOM
(domínio)
considera
-
se o total
de relações diretas e indiretas de cada
firma.
DISTC
PESQ
Distância geográfica da
empresa
em relação
aos centros
de pesquisa do
cluster
(EMBRAPA)
. Relaciona
-
se ao estudo do
potencial de captura de
spillovers
de
conhecimento.
É med
ida através de distância
rodoviária
mínima entre os locais
.
EXPNUMFNA
Designa a amplitude
de experiências do
enólogo
.
É medida pelo número de empresas
em que o enólogo atuou no país
.
EXPNUMFINT
Des
igna a amplitude
de experiências
internacionais do enólogo
.
É medida pelo número de empresas
em que o enólogo atuou fora do país
.
Quadro
7 -
Variáveis de Pesquisa
-
Spillovers
112
6.1.2.5
Performance
Um importante debate tem se desen
volvido no meio acadêmico sobre a necessidade de
renovação nas formas de medição de
performance,
buscando alternativas ao tradicional foco
financeiro. rios autores sugerem a consideração de aspectos adicionais como a inovação, a
capacidade de aprendizagem da empresa e os relacionamentos com os clientes, entre vários
outros
(
SCHOENFELD, 1986; DE
ARDEN, 1987; KAPLAN
;
NORTON,
1996
).
Alinhando
-se com esta corrente de pensamento, buscou-se nesta pesquisa ir além dos
indicadores financeiros, os quais são de difícil obtenção com fidedignidade, avaliando a
performance
das firmas sob um foco de valor adicionado aos produtos
, qualidade
, inovação e
dinâmica de mercado
.
Para tanto, foram escolhidos quatro indicadores: preço médio dos
vinhos finos, premiações acumuladas, mero de lançamentos de novos produtos nos últimos
cinco anos e
variação no market share
nos últimos cinco anos.
Preço Médio dos Vinhos Finos
O
preço médio dos vinhos finos para cada empresa, expressa a
performance
do
produto
no mercado, considerando
-s
e que
, em condições de equilíbrio entre oferta e demanda,
os preços estabelecidos por cada empresa só se sustentam no longo prazo se o valor intrínseco
do produto for reconhecido pelos consumidor
es
. Assim, os processos de seleção adversa
inerentes à aquisição de vinhos tendem a se atenuar ao longo do tempo, na medida em que o
consumidor forma uma opinião sobre as marcas e sobre a região.
Faz
-se importante ressaltar que o preço avalia a lucratividade das empresas uma vez
que mesmo aquelas de baixo preço podem ser lucrativas em seus segmentos. O preço todavia
é aqui utilizado como uma medida do nível de valor e qualidade em que a empresa consegue
se posicionar. Assume-se assim a premissa simplificada de que todas as firmas buscam elevar
113
ao máximo estes níveis, para produtos similares. Nesta pesquisa, são consideradas três
categorias de produto: vinhos finos tipo varietal, vinhos finos tipo reserva e vinhos finos tipo
gran
reserva. A partir do preço em cada categoria, calcula-se o preço médio dos vinhos finos
p
or empresa
, que representa a média ponderada por volume elaborado nas três categorias.
Premiações
A medição das premiações acumuladas expressa a
performance
em qualidade dos
produtos da empresa. Para esta medição utilizou-se os resultados da Avaliação Nacional de
Vinhos, um evento que ocorre anualmente há mais de 12 anos. Este evento é promovido pela
ABE
- Associação Brasileira de Enologia e conta com um comitê de
15
experts avaliadores
que, a cada safra, seleciona 50 vinhos dentre mais de 300 amostras sub
metidas pelas empresas
do
cluster
.
Embora tenha um critério seletivo, a Avaliação Nacional de Vinhos não é
extamente
um concurso mas sim uma apreciação do resultado do trabalho dos enólogos a cada
ano.
O objetivo maior do evento consiste em selecionar os vinhos mais representativos da
safra, os quais são coletados em amostras diretamente nas empresas inscritas no evento.
Adicionalmente, são selecionados 15 vinhos dentre estes 50, para apresentação ao grande
público no dia final do evento. Utilizou-se como medida de premiações o número total de
vinhos classificados pela empresa em cada uma das etapas nos últimos 10 anos.
Inovação
A
performance
inovativa da empresa por sua vez, foi avaliada através do mero de
lançamentos de novos produtos nos últimos cinco anos, levando em consideração apenas os
vinhos finos “tranqüilos” (designação para vinhos não espumantes).
114
Mercado
A variação na fatia de mercado foi medida a partir das variações nos volumes
comercializados por empresa sobre o total comercializado pelo setor, considerando-se os
últimos cinco anos. Em um mercado de crescimento lento, e muitas vezes de retrocesso como
o brasileiro, este indicador expressa a troca de fatias entre as empresas, representando em
última análise, os ganhos e perdas resultantes dos seus esforços competitivos. Partindo destas
considerações,
o
Quadro 8
sintetiza as variáveis utilizadas na análise de
performance
.
Definição
Descrição
Operacionalização
PREÇMEDVFVAR
Preço médio do vinho fino
categoria varietal
PREÇMEDVFRES
Preço médio do vinho fino
categoria reserva
PREÇMEDVFGRAN
Preço médio do vinho fino
categoria gran reserva
É medido através do preço
médio em R$ da
categoria
considera
-
se o valor de atacado
praticado pela vinícola
PREÇMEDVF
Expressa o preço médio
ponderado pelo
volume de
todos os vinhos finos da
vinícola
É medida através da média ponderada pelo
volume do preço médio das três categorias.
Considera
-
se o valor em R$ de tabela para
atacado praticado pela vinícola.
PREM50
Premiações acumuladas na
Avaliação Nacional
de Vinhos
da ABE
seleção para os 50
vinhos do evento.
É medida pelo número total de vinhos
selecionados para o evento de avaliação nacional
de vinhos, considerando o período de 1994 à
2005.
PREM15
Premiações acumuladas no
evento de Avaliação Nacional
d
e Vinhos da ABE
seleção
entre os 15 melhores
É medida pelo número total de vinhos
selecionados entre os 15 mais representativos da
safra, considerando o período de 1994 à 2005.
NUMNOVPROD
Define o numero médio de
novos produtos lançados no
período de 5
anos
É medida pelo número médio de novos produtos
lançados por ano, considerando o período de
2000 à 200
4.
VARMKTSHARE
Variação de fatia de mercado
nacional no período de cinco
anos
É medida pela variação total da fatia de mercado,
considerando os dados d
e comercialização e
importação de VF entre os anos de 2000 à 200
4.
Quadro
8 -
Variáveis de Pesquisa
-
Performance
115
6.1.3 Tratamento dos dados e técnicas de a
nálise
e
statística
A análise final dos dados envolveu desde procedimentos estatísticos simples, como a
comparação de diferenças de médias entre grupos, até a aplicação de técnicas multivariadas,
como a regressão múltipla. Como processo inicial, foi verificado o perfil de distribuição das
variáveis na amostra estudada, suas condições de normalidade ou não, transformações
possíveis e a conseqüente escolha dos procedimentos estatísticos mais adequados. Seguiu-se a
estes procedimentos a etapa de análise propriamente dita, na qual foi investigado o efeito das
variáveis estudadas sob
re a
performance
.
Tomando como base as recomendações encontradas na literatura relevante nesta área
(
TABACHNICK
; FIDELL, 1996
;
HAIR
et
al
, 2005
;
MALHOTRA, 2001), os principais
procedimentos escolhidos foram os seguintes:
(a)
O teste de normalidade na distribuição das variáveis baseou-se tanto em análise
gráfica do histograma, quanto numérica, verificando-se as medidas de assimetria e
curtose e através dos testes de Kolmogorov-Smirnov e Shaphiro-
Wilk
(
CHAKRAVARTI
; ROY
, 1967;
DURBIN, 1975;
SHAPHIRO
;
WILK
, 1965
).
(b)
A heterocedasticidade foi investigada através da análise gráfica dos resíduos da
regressão.
Para os casos identificados, tanto de problemas com normalidade quanto
de
heterocedasticidade, testou-se comparativamente a eficácia de diversas
alternativas de transformações nas variáveis: (1) cálculo da raiz quadrada, (2)
logaritmo, (3) base inversa, e (4) transformação Box-Cox, que corrige também a
heterocedasticidade (
BOX
;
COX
,
1964
).
116
(c) A questão de
multicolinearidade
nas variáveis independentes foi investiga
da
através do procedimento de
Fator de Inflação de Variância (FIV).
(d)
A identificação dos
outliers
ou casos atípicos foi realizada através de duas técnicas
(BARNETT; LEWIS,
1994
):
(1) medição da
Distância Mahalanobis (D²)
adotando
-
se uma significância p
<
0,001, calculada considerando conjuntamente todas as variáveis de interesse;
(2) inspeção visual dos dados através de diagramas
box
-
plot
(diagrama de caixa
e ponto) e
scatter
-
plot
(gráfico de dispersão) para cada variável visando a
identificação das fon
tes de discrepância;
Os casos identificados foram revisados e suprimidos nas análises em que
poderiam afetar excessivamente os resultados;
(e) As possíveis agregações de variáveis em fatores representativos de construtos
foram exploradas através da técnica
de
análise fatorial rotada
;
(f) As diferenças de médias de
performance
entre os n grupos ou categorias
estratégicas foram investigadas pelo cálculo d
a
ANOVA de
n
fatores;
(g) Por fim, foi utilizada a técnica de regressão linear múltipla, visando a análise das
relações entre as variáveis investigadas.
117
6.2
RESULTADOS DA PESQU
ISA DESCRITIVA
Nesta seção são apresentados os resultados obtidos na pesquisa descritiva. Cada um
dos tópicos trabalhados está associado a uma questão-chave e a uma técnica específica d
e
análise. Para maior compreensão, buscou-se organizá-los conforme apresenta a Figura
14
,
comentada a seguir.
Figura
14
-
Esquema de Apresentação dos Resultados
Análise Comparativa de
Médias
Qual o perfil das empresas
estudadas?
Quais as estratégias adotadas?
Quais as suas dotações de
recursos?
Quais as diferenças de
performance
?
Qual o papel das estratégias
sobre o acesso aos re
cursos ?
Qual a influência das estratégias
sobre a
performance
?
Qual a influência dos recursos e
spillovers
sobre a
performance
?
Questões
-
Chave
Quais os efeitos cumulativos dos
recursos e
spillovers
?
Quais os efeitos diferenciais
sobre a
performanc
e
?
Características Gerais
das Empresas Estudadas
Estratégias
Recursos
Performance
Estatística Descritiva
Estatística Descritiva
Estratégias e
Recursos
Análise Comparativa
de Médias
Estratégias e
Performance
Análise Comparativa de
Médias
Recursos e
Performance
Análises de Regressão
Linear
Forma de Apresentação
Tópico
Síntese das análises
Análises de Regressão
Linear
Estimativas de
Performance
Análises de Regressão
Linear
Análise Comparativa de
Médias
118
Inicia
-se pela caracterização da população estudada, analisando a idade das firmas, o
tempo de produção de vinhos finos, os volumes de produção e o mero de funcionários
atuando na vinícola. Esta caracterização tem como objetivo a compreensão da importância
relativa e da trajetória de inserção de cada uma no
cluster
e no segmento de
vinhos finos.
Segue
-se a estatística descritiva das variáveis relativas a estratégias, recursos e
performance,
onde busca-se compreender as principais estratégias adotadas, as dotações de
recursos e as diferenças de
performance
das firmas
.
Na sequência, d
esenvolve
-se a análise das relações entre estratégias e recursos. Nesta
análise o objetivo maior é avaliar se para cada padrão de comportamento estratégico adotado
pelas firmas, estão associadas diferentes dotações de recursos.
A seguir, analisa
-
se as rel
ações entre estratégias e
performance, buscando avaliar
qual
a influência das estratégias sobre a
performance
. Segue-se a análise das relações entre
recursos e
performance
. Nesta análise específica, um pouco mais extensa, desenvolvem-
se
diversas regressões para a compreensão d
os
diferentes efeitos de interesse. Primeiramente
investiga
-se individualmente os efeitos dos recursos singulares, recursos de acesso restrito e
dos
spillovers
sobre a
performance
. Na seqüência, desenvolve-se uma análise conjunta de
ef
eitos de
recursos singulares e de acesso restrito e de recursos singulares, de
acesso
restrito
e
spillovers
sobre a
performance
. Partindo destas análises, elabora-se uma síntese das
regressões, visando explorar os seus efeitos cumulativos sobre as diversas variáveis de
performance
.
Por fim, realiza-se diversas estimativas visando testar a validade das proposições
elaboradas no modelo de diferenciais de
performance
detalhado na seção 3.3
119
6.2
.1 Características gerais das empresas e
studadas
Evidenciando a div
ersidade e dinâmica de desenvolvimento do
cluster
, as 54 empresas
analisadas apresentaram um perfil bastante heterogêneo quanto às variáveis investigadas.
Fazem parte da população estudada 8 cooperativas e 48 empresas privadas, destacando-
se
entre estas, uma importante parcela de negócios jovens e de pequeno porte
.
Do total de
empresas em foco, apenas as cooperativas e uma empresa privada o são de propriedade
familiar.
Estas condições de diversidade revelam um grupo com interessantes pontos de
contraste,
os quais serão explorados a seguir.
6.2
.1.1 Idade das e
mpresas
Conforme apresenta a Tabela 7, a idade média das empresas analisadas é de 35 anos.
Embora existam vinícolas praticamente centenárias, uma importante parcela de 35% das
firmas t
ê
m não mais do q
ue 20 anos de existência.
Tabela
7 -
Idade das Empresas
Idade
Freqüência
Percentual
Percentual Acumulado
< 10
7
13
13,0
10
20
12
22,2 35,2
61
80
8
13,0 96,3
90
95
2
3,8
100,0
Total
54
100,0
Média:
34,96 Desvio Padrão: 23,67
Entre as empresas mais antigas estão as cooperativas, algumas com 95 anos de
existência. Paradoxalmente, algumas empresas que atualmente classificam-se como de grande
porte foram fundadas há pouco mais de 10 anos, e hoje sã
o líderes no setor.
120
Como colocam diversos especialistas entrevistados, o sucesso de algumas empresas do
cluster
, associado ao aumento na divulgação dos vinhos finos, tem estimulado uma
importante reorganização do mercado, aumentando a atratividade deste segmento de produto.
Conforme dados do IBRAVIN (2005), aproximadamente 40 empresas ingressaram neste
segmento nos últimos 2 anos. Muitas não são necessariamente novas mas sim, empresas de
vinhos de mesa que buscam sofisticar suas linhas de produto. Esta é uma estratégia complexa
,
pois, como será detalhado na seqüência, estas empresas possuem uma série de
comprometimentos e práticas antiquadas, que dificultam
sua entrada efetiva no negócio.
6.2
.1.2 Tempo de produção de vinhos f
inos
O tempo médio de produção de vinhos finos foi de 16,77 anos. Conforme demonstra a
Tabela
8, uma importante parcela de 39 % das firmas possui menos de 10 anos de experiência
e um segundo grupo de 33% menos de 20 anos. Juntas, estas empresas totalizam 72% d
o
total
investigado, evidenciando um população
relativamente
jovem para os parâmetros
mundiais deste setor.
Tabela
8 -
Tempo de Produção de Vinhos Finos
Tempo em Anos
Freqüência
Percentual
Percentual Acumulado
4
10
21
38,9 38,9
11
20
18
33,3
72
,2
21
30
8
12,9 87,0
31
54
7
13,0
100,0
Total
54
100,0
Média: 16,77 Desvio Padrão: 11,56
Uma vez que esta categoria de produtos começou a ser introduzida mais fortemente no
cluster
a partir da década de 1970, em essência, todos possuem pouca experiência neste
segmento de produto em relação aos países mais tradicionais como França, Itália, Espanha e
121
Portugal, nos quais a produção é milenar. que se ressaltar que duas empresas da amostra
possuem uma experiência mais longa em função
de produzirem vinhos espumantes há mais de
50 anos e estes utilizam o vinho fino como base para sua elaboração.
6.2
.1.3 Produção média de vinhos f
inos
Conforme apresenta a Tabela 9, a produção média de vinhos finos na população
estudada foi de 516 mil litros/ano mas, em função da grande variância deste dado, faz-
se
importante uma segmentação mais acurada.
Tabela
9 -
Produção Média de Vinhos Finos
Volume em 1.000 LT
Freqüência
Percentual
Percentual
Acumulado
10
40
17
31,
5
31,5
41
100
17
31,5 63,0
101
250
8
14,8 77,8
550
1000
6
11,1 88,9
1001
6500
6
11,1
100,0
Total
54
100,0
Média: 516,87 Desvio Padrão: 1201,01
Observa-se que 31 % das empresas produzem abaixo de 40.000 litros/ano e
aproximadamente 78% situam-se abaixo de 250.000 litros/ano. Uma parcela de 10 empresas
que apresentam baixa produção de vinhos finos não é necessariamente de pequeno porte, pois
dedica
-se também à produção de vinhos de mesa e outros derivados, os quais são elaborados
em maior volume. Os últimos 22%, que pode-se classificar como as grandes empresas,
elaboram entre 550.000 e 6.500.000 litro/ano, denotando uma concentração que se reflete no
mercado, no qual observa
-
se poucas marcas dominantes.
C
onfo
rme dados do IBRAVIN (2005), excetuando-se as marcas mais conhecidas,
observa
-se uma fraca atuação da maioria das empresas de vinhos finos em outras regiões do
122
país. Em parte devido aos pequenos volumes de produção, estas empresas limitam a sua
venda aos consumidores locais, aos turistas e a um pequeno número de estabelecimentos de
varejo em Porto Alegre.
6.2
.1.4 Número de f
uncionários
O número médio de funcionários é de 37 por empresa mas, assim como nos volumes
de produção, uma grande variação neste dado, conforme demonstra a Tabela
10
.
C
omo
pode
-se observar, 70% das firmas estudadas possuem menos de 30 funcionários, e 90%
possuem menos de 80 funcionários
.
Tabela
10
-
Número de Funcionários
Num.
Freqüência
Percentual
Percentual Acumu
lado
0
10
22
40,7
40,7
11
30
16
29,7
70,4
31
80
11
20,3
90,7
81
380
5
9,3
100,0
Total
54
100,0
Média: 37,11 Desvio Padrão: 67,49
Um aspecto importante a considerar sobre o mero de funcionários é que, entre as
empresas estudadas, existem vários níveis de profissionalização e organização da estrutura
administrativa. Assim, nas pequenas empresas esta estrutura é mínima, sendo o proprietário e
os familiares os responsáveis pela maioria das funções administrativas e produtivas. A
atividade
de elaboração do vinho é sazonal e portanto, não suporta nas pequenas empresas a
manutenção de uma estrutura permanente.
Por sua vez, nas empresas que elaboram múltiplos produtos, em grande escala,
normalmente está presente uma estrutura administrativa e produtiva mais organizada,
representando uma forma de operação bastante distinta das pequenas cantinas.
123
6.2
.2 Estratégias
As estratégias foram avaliadas segundo três aspectos ou dimensões chave: grau de
especialização, sistema de produção de uvas e sistema de elaboração de vinhos. O número de
casos e respectivos percentuais para cada um destes componentes são comentados a seguir.
6.2
.2.1 Grau de especialização em vinhos f
inos
Conforme observa-se na Tabela
11
, um montante de 26 empresas, que representam
48%
da população estudada, são especialistas em vinhos finos. As demais 28 empresas são
generalistas que atuam com diversos produtos.
Tabela
11
-
Grau de Especialização
Descrição
Freqüência
Percentual
Percentual Acumulado
Especiali
sta
26
48,1 48,1
Generalista
28
51,9
100,0
Total
54
100,0
100,0
Média: 0,48 Desvio Padrão: 0,50
Pode
-se entender a especialização como um divisor entre duas gerações distintas no
negócio vitivinícola da Serra Gaúcha. A primeira, formada por empresas jovens que
ingressam no negócio de forma focalizada. A segunda, formada por empresas antigas, que
estão reposicionando suas linhas
,
buscando espaço no futuro do negócio de vinhos finos.
Cada estratégia tem suas vantagens e desvantagens, a serem consideradas. Se por um
lado, as empresas generalistas se beneficiam de menor risco ao apostarem em múltiplos
produtos, por outro lado, enfrentam maiores dificuldades para consolidar suas marcas no
negócio de vinhos finos, uma vez que apresentam ao consumidor propostas relativamente
contraditórias em termos de qualidade.
124
6.2
.2.2 Sistema d
e produção de u
vas
As estratégias de suprimento de uvas, detalhadas na Tabela 12, apresentaram 20 casos
com produção própria, 14 casos com produção integrada e 20 casos com
uv
as
compradas, a
qual considera
-
se a estratégia de maior risco do ponto de vista de qualidade.
Tabela
12
-
Sistema de Produção de Uvas
Descrição
Freqüência
Percentual
Percentual Acumulado
Produção Própria
20
37,0
100,0
Produção I
ntegrada
14
25,9 63,0
Uvas Compradas
20
37,0 37,0
Total
54
100,0
100,0
A predominância dos sistemas de produção própria e integrada (63% das empresas)
revela a importância do controle sobre a matéria prima neste tipo de produto, o que, como
será visto
mais à frente, t
raduz
-
e em
efeitos importantes sobre a
performance
das firmas.
6.2
.2.3 Siste
ma de elaboração de v
inhos
As estratégias de elaboração de vinhos, detalhadas na Tabela 13, apresentaram 10
casos classificados como baixa tecnologia, 31 casos de média tecnologia e 13 casos de alta
tecnologia. Este é um quadro preocupante, uma vez que fica evidente uma importante lacuna
tecnológica a ser preenchida, uma condição já verificada em diagnósticos anteriores.
Tabela
13
-
Sistema
de Elaboração de Vinhos
Descrição
Freqüência
Percentual
Percentual Acumulado
Baixa Tecnologia
10
18,5 18,5
Média Tecnologia
31
57,4 75,9
Alta Tecnologia
13
24,1 24,1
Total
54
100,0
100,0
125
A
combinação das variáveis supracitadas resulta em 18 categorias, das quais 13
tiverem ocorrências entre as empresas analisadas. S
egu
em
-se os comentários sobre estes
resultados
, relacionados na
Tabela 1
4
,
a seguir
.
Tabela
14
-
Categorias Estratégicas
C
ategoria Estratégica
Freqüência
Percentual
Percentual
Acumulado
Especialista
-
Produção Própria
-
Baixa Tecnologia
0 0 0
Especialista
-
Produção Própria
-
Média Tecnologia
6
11,1 11,1
Especialista
-
Produção Própria
-
Alta Tecnologia
6
11,1 22,2
Especialista
-
Produção Integrada
Baixa T
ecnologia
0 0
22,2
Especialista
-
Produção Integrada
Média Tecnologia
5
9,2
31,4
Especialista
-
Produção Integrada
Alta Tecnologia
4
7,4
38,8
Especialista
-
Uvas Compradas
-
Baixa Tecnologia
1
1,8
40,6
Especialista
-
Uvas Compradas
-
Média T
ecnologia
4
7,4
48,0
Especialista
-
Uvas Compradas
-
Alta Tecnologia
0 0
48,0
Generalista
-
Produção Própria
-
Baixa Tecnologia
4
7,4
55,4
Generalista
-
Produção Própria
-
Média Tecnologia
3
5,5
60,9
Generalista
-
Produção Própria
-
Alta Te
cnologia
1
1,8
62,7
Generalista
-
Produção Integrada
-
Baixa Tecnologia
0 0
62,7
Generalista
-
Produção Integrada
Média Tecnologia
3
5,5
68,2
Generalista
-
Produção Integrada
Alta Tecnologia
2
3,7
71,9
Generalista
-
Uvas Compradas
-
Baixa Tec
nologia
5
9,2
81,5
Generalista
-
Uvas Compradas
-
Média Tecnologia
10
18,5
100
Generalista
-
Uvas Compradas
-
Alta Tecnologia
0 0
100
Total
54
100
100
126
Conforme observa-se, as empresas especialistas apresenta
ra
m uma predominância de
produção própria de uvas (12 casos), seguida da estratégia de produção integrada (9 casos) e
da estratégia de uvas compradas (5 casos), sugerindo que o controle sobre a matéria prima é
um fator importante nesta
s
firmas.
De fato, a produção própria de uvas é fundamental para aquelas empresas que buscam
se posicionar em categorias superiores de valor, elaborando produtos com maior sofisticação
enológica. Estas empresas podem desta forma, desenvolver experimentos e eaprendizados
sobre a produção vitícola que se tornariam inviáveis em um contexto de uvas compradas.
Quanto à tecnologia
,
uma predominância de empresas classificadas como de média
tecnologi
a (15 casos), seguidas de alta tecnologia (10 casos), observando-se apenas 1
ocorrência classificada como de baixa tecnolog
ia
em empresas especialistas. Isto revela de
certa forma que esta estratégia impõe restrições mínimas para se sustentar o negócio com base
em categorias menos amplas de produto, enquanto para as generalistas o vinho fino pode ser
um negócio secundário ou m
esmo experimental.
Por sua vez, as empresas generalistas apresentam 15 casos de um total de 28 seguindo
a estratégia de uvas compradas, o que demonstra a menor importância atribuída à matéria-
prima por empresas desta categoria.
Contudo,
observa
-se também 8 casos de produção própria e 5 de produção integrada
de uvas, possivelmente indicando empresas que começam a se reposicionar no negócio. Na
questão tecnológica a predominância é de média tecnologia (16 casos) seguida de baixa
tecnologia (9 casos) e um pe
queno número de empresas de alta tecnologia (3 casos).
127
6.
2.3
Recursos
Como parte fundamental da pesquisa descritiva foram investigadas as dotações de
recursos singulares e o acesso aos recursos de tipo restrito para cada empresa da população
estudada. Os
resultados
desta etapa
são descritos a seguir.
6.2
.3
.1
Recursos Singulares
Para avaliação do
terroir
utilizou-se uma escala de 10 pontos avaliando o grau de
satisfação com as condições do
terroir
. Os
scores
de
terroir
individualizados por fator
apresentara
m de uma forma geral, uma grande homogeneidade entre as empresas analisadas e
também, resultados muito aproximados entre as próprias variáveis utilizadas, conforme
apresenta a T
abela 15
. As médias variaram entre 6,9 e 7,8 pontos, com pequeno desvio padrão
e o
SCORETERROIR
médio foi de 7,45 pontos.
Tabela
15
-
Scores de
Terroir
Variáveis
N
Mínimo
Máximo
Média
Desv. Pad.
SCORESOLO
54
6,00 10,0 7,35 0,89
SCORERELEVO
54
5,00 10,0 6,98 1,59
SCORECLIMA
54
5,00
9,0
6,98 0,91
SCOREINSO
L
54
5,00 10,0 7,80 1,10
SCOREXP
54
7,00
10,00
8,04 1,00
SCOREALT
54
5,00 9,00 7,56 0,91
SCORETERROIR
54
6,167
9,50 7,45 1,03
Para as empresas que não possuem vinhedos próprios ou de integrados, foi avaliada a
região de origem predominante de suas uvas compradas. Nas análises posteriores, adotou-
se
de forma simétrica para estas empresas o menor
score
atingido pelo grupo de uvas compradas.
Quanto aos pequenos desvios e a similaridade de médias nestes
scores
, pode-se interpretar
este resultado de duas m
aneiras.
128
A primeira é que as poucas pesquisas disponíveis até o momento levam os
respondentes a terem uma percepção muito convergente sobre as características da Região da
Serra, com pouca sensibilidade sobre diferenças localizadas e microclimas, mesmo sobre os
seus
terroirs
em particular. A segunda é que esta homogeneidade de características é
efetivamente real, o que levaria a poucas diferenças de
performance
causadas por
terroir
entre
as firmas do
cluster
. Estudos de mapeamento edafoclimático em andamento permitirão
futuramente a mensuração mais precisa deste fator.
O segundo recurso singular analisado, a competência enológica, apresenta uma
heterogeneidade bastante pronunciada na maioria das variáveis investigadas, conforme
apresenta a Tabela 16
. O temp
o de experiência do enólogo, cuja média é de 21 anos, apresenta
grande variância, com casos de 1 ano de formado e casos de até 50 anos.
Tabela
16
-
Competência Enológica
Variáveis
N
Mín.
Máx.
Média
Desv. Pad.
Freq.
Percent.
EXPEE
NOTMP
54
1,00
50,00
21,25
10,524
- -
APROPENO
54
1 3
2,18 0,80
- -
(3) Enólogo proprietário
54
- - - -
23
42
%
(2) Enólogo funcionário
54
- - - -
18
33%
(1) Enólogo consultor
54
- - - -
13
24%
EXPENOINTMP
54
0 7
0,54 1,49
- -
ENOINT
54
0 1
0,24 0,43
13
25%
ENOPESQ
54
0 1
0,16 0,37
9
16%
CONSULTENOINT
54
0 1
0,07
0,26
- 4
0,7%
Estes últimos dados devem ser interpretados com cautela, pois é evidente a
concentração de valores altos em poucos casos. Com efeito, a análise de freqüências revela
que, na grande maioria das empresas, o enólogo não possui nenhuma experiência
internacional (42 casos) e nem com pesquisa (45 casos). Em relação à condição de
apropriabil
idade do conhecimento enológico a média nesta variável
foi
de 2,18,
ressaltando
-
se
que 23 empresas possuem enólogo como co-proprietário, considerada nesta pesquisa a
129
melhor condição de apropriabilidade, 18 empresas possuem enólogo contratado, e 13 atuam
com enólogo consultor, considerada a pior condição de apropriabilidade. Por fim, apenas 4
empresa
s contratam serviços de enólogos ou winemakers internacionais, o que
sugere
um
baixo esforço de desenvolvimento de vinhos de padrão internacional.
O terceiro recurso singular avaliado foi a competência
vitícola
, relacionado à condição
de apropriabilidade do conhecimento do agrônomo, à realização de experimentos com
varietais e ao envolvimento com pesquisa ou docência. Os resultados apresentados na Tabela
17 demonstram que apenas 12 empresas ou 22, 2% do total possuem agrônomo em seu
quadro de funcionários, considerada a melhor condição de apropriabilidade de
conhecimentos. Outras 14 empresas contratam serviços de consultoria nesta área e 28
empresas não possuem qualquer acompanhamento agronômico.
Tabela
17
-
Competência
Vitícola
Vari
áveis
N
Mín.
Máx.
Média
Desv. Pad.
Freq.
Percent.
APROPAGRO
54
1 3
1,74 0,82
- -
(3)
Agrônomo funcionário
54
- - - -
12
22,2%
(2)
Consultoria agronômica
54
- - - -
14
25,9%
(1)
Sem agrônomo
54
- - - -
28
51,8%
AGROPESQ
54
0 1
0,11 0,31
6
11%
EXPERVA
R
54
0 1
0,37 0,48
20
16,7
Complementarmente, uma parcela de 20 empresas desenvolve experimentos com
varietais e, em 6 empresas, o agronômo possui envolvimento com pesquisa ou docência.
que se considerar que do total de 54 empresas existem 15 casos de
estratégia baseada em uvas
compradas, para os quais não se aplica o suporte agronômico.
130
6.2.3
.2
Recursos de Acesso Restrito
Co
mo pode ser obervado na Tabela 18, uma parcela de 25 empresas ou 45% do grupo
estudado não realiza nenhum tipo de assessoria com a EMBRAPA, 18 empresas realizam
assesorias esporádicas e 11 empresas desenvolvem trabalhos freqüentes, evidenciando uma
baixa apropriação deste recurso.
Tabela
18
-
Recursos de Acesso Restrito
Variáveis
Freqüência
Percentual
ASSE
SSEMBRAP
A
Nunca
25
46,3
Esporádico
18
33,3
Freqüente
11
20,4
ROTAS TURÍSTICAS
ROTTURVV
15
28
,0
ROTTURCAM 6
11
,0
ROTTURAPROMNT
5 9
,0
ROTTURESPUM
4 7
,0
Não Participa
24
44
,0
PARTWINFBRA
Participante
16
29
,0
IND. PROCEDENCIA
(
I.P.
)
Possui
I.P.
11
20,4
Quanto às rotas turísticas, apenas 35 empresas participam de rotas organizadas. O
consórcio
Wines from Brazil é acessado por apenas 16 empresas ou seja, 29% do total
estudado.
Em relação às indicações de procedência, apenas 11 empresas, ou 20% do grupo
analisado, possuem este certificado, ressaltando-se que novas indicações encontram-se em
organização no
cluster.
As indicações de procedência
representam um dos melhores exemplos
de
recurso de acesso restrito, pois estão associadas a delimitações de território que não
podem ser ampliadas em sua capacidade, sendo acessadas apenas por empresas efetivamente
instaladas nos locais certificados
.
131
6.2
.3
.3
Spillovers
As Tabelas 19
, 20
, 21 e 22 apresentam os resultados descritivos para as variáveis de
es
tudo de
spillovers
. Ressalta-se que todas as empresas estudadas participam em associações,
destacando
-
se a AGAVI, UVIBRA e APROVALE como as de maior número de associados.
Tabela
19
-
Fontes de
Spillovers
-
Entidades
Variáveis
Freq
üência
Percentual
PARTUVIBRA
12
22,0
PARTAGAVI
22
40,7
PARTAPROVALE
15
27,7
PARTAPROMONTES
4 7
,0
PARTAVIGA
4 7
,0
Em relação aos eventos, observa-se que foram identificadas 6 empresas que não
participam de nenhum evento, seguidas de 16 empresas que participam de até 5 eventos ao
ano, e 10 que participam em até 10 eventos ao ano, representando ao total 59% das firmas.
Tabela
20
-
Fontes de
Spillovers
Eventos
F
az
-se importante ressaltar que ocorrem mais de 20 eventos científicos por ano no
cluster
e que apenas 5 empresas demonstram aproveitar de forma efetiva estas fontes de
spillovers
, denotando um baixo esforço de busca de conhecimentos para o grupo investigado.
Destaca
-
se a
inda,
que 78% das firmas não participam de nenhum evento internacional.
Variáveis
Freqüência
Percentual
NUMEVENTNA
,00
6
11,0
2,00
5,00
16
29,62
6,00
10,00
10
18,51
12,00
15,00
17
31,48
16,00
20,00
5
9,2
Média: 8,24
Desvio Padrão: 6,16
NUMEVENTINT
,00
42
77,8
,50
1,00
6
11,2
2,00
-
6,00
6
11,2
Média:
0,43
Desvio Padrão:
1,09
132
Em relação ao número de firmas parceiras (NUMFPARC) observa-
se
na Tabela 21
que 24 firmas ou 44,4% do total estudado, não desenvolvem nenhuma relação de parceria, o
que pode e
star relacionado à intensificação da concorrência interna no
cluster.
Tabela
21
-
Fontes de
Spillovers
-
Parcerias
mero de Firmas Parceiras
Freqüência
Percentual
,00
24
44,4
1,00
2,00
19
35,2
2,00
-
4,00
7
13
5,00
6,00
4
7,5
Méd
ia: 1,33
Desvio Padrão:
1,63
Uma vez que o mercado brasileiro não tem apresentado crescimento significativo, a
expansão de uma firma fica limitada à conquista da fatia de outra ou então, a busca de
mercado externo, a qual, conforme a
presentado, ainda é bastante moderada no setor.
Por outro
lado, 19 firmas ou 35% do total possu
em
parcerias com 1 ou 2 outras empresas no
cluster
,
evidenciando que podem existir
parcerias
pontuais, mesmo nos ambientes mais competitivos.
Por fim,
conforme
observa
-se na Tabela 22
,
o mero médio de firmas em que o
enólogo atuou no B
rasil
é de 2,51 firmas, um dado que se associado ao tempo médio de
atuação de 4,82 anos por empresa
,
evidencia uma baixa rotatividade no setor.
Complementarmente, o número médio de firmas internacionais em que o enólogo atuou é de
1,66 firmas, com tempo médio de 0,54 anos por firma.
Tabela
22
-
Fontes de
Spillovers
-
Mão de Obra Especializada
Variáveis
N
Min
Max
Média
Desv.
Pad.
EXPENONUMFNA
54
1,00 6,00
2
,51
1,66
EXPENONUMFINT
54
,00
30,00
1,12 4,28
EXPENOTMPFNA
54
0,00
25,00
4,82 5,78
EXPENOTMP
54
1,00
43,00
20,72
9,74
EXPENOTMPFINT
54
0,00 7,00
,5493
1,49
133
6.2
.4
Performance
Conforme observado em trabalhos anteriores, que motivaram a presente pesquisa, as
empresas de vinhos finos da Serra Gaúcha apresentam uma grande variação de
performance
para todas as variáveis investigadas, demonstrando a existência de importantes assimetrias
competitivas, conforme discute
-
se a seguir.
6.
2.4
.1 Preço médio dos vinh
os f
inos
O preço médio dos vinhos finos, apresentado descritivamente na Tabela 23
,
teve uma
média setorial foi de R$ 12,43, oscilando de um mínimo de R$ 5,00 por garrafa até um
máximo de R$ 29,34.
Tabela
23
-
Preço Médio dos Vinho
s Finos
Preço em R$
Freqüência
Percentual
Percentual
Acumulado
5,00
-
7,00
5
9,5
9,5
7,20
-
8,00
7
13,3 12,7
8,16
-
9,00
8
15,1 24,3
9,08
-
11,00
7
13,3 25,7
11,37
-
13,00
8
15,2 39,1
13,50
-
14,50
5
9,5
74,1
14,90
-
16,88
5
9,5
81,5
18,25
20,70
2
3,7
94.4
24,65
29,34
3
5,7
100,0
Total
54
100,0
Média: 12,43 Desvio Padrão: 5,56
A distribuição é ligeiramente assimétrica à esquerda da média, evidenciando a maior
concentração das empresas em produtos de menor valor. Um ponto importante é que os dados
comparados referem-se a um produto da mesma categoria, ou seja, vinho fino de uvas
viníferas em embalagem de 750 ml e, desta forma, as variações em preço refletem as
variações no valor agregado por cada empresa ao processar as uva
s.
134
6.2
.4
.2 Número de
novos p
rodutos nos
últimos cinco a
nos
O mero de novos produtos, apresentado na Tabela 24, variou de 0 a 15 novos
produtos no período de cinco anos de 2000 a 2005. A média neste item foi de 3,61 produtos.
Um percentual de 63% das emp
resas entrevistadas lançou 3 ou menos produtos, enquanto, em
outro extremo
,
poucas empresas chegaram a ter mais de 10 lançamentos no período.
Tabela
24
-
Número de Novos Produtos
Número de
Lançamentos
Freqüência
Percentual
Percent
ual
Acumulado
,00
5
9,3
9,3
1,00
7
13,0 22,2
2,00
9
16,7 38,9
3,00
13
24,1 63,0
4,00
4
7,4
70,4
5,00
8
14,8 85,2
6,00
5
9,3
94,4
10,00
1
1,9
96,3
13,00
1
1,9
98,1
15,00
1
1,9
100,0
Total
54
100,0
Média: 3,61
Desvio Padrão: 3,11
Algumas
das empresas entrevistadas expressaram possuir um plano regular de
lançamentos anuais, mantendo uma política de inovação consistente como um dos seus
diferenciais competitivos. Outras empresas no entanto, demonstraram atuar com um portfólio
limitado de produtos tradicionais, que apresentam uma demanda mais estável e um menor
risco de erros no atendimento às preferências do consumidor médio. Todavia, conforme
opinião de especialistas consultados, faz-se importante ressaltar que uma das características
dos
consumidores de vinhos finos é justamente a experimentação de novos produtos a cada
compra, revelando um
a
oportunidade para as firmas inovadoras.
135
6.2
.4
.3 Premiações
A
performance
em premiações foi estudada utilizando-se os resultados do Evento de
Avaliaçã
o Nacional de Vinhos.
Conforme demonstra a Tabela 25
,
a média para PREM50 foi de
6,44
produtos
classificados para o evento no período, sendo que a maior parte das empresas obteve entre 1 e
10 produtos classificados. Observa-
se
também
que, uma parcela de 40,7 % das empresas não
teve nenhum vinho selecionado ao longo de 10 anos de evento
,
sugerindo
a existência de
casos persistentes de baixa
performance
neste indicador.
Tabela
25
-
Número de Vinhos Selecionados para o Evento ABE
-
PR
EM50
Número de
Vinhos
Selecionados
Freqüência
Percentual
Percentual
Acumulado
,00
22
40,7 40,7
1,00
-
10,00
21
31,6 77,9
11,00
19,00
7
12,9 90,8
23,00
64
4
7,0
100,0
Total
54
100,0
100,0
Média: 6,44
Desvio Padrão:
11,23
1
Em relação à PREM15, conforme a Tabela 26, observa-se que a média foi de
1,48
produtos classificados no período.
Verifica
-se ainda que 63% das empresas nunca
classificaram produtos para esta etapa do evento, 23,2% classificaram entre 1 e 4 produtos e
15% classificaram entr
e 5 e 9 produtos.
Tabela
26
-
Número de Vinhos Selecionados para o Evento ABE
-
PREM15
Número de
Vinhos
Selecionados
Freqüência
Percentual
Percentual
Acumulado
,00
34
63,0 63,0
1,00
-
4,00
12
23,2 85,2
5,00
9,00
8
14,9
100,0
Total
54
100,0
Média: 1,48
Desvio Padrão:
2,41
136
6.2
.4
.4 Variação de
market s
hare
A variação de
market
share
oscilou
de g
anhos máximos de fatia de 9,5%
até perdas de
8,5%, com uma média de
-
0,011 %, conforme apresenta a Tabela 27
.
Tabela
27
-
Variação de
Market Share
Variação
Percentual
Freqüência
Percentual
Percentual
Acumulado
-
8,5 %
1
1,85 %
1,85 %
-
1,80 a
-
3,7 %
3
5,55%
7,40%
-
0,01 a
-
0,63
%
12
22,22%
29,62%
0,01 a 0,10 %
15
27,77%
57,39%
0,11 a 0,20
%
9
16,66%
74,05%
0,22 a 1,00 %
10
18,51%
92,56%
1,17 a 1,42 %
3
5,55%
98,11%
9,0 %
1
1,85%
100,00%
Total
54
100,0
0 -
Média:
-
0,0
11
%
Desvio Padrão: 1,96%
Cerca de 30% das empresas tiveram perdas de fatia de mercado no período de 5 anos
inve
stigado. Uma parcela de 27% apresentou variações positivas próximas de zero, indicando
que mantiveram seu espaço no mercado. Por fim, os outros 43% das firmas apresentaram
variações positivas mais importantes. Considerando-se que o mercado nacional de vinh
os
finos não apresentou crescimento no período, como será apresentado subseqüentemente, estes
resutlados
evidenciam que as empresas que tiveram aumentos de fatia conquistaram estas
parcelas de mercado de seus pares do
cluster
. Contudo
,
há que se ressaltar
que nem sempre as
variações positivas ou negativas significam sucesso ou insucesso competitivo. De fato
podem
ocorrer situações em que uma empresa i
ntroduz
uma mudança em suas linhas de produto,
migrando para segmentos de maior valor agregado, que termina por
produzir
pequenas
variações
nos volumes devido aos ajustes do mercado
.
137
6.2
.5
Estratégias e Recursos
Uma das questões principais desta pesquisa centra-se na compreensão do papel
desempenhado pelas estratégias sobre o acesso aos recursos relevantes para a
competitividade. Para responder a esta questão, analisou-se as médias em recursos para cada
uma das categorias estratégicas identificadas. Estas análises s
erão
apresentadas a seguir.
6.
2.5
.1 O Papel da especialização sobre o acesso aos recursos
As firmas especialistas e generalistas apresentaram importantes diferenças em
dotações e acesso a recursos, conforme detalha a Tabela 2
8
.
Tabela
28
-
Grau de Especialização e Médias em Recursos
Categoria
ESPECIALISTA
GENERA
LISTA
T
OTAL
VARIÁVEIS
N = 26
N = 28
N =54
Média
Desv. Pad.
Média
Desv. Pad.
Média
Desv. Pad.
SCORETERROIR
7,61 0,94 7,39 0,73
7,5
0,84
EXPEENOTMP
19,80
11,65
22,60
9
,36
21,25
10,52
ENOINT
0,34 0,48 0,14 0,35 0,24 0,43
APROPENO
0,65 0,48 0,21 0,41 0,42 0,49
PESQENO
0,23 0,42 0,10 0,31 0,16 0,37
CONSULTENOINT
0,11 0,31 0,03 0,18 0,07 0,26
APROPAGRO
1,92 0,89 1,57 0,74 1,74 0,82
PESQAGRO
0,15 0,36 0,07 0,26 0,11 0,31
EXPERVAR
0,53 0,50 0,21 0,41 0,37 0,48
I.P.
0,38 0,49 0,03 0,18 0,20 0,40
ROTTUR
0,73
0,4
5
0,46 0,50 0,59 0,49
PARTWINFBRA
0,26 0,45 0,17 0,39 0,22 0,41
ASSESSEMBRAPA
1,26 1,18 1,32 1,30 1,29 1,23
O
SCORETERROIR
,
da mesma forma que para a população em geral, não apresenta
diferenças significativas entre as duas categorias. O tempo de atuação em firmas
internacionais, o envolvimento com pesquisa e a condição de apropriabilidade do
conhecimento enológico, por sua vez, apresentaram diferenças importantes evidenciando que
as empresas especialistas possuem maior competência enológica em relação às generalistas.
138
Uma exceção é o tempo de experiência do enólogo que é ligeiramente maior nas empresas
especialistas.
A partir das diferenças no grau de apropriabilidade, pode-se interpretar que as
empresas especialistas são aquelas em que é mais freqüente um enólogo ser o proprietário, o
que entende-
se como a melhor condição de apropriabilidade de seu conhecimento.
Em relação à competência
vitícola
, as empresas especialistas demonstraram possuir
também melhores resultados em termos de agrônomos em seu quadro de funcionários,
pesquisa agronômica e experimentos de varietais.
Por sua vez, em relação aos recursos de acesso restrito, as empresas especialistas
possuem maior acesso a Indicações de Procedência e Rotas Turísticas e são as que mais
participam em con
sórcios de exportação (
Wines from Brazil
).
6.4.6.2 O p
apel do
s
istema de
p
rodução de uvas sobre o acesso aos r
ecursos
A Tabela 29, na
seqüência
, apresenta as diferenças de médias para recursos entre as
diversas estratégias de suprimento de uvas estudadas.
Pelo que demonstram os dados, ao escolher uma estratégia de suprimento de uvas a
empresa está ao mesmo tempo fazendo comprometimentos em diversas outras áreas
associadas como o desenvolvimento de competências
vitícola
s e a implantação de uma
melhor tecnol
ogia enológica, entre outros.
Assim, as empresas que atuam com produção integrada são as que possuem os
enólogos com maior experiência internacional, maior ocorrência de agrônomos contratados e
envolvimento com pesquisa agronômica e, com mais freqüência, realizam experimentos com
varietais. Em síntese, estas empresas são as que acessam maiores competências enológicas e
139
vitícola
s para a população analisada. Isto se deve possivelmente pelo fato de a estratégia de
integração estar associada a empresas de maior
porte e profissionalismo.
Segundo expressaram diversos especialistas consultados, a estratégia de integração é a
opção primária para as empresas em crescimento no
cluster,
pois permite a expansão de
capacidade mantendo a qualidade, sem a necessidade de aquisição de ativos físicos, neste
caso, terras e vinhedos.
Tabela
29
-
Estratégia de Suprimento de Uvas e
Médias em
Recursos
Estratégias de Suprimento
PRODUÇÃO
PRÓPRIA
PRODUÇÃO
INTEGRADA
UVAS
COMPRADAS
TOTAL
VARIÁVEIS
N =20
N
= 14
N = 20
N = 54
Média
Desv.Pad.
Média
Desv. Pad.
Média
Desv. Pad.
Média
Desv. Pad.
SCORETERROIR
7,8
1,05 7,57 0,75 7,15
0,48
7,5
0,84
EXPEENOTMP
17,45
9,88
22,85
7,91
23,95
11,98
21,25
10,52
EXPENOLTMPFINT
0,09 0,28 1,10 1,80 0,61
1,87
0,54 1,49
EXPENOLPESQ 1,32 5,14 1,85 2,53
0 0
0,97 3,41
APROPENO
2,40 0,88 2,35 0,63 1,85
0,74
2,18 0,80
PESQENO
0,15 0,36 0,42 0,51 0,00
0,00
0,16 0,37
CONSULTENOINT
0,25 0,44 0,07 0,26 0,35
0,48
0,24 0,43
APROPAGRO
0,15 0,36 0,57 0,51 0,05
0,22
0,22 0,41
PESQ
AGRO
0,05 0,22 0,35 0,49
0 0
0,11 0,31
EXPERVAR
0,45 0,51 0,64 0,49
0,1
0,30
0,37 0,48
I.P.
0,3
0,47 0,21 0,42
0,1
0,30
0,20 0,40
ROTTUR
0,65 0,48 0,57 0,51 0,55
0,51
0,59 0,49
PARTWINFBRA
0,2
0,41 0,42 0,51
0,1
0,30
0,22 0,41
ASSESSEMBRAPA
1,65
1,1
8
1,57 1,34 0,75
1,06
1,29 1,23
Em relação aos recursos de acesso restrito, as empresas com produção própria
apresentam maior percentual de casos com Indicação de Procedência e Rotas Turísticas, mas
esta diferença é mais pronunciada em relação as empresas que atuam com uvas compradas, as
quais apresentam resultados inferiores em quase todos os recursos investigados.
140
O único recurso em que estas últimas tiveram resultado superior foi na experiência do
enólogo em termos de tempo de formado, mas, possivelmente, as vantagens advindas desta
experiência são reduzidas pelos resultados inferiores em todos os outros recursos.
6.2
.5.2
O p
apel do
sistema vinícola sobre o acesso aos r
ecursos
A Tabela 30
apresenta as diferenças de médias para recursos entre os diversos
graus de
tecnologia empregados pelas firmas. Observa-se que as empresas de alta tecnologia
apresentam melhores índices de recursos em competência enológica, considerando o
envolvimento com pesquisa e a apropriabilidade (enólogo proprietário da empresa) e
também
em competência
vitícola
, com maior envolvimento com pesquisa e experimentos com
varietais. O acesso aos recursos de acesso restrito também é maior nas empresas de alta
tecnologia para todas as variáveis. Em contrapartida, as empresas com baixa tecno
logia
apresentaram os piores resultados em todas as variáveis analisadas.
Tabela
30
-
Grau de Tecnificação e
Médias em
Recursos
Grau de Tecnificação
ALTA TECNOLOGIA
MÉDIA TECNOLOGIA
BAIXA TECNOLOGIA
TOTAL
VARIÁVEIS
N = 13
N = 3
1
N = 10
N = 54
Média
Desv. Pad.
Média
Desv. Pad.
Média
Desv. Pad.
Média
Desv.Pad.
SCORETERROIR
7,69 1,10 7,51 0,81
7,2
0,42
7,5
0,84
EXPEENOTMP
21,23
10,98
20,03
10,64
25,1
9,59
21,25
10,52
EXPENOINT
0,64 1,11 0,68 1,82
0 0
0,54 1,49
APROPENO
2,69 0,63 2,16 0,73 1,60
0,84
2,18 0,80
PESQENO
0,38 0,50 0,09 0,30 0,10
0,31
0,16 0,37
CONSULTENOINT
0,30 0,48 0,00 0,00 0,00
0,00
0,07 0,26
APROPAGRO
2,30 0,85 1,64 0,75 1,30
0,67
1,74 0,82
PESQAGRO
0,46 0,51
0 0 0 0
0,11 0,31
EXPERVAR
0,84 0,37 0,29
0,
46
0 0
0,37 0,48
I.P.
0,53 0,51
0,129
0,34
0 0
0,20 0,40
ROTTUR
0,92 0,27 0,54 0,50
0,3
0,48
0,59 0,49
PARTWINFBRA
0,46 0,51 0,16 0,37
0,1
0,31
0,22 0,41
ASSESSEMBRAPA
1,76
1,3
1,25 1,15
0,8
1,316
1,29 1,23
141
6.2
.6
Estratégias e
p
erformance
Ao estudar-se as relações entre estratégias e recursos, uma questão diretamente
associada centra-se em entender a influência destas estratégias sobre a
performance
. Para
respondê
-las, analisou-se primeiramente as médias de
performance
para cada componente de
estratégi
a considerado e, na sequência, para as categorias compostas.
6.
2.6
.1 O efeito da e
specialização
O efeito da especialização sobre a
performance,
apresentad
o na Tabela 31, é mais
pronunciando em relação ao preço médio dos vinhos finos e premiações, todos co
m
diferenças estatisticamente significantes entre as categorias. As empresas especialistas
apresentaram preços dios praticamente duas vezes maiores em relação às generalistas, um
padrão que se repete também em premiações, embora com menor intensidade. O número de
novos produtos não apresentou diferenças estatisticamente importantes. A variação do
market
share
foi ligeiramente favorável para as empresas especialistas, que tiveram uma variação
positiva de 0,65 % enquanto as empresas generalistas tiveram uma
perda de fatia de 0,59%.
Tabela
31
-
Grau de
Especialização e
Performance
Indicadores de
Performance
GRAU DE
ESPECIALIZAÇÃO
PREÇO
MEDVF
NUM
NOVPROD
PREM50
PREM15
VAR
MKTSHARE
Especialista
Média
16,40
3,92 8,65 2,00
0,
62%
N
26
26
26
26
26
Desvio Padrão
5,44 3,42
13,87
2,77
1,77%
Generalista
Média
8,75 3,07 4,39 1,00
-
0,58%
N
28
28
28
28
28
Desvio Padrão
2,04 2,27 7,78 1,96
1,87%
Total
Média
12,43
3,48 6,44 1,48 0,00
N
54
54
54
54
54
Des
vio Padrão
5,56 2,89
11,23
2,41
1,89%
142
6.2
.6
.2 O efeito dos v
inhedos
O efeito dos vinhedos ou do sistema de suprimento de uvas sobre a
performance,
apresentado na Tabela 32, manifesta-se de forma mais marcante sobre os preços médios,
premiações (PREM50) e
variação de
market share
.
Tabela
32
-
Sistema de
Suprimento
de Uvas e
Performance
Indicadores de
Performance
SISTEMA DE
SUPRIMENTO
PREÇO
MEDVF
NUM
NOVPROD
PREM50
PREM15
VAR
MKTSHARE
Produção Própria
Média
15,07
3,75
7,6
5
1,60
0,12%
N
20
20
20
20
20
Desvio Padrão
7,00 3,10
9,97
2,66
0,57%
Produção Integrada
Média
13,86
4,00
13,21
3,42
-
0,01%
N
14
14
14
14
14
Desvio Padrão
3,70 3,67
16,15
2,44
3,63%
Uvas compradas
Média
8,80 2,85
,50
,00
-
0,1
1%
N
20
20
20
20
20
Desvio Padrão
2,28 1,92
1,23
,00
0,88%
Total
Média
12,43
3,48
6,44
1,48
,0000
N
54
54
54
54
54
Desvio Padrão
5,56 2,89
11,23
2,41
1,89%
Os vinhos finos das empresas que possuem produção própria
de uvas
apresenta
ra
m um
pr
eço médio superior, mas a distinção mais importante é entre as empresas que possuem
produção integrada e as que adotam a estratégia de uvas compradas, com R$ 5,00 de
vantagem para as primeiras.
A
s empresas
com
produção integrada se destacam em premiações
com uma média de 13,21 vinhos selecionados no período investigado (10 anos), contra 7,65
vinhos selecionados para as de produção própria e 0,50 para as empresas que seguem a
estratégia de uvas compradas. A variação de market share apresentou crescimento de fatia de
0,12% para as empresas com a estratégia de uvas próprias e perda equivalente de fatia de
cerca de 0,11% para a estratégia de uvas compradas
.
143
6.2
.6
.3 O efeito da t
ecnologia
Assim como as demais dimensões de estratégia avaliadas, o efeito da tecnologia sobre
a
performance
apresentou importantes diferenças na maioria das
variáveis,
conforme
apresenta a Tabela 33. O preço médio nas empresas de alta tecnologia é superior em cerca de
R$ 10,00 em relação às de baixa tecnologia, e em R$ 7,00 em relação às de média tecnologia.
Tabela
33
-
Grau de Tecnificação
e
Performance
Indicadores de
Performance
GRAU DE
TECNIFICAÇÃO
PREÇO MEDVF
NUM
NOVPROD
PREM50
PREM15
VAR
MKTSHARE
Alta Tecnologia
Média
18,60
5,53
18,15
3,69
-0
,22%
N
13
13
13
13
13
Desv. Padrão
5,36 4,40
17,20
2,71
3,77%
Média Tecnologia
Média
11,30
3,09 3,58
1,00
0,08%
N
31
31
31
31
31
Desv. Padrão
4,24 1,92 4,82
2,08
0,84%
Baixa Tecnologia
Média
7,93 2,00
,10
,10
0,04%
N
10
10
10
10
10
Desv. Padrão
1,48 1,41
,31
,31
0,06%
Total
Média
12,43
3,48 6,44
1,48
0,00
N
54
54
54
54
54
Desv. Padrão
5,56 2,89
11,23
2,41
1,89%
As empresas de alta tecnologia lançaram duas vezes mais produtos que as de baixa
tecnologia e tiveram uma proporção de 5 vezes mais vinhos selecionados para PREM50 e 3
vezes mais vinhos classificados para o evento final de avaliação (PREM15) em relação às de
média tecnologia. A comparação entre média e baixa tecnologia mostra também que, no
estágio atual do
clust
er
, os investimentos em tecnologia produzem efeitos positivos sobre a
performance
em qualquer grau da escala. Contudo, as empresas de alta tecnologia
apresentaram uma perda de fatia de 0,22%, possivelmente refletindo um efeito de migração
dos consumidores
para produtos mais baratos.
144
6.2
.6.4
Categorias e
stratégicas e
p
erformance
Além da consideração dos efeitos individuais de cada dimensão estratégica avaliada,
os quais nos auxiliam a compreensão da dinâmica do negócio do vinho, faz-se importante
avaliá
-
los
de forma conjunta, o que foi feito a partir da comparação das categorias estratégicas
estabelecidas.
Como algumas categorias possuem poucos casos, que se considerar os dados apresentados
como um retrato específico e estático da população estudada, não permitindo conclusões de
caráter generalizável. De toda forma, associando estes dados com as análises anteriores,
atinge
-se um importante valor ilustrativo do papel das escolhas estratégicas sobre a
performance.
A Tabela 34, na página seguinte, apresenta as médias de
performance
para cada
categoria.
As categorias estratégicas de maior performance geral, considerando-se os diversos
indicadores, foram: (a)
especialista
- produção própria - alta tecnologia, (b)
especialista
-
produção integrada
-
alta tecnol
ogia
e (c)
generalista
-
produção integrada
-
alta tecnologia
.
As categorias estratégicas de menor performance geral, foram: (a)
generalista
- uvas
compradas
- baixa tecnologia; (b)
generalista
- produção própria - baixa tecnologia e (c)
especialista
-
uv
as compradas
-
baixa tecnologia
.
Tanto para empresas especialistas quanto para as generalistas, fica evidente o papel
central desempenhado pela tecnologia como grande fator de divisão entre baixa e alta
performance
, conforme já confirmado pela análise ante
rior.
145
Tabela
34
-
Categorias
Estratégi
c
as e
Performance
INDICADORES
CATEGORIAS
ESTRATÉGICAS
N
PREÇO
MEDVF
NUM
NOVPROD
PREM50
PREM15
VAR
MKTSHARE
Especialista
Produção Própria
Média Tecnologi
a 6
Média
16,46
2,83 4,16
,50
0,328%
Desv. Pad.
5,86 1,94 4,99 1,22
0,555%
Alta Tecnologia
6
Média
22,37
5,16
13,33
3,66
0,154%
Desv. Pad.
3,90 5,03
13,12
3,88
0,232%
Especialista
Produção Integrada
Média Tecn
ologia
5
Média
13,38
3,40 6,60 3,00
0,499%
Desv. Pad.
1,45 2,07 4,77 3,31
0,651%
Alta Tecnologia
4
Média
18,63
5,75
21,75
3,00
2,501%
Desv. Pad.
1,36 5,12
28,27
1,41
4,378%
Especialista
Uvas Compradas
Baix
a Tecnologia
1
Média
10,50
3,00
,00
,00
-
0,067%
Desv. Pad.
. . . . .
Média Tecnologia
4
Média
10,37
2,75
,00
,00
0,226%
Desv. Pad.
2,59 2,21
,00
,00
0,327%
Generalista
Produção Própria
Baixa Tecnologia
4
Média
8,33 2,25
,25
,25
0,031%
Desv. Pad.
,76
1,50
,50
,50
0,032%
Média Tecnologia
3
Média
8,75 4,33 8,00
,66
0,383%
Desv. Pad.
2,44 1,15 9,53 1,15
0,193%
Alta Tecnologia
1
Média
8,92 5,00
23,00
4,00
-
1,803%
Desv. Pad.
. . . . .
Generalista
Produção Integrada
Média Tecnologia
3
Média
9,48 1,00 6,33 3,66
-
0,216%
Desv. Pad.
1,96 1,00 3,78 3,05
0,414%
Alta Tecnologia
2
Média
12,30
6,50
23,00
5,00
-
6,021%
Desv. Pad.
,48
4,94 5,65 1,41
3,567%
Generalista
Uvas Compradas
Baixa Tecnologia
5
Média
7,10 1,60
,00
,00
0,063%
Desv. Pad.
1,35 1,51
,00
,00
0,063%
Média Tecnologia
10
Média
8,84 3,50 1,00
,00
-
0,332%
Desv. Pad.
2,22 1,95 1,63
,00
1,220%
146
6.2
.7
Recursos e
p
erformance
A partir das
análises anteriores
,
chega
-
se à questão central desta pesquisa
,
que consiste
em compreender o efeitos dos recursos presentes no
cluster
sobre as variações de
performance
das firmas ali instaladas. A estatística multivariada possui diferentes métodos
para abordar este tipo de questão e a escolha da técnica mais apropriada depende
sempre
dos objetivos da pesquisa, do grau de detalhamento e do comportamento estatístico dos dados
disponíveis.
Nesta pesquisa optou-se pela técnica de regressão linear múltipla, por mostrar-
se
adequada ao estudo de variações de
performance
.
Especificamente em relação ao preço médio
dos vinhos finos, uma das variáveis de
performance
aqui adotadas, algumas considerações
dev
em ser feitas, como
discute
-
se a seguir.
6.
2.7
.1 Modelo de Cálculo
Tradicionalmente os estudos de preços para bens compostos
*
, como os vinhos e
imóveis
, baseia
-se na estimação a partir de funções hedônicas,
que
são funções onde se avalia
o efeito das características do produto sobre a composição do seu preço. Cada característica
acrescenta uma parcela ao preço final, e a estimação da função de regressão a partir destas
características permite calcular o valor atribuído a cada uma (GRILICHES, 1971; ROSEN,
1974
).
Nesta lógica, considera-se que o consumidor de vinhos avalia o preço e decide a
compra com base em aspectos como a safra, a reputação da empresa, a região de origem e o
tamanho
do lote de produção, entre outro
s.
*
Bens compostos são aqueles cujos preços podem ser analisados como uma soma dos preços de suas diversas
características e atributos agregados
(ROSEN, 1974; SHEPPA
RD,1999).
147
A maioria dos estudos desenvolvidos sobre estimação hedônica de preços de vinhos
tem demonstrado que os fatores c
onstant
es no rótulo do produto, por serem mais explícitos,
apresentam um poder preditivo ligeiramente maior do que os fatores mais subjetivos, como a
qualidade dos produtos. A adoção deste tipo de modelo na presente pesquisa revela-
se
bastante complexa, devido às seguintes limitações:
(a) Primeiramente, o efeito safra não é representativo nos vinhos brasileiros para as
categorias estudadas; existem variações na qualidade de ano para ano, mas estas ainda
não são bem entendidas pelo consumidor brasileiro devido a pouca tradição no
consumo do produto;
(b) Como segundo aspecto, os vinhos estudados são todos de uma mesma micro-
região (embora se avalie o efeito das Indicações de Procedência e das Rotas
Turísticas), o que dificulta a avaliação deste componente de uma maneira mais precisa;
(c) O terceiro ponto de restrição é que poucas empresas apresentam o tamanho do lote
de garrafas produzido em seus rótulos, e este item é de pouco conhecimento ao
consumidor brasileiro,
(d) Adicionalmente, não se dispõe no país de um guia de vinhos com dados de
pontuação de qualidade a partir de avaliação de um painel de
experts
;
(e) Por fim, a avaliação da reputação da empresa de maneira efetiva implicaria na
realização de uma ampla pesquisa em nível nacional, a qual se estende além do escopo
do presente trabalho.
Consideradas estas limitações, e ainda, a grande quantidade de trabalhos realizados
nesta linha, buscou-se nesta pesquisa explorar um ângulo distinto, incorporando os recursos
como elementos preditivos dos preços, assim como dos outros indicadores de
performance.
148
O modelo utilizado para avaliação destes efeitos segue procedimentos tradicionais de
regressão
linear
múltipla (RLM), e pode s
er representado pela seguinte expressão:
iiii
Sp
b
Rs
b
Rr
bbp
3210
(6.2
.7
.1.1)
Onde:
p
i
=
performance
da firma
i
b
0
= intercepto
b
1
= coeficiente de regressão dos
recursos de acesso restrito
Rr
i
=
recursos restritos acessados pela firm
a
i
b
2
= coeficiente de regressão dos
recursos singulares
Rs
i
=
recursos singulares
da firma i
b
3
= coeficiente de regressão dos
spillovers
Sp
i
= fontes de
spillovers
acessadas pela firma
i
=
termo de erro e
outros efeitos não considerados
Partiu
-se da premissa de que a influência dos recursos sistêmicos é, por definição,
simétrica para todas as firmas e portanto, foram estudados somente os efeitos dos
recursos
singulares
,
recursos de acesso restrito
e dos
spillovers
.
A regressão linear múltipla foi calculada seguindo o método
backward
, o que significa
que todas as variáveis independentes representativas dos recursos estratégicos e
spillovers
foram inseridas inicialmente no modelo, sendo a seguir retiradas passo a passo, analisando-
se
o efeito de sua exc
lusão sobre os coeficientes de determinação (R²).
149
Para obtenção de normalidade e homogeneidade de variâncias (homocedasticidade),
duas
condições fundamentais para a adoção do modelo linear, executou
-
se uma transformação
do tipo Box-Cox sobre as variáveis dependentes preço médio dos vinhos finos
(
PREÇOMEDVF
) e número de novos produtos (NUMNOVPROD), obtendo sensível melhora
em ambos os
aspectos (
BOX;
COX, 1964
).
Por fim, todas as variáveis independentes foram testadas quanto à normalidade e
transformadas segundo os diversos critérios previamente detalhados. Como procedimento
padrão em trabalhos deste tipo, executou-se também estatísticas de colinearidade (FIV) e
análise de resíduos das regressões para verificar respectivamente, a multicolinearidade e o
ajust
e do modelo de regressão. Estes dados serão trazidos à discussão apenas quando
importantes para a compreensão das questões estudadas, ou caso apresentem resultados fora
dos padrões esperados.
Faz
-se importante resgatar também que, por estar sendo
realizado
um estudo de uma
população e não de uma amostra, os dados de significância perdem parcialmente sua
relev
ância na discussão, embora sejam considerados como elementos de cálculo no processo
de regressão. Desta forma, uma premissa assumida é de que o poder explicativo dos modelos
desenvolvidos restringe-se ao grupo estudado, não se fazendo nenhum tipo de generalização
para populações maiores ou de fora do
cluster
.
Feitas estas considerações, os resultados serão apresentados da seguinte forma:
primeiramente a
análise da influência dos recursos singulares sobre a
performance
, a seguir, o
efeito dos recursos de acesso restrito e, por fim o efeito combinado de ambos. Na seqüência,
analisa
-se o efeito dos
spillovers
e o efeito combinado dos
recursos
e spillovers
so
bre a
performance
.
150
6.2
.7
.2 O
e
feito dos
recursos s
ingulares
A primeira análise de regressão centra-se no efeito dos recursos singulares sobre a
performance
. Nesta análise busca-se investigar a hipótese H1, segundo a qual, espera-se um
efeito positivo destes recursos sobre a
performance
das firmas que os utilizam. A Figura
15
apresenta o conjunto de variáveis utilizado.
Figura
15
-
Recursos Singulares
e
Performance
-
Variáveis Preditivas
Como
recursos singulares foram
avaliados
: (a)
o
terroir
, expresso pelo
SCORETERROIR,
(b)a competência enológica, expressa através do tempo de formado do
enólogo,
sua
experiência internacional, a condição de apropriabilidade de seu conhecimento,
o seu envolvimento com pesquisa e a contratação de consultorias enológicas internacionais, e
(c)
a competência vitícola, expressa pela apropriabilidade do conhecimento agronômico, o
envolvimento do agrônomo com pesquisa e o desenvolvimento ou não de experimentos com
varietais.
Recursos Singulares
S
CORETERROIR
EXPENOTMP
EXPENOINT
APROPENO
PESQENO
CONSULTENOINT
APROPAGRO
PESQAGRO
EXPERVAR
Performance
PREÇOMEDVF
NUMNOVPROD
PREM50
PREM15
VARMKTSHARE
Terroir
Competência
Enológica
Competência
Vitícola
Preço
Inovação
Premiações
Mercado
151
Nesta análise, uma vez que são considerados apenas os recursos singulares a equação
genérica
6.2
.7
.1.1
assume uma forma simplificada, reduzindo
-
se aos seguintes termos:
ii
Rs
bbp
20
(6.2.7
.2
.1)
Onde:
p
i
=
performance
da firma
i
b
0
= intercepto
b
2
= coeficiente de regressão dos
recursos singulares
Rs
i
=
recursos singulares
da firma i
=
termo de erro e
outros efeitos não considerados
A Tabela 35 apresenta os resultados da regressão obtida sob estas especificações,
comentados a seguir.
Tabela
35
-
Coeficientes de Regressão para
Recursos Singulares
Variáveis
Modelo
R
R ²
R ²
Ajustado
Erro Std.
D
a
Estimativa
PREÇ
O
MEDVF
1
,707 ,500 ,459
,04446
NUMNOVPROD
2
,542 ,294 ,266
,64125
PREM50
3
,705 ,497 ,456
,45680
PREM15
4
,585 ,343 ,303
,29673
VARMKTSHARE
5
,498 ,248 ,203
,92685
Para a primeira variável (modelo 1)
atingiu
-se um coeficiente de determinação
igual a 0,500, o que representa que 50% da variância do preço médio dos vinhos finos nas
empresas investigadas pode ser
explicada a partir d
as variáveis
incluídas na análise
.
Este é um
resultado razoável em termos de poder explicativo, e coerente com os achados de Rumelt
(1991) e McGahan e Porter (1997) que encontraram respectivamente, valores de 47% e 36%
152
para a variância de
performance.
Há que se considerar que estes
autores
utilizaram um
conjunto de variáveis mais genérico, apropriado ao estudo de multi-setores e medições de
performance
baseadas principalmente em indicadores financeiros. Na análise aqui realizada,
ficou
evidenciado que o uso de variáveis apropriadas ao estudo específico do setor vitivinícola
permitiu alcançar um poder explicativo ligeiramente maior destes efeitos.
Na regressão do mero de novos produtos (modelo 2) sobre os recursos singulares
obteve
-
se
um igual a 0,294, ou seja, 29,4 % da variação nos lançamentos de produtos nos
últimos cinco anos, para as firmas estudadas, pode ser explicada pelos
recursos singulares
.
Na sequência, para a variável PREM50 (modelo 3), obteve-se um igual a 0,497 e,
por fim, para a variável PREM15 (modelo 4), obteve-se um igual a 0,343. Ambos os
valores representam uma influência moderada dos recursos singulares sobre as variações de
performance
em premiações mostrando que, na concorrência com as outras firmas do c
luster
perante um comitê de avaliação qualificado, esta categoria de recursos pode ser considerada
uma fonte importante de
diferenciação competitiva
. Para a variação do
market share
(modelo
5)
obteve
-se um coeficiente de 0,248, representando um baixo poder explicativo destas
variações
a partir dos
recursos singulares
.
Partindo destas considerações, as Tabelas 36 e 37 a seguir apresentam
respectivamente, a análise ANOVA e os coeficientes
de regressão
das variáveis preditivas
que
permitem aprofundar a compreensão das regressões desenvolvidas.
Faz
-se importante
ressaltar que o procedimento de cálculo
Backward
insere todas as variáveis na equação e as
retira ponderando o efeito de melhoria sobre a significância dos resultados. Assim as variáveis
restantes
são sempre as que apresentam a melhor capacidade de explicar as variações
estudadas.
153
Tabela
36
-
Análise ANOVA
-
Recursos Singulares
Modelo
Soma dos
Quadrados
df
Quadrado
da Média
F
Sig.
1
Regressão
,097
4
,024
12,249
,000
Re
siduo
,097
49
,002
Total
,194
53
2
Regressão
8,728
2
4,364
10,613
,000
Residuo
20,971
51
,411
Total
29,699
53
3
Regressão
10,116
4
2,529
12,120
,000
Residuo
10,225
49
,209
Total
20,341
53
4
Regressão
2,296
3
,765
8,691
,000
Re
siduo
4,402
50
,088
Total
6,698
53
5
Regressão
14,200
3
4,733
5,510
,002
Residuo
42,952
50
,859
A análise dos resíduos
(quadrado da média)
e dos valores de estatística
F
na Tabela 3
6
demonstra um bom ajuste do modelo para todas as 5 regressões
. Por sua vez, a
nalisando
-
se os
coeficientes de regressão n
ão
-
standartizados
(
B)
e
standartizados
(Beta)
, na Tabela 36, na
página seguinte, pode-se avaliar a importância relativa de cada variável sobre os modelos
calculados
. O coeficiente n
ão
-
standartizado
representa o acréscimo produzido na variável
dependente a cada acréscimo de uma unidade na variável preditiva
.
Os coeficientes
standartizados são úteis para comparar o efeito de variáveis com diferentes escalas.
Ressalta
-
se
ainda
que
, em todas as análises que se seguem sobre a
performance
em
preço, o sinal negativo dos coeficientes deve
-se à transformação previamente efetuada sobre a
variável estimada (
PREÇOMEDVF
), e deve ser invertido para consideração dos efeitos
individuais.
154
Tabela
37
-
Coeficientes de Regressão
-
Recursos Singulares
Modelo
Variáveis
Coeficientes Não
-
Standartizados
Coeficientes
Standartizados
t
Sig.
Estatística de
Colinearidade
B
Erro
Beta
Tolerância
FIV
1 (
Constante
)
,660 ,073
9,023
,000
SCORETE
RROIR
-
,015 ,007
-
,256
-
2,219
,031 ,769
1,300
APROPENO
-
,195 ,050
-
,410
-
3,892
,000 ,920
1,087
EXPENOINT
-
,029 ,015
-
,206
-
1,941
,058 ,910
1,099
EXPERVAR
-
,029 ,015
-
,234
-
1,971
,054 ,723
1,383
2 (
Constante
)
1,568
,093
16,875
,000
CONSULTENOINT
,707 ,407 ,250
1,736
,089 ,669
1,494
PESQAGRO
,846 ,339 ,359
2,493
,016 ,669
1,494
3 (
Constante
) -
1,371
,443
-
3,094
,003
SCORETERROIR
,208 ,063 ,346
3,277
,002 ,922
1,085
EXPENOINT
,299 ,150 ,208
1,998
,051 ,943
1,061
PESQAGRO
,591 ,239 ,303
2
,471 ,017 ,683
1,463
APROPAGRO
,182 ,092 ,243
1,969
,055 ,672
1,488
4 (
Constante
) -
,062 ,103
-
,600 ,551
PESQAGRO
,283 ,162 ,253
1,750
,086 ,630
1,586
APROPAGRO
,109 ,060 ,253
1,823
,074 ,683
1,463
EXPERVAR
,163 ,096 ,224
1,706
,094 ,763
1,311
5 (
Constante
)
,425 ,309
1,373
,176
EXPENOTMP
-
,382 ,115
-
,414
-
3,331
,002 ,972
1,029
CONSULTENOINT
1,393
,541 ,355
2,577
,013 ,794
1,260
APROPAGRO
-
,305 ,171
-
,244
-
1,790
,079 ,812
1,232
Para a regressão sobre o preço médio dos vinhos finos (modelo1) a importância do
terroir
é evidente, mas esta variável aparece associada à competência vitícola (EXPERVAR)
e competência enológica (APROPENO,
EXPENOINT)
sugerindo
uma complementariedade
de recursos. De todas as variáveis, a mais importante é a apropriabilidade do conhecimento
enológico (APROPENO) que apresenta um coeficiente
Beta
de -0,195 (
Beta
Standartizado
=
0,41
). Relembrando que o grau de apropriabilidade varia de 1 a 3 (com 1 para enólogo
consultor, 2 para funcionário e 3 para enólogo proprietár
io
)
o coeficiente
Beta
de - 0
,195
significa que a cada incremento de 1 grau na apropriabilidade, o preço médio é incrementado
em
-
0,195
pontos o que representa (em escala convertida) um aumento de R$ 18,00 no preço
a cada incremento na variável explicativ
a.
155
Esta
importância da condição de apropriação do conhecimento enológico
(APROPENO)
, associada com
a
experiência em firmas internacionais (EXPENOINT)
que
também apresentou coeficientes altos, pode ser interpretada como uma fonte influente sobre a
performa
nce
de duas maneiras. Primeiro, que os enólogos que atuaram no exterior, em
países com maior tradição vitivinícola, possuem mais chances de ampliação de seu
conhecimento através da experimentação de vários tipos de vinho e contato com tecnologias
superi
ores
. Segundo, ao tornarem-se proprietários de seu negócio, possivelmente empregam
este conhecimento acumulado com mais eficácia do que quando são empregados de terceiros
,
ou mesmo, se dedicam à elaboração de vinhos mais sofisticados
.
Para a regressão do número de novos produtos (modelo 2) aparecem em destaque as
consultorias enológicas internacionais (CONSULTENOINT) e a pesquisa agronômica
(PESQAGRO)
,
sendo que esta última apresenta um coeficiente
Beta
ligeiramente superior
evidenciando que a
co
mpetência
vitícola é um recurso importante para a inovação.
Para as regressões de premiações (modelos 3 e 4), novamente se destacam a pesquisa
agronômica (PESQAGRO), associada à condição de apropriabilidade do conhecimento
agronômico (APROPAGRO) e aos experimentos com varietais (EXPERVAR). Destacam-
se
ainda a experiência internacional do enólogo (EXPENOINT) e o
terroir
(SCORETERROIR)
como variáveis influentes sobre PREM50.
Para a regressão de variação do market share (modelo 5)
observa
-se primeiramente a
influência
negativa
do tempo de formado do enólogo (EXPENOTMP) e da apropriabilidade
agronômica (APROPAGRO), e segundo, a influência positiva das consultorias enológicas
internacionais (CONSULTENOINT). Uma interpretação
possível
de
st
a influência negativa
é
que a rigidez cultural representada por enólogos de uma geração antiga, exerce efeitos
negativos sobre o crescimento das empresas ou ainda, de que estes enólogos mais antigos
156
efetivamente atuam nas empresas de menor
performance
.
A experiência internacional
(EXPENOIN
T),
por outro lado, apresentou
influência
positiva
em
todos os indicadores
demonstrando a importância da busca de experiências em ambientes externos ao
cluster.
6.2
.7
.3 O e
feito dos
recursos de acesso r
estrito
Nesta análise busca-
se
investigar as hipóteses H2 e H3, segundo a
s
qua
is
, espera-
se
um efeito positivo dos recursos de acesso restrito sobre a
performance
das firmas que os
acessam
, mas este efeito deve ser menor do que
o
dos
recursos singulares. A Figura
16
apresenta o conjunto de variáveis utiliza
do para o estudo destes efeitos.
Figura
16
-
Recursos Restritos
e
Performance
-
Variáveis Preditivas
Como
recursos de acesso restrito foram avaliados a busca de assessorias com a
EMBRAPA, a presença de indicações de procedência, a participação em consórcios de
exportação e a participação em rotas turísticas (Rota do Vale dos Vinhedos, Rota Caminhos
de Montanha, Rota Apromontes e Rota dos Espumantes).
Recursos de Acesso Restrito
ASSESSEMBRAPA
I.P.
PARTWINFBRA
ROTTURVV
ROTTURCAM
ROTTURAPROMN
ROTTURESPUM
Performance
PREÇOMEDVF
NUMNOVPROD
PREM50
PREM15
VARMKTSHARE
Acesso a Centros de
Pesquisa
Rotas
Turísticas
Preço
Ino
vação
Premiações
Mercado
Consórcio Exportação
Indicação de
procedência
157
Nesta análise, uma vez que são considerados apenas os recursos de acesso restrito, a
equação genérica 6.2.7
.1.1
assume uma forma simplificada, reduzindo-se aos seguintes
termos:
ii
Rrbbp
10
(6.2
.
7.3.1
)
Onde:
p
i
=
performance
da firma
i
b
0
= intercepto
b
1
= coeficiente de regressão dos
recursos de ace
sso restrito
Rr
i
=
recursos de acesso restrito
acessados pela firma
i
=
termo de erro e
outros efeitos não considerados
A Tabela 38 apresenta os resultados da regressão obtida sob estas especificações,
comentados a seguir.
Tabela
38
-
Regressão Linear
-
Recursos de Acesso Restrito
Variáveis
Modelo
R
R ²
R ² Ajustado
Erro Std. da
Estimativa
PREÇ
O
MEDVF
6
,525 ,276 ,247
,05246
NUMNOVPROD
7
,265 ,070 ,052
,72871
PREM50
8
,546 ,298 ,256
,53452
PREM15
9
,401 ,161 ,128
,33192
VARMKTSHARE
10
,400 ,160 ,127
,97003
Na regressão do preço médio dos vinhos finos (modelo 6) obteve-se um igual a
0,276, o que representa um poder explicativo de apenas 27,6% sobre as variações de preços a
partir deste tipo de recurso. O mero de novos produtos (modelo 7) não demonstrou receber
influências relevantes de nenhum recurso restrito
.
A influência sobre as variações nas
premiações
(modelos 8 e 9) foi de 29,8% (PREM50) e de 16,1% (PREM15), um resultado
158
substantivamente menor do q
ue o obtido com os
recursos singulares
. Para variação do
market
share
obteve
-se um coeficiente de 0,
160
, representando igualmente um efeito bastante fraco
dos
recursos de acesso restrito
sobre este indicador.
De uma forma geral, os resultados obtidos nas regressões utilizando recursos de
acesso restrito apóiam as
hipótese
s H2 e H3 onde se estipula um efeito positivo deste tipo de
recurso sobre a
performance
, destaca
ndo
-se que o efeito mais importante ainda é devido
aos
recursos singulares. Isto reflete o esperado e delineado no modelo proposto na seção 3.3,
uma vez que estes recursos, sendo de acesso grupal, possuem menor poder de
influenciar
assimetrias de
performance
entre as firmas do que os
recursos singulares
.
As Tabelas
39
e
40
na sequência
, ap
resentam respectivamente, a análise ANOVA e os
coeficientes das variáveis preditivas.
Tabela
39
-
Análise Anova
-
Recursos de Acesso Restrito
Modelo
Soma dos
Quadrados
Df
Quadrado da
Média
F
Sig.
6
Regressão
,053
2
,027
9,702
,0
00
Resíduos
,140
51
,003
Total
,194
53
7
Regressão
2,087
1
2,087
3,930
,053
Resíduos
27,613
52
,531
Total
29,699
53
8
Regressão
6,055
3
2,018
7,065
,000
Resíduos
14,285
50
,286
Total
20,341
53
9
Regressão
1,079
2
,540
4,899
,0
11
Resíduos
5,619
51
,110
Total
6,698
53
10
Regressão
9,163
2
4,582
4,869
,012
Resíduos
47,989
51
,941
Total
57,153
53
Da mesma forma que nas regressões anteriores, a análise dos resíduos e dos valores de
F, demonstram um bom ajuste do modelo para as 5 regressões, ressaltando-se um resultado
ligeiramente
inferior para o modelo 9, que refere
-
se
à
variável dependente PREM15.
159
Analisando
-se os coeficientes de regressão na Tabela
40
, observa-se a importância das
Rotas Turísticas (ROTTURVV, ROTTURCAM) na regressão de preço médio dos vinhos
finos (modelo 6), indicando que
,
nestas rotas encontram
-se empresas que atuam com produtos
de preço superior.
Tabela
40
-
Coeficientes de Regressão
-
Recursos de Acesso Restrito
M
odelo
Variáveis
Coeficientes Não
-
Standartizados
Coeficientes
Standartizados
T
Sig.
Estatística de
Colinearidade
B
Erro Std.
Beta
Toler
â
ncia
FIV
6 (
Constante
)
,327 ,009
35,789
,000
ROTTURVV
-
,069 ,016
-
,520
-
4,253
,000 ,952
1,051
ROTTURCAM
-
,04
8
,023
-
,251
-
2,051
,045 ,952
1,051
7 (
Constante
)
1,615
,111
14,537
,000
I.P.
,488 ,246 ,265
1,982
,053
1,000
1,000
8 (
Constante
) -
,134 ,186
-
,719 ,475
I.P.
,557 ,184 ,366
3,032
,004 ,966
1,035
ASSESSEMBRAPA
,294 ,095 ,370
3,099
,003 ,984
1,0
17
ROTTURCAM
,460 ,237 ,236
1,945
,057 ,957
1,045
9 (
Constante
)
,127 ,054
2,349
,023
PARTWINFBRA
,271 ,109 ,320
2,495
,016 ,998
1,002
ROTTURCAM
,289 ,144 ,258
2,006
,050 ,998
1,002
10
(Constante)
,162 ,337
,480
,634
IP
,809 ,330 ,317
2,453
,018 ,970
1,031
ROTTU
R
APROMN
1,032
,457 ,291
2,256
,028 ,974
1,027
ASSESSEMBRAPA
-
,237 ,169
-
,178
-
1,398
,168 ,995
1,005
Para a regressão sobre premiações (modelos 8 e 9) observa-se nos dois modelos a
presença do recurso da Rota Turística Caminhos de Montanha (ROTTURCAM) indicando
um
a
concentração
de empresas com resultados superiores em termos de
premia
ções
. Estas
empresas, além de premiadas localmente, também demonstram esforços de
internacionalização
, o que observa-se pela presença conjunta da variável PARTWINFBRA,
ou participação no consórcio Wines from Brazil.
Para a regressão de variação de
market share
(modelo 10) os recursos influentes foram as Indicações de Procedência (I.P.), a rota
A
PROMONTES
(ROTTURAPROMN) e as assessorias com a EMBRAPA
(ASSESSEMBRAPA)
.
160
6.2
.7
.4 O efeito c
onjunto dos
recursos s
ingulares
e
dos
recursos
de
a
cesso
r
estrito
Nesta análise busca-se estudar a combinação de efeitos entre recursos de acesso
restrito e recursos singulares sobre a
performance
das firmas, verificando se compartilham
uma parte da variância. A Figura
17
apresenta o conjunto de variáveis utilizado para estudar
estes efeitos.
Figura
17
-
Recursos de Acesso Restrito
e
Performance
-
Variáveis Preditivas
Recursos
de Acesso
Restrito
ASSESSEMBRAPA
I.P.
PARTWINFBRA
ROTTURVV
ROTTURCAM
ROTTURAPROMN
ROTTURESPUM
Performance
PREÇOMEDVF
NUMNOVPROD
PREM50
PREM15
VARMKTSHARE
Acesso a Centros de
Pesquisa
Rotas
Turísticas
Consórcio
Exportação
Indicação de
procedência
Recursos Singulares
SCORETERROIR
EXPENOTMP
EXPENOINT
APROPENO
PESQENO
CONSULTENOINT
APROPAGRO
PESQAGRO
EXPERVAR
Terroir
Competência
Enológi
ca
Competência
Vitícola
Preço
Inovação
Premiações
Mercado
161
Como
recursos singulares foram avaliados o
SCORETERROIR
, o tempo de formado
do enólogo, a experiência internacional, a condição de apropriabilidade de seu conhecimento,
o seu envolvimento com pesquisa, a contratação de consultorias enológicas internacionais, a
apropriabilidade do conhecimento agronômico, o envolvimento do agrônomo com pesquisa e
o desenvolvimento ou não de experimentos com varietais.
Como
recursos de acesso restrito foram avaliados a busca de assessorias com a
EMBRAPA, a presença de indicações de procedência, a participação em consórcios de
exportação e a participação em rotas turísticas (Rota do Vale dos Vinhedos, Rota Caminhos
de Montanha, Rota Apromontes e Rota dos Espumantes).
Nesta análise, a equação
apresentada em
6.2
.7
.1.1
reduz
-
se aos seguintes termos:
iii
RsbRrbbp
210
(6.
2.7
.4.1
)
Onde:
p
i
=
performance
da firma
i
b
0
= intercepto
b
1
= coeficiente de regressão dos
recursos de acesso restrito
Rr
i
=
recursos restritos
acessados pela firma
i
b
2
= coeficiente de regressão dos
recursos singular
es
Rs
i
=
recursos singulares
da firma i
=
termo de erro e
outros efeitos não considerados
Com base nestas especificações e variáveis, da mesma forma que nas análises
anterior
es, desenvolveram-se 5 regressões, contemplando as diversas variáveis de
perform
ance
estudadas.
162
A Tabela 41 apresenta os resultados da regressão obtida com este conjunto de
recursos, comentados a seguir.
Tabela
41
-
Regressão para
Recursos Singulares
e
de
Acesso
Restrito
Variáveis
Modelo
R
R ²
R ²
Ajustado
E
rro Std. da
Estimativa
PREÇ
O
MEDVF
11
,751 ,565 ,519
,04191
NUMNOVPROD
12
,542 ,294 ,266
,64125
PREM50
13
,792 ,627 ,560
,41082
PREM15
14
,596 ,355 ,317
,29385
VARMKTSHARE
15
,552 ,304 ,248
,90076
Os resultados da regressão para número de novos produ
tos
(modelo 12)
como
indicadores de
performance
apresenta
ra
m um igual a 0,294 o que é equivalente ao obtido
somente com os recursos singulares, sugerindo que os recursos de acesso restrito
investigados possuem um poder explicativo de 30% das variações na inovação para as
empresas estudadas.
O efeito conjunto de recursos singulares e de
acesso
restrito
sobre premiações
(modelo 13 e 14) apresentou um igual a 0,627 para PREM50 e 0,355 para PREM15. Este
resultado é melhor do que o efeito isolado dos
recu
rsos singulares (R² = 0,497 e = 0,343,
respectivamente). Para variação do market share (modelo 15) o coeficiente foi de 0,304
revelando um efeito moderado sobre esta variável.
Assim como nas análises anteriores, a análise ANOVA, apresentada na Tab
ela
42 a
seguir
, demonstra um bom ajuste do modelo, evidenciado pelo baixo valor do quadrado dos
resíduos em relação aos valores da regressão, e pela
estatística
F, excetuando-se a última
regressão (modelo 15).
163
Tabela
42
-
Análise
Anova
-
Recursos Singulares
e
de
Acesso Restrito
Modelo
Soma dos
Quadrados
df
Quadrado da
Média
F
Sig.
11
Regressão
,109
5
,022
12,456
,000
Resíduos
,084
48
,002
Total
,194
53
12
Regressão
8,728
2
4,364
10,613
,000
Resíduos
20,971
51
,411
Total
29,699
53
13
Regressão
12,746
8
1,593
9,440
,000
Resíduos
7,595
45
,169
Total
20,341
53
14
Regressão
2,381
3
,794
9,190
,000
Resíduos
4,317
50
,086
Total
6,698
53
15
Regressão
17,396
4
4,349
5,360
,001
Resíduos
39,757
49
,
811
Total
57,153
53
A partir dos coeficientes de regressão standartizados, apresentados na Tabela 43 a
seguir, pode
-
se avaliar a importância de cada um dos recursos nos modelos estimados.
Observa-se para a primeira regressão (modelo 11) uma combin
ação
de terroir
(SCORETERROIR) com competência enológica (APROPENO), experiência internacional
(EXPENOINT) e rotas turísticas (ROTTURVV, ROTTURAPROMN) como fatores
explicativos de
performance
, sendo que esta última variável apresentou efeito negativo
(obse
rva
-
se que os sinais são invertidos neste caso devido às transformações de variáveis).
Ainda neste modelo, destaca-se o coeficiente pronunciado para apropriação do
conhecimento enológico (APROPENO), demonstrando uma influência positiva da presença
de um enólogo como funcionário da firma, a qual é ainda mais influente no caso de este
enólogo ser proprietário do negócio, conforme já verificado em 6.
2.7.2.
164
Tabela
43
-
Coeficientes de Regressão
-
Recursos Singulares
e
de
Acesso Restri
to
Modelo
Variáveis
Coeficientes Não
-
Standart
izados
Coeficientes
Standartizados
T
Sig.
Estatística de
Colinearidade
B
Erro Std.
Beta
Tolerância
FIV
11
(
Constante
)
,653 ,068
9,640
,000
SCORETERROIR
-
,022 ,006
-
,368
-
3,780
,000 ,956
1,046
APR
OPENO
-
,154 ,051
-
,323
-
3,027
,004 ,799
1,252
EXPENOINT
-
,041 ,014
-
,290
-
2,952
,005 ,936
1,068
ROTTURVV
-
,032 ,014
-
,242
-
2,277
,027 ,804
1,244
ROTTURAPROMN
,042 ,020 ,203
2,052
,046 ,929
1,077
12
(
Constante
)
1,568
,093
16,875
,000
CONSULTENOI
NT
,707 ,407 ,250
1,736
,089 ,669
1,494
PESQAGRO ,846 ,339 ,359
2,493
,016 ,669
1,494
13
(
Constante
) -
,480 ,683
-
,703 ,486
SCORETERROIR
,169 ,059 ,281
2,865
,006 ,861
1,162
APROPENO
-
,914 ,522
-
,187
-
1,751
,087 ,725
1,379
EXPENOINT
,345 ,139
,2
40
2,476
,017 ,883
1,133
PESQAGRO ,474 ,223 ,243
2,124
,039 ,637
1,571
APROPAGRO
,158 ,086 ,211
1,827
,074 ,624
1,603
I.P.
,443 ,164 ,291
2,707
,010 ,720
1,389
ASSESSEMBRAPA
,224 ,080 ,283
2,789
,008 ,809
1,237
ROTTURCAM
,375 ,190 ,192
1,978
,054 ,881
1,136
14
(
Constante
)
,064 ,053
1,209
,233
CONSULTENOINT ,459 ,165 ,341
2,780
,008 ,856
1,168
EXPERVAR
,233 ,089 ,319
2,612
,012 ,864
1,158
ROTTURCAM
,320 ,128 ,285
2,500
,016 ,990
1,010
15
(
Constante
)
,428 ,308
1,390
,171
EXPENOTMP
-
,381 ,111
-
,414
-
3,422
,001 ,972
1,029
CONSULTENOINT
1,125
,499 ,286
2,255
,029 ,880
1,136
ASSESSEMBRAPA
-
,335 ,165
-
,252
-
2,035
,047 ,923
1,084
ROTTURAPROMN
,748 ,428 ,211
1,747
,087 ,976
1,025
Para a regressão sobre o número de novos produtos (
modelo
12) duas variáveis se
destacam, a pesquisa agronômica (PESQAGRO) e as consultorias enológicas internacionais
(CONSULTENOINT).
165
Observa-se que um recurso restrito que deveria estar fortemente associado à inovação,
as assessorias com centros de pesquisa (ASSESSEMBRAPA)
,
não aparece no modelo,
evidenciando que a inovação em vinhos é um fenômeno mais complexo não explicado pelas
variáveis utilizadas.
A regressão sobre premiações por sua vez (modelo
s
13
e 14) apresentam influências
variadas de
terroir
(SCORETERROIR) competência enológica e
vitícola
(APROPENO,
EXPENOINT, PESQAGRO, APROPAGRO) e de um conjunto
importante
de recursos de
acesso restrito (IP, ASSESSEMBRAPA, ROTTURCAM)
.
Três rotas turísticas aparecem
como
recursos de acesso restrito relacionados positivamente com a
performance
: a Rota
Caminhos de Montanha (ROTTURCAM), a Rota da Apromontes (
ROTTURAPROMN
), e o
Vale dos Vinhedos (
ROTTURVV)
, denotando locais onde se concentram empresas de
desempenho superior. A presença de empresas de alta
performanc
e nestas rotas contribui para
a formação de ativos de imagem localizados, ou seja, as micro-regiões adquirem uma imagem
positiva perante o público externo, que termina por reforçar coletivamente as marcas das
empresas ali instaladas. A exemplo de várias regiões vitivinícolas do mundo, este foi o
caminho seguido pelo Vale dos Vinhedos quando consolidou o seu sistema de Indicações de
Procedência para as empresas locais. Claramente, as empresas que acessam os recursos de
acesso restrito apresentam igualmente competências enológicas e
vitícola
s superiores,
evidenciadas pelas demais variáveis influentes nos diversos modelos.
Por fim , a v
ar
iação de m
arket
share
(modelo 15) apresentou efeitos positivos das
consultorias internacionais (CONSULTENOINT) e rotas turísticas (ROTTURAPROMN) e
efeitos negativos das assessorias da EMBRAPA (ASSESSEMBRAPA) e do tempo de
experiência do enólogo (EXPENOTMP).
166
6.2
.7
.5 O e
feito dos
s
pillovers
Nesta análise, busca-se estudar o efeito dos
spillovers
sobre a
performance
das firmas.
O
estudo dos
spillovers
está associado às hipóteses H4, H5, H6,
H7
, H8 e H9. A Figura
18
apresenta o conjunto de variáveis utilizado.
Figura
18
-
Spillovers
e
Performance
-
Variáveis Preditivas
Para análise deste efeito adotou-se como variáveis preditivas a participação em
entidades associativas, a freqüência em eventos científicos, o mero de firmas parceiras, a
distância de centros de pesquisa e o mero de firmas em que o enólogo atuou, representando
a rotação de mão
de obra.
Dist. de Centros de Pesquisa
Rede de Parcerias
Performance
PREÇOMEDVF
NUMNOVPROD
PREM50
PREM15
VARMKTSHARE
Inovação
Premiações
Mercado
PARTUVIBRA
PARTAGAVI
PARTAPROV
PART
APROMN
PARTAVIGA
NUMEVENTNAC
NUMEVENINT
DOM
DISTCENTPESQ
EXPNUMFNA
EXPNUMFINT
Spillovers
Participação em
Associações
Participação em
Eventos
Rotação de Mão de
Obra
Preço
167
A equação geral, previamente detalhada
em 6.2
.7
.1.1
,
assume uma forma simplificada,
representada pela seguinte expressão:
ii
Sp
bbp
30
(6.2
.7
.5.1)
Onde:
p
i
=
performance
da firma
i
b
0
= intercepto
b
3
= coeficiente de r
egressão dos
spillovers
Sp
i
= fontes de
spillovers
acessadas pela firma
i
=
termo de erro e
outros efeitos não considerados
A Tabela 44 apresenta os resultados calculados segundo estas especificações,
comentados a seguir.
Tabela
44
-
Coeficientes de Regressão para
Spillovers
Variáveis
Modelo
R
R ²
R ²
Ajustado
Erro Std. da
Estimativa
PREÇ
O
MEDVF
16
,776
,602 ,551
,04053
NUMNOVPROD
17
,312
,097 ,062
,72505
PREM50
18
,718
,516 ,476
,44834
PREM15
19
,658
,433 ,399
,27554
VARMKT
SHARE
20
,531
,282 ,239
,90616
Para a regressão sobre o preço médio dos vinhos finos (modelo 16), obteve-se um
coeficiente de determinação igual a 0,
602
, o que
significa
que as variáveis representativas
de
spillovers
incluídas na análise
explicam
60
,2 % da variância do preço médio entre as
empresas
estudadas. Observa-se ainda que, para o preço médio, os
spillovers
apresentam
um
efeito ligeiramente superior ao dos
recursos sing
ulares e
de
acesso
restrito
juntos. O resultado
esperado era de que este efeito fosse menor, uma vez que
os
spillovers são recursos menos
excludentes e disputáveis do que os outros, e portanto, mais firmas teriam acesso aos mesmos.
168
A interpretação possível é que, mesmo tendo esta característica, ainda são poucas as firmas
que possue
m as capacidades necessárias para apropriá
-
los com eficiência.
Para
o
me
ro de novos produtos (modelo 17) os resultados da regressão
não
apresentaram valores relevantes. Para premiações (modelos 18 e 19) obteve-se um igual a
0,516
para PREM50 e
igual
a 0,433 para PREM15, o que pode ser interpretado como um
efeito moderado dos
spillovers
sobre estes indicadores de
performance
.
Para variação de
market share (modelo 20) o coeficiente obtido foi de 0
,282
, um efeito similar ao obtido
com
recursos de aces
so restrito
e superior ao dos
recursos singulares.
As Tabelas 45 e 46 na seqüência, apresentam respectivamente a análise ANOVA e os
coeficientes para as variáveis de regressão no cálculo da
performance
a partir dos
spillovers
.
Tabela
45
-
Análise Anova
-
Spillovers
Modelo
Soma dos
Quadrados
Df
Quadrado da
Média
F
Sig.
16
Regressão
,117
6
,019
11,826
,000
Resíduos
,077
47
,002
Total
,194
53
17
Regressão
2,889
2
1,444
2,748
,074
Resíduos
26,811
51
,526
Total
29,699
53
18
Regressão
10,491
4
2,623
13,048
,000
Resíduos
9,850
49
,201
Total
20,341
53
19
Regressão
2,902
3
,967
12,742
,000
Resíduos
3,796
50
,076
Total
6,698
53
20
Regressão
16,097
3
5,366
6,534
,001
Resíduos
41,056
50
,821
Tota
l
57,153
53
169
Na Tabela 45, a análise dos resíduos e dos valores de F, demonstra um bom ajuste do
modelo para as 5 regressões, ressaltando-se um resultado ligeiramente inferior para o modelo
17, que refere
-
se
à
variável dependente NUMNOVPROD.
Tabela
46
-
Coeficientes de Regressão
-
Spillovers
Modelo
Variáveis
Coefic
ientes
Não
-
Standart
izados
Coeficientes
Standartizados
T
Sig.
Estatística de
Colinearidade
B
Erro
Std.
Beta
Tol.
FIV
16
(
Constante
)
,347 ,017
20,979
,000
DISTCPESQ
-
,001 ,000
-
,288
-
2,046
,046 ,427
2,340
PARTAGAVI
,057 ,017
,471
3,367
,002 ,433
2,308
PARTAPROVALE
-
,055 ,015
-
,412
-
3,789
,000 ,715
1,398
PARTAPROMN
,051 ,023
,222
2,219
,031 ,845
1,183
NUMEVENTNA
-
,003 ,001
-
,311
-
3,265
,002 ,937
1,067
NUMEVENT
INT
-
,011 ,006
-
,207
-
2,065
,044 ,846
1,183
17
(
Constante
)
2,821
,483
5,842
,000
EXPENONUMFNA
-
1,226
,534
-
,911
-
2,296
,026 ,112
8,901
EXPENONUMFINT
,959 ,478
,796
2,005
,050 ,112
8,901
18
(
Constante
) -
,033 ,112
-
,298 ,767
DOM
,098 ,027
,433
3,683
,001 ,714
1,400
PARTUVIBRA
,290 ,153
,197
1,900
,063 ,923
1,084
PARTAPROVALE
,315 ,140
,230
2,246
,029 ,940
1,063
NUMEVENTNA
,023 ,011
,234
2,093
,042 ,793
1,262
19
(
Constante
)
,151 ,092
1,652
,105
DOM
,060 ,015
,4
59
4,013
,000 ,865
1,156
DISTCPESQ
-
,004 ,002
-
,205
-
1,788
,080 ,863
1,159
PARTUVIBRA
,181 ,095
,213
1,891
,064 ,893
1,120
20
(
Constante
) -
1,318
,344
-
3,836
,000
DISTCPESQ
,032 ,009
,537
3,584
,001 ,639
1,565
PARTAPROVALE
1,404
,338
,611
4,
155
,000 ,663
1,507
PARTAVIGA
1,079
,522
,275
2,067
,044 ,814
1,229
Em relação ao preço médio dos vinhos finos (modelo 16), o
bserva
-se uma influência
positiva da distância de centros de pesquisa (DISTCPESQ) das participações em eventos
(
EVENTCIENTIFNAC
, EVENTCIENTIFINT) e na entidade
APROVALE
(PARTAPROVALE)
e uma influência negativa da participação nas entidades
AGAVI
e
APROMONTES
(PARTAGAVI, PARTAPROMN).
170
Em relação à inovação (modelo 17) verifica-se a influência
positiva
da captura de
spillovers
através da rotação de mão de obra (EXPENONUMFNA, EXPENONUMFINT) o
que expressa um resultado alinhado com a teoria neste
tópico.
Para a primeira regressão de premiações (modelo 18), verifica-
se
uma influência
pronunciada das parcerias, calculadas pela variável DOM” e da participação nas associações
(PARTUVIBRA, PARTAPROVALE) e em eventos científicos (EVENTCIENTIFNAC).
Para a segunda regressão (modelo 19), observa-se ainda em destaque a variável DOM,
mas associa
-
se um efeito negativo da distância de centros de
pesquisa, ou seja, quanto maior a
distância, menor a
performance
(DISTCPESQ). Um ponto interessante é que mesmo estando
concorrendo entre si nas premiações, as empresas que desenvolvem mais parcerias (DOM),
são as que apresentam maior desempenho nas duas e
tapas do evento de avaliação.
A variação de market share (modelo 20) apresenta influência de um conjunto similar
de variáveis destacando-se a participação na APROVALE
(PARTAPROVALE
) e na Aviga
(PARTAVIGA).
Estes resultados suportam as hipóteses H4, H8 e H9 previamente propostas,
demonstrando que os
spillovers
possuem efeitos positivos sobre a
performance.
A única
hipótese não suportada foi H7, observando-se que proximidade em relação
aos
centros de
pesquisa
não influenci
o
u
positivamente
a
performance
.
171
6.2
.7.6
O efeito conjunto de r
ecursos e
s
pillovers
Nesta análise final, estuda-se o efeito conjunto de recursos e
spillovers
sobre a
performance
.
Esta análise auxilia no estudo das hipóteses H5 e H6. A Figura 19 apresenta o
conjunto de variáveis utilizad
o, comentado a seguir.
Figura
14
-
Recursos, Spillovers
e
Performance
-
Variáveis Preditivas
Como
recursos singulares foram avaliados o
SCOR
ETERROIR, o tempo de formado
do enólogo, a experiência internacional, a condição de apropriabilidade de seu conhecimento,
Recursos Restritos
ASSESSEMBRAPA
I.P.
PARTWINFBRA
ROTTURVV
R
OTTURCAM
ROTTURAPROMN
ROTTURESPUM
Performance
PREÇOMEDVF
NUMNOVPROD
PREM50
PREM15
VARMKTSHARE
Acesso a Centros de Pesquisa
Rotas Turísticas
Consórcio Exportação
Indicação de Procedência
Recursos Singulares
SCORETERROIR
EXPENOTMP
EXPENOINT
EXPENOTMPFINT
APROPENO
PESQENO
CONSULTENOINT
APROPAGRO
PESQAGRO
EXPERVAR
Terroir
Competência
Enológica
Competência
Vitícola
Preço
Inovação
Premiações
Mercado
PARTUVIBRA
PARTAGAVI
PARTAPROV
PARTAPROMN
PARTAVIGA
NUMEV
ENTNAC
NUMEVENINT
DOM
DISTCENTPESQ
EXPNUMFNA
EXPNUMFINT
Spillovers
Participação Associações
Participação em
Eventos
Relações de Parceria
Rotação de Mão de
Obra
Dist. Centros de Pesquisa
172
o seu envolvimento com pesquisa, a contratação de consultorias enológicas internacionais, a
apropriabilidade do conhecimento agronômico, o envolvimento do agrônomo com pesquisa e
o desenvolvimento ou não de experimentos com varietais.
Como
recursos de acesso restrito foram avaliados a busca de assessorias com a
EMBRAPA, a presença de indicações de procedência, a participação em consórcios de
exportação e a participação em rotas turísticas (Rota do Vale dos Vinhedos, Rota Caminhos
de Montanha, Rota Apromontes e Rota dos Espumantes).
Por fim, p
ara
a análise dos efeitos dos
spillovers
sobre a performance a
dotou
-se como
variáveis preditivas a participação em entidades associativas, a freqüência em eventos
científicos, o número de firmas parceiras, a distância de centros de pesquisa e o número de
firmas em que o enólogo atuou, representando a rotação de mão de obra.
Com estão sendo considerados os efeitos de todas as variáveis investigadas, a equação
utilizada assume a forma completa, representada pela seguinte expressão:
iiii
Sp
b
Rsg
bRrbbp
3210
(6.
2.
7.6
.1)
Onde:
p
i
=
performance
da firma
i
b
0
= intercepto
b
1
= coeficiente de regressão
dos
recursos de acesso restrito
Rr
i
=
recursos restritos
acessados pela firma
i
b
2
= coeficiente de regressão dos
recursos singulares
Rs
i
=
recursos singulares
da firma i
b
3
= coeficiente de regressão dos
spillovers
Sp
i
= fontes de
spi
llovers
acessadas pela firma
i
=
termo de erro e
outros efeitos não considerados
173
A Tabela 47 apresenta os resultados calculados segundo estas especificações,
comentados a seguir.
Tabela
47
-
Regressão para Recursos e
Spillovers
Variáveis
Modelo
R
R ²
R ²
Ajustado
Erro Std.
da
Estimativa
PREÇOMEDVF
21
,872 ,761 ,705
,03285
NUMNOVPROD
22
,724 ,525 ,464
,54793
PREM50
23
,883 ,779 ,740
,31572
PREM15
24
,835 ,698 ,644
,21201
VARMKTSHARE
25
,718 ,516 ,442
,77562
Na análise do efeito conjunto dos recursos singulares
,
recursos de acesso restrito e
spillovers
sobre o preço médio dos vinhos finos (modelo 21), obteve-se um coeficiente de
determinação R² igual a 0,761, o que representa que 76,1 % da variância do preço médio entre
as empresas de vinhos finos do
cluster
pode ser explicada a partir do efeito combinado dos
recursos e dos
spillovers
. Este resultado pode ser considerado bastante satisfatório em relação
às hipóteses e relações propostas nesta pesquisa, evidenciando que a inter
ação entre
spillovers
e recursos é mais importante do que ambos os fatores isolados (somente os recursos
apresentaram um R² de 0,565).
O número de novos produtos (modelo 22) apresentou um
coeficiente
igual a 0,525,
uma melhoria importante no poder explicativo em relação aos recursos sem
spillovers
, que
apresentaram um igual a 0,294. Em relação às premiações (modelos 23 e 24), o efeito
conjunto de recursos e
spillovers
apresentou um
coeficiente
igual a 0,779 sobre PREM50 e
um igual a 0,698 para PREM15, representando, da mesma forma que no item anterior, um
resultado melhor do que o seu efeito isolado. Para a variação do
market
share
(modelo 25)
o
obtido foi de 0,516, revelando uma influência importante das variáveis explicativas sobre
esta var
iável.
174
A Tabela 4
8
apresenta os resultados da análise ANOVA que, assi
m como nas análises
anteriores, evidenciam resultados satisfatórios em termos de ajuste do cálculo. Na seqüência,
discute
-
se os coeficientes de regressão para cada variável.
Tabela
48
-
Análise ANOVA para Recursos e
Spillovers
Modelo
Soma dos
Quadrados
Df
Quadrado da
Média
F
Sig.
21
Regressão
,147
10
,015
13,656
,000
Resíduos
,046
43
,001
Total
,194
53
22
Regressão
15,589
6
2,598
8,654
,000
Resíduos
14,111
47
,300
Total
29,699
53
23
Regressão
15,855
8
1,982
19,883
,000
Resíduos
4,486
45
,100
Total
20,341
53
24
Regressão
4,675
8
,584
13,003
,000
Resíduos
2,023
45
,045
Total
6,698
53
25
Regressão
29,480
7
4,211
7,001
,000
R
esíduos
27,673
46
,602
Total
57,153
53
Os coeficientes de regressão para preço médio (modelo 21), conforme a Tabela 49 na
página seguinte, revelam uma predominância das variáveis relativas a competência enológica
(
EXPENOINT,
EXPENOLTMPFINT,
EXPEN
OTMP) e competência
vitícola
(EXPERVAR). Os
spillovers
importantes são derivados da participação em associações
(
PARTAGAVI,
PARTAPROVALE, PARTAPROMN), eventos científicos
(
EVENTCIENTIFNAC,
EVENTCIENTIFINT) e distância de centros de pesquisa
(
DISTCPESQ
).
Re
lembrando que os sinais dos coeficientes devem ser invertid
os
(devido às
transformações da variáve
l
PREÇOMEDVF
) observa-se que
quatro
variáveis possuem
influência negativa sobre a
performance,
destacando
-se o tempo de experiência do enólogo e
a participaçã
o na AGAVI
.
175
Tabela
49
-
Coeficientes de Regressão
para Recursos e
Spillovers
Modelo
Variáveis
Coeficientes Não
-
Standart
izados
Coeficientes
Standartizados
T
Sig.
Estatística de
Colinearidade
B
Erro Std.
Beta
Toler
â
ncia
FIV
21
(
Constante
)
,359 ,014
25,049
,000
EXPERVAR
-
,028 ,012
-
,225
-
2,398
,021 ,631
1,584
PARTAGAVI
,050 ,015 ,411
3,448
,001 ,392
2,552
PARTAPROVALE
-
,046 ,013
-
,344
-
3,620
,001 ,615
1,626
PARTAPROMN
,061 ,019 ,265
3,229
,002 ,826
1,211
EVENTCI
ENTIFNAC
-
,002 ,001
-
,217
-
2,637
,012 ,821
1,217
EVENTCIENTIFINT
-
,009 ,005
-
,164
-
1,904
,064 ,755
1,325
EXPENOTMP
,008 ,004 ,141
1,731
,091 ,845
1,184
DISTCPESQ
-
,001 ,000
-
,325
-
2,660
,011 ,373
2,678
EXPENOINT
-
,048 ,014
-
,345
-
3,560
,001 ,592
1,
689
22
(
Constante
)
,860 ,275
3,128
,003
APROPENO
,382 ,108 ,409
3,534
,001 ,754
1,326
PARTAGAVI
,349 ,181 ,231
1,930
,060 ,706
1,416
PARTAPROMN
3,213
,707
1,135
4,545
,000 ,162
6,165
EVENTCIENTIFNAC
-
,029 ,013
-
,235
-
2,135
,038 ,836
1,196
CON
SULTENOINT
2,050
,340 ,724
6,033
,000 ,702
1,424
ROTTURAPROMN
-
2,975
,663
-
1,163
-
4,490
,000 ,151
6,634
23
(
Constante
) -
1,754
,708
-
2,478
,017
SCORETERROIR
,937 ,267 ,291
3,507
,001 ,714
1,401
EXPERVAR
,307 ,108 ,241
2,836
,007 ,678
1,475
APROP
ENO
-
,184 ,069
-
,238
-
2,680
,010 ,619
1,614
EXPENONUMFINT
-
,347 ,099
-
,348
-
3,501
,001 ,495
2,019
EXPENOTMP
,117 ,053 ,213
2,225
,031 ,533
1,877
CONSULTENOINT
,547 ,196 ,233
2,795
,008 ,703
1,423
DOM
,107 ,017 ,472
6,133
,000 ,828
1,208
EXPENOINT
,336 ,120 ,234
2,800
,008 ,700
1,429
24
(
Constante
)
,093 ,071
1,306
,198
EXPERVAR
,338 ,072 ,463
4,663
,000 ,681
1,468
EXPENONUMFINT
-
,159 ,062
-
,279
-
2,582
,013 ,577
1,734
PARTAPROVALE
-
,199 ,076
-
,253
-
2,621
,012 ,721
1,388
EVENTCIENTIFINT
,
087
,030 ,267
2,912
,006 ,799
1,252
EXPENOTMP
,107 ,033 ,339
3,207
,002 ,599
1,668
CONSULTENOINT
,223 ,126 ,166
1,768
,084 ,760
1,316
EXPENOLTMPFINT
,039 ,020 ,162
1,916
,062 ,933
1,072
DOM
,045 ,012 ,343
3,627
,001 ,750
1,333
25
(
Constante
) -
1,37
8
,526
-
2,619
,012
APROPENO
,295 ,163 ,228
1,810
,077 ,662
1,510
PARTAPROVALE
1,279
,299 ,557
4,283
,000 ,623
1,606
EXPENOTMP
-
,258 ,105
-
,280
-
2,449
,018 ,805
1,243
ASSESSEMBRAPA
-
,301 ,143
-
,226
-
2,107
,041 ,912
1,096
ROTTURAPROMN
,698 ,379 ,197
1,840
,072 ,921
1,086
PARTAVIGA
,992 ,455 ,253
2,182
,034 ,786
1,272
DISTCPESQ
,029 ,008 ,478
3,466
,001 ,553
1,808
176
A regressão de preços médios (modelo 21) apresentou influência
positiva
de
experimentos com varietais (
EXPERVAR)
participação em entidades (PARTAPROVALE
),
eventos científicos (EVENTCIENTIFNAC, EVENTCIENTIFINT), distância de centros de
pesquisa (DISTCPESQ) e experiência internacional (EXPENOINT). Destaca-se ainda a
influência negativa da participação em duas das entidades representativas de fontes de
spillovers
(PARTAGAVI, PARTAPROMN).
Os coeficientes de regressão para o número de novos produtos (modelo 22)
apresentaram um padrão similar ao modelo anterior, incorporando a apropriação de
conhecimento enológico (APROPENO) e de consultorias enológicas internacionais
(CONSULTENOINT) como elementos explicativos da inovação.
Para premiações
(modelos 23 e 24)
, assim como nas análises anteriores, verifica
-
se em
destaque a importância das redes de parcerias (DOM), seguidas dos experimentos com
varietais (EXPERVAR). Estas variáveis combinam-se como fatores explicativos de
performance
em premiações com a experiência internacional do enólogo (EXPENOINT,
EXPENONUMFINT), com a contratação de consultorias internacionais
(CONSULTENOINT) e com
a
participação em entidades (PARTAPROVALE).
Para variação do market share (modelo 25)
destacam
-
se
dois
coeficiente
s positivo
s
mais pronunciados para participação na
APROVALE
(PARTAPROVALE) e a distância de
centros de pesquisa (
DISTCPESQ
). Este último dado revela que a distância exerce um efeito
positivo sobre as variações
de
market share, ou seja, as firmas mais distantes
apresentaram
também
crescimento
de
fatia de mercado. Observa-se também que as assessorias com a
EMBRAPA apresentam um coeficiente negativo, evidenciando que a captura de
spillovers
tecnológicos
não se diretamente por trabalhos
formais
com a entidade, mas
possivelmente
por outros mecanismos
ou até, de forma
sistêmica
.
177
6.2
.8
Síntese das análises de regressão
A concepção das análises de regressão previamente desenvolvidas partiu da hipótese
central de que os diversos tipos de recursos acessados ou possuídos p
elas
firmas produzem
diferentes efeitos sobre a
performance.
Para analisar os efeitos cumulativos destes recursos
elabora
-
se na Tabela
50
uma síntese
das
regressões
desenvolvidas
, comentada a seguir.
Tabela
50
-
Recursos,
Spillovers
e
Performance
-
Síntese das Análises de Regressão
Variáveis
R
R ²
R ² Ajustado
R² Ajustado
Acumulado
PREÇOMEDVF
Recursos Singu
lares
,707 ,500 ,459 ,459
Recursos de Acesso Restrito
,525 ,276 ,247 ,519
Spillovers
,776 ,602 ,551 ,705
NUMNOVPROD
Recursos Singulares
,542 ,294 ,266 ,266
Recursos de acesso restrito
,265 ,070 ,052 ,266
Spillovers
,312 ,097 ,062 ,464
PREM50
Recursos Singulares
,705 ,497 ,456 ,456
Recursos de Acesso Restrito
,546 ,298 ,256 ,560
Spillovers
,718 ,516 ,476 ,740
PREM15
Recursos Singulares
,585 ,343 ,303 ,303
Recursos de Acesso Restrito
,401 ,161 ,128 ,317
Spillovers
,658 ,433 ,399 ,644
VARMKTSHARE
Recursos Singulares
,498 ,248 ,203 ,203
Recursos de Acesso Restrito
,400 ,160 ,127 ,248
Spillovers
,531 ,282 ,239 ,442
178
Ao comparar-se regressões com diferentes conjuntos de variáveis, utiliza-se o
coeficiente ajustado, que considera os efeitos advindos da variação nos graus de liberdade
quando se modifica o número de variáveis preditivas (
HAIR
et al.
,
200
5
).
A regressão do preço médio dos vinhos finos (PREÇOMEDV
F)
a partir dos
recursos
singulare
s
apresentou um R² ajustado igual a 0,45, explicando 45% das variações neste
indicador. Pouco acréscimo no poder explicativo se deu a partir da incorporação dos recursos
de acesso restrito, chegando-se a um ajustado acumulado de 0,519. Porém a agregação do
efeito dos
spillovers
na regressão elevou este coeficiente para 0,705, representando um
resultado bastante satisfatório em termos de poder explicativo do modelo.
A regressão do mero de novos produtos (NUMNOVPROD
)
a partir dos
recursos
singulare
s apresentou um ajustado igual a 0,26, explicando apenas 26,6% das variações
neste indicador. Nenhum acréscimo no poder explicativo se deu a partir da incorporação dos
recursos de acesso restrito. A agregação do efeito dos
spillovers
elevou este coeficiente para
0,464, representando um resulta
do moderado em termos de poder explicativo do modelo.
A regressão de premiações representadas pela variável PREM50 a partir dos
recursos
singulare
s apresentou um R² ajustado igual a 0,46, explicando 46% das variações neste
indicador. A
incorporação dos
rec
ursos de acesso restrito
elevou o coeficiente para
0,5
60.
Por
fim, com a agregação do efeito dos
spillovers
na regressão
chegou
-se a um coeficiente
de
0,740
, representando um
bom
poder explicativo do modelo.
Por sua vez, a regressão de premiações representadas pela variável PREM15 a partir
dos
recursos singulares apresentou um ajustado igual a 0,303, explicando 30% das
variações neste indicador.
179
Nenhum acréscimo no poder explicativo se deu a partir da incorporação dos
recursos
de acesso restrito. Com a agregação do efeito dos
spillovers
nesta regressão chegou-se a um
R² ajustado acumulado de 0,644, representando um bom poder explicativo do modelo.
A regressão de variação de market share (VARMAKTSHARE) a partir dos
recursos
singulare
s apresentou um ajustado igual a 0,203, explicando apenas 20,3% das variações
neste indicador. A incorporação dos recursos de acesso restrito elevou o coeficiente para
0,248
, um resultado bastante fraco
.
Por fim, com a agregação do efeito dos
spillovers
na
regressão chegou-se a um coeficiente ajustado acumulado de 0,442, representando um
poder explicativo moderado
para as variações de
market share.
De uma forma geral, o
bserva
-se para todos os indicadores um efeito predominante dos
recursos singulares, e um efeito secundário de menor intensidade exercido pelos recursos de
acesso restrito
, confirmando os diferenciais de performance
delineados em H3
.
Uma vez que os recursos singulares são mais excludentes que os de acesso restrito
,
claramente possuem maior capacidade de geração de assimetrias competitivas e de
performance
entre as firmas. Os recursos de acesso restrito exerceram o efeito esperado,
que, sendo acessados por grupos, geram diferenças menos expressivas entre firmas
individuais. Os spillovers por sua vez, apresentaram uma condição de acesso bastante
limitado no
cluster
em estudo, e efeitos tão importantes quando os
recursos singulares
.
180
7 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A motivação para o desenvolvimento deste trabalho partiu de uma série de questões
essenciais, cuj
o
esclarecimento permitiria ampliar a compreensão sobre os fenômenos
competitivos presentes no
Cluster
Vitivinícola da Serra Gaúcha. No presente capítulo torna
-
se
oportuno resgatá
-
las para uma discussão à luz dos resultados obtidos.
7.1 QUESTÕES ESSENCI
AI
S
7.1.1
Por que algumas firmas são mais bem-
sucedidas do que outras?
Explicar o sucesso empresarial não é uma tarefa simples, e muito menos possível, sem
considerar aprofundadamente a história e o contexto estratégico de cada firma individual.
Cada firma tem a sua trajetória, seus acertos e erros, seus padrões de decisão e idiosincrasias,
os quais, em interação com o ambiente econômico, irão conduzi-las à uma posição de sucesso
ou de fracasso ao longo do tempo.
A própria classificação de uma empresa como bem sucedida ou fracassada é discutível
em ambientes competitivos dinâmicos, nos quais as condições mudam de forma acelerada e
muitas vezes descontínua. A idéia de sucesso sustentável, ou
performance
sistemática acima
da média é
raramente
encontrada na prá
tica
, e as vezes, as histórias dos que perdem no jogo
competitivo podem ser tão interessantes e ilustrativas quanto as dos que ganham.
N
o
Cluster
Vitivinícola da Serra Gaúcha cada vez mais empresas ingressam no
negócio de vinhos finos, no entanto,
poucas
conseguem atingir níveis de
performance
que
possam ser considerados efetivamente superiores
, p
ri
ncipalmente em termos de qualidade
.
181
Nesta pesquisa, constatou-se que estas empresas que se destacam seguem estratégias
bem delineadas e sustentam suas posições a partir de conjuntos de recursos complementares
entre si, e não acessados pelos concorrentes. Faz-se interessante notar que, esta dificuldade de
acesso aos recursos, que limita as demais firmas a veis menores de
performance
, reside não
nos atributos estratégicos dos recursos, como se poderia esperar, mas também na rigidez
cultural
que
estas firmas apresentam, que as impede de desenvolverem os investimentos em
recursos
e estratégias mais efetivos
.
7.1.2
As empresas bem
-
sucedidas são as que
ado
tam as melhores estratégias
?
As
estratégias foram analisadas a partir de três componentes: o grau de especialização,
o sistema de suprimento de uvas e o grau de tecnologia empregado pelas firmas. Verificou-
se
que as empresas especialistas em vinhos finos apresentaram índices de
performance
significativamente superiores às empresas generalistas, que atuam com diversos produtos. O
preço médio de seus vinhos foi de R$ 16,40, praticamente o dobro do preço das generalistas
que limitou
-
se à R$ 8,75. Estes resulta
dos se repetem para premiações, nas quais, as primeiras
apresentam o dobro de desempenho que as segundas.
Ambas as categorias demonstraram inovar na mesma medida,
porém,
conforme
observa
-se pelo comportamento dos outros indicadores, enquanto as especialistas adotam esta
estratégia como uma forma de manter ou mesmo melhorar a sua posição, lançando produtos
efetivamente aperfeiçoados, algumas empresas generalistas adotam uma estratégia de
tentativa e erro, lançando produtos inconsistentes em termos de melhoria, que não
representam inovações efetivas e nem agregam valor a
os
seus produtos.
182
Esta estratégia se sustenta no curto prazo, pois o vinho é um produto caracterizado
pela seleção adversa, ou seja, o consumidor não tem possibilidade de avaliar
ex
-
ante
ao s
eu
consumo
, a real qualidade intrínseca do produto. No longo prazo, todavia, estes produtos são
submetidos a um teste mais efetivo, e quando sua curva de consumo começa a cair, acabam
sendo substituídos por novos lançamentos e assim sucessivamente. Se
por
um enfoque
oportunis
ta
esta é uma estratégia viável em um mercado desconhecedor de vinhos, por outro
lado, não permite a consolidação de capital de marca para estas empresas, erigindo uma
barreira negativa de imagem que dificultará sua escalada para produ
tos de maior
performance
.
As estratégias de produção de uvas, também
de
mo
n
straram
importantes relações com
a
performance
. As empresas que adotam produção própria de uvas apresentaram desempenho
superior em todas as variáveis, seguidas de perto pelas que adotam a produção integrada,
ficando a estratégia de uvas compradas com os piores índices.
A
performance
em preço para
as primeiras foi de R$ 15,00 por garrafa, enquanto as últimas apresent
ar
am um preço médio
de R$ 8,80 por garrafa. A
performance
em inovação repete o padrão anterior, mas a
s
empresas com produção própria de uvas conquista
ra
m 15 vezes mais premiações
do
que as
baseadas em uvas compradas, e as que adotam a produção integrada chega
ra
m a 26 vezes
mais premiações que estas últimas. A variação de market share também foi ligeiramente
positiva para as primeiras e negativa para as empresas que adotaram as outras duas
estratégias,
as quais
cederam su
as fatias nos últimos 5 anos.
De forma co
mplementar
às estratégias de suprimento de uvas, es a tecnolog
ia
empregada no seu processamento para elaboração dos vinhos. O grau de tecnificação, que
nesta pesquisa expressa as opções tecnológicas das empresas, revelou ser um dos
fatores
de
maior influência sobre a
performance.
183
As empresas de alta tecnologia
produ
zem
vinhos duas vezes mais valorizados que as
de baixa tecnologia, e conquista
ram
18 vezes mais premiações no período estudado, mas
apresentaram uma ligeira redução em seu
market share
, o que reflete possivelmente um efeito
transiente de ajuste de preços ao mercado, uma vez que inovam de maneira consistente e
lançam produtos cada vez mais sofisticados.
De todos os fatores estudados, a especialização
mostrou
-
se
uma estratégia
fundamental para o desenvolvimento de
competências
enológicas e
vitícolas
e para a
formação de capital de marca, passando aos consumidores uma imagem coerente com o tipo
de produto proposto. Enquanto a estratégia generalista busca conviver em dois mundos,
dedicando
-se a vinhos de mesa e outros produtos, fica bloqueada em papéis e estraté
gias
contraditórias, e mesmo com a aplicação de alta tecnologia vinícola e a criação de unidades
distintas de produção, verificou-se que o efeito da não-
especialização
se impõe de forma
negativa
.
Compreende
-se desta forma, que
os
vinhos finos e vinhos de mesa são negócios
completamente distintos, e muito menos relacionados do que se poderia supor a partir de uma
análise superficial. São negócios não-relacionados atuando
em
um mesmo
cluster,
e a
distância destas relações, de ordem técnica, cultural e organizacional, entre outras, é tão
grande que impõe penalidades de
performance
significativas para aqueles que não se
posicionam de forma consistente. As
sim
, ao questionar-
se
se as empresas bem sucedidas são
as que adotam as melhores estratégias
,
para o
cluster
estudado, pode-se entender que a
resposta é sim, se
assumirmos
que as melhores estratégias são aquelas que levam à
qualificação dos produtos, envolvendo a especialização, que cria foco, exercendo domínio
sobre a produção de uvas, que garante a melhor matéria prima, e implantando as tecnologias
mais modernas
, que permitem a elaboração de
vinhos
de maior
qualidade e
valor agregado
.
184
7.1.3
Qual a influência dos diverso
s tipos de recursos
sobre a
performance?
Para responder
a
esta questão, estudou-se o papel desempenhado pelos
recursos
singulares
e de acesso restrito sobre a
performance
.
Nas análises de regressão
desenvolvidas,
os
recursos singulares
apresentaram
um poder explicativo de até 50% sobre as variações de
performance
entre as firmas. Por sua vez, o
s
recursos de acesso restrito explicaram até 30%
destas variações, confirmando uma expectativa
prevista no modelo
proposto
na seção
3.
3.
Juntos
,
os
recursos
singulares
e de
acesso restrito
explicaram um máximo de 63% das
variações, mostrando que uma parte da variância é compartilhada entre os dois tipos. Isto
significa que as mesmas empresas que possuem recursos singulares apresentam também
acesso
privilegiado
aos
recursos restritos
.
Esta condição pode favorecer a formação de grupos estratégicos bastante dis
tintos
e
polarizados
dentro do
cluster
que além de terem dotaç
ões
próprias de recursos são também os
mais eficientes em acessar os recursos públicos o
u sem
i-
públicos
(entre os quais se encontram
recursos de acesso restrito
)
do que as demais firmas.
Tendo como base a concepção de efeitos diferenciados de cada tipo de recurso
,
especificou
-se três grupos de firmas: (1) as firmas que acessam os recursos singulares
,
recursos de
acesso
restrito
e
spillovers
; (2) as que recebem os efeitos apenas d
os
recursos de
ac
esso restrito e
spillovers
; e (3) as firmas que recebem os efeitos apenas d
os
recursos
sistêmicos
e eventuais
spillovers
.
Utilizando o modelo de regressão final (apresentado em
6.2.7.6.1
), que considera os
efeitos conjuntos de recursos e
spillovers
, elabo
rou
-se estimativas para cada um dos grupos,
conforme apresenta a Figura
20
a seguir.
185
Figura
15
-
Análise de Diferenciais de
Performance
Para o grupo formado pelas empresas A e B estimou-se a
performance
considerando o
acesso a todos os recursos e
spillovers
presentes no modelo, obtendo-se indicadores
substancialmente superiores à média do
cluster
.
O preço médio dos vinhos finos estimado
para estas firmas foi de R$ 28,56 um resultado bastante superior à média do cluster
q
ue foi de
R$ 12,43. Além de apresentarem preços superiores, estas empresas apresentaram também
mais inovações e premiações e
variação
positiva no
market
share
sugerindo uma série de
diferenciais de
performance
cumulativos derivados dos recursos e
spillover
s.
PRECMEDVF: R$ 28,56
NUMNOVPROD: 10
PREM50: 23
PREM15: 5
VARMKTSHARE: + 0,34 %
PRECMEDVF: R$ 17,00
NUMNOVPROD: 2
PREM50: 4
PREM15: 10
VARMKTSHARE:
-
0,05 %
PRECMEDVF: R$ 7,80
NUMNOVPROD: 1
PREM50: 2
PREM15: 0
VARMKTSHARE:
-
0,15%
Firma
F
Firma
G
RECURSOS
SISTÊMICOS
DO
CLUSTER
PERFORMANCE
SISTÊMICA
Firma
H
Recursos
Singulares
Externalidade
s
Externalidade
s
Firma
D
Firma
E
Firma
C
Recursos
de Acesso
Restrito
Firma
B
Firma
A
Recursos
Singulares
186
Para o grupo formado pelas empresas C, D e E estim
ou
-se a
performance
utilizando
apenas os recursos de acesso restrito e
spillovers.
Com esses fatores chega-se a um preço
médio
previsto
de R$ 17,00. Nos demais indicadores os resultados estimados eviden
ciam
níveis de
performance
significativamente inferiores ao primeiro grupo,
sugerindo
que o
simples acesso a recursos externos não se configura como uma fonte primária de
performance
superior.
Por fim, para o grupo formado pelas empresas F, G e H estimou
-
se a
performance
sem
acesso a recursos nem
spillovers
, sabendo-se que estas firmas, como as demais, recebem os
efeitos dos recursos sistêmicos. As firmas com esta configuração apresentaram os níveis mais
baixos de
performance
, chegando a indicadores 3 vezes menores em relação às primeiras. O
preço médio estimado com estes parâmetros limitou-se a R$ 7,80. Tanto os lançamentos de
novos produtos quanto as premiações ficaram reduzidos a níveis bastante baixos se
comparados aos outros grupos e, complementarmente
, a variação de
market share
foi negativa
em 0,15%.
Observa-se a partir destas estimativas, que a posse e o acesso aos recursos exerce
efetivamente um efeito diferenciador sobre a
performance
.
Desta forma, quando está presente
a heterogeneidade de dotações e acesso a recursos estratégicos em uma população,
possivelmente estarão presentes as assimetrias competitivas. Estes resultados alinham-se com
o modelo proposto, mostrando os efeitos diferenciais de
performance
a partir dos vários tipos
de recursos possuídos ou acessados pelas firmas, e também que os efeitos de cada categoria
de recursos são distintos entre si.
187
7.1.4
Quais são os recursos ma
i
s importantes para a
performance?
Além de compreender o papel genérico dos
recurso
s singulares e de acesso restri
to
,
uma questão relevante e de foco mais prático é a compreensão de quais recursos relativos a
atividade vitivinícola são mais importantes para a
performance
. Nos Quadros 9 e 10 a seguir
estão relacionados os diversos recursos estudados e seus efeitos corr
espondentes.
RECURSO
EFEITOS OBSERVADOS
SCORETERROIR
Apresentou efeitos importantes sobre o preço médio dos vinhos finos e sobre
premiações, aparecendo sempre associada
a
variáveis de competência vitícola
indicando a presença de complementariedades entre
estes recursos.
APROPENO
A condição de apropriação do conhecimento enológico exerceu sua maior
influência sobre o preço médio dos vinhos finos, evidenciando que quanto maior
a influência do enólogo na empresa maior é a agregação de valor aos produtos.
E
XPENOTMP
Em diversas análises realizadas, o tempo de experiência do enólogo apresentou
influência negativa sobre
as
premiações e sobre
a
variação de
market share
sugerindo que os enólogos mais antigos estão associados a empresas de menor
performance
.
EXP
ENOINT
A experiência internacional do enólogo apareceu como um fator de influência
positiva sobre a
performance
em preço e premiações evidenciando a
importância da busca de experiências fora do ambiente e da cultura produtiva do
cluster
.
EXPENOTMPFINT
Da
mesma forma que a variável anterior, o tempo de atuação no exterior exerceu
um efeito positivo sobre premiações.
PESQ
ENO
Esta variável não apresentou influência importante em nenhum dos modelos
calculados, possivelmente devido aos poucos casos existentes
.
CONSULTENOINT
As consultorias enológicas internacionais apresentaram efeitos positivos sobre o
número de novos produtos e sobre
a
variação de
market share
,
um resultado que
segue a mesma lógica dos efeitos da experiência internacional do enólogo.
APROP
AGRO
A condição de apropriação de conhecimentos agronômicos apresentou efeitos
positivos sobre
as
premiações e variação do
market share
.
EXPERVAR
Apresentou efeitos positivos sobre
o
preço médio dos vinhos finos e premiações.
PESQAGRO
Apresentou efeitos
positivos sobre
as
premiações e principalmente sobre
o
número de novos produtos, revelando
-
se um recurso fundamental para a
performance
em inovação.
Quadro
9 -
Recursos Singulares
e Efeitos Individuais
188
Dentre todos os recursos estudados, a competência enológica revelou-se um dos mais
importantes
para a alta
performance
, especialmente no que se refere à apropriabilidade do
conhecimento enológico.
As
empresas conduzidas por enólogos demonstraram resultados
superiores àquelas em que este profissional é contratado ou consultor, e onde possivelmente
tem menor amplitude de decisão.
Um resultado diferente do esperado foi a observação de relações negativas entre o
tempo de experiência do enólogo e a
performance
, sugerindo que profissionais mais jovens
estão menos comprometidos a paradigmas tecnológicos ultrapassados, que ainda se fazem
presentes no setor. Isto também revela, junto com outras variáveis observadas, a existência
de
trajetórias distintas e não convergentes em termos de modernidade e qualidade entre as
empresas estudadas
, cujo principal divisor é a idade e a tradição.
Com efeito, possuir tradição em produção de vinhos na Serra Gaúcha significa possuir
também uma série de características culturais, empresariais e tecnológicas enrigecidas ao
longo do tempo, que dificultam a entrada destas empresas no negócio de vinhos finos.
Somente a mudança de gerações parece permitir este salto,
que
já está sendo dado por
algumas empresas, as quais manifestam na qualidade de seus produtos os efeitos destas
mudanças.
A competência vitícola revelou-
se
importante principalmente para a
performance
em
inovação evidenciando que o controle sobre a matéria-prima e os experimentos com novas
variedades são elementos condicionantes
fundamentais
para o desenvolvimento efetivo de
novos produtos
.
189
Por sua vez, entre os diversos recursos de acesso restrito investigados, relacionados
no Quadro 10, os mais relevantes foram as rotas turísticas, principalmente as Rotas do Vale
dos Vinhedos e
APROMONTES
, nas quais desenvolve-se uma concentração de empresas de
alto desempenho e a formação de ativos de imagem localizados, que terminam por reforçar o
valor destes recursos.
Considerando que estas rotas foram objeto de um processo razoavelmente coordenado
durante a sua criação e organização, entende-se que são casos ilustrativos para outras rotas
presentes no
cluster
, que ainda carecem de organização coletiva e mesmo de ações de resgate
de
sua
ima
gem, como a R
ota dos
E
spumantes.
RECURSO
EFEITOS OBSERVADOS
ASSESSEM
BRAPA
Apresentou efeitos positivos sobre premiações e negativos moderados sobre
a
variação do
market share
.
I.P.
Apareceu como um fator influente de forma positiva sobre
o
número de novos
produtos, premiações e variação do
market share
.
PARTWINFBRA
I
nfluente positivamente sobre premiações
ROTTURVV
A participação nesta rota exerceu efeitos positivos significativos sobre o preço
médio dos vinhos finos, indicando um núcleo de empresas dedicadas a produtos
de maior valor agregado.
ROTTURCAM
A partic
ipação nesta rota exerceu efeitos positivos significativos sobre o preço
médio dos vinhos finos, indicando um núcleo de empresas dedicadas a produtos
de maior valor agregado. Foram observados efeitos positivos também sobre
as
premiações.
ROTTURAPROMN
Ex
erceu efeitos positivos sobre a variação do
market share
ROTTURESPUM
Não apresentou efeitos importantes sobre nenhuma das variáveis de
performance
.
Quadro
10
- R
ecursos de Acesso Restrito
e Efeitos Individuais
190
7.1.
5 Qual o pap
el dos
spillovers
sobre a
performance
?
Ao longo do trabalho, um das questões levantadas foi a dificuldade de medição direta
de
spillovers devido a sua intangibilidade, principalmente no que refere-se aos
spillovers
de
conhecimento.
Uma segunda problemática refere-se a existência de efeitos tanto sistêmicos
quanto restritos derivados dos
spillovers
. Nesta pesquisa investigou-se predominantemente os
spillovers
restritos, avaliados através do acesso da firma a fontes potenciais de trocas de
conhecimentos
e in
formações
. No Quadro 11, relaciona-se cada uma das variáveis utilizadas,
com os respectivos efeitos observados
, comentados a seguir
.
RECURSO
EFEITOS OBSERVADOS
PARTUVIBRA
Exerceu efeitos positivos moderados sobre
as
premiações.
PARTAGAVI
Apresentou efeitos negativos bastante pronunciados sobre o preço médio dos
vinhos finos, evidenciando que as empresas que acessam este recurso atuam em
níveis menores de valor agregado.
PARTAPROV
ALE
Apresentou efeitos positivos bastante pronunciados sobre o preço médio d
os
vinhos finos e sobre variação de
market share
, e efeitos moderados sobre
as
premiações.
PARTAPROMN
Apresentou efeitos positivos sobre
o
preço médio dos vinhos finos.
PARTAVIGA
Foram observados efeitos moderados sobre
a
variação do
market share
.
NUMEV
ENTNA
No modelo de regressão final, esta variável apresentou efeitos positivos fracos
sobre preço médio dos vinhos finos e efeitos negativos fracos sobre número de
novos produtos. Nas análises somente de
spillovers
apresentou efeitos positivos
sobre premia
ções.
NUMEVENINT
Foram observados efeitos positivos pronunciados sobre
as
premiações.
DOM
Foram observados efeitos positivos pronunciados sobre
as
premiações.
DISTC
PESQ
Foram observados efeitos positivos sobre o preço médio dos vinhos finos e
variação d
e
market share
.
Ambos os resultados sugerem
preços superiores e
crescimento de
fatia de mercado para
as
empresa
s
mais distantes
.Também foram
observados efeitos negativos sobre
as
premiações.
EXPNUMFNA
Esta variável apresentou e
feitos negativos fortes sobr
e
o
mero de novos
produtos, sugerindo que a rotação de mão de obra não estimula a inovação (de
forma contrária à teoria sobre o assunto).
EXPNUMFINT
Apresentou efeitos positivos fortes sobre a inovação, sugerindo que as
experiências internacionais são f
atores importantes para o desenvolvimento de
novos produtos.
Quadro
11
-
Spillovers
e Efeitos Individuais
191
Nas análises de regressão verificou-se que o efeito dos
spillovers
mostrou-se tão
importante quanto o dos recursos singulares para todas as variáveis, com excessão para o
número de novos produtos, para o qual não
for
am
observados efeitos relevantes. Este
resultado, conforme previamente citado, contradiz a teoria, sugerindo que os
spillovers
avaliados não influenciam a inovação
nas empresas estudadas.
Para entender este efeito negativo, um primeiro ponto a considerar
é
que as empresas
de baixa
performance
nos outros indicadores, e que não capturam
spillovers
, também
desenvolvem novos produtos, e desta forma, podem estar influenciando negativamente a
avaliação do efeito dos
spillovers
.
Este resultado pode também estar relacionado a algum grau de ineficácia nas variáveis
utilizadas para avaliação dos
spillovers
. Um outro conjunto de variáveis, ou mesmo outras
formas de medição, podem vir a evidenciar resultados diferentes quanto à inovação, mais
alinhados com as relações positivas descritas na literatura sobre o tema.
Uma intepretação alternativa é que, no estágio ainda emergente em que se encontra o
setor de vinhos finos no
clus
te
r, as empresas mais inovadoras são justamente as fontes de
spillovers
e não as tomadoras ou receptoras, não apresentando relações significativas com as
variáveis utilizadas
.
Um ponto importante a ressaltar é que, se os
spillovers
apresentam efeitos tão
fortes
quanto os recursos singulares, fica evidenciado que as empresas que possuem maiores
dotações destes recursos, ou seja, as de maior
performance
, são igualmente as que são capazes
de apropriar mais adequadamente os
spillovers
advindos de seus pares na indústria. Isto
significa que as empresas de baixa
performance
no
cluster
o acessam nem mesmo os
spillovers,
recebendo unicamente os efeitos dos
recursos sistêmicos
.
192
Isto significa também que
alguns
spillovers
, embora “livres no ambiente”, possuem
uma
natureza restrita, não sendo acessados por todos. Esta limitação de acesso remete a dois
conceitos propostos na literatura.
Primeiramente resgata-se a idéia de capacidade de absorção proposta por Cohen e
Levinthal (1990) na qual, para uma empresa apropriar-se de uma informação nova deve ter
capacidades internas que lhe permitam o aprendizado e a incorporação deste conhecimento.
Segundo, e também importante para explicar este fenômeno, é o conceito de
core
rigidities
(
PRAHALAD
;
BETTIS
,
1986
), que significa que cada empresa possui limitações
para absorver conhecimentos que impliquem em mudança de seus padrões de decisão e
gerenciamento interno, consolidados ou “enrigecidos” ao longo do tempo.
Estima
-se que estes
dois
fatores atuem conjuntamente no
cluster
estudado,
separando
empresas
que se mostram capazes de apropriar e acessar os melhores recursos e
spillovers
, e
empresas
que
permanecem à margem destes benefícios, apresentando baixos índices de
performance
em todos os aspectos. Desta forma,
pode
-
se
enten
der
que as empresas bem
sucedidas, além de adotarem as melhores estratégias são também as que apresentam maiores
índices de acesso a recursos e
spillovers.
7.1.5
Qual a importância da localização no
cluster
?
A
distância geográfica da empresa em relação aos centros de pesquisa apresentou
coeficientes
de regressão
positivamente
relacionados com o preço médio dos vinhos finos e
com os indicadores de premiações, evidenciando que, quanto
maior
distância, m
aiores
estes
indicadores.
Ainda observou-se uma fraca i
nfluência
entre
esta distância e a
performance
em
inovação
, tanto que esta variável foi excluída dos
cálculo
s de regressão para número de novos
produtos.
193
São
resultados que contradizem a teoria e
reforça
m os achados previamente discutidos
para s
pillovers
. Principalmente a
performance
inovativa não se mostrou dependente da
distância de centros de pesquisa, ao contrário dos resultados encontrados por Jaffe (
1986;
2000
) em estudos de outros setores.
Este resultado
suger
e três interpretações possíveis. A primeira é de que o raio de
distâncias avaliado não é relevante para facilitar ou dificultar o acesso a estes centros de
pesquisa. Uma segunda possibilidade é a existência de dificuldades por parte das empresas na
captura de
spillovers
advindos destes centros, entre elas a sua capacidade de absorção.
Por
fim, na pior situação, os resultados podem evidenciar uma ineficácia dos centros de pesquisa
em desenvolver
em
conhecimentos que influenciem positivamente a
performance
no segmento
de vinhos finos.
Inicialmente
esperava-
se
, conforme
a
hipótese
H8,
que existissem zonas de maior
concentração de empresas de alta
performance
, que seriam uma espécie de
clusters
dentro do
cluster
.
Verificou
-se que as rotas tu
rísticas
Vale dos Vinhedos e Caminhos da Montanha são
exemplos ilustrativos destas zonas de concentração, mas não ao ponto de podermos afirmar
que exista um centro único de alta
performance
.
Claramente
, a região próxima de Bento
Gonçalves apresenta concentração de empresas de vinhos finos bem sucedidas e de uma sér
ie
de ativos importantes de imagem neste segmento, mas, para o tipo de produto estudado, outras
regiões também começam a se desenvolver da mesma maneira, sem estarem ligadas a estes
ativos locais
.
Desta forma, os resultados obtidos sugerem que a performance é dispersa na região
estudada e que a localização pode ser um fator
importante
somente se associada a rotas
tur
ísticas bem organizadas, com uma potencial evolução para Indicações de Procedência,
um
caminho
que começa a ser gradualmente adotado em diversas outras áreas do
cluster
.
194
7
.2 RESUMO DAS HIPÓTE
SES
Como conclusão deste capítulo,
faz
-se importante
resgata
r as hipóteses de pesquisa
previamente
propostas,
analisando
-as à luz d
os
resultados alcançados, conforme apresenta o
Quadro 12
a seguir
.
Definiçã
o
Descrição
Resultado
H1
O uso de
recursos singulares
influencia positivamente a
performance
das firmas.
Hipótese suportada
Efeitos positivos
observados
para a maioria
das variáveis
H2
O uso de
recursos de acesso restrito
influencia
positi
vamente a
performance
das firmas que os utilizam.
Hipótese suportada
Efeitos positivos
observados
H3
Os
recursos singulares
exercem efeitos maiores sobre a
performance
do que os
recursos de acesso restrito
.
Hipótese suportada
Efeitos
diferenciados
observados
entre as
variáveis
H4
A presença de
recursos singulares
influencia positivamente
a
performance
das firmas em um
cluster
.
Hipótese
parcialmente
suportada
H5
O acesso a fontes de
spillovers
influencia positivamente a
per
formance
das firmas
Hipótese suportada
H6
A presença de
recursos de acesso restrito
influencia
positivamente a
performance
das firmas em um
cluster
.
Hipótese
parcialmente
suportada
H7
A proximidade de localização em relação
aos
centros de
pesquisa influe
ncia positivamente a
performance
das firmas
em um
cluster
.
Hipótese não
-
suportada
Efeitos negativos ou não
-
relevantes observados
H8
A proximidade de localização em relação a firmas de
performance
superior influencia positivamente a
performance
das
firmas próximas em um
cluster.
Hipótese parcialmente
suportada
H9
O número de parcerias formais e informais exerce influência
positiva sobre a
performance
das firmas parceiras.
Hipótese suportada
Efeitos positivos
observados
Quadro
12
-
Análise
de Hipóteses
A hipótese H1 foi claramente suportada pelos resultados obtidos na pesquisa,
verificando
-se que os diversos tipos de recursos singulares influenciaram positivamente a
performance
das firmas estudadas.
195
A hipótese
H2 igualmente foi suportada pelos resultados, observando
-se que os efeitos
dos
recursos de acesso restrito
são
menores do que os dos
recursos singulares
. Esta diferença
de efeitos fornece suporte também à hipótese H3, que prevê estes efeitos diferenciados
entre
os dois tipos de recursos.
A hipótese H4 é parcialmente suportada pela constatação de que as firmas de alta
performance
são ao mesmo tempo as que mais possuem recursos singulares e ao mesmo
tempo as que mais capturam os
spillovers
, restando
possivelm
ente
uma pequena parcela de
efeitos externos derivados destes recursos que possam ser capturados de forma sistêmica pelo
cluster
. Estes efeitos, na maioria das vezes, são direcionados ao enriquecimento dos ativos de
imagem da região da serra
,
a partir do sucesso de algumas firmas individuais. A hipótese H6
segue a mesma lógica de H4 e, da mesma forma, foi apenas parcialmente suportada.
A hipótese H5 foi amplamente suportada pelos resultados, que demonstraram um
efeito dos
spillovers
tão importante quanto o
dos
recursos singulares, ressaltando-
se
,
conforme a observação anterior, que os
spillovers
avaliados for
am
predominantemente de
caráter restrito, ou seja
,
acessados por poucas firmas
.
A hipótese H7 não foi suportada pelos resultados, observando-se que a pr
oximidade
em relação a
os
centros de pesquisa não afetou positivamente a
performance
e para algumas
variáveis não m
ostrou nenhum efeito relevante.
A hipótese H8 foi apenas parcialmente suportada. A partir do estudo das rotas
turísticas, constatou-
se
efeitos
positivos derivados da proximidade entre firmas de alto
desempenho
, mas também,
performance
superior em regiões mais isoladas, dificultando uma
conclusão mais efetiva sobre estes efeitos.
Por fim, a hipótese H9 foi plenamente suportada, observando-se e
fe
itos positivos
importantes, p
ri
ncipalmente sobre a
performance
em premiações.
196
8 CONCLUSÃ
O
Partindo dos dados apresentados, busca-se neste capítulo sintetizar as principais
contribuições, e encaminhar propostas para futuros estudos sobre o tema.
8
.1
PRINCI
PAIS ACHADOS
Os principais achados desta pesquisa
situam
-se em dois focos: estratégias e recursos
.
Em relação a estratégias verificou-se que as empresas especialistas em vinhos finos
apresentaram desempenho superior àquelas que atuam com diversos produtos,
sugerindo
que
a amplitude de linhas de produto e a diversificação são estratégias que não contribuem
positivamente para a
performance
na população estudada
.
Estudando um segundo aspecto da estratégia, verificou-se que a escolha por vinhedos
próprios ou integrados é uma padrão dominante nas empresas de alto desempenho. Isto
e
viden
cia
que o controle sobre a matéria-prima é um ponto extremamente relevante no
segmento
de vinhos finos, mesmo em uma região em que todos estão expostos a condições
edafoclimáticas
similares.
Compl
e
mentarmente
, constatou-se que o nível de tecnologia
vinícola
empregado por cada empresa é
um
determinante de
performance
superior
tão
importante quanto a especialização, permitindo muitas vezes a superação de deficiências nos
demais aspectos estratégicos.
Quanto aos recursos verificou-se a predominância de efeitos dos recursos singulares
sobre a
performance
, destacando-se os recursos associados à competência enológica. Os
recursos de acesso restrito demonstraram exercer um papel menor, superado de forma
significativa pelo efeito dos spillovers. Por fim, o
bservou
-se também que poucas firmas
acessam as fontes de spillovers ou exercem parcerias de maneira efetiva, sugerindo
a
existência de
condições restritivas na própria
trajetória e na cultu
ra destas firmas.
197
8.2 CONTRIBUIÇÕES DERIVADAS DA PESQUISA
Cada vez mais, os avanços na área de estratégia são caracterizados pela conversação
entre diferentes aportes teóricos e disciplinas. A presente pesquisa segue esta linha,
integrando elementos da VBR ao estudo da competitividade regional. As contribuições
advindas desta integração são múltiplas
,
tanto no âmbito teórico, quanto prático.
8.2.1
Contribuições Teóricas
No âmbito teórico a principal contribuição consistiu no desenvolvimento de um
sistema
de categorização de recursos em
clusters
, propondo e detalhando os conceitos de
recursos singulares
,
recursos de acesso restrito e recursos sistêmicos. Este sistema vai além
do simples propósito de classificação, considerando os mecanismos através dos quais os
vários tipos de recursos, públicos e privados, interagem com as firmas
.
A partir destes mecanismos,
base
ados em elementos teóricos da
VBR
, foi proposta
uma lógica de análise de bens públicos e semi-
públicos
que permite investigar o seu valor
estratég
ico para uma região. Esta contribuição é original, na medida em que nenhum estudo
anterior tratou das intersecções entre estes temas no grau de profundidade e detalhamento
teórico
-
empírico aqui desenvolvido.
A principal
implicaç
ão acadêmica
desta
lógica ex
pressa
-se pela necessidade de se
repensar estrategicamente os modelos de análise de clusters e setores industriais, e
principalmente de agronegócios, em função de sua forte associação com os aspectos do
território e vantagens naturais. Com efeito, a partir da VBR, oferece-se um conjunto de
enriquecendo
o corpo teórico
-
analítico neste tema.
198
8.2.1
Contribuiç
ões Práticas
No âmbito prático foram identificadas uma série de estratégias superiores no negócio
vitivinícola
. Adicionalmente foram identificados os diversos tipos de recursos estratégicos,
intra e extra-firma, que compõem a dotação do
cluster
estudado, investigando-se o seu efeito
sobre a
performance
das firmas.
Para a maioria das empresas de média e baixa
performance
instaladas no cluster, as
implicaçõ
es práticas destes achados são que, a partir de sua divulgação, poderão compreen
der
de forma mais aprofundada os caminhos que levam ao sucesso neste setor e reajustarem as
suas estratégias. Aquelas que desenvolvem estratégias bem-sucedidas por outro lado,
poderão
reafirmar seu compromisso com a qualidade, investindo com mais eficácia nos recursos mais
relevantes como por exemplo, as competências enológica e vitícola.
Faz
-se importante ressaltar que, ao demonstrar-
se
cientificamente
a importância
estratégica
dos recursos avaliados nesta pesquisa, por mais óbvios que possam parecer,
possivelmente disparou-se um processo competitivo pelos mesmos, que induzirá firmas de
todos os níveis a tentarem adquiri
-
los.
As empresas que são de alta performance hoje pode
m
vir a enfrentar (como
enfrentam
em parte) um conjunto cada vez mais informado de seguidores. A definição deste
próximo capítulo da competição será determinada em grande parte pelas capacitações
preemptivas
e
dinâmicas
que estas firmas possuírem, que lhes permitirão adquir os recursos
em condições de vantagem e recombinar os seus recursos atuais, criando novas formas de
assimetria em relação aos seus pares.
199
8.3
LIMITAÇÕES E SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS
Os construtos teóricos e a tipologia de classificação de recursos propostos são o
resultado de um amplo projeto de pesquisa em desenvolvimento, que contabiliza 6 anos de
estudos
sobre o setor vitivinícola brasileiro e 10 anos de estudos sobre a VBR, e portanto,
ainda passíveis de uma série de aperfei
çoamentos
na sua continuidade. Nesta trajetória,
diversos pesquisadores e colegas tem se interessado pelo tema, e a troca de conhecimentos
tem revelado uma série de novas perspectivas.
O escopo de pesquisa limitou-se nesta fase essencialmente ao
Cluster
Vi
tivinícola
da
Região da Serra Gaúcha, no entanto, ao final desta etapa, torna-se claro que estudos futuros
devem
ser
desenvolvidos visando incorporar a análise comparativa com outras regiões
vitivinícolas no mundo.
Devido à abordagem adotada para seleção dos casos, os resultados não podem ser
generalizados para empresas de fora do
cluster
, nem para empresas de vinhos de mesa não
dedicadas a vinhos finos. Todavia, o estudo tem um valor ilustrativo importante dos fatores
setoriais que induzem a diferenças de
performance
inter-firmas, o que estimula a sua
ampliação em outros setores e regiões.
Uma das possibilidades interessantes a ser desenvolvida é a aplicação desta lógica em
um contexto nacional, visando o entendimento das possibilidades de otimização e su
stentação
competitiva das diversas atividades produtivas
distribuídas ao longo do país.
Esta concepção foi sugerida anteriormente por Wilk e Fensterseifer (2003c) como um
modelo analítico denominado Sistema Nacional de Agronegócios. Contudo, a incorporaçã
o
dos conceitos e lógicas aqui investigados permitirá um significativo enriquecimento deste
modelo, aumentando a sua contribuição como ferramenta
para o estudo do agronegócio.
200
Especificamente
nas análises
delinead
as nesta
pesquisa,
diversas melhorias podem ser
desenvolvidas. Primeiramente, são possíveis uma série de refinamentos na medição do efeito
dos
spillovers
a partir da incorporação de elementos como a capacidade de absorção das
firmas,
da freqüência de transações e da magnitude de suas relações externas ao
cluster
.
Ainda, a utilização de modelos econométricos mais sofisticados, que considerem funções não
-
linerares pode melhorar o entendimento das relações e efeitos dos
spillovers
.
Como segundo ponto de melhoria, podem ser desenvolvidos estudos visando avaliar o
capital de marca de cada uma das firmas investigadas, calculando-
se
o efeito deste recurso
adicional no modelo proposto. Este estudo todavia remete a uma ampla pesquisa, muito além
do escopo da presente pesquisa.
Como terceiro ponto de melhoria
pode
-se aperfeiçoar o modelo proposto estimando o
efeito do poder de mercado (porte e market share das empresas) sobre a
performance.
Adicionalmente, a análise de dados em um horizonte temporal maior, com a incorporação de
um conjunto de variáveis exógenas, pode tornar possível a avaliação do efeito dos
recursos
sistêmicos
do
cluster
sobre a
performance
das firmas.
201
8.4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao decidir
se
estabelecer em um
cluster,
uma firma tem muitas possibilidades de
progredir e ser bem sucedida. A história deste progresso, as conquistas e a
performance
que
esta firma vai atingir, dependerão
em grande parte
de suas escolhas estratégicas e dos recursos
que ela acumular ao longo do tempo. Ao olhar para as empresas do
Cluster
Vitivinícola da
Serra Gaúcha, visualizamos duas trajetórias: uma de empreendedorismo, modernidade e
comprometimento com a qualidade. A
outra
, de oportunismo, atraso tecnológico e
especulação industrial. A primeira, aparentemente, é o caminho mais curto para o sucesso. A
segunda representa um arco maior, um caminho periférico de lento desenvolvimento
entremeado por obstáculos culturais e ideológicos, ao qual muitos ainda estão atrelados. No
dia em que estas duas trajetórias se encontrarem, esta região será reconhecida como uma
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ora de vinhos.
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384p.
219
GLOSSÁRIO
*
AERAÇÃO DO MOSTO:
cnica praticada pelos vinificadores no início da fermentação, para
favorecer a multiplicação das leveduras
.
ANÁLISE SENSORIAL: Exame das propriedades organolépticas do vinho através dos órgãos dos
sentidos
.
AROMA
: C
on
junto de sensações percebidas diretamente por via nasal ou retro nasal (através da boca).
Pode ser primário ou varietal (derivado da própria uva), secundário (originário da fermentação) ou
terciário (originário do envelhecimento, que em conjunto com os anteriores produz o chamado
"bouquet").
BARRICA
, BARRIS: Vasilha de madeira de carvalho com capacidade média de 225 l, utilizada na
fermentação ou estágio de vinhos.
BORDALESA
: Garrafa de ombros altos e com capacidade de 75 cl. A sua forma é muito útil par
a
recolher nos seus ombros os sedimentos, permitindo que não passem para o jarro decantador
.
CABERNET FRANC
: Variedade tinta internacional, pouco produtiva mas apreciada pela sua qualidade.
Proporciona vinhos de bom tanino, embora de evolução mais rápida
que os de Cabernet Sauvignon.
CABERNET SAUVIGNON: Variedade tinta internacional, muito apreciada para elaborar grandes
vinhos de estágio. A sua pele escura proporciona um tanino intenso, de grande estrutura e de extrema
elegância. Para acelerar a sua evolução, mistura-se, por vezes, com vinhos menos intensos, como os de
Merlot, Cabernet Franc, Malbec ou Tempranillo. É a casta tinta mais prestigiada em todo o mundo,
utilizando
-
se em praticamente todos os países produtores da Europa, Américas, Austrália e Á
frica.
CACHO DE UVAS: Conjunto de bagos de uva seguros por um pedúnculo principal, por eixos
secundários e pedúnculos secundários. Um cacho é formado pelo engaço e pelos bagos
.
CANTINA:
Designa o local e
intalações
de elaboração de vinhos
.
CARVALHO
: Árvore do gênero Quercus (Quercus Ruber) que se utiliza para a obtenção das madeiras
nobres de estágio.
COOPERATIVA
: Sociedade de viticultores que tem como finalidade a produção em comum dos vinhos
e a distribuição equitativa dos benefícios obtidos.
COR
TE
: prática de cantina que consiste na mistura de dois ou mais tipos de vinho, ou de vinhos da
mesma casta de safras diferentes.
DELESTAGEM ou DELESTAGE: Processo de movimentação do mosto visando a
intensificação
da
extração de aromas e cor.
D.O.C.
Denom
inação de Origem Controlada.
DECANTAÇÃO
: passagem lenta do vinho da garrafa para um outro recipiente chamado decanter. Serve
para separar eventuais sedimentos do vinho ou para aeração.
DEGUSTAÇÃO
: Ato pelo qual se procede, segundo normas e regras precisas, a uma análise sensorial
dos vinhos.
DENOMINAÇÃO DE ORIGEM (DO): Conceito aplicável à designação de determinados vinhos cuja
originalidade e individualidade estão ligados de uma forma indissociável a uma determinada região.
*
Adaptado a partir de: Larousse do Vinho
-
Vários
-
São Paulo: Larousse,
2004.
384p
;
Dictionnaire Hachette du
Vin
-
Michel Dovaz
-
Paris: Hachette, 1999. 560p
.
220
EDAFOCLIMÁTICO
: D
iz respeit
o à combinação de condições e clima e solo de uma região.
ENÓFILO
:
Apreciador e/ou estudioso de vinhos
.
ENOLOGI
A:
Ciência que estuda as técnicas da elaboração e da criação dos vinhos.
ENÓLOGO
: I
ndivíduo que tem conhecimentos de enologia; formado em fac
uldade de enologia
.
ENVELHECER
: Estagiar em tonéis ou em garrafa para que o vinho desenvolva, num tempo
determinado, todas as suas qualidades.
ENZIMA
: Catalisador bioquímico, essencialmente de natureza proteica, que causa ou acelera as rea
ções
metabóli
cas (fermentação).
ESPUMANTE
: Vinho com gás carbônico, efervescente; nos espumantes de qualidade o gás é resultante
da fermentação
.
FERMENTAÇÃO
: Processos catabólicos de organismos anaeróbios produzindo gás carbônico e outros
detritos carbonados, sobretudo o etanol, na fermentação alcoólica
.
FERMENTAÇÃO MALOLÁCT
ICA
: Transformação do ácido málico em ácido láctico, por acção das
bactérias lácticas. Pode ocorrer durante a fermentação alcoólica ou posteriormente. Caso não se controle a
sua ocorrência, esta fermentação pode dar-se após o engarrafamento, originando a formação de gás e
tornando o vinho desagradável.
FOXADO
: Característica aromática de cepas americanas, como Isabel, Taylor e Clinton, causada por
antranilato de metila. Os vinhos são desagradáve
is e de conservação difícil. Lembra o cheiro vulpino
.
GARRAFA
: Recipiente de vidro onde os vinhos amadurecem e desenvolvem o seu bouquet. Todos os
vinhos nobres possuem rolha de cortiça.
GASTRONOMIA
: Arte da boa mesa e conhecimento da cultura do gosto, especialmente a forma de
harmonizar os vinhos e os manjares.
GENUINIDADE
:
Todo o vinho cuja pureza de casta ou de região é possível garantir
.
GRANDE RESERVA: Denominação que se concede aos vinhos espanhóis longamente estagiados em
pipa de carvalho e em garrafa. As diferentes Comissões Reguladoras determinam os tempos mínimos de
estágio para obter esta designação.
HECTARE
:
Medida de superfície equivalente a 10 000 m2. (ha)
.
HECTOLITRO
:
Medida de volume equivalente a 100 l. O seu símbolo é hl.
I.P.
:
In
dicação de Procedência Regulamentada. Designa a associação oficializada entre o produto e a
região de sua produção.
LEVEDURA
: Fungo microscópico unicelular que se encontra nas películas da uva e que desencadeia o
processo da fermentação alcoólica. Entre as leveduras da uva tem especial interesse a
Saccharomyces
cerevisiae, que actua durante toda a fermentação, enquanto existir açúcar no mosto e a temperatura o
subir excessivamente. Por isso, é importante controlar a temperatura realizando as fermentações em
pequenas pipas ou utilizando depósitos de aço inoxidável dotados de refrigeração.
MACERAÇÃO CARBÔ
NICA
Maneira de vinificar o vinho tinto num processo anterior à fermentação
em que os cachos são colocados inteiros numa cuba fechada com atmosfera satur
ada de gás carbónico. Os
vinho
s
ficam com um sabor e cor intensos, de baixo teor taninoso.
221
MADEIRA
: Odor apresentado por alguns vinhos e que recorda, fundamentalmente, a baunilha, o
carvalho, o fumo, a madeira queimada, o cedro, o incenso ou as resinas. Por vezes, quando os vinhos
estagiaram em pipas velhas mal higienizadas, apresentam-se com defeito (odores de mofo, humidade,
adega fechada).
MÁLICO, ÁCIDO: Um dos ácidos presentes na uva e no vinho, que contribui para a sua frescura.
Produz uma sensação de verdor que recorda a da maçã (em latim, malum). O seu excesso produz uma
impressão incisiva e desagradável no paladar. Submetido à fermentação maloláctica, transforma-se em
ácido láctico.
MATURAÇÃO
: Fase fisiológica do ciclo da vinha, que começa no verão com o "pintor" (mudança da
cor das uvas) e acaba com a vindima. Durante este processo, o bago da uva perde a sua dureza, pois as
células da polpa tornam mais finas as suas paredes e o seu conteúdo é substituído por suco. A composição
química do bago da uva sofre algumas mudanças importantes: aumentam os açúcares e diminuem os
ácidos. Também a maturação fenólica da pele da uva é muito importante, dado que é na pele que se
concentram os aromas, os taninos e a cor. A maturação fisiológica consegue
-
se quando
o volume do bago,
o conteúdo em açúcares e o conteúdo em ácidos, assim como o amadurecimento fenólico, alcançam o seu
equilíbrio ideal.
MESOCLIMA
: Clima local de uma região. Afecta uma extensão de vinhedo mais ampla que o
microclima, e mais pequena que o macroclima. Pode tratar-se, por exemplo, de vários vinhedos situados
em colinas que têm a mesma orientação.
MICRO
-
OXIGENAÇÃO
:
Técnica de injeção de oxigênio no vinho já fermentado que permite apressar
a sua evolução, arredondando os taninos.
NITROG
Ê
NI
O: Gás inerte neutro, presente na atmosfera. O nitrogénio, como gás inerte, utiliza-
se
muitas vezes para proteger o vinho. A sua neutralidade converte
-
o num componente inofensivo. Substitui,
vantajosamente, o oxigénio (agente oxidante) durante o processo do engarrafamento e nas engarrafadoras
modernas ocupa o espaço que fica entre a rolha e o vinho. Utiliza-se também, como outros gases inertes,
nos aparelhos que permitem vender o vinho ao copo. Só as lojas especializadas, que dispõem de aparelhos
adequados,
podem oferecer vinhos de qualidade em garrafas abertas. À medida que a garrafa é esvaziada,
o volume livre é ocupado pelo nitrogénio, ficando assim o vinho protegido
ODOR
: Aroma do vinho detectado na mucosa olfactiva e produzido pelas moléculas aromáticas. As
moléculas mais volumosas e com maior número de átomos de carbono (até dez) são mais aromáticas. Os
ésteres são mais odoríficos que os aldeídos; e estes, por seu lado, mais do que os álcoois e os ácidos.
OIV
:
Organi
zação
Internacional da
Uva
e do Vinho. Este organismo foi criado em 1924 em Paris, pela
Espanha, França, Grécia, Hungria, Itália, Luxemburgo, Portugal e Tunísia. Em 50 anos, muitos outros
países foram aderindo até alcançar o número de 28, que representam cerca de 94% dos vinhedos de todo o
mundo. O O.I.V. estuda o conjunto dos problemas científicos, técnicos e económicos, referentes ao
cultivo das vinhas, à produção e à conservação, à comercialização e ao consumo dos vinhos, dos mostos
da uva de mesa e das passas de uva. Pela primeira vez, em Dezembro de 1997, um português, o professor
Bianchi de Aguiar, foi nomeado presidente do O.I.V.
ORGANOLÉPTICO(A)
: sensorial, que sensibiliza os sentidos. As características organolépticas de um
vinho são as suas sensações olfatórias, gustativas e táte
is, percebidas durante a sua degustação
PAINEL
: Grupo de referência ou mostra representativa de pessoas (compradores, consumido
res,
provadores, etc.), que efe
tuam uma sessão de prova
para avaliação de vinhos
.
P
ISAGEM
ou
PIGEAGE
: Processo mecânico de mov
imentação
suave do mosto visando aumentar a
extração de cor e aromas das uvas.
PILETAS:
T
anques de concreto
ou alvenaria,
destinados ao armazenamento de vinhos
.
PODA
PRECOCE: Poda que se efectua quando os cachos de uva estão em formação e que procura,
at
ravés da eliminação de uma percentagem de cachos por cepa, aumentar a concentração e qualidade dos
que vingam
222
REMONTAGEM
: Bombagem do mosto que fermenta na parte inferior da cuba, trazendo-o para cima,
para que cubra a manta de bagaços que se forma na parte superior, durante o processo de vinificação do
tinto
REMONTAGEM
: Bombagem do mosto que fermenta na parte inferior da cuba, trazendo-o para cima,
para que cubra a manta de bagaços que se forma na parte superior, durante o processo de vinificação do
tint
o.
REPISA
: Ação de voltar a cortar em dois, três ou quatro vezes a pasta de bagaço depois de uma primeira
prensagem
RESERVA
: Designação de qualidade que pode ou não ser sujeita a legislação específica, consoante as
regiões ou os países produtores. A palavra reserva só por si não é garante de qualidade, depende muito de
cada produtor.
RESVERATROL
: Substância de natureza polifenólica, com potencial antioxidante, benéfica na
prevenção de certas doenças
RIESLING ITÁLICA: Variedade de uva branca, muito cultivada na Itália, na Roménia, na Bulgária, na
Croácia, na Sérvia e na Eslovénia.
RIESLING
: Uma das rainhas das variedades brancas aromáticas, cultivada na Alsácia, na Alemanha, na
Espanha (Penedés, Somontano), na Austrália, no Chile, na Califórnia, etc. D
istingue
-se pelos seus aromas
finos e cítricos. Os seus cachos pequenos e apertados dão um rendimento médio, embora alguns
viticultores a submetam a podas demasiado longas para obter sobreprodução. A sua película grossa
protege
-a da podridão. Mas quando é atacada pelos fungos da Botrytis, pode dar vinhos licorosos
excepcionais, de grande elegância. Amadurece tarde e, por isso, beneficia com os outonos secos, frescos e
ensolarados.
SABOR
: Sensação provocada pelo estímulo dos receptores gustativos da língua e o carácter dos produtos
examinados. Existem quatro sabores elementares: doce, salgado, ácido e amargo. Na linguagem corrente,
a palavra "gosto" tem, pelo contrário, um significado muito mais extenso, pois inclui a percepção dos
aromas na boca, pela via retronasal. Na sua acepção mais ampla, os provadores chamam gosto a todos os
estímulos e sensações, que o vinho produz quando entra na boca.
TANINO
: Conjunto dos compostos fenólicos de um vinho, responsáveis pela sua cor, o seu aroma, a sua
estrutura e muitas outras virtudes. Substância orgânica de sabor adstringente, contida nas películas e nas
grainhas da uva. A madeira de carvalho dá também, durante o estágio, os taninos próprios do seu córtice
vegetal. Distingue-se, por vezes, entre tanino doce ou suave (o dado pela uva) e taninos duros (os dados
pela madeira de estágio). Os taninos naturais da uva exercem um poder protector e saudável sobre as
artérias, contribuindo para evitar a formação da placa de ateroma ou gordura. Ao aumentar o nível de
colester
ol HDL do sangue, exerce uma acção benéfica, semelhante à proporcionada pelo azeite ou pelo
peixe azul. Os últimos descobrimentos científicos permitiram-nos também avaliar o poder antioxidante de
certas substâncias fenólicas contidas no vinho, como o resve
ratrol.
TANNAT
: Cepa tinta, típica do Sudoeste francês, que produz vinhos com muita estrutura, ao mesmo
tempo finos e de boa guarda. Exibe tanino, estrutura, força alcoólica, qualidades que exigem estágio.
TERROIR
:
(francês)
- literalmente designa o "terreno" onde se localiza um vinhedo, mas o seu sentido é
muito mais amplo. Na realidade, designa as características do solo, do microclima e do ecossistema do
local, responsáveis pela qualidade do vinhedo e, conseqüentemente, pela qualidade do vinho que el
e
originará.
TONEL
: Recipiente grande de carvalho ou de castanho com uma capacidade de 600 l ou 900 l, para o
armazenamento dos vinhos e, por vezes, da sua fermentação.
223
VARIETAL
:
Vinho produzido com uma única variedade de casta, em contraste com os vinho
s genéricos,
os quais vão buscar o nome a uma determinada região e, supostamente, métodos de produção.
A complexidade varietal está relacionada com a nobreza de certas cepas muito apreciadas, como a
Cabernet Sauvignon, Riesling, Chardonnay, Pinot Noir, Gewürztraminer, Sauvignon Blanc, Moscatel,
Tinta Roriz, etc.
VIDEIRA
:
D
esigna a planta a partir da qual se obtém a uva.
VINHEDO
:
Conjunto de
videiras
cultivadas.
VINHO DE MESA
:
Um termo geralmente u
tilizado
para designar um vinho de características mais
simples
e de baixo custo, destinado ao consumo corrente. Nos países da europa é elaborado a partir de
variedades Vitis viníferas, as únicas
permitidas
. No Brasil,
é elaborado co
m variedades Vitis labrusca.
VINHO
: Produto obtido exclusivamente pela fermentação alcoólica total ou parcial da uva fresca, pisada
ou não, ou então do mosto de uvas frescas, cuja graduação alcoólica adquirida não pode ser inferior a
8,5%, que deve ser bebível e adequada para o consumo, elaborada conforme a lei.
VINHO
FINO
: Vinho de qualidade superior, cujas sensações olfativas e gustativas são elegantemente
equilibradas.
Elaborado a partir de variedades Vitis viníferas.
VINHO TRANQUILO
:
Expressão tradicionalmente utilizada por oposição com os vinhos espumosos.
VINHO VARIETAL: V
in
ho identificado com o nome da variedade da uva no rótulo. É preciso que
exista um mínimo dessa uva, normalmente 75% na maioria dos países.
VINÍCOLA
:
Relativo à produção do vinho
, ou empresa elaboradora de vinhos
.
VINICULTURA
:
Arte de elaborar
e
estagiar
vinhos.
VINIFICAÇÃO
:
Conjunto de operações necessárias para transformar as uvas em vinho
.
VITÍCOLA
:
Relativo ao cultivo da videira
ou parreira.
VITICULTOR
: É a pessoa que se dedica ao cultivo e colheita da
s
vinha
s ou uvas. Por vezes, também
vinifica, elabora e estagia o vinho, o que pressupõe uma participação directa em todos os trabalhos e um
contacto permanente com a vinha e com o vinho. É muito importante que um produtor conheça o mundo
da viticultura e nele esteja inserido. Mas é igualmente decisivo que o viticultor tenha consciência de que
cultiva uva para elaborar vinho e saiba assim procurar as suas melhores qualidades.
VITICULTURA
:
Cultivo da
s
vinha
s ou uvas
. Ciência que estuda o conjunto de processos de instalação e
manutenção da
s
vinha
s.
V
ITIS
LABRUSCA
: Espécie de uva silvestre americana, que vinhos de qualidade com sabor
fox
ado
.
VITIS VINIFERA: Espécie botânica de uvas destinadas à produção de vinhos de qualidade, com
milhares de variedades. Na pratica, são utilizadas cerca de cinqüenta. É o nome científico das vinhas
européias.
Os outros tipos de uvas e que não pertencem à vitis vinifera são híbridos, entre nós conhecidos
por
vitis
american
as ou labruscas
.
VITIVINICULTOR
:
Proprietário de vinhas que elabora o seu próprio vinho
UVA
: O fruto que serve para elaborar o vinho. É composto pelo engaço e pelo bago da uva, com a
película, a polpa e as grainhas.
224
A
PÊNDICE A
- QUESTIONÁRIO PARA AS EMPRESAS VINÍCOLAS
PRODUTORAS DE VINHOS FINOS
Dados Gerais
01.
Ano de fundação da empr
esa: ______________
02.
Há quanto tempo a empresa produz vinhos finos? ______ anos.
Ano em que a empresa começou a vender seus vinhos finos engarrafados? _____________
03.
Número de colaboradores em tempo integral (somente na vinícola):
Familiares: _
_______ Demais: _________
Volumes Produzidos
04.
Qual o percentual de vinhos finos sobre a produção total de vinhos? ___________.
05.
Classes de vinhos finos que a empresa produz e número de produtos:
Varietais:__________ Reserva
:_________ Gran Reserva:_____________ Outra(s):_________
06.
Qual foi o volume de vinhos finos (não incluir espumantes) produzidos nos
últimos 5 anos (em milhares de litros)?
1999:_____________ 2000:_____________
2001
:_____________ 2002:____________
2003:___________ 2004: _____________
Estratégias Vitícolas
11.
As uvas viniferas processadas na empresa são:
Produção própria:_________% Comprada:____% De associados:____%
225
Estratégias Vinícolas
Quais das seguintes tecnologias e práticas são adotadas regularmente na empresa:
Grau de Tecnificação
Práticas
1 2 3
Fermentação em tanques de inox
( )
( )
Fermentação em pipas de madeira
( )
( )
Sistemas
de geração de frio
( )
( )
Controle automatizado de temperatura de fermentação
( )
Controle de fermentação maloláctica
( )
( )
Laboratório Próprio
( )
Controle enológico
Constante
e em todo o processo
( )
( )
Análises químicas e
m todas as fases da fermentação
( )
( )
Controle enológico por sistema de consultoria pontual
( )
Análises químicas quando recomendado pelo enólogo
( )
( )
Pisagem
( )
Delestagem
( )
( )
Remontagem automática de mostos
( )
(
)
Microoxigenação
( )
Práticas de higiene sistematizadas e formalizadas
( )
Práticas de higiene não programadas
( )
( )
APPCC ou sistemas similares
( )
Amazenamento em tanques de inox com atmosfera controlada
( )
Amazenamento e
xterno em tanques de inox
( )
Armazenamento em Pipas ou Piletas
( )
Uso de chips de madeira
( )
( )
Envelhecimento em barris de carvalho
( )
( )
Nenhuma prática de envelhecimento
( )
( )
Performance
Faixas de preços em que
são comercializados seus vinhos finos em garrafas de
750 ml (preços à saída da vinícola) :
Preço médio do vinho VARIETAL, para revenda : R$ ___________
% UVAS PRÓPRIAS ___________ Volume % do total de Vinhos Finos _______
Preço médio do vinho RESERVA , para revenda : R$ ___________
% UVAS PRÓPRIAS ____________ Volume % do total de Vinhos Finos
_______
Preço médio do vinho GRAN RESERVA , para revenda : R$ ________________
% UVAS PRÓPRIAS _____________ Volume % do total de Vinhos Finos _______
Inovações
Num lançamentos nos últimos 5 anos: _______________________________
____
Premiações
Número de vinhos classificados no evento ABE nos últimos 10 anos: ___________
Número de vinhos classificados para a etapa final do evento ABE nos últimos 10 anos: ___________
226
Avaliação da Vantagem de Terroir
Dê uma nota de um a dez pa
ra o aspecto “SOLO” na sua região de plantio
(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9) 10)
Dê uma nota de um a dez para o aspecto “RELEVO” na sua região de plantio
(1)
(2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9) 10)
Dê uma nota de um a dez para o aspecto “CLIMA” na sua região de plantio
(1) (2) (3) (4) (5) (6)
(7) (8) (9) 10)
Dê uma nota de um a dez para o aspecto “INSOLAÇÃO” na sua região de plantio
(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9) 10)
Dê uma
nota de um a dez para o aspecto “EXPOSIÇÃO” na sua região de plantio
(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9) 10)
Dê uma nota de um a dez para o aspecto “ALTITUDE” na sua regiã
o de plantio
(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9) 10)
Avaliação de Recursos Turísticos
A empresa está instalada em alguma rota turística? ( ) sim ( ) não
Qual?
_________________
Recursos Enológicos
Ano de formação do ENÓLOGO CHEFE: _____________________Anos de empresa: _________
Experiência internacional, número de firmas, tempo: ___________________
Experiência nacional, número de firmas, tempo:_____
______________
A empresa adquire serviços de consultoria enológica internacional ?
( ) sim ( ) não
Participação em eventos
A empresa participa de eventos científicos ?
( ) sim ( ) não quantos por ano ?___________
A empresa desenvolve
assessorias com a EMBRAPA ?
( ) nunca ( ) esporadicamente ( ) frequentemente
Denominação de Origem, Indicação Geógráfica
A empresa tem produtos certificados com denominação de origem ou indicação geográfica ?
( ) sim ( ) não
Parceria
s
A empresa desenvolve parceria com alguma outra empresa do cluster ?
( ) sim ( ) não Caso afirmativo com quais empresas ? _____________
227
A
PÊNDICE B
-
LISTA DE EMPRESAS VINÍCOLAS ENTREVISTADAS
1.
Vinhos Don Laurindo Ltda
28. Vinícola Valdemiz
2.
Lovara Vinhos Finos Ltda
29. Chateau Lacave Vinhos Finos Ltda
3.
Vinhos Finos Velha Cantina Ltda
30. Cooperativa Vitivinícola Forqueta Ltda
4.
Vinícola Irmãos Molon
31. Vinícola Miolo
5.
Vinícola Cormayeur
32. Casa Valduga Vinhos Finos
6.
Vinícola
Dom Candido
33. Vinícola Manosso
7.
Vinícola Peterlongo
34. Sociedade Florense
8.
Vinícola Vallontano
35. Sociedade Bebidas Panizzon
9.
Coop.Vinícola Aurora
36. Vinícola Galiotto
10.
Vinícola Reserva da Cantina
37. Vinícola Goes
11.
Coop.Vinícola Pomp
éia
38. Cooperativa São Pedro
12.
Vinícola De Lantier
39. Indústria Vinícola Bolsoni Ltda
13.
Vinícola Cavalieri
40. Vinícola Marco Luigi
14.
Vinícola Barco Diónysos
41. Vinícola Dom Giovani
15.
Salton
42.Cooperativa Vinícola Garibaldi
16.
Vinhos Mar
son
43. Vinícola Brandelli
17.
Vinícola Formasier
44. Vinícola Georges Aubert
18.
Vinícola Cave de Amadeu
45. Vinho Velho Museu
19.
Vinícola Cave de Pedra
46. Gasparin Ind e Comércio de Vinhos
20.
Vinícola Boscato
47. Granja Gasparin Ind de Vinhos Ltda
21.
Vinícola Pizato
48. Vinícola Ernesto Zanrosso
22.
Cooperativa Vitivinícola Aliança
49. Vinícola Zanrosso
23.
Vinícola Jota Pe Ltda
50. Vinícola Milantino
24.
Estabelecimento Vinícola Valmarino
51. Vinícola Monte Lemos Ltda
25.
Vinícola Angheben
52. Vitivinícola Jolimont Ltda
26.
Cooperativa Vinícola São João
53. Catafesta Indústria de Vinhos Ltda
27.
Vinícola Cordelier
54. Vinhos Lovatel Ltda
Livros Grátis
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