
necessidade são sempre relativas e versáteis. O riso e a visão carnavalesca
do mundo, que estão na base do grotesco, destroem a seriedade unilateral e
as pretensões de significação incondicional e intemporal e libertam a
consciência, o pensamento e a imaginação humana, que ficam assim
disponíveis para o desenvolvimento de novas possibilidades. Daí que uma
certa “carnavalização” da consciência precede e prepara sempre as grandes
transformações, mesmo no domínio científico (BAKHTIN, 1996, p. 43).
Gombrich (2001), restaurando a trajetória da caricatura na história da arte, lembra que este
tipo de representação gráfica tomou um sentido mais específico a partir da Idade Média, o
qual ia além de um mero aspecto do cômico. A caricatura, naquele momento, também estava
associada ao negativo, ao sombrio e ao demoníaco. Assim, nos parece razoável afirmar que
um artista gráfico, como um ilustrador de romances ou um desenhista de histórias em
quadrinhos, ao conceber o vilão, geralmente considera traços ligados à maldade e à
negatividade com uma relação direta a um tipo de representação visual que se dê através de
uma estruturação de qualidade caricatural.
Nas hq’s em geral, e também em determinados tipos de filmes, a narrativa é regida pela
trajetória do herói. Os vilões encontram-se dentro de uma regra de estereotipia na qual o
conceito de anormalidade física, feito através da representação da imagem, é bastante
evidente. Portanto, o vilão, na sua condição de ser imperfeito, apresenta-se perante o herói
com alguns tipos de deformidade, configurados, por exemplo, por meio da desproporção
corporal ou da baixa estatura (o Pingüim para o Batman, ou o Toupeira para o Homem-
Aranha), deformidades físicas como cicatrizes, principalmente aquelas encontradas nas faces,
o que, por conseqüência, os leva a esconder o seu rosto devido à vergonha proporcionada
pelas seqüelas (como o Darth Vader em Guerra nas Estrelas ou o Doutor Destino em o
Quarteto Fantástico).
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Nas comics, os vilões possuem características morfológicas ligadas ao grotesco e ao bizarro, e
isto se tornava mais evidente em determinados períodos em que este tipo de representação era
mais conveniente no intuito de servir a uma certa ideologia, como foi o caso de diversas
histórias em quadrinhos produzidas durante a Segunda Guerra Mundial. Heróis como o
Capitão América tinham sempre como inimigos os japoneses, os chineses e os alemães, e,
posteriormente, durante a guerra fria, os russos, assim como também, no período mais recente
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Sustentamos a idéia de que o vilão esconde seu rosto, na maioria das vezes, fundamentado mais por algum tipo
de deformação física do que por necessidade de possuir uma identidade secreta, como acontece com o herói.
Existem exceções no universo das hq’s, tais como o vilão Duende Verde, que aparece em diversas aventuras do
Homem-Aranha. No caso do Duende Verde, ele é levado a usar uma máscara por possuir uma outra identidade, a
do milionário e cientista Norman Osborn.