
razão para trabalhar e para serem miseráveis. Eis a lei inexorável da produção
capitalista.
Porque, ao prestarem atenção às insidiosas palavras dos economistas, os proletários se
entregaram de corpo e alma ao vício do trabalho, precipitam toda a sociedade numa
destas crises de superprodução que convulsionam o organismo social. Então, porque há
superabundância de mercadorias e penúria de compradores, as oficinas encerram e a
fome fustiga as populações operárias com o seu chicote com mil loros. Os proletários,
embrutecidos pelo dogma do trabalho, não compreendem que é o supertrabalho que
infligiram a si próprios durante o tempo da pretensa prosperidade a causa da sua miséria
presente, em vez de correrem ao celeiro de trigo e de gritarem: "Temos fome e
queremos comer!... Sim, não temos nem uma moeda, mas, pobres como estamos, fomos
nós quem ceifou o trigo e vindimou a uva... " - Em vez de cercarem os armazéns do Sr.
Bonnet de Jujureux, o inventor dos conventos industriais, e de clamar: "Sr. Bonnet, aqui
estão as vossas operárias ovalistas
(6), moulineuses (7), fiandeiras, tecedeiras, elas
tremem de frio nos seus tecidos de algodão passajados de modo a condoer os olhos de
um judeu e, no entanto, foram elas que fiaram e teceram os vestidos de seda das cocotes
de toda a cristandade. As desgraçadas, trabalhando treze horas por dia, não tinham
tempo de pensar na "toilette", agora, elas estão desempregadas e podem ostentar um
grande luxo com as sedas que trabalharam. Mal perderam os dentes de leite, dedicaram-
se à sua fortuna e viveram na abstinência; agora, elas têm tempos de lazer e querem
gozar um pouco dos frutos do seu trabalho. Vamos, Sr. Bonnet, entregue as suas sedas,
o Sr. Harmel fornecerá as suas musselinas, o Sr. Pouyer-Quertier os seus paninhos, o Sr.
Pinet as suas botinas para os seus queridos pezinhos frios e húmidos... Vestidas dos pés
à cabeça, dar-vos-á prazer contemplá-las. Vamos, nada de hesitações o Sr. é amigo da
humanidade, não é verdade? E cristão ainda por cima! Ponha à disposição das suas
operárias a fortuna que estas lhe construíram com a carne da sua carne. - É amigo do
comércio? - Facilite a circulação das mercadorias; eis consumido-res acabados de
encontrar; abra-lhes créditos ilimitados. É obrigado a fazê-lo a negociantes que não
conhece de parte nenhuma, que não lhe deram nada, nem sequer um copo de água. As
suas operarias pagarão como puderem: se, no dia do vencimento, elas fogem e deixam
protestar a letra, leva-las-á à falência e, se elas não tiverem nada para penhorar, exigirá
que elas lhe paguem em orações: elas enviá-lo-ão ao paraíso, melhor do que os seus
sacos negros com o nariz cheio de tabaco."
Em vez de se aproveitarem dos momentos de crise para uma distribuição geral de
produtos e uma manifestação universal de alegria, os operários, morrendo à fome, vão
bater com a cabeça contra as portas da oficina. Com rostos pálidos e macilentos, corpos
emagrecidos, discursos lamentáveis, assaltam os fabricantes: "Bom Sr. Chagot,
excelente Sr. Schneider, dêem-nos trabalho, não é a fome, mas a paixão do trabalho que
nos atormenta!" E esses miseráveis, que mal têm forças para se manterem de pé,
vendem doze e catorze horas de trabalho duas vezes mais barato do que quando tinham
trabalho durante um certo tempo. E os filantropos da indústria continuam a aproveitar as
crises de desemprego para fabricarem mais barato.
Se as crises industriais se seguem aos períodos de supertrabalho tão fatalmente como a
noite se segue ao dia, arrastando atrás de si o desemprego forçado, e a miséria sem
saída, também levam à bancarrota inexorável. Enquanto o fabricante tem crédito, solta a
rédea à raiva do trabalho, faz empréstimos, volta a fazer empréstimos para fornecer
matéria-prima aos operários. Tem de se produzir, sem refletir que o mercado se obstrui