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sua prisão (acontecida concomitante ao sucesso da revolução e à tiragem de uma edição de
A Classe Operária, jornal de divulgação do PCB, que criticava a Aliança Liberal), foi
conseguida por que um “traidor me vendeu, como nos tempos da escravidão, por seiscentos
mil-réis”. (BRANDÃO, 1993, p.42). Numa carta de Moscou, datada de 1931, Octávio
relata as etapas do seu forçado desterro.
Golpe fascista de 03 de outubro. Prisão. Vinte e sete horas em liberdade.
Ameaça de fuzilamento e prisão, por ter falado em comício contra a falsa
revolução dos liberais. Liberdade, vida semi-ilegal. Luta subterrânea. Prisão. E
finalmente da prisão diretamente para o exílio [...] a polícia política resolveu por
conta própria, que eu não poderia ficar mais no Brasil, apesar de ser brasileiro,
descendente de quatro gerações de brasileiros natos. Foi, portanto, com a maior
surpresa que, num dos cubículos da polícia central, recebi o comunicado do 4
o
delegado que teria de embarcar para Europa com a família. Respondi que não
queria sair do Brasil. Então foi cientificado que embarcaria de qualquer forma.
Vendo que a polícia queria mesmo deportar-me do país natal, propus,
sucessivamente, ir para um engenho de Alagoas [terra nata de Octávio - nota do
autor], para qualquer parte do Brasil, para o Uruguai, para qualquer país da
América Latina. Em vão [...] a polícia irredutível, obrigou-me a escolher o país
da deportação. Optei pela Alemanha. Por ser solidária na luta, a companheira
[Laura Brandão, sua esposa - nota do autor] também seria deportada. E
igualmente expulsas como indesejáveis, também seriam nossas três filhas, três
crianças a maior das quais tem nove anos.
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É importante ratificar que o 4
o
delegado da polícia carioca, cargo
correspondente à chefia do DEOPS/RJ, era ocupado então pelo delegado Salgado Filho,
que conforme fora dito anteriormente, seria o futuro Ministro do Trabalho. E, a pedido do
delegado, o governo brasileiro requereu ao governo alemão a negação do pedido de
solicitação de permanência efetuado por Octávio Brandão. “Só pude ficar dois dias e três
Para aquela eleição, o PCB havia criado o Bloco Operário (BO). A estratégia de utilizar-se das eleições para
promover a agitação e ampliar as bases do partido, estendendo também o leque de alianças com outros setores
da sociedade, foi ratificada com a criação do Bloco Operário Camponês (BOC), em 1928, para concorrer às
eleições de 1929. A criação do BOC afirmava a diretriz de alianças com outros setores democráticos como
estratégia de luta política. A eleição de Minervino de Oliveira e Octávio Brandão para os cargos de
intendentes municipais no Distrito Federal confirma o relativo sucesso da empreitada no Rio de Janeiro.
Aliás, o governo federal e a polícia fizeram de tudo para impedir a posse dos dois candidatos eleitos. Segundo
Octávio Brandão, a posse só foi possível porque o prefeito do DF, cargo ocupado por Prado Jr., “quebrou
lanças” em favor do reconhecimento e posse dos candidatos. Segundo o próprio Octávio, disse o prefeito:
“esses dois eu sei que nunca virão aqui me pedir favores, mas com os outros eu estou até aqui...”(BRANDÃO,
1993, p.33). O sucesso do BOC do Rio não foi acompanhado pelo sucesso do BOC em São Paulo. “Afora
algumas intervenções pontuais no movimento sindical, o BOC pautou-se pela quase inoperância em terras
paulistas” (CAMPOS, 2000, p.68). A estratégia prevista pela formação do BOC seria desautorizada pelo
Komintern a partir da proletarização do partido e ascensão da política obreirista, que caracterizou a política do
PCB nos anos iniciais da Era Vargas.
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Prontuário DEOPS/SP n. 358 de Octávio Brandão.
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