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dividir [num primeiro momento – por sugestão de Ferreira – a entrevista iria ser feita com Ferreira e
Caringi ao mesmo tempo] porque se ele quiser vir até aqui ele marca com você, você vai adorar, ele
está cada vez mais maluco, engraçadíssimo. Ele me recebeu e, e a rádio, você não tem idéia o que era
audiência da rádio, você não tinha televisão, ninguém transmitia, era uma coisa precária, nós
transmitíamos o desfile, naquela época não tinha a força das escolas de samba, existiam eram os
desfiles das Sociedades (?) frevo, rancho .... [telefone toca de novo]. Eu fui destacado pro posto do
juizado de menores que era um posto onde o Juiz de Menor e seus comissários, ali aonde é o Globo
hoje [atende o telefone]. Então, esse posto o titular era o Paulo Caringi, a grande estrela da rádio, em
termos de radiojornalismo, era um repórter chamado Saulo Gomes, inegavelmente brilhante repórter,
que eu procurava copiá-lo. Ele era instigante, ele era inteligente, depois até virou produtor de
televisão, dessa barbaridade que tem na televisão, tinha uma boa, uma boa oratória e todos os assuntos
que pudessem ter uma certa relevância ele era a estrela. Palut não era, eu nunca vi no Palut um
organizador da equipe, eu via no Palut um rep..., um, um coordenador de debate, de entrevista, e um
bom locutor, ele era o comandante, ele sabia comandar, ele tinha uma, ele sabia descrever a escola de
samba, os, os, ele comandava, você imagina, transmitia meia hora e depois no carnaval, isso no caso
do carnaval ou nos grandes incêndios, eu peguei um incêndio do edifício Astória
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eu tenho uma foto
aqui até hoje, que é, o cara se jogou lá de cima e bateu no chão, eu transmitindo a queda do indivíduo,
corri porque senão o corpo me atingia, eu tenho essa foto, no livro eu narro bem isso. Isso eu me
lembro eram 9 e meia da manhã, eu cheguei, eu era um apaixonado, vivia nisso. Eu trabalhava na
Propaganda de venda de laboratório e rádio, então tava ligado, eu passei a ser um faz tudo na rádio, eu
sabia operador, eu era locutor da rádio, eu conto aí, aí como é que eu começo? O maior sucesso que eu
fiz, o maior sucesso não, pra mim foi, eu fui considerado uma revelação desse carnaval porque eu, eu
junto com o Caringi, o Caringi me deu o microfone pra mim falar, por isso eu tenho um carinho muito
grande por ele, aí eu entrevistava o Juiz, inventava menor que sumia, aí descobria os menores, foram
quatro dias, e eu tinha uma hora depois eu passava pro Caringi que ele chegava às seis horas pro
horário nobre (risos) e aí eu ficava sem fazer nada, e eu pedia pra ser destacado para fazer baile e aí lá
ia eu pro Municipal entrevistar as misses, as campeãs das fantasias e tal. Imagina que eu me lembro
que a gente, a gente, no caso do desfile, o máximo do repórter atrevido era subir no carro e no
palanque onde estava o destaque da, da, da sociedade pra entrevistar o destaque da sociedade, como
também uma vez, eu quase fui preso porque eu entrei, quando anunciou a miss Brasil, vou te dizer a
data, meu filho nasceu de oito meses por causa disso, minha mulher estava grávida, eu estava no
maracanã zinho e a a a aí hoje ela parece uma bruxa de tão feia, a Adalgiza Correia, linda, eu
precisava, repórter, tava lá a Tupi, tava lá a Guanabara, ganhava a parada o repórter que entrevistasse a
miss primeiro, aí eu entrei, entrei dentro, me atraquei com a miss, a polícia me pegou e a minha mulher
tava assistindo, ali já tinha a televisão, tava começando a Tupi e o negócio era da Tupi, você imagina,
Isabel assustou com aquilo, passou mal e nasceu meu filho mais velho. Isso tem quarenta, nasceu em
sessenta, foi nessa época, julho, então essa era, por exemplo, o grande acontecimento, o grande
desastre que teve em Mangueira, o Saulo Gomes tava lá, onde o Guilherme Romano que morreu
recentemente, foi secretario da saúde, foi um cara importante na política depois se revelou secretario
da saúde, foi presidente da Cofap, foi um homem de confiança do governo Castelo Branco, filho (?)
até hoje a família tá brigada. Ele, mais de 30 pessoas mortas na colisão de um trem, ele não
pestanejou, pegou a mão com sangue e passou na roupa branca pra sair na foto cheio de sangue,
Guilherme Romano, inteligência, ficou rico, então, por isso eu me lembro que eu fui atrás de um
delegado Perpétuo num morro, eu fui atrás de um bandido famoso, na época, eu me esqueço o nome,
no livro deve ter, eu consegui entrevistar esse bandido, foi uma consagração como repórter. Dentro
dessa transição rádio e televisão Continental que depois nós fomos aproveitar, depois eu acabei
fazendo uma série de reportagem contra a indústria de sangue humano, contrabando de sangue
humano pra virar gamaglobulina pra ir pra Dimenstein, como também fiz uma série de reportagem, aí
eu já, o meu destaque na rádio como repórter, e depois junto com a televisão, aí eu ganhei uma outra
dimensão, aí eu fui, você vê como ela projetava, o Flávio Cavalcanti me convidou pra mim ser o
principal repórter dele em Noite de Gala, você imagina? Eu ganhei uma outra dimensão como
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Dados do “Banco de Dados Folha – Almanaque Cotidiano” informa: 28.jun.1962 — Incêndio no Edifício
Astória, no centro do Rio de Janeiro (RJ), mata quatro pessoas. Disponível em
http://www1.folha.uol.com.br/folha/almanaque/cotidiano60.htm acesso em 19 de setembro de 2005