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MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
1
MULHERES NO TOPO DE CARREIRA
FLEXIBILIDADE E PERSISTÊNCIA
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MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
TÂNIA M. FONTENELE-MOURÃO
2 3
MULHERES NO TOPO DE CARREIRA
FLEXIBILIDADE E PERSISTÊNCIA
Tânia M. Fontenele-Mourão
Brasília
2006
LL
LL
L
UIZUIZ
UIZUIZ
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I I
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PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
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SECRETARIA ESPECIAL DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES
Secretaria Especial de
Políticas para as Mulheres
MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
TÂNIA M. FONTENELE-MOURÃO
4 5
MULHERES NO TOPO DE CARREIRA
FLEXIBILIDADE E PERSISTÊNCIA
c 2006 - Tânia M. Fontenele-Mourão
Direitos para esta edição: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres
É permitida a reprodução parcial ou total, desde que citada a fonte.
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Informações
Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres
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70047-900 - Brasília - DF
telefones: (61) 2104-9377 e 2104-9381
fax: (61) 2104-9362 e 2104-9355
http://www.presidencia.gov.br/spmulheres
Coordenação EditorialCoordenação Editorial
Coordenação EditorialCoordenação Editorial
Coordenação Editorial
Heloisa Frossard
CapaCapa
CapaCapa
Capa
Ana Carla Gualberto Cardoso (ilustração)
Isabela Araújo (projeto gráfico)
RevisãoRevisão
RevisãoRevisão
Revisão
Luana Nery Moraes
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Brasil. Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres
Fontenele-Mourão, Tânia M.
Mulheres no topo de carreira : flexibilidade e persistência – Brasília:
Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, 2006. 92p.
1. Participação das mulheres no mundo do trabalho. 2. Representações
sociais acerca do gerenciamento feminino.
I. Brasil. Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. II. Título.
CDU 331:396.5:331.108.4
MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
TÂNIA M. FONTENELE-MOURÃO
6 7
SS
SS
S
UMÁRIOUMÁRIO
UMÁRIOUMÁRIO
UMÁRIO
INTRODUÇÃO, 11
P
ARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NO MUNDO DO TRABALHO, 17
HERANÇA SOCIAL MILENAR DE DISCRIMINAÇÃO E EXCLUSÃO, 20
N
OVA FIGURA: “A TRABALHADORA”, 22
F
EMINISMO E A CONDIÇÃO FEMININA NO TRABALHO, 25
T
RANSFORMAÇÃO NO UNIVERSO DO TRABALHO FEMININO, 29
C
ARGOS COMISSIONADOS NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, 33
A
TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS, 34
A
BORDAGEM PSICOSSOCIAL DO G ERENCIAMENTO FEMININO , 34
A
BORDAGEM ESTRUTURAL: TEORIA DO N ÚCLEO C ENTRAL, 36
R
EPRESENTAÇÕES SOCIAIS E O GERENCIAMRENTO FEMININO, 38
ESTUDO 1: ESTUDO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS ACERCA DO GERENCIAMENTO FEMININO
ELABORADO
PELAS MULHERES GERENTES QUE OCUPAM CARGOS DE ALTA HIERARQUIA NA
ADMINISTRAÇÃO P ÚBLICA, 41
PARTICIPANTES, 41
I
NSTRUMENTO, 42
P
ROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS, 42
P
ROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS, 43
RESULTADOS E DISCUSSÃO, 44
ANÁLISE DO CONTEÚDO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO GERENCIAMENTO FEMININO
ELABORADO
PELAS MULHERES GERENTES, 44
E
IXO HISTÓRIA PESSOAL - CLASSE 1: O INÍCIO, 46
MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
TÂNIA M. FONTENELE-MOURÃO
8 9
Não se corre um risco desmedido ao afirmar que no futuro as mulheres ocuparão
em maior número, postos de alto nível de responsabilidade. A situação presente é
marcada por tal defasagem entre as qualificações das mulheres e sua posição
hierárquica que a pressão para o topo é quase inevitável. Mas isso não diz nada
sobre a amplitude desse fenômeno. Deve-se esperar um avanço maciço, regular e
capaz de abalar a supremacia masculina ou um progresso, afinal, limitado?
(Lipovetsky, 2000.
A terceira mulher
)
EIXO PERDAS E GANHOS
CLASSES 2, 5 E 3: COMPETÊNCIAS E CARACTERÍSTICAS;
S
ACRIFÍCIOS PESSOAIS E FORMAS FEMININAS DE GERENCIAR, 48
E
IXO PERDAS E GANHOS
CLASSE 5: SACRIFÍCIOS PESSOAIS, 50
E
IXO PERDAS E GANHOS
CLASSE 3: FORMAS FEMININAS DE GERENCIAR, 53
E
IXO R ELAÇÕES DE PODER
CLASSES 4 E 6: APRENDIZADO E TRAJETÓRIA DE SUCESSO, 55
E
IXO RELAÇÕES DE PODER
CLASSE 4: APRENDIZADO, 56
E
IXO RELAÇÕES DE PODER
CLASSE 6: TRAJETÓRIA DE SUCESSO , 58
D
ISCUSSÃO, 60
ESTUDO 2: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS ACERCA DO GERENCIAMENTO FEMININO CONSTRUÍDAS PELAS
EQUIPES
DAS MULHERES GERENTES SOBRE O GERENCIAMENTO FEMININO, 63
PARTICIPANTES, 63
I
NSTRUMENTO, 65
P
ROCEDIMENTOS DE COLETA, 66
P
ROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS, 66
RESULTADOS E DISCUSSÃO, 69
ANÁLISE DE EVOCAÇÃO, 69
A
NÁLISE DAS PALAVRAS PRINCIPAIS, 73
A
NÁLISE DE SIMILITUDE, 78
D
ISCUSSÃO, 79
CONSIDERAÇÕES FINAIS, 81
R
EFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS, 85
A
AUTORA, 91
MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
TÂNIA M. FONTENELE-MOURÃO
10 11
II
II
I
NTRODUÇÃONTRODUÇÃO
NTRODUÇÃONTRODUÇÃO
NTRODUÇÃO
Acho que nós, mulheres, temos que ter muito cuidado para
não sermos queimadas, não sermos degoladas no meio do
caminho. Porque não somos nós que estamos no poder. Então,
se a gente enfrentar as coisas sem estratégia, a gente morre na
praia. É com a cabeça, lutando de forma feminina, e por um
lugar feminino, que chegaremos lá.
(Marina Lima, 1997.
Mulher e trabalho
)
A
investigação das representações sociais do gerenciamento feminino a partir do
ponto de vista das mulheres gerentes da Administração Pública que conseguem
chegar aos postos de alta hierarquia e de suas equipes, considerando que tais
postos são ocupados, majoritariamente, por homens é o foco deste trabalho. A
pesquisa, decorrente deste objetivo, foi realizada em Brasília, junto a um grupo de
funcionárias públicas ocupantes de cargos de topo de carreira e suas respectivas
equipes, compostas por homens e mulheres, que foram indagadas sobre o significado
do gerenciamento feminino. A execução e a interpretação desta tarefa teve, como
referência teórica principal a Teoria das Representações Sociais, elaborada por
Moscovici
(1978; 1981; 1988), além de textos referentes a gênero e ao mundo do
trabalho feminino.
As mulheres representam 41,4% da população economicamente ativa
(PEA) urbana
no Brasil
(OIT, 2002). Tal inserção vem gerando mudanças nas relações sociais de
gênero e nas organizações, como observa Lipovetsky
(2000). Porém, mesmo que as
mulheres tenham expressiva participação no mercado de trabalho, sejam maioria
nas instituições públicas brasileiras e apresentem escolaridade superior à dos homens
(ENAP, 1998), ainda são raras as mulheres em altos postos de comando na Administração
Pública.
MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
TÂNIA M. FONTENELE-MOURÃO
12 13
dificuldades e descobertas com outras mulheres que lutam e progridem passo a
passo na estrutura organizacional, muitas vezes, rígida que é a organização pública.
Apesar da diversidade de opiniões, alguns pontos convergiam em todos os grupos: a
necessidade de externar a indignação contra os “machismos” no âmbito do trabalho,
tanto de homens como de mulheres, mesmo que de forma velada e não assumida
como tal.
Nesses treinamentos tivemos oportunidade de discutir questões trazidas pelas
mulheres e que as inquietavam:
. preconceitos em relação às mulheres gerentes;
. dificuldade na administração do tempo entre família e trabalho;
. defasagem salarial;
. “matar um leão” todos os dias para comprovar competência profissional, já
que o fato de ser mulher implicava transpor maiores barreiras;
. ser “machona” para mostrar autoridade ou não demonstrar sentimentos;
. percepção generalizada de que as mulheres que adotam comportamentos
dominantes são mais apreciadas pela organização do que aquelas que agem
com delicadeza e gentileza;
. questões ligadas à discriminação racial e de gênero;
. percepção de que os tradicionais modelos de gerenciamento masculinos
ainda são predominantes;
. percepção da emergência de novos paradigmas de gestão que preconizem
um estilo de maior humanização das estruturas organizacionais ou, como é
chamado por alguns autores, “feminização gerencial” significando: atenção
ao outro, intuição, empatia, flexibilidade, cooperação grupal, que são
qualidades tradicionalmente atribuídas às mulheres.
Finalmente, elas perguntavam:
Considerando a reorientação das habilidades de gerenciamento e o aumento do
número de mulheres em posições gerenciais, as mulheres agora podem exercer suas
funções como mulheres, sem ter que imitar os homens?
As mulheres estão tendo oportunidade de contribuir para as mudanças
organizacionais desenvolvendo práticas mais sensíveis e ligadas aos valores
humanos?
Diagnóstico realizado pela ENAP – Escola Nacional de Administração Pública
(1998)
aponta que o número de mulheres em postos de gerência é inversamente proporcional
ao nível decisório associado a estes postos. Isto significa que, quanto mais alto o DAS
(Cargo de Direção de Assessoramento Superior), menor a quantidade de mulheres nos
postos gerenciais. Observa-se que as mulheres ocupavam, em 2004, um percentual
ainda reduzido nos postos de comando, cerca de 19,3% ocupantes de DAS 6 – o posto
mais alto dos cargos de confiança. Este cargo corresponde ao de maior colocação
hierárquica na Administração Pública, função reservada aos presidentes e diretores
gerais destas organizações.
Após essa constatação, iniciou-se em 1999, no governo federal, uma política de
inclusão e de estímulos para que as mulheres participassem mais ativamente nas
instituições públicas e ocupassem postos gerenciais. Na ENAP teve início um
programa de capacitação voltado exclusivamente para mulheres, visando promover
o aprimoramento da capacidade gerencial e comportamental destas profissionais e
favorecer a sua ascensão na organização pública. Buscou-se com esse programa
minorar a baixa participação feminina (13%) em 1998 nos postos de alta hierarquia.
Tive a satisfação de participar da equipe gestora do projeto “Mulheres Gerentes no
Serviço Público”, bem como de conduzir os treinamentos para as mulheres gerentes
provenientes de vários estados brasileiros.
Como pré-requisito para participar dos treinamentos, era exigido que elas estivessem
ocupando cargo gerencial, no mínimo DAS 1 (Cargo de Direção de Assessoramento
Superior), correspondendo ao primeiro nível intermediário de gerenciamento na
estrutura organizacional da Administração Pública Federal.
Em geral, a formação dos grupos era heterogênea, com diferentes níveis de
escolaridade e de hierarquia, com profissionais vindas de todos os estados do Brasil,
proporcionando um rico intercâmbio de percepções sócio-culturais. Tivemos poucas
turmas “fechadas”, exclusivas para servidoras de um único órgão público.
Invariavelmente, no início dos treinamentos, os grupos de mulheres mostravam-se
reservados e com a postura de “mais ouvir” do que “falar”. Porém, em poucos dias
nossos encontros transformavam-se em palco de trocas de sentimentos e
experiências vividas. Quantas gargalhadas e lágrimas foram liberadas nestes
encontros. Percebia-se o sentimento comum de finalmente poder compartilhar as
MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
TÂNIA M. FONTENELE-MOURÃO
14 15
Podemos perceber uma “feminização” dos contextos organizacionais ou há ainda
uma hegemonia do modelo masculino, a partir das representações sociais das
gerentes e suas equipes?
Essas indagações constituíram o ponto de partida para a elaboração deste trabalho.
Com o intuito de atingir os objetivos propostos dividimos a pesquisa em dois
momentos, no sentido de melhor delimitar o objeto de investigação. No primeiro –
Estudo 1 – levantamos a percepção acerca do gerenciamento feminino elaboradas
pelas mulheres gerentes que ocupam cargos de alta hierarquia na Administração
Pública. No Estudo 2, analisamos o conteúdo do gerenciamento feminino
construídos e partilhados pelas equipes que trabalham com as mulheres gerentes
em postos de comando. Objetivamos identificar, além do conteúdo de tais
representações, a organização interna no tocante ao seu sistema periférico e núcleo
central.
Para fundamentar nossos objetivos e justificar a importância de nossa pesquisa,
abordamos, na primeira parte do nosso trabalho, algumas questões relacionadas à
discussão sobre a participação das mulheres no mundo do trabalho, seu processo
de inserção sócio-histórico, às contribuições da Teoria das Representações Sociais –
TRS criada por Moscovici
(1978) e o enfoque da Abordagem Estrutural das
Representações Sociais de Jean-Claude Abric
(2001), conhecida como a Teoria do
Núcleo Central (TNC). Na segunda parte, descrevemos nossas pesquisas e discutimos
os resultados à luz do referencial psicossocial.
AA
AA
A
GRADECIMENTOSGRADECIMENTOS
GRADECIMENTOSGRADECIMENTOS
GRADECIMENTOS
Escrever esse livro foi possível graças à numerosas formas de apoio institucional e
individual, uma rede de mulheres e homens se formou para a sua concretização. Foi
também uma longa caminhada cuja dureza foi minimizada pela presença sempre
solidária e carinhosa dos familiares e amigos, com quem contraí imensas dívidas de
gratidão.
O CNPq e o PROCAD/CAPES forneceram bolsa de estudos durante o período de
2002-2004 apoiando intercâmbio acadêmico com núcleos de pesquisas no Brasil.
Os homens têm influenciado na maneira de gerenciar das mulheres?
O estilo gerencial das mulheres tem caminhado para um estilo de gestão híbrido
combinando o estilo feminino e masculino?
A partir dessa experiência, percebi um vasto campo a ser explorado, como tendo no
seu cerne muitas perguntas para serem respondidas. Um espaço para buscar algumas
possíveis “respostas” a esses questionamentos ou problematizá-los, lembrando
Butler (2003, p.07) quando afirma: “problemas são inevitáveis e nossa incumbência
é descobrir a melhor maneira de criá-los, a melhor maneira de tê-los”.
Algumas perguntas – e os caminhos para respondê-las – se fazem presentes:
Quais as representações sociais do gerenciamento feminino no serviço público
elaboradas pelas mulheres gerentes e por suas equipes?
Investigar as representações sociais de mulheres acerca do gerenciamento feminino
na Administração Pública como um caminho para a compreensão de como as
mulheres se relacionam com os cargos de comando.
Quais os obstáculos que elas percebem para atingir seus objetivos e desempenhar
suas funções gerenciais?
Investigar a percepção das equipes quanto ao fato de terem uma gerente mulher,
ocupando cargo de alta hierarquia, dado que majoritariamente esses cargos são
ocupados por homens.
Quais são as características profissionais das mulheres que chegam aos postos de
comando, segundo a percepção das gerentes e de suas equipes?
Quais as formas de poder e liderança adotadas pelas mulheres para se manterem nos
postos de alta hierarquia, segundo suas próprias percepções e de suas equipes?
O trabalho das mulheres gerentes contribui para a transformação das representações
sociais acerca da participação da mulher no âmbito público do trabalho?
MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
TÂNIA M. FONTENELE-MOURÃO
16 17
PP
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P
ARAR
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TICIPTICIP
TICIPTICIP
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AÇÃOAÇÃO
AÇÃOAÇÃO
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DD
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ASAS
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MULHERESMULHERES
MULHERESMULHERES
MULHERES
NONO
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MUNDOMUNDO
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MUNDO
DODO
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TRTR
TRTR
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ABALHOABALHO
ABALHOABALHO
ABALHO
Seria preciso dividir cada mulher em três: uma que corresse para o
trabalho, outra que tomasse providência para sua família, e uma terceira
que escapasse para a beira do lago assistindo quieta ao por do sol.
(Lya Luft, 1999. O Rio do Meio)
Em relação ao processo de redefinição do lugar e do papel da mulher na sociedade,
três fatores foram apontados por Castells
(1999):
1) entrada maciça das mulheres no mercado de trabalho remunerado, devido
o crescimento de uma economia informacional global;
2) uso da pílula anticoncepcional para o controle reprodutivo e
3) impulso poderoso promovido pelas mulheres e por um movimento
feminista multifacetado.
Estes fatores não excluem a existência de outros que estiveram presentes no processo
de transformações sociais, mas aparecem como de fundamental importância ao se
referirem aos papéis e às identidades sociais de gênero.
A participação feminina no mercado de trabalho tem aumentado de forma linear e
praticamente alheia às flutuações da atividade econômica. Seja em fases de recessão,
seja nos ciclos de expansão da economia, a taxa de atividade das mulheres, em
particular das cônjuges com filhos, tem crescido no Brasil nos últimos 20 anos. A
absorção de mão-de-obra feminina tem sido superior à masculina em todas as fases
recentes da economia brasileira
(Lavinas, 2001), sendo que a participação das mulheres
tem aumentado cerca de 15% por década
(Barros et al.,1999).
O Conselho Britânico proporcionou pesquisas no Civil Service College, em Ascot,
Norwich e Londres, sobre poder e liderança de mulheres na Administração Pública.
Agradeço especialmente Irene Taitson por todo suporte nestas viagens. A Secretaria
Especial de Políticas para as Mulheres, por viabilizar a publicação e a divulgação
desta pesquisa; meus agradecimentos especiais para a Ministra Nilcéa Freire, para
Ângela Fontes e para Heloisa Frossard, por todo empenho, apoio e estímulo.
Professora Ana Lúcia Galinkin da Universidade de Brasília com seu compromisso de
orientação durante o mestrado e sua disposição de repensar criticamente várias
etapas deste trabalho me desafiaram e inspiraram. Às professoras Ângela Almeida,
Gláucia Diniz, Zeidi de Araújo Trindade e aos professores, Cláudio Torres e Chistian
Guimelli que, em diferentes momentos deste percurso, se dispuseram à discutir
questões relativas ao tema, contribuindo ainda mais para o desenvolvimento do
trabalho. Agradeço o entusiasmo, desde o início deste projeto, da Selma Roller
Quintella na Diretoria de Gestão de Pessoal da Presidência da República no
fornecimento sempre eficiente de dados sobre o serviço público, bem como nas
tentativas de conseguir mulheres gerentes para a pesquisa. Meus agradecimentos
especiais às mulheres gerentes que entrevistei e as suas equipes, que estão
conseguindo romper pouco a pouco os “telhados de vidro” e que muito amavelmente
abriram espaço nas suas carregadas agendas.
Meus agradecimentos pelo convívio e sugestões dos colegas do LAPES – Laboratório
de Psicologia Escolar da Universidade de Brasília: Juliana Pacheco, Sandro Ribeiro,
Bernadete Moreira e Michelangela Madeira. Por último, mas não menos importante,
agradeço à Maria Inês Fontenele Mourão, minha mãe, por seu exemplo de luta como
mulher e pelo pioneirismo ao fundar nos idos dos anos 80 a primeira Associação de
Mulheres Profissionais de Negócios do Brasil. Sem dúvida, a origem destas reflexões
foi plantada enquanto eu era uma jovem “mascote”. Agradeço também ao meu pai,
Antonio de Lisboa Mourão, e irmãos por encorajar o projeto com humor e carinhosa
presença. Agradeço toda minha família pelo imenso incentivo, carinho e
compreensão dos momentos de ausências e de tensão, especialmente a Marcos
Magalhães, Clara e Pedro pelo apoio no começo, meio e fim. A todas e todos os
meus mais sinceros agradecimentos.
MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
TÂNIA M. FONTENELE-MOURÃO
18 19
Este enfoque explicaria o aumento de oportunidades de emprego mais que
proporcional para as mulheres
vis-à-vis
aos homens, em razão, sobretudo, das
características da atual divisão do trabalho por sexo: emprego em atividades de
tempo parcial atrairia prioritariamente as mulheres, pois permitiria compatibilizar
trabalho doméstico e trabalho remunerado; como mão-de-obra secundária, as
mulheres aceitariam salários inferiores, atendendo mais imediatamente à demanda
dos setores público e privado, até porque, em face do aumento do desemprego,
seriam provavelmente as primeiras a serem dispensadas, tendo baixo poder de
barganha. Em outras palavras, segundo Lavinas
(2001), existiria um
trade-off
entre
elevação da taxa de emprego feminina, ou “feminização” do emprego, e a
“precarização” das relações de trabalho, que explicariam vantagens comparativas
da mão-de-obra feminina sobre a masculina.
Esse movimento de “feminização” do emprego, segundo Lavinas
(2001), acaba sendo
interpretado como uma tendência inexorável, característica das sociedades
ocidentais, onde o mercado e individualização passam a ter centralidade sobre
outros fenômenos sociais, empurrando definitivamente as mulheres para o mercado
de trabalho. Razões não-econômicas, de natureza mais sociológica relacionada à
busca de autonomia e igualdade, às mudanças nos arranjos familiares, como o
crescimento das famílias mono parentais chefiadas por mulheres, muitas vezes
ganham mais relevo na explicação do fenômeno, cuja trajetória parece desenhar-se
no lastro da modernidade ocidental.
Duas outras questões correm paralelas à maior inserção da mulher no mercado de
trabalho. A despeito da legislação sobre a igualdade de salários, as diferenças entre
os salários de homens e mulheres têm sido significativas e persistentes. As mulheres
estão, ainda, sub-representadas em empregos com responsabilidade de comando e
que demandam maiores qualificações técnicas.
A idéia de que é mais caro contratar uma mulher do que um homem devido,
basicamente, aos custos indiretos associados à maternidade e ao cuidado infantil,
apesar de os seus salários serem em média inferiores, tem uma forte presença no
imaginário social e empresarial. Abramo
(2002) argumenta que esses supostos maiores
custos justificariam as desigualdades salariais que continuam existindo entre homens
e mulheres.
Ainda segundo Castells
(1999), a entrada maciça da mulher no mercado de trabalho
remunerado foi, em parte, possibilitada pelas transformações na estrutura da
economia e do trabalho, ou seja, a informatização, a integração em rede e a
globalização da economia, como também a segmentação da estrutura do mercado
de trabalho por gênero. Estes fatores possibilitaram o aumento da produtividade, o
controle gerencial e os lucros. A economia informacional permitiu o crescimento de
dois setores específicos: de serviços empresariais e o de serviços sociais, que vêm
empregando uma maior quantidade de mulheres e exigindo cada vez mais uma
maior especialização e um maior nível educacional.
Além do crescimento da taxa de atividade feminina, outra tendência diz respeito a
melhores chances das mulheres na disputa por postos de trabalho. De fato, desde
meados dos anos 80, a taxa anual de emprego das mulheres mostra-se mais elevada
que a masculina, levando a um forte aumento do sexo feminino entre os ocupados
(Linhares e Lavinas, 1997).
Muitas razões podem explicar esse comportamento mais favorável às mulheres do
que aos homens, no que se refere à expansão do seu nível de ocupação. Uma delas
decorre da amplitude do processo de reestruturação produtiva iniciada na década
de 90 e que afeta principalmente o emprego industrial, cuja redução “massiva” tem
rebatimentos negativos, incidindo mais sobre os homens do que sobre as mulheres,
pouco representadas no setor.
Outro fator a estimular a inserção produtiva das mulheres diz respeito à expansão da
economia de serviços. Entretanto, há de se considerar que esse fenômeno tem
pouco alterado o grau de “mixidade” intra-setorial, dado o perfil da segregação
ocupacional de gênero: no setor de serviços, as mulheres permanecem majoritárias
(mais de 70%) nas atividades de saúde e ensino (setor privado e público), na
administração pública e nos serviços pessoais, atividades moldadas pelo tradicional
lugar do feminino na esfera da reprodução
(Lavinas, Amaral e Barros, 2000).
Uma terceira dinâmica a fomentar o aumento do emprego feminino nos anos recentes
seria a maior flexibilização do mercado de trabalho e a “precarização” das relações
de trabalho, ou seja, ocupações em que ocorrem descontinuidades de tempo, menor
regulamentação das garantias de trabalho e seguridade social, formas de contrato
sem carteira assinada, diminuição dos níveis salariais, aumento das formas de trabalho
em domicílio e por conta própria e da informalidade em geral.
MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
TÂNIA M. FONTENELE-MOURÃO
20 21
ou “phísico”, sobre o funcionamento do corpo feminino, utilizado no século XVI,
dava caução ao discurso religioso na medida em que asseverava “cientificamente”
que a função natural da mulher era a procriação. Fora do manso território da
maternidade, no imaginário da época, alastrava-se a melancolia, vicejava a luxúria,
e por tudo isso a mulher estaria condenada à exclusão
(Del Priore, 1993). Na Renascença
o mito da mulher pura e perfeita reforçava a crença de que as mulheres deveriam
estar longe de todas as tentações, empurrando-as ainda mais para o espaço privado.
No Brasil Colônia, a condição feminina era marcada pelo caráter explorador da
empresa portuguesa no Brasil do século XVI ao XVIII. O modelo escravista de
exportação vincava as relações de gênero. Além dele, a tradição “androcêntrica” da
cultura ibérica e os objetivos da empreitada colonial estimulavam os homens –
padres, governantes, cientistas – a estabelecer um papel identificado com o esforço
da colonização para todas as mulheres indiscriminadamente. Adestrar a mulher fez
parte do processo “civilizatório”, como bem afirma Del Priore
(1993).
É importante destacar que além de parte do contingente feminino, a quem tanto o
Estado quanto a Igreja ultramarina se dirigiam recomendando que se casasse e
constituísse família, chegavam, também, homens pelo caminho da exploração ou da
escravização, acentuando, assim, nas suas desigualdades, as relações de gênero. Tais
diferenças foram importantes na constituição dos papéis femininos e serviram para a
fabricação de estereótipos bastante utilizados pela sociedade colonial e, mais tarde,
incorporados pela historiografia. As marcas desse penoso caminho feito de
preconceitos e estigmas sociais tanto se refletiam nas relações entre os sexos, quanto
acentuavam as diferenças entre as próprias mulheres
(Del Priore, 1993).
Os trabalhos considerados tipicamente femininos, segundo estudo de Zyllberberg-
Hocquard
(1987), abrangiam em geral os vários trabalhos com base em agulhas, como
costura, confecção de corpetes e bordados. Esses trabalhos foram responsáveis pela
maior parte das jornadas das mulheres no século XIX, o que demonstra a frágil fronteira,
nesta época, entre atividade doméstica e atividade produtiva. A costura marcou ainda
o próprio processo de formação das mulheres, uma vez que servia, ao mesmo tempo,
de meio de vida para as classes populares e como prática de aprendizagem profissional
e caminho para a socialização, além de atividade de lazer.
(Zyllberberg-Hocquard citado
por Gardey, 2003)
.
Entretanto, ainda segundo a autora, pesquisa realizada em 2002 pela OIT em cinco
países da América Latina mostra que os custos indiretos associados à maternidade e
ao cuidado infantil são muito reduzidos: eles representam menos de 2% da
remuneração bruta mensal das mulheres. No caso do Brasil, representam 1,2%.
Esses baixos custos podem ser explicados, em primeiro lugar, por uma baixa
incidência, entre as trabalhadoras assalariadas, das licenças-maternidade e de outros
benefícios a elas associados, como as creches e o direito a interromper a jornada de
trabalho para amamentação. Em segundo lugar, fundamentalmente pelo sistema de
financiamento dos benefícios médicos (atenção à gravidez e ao parto) e monetários
(salário-maternidade).
As justificativas apresentadas para explicar a menor remuneração das mulheres no
mercado de trabalho, portanto, não se sustentam diante das evidências estatísticas,
sugerindo outras causas para esta discriminação.
HH
HH
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ERANÇAERANÇA
ERANÇAERANÇA
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SOCIALSOCIAL
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SOCIAL
MILENARMILENAR
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DISCRIMINAÇÃODISCRIMINAÇÃO
DISCRIMINAÇÃODISCRIMINAÇÃO
DISCRIMINAÇÃO
EE
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E
EXCLUSÃOEXCLUSÃO
EXCLUSÃOEXCLUSÃO
EXCLUSÃO
Nos depoimentos dos participantes dos treinamentos na Escola Nacional de
Administração Pública - ENAP -, ouvia comentários de que “trabalhar com mulher é
muito difícil”, “as mulheres são muito exigentes” ou “que não dão chances para
outros, sendo muito mais competitivas do que os homens”. Ou então, que “elas não
estão preparadas para exercer bem um cargo de chefia” por serem “fracas, fáceis de
manipular e muito sensíveis”.Pode-se creditar esta visão acerca da mulher a uma
representação social herdada de uma cultura secular de discriminação e segregação
das mulheres do âmbito público. Del Priore
(1993), nos seus estudos sobre as mulheres
brasileiras no século XVI e XVII, revela o universo das mentalidades e das sensibilidades
femininas e da sociedade desde o início da colonização até o período que precedeu
a Independência, onde mostra dados associados à dominação e à opressão da
mulher. Neles, a mulher é vítima constante da dor, do sofrimento, da solidão, da
humilhação e da exploração física, emocional e sexual. Mas, também, senhora de
discretos poderes, reagindo e resistindo a essas situações.
A história nos mostra o processo de exclusão das mulheres do espaço público, em
diferentes momentos históricos na Europa. Na Grécia Antiga, as mulheres eram
condenadas à morte caso fossem vistas assistindo aos Jogos Olímpicos. Na Idade
Média, as mulheres eram facilmente condenadas à fogueira por pensarem diferente
ou mesmo por tentarem curar algum filho ou parente. O discurso normativo médico,
MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
TÂNIA M. FONTENELE-MOURÃO
22 23
do século, a taxa de atividades das mulheres passou, em cem anos, de 29% para 36%
às vésperas da Primeira Guerra Mundial
(Tilly & Scott,1987).
Por um lado, o trabalho das mulheres na fábrica foi associado à licença sexual e à
degenerescência da família, e considerado degradante, contrário à vocação natural
das mulheres. Para a burguesia, o “assalariamento” feminino causava horror e era
visto como um sinal de pobreza. Porém, na classe operária não se considerava desonroso
que uma moça contribuísse para aumentar os recursos da família. Mas o trabalho da
mulher casada tinha um estatuto subalterno, considerado que era como uma atividade
de complementação que não devia pôr em questão o papel fundamental de mãe e
esposa. Prevalecia a idéia de uma contradição entre feminilidade e trabalho,
maternidade e “assalariamento”
(Scott, 1990 citado por Lipovetsky, 2000).
Os primeiros estudos de Tilly e Scott
(1987) destacaram a variedade de formas pelas
quais as mulheres conciliavam encargos de família ou domésticos com o tipo de
envolvimento em um trabalho “produtivo”, não só ao longo da história, mas também
ao longo de sua vida de mulheres. A redefinição ocorrida na condição feminina, no
período pós-guerra, talvez tenha sido uma das mudanças mais generalizadas e
permanentes nos países ocidentais no século XX. Essa redefinição, que no Brasil
alcançou especial expressão ao longo da década de 1970, se manifestou na expansão
da atividade feminina, sobretudo entre as mulheres casadas
(Oliveira, 1997).
O aumento da atividade feminina se reflete também no acesso, cada vez mais
pronunciado, das mulheres às funções mais qualificadas e de maior prestígio da
estrutura ocupacional. Isso se tornou possível, em parte, devido ao crescimento dos
níveis de escolaridade feminina que se igualaram, ou mesmo superaram, os da
população masculina. Houve também ganhos importantes na legislação, em especial
quanto à busca da igualdade de oportunidades no acesso ao trabalho e com relação
ao combate das formas de discriminação, tanto abertas como veladas, no mercado
de trabalho
(Oliveira, 1997).
Avanços alcançados nas últimas décadas, desde os movimentos das sufragistas, dos
movimentos feministas e outros processos de inclusão social, ainda não foram
suficientes para a eliminação de traços marcantes do sistema patriarcal que por
tanto tempo dominou a mentalidade de nossa sociedade ocidental. Entendemos
que tais desigualdades se manifestam de formas diversas em diferentes contextos
A historiografia a respeito do trabalho feminino, ainda segundo Gardey, agora citando
Louis
(1994), analisou a questão do envolvimento do corpo das mulheres no trabalho.
Para uma mulher do século XIX, o ato de trabalhar está freqüentemente associado à
venda ou ao aluguel de seu corpo. Exemplos disto seriam as amas-de-leite, as
prostitutas e as domésticas, muitas vezes vítimas fáceis de abusos sexuais. As atividades
dessas mulheres, longe de serem marginais, poderiam ser consideradas engrenagens
essenciais do funcionamento global do mundo social.
Com o advento da Revolução Industrial ocorreu a passagem de um modo de produção
rural e industrial centrado na família, de uma sociedade caracterizada pela auto-
produção, marcada pela separação entre espaço produtivo e o espaço doméstico, a
generalização do regime assalariado, a invenção da fábrica e a emergência da sociedade
de consumo.
NN
NN
N
OO
OO
O
VV
VV
V
AA
AA
A
FIGURFIGUR
FIGURFIGUR
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AA
AA
A
: “: “
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TR
ABALHADORABALHADOR
ABALHADORABALHADOR
ABALHADOR
AA
AA
A
A criação da figura da “trabalhadora”, pela economia política, foi destacada por Scott
(1987), como sinal da profunda transformação da posição das mulheres na sociedade.
A autora aponta a contradição entre a imagem idealizada de mulher, então compatível
com as tarefas familiares e domésticas, e põe em evidência a oposição que se instaura
nos discursos e nas opiniões entre o quadro ideal ou idealizado da atividade feminina,
se exercendo sem contradição com as tarefas familiares e domésticas, e o quadro
insustentável, para os contemporâneos, do espaço da fábrica que era tido como
contrário à “natureza” das mulheres. É necessário ressaltar aqui que trabalhar em casa
não era garantia de disponibilidade para cuidar das crianças ou dos afazeres domésticos
– que se pense no trabalho incessante das camponesas ou na extrema precariedade
da remuneração dos trabalhos de agulha, obrigando geralmente a oito ou nove horas
de trabalho contínuo. Sabe-se, em particular pelos trabalhos de Knibiehler e Fouquet
(1980), que a exigência de cuidar das crianças é uma preocupação recente e que o
discurso médico sobre a educação das crianças coincide com a invenção, por parte
das elites, no decorrer da segunda metade do século XIX, da mulher do lar.
É a partir do século XIX que o processo de industrialização favoreceu a extensão do
trabalho feminino assalariado. Para um número crescente de mulheres trabalhar tornou-
se sinônimo de ganhar salário, seja como operária, seja como doméstica. Na Inglaterra,
em 1851, 40% das mulheres que trabalhavam eram domésticas. Na França, ao longo
MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
TÂNIA M. FONTENELE-MOURÃO
24 25
aumentando o seu poder de barganha
vis-à-vis
ao homem, abalando a legitimidade
da dominação deste em sua condição de provedor da família. Mas, por outro lado,
colocou um peso sobre os ombros das mulheres com suas múltiplas jornadas diárias
(trabalho remunerado, organização do lar, criação dos filhos e a jornada noturna em
benefício do marido).
Cabe ressaltar, conforme Todaro, Godoy e Abramo
(2002), que as imagens de gênero
sobre homens e mulheres no trabalho também são elementos poderosos no processo
de reprodução das desigualdades que continuam sendo observadas e vivenciadas
pelas mulheres trabalhadoras. Os preconceitos relativos aos homens e mulheres no
trabalho, que em geral desvalorizam a mulher como trabalhadora, continuam tendo
forte permanência, a despeito das significativas mudanças que vêm ocorrendo na
realidade. Eles projetam uma imagem de mulher como fundamentalmente ligada à
vida familiar e doméstica, o que limitaria a sua adequada inserção e desempenho
profissional.
Os preconceitos não se aplicam, indiscriminadamente, a todas as situações e a
todos os setores da sociedade. Existem nuances regionais e culturais quanto às
percepções do papel da mulher no mundo do trabalho. Mesmo assim, ainda persiste
um quadro geral onde a inferioridade feminina pode ser verificada tanto no mercado
de trabalho do setor privado quanto no setor público.
FF
FF
F
EMINISMOEMINISMO
EMINISMOEMINISMO
EMINISMO
EE
EE
E
AA
AA
A
CONDIÇÃOCONDIÇÃO
CONDIÇÃOCONDIÇÃO
CONDIÇÃO
FEMININAFEMININA
FEMININAFEMININA
FEMININA
NONO
NONO
NO
TRABALHOTRABALHO
TRABALHOTRABALHO
TRABALHO
A importância dos movimentos feministas, segundo Hall (1999), deve-se ao fato de
eles terem problematizado a clássica distinção entre o público e o privado, e
contestado politicamente outras arenas da vida social, tais como a família, a
sexualidade, o trabalho doméstico, a divisão doméstica do trabalho e o cuidado das
crianças. Esses movimentos politizaram a subjetividade, a identidade e o processo
de identificação como homens/mulheres, mães/pais, filhos/filhas. E questionaram a
noção de que homens e mulheres faziam parte da mesma identidade, substituindo-
a pela questão da diferenciação sexual.
A emergência do feminismo como movimento social, como lembram Costa, Barroso
e Sarti
(1985), criou ainda as condições necessárias para a legitimação da condição
feminina como objeto de estudo. Segundo as autoras, a existência do movimento
sócio-culturais, locais e regionais e suscitam, por parte de mulheres e homens,
diferentes reações, resistências e estratégias.
Vejamos o exemplo da executiva mineira Maria José Marinha, hoje com 63 anos,
que resolveu trabalhar fora
(Veja 1995, nº 41). Em Sete Lagoas, cidade onde ela morava
a 70 quilômetros de Belo Horizonte, a idéia causou tamanho escândalo que seu
marido exigiu que tivesse uma autorização registrada em cartório. Foi assim, de
posse de uma exótica “escritura de autorização marital”, que em 1965 Maria José fez
um empréstimo e alugou uma salinha na qual abriu um curso de ioga. O negócio
prosperou e três décadas depois ela é proprietária de duas famosas academias de
ginástica em Belo Horizonte, com 1.500 alunos matriculados.
Junto com o próprio dinheiro, veio uma consciência mais clara de sua situação
dentro de casa. Ela afirmou que se sentia tão infeliz e tão impotente diante do
marido que foi capaz de tomar uma superdose de comprimidos que quase a deixou
em coma – mas sentia-se incapaz de encarar uma separação. De uma amiga, ouviu
um conselho que, segundo suas palavras, acabaram mudando seu destino: “Na
vida, a gente não toma comprimidos, a gente toma atitudes”. Maria José decidiu-se
pela separação do marido e criou sozinha os três filhos. Hoje seu ex-marido,
aposentado, trabalha em uma das academias da ex-esposa.
Castells
(1999) afirma que o patriarcado é uma das estruturas sobre as quais se
assentam as sociedades contemporâneas. Caracteriza-se pela autoridade, imposta
institucionalmente, do homem sobre a mulher e filhos no âmbito familiar. Para que
essa autoridade possa ser exercida, é necessário que o patriarcado permeie toda
sociedade, da produção e do consumo, à política, à legalização e à cultura. Os
relacionamentos interpessoais também são marcados pela dominação e violência
que têm sua origem na cultura e instituições do patriarcalismo. É essencial, porém,
tanto do ponto de vista analítico quanto político, não esquecer os enraizamentos
do patriarcado na estrutura familiar que é contextualizada histórica e culturalmente.
Segundo Freyre
(1992), o patriarcalismo exerceu uma influência decisiva na formação
da sociedade brasileira, influência esta que se estendeu aos domínios da economia,
da política e da moral. Essa influência foi tão poderosa que as mulheres brasileiras
permaneceram, e ainda permanecem, bastante afastadas do ideal de cidadania,
apesar das conquistas importantes garantidas, sobretudo, com a Constituição de
1988. Mas a incorporação maciça da mulher na força de trabalho remunerado vem
MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
TÂNIA M. FONTENELE-MOURÃO
26 27
Revolução Social. Os dois principais jornais feministas fundados no período –
Brasil
Mulher
, do grupo homônimo de Londrina, que circulou entre 1975-1980 e o
Nós
Mulheres
, da Associação de Mulheres de São Paulo, publicado entre 1976-1978 –
visavam conscientizar as trabalhadoras menos favorecidas, iniciando-as em uma
linguagem marxista, inicialmente destinada a pensar a luta entre as classes sociais,
e não precisamente a “guerra entre os sexos”.
Esta postura obedecia a algumas estratégias políticas: de um lado, obter o
reconhecimento social de um movimento que colocava as mulheres como alvo
principal; de outro, conseguir a aliança dos demais setores da esquerda, envolvidos
na luta pela redemocratização, onde os homens davam as cartas e enunciavam um
discurso político bastante característico. Além do mais, nesse momento, o marxismo
ainda era considerado o principal instrumento teórico de análise no campo da
política revolucionária.
O feminismo, nesse contexto, procurou pautar-se pela linguagem predominante na
esquerda do país, dominando não apenas os conceitos marxistas, mas procurando
provar como, a partir de cada uma das questões levantadas pelos líderes e partidos
políticos, era possível também perceber a dimensão feminina. Em suma, falando a
linguagem marxista-masculina, as feministas esforçaram-se para dar legitimidade
as suas reivindicações para valorizar as lutas empreendidas e apresentarem-se como
um grupo político importante e digno de confiança. Por isso, o editorial de
Nós
Mulheres
, publicado a 7 de março de 1978, propunha:
“Que as coisas fiquem claras: mantemos a firme convicção de que
existe um espaço para a imprensa feminista, que denuncia a opressão
da mulher brasileira e luta por uma sociedade livre e democrática.
Acreditamos que a liderança da luta feminista cabe às mulheres das
classes trabalhadoras que não só são oprimidas enquanto sexo, mas
também exploradas enquanto classe.”
A idéia de que o conceito de classe deveria ser priorizado em relação ao de sexo
revelava, portanto, que a apropriação da linguagem masculina, marxista ou liberal,
era fundamental para se conseguir a aceitação na esfera pública masculina, que
progressivamente se reconstituía. Era, portanto, uma estratégia de reconhecimento
político e social fundamental num momento em que as barreiras para a entrada das
mulheres no mundo da política eram pesadas demais, seja as impostas pela ditadura
organizado de mulheres estabeleceu um corte histórico, a partir do qual a produção
sobre a mulher, dentro das Ciências Sociais, amplia-se e torna-se mais crítica. Apesar
de nem todos os pesquisadores mobilizados pela questão se declararem feministas
ou aderirem ao feminismo, este legitimou o tema como problema científico.
Descrevendo a produção teórica sobre o trabalho feminino, Castro e Lavinas
(1992)
mencionam que os primeiros estudos buscavam romper com a invisibilidade, o
silêncio e a desvalorização que pesam sobre o trabalho feminino e privilegiariam as
variáveis econômicas, revelando desigualdades salariais, segregação ocupacional e
discriminações.
O feminismo via no trabalho um potencial transformador. Em suas vertentes norte-
americanas e européias, que muito influenciaram os movimentos de mulheres no
Brasil, o trabalho remunerado era visto como estratégia possível de emancipação de
dona-de-casa de seu papel subjugado na família.
Paralelamente aos movimentos sociais que se levantavam contra a ditadura militar,
- como o movimento das mulheres que se organizava na periferia das principais
cidades - as feministas brasileiras propuseram-se, desde meados dos anos setenta,
a denunciar a dominação sexista existente inclusive no interior dos grupos políticos,
de sindicatos e de partidos de esquerda
(Alvarez, 1988) . Marcadas por uma experiência
política de oposição, já que muitas eram ex-ativistas políticas e vinham do exílio no
exterior, ou então, das prisões, muitas mulheres entenderam que, no Brasil, o
movimento por seus direitos deveria ser diferenciado e não subordinado às lutas
que despontavam em múltiplos espaços sociais e políticos pela redemocratização
no país.
Acima de tudo, as primeiras feministas brasileiras questionavam radicalmente as
relações de poder entre os gêneros que se estabeleciam no interior dos grupos
políticos de esquerda, e lutavam para impedir que a dominação machista fosse
diluída ou subsumida pelo discurso tradicional da Revolução. No entanto, muitas
traziam uma referência ideológica marxista, a partir da qual pensavam as relações
entre os sexos.
Assim, logo que estabeleceram as estratégias e táticas de seu movimento, definiram
que o alvo maior de sua preocupação deveria ser as trabalhadoras, consideradas
não como o setor mais oprimido socialmente, mas como as principais portadoras da
MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
TÂNIA M. FONTENELE-MOURÃO
28 29
atribuindo-as às diferenças sexuais e justificando, assim, as desigualdades entre
homens e mulheres trabalhadores. Em meio a tantas transformações, permanecem
antigas representações que se mostram resistentes à mudanças e se expressam nas
relações de trabalho e na maneira como o trabalho feminino e o masculino são
percebidos e valorizados.
TT
TT
T
RANSFORMAÇÃORANSFORMAÇÃO
RANSFORMAÇÃORANSFORMAÇÃO
RANSFORMAÇÃO
NONO
NONO
NO
UNIVERSOUNIVERSO
UNIVERSOUNIVERSO
UNIVERSO
DODO
DODO
DO
TRABALHOTRABALHO
TRABALHOTRABALHO
TRABALHO
FEMININOFEMININO
FEMININOFEMININO
FEMININO
Uma das principais mudanças com respeito ao trabalho feminino e à posição da
mulher nas relações familiares é o expressivo aumento da proporção de domicílios
chefiados por mulheres, segundo dados da PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios – realizada pelo IBGE em 2002. Comparando-se o crescimento de
famílias chefiadas por mulheres nos últimos 50 anos, o número mais que dobra. Em
2002, eram 134,7% famílias com referência feminina a mais do que em 1950. Os
dados mostram também que, do total de mulheres chefes, 87,3% não tinham cônjuge.
Entre 1991 e 2002, o aumento do número de famílias com referência feminina
chega a 38% (Figura 1 e 2).
Figura 1Figura 1
Figura 1Figura 1
Figura 1: Percentual de mulheres chefes de família por ano
Mulheres chefes de famíliaMulheres chefes de família
Mulheres chefes de famíliaMulheres chefes de família
Mulheres chefes de família
Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios- IBGE- 2002
Esse aumento da porcentagem de famílias chefiadas por mulheres questiona cada
vez mais a idéia de que a mulher constitui uma “força de trabalho secundária”.
Nos países da América Latina em que as condições de emprego têm melhorado para
os homens
(OIT, 2002), não se observa uma retirada das mulheres do mercado de
trabalho, o que aconteceria se elas, efetivamente, constituíssem uma força de trabalho
secundária.
litar, seja as criadas pela própria dominação masculina, de esquerda ou de direita.
As feministas se colocavam, assim, segundo a perspectiva marxista-leninista, como
vanguarda revolucionária do movimento das mulheres, necessária para orientar as
trabalhadoras em sua “missão histórica”, parafraseando o que a esquerda repetia
em relação às suas tarefas para com o proletariado. Articulavam-se para fora, deste
modo, com os outros movimentos de luta pela redemocratização no país e, assim,
eram legitimadas
(Rago.2003).
Na segunda metade da década de setenta e no início da de oitenta, nasceram
inúmeros grupos feministas, mais ou menos próximos do campo marxista e dos
grupos políticos de esquerda, abertos para os novos horizontes teóricos e políticos
que se abriam no país, sobretudo com os “novos” movimentos sociais. Assim como
outros grupos denominados “minorias”, as feministas buscavam criar uma linguagem
própria, capaz de orientar seus rumos na construção da identidade das mulheres
como novos atores políticos. desta experiência surgiram inúmeras e importantes
associações feministas.
Herança da tradição marxista, como afirma Sarti (1985), o feminismo brasileiro
considerava a trabalhadora a principal agente de transformação da condição
feminina, contribuindo para que o interesse pela pesquisa sobre a mulher convergisse
para o tema do trabalho, de legitimidade garantida também na academia, onde a
análise do modo de produção na sociedade capitalista ocupava posição de destaque.
Na segunda metade dos anos 80, uma nova tendência, a de refletir sobre as relações
de poder e a dominação masculina, se expressa na produção literária.
Atualmente as análises sobre o trabalho feminino, procurando romper velhas
dicotomias, estão atentas às articulações entre produção e reprodução, assim como
às relações sociais entre os gêneros.
Segundo Castro
(1992):
“com o enfoque de gênero redireciona-se a discussão para
o ser humano, diversificado e assimétrico, em termos de relações entre os sexos,
tendo o cuidado de garantir o reconhecimento do ser homem e do ser mulher”.
Nas relações no âmbito do trabalho, entretanto, ainda prevalece a velha dicotomia
que tornaria natural, por exemplo, as diferenças entre papéis sociais e competências
12,1
10,7
13
15,6
20,6
28,4
20021990
1980
19701962
1950
MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
TÂNIA M. FONTENELE-MOURÃO
30 31
O crescimento da proporção de domicílios chefiados por mulheres é confirmado
pela pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), realizada pelo convênio DIEESE/
SEADE
(2004), em cinco regiões metropolitanas e no Distrito Federal. As maiores
proporções de chefes do sexo feminino podem ser verificadas em Salvador (32,9%),
Recife (31,6%) e no Distrito Federal (31%).
Além de não possuírem um companheiro, mais de 64% das chefes de domicílio,
tinham mais de 40 anos. Este dado indica que as mulheres assumem a chefia da casa
em idade mais avançada, provavelmente pelo fim do casamento ou pela viuvez.
Figura 2 : Figura 2 :
Figura 2 : Figura 2 :
Figura 2 : Número de famílias com referência feminina em %
Famílias com referência femininaFamílias com referência feminina
Famílias com referência femininaFamílias com referência feminina
Famílias com referência feminina
Fonte: IBGE – Síntese dos Indicadores Sociais de 2002
De maneira geral, as pesquisas indicam que as mulheres têm nível de instrução
maior que os homens. No entanto, quando se considera isoladamente o nível de
instrução entre os chefes de domicílios, os dados mostram as mulheres com menos
escolaridade. Em todas as regiões, há concentração de chefes de ambos os sexos
que não concluíram o ensino fundamental. No entanto, a proporção das mulheres
com esse grau de escolaridade foi maior do que os homens. Também é maior a
proporção das mulheres chefes de domicílio analfabetas, variando entre 6,7% (Porto
Alegre) e 21,8% (Recife), segundo dados do DIEESE/SEADE
(2004).
Os dados de mercado de trabalho apontam que a crescente entrada da mulher na
força de trabalho é marcada pela desigualdade de inserção, de remuneração e de
oportunidades, com conseqüências diretas sobre a qualidade de vida de suas famílias,
sejam elas chefes ou não. Há uma situação desfavorável para as mulheres: o homem,
quando responsável pelo domicílio dispõe quase sempre da gestão do domicílio
compartilhada com o elemento feminino do casal. Já a mulher chefe, além de não
desfrutar dessa divisão de responsabilidades para gerir a casa, lida com um mercado
de trabalho discriminatório em relação ao sexo feminino, repassando salários mais
baixos para as mulheres
(DIEESE/SEADE, 2004).
20,56
21,9
20,8
24,9
26
27,3
28,4
1991
1992
1995 1997
1999 2001
2002
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD - da Fundação
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE - de 2002 indicam que os 50%
mais pobres da população ocupada recebiam 13,3% de todos os rendimentos do
trabalho no país, enquanto os 10% mais ricos ficavam com 47,1%. Esta situação
demonstra o elevado grau de desigualdade da sociedade brasileira. Mas até nas
desigualdades as diferenças se revelam: entre todos, são as mulheres que recebem
os rendimentos mais baixos e vivem muitas vezes as piores condições de trabalho.
Também são as famílias por elas chefiadas que estão expostas às condições de vida
mais precária.
Por outro lado, o nível de absorção de mão-de-obra feminina deu uma nova
dimensão à questões étnicas tradicionais – notadamente a da desigualdade na
remuneração, para o mesmo trabalho e das barreiras à ascensão hierárquica. Estudos
do IPEA
(Soares, 2000), indicam que o diferencial salarial das mulheres brancas – as
quais percebem, em média, 80% dos rendimentos dos homens brancos – se explica
unicamente pelo fato de serem mulheres. Já o diferencial salarial das mulheres
negras, que percebem, em media, 40% dos rendimentos dos homens brancos, se
explica pelo somatório dos diferenciais feminino, de pessoas negras, do tipo de
inserção no mercado de trabalho e do diferencial imenso de qualificação.
Figura 3: Figura 3:
Figura 3: Figura 3:
Figura 3: Taxa de participação por renda média do trabalho, por gênero e raça, 1992-
2001
Fonte: Relatório Anual – OIT-2002.
Renda Média por gênero e raça - 1992-2001Renda Média por gênero e raça - 1992-2001
Renda Média por gênero e raça - 1992-2001Renda Média por gênero e raça - 1992-2001
Renda Média por gênero e raça - 1992-2001
1.100
900
700
500
300
100
Renda média de todos os trabalhos, em reais de janeiro de 2002,
padronizada em 40 horas semanais
1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001
Homens brancos
Mulheres negras
Homens negros
Mulheres brancas
MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
TÂNIA M. FONTENELE-MOURÃO
32 33
A extrema desigualdade na distribuição de renda no Brasil é pano de fundo de uma
situação de pobreza e exclusão para grande parte da população, sendo as mulheres
as mais atingidas.
Segundo Thirdy-Cherques
(2003), as mulheres sofrem dificuldades de ingresso e
permanência no mercado de trabalho em virtude de dois tipos de barreiras primárias:
a do risco econômico que representariam e a derivada do condicionamento cultural.
O risco econômico inclui desde a justificativa de restrições pelas alterações de humor
em face do ciclo biológico, a fatores como o estado conjugal, número e idade dos
filhos, que supostamente prejudicariam o desempenho funcional e gerariam maior
absenteísmo, dentre outros fatores já mencionados anteriormente.
Pesquisas latino-americanas
(OIT, 2002 citado por Abramo, 2002) mostram como as
mulheres estão afastadas das experiências mais inovadoras nos setores industriais
de ponta e salientam uma “masculinização” da reestruturação produtiva em
determinados setores, embora, como já se mencionou anteriormente, haja uma
“feminização” de alguns setores identificados como ‘cuidados’, tais como saúde e
ensino.
O mundo do trabalho parece que não só é capaz de reproduzir, mas também de
inovar as configurações assimétricas das identidades e das divisões dos papéis. Em
conjunto, o público e o privado, o mundo familiar e o mundo produtivo, se
remodelam e delimitam não só responsabilidades, mas atribuições dos territórios
femininos e masculinos.
Por outro lado, a intensa afluência das mulheres no mercado de trabalho não foi
acompanhada por uma diminuição significativa das desigualdades profissionais
entre homens e mulheres. A maior parte dos empregos femininos continua
concentrada em alguns setores de atividade e agrupada em pequeno número de
profissões, e essa segmentação, mantém a base das desigualdades existentes entre
homens e mulheres no mercado de trabalho, incluindo as salariais. As possibilidades
de acesso a postos elevados nas hierarquias ocupacionais continuam sendo muito
modestas para a maioria das mulheres.
CC
CC
C
ARGOSARGOS
ARGOSARGOS
ARGOS
COMISSIONADOSCOMISSIONADOS
COMISSIONADOSCOMISSIONADOS
COMISSIONADOS
NANA
NANA
NA
ADMINISTRAÇÃOADMINISTRAÇÃO
ADMINISTRAÇÃOADMINISTRAÇÃO
ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICAPÚBLICA
PÚBLICAPÚBLICA
PÚBLICA
Cumpre observar que é na Administração Pública o
locus
onde as mulheres disputam
mais equilibradamente as chances de um posto de trabalho, uma vez que o Estado
provê serviços tradicionalmente feitos por mulheres no âmbito familiar, como
previdência e assistência social, serviços médicos e para-médicos e a educação.
Outro fator importante neste quadro é a atitude menos discriminatória do Estado
nas contratações, já que o ingresso ocorre mediante concurso de provas e títulos.
Constatou-se que as mulheres apresentam escolaridade mais elevada que os homens,
porém são poucas as mulheres que disputam cargos gerenciais ou se sentem preparadas
para assumir cargos de chefia
(ENAP, 1998). Percebeu-se, também, uma reduzida
participação das mulheres em posições elevadas na hierarquia das organizações. Em
2004 observa-se que apenas uma pequena parcela dos cargos de DAS 6 são ocupados
por mulheres (19,3%). O cargo DAS 6 corresponde ao de maior colocação hierárquica na
Administração Pública, função reservada aos presidentes e diretores gerais destas
organizações, conforme mencionado na parte inicial do trabalho.
Cabe ressaltar que os cargos comissionados, os DAS, são postos gerenciais considerados
de “confiança”, podendo ser ocupados por servidores públicos da própria instituição ou
transferidos de outros órgãos, ou mesmo de fora do serviço público. O grau de importância
e de poder do cargo está diretamente relacionado com a gradação do DAS. Quanto maior
for sua responsabilidade no cargo, maior o DAS (variam entre níveis de 1 a 6) e maior a
remuneração.
Observa-se que o número de mulheres em postos de gerência é inversamente
proporcional ao nível decisório associado a estes postos. Isto significa que, quanto mais
alto o DAS, menor é a participação feminina.
Tabela 1: Tabela 1:
Tabela 1: Tabela 1:
Tabela 1: Quantitativo da participação percentual dos ocupantes de DAS, por sexo,
segundo o nível de função.
Nível da função HOMENS MULHERES
Quant. % Quant. %
DAS-1 3.632 53,5 3.155 6,5
DAS-2 2.569 53,6 2.225 46,4
DAS-3 1.773 57,5 1.311 42,5
DAS-4 1.478 63,9 836 36,1
DAS-5 606 79,0 161 21,0
DAS-6 130 80,7 31 19,3
TOTAL 10.188 56,9 7.719 43,1
Fonte: SIAPE – Fev/2004 –SRH/MP
MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
TÂNIA M. FONTENELE-MOURÃO
34 35
É bem verdade que as mulheres brasileiras ocupam 43,1% dos cargos em comissão. Na
base da pirâmide organizacional, nos postos de menor hierarquia as mulheres ocupam
um percentual elevado dos postos. Conforme aumenta o nível de decisão elas
representam apenas 19,3% dos DAS-6, 21% dos DAS-5 e 36,1% dos DAS-4, como
demonstrado na tabela da página anterior (Tabela 1).
Esta restrita participação nos cargos de direção e gerência não é característica exclusiva
da Administração Pública brasileira, cuja cultura é renitente em não aceitar a mulher
como participante efetiva decidindo e administrando. Estados anglo-saxões portam
uma característica semelhante.
Na Grã-Bretanha, por exemplo, as mulheres perfazem 48,7% dos servidores do Civil
Service, mas, deste montante, 35% situam-se no nível executivo básico, 15% no
intermediário e apenas 9% no superior (Senior Open Structure). Os índices para o nível
executivo nos Estados Unidos da América, na Austrália e no Canadá são de 16,5%, para
os dois primeiros, e 18% para o último
(ENAP, 1998).
Estes dados sugerem que a discriminação em relação à participação feminina em posições
de mando é mais ampla, não se restringindo às organizações e cultura brasileiras.
Sugerem, ainda, que uma representação social em relação à posição social da mulher a
coloca em uma posição subalterna, de submissão, de comandada, como tem acontecido
com a maioria das trabalhadoras. Com relação às suas habilidades e competências para
administrar, não há um reconhecimento de que seja capaz de gerir no âmbito da coisa
pública.
Considendo esses dados, os quais serão de fundamental importância para nosso trabalho,
faremos a seguir, referência ao suporte teórico adotado e apresentaremos os resultados
alcançados com a pesquisa.
A A
A A
A
TEORIATEORIA
TEORIATEORIA
TEORIA
DD
DD
D
ASAS
ASAS
AS
R R
R R
R
EPRESENTEPRESENT
EPRESENTEPRESENT
EPRESENT
AÇÕESAÇÕES
AÇÕESAÇÕES
AÇÕES
S S
S S
S
OCIAISOCIAIS
OCIAISOCIAIS
OCIAIS
AA
AA
A
BORDAGEMBORDAGEM
BORDAGEMBORDAGEM
BORDAGEM
P P
P P
P
SICOSSOCIALSICOSSOCIAL
SICOSSOCIALSICOSSOCIAL
SICOSSOCIAL
DODO
DODO
DO
G G
G G
G
ERENCIAMENTOERENCIAMENTO
ERENCIAMENTOERENCIAMENTO
ERENCIAMENTO
F F
F F
F
EMININOEMININO
EMININOEMININO
EMININO
Para discutir as representações sociais do gerenciamento feminino adotaremos a Teoria
das Representações Sociais (TRS) que se define como uma abordagem psicossociológica
que busca compreender como se processam as interpretações do senso comum que
tentam dar significado à vida cotidiana, ou seja, à realidade social. Nesta abordagem,
consideram-se como elementos desse fenômeno, o conhecimento compartilhado
socialmente, as atitudes que dela decorrem e o processo de elaboração e construção do
pensamento social
(Moscovici, 1981). Refere - se, ainda, “a crenças, imagens, metáforas e
símbolos num grupo, comunidade, sociedade ou cultura”, acrescenta Wagner
(1998, p.3).
A comunicação, a reconstrução do real e o domínio do mundo são os três aspectos
importantes que estão assentados na definição de representação social, proposta por
Moscovici
(1981,1988). A partir destes aspectos compreende-se que as representações sociais
oferecem aos sujeitos uma codificação tanto para as trocas simbólicas, como para nomear
e classificar a sua realidade social a sua história e de forma unívoca (aspecto comunicativo).
Atuam, ainda, como guias de interpretação e organização da realidade, permitindo aos
sujeitos que se posicionem diante dela e definam a natureza de suas ações sobre esta
realidade (aspecto de reconstrução do real). Por fim, as representações sociais se constituem
em um conjunto de conhecimentos sociais que orientam as práticas cotidianas e permitem
que os indivíduos se situem no mundo e domine
(Almeida, 2001).
O modelo das Representações Sociais (RS) tem sua importância para o enquadramento do
presente trabalho, na medida em que vamos estudar o discurso de uma população e
procurar os consensos relativos ao gerenciamento feminino, através dos conteúdos e das
informações que circulam na sociedade sobre esse objeto
(Farr, 1998) e dos valores
organizacionais subjacentes nesse discurso.
Trindade
(1996, p.47) ressalta a importância dada ao conhecimento dos sujeitos e às
experiências desses em suas relações com a realidade como uma das contribuições da
Psicologia para a compreensão do ser humano, uma vez que tais experiências, para esses
mesmos sujeitos, seriam “determinadas em grande parte pela sua inserção social e pela
sua apreensão e interpretação da realidade. É a reabilitação da importância do
conhecimento do senso comum e das relações cotidianas”. Esta importância do
conhecimento do sujeito comum e de seu modo de conhecer tem sido resgatada pela TRS.
Wagner
(1998) aponta alguns critérios para caracterizar uma representação social. Um dos
critérios é o que o autor denomina consenso funcional, significando que um número de
membros de um grupo confere importância ao objeto ou fenômeno buscando explicá-lo,
não significando, neste caso, um consenso numérico. Outro critério é o número de pessoas
que partilham dessa representação e que pertencem a um grupo que se caracteriza como
MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
TÂNIA M. FONTENELE-MOURÃO
36 37
uma unidade social. Um terceiro é que o objeto tenha relevância social para o grupo, e esta
relevância se observa nas mudanças que o objeto ou fenômeno provoca na rotina e no
comportamento dos membros do grupo. Em outras palavras, se um número significativo
de membros de um grupo partilha de certas idéias, crenças e explicações acerca de um
objeto, construindo um conhecimento sobre este objeto, e se esse conhecimento provoca
mudanças na rotina e no comportamento dessas pessoas, então fala-se de uma
representação social sobre este objeto.
Representar um objeto equivale, portanto, a inseri-lo significativamente no nosso mundo,
fazendo com que adquira sentido para nós. Os objetos de nossa representação são captados
e inseridos em contextos e relações determinados. Assim, o sentido da representação de
um objeto advém das relações com outros sujeitos, partilhando saberes e significados que
formam o campo da representação
(Andrade, 1998).
AA
AA
A
BORDAGEMBORDAGEM
BORDAGEMBORDAGEM
BORDAGEM
E E
E E
E
STRUTURALSTRUTURAL
STRUTURALSTRUTURAL
STRUTURAL
: T: T
: T: T
: T
EORIAEORIA
EORIAEORIA
EORIA
DODO
DODO
DO
N N
N N
N
ÚCLEOÚCLEO
ÚCLEOÚCLEO
ÚCLEO
C C
C C
C
ENTRALENTRAL
ENTRALENTRAL
ENTRAL
Abric (1998, p.29) argumenta que “
a representação não é apenas um simples reflexo da
realidade, ela é uma organização significante
”, e acrescenta “
a representação funciona
como um sistema de interpretação da realidade que rege as relações dos indivíduos com
seu meio físico e social, ela vai determinar seus comportamentos e suas práticas
”. E l e
propõe a hipótese de que as Representações Sociais são organizadas em torno de um
núcleo central constituído de um ou mais elementos, que dão significado às relações que
o grupo mantém com este objeto e pelo sistema de valores e normas sociais que constituem
o solo ideológico do momento e do grupo.
Ao afirmar que “
as representações sociais têm um papel fundamental na dinâmica das
relações sociais e nas práticas
” Abric (1998, p.28) esclarece que isto se deve a quatro funções
das representações: a função cognitiva de saber, que permite compreender e explicar a
realidade; a função identitária, que define a identidade de um grupo no processo de
interação com outros grupos, assegurando de uma forma positiva seu lugar nas relações
sociais; a função de orientação, na medida em que serve como um guia para as práticas
sociais, pré-decodificando a realidade; e, finalmente, a função justificadora dos
comportamentos adotados pelo grupo social.
Abric
(1998) na formulação da Abordagem Estrutural refere-se a um conjunto de elementos
– crenças, informações, opiniões sobre um objeto - que se estruturam num sistema
sociocognitivo, composto por um elemento ou mais, que dá sentido à representação. Na
abordagem estrutural o autor concebe um núcleo central em torno dos quais as
representações sociais se organizam. Este núcleo é constituído por elementos cognitivos
mais estáveis, rígidos e consensuais que asseguram a continuidade da representação. O
núcleo central tem duas funções fundamentais, segundo Abric
(1998 p.31):
uma função generadora: ela é o elemento através do qual se cria, ou se
transforma, o significado dos outros elementos constitutivos da
representação. É através dele que os outros elementos ganham um
sentido, um valor”.
E a segunda refere-se a “
uma função organizadora: é o
núcleo central que determina a natureza dos elos, unindo entre si os
elementos da representação. Neste sentido, o núcleo é o elemento
unificador e estabilizador da representação.
Em torno do núcleo central encontram-se os elementos periféricos que desempenham
três funções:
Função de concretização: (...) Eles permitem a formulação da representação
em termos concretos, imediatamente compreensíveis e transmissíveis;
Função de regulação: (...) Face à estabilidade do núcleo central, os elementos
periféricos constituem o aspecto móvel e evolutivo da representação; e
Função de defesa: (...) É no sistema periférico que poderão aparecer e ser
toleradas as contradições.
(Abric,1998 p.32).
Partindo assim, do princípio de que os sistemas periféricos funcionam também como o
sistema de defesa da RS, pois o núcleo central é resistente à mudança, visto que a sua
transformação provocaria uma alteração completa, a transformação da RS se opera, portanto,
na maioria dos casos, através da transformação de seus elementos periféricos. Sendo
assim, na Teoria do Núcleo Central elaborada por Abric
(1998) considera-se a teorização
sobre o núcleo central e o sistema periférico e a questão das mudanças nas RS, apontando
e descrevendo tal processo.
Neste sentido, como o interesse desse estudo é o de verificar a existência de representações
sociais acerca do gerenciamento feminino, optou-se por adotar tal perspectiva teórica,
considerando as transformações ocorridas nas práticas sociais em relação ao trabalho
feminino.
MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
TÂNIA M. FONTENELE-MOURÃO
38 39
RR
RR
R
EPRESENTEPRESENT
EPRESENTEPRESENT
EPRESENT
AÇÕESAÇÕES
AÇÕESAÇÕES
AÇÕES
S S
S S
S
OCIAISOCIAIS
OCIAISOCIAIS
OCIAIS
EE
EE
E
OO
OO
O
G G
G G
G
ERENCIAMENTOERENCIAMENTO
ERENCIAMENTOERENCIAMENTO
ERENCIAMENTO
F F
F F
F
EMININOEMININO
EMININOEMININO
EMININO
Uma das questões levantadas na introdução deste trabalho diz respeito às possíveis
transformações nas representações sociais acerca da participação feminina nos espaços
públicos, em particular no mundo do trabalho. Trata-se de um fenômeno histórico e
culturalmente construído que é a desigualdade que existe entre homens e mulheres, não
apenas na esfera do trabalho, mas em diferentes aspectos da vida social e envolve um
grande número de variáveis em sua constituição.
Com o avanço dos movimentos de mulheres e das suas práticas políticas, houve a construção
de um saber reificado redefinindo a concepção de gênero e, em especial, questionando o
papel das mulheres na sociedade, deslocando as diferenças baseadas em pressupostos
biológicos (diferenças sexuais) para as relações sociais. Houve, em alguns setores da
sociedade, uma apropriação deste saber e a construção de novas representações do gênero,
que passaram a reorientar as práticas sociais relacionadas aos papéis, valores e posições
sociais das mulheres na sociedade.
As representações sociais se fazem presentes na abordagem de várias teóricas feministas,
uma vez que o simbólico é parte da construção da subjetividade e dos gêneros
(Lauretis,
1987)
. Contudo, não são muitos os estudiosos do campo psicossocial das representações
sociais que têm se dedicado à problemática de gênero.
Ao apropriar-se das novas concepções propostas pelos movimentos feministas e de suas
teorias, houve uma desconstrução de uma concepção do feminino e do seu lugar na
sociedade e um deslocamento, seja no âmbito pessoal ou profissional, no qual as mulheres
passam a ocupar mais o espaço público, antes ocupado quase que exclusivamente por
homens.
Na perspectiva da Teoria das Representações Sociais e da Abordagem Estrutural aqui
exposta sucintamente, poderíamos dizer que uma representação social do gerenciamento
feminino equivaleria a sua inserção significativa em um contexto particular, onde assumiria
um sentido partilhado por uma coletividade. A importância de estudar o gerenciamento
feminino decorre do fato de que, nos últimos quarenta anos, tem se tornado mais visível
a atuação das mulheres no mundo do trabalho, especialmente quando buscam se posicionar
nos postos de comando.
Ao redefinir o lugar das mulheres em uma cultura que ainda apresenta muitos traços
patriarcais, as formas de atuação das mulheres no contexto do trabalho nos espaços
públicos, assim como o recente desempenho da função gerencial tem se tornando fenômeno
socialmente relevante na medida em que se transforma em objeto de análise, conversação,
produção acadêmica e de comportamento de ação e reação com respeito à questão.
As reflexões sobre as aproximações entre representações sociais e as relações de gênero
permitem extrair algumas implicações importantes. Uma vez que possamos ampliar as
associações dos elementos constitutivos das representações sociais acerca de mulheres
no contexto globalizado e inserido no mundo competitivo do trabalho, além das novas
analogias e possibilidades paradigmáticas, onde o encontro entre teorias diferentes, porém
em muitos aspectos complementares, acarreta a reflexão permanente sobre as
representações sociais de gênero.
Conforme abordado no tópico sobre a história de exclusão e discriminação das mulheres,
havia uma representação do feminino e do masculino ancorada nas diferenças sexuais.
Nessa separação a mulher era percebida no âmbito privado e o homem voltado para o
espaço público. Ao se analisar o processo de transformação dos papéis masculinos e
femininos na nossa sociedade e sua conseqüente participação no mundo do trabalho,
percebe-se que as relações de gênero mudaram. As mulheres têm ganhado maior
independência e autonomia, modificando as relações com a sexualidade, trabalho, família,
relacionamento amoroso e conjugal. Com isso, estão sendo modificadas, no âmbito do
trabalho, as posições das mulheres em relação às competências profissionais, habilidades
e posição na hierarquia organizacional.
A percepção do mundo do trabalho feminino pretende ir além da mera compreensão dos
fenômenos de opressão e subordinação. Compreendê-los se torna uma atividade meio
para a meta de transformação das relações entre gêneros. A experiência feminina tomada
como um sistema cultural é colocada em pé de igualdade com o senso comum, este saber
baseado na confiança que se tem do seu valor e da sua validade
(Geertz,1997). Ou seja, de
ocultada e desconsiderada pelo
mainstream,
ela passa a ser considerada como fonte de
conhecimento. Por outro lado, o projeto da teoria das representações sociais, oriundo da
profundeza da realidade cotidiana, resgata o senso comum enquanto compartilhado pela
sociedade como um todo
(Moscovici & Markova, 1998).
MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
TÂNIA M. FONTENELE-MOURÃO
40 41
EE
EE
E
STUDOSTUDO
STUDOSTUDO
STUDO
1 1
1 1
1
EE
EE
E
STUDOSTUDO
STUDOSTUDO
STUDO
DD
DD
D
ASAS
ASAS
AS
REPRESENTREPRESENT
REPRESENTREPRESENT
REPRESENT
AÇÕESAÇÕES
AÇÕESAÇÕES
AÇÕES
SOCIAISSOCIAIS
SOCIAISSOCIAIS
SOCIAIS
ACERCACERC
ACERCACERC
ACERC
AA
AA
A
DODO
DODO
DO
GERENCIAMENTOGERENCIAMENTO
GERENCIAMENTOGERENCIAMENTO
GERENCIAMENTO
FEMININOFEMININO
FEMININOFEMININO
FEMININO
ELABORELABOR
ELABORELABOR
ELABOR
ADOADO
ADOADO
ADO
PELASPELAS
PELASPELAS
PELAS
MULHERESMULHERES
MULHERESMULHERES
MULHERES
GERENTESGERENTES
GERENTESGERENTES
GERENTES
QUEQUE
QUEQUE
QUE
OCUPOCUP
OCUPOCUP
OCUP
AMAM
AMAM
AM
CC
CC
C
ARGOSARGOS
ARGOSARGOS
ARGOS
DEDE
DEDE
DE
ALAL
ALAL
AL
TT
TT
T
AA
AA
A
HIERHIER
HIERHIER
HIER
ARQUIAARQUIA
ARQUIAARQUIA
ARQUIA
NANA
NANA
NA
ADMINISTRAÇÃOADMINISTRAÇÃO
ADMINISTRAÇÃOADMINISTRAÇÃO
ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICAPÚBLICA
PÚBLICAPÚBLICA
PÚBLICA
Neste estudo procurou-se analisar o conteúdo e a organização interna das
representações sociais do gerenciamento feminino a partir da percepção das gerentes.
Questões como o percurso profissional, o estilo gerencial adotado, percepção de si
frente a um cargo que poucas mulheres ocupam e estratégias para alcançar e
permanecer no cargo foram algumas das questões abordadas com as gerentes.
PP
PP
P
ARAR
ARAR
AR
TICIPTICIP
TICIPTICIP
TICIP
ANTESANTES
ANTESANTES
ANTES
Neste primeiro estudo, participaram sete mulheres gerentes ocupantes de cargos
gerenciais de topo de carreira na Administração Pública. Todas eram funcionários
públicas, com cargos denominados DAS 5, DAS 6 e de NE (natureza especial, no caso
ministra). Cabe ressaltar que os cargos comissionados, os DAS e de natureza especial
(NE), são postos gerenciais considerados de “confiança”, podendo ser ocupados
por servidores públicos da própria instituição ou transferidos de outros órgãos, ou
mesmo de fora do serviço público. O grau de importância e de poder do cargo está
diretamente relacionado com a gradação do DAS. Quanto maior for sua
responsabilidade no cargo, maior será o DAS, que varia entre níveis de 1 a 6.
Conforme mencionado anteriormente, observa-se que o número de mulheres em
postos de gerência é inversamente proporcional ao nível decisório associado a estes
postos. Isto significa que, quanto mais alto o DAS, menor é a participação feminina.
Apesar da indiscutível melhoria da participação das mulheres no mercado de trabalho,
não se pode negar que existe, ainda hoje, muita desigualdade entre homens e mulheres.
A pertença social continua a ser um princípio organizador da ordem social. Ela determina
a posição hierárquica dos indivíduos na sociedade em geral e na família em particular, em
que, nomeadamente, define a distribuição do trabalho
(Wiley,1995).
Neste ponto, finalizamos a fundamentação teórica da pesquisa e passaremos, a seguir, a
descrever os objetivos e os resultados do Estudo 1: “Representações sociais acerca do
gerenciamento feminino elaboradas pelas mulheres gerentes que ocupam cargos de alta
hierarquia na Administração Pública” e do Estudo 2: “Representações sociais das equipes
acerca do gerenciamento feminino construídas pelas equipes das mulheres gerentes”.
MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
TÂNIA M. FONTENELE-MOURÃO
42 43
de trabalho de cada gerente, exceto uma que sugeriu que fosse realizada fora do
ministério, durante o final de semana, segundo sua conveniência.
Antes de se iniciar a coleta dos dados, foi feito o contato com as assessorias de cada
mulher gerente, para a obtenção de autorização formal para a realização da pesquisa
na instituição. Em geral, no mesmo dia em que se fazia a entrevista eram distribuídos
instrumentos de evocação para as equipes (Estudo 2).
PP
PP
P
ROCEDIMENTOROCEDIMENTO
ROCEDIMENTOROCEDIMENTO
ROCEDIMENTO
DEDE
DEDE
DE
ANÁLISEANÁLISE
ANÁLISEANÁLISE
ANÁLISE
DEDE
DEDE
DE
DADOSDADOS
DADOSDADOS
DADOS
As entrevistas, com roteiros semi-estruturados com as mulheres gerentes, foram
analisadas pelo software ALCESTE
(Analyse Lexicale par
Contexte d’um Ensemble de Segments
de Texte
), desenvolvido por Max Reinert (1990), que realiza de maneira automática a
análise de diálogos, questões abertas de enquetes sócio-econômicas e de um
conjunto de textos diversos.
Através deste software
realizou-se uma análise estatística
textual (quantitativa), onde se destacou a informação essencial do texto. O objetivo
deste procedimento é investigar as semelhanças e dessemelhanças estatísticas das
palavras a fim de identificar padrões repetitivos de linguagem. Obtém-se uma primeira
classificação estatística dos enunciados simples do
corpus
estudado, em função da
distribuição de palavras dentro do enunciado, a fim de apreender as palavras que
são mais características.
Em seguida, foi realizada uma análise qualitativa dos dados, quando se procurou o
sentido atribuído ao discurso, reconstruindo-o, a partir da interpretação das falas
das mulheres gerentes sobre o gerenciamento feminino, as relações de poder e
mecanismos para alcançá-los.
A partir de uma análise textual das produções semânticas dos sujeitos, buscou-se
reconstituir o discurso coletivo, utilizando a relação entre as palavras, a freqüência
com que aparecem e suas associações em classe de palavras (cálculo do x
2
)
1
. Ainda,
Para o estudo, dentre a pequena parcela dos 19% de mulheres que ocupam cargos
de maior importância na Administração Pública, foram escolhidas aquelas que
ocupavam cargos que, anteriormente à sua gestão, eram ocupados por homens.
Todas que participaram deste estudo são pós-graduadas, com mestrado ou
doutorado, em diversas áreas: Economia (Planejamento e Finanças), Administração
Pública, Direito, Sociologia e Psicologia.
A idade média desse grupo foi de 45,5 anos. Entre as participantes 5 ingressaram no
serviço público por concurso e fazem parte do quadro de carreira de Estado.
A seleção das mulheres gerentes em topo de carreira foi feita a partir de dados da
Secretaria de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão,
órgão gestor do Sistema SIAPE – Sistema Integrado de Administração de Recursos
Humanos.
II
II
I
NSTRUMENTONSTRUMENTO
NSTRUMENTONSTRUMENTO
NSTRUMENTO
As participantes da pesquisa foram entrevistadas através de um roteiro semi-
estruturado, elaborado a partir de estudo piloto realizado previamente em 2003,
através do qual foram levantados temas e categorias recorrentes no discurso de
uma gerente em cargo de alto comando. Foi realizada a análise de conteúdo, segundo
Bardin
(1977), que resultou em três grandes categorias finais:
1. Poder e relações interpessoais no trabalho;
2. Competência gerencial pessoal X competência de gênero;
3. Conciliação do trabalho X vida pessoal.
Estes temas se constituíram nos eixos centrais a partir dos quais se elaborou o
roteiro das entrevistas realizadas com as mulheres gerentes, que se dispuseram a
participar deste projeto de pesquisa.
PP
PP
P
ROCEDIMENTOROCEDIMENTO
ROCEDIMENTOROCEDIMENTO
ROCEDIMENTO
DEDE
DEDE
DE
COLETCOLET
COLETCOLET
COLET
AA
AA
A
DEDE
DEDE
DE
DD
DD
D
ADOSADOS
ADOSADOS
ADOS
As entrevistas foram gravadas e realizadas entre outubro de 2003 e setembro de
2004, com duração entre 60 e 90 minutos. As entrevistas foram realizadas no local
1
Consideramos os x
2
encontrados índices matemáticos que significam a aglutinação correlacionada com
a palavra, que permitem identificar o contexto em que se inserem as classes das palavras. Na estatística
x
2
é utilizado nas análises fatoriais acentuando semelhanças e diferenças.
MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
TÂNIA M. FONTENELE-MOURÃO
44 45
as mulheres gerentes. Parte-se aqui da hipótese de Abric (1998) que diferentes membros
de uma população partilham efetivamente certas crenças comuns concernentes a
uma dada relação social.
Figura 4 -Figura 4 -
Figura 4 -Figura 4 -
Figura 4 -
Estrutura do
corpus
das entrevistas acerca das representações sociais do
gerenciamento feminino no topo de carreira.
Nota: Nº total de palavras = 975 com 6 classes e Índice de Significância com intervalo de 0 a 1,0
- Quanto mais próximo de zero menor a relação entre as classes.
O eixo que engloba a Classe 1, em cinza claro, denominamos
História profissionalHistória profissional
História profissionalHistória profissional
História profissional e
refere-se à descrição elaborada pelas mulheres gerentes acerca de sua vida e sua
escalada no mundo do trabalho, organizadas em torno da “carreira”, “começo”, “ano”,
“preconceito” e as responsabilidades e os desafios para assumir o “trabalho gerencial”.
Observa-se uma relação entre a Classe 1 com os blocos formados pelas Classes 2, 5
RR
RR
R
ESULESUL
ESULESUL
ESUL
TT
TT
T
ADOSADOS
ADOSADOS
ADOS
EE
EE
E
DISCUSSÃODISCUSSÃO
DISCUSSÃODISCUSSÃO
DISCUSSÃO
É um número pequeno, mas eu espero realmente que esse número
aumente, porque a mulher tem uma sensibilidade maior para
gerenciar, ela tem uma capacidade de ver as coisas de uma forma
mais dinâmica e diferente e o Brasil precisa de mulheres cada vez
mais nos postos de comando.
(Mulher gerente 4)
AA
AA
A
NÁLISENÁLISE
NÁLISENÁLISE
NÁLISE
DODO
DODO
DO
CONTEÚDOCONTEÚDO
CONTEÚDOCONTEÚDO
CONTEÚDO
DD
DD
D
ASAS
ASAS
AS
REPRESENTREPRESENT
REPRESENTREPRESENT
REPRESENT
AÇÕESAÇÕES
AÇÕESAÇÕES
AÇÕES
SOCIAISSOCIAIS
SOCIAISSOCIAIS
SOCIAIS
DODO
DODO
DO
GERENCIAMENTOGERENCIAMENTO
GERENCIAMENTOGERENCIAMENTO
GERENCIAMENTO
FEMININOFEMININO
FEMININOFEMININO
FEMININO
ELABORADOELABORADO
ELABORADOELABORADO
ELABORADO
PELASPELAS
PELASPELAS
PELAS
MULHERESMULHERES
MULHERESMULHERES
MULHERES
GERENTESGERENTES
GERENTESGERENTES
GERENTES
A partir de uma análise textual das produções semânticas dos sujeitos, buscou-se
construir um discurso coletivo, utilizando a relação entre as palavras, a freqüência
com que aparecem e suas associações em classes de palavras. Buscou-se com isto o
acesso ao contexto semântico, que pode indicar uma possível representação social.
A análise do
corpus
total dos “discursos” das mulheres gerentes de topo de carreira
(N=7), obtida a partir do agrupamento das entrevistas de todos os sujeitos confundidos,
revelou a presença de seis classes:
1. O início; 2. Características e competências; 3.1. O início; 2. Características e competências; 3.
1. O início; 2. Características e competências; 3.1. O início; 2. Características e competências; 3.
1. O início; 2. Características e competências; 3.
Formas femininas de gerenciar; 4. Aprendizado; 5. Sacrifícios pessoaisFormas femininas de gerenciar; 4. Aprendizado; 5. Sacrifícios pessoais
Formas femininas de gerenciar; 4. Aprendizado; 5. Sacrifícios pessoaisFormas femininas de gerenciar; 4. Aprendizado; 5. Sacrifícios pessoais
Formas femininas de gerenciar; 4. Aprendizado; 5. Sacrifícios pessoais
;;
;;
; e
6. Trajetória6. Trajetória
6. Trajetória6. Trajetória
6. Trajetória
de sucessode sucesso
de sucessode sucesso
de sucesso. As classes foram agrupadas em três grandes eixos de organização das
representações sociais:
História profissional, Perdas e ganhos e Relações de poderHistória profissional, Perdas e ganhos e Relações de poder
História profissional, Perdas e ganhos e Relações de poderHistória profissional, Perdas e ganhos e Relações de poder
História profissional, Perdas e ganhos e Relações de poder
(Figura 4). Nesta etapa, se ressaltam os significados que são compartilhados por todas
R= 0
R= 0,2
R= 0,8
R= 0,7
R= 0,9
Almoço
Aniversários
Exemplo
Resultados
Sacrifício
Horários
Comecei
Ano
Carreira
Época
Novecentos
Preconceito
Trabalho
Dedicação
Diferente
Mérito
Naturalmente
Chegar
Reconhecimento
Satisfação
Sensibilidade
Trabalho
Equipe
Comunicação
Flexibilidade
Relação
Persistência
Espaço
Poder
Aprendizado
Lógica
Mando
Política
Sociedade
Capacidade
Chefiar
Diferença
Ética feminina
Gerente
Liderança
RELAÇÕES DE PODERRELAÇÕES DE PODER
RELAÇÕES DE PODERRELAÇÕES DE PODER
RELAÇÕES DE PODER
CLASSE 1CLASSE 1
CLASSE 1CLASSE 1
CLASSE 1
O inícioO início
O inícioO início
O início
CLASSE 2CLASSE 2
CLASSE 2CLASSE 2
CLASSE 2
CaracterísticasCaracterísticas
CaracterísticasCaracterísticas
Características
competênciascompetências
competênciascompetências
competências
CLASSE 5CLASSE 5
CLASSE 5CLASSE 5
CLASSE 5
SacrifíciosSacrifícios
SacrifíciosSacrifícios
Sacrifícios
PessoaisPessoais
PessoaisPessoais
Pessoais
CLASSE 3CLASSE 3
CLASSE 3CLASSE 3
CLASSE 3
FormaForma
FormaForma
Forma
Feminina deFeminina de
Feminina deFeminina de
Feminina de
GerenciarGerenciar
GerenciarGerenciar
Gerenciar
CLASSE 4CLASSE 4
CLASSE 4CLASSE 4
CLASSE 4
AprendizadoAprendizado
AprendizadoAprendizado
Aprendizado
CLASSE 6CLASSE 6
CLASSE 6CLASSE 6
CLASSE 6
TrajetóriaTrajetória
TrajetóriaTrajetória
Trajetória
de Sucessode Sucesso
de Sucessode Sucesso
de Sucesso
10,30%22,28 %
7,49%
13,48 %
26,78%
19,66%
HISTÓRIAHISTÓRIA
HISTÓRIAHISTÓRIA
HISTÓRIA
PROFISSIONALPROFISSIONAL
PROFISSIONALPROFISSIONAL
PROFISSIONAL
PERDAS E GANHOSPERDAS E GANHOS
PERDAS E GANHOSPERDAS E GANHOS
PERDAS E GANHOS
recorreu-se aos enunciados, que permitem identificar as questões levantadas pelos
sujeitos durante as entrevistas. A primeira análise estatística consistiu em uma
Classificação Hierárquica Descendente (C.D.H.), destinada a calcular as partições em
classes lexicais e apresentar suas oposições sob
a forma de uma
árvore.
MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
TÂNIA M. FONTENELE-MOURÃO
46 47
Minha carreira foi construída com muita persistência, e se não fosse
assim eu não chegaria onde estou.
(Gerente 6)
e 3 (Características e competências; Sacrifícios profissionais; e Forma feminina de
gerenciar) e as Classes 4 e 5 (Aprendizado e Trajetória de sucesso). O segundo eixo,
em cinza médio, reúne falas sobre as
Perdas e Perdas e
Perdas e Perdas e
Perdas e
gg
gg
g
anhosanhos
anhosanhos
anhos. Referem-se as Classe 2, 5 e 3
levando em consideração a descrição do exercício profissional, caracterizado pelo
“mérito”, “satisfação”, “sacrifícios” e vencer “dificuldades”. Observa-se uma forte relação
(R=0,8) entre a Classe 2 e a Classe 3, sugerindo que as competências estariam
relacionadas com as formas de gerenciar femininas. Neste sentido, a concepção que
a mulher gerente tem de si mesma é de que precisa de persistência e flexibilidade na
condução de sua carreira. O terceiro eixo, o qual denominamos
Relações de Relações de
Relações de Relações de
Relações de
pp
pp
p
oderoder
oderoder
oder,
em preto, refere-se às Classes Aprendizado e Trajetória de sucesso, fortemente
associadas (R = 0,7). Trata das etapas vencidas pelas gerentes com seus mecanismos
de liderança e formas de lidar com o poder.
EE
EE
E
IXOIXO
IXOIXO
IXO
H H
H H
H
ISTÓRIAISTÓRIA
ISTÓRIAISTÓRIA
ISTÓRIA
PESSOALPESSOAL
PESSOALPESSOAL
PESSOAL
- C - C
- C - C
- C
LASSELASSE
LASSELASSE
LASSE
1: 1:
1: 1:
1:
OO
OO
O
INÍCIOINÍCIO
INÍCIOINÍCIO
INÍCIO
Este eixo apresenta o discurso das mulheres gerentes sobre a importância do trabalho
para a construção de sua “história profissional”. De forma recorrente em todas as
entrevistas, foi enfatizado que a conquista profissional ocorreu por mérito e esforço
pessoal e que as opções pelo trabalho e pela seleção por concurso público fazem
parte deste universo.
Tabela 2 Tabela 2
Tabela 2 Tabela 2
Tabela 2 -
Classe 1 : O início - Eixo História pessoal
/.../ eu não admitia a idéia de ter que depender de ninguém. Mesmo
casando e tendo os filhos, eu nunca parei de trabalhar um dia. Essa é
minha história de vida, conciliei trabalho, estudos e ter uma vida pessoal.
Isso é uma questão, totalmente estratégica.
(Gerente 2)
Tinha um objetivo na vida, queria me realizar profissionalmente. Sempre
pensei que qualidade vale mais que quantidade. Isso para mim foi meu
referencial.
(Gerente 5)
Com a abertura por seleção e por concurso, e por mérito, acho que
deu à mulher uma chance muito maior de ela chegar e provar que é
capaz.
(Gerente 1)
Então você é capaz de chegar, de fazer e de fazer bem feito. Eu acho
que, como mulher, eu me sinto muito realizada com isso. De ter chegado
aonde eu cheguei, foi por esforço, e de ser respeitada pelo trabalho. Eu
confesso que dá uma certa satisfação.
(Gerente 3)
Apesar da comprovada competência profissional, definem sua trajetória profissional
como uma série de obstáculos que tiveram que ser vencidos, como os preconceitos e
de serem vistas como “diferentes”.
Mas eu confesso que não é fácil você chegar a esse ponto, porque
mesmo tendo capacidade, você é vista de uma forma diferente.
(Gerente 7)
Então, realmente você percebe que há uma distinção entre homens e
mulheres, sim. Eu acho que as coisas vão acontecendo. Realmente é
uma área que eu gosto, eu nunca imaginei chegar onde estou hoje.
(Gerente 4)
Diferente dos homens, mesmo que não esteja preparado
profissionalmente, o mundo público é considerado o mundo deles.
Então, a mulher para ter capacidade de competitividade, ela tem que
provar.
(Gerente 1)
A realização profissional é atribuída à dedicação e ao empenho na execução das
tarefas e decorrência da adoção de uma postura frente às pessoas que a cercam de
O inícioO início
O inícioO início
O início
Palavras relevantes da Classe Comecei
Ano
Carreira
Época
Novecentos
Preconceito
Trabalho
% de variância explicada 22,28 %
MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
TÂNIA M. FONTENELE-MOURÃO
48 49
respeito e dignidade. Mesmo que cometa erros deve ter coragem para assumi-los e
buscar superar as limitações impostas pelo contexto social, tais como o preconceito
frente a uma mulher ocupando um cargo que majoritariamente vinha sendo ocupado
por homens.
Existe um discurso politicamente correto em que se afirma que as
mulheres estão avançando muito, que 10 anos atrás não havia esse
percentual que há hoje, e é verdade. Mas avançar não significa que o
preconceito tenha acabado.
(Gerente 1)
Você vê, eu já estou nessa função pelo oitavo ano. Quer dizer que
mudou o governo, independentemente das pessoas que estão
ocupando os cargos de primeira linha, então você vê que é um
reconhecimento realmente pelo trabalho que a gente vem
desenvolvendo, sempre quebrando barreiras.
(Gerente 2)
Eu acho que é o resultado dessa longa caminhada de trabalho, nesses
postos, e o resultado conseguido impõe que faz com que a pessoa,
quando olha o meu lado profissional, tenha respeito.
(Gerente 6)
EE
EE
E
IXOIXO
IXOIXO
IXO
P P
P P
P
ERDASERDAS
ERDASERDAS
ERDAS
EE
EE
E
GANHOSGANHOS
GANHOSGANHOS
GANHOS
- C - C
- C - C
- C
LASSESLASSES
LASSESLASSES
LASSES
C C
C C
C
OMPETÊNCIASOMPETÊNCIAS
OMPETÊNCIASOMPETÊNCIAS
OMPETÊNCIAS
EE
EE
E
CARACTERÍSTICASCARACTERÍSTICAS
CARACTERÍSTICASCARACTERÍSTICAS
CARACTERÍSTICAS
;;
;;
;
SACRIFÍCIOSSACRIFÍCIOS
SACRIFÍCIOSSACRIFÍCIOS
SACRIFÍCIOS
PESSOAISPESSOAIS
PESSOAISPESSOAIS
PESSOAIS
EE
EE
E
FORMASFORMAS
FORMASFORMAS
FORMAS
FEMININASFEMININAS
FEMININASFEMININAS
FEMININAS
DEDE
DEDE
DE
GERENCIARGERENCIAR
GERENCIARGERENCIAR
GERENCIAR
Figura 5Figura 5
Figura 5Figura 5
Figura 5 Eixo Perdas e ganhos – Classes 2, 5 e 3
PP
PP
P
ERDASERDAS
ERDASERDAS
ERDAS
EE
EE
E
GANHOSGANHOS
GANHOSGANHOS
GANHOS
Este eixo diz respeito às relações entre as competências profissionais, sacrifícios e a
forma feminina de gerenciar (Figura 5). A Classe 2 (Características e competências)
expressa um discurso frente à necessidade de comprovar competências profissionais,
mostra a preocupação das gerentes em ter que, permanentemente mostrar que são
capazes e competentes.
Uma das gerentes afirmou que chegaria antes ao seu posto se fosse homem e
acredita que teve de se preparar mais do que os colegas do sexo oposto (Tabela 3).
Tabela 3 Tabela 3
Tabela 3 Tabela 3
Tabela 3 - Classe 2: Características e competências
Características e competênciasCaracterísticas e competências
Características e competênciasCaracterísticas e competências
Características e competências
Palavras relevantes da Classe Dedicação
Diferente
Mérito
Naturalmente
Chegar
Reconhecimento
Satisfação
% de variância explicada 7,49%
Sem favorecimentos. Eu fiz, eu estou aqui, estou fazendo o meu
trabalho porque eu sei fazer, eu tenho mérito para realizá-lo. Eu vejo
com os olhos bem otimistas que esse quadro de mulheres em postos
de gerência. Acho que a tendência é exatamente aumentar em função
disso.
(Gerente 7)
Pelos discursos observa–se que as entrevistadas procuram comprovar competência.
Nota-se aqui uma cobrança da própria mulher em se superar e comprovar
efetivamente seu desempenho. Viezzer
(1989) comenta que a visão estereotipada da
mulher como pertencente a um grupo inferior, estaria refletida na cabeça de muitos
homens e mulheres. Isto é visível, nos processos eleitorais, na escolha de líderes ou
de representantes nas empresas, movimentos sociais, sindicatos ou nos partidos
R= 0,8
R=0,9
CLASSE 2CLASSE 2
CLASSE 2CLASSE 2
CLASSE 2
CaracterísticasCaracterísticas
CaracterísticasCaracterísticas
Características
e competênciase competências
e competênciase competências
e competências
CLASSE 5CLASSE 5
CLASSE 5CLASSE 5
CLASSE 5
SacrifíciosSacrifícios
SacrifíciosSacrifícios
Sacrifícios
pessoaispessoais
pessoaispessoais
pessoais
CLASSE 3CLASSE 3
CLASSE 3CLASSE 3
CLASSE 3
Forma femininaForma feminina
Forma femininaForma feminina
Forma feminina
de gerenciarde gerenciar
de gerenciarde gerenciar
de gerenciar
Dedicação
Diferente
Mérito
Naturalmente
Chegar
Reconhecimento
Satisfação
Almoço
Aniversários
Exemplo
Resultados
Sacrifício
Horários
Sensibilidade
Trabalho
Equipe
Comunicação
Facilidades
Relação
7,49% 13,48 % 26,78%
PERDAS E GANHOSPERDAS E GANHOS
PERDAS E GANHOSPERDAS E GANHOS
PERDAS E GANHOS
MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
TÂNIA M. FONTENELE-MOURÃO
50 51
O trabalho que nós desenvolvemos é um trabalho muito difícil. Não é
um trabalho trivial, ele exige que você tenha cem por cento de
disponibilidade. Tem horário para chegar, mas você não tem horário
para sair, você não tem final de semana.
(Gerente 2)
Quem trabalha na minha área normalmente tem uma carga horária
em torno de 12 horas. Com isso me sobra pouco tempo, mas mesmo
assim sempre dei um jeito para estar com meus filhos, mesmo que
fossem 15 minutos, eu ficava lá, conversava, dava uma arrumada na
engenharia da casa e voltava para uma longa jornada.
(Gerente 5)
Essa classe diz respeito, também, à administração do tempo entre a vida pessoal
(cuidado de si, família, amigos, vida social) e o trabalho. Engloba também a
transferência de habilidades entre o trabalho e a família. De um lado, a capacidade
de organizar, planejar e estabelecer previsões, que são habilidades conquistadas
para o exercício profissional, e que são aplicadas às necessidades de gerenciamento
da casa e dos filhos. Por outro lado, a manutenção do equilíbrio familiar surge
como condição
sine qua non
para promover e cultivar um bom relacionamento
interpessoal no trabalho. Neste último
sentido, o apoio familiar apresenta-se como
essencial: tanto no incentivo à aceitação de novos desafios (apoio do marido e dos
filhos), quanto no modelo ou parâmetro a serem seguidos (pessoa da família da
qual a pessoa descende, sobretudo da mãe).
Você tem que dedicar muito de você para isso. Não é uma tarefa fácil,
porque você tem que conciliar as tarefas de casa com essas daqui.
Então sua família tem que ter uma compreensão muito grande, se
não a coisa não funciona. Porque você é mulher, você é esposa, você
é mãe e você tem que coordenar tudo.
(Gerente 2)
A
maioria da diretoria é formada por homens, então não tem assim
muito compromisso, agenda a reunião para a hora do almoço, para
oito horas da noite ou para sábado de manhã. Só que isso para mim
é mortal! Mas eu nunca coloquei empecilho. Em nenhuma hipótese
eu coloquei problemas pessoais ou de mãe, o lado profissional sempre
tentei preservar ao máximo.
(Gerente 3)
Sobre os conflitos das mulheres que trabalham fora do lar Greer (2001) comenta que
as contradições que essas mulheres enfrentam jamais foram tão contundentes como
políticos, onde estão explícitas ou implícitas as características que se consideram
necessárias para o exercício da liderança.
As coisas são mais difíceis, mas a
g
ente dá um jeito para conse
g
uir
alcançar o objetivo. Eu sempre tive de mostrar que sou capaz e
competente.
(Gerente 3)
Uma decorrência dessa situação, é que muitas mulheres acabam tendo que trabalhar
e se esforçar muito mais que os homens,para serem respeitadas e reconhecidas
como competentes para as funções de liderança. E nem sempre, fazendo tudo isso,
alcançam reconhecimento. Outras, entretanto, ao conquistar espaços, chegam a
alimentar um sentimento de desprezo e desqualificação pelas demais mulheres,
enxergadas como “incompetentes” para a liderança
(Viezzer, 1989).
Tive que mostrar mais competência para superar o
“conservadorismo” do núcleo masculino da instituição. Em uma
viagem à Tóquio, não fui cumprimentada pelo presidente da
corporação com a qual fui ne
g
ociar em nome do ministério
simplesmente por ser mulher.
(Gerente 6)
EE
EE
E
IXOIXO
IXOIXO
IXO
P P
P P
P
ERDASERDAS
ERDASERDAS
ERDAS
EE
EE
E
GANHOSGANHOS
GANHOSGANHOS
GANHOS
- C - C
- C - C
- C
LASSELASSE
LASSELASSE
LASSE
5: 5:
5: 5:
5:
SACRIFÍCIOSSACRIFÍCIOS
SACRIFÍCIOSSACRIFÍCIOS
SACRIFÍCIOS
PESSOAISPESSOAIS
PESSOAISPESSOAIS
PESSOAIS
Ainda no eixo de Perdas e ganhos, encontramos a Classe 5: Sacrifícios Pessoais,
onde os relatos revelam que o desempenho da função gerencial exige “100% de
dedicação” e, muitas vezes, têm que conseguir que a equipe trabalhe, nos finais de
semana sem remuneração de horas extras (Tabela 4).
Tabela 4 Tabela 4
Tabela 4 Tabela 4
Tabela 4 - Classe 5: Sacrifícios pessoais
Sacrifícios pessoais Sacrifícios pessoais
Sacrifícios pessoais Sacrifícios pessoais
Sacrifícios pessoais
Palavras relevantes da Classe Almoço
Aniversários
Exemplo
Resultados
Sacrifício
Horários
% de variância explicada 13,48 %
MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
TÂNIA M. FONTENELE-MOURÃO
52 53
EE
EE
E
IXOIXO
IXOIXO
IXO
P P
P P
P
ERDASERDAS
ERDASERDAS
ERDAS
EE
EE
E
GANHOSGANHOS
GANHOSGANHOS
GANHOS
- C - C
- C - C
- C
LASSELASSE
LASSELASSE
LASSE
3: F 3: F
3: F 3: F
3: F
ORMASORMAS
ORMASORMAS
ORMAS
FEMININASFEMININAS
FEMININASFEMININAS
FEMININAS
DEDE
DEDE
DE
GERENCIARGERENCIAR
GERENCIARGERENCIAR
GERENCIAR
O modelo de gerenciar feminino considerado nesta classe é o do bom senso ao
conduzir as pessoas (com equilíbrio emocional), preocupação no modo do
tratamento com as pessoas, suavidade e intuição (Tabela 5).
E também sempre digo para as pessoas que existem várias formas
de mandar e que a minha forma de mando não se concretiza nem
pelo autoritarismo, nem pelo grito.
(Gerente 1)
O homem quando fala de forma objetiva, clara e direta é considerado
assertivo. Se a mulher fala da mesma maneira, é agressiva.
(Gerente 7)
Tabela 5 Tabela 5
Tabela 5 Tabela 5
Tabela 5 - Classe 3: Forma feminina de gerenciar
Atingimos a meta, sem a equipe perceber a pressão que estava por
trás do trabalho. Então, você tem que encontrar no ambiente de
trabalho, mesmo o mais árido, uma forma de você resolver, atingir o
resultado, mas sem magoar, sem pressionar em demasia as pessoas.
(Gerente 1)
Eu sempre falo direto com cada um, eu não uso a hierarquia normal
da instituição de falar só com os coordenadores, eu falo com todos.
Então, o trabalho aqui, eu reúno todos os componentes da equipe.
(Gerente 3)
A gente faz festa de aniversário para todo mundo. Você vai comemorar
o aniversário, conversa um pouco, ouve os problemas, pode dar
feedback de maneira mais informal, depois cada um volta para sua
sala, você descontrai.
(Gerente 7)
agora. A autora afirma que
as mulheres de carreira não sabem se devem fazer o seu
trabalho como homem ou como elas mesmas”. Espera-se que mude a organização,
ou que se submeta a ela? Questiona se a maternidade é um privilégio ou um castigo,
e também aponta que mesmo que houvesse sido autêntica a igualdade, seria um
fraco substituto da libertação; a falsa igualdade está levando as mulheres a um
perigo duplo. Para a autora, a retórica da igualdade vem sendo usada em nome do
politicamente correto para mascarar as marteladas que levam as mulheres.
A relação das mulheres com o mundo corporativo acaba interferindo na vida familiar.
A carreira é percebida como o motivo principal da separação entre as mulheres
casadas.
Mesmo que a mulher ganhe mais do que o marido, ela continua com
a responsabilidade pela gestão da família, pela gestão da casa e
educação dos filhos e isso com o tempo acaba sendo questionado.
(Gerente 1)
Questões como pontualidade, dar sempre o “melhor exemplo” e mostrar resultados
positivos são apontados como fatores importantes no exercício do cargo. Uma
gerente fez uma correlação com o “papel de mãe”, uma vez que uma mulher sempre
precisa dar “bom exemplo” e, assim, as mulheres profissionais trariam essa percepção
para dentro da organização.
Eu confesso para você que eu me angustio muitas vezes, muitas vezes
eu saio daqui muito angustiada, porque têm N situações para serem
resolvidas. Eu vivo intensamente a coisa. Eu procuro ser o mais pontual
possível, atender tudo na hora certa. Se tiver um determinado órgão
com algum problema de recurso, eu fico angustiada até que aquilo
seja resolvido.
(Gerente 7)
/.../
Mulher tem mais jeito para o diálogo e para pedir, ao invés de
mandar. Ah, porque nós fomos educadas para sermos mães, a pessoa
que pensa no bem estar dos outros, preocupação com a harmonização
do contexto familiar e isso vêm para a vida profissional de forma
marcante. Acho inclusive que temos de ter cuidado para não sermos
as mães dos outros, apesar de procurar dar o bom exemplo como
toda mãe faz.
(Gerente 3)
Palavras relevantes da Classe
% de variância explicada
Forma feminina de gerenciarForma feminina de gerenciar
Forma feminina de gerenciarForma feminina de gerenciar
Forma feminina de gerenciar
Desafio
Filhos
Equipe
Flexibilidade
Relação
Dificuldades
Persistência
26,78%
MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
TÂNIA M. FONTENELE-MOURÃO
54 55
EE
EE
E
IXOIXO
IXOIXO
IXO
R R
R R
R
ELAÇÕESELAÇÕES
ELAÇÕESELAÇÕES
ELAÇÕES
DEDE
DEDE
DE
PP
PP
P
ODERODER
ODERODER
ODER
– C – C
– C – C
– C
LASSESLASSES
LASSESLASSES
LASSES
4 4
4 4
4
EE
EE
E
6 6
6 6
6
: :
: :
:
AA
AA
A
PRENDIZADOPRENDIZADO
PRENDIZADOPRENDIZADO
PRENDIZADO
EE
EE
E
TT
TT
T
RAJETÓRIARAJETÓRIA
RAJETÓRIARAJETÓRIA
RAJETÓRIA
DEDE
DEDE
DE
SS
SS
S
UCESSOUCESSO
UCESSOUCESSO
UCESSO
Neste eixo os processos de aprendizagem do gerenciamento feminino estão
fortemente relacionados com o sucesso profissional (0,7). O poder é percebido
como algo passageiro, relacionado ao exercício do cargo. Os cargos de direção
obtidos são interpretados como resultados de um longo processo de trabalho,
durante o qual houve bons resultados.
Figura 6 Figura 6
Figura 6 Figura 6
Figura 6 - Eixo Relações de poder – Classes 4 e 6
Nas falas, o fator “reconhecimento” é tido como fundamental, havendo uma
tendência a se descrever por aquilo que as pessoas reconhecem e qualificam do seu
trabalho. Neste sentido, o poder não é dado pelo cargo ocupado, mas pelo
reconhecimento dos outros, e em muitos casos, conforme questões político
partidárias. De acordo com Tanure
(2004), o modelo de exercício de poder no Brasil
ainda é masculino. Ela afirma que as mulheres entram no mercado de trabalho de
maneira cada vez mais significativa em funções gerenciais, mas sentem uma espécie
de “teto de vidro” que separa a facilidade do ingresso no mercado da dificuldade de
ascensão na carreira.
Tem a questão política também. Cargos de chefia, a gente sabe que
hoje, em todas as instituições, tem um percentual destinado para livre
Já o estilo masculino é apontado como severo e autoritário. Ressalva-se que algumas
gerentes mencionaram a adoção de modelos masculinos (“machonas”) para justificar
a rigidez gerencial. A maneira de ser masculina é atribuída às outras gerentes.
Nenhuma das entrevistadas se assumiu como usando um estilo masculino de
gerenciar, ao contrário, houve uma ênfase de que preferem trabalhar em equipe,
valorizam a atenção e o cuidado com o outro e a tentativa de amenizar os conflitos.
Conheci uma gerente que adotava um modelo muito severo, muito
masculino, muito centralizador e que quando ocupou um outro cargo
de maior hierarquia percebeu que poderia trabalhar isso dentro dela.
Ela pode ser muito mais ela, sem ser machona.
(Gerente 5)
Eu tenho exemplo de mulheres extremamente competentes, porém,
eram muito duras, querendo ficar iguais aos homens.
(Gerente 1)
/.../ eu acho que um pouco mais de compreensão, de paciência são
características mais tipicamente femininas. Paciência de construir
acordos.
(Gerente 2)
Tem momentos que você tem que dizer não. Agora há diversas formas
de você dizer não. Não precisar ser aquele não que assusta. Então,
muitas vezes, a equipe traz algum tipo de trabalho e não foi bem
aquilo que eu esperava receber. Então, vou dizendo: - olha, eu acho
que se a gente fizer dessa forma nós vamos ter um resultado melhor.
(Gerente 6)
Nestes momentos, as mulheres relatam que necessitam de “muito jeito” para que a
equipe não perca a motivação e consega “atingir o resultado, mas sem magoar, sem
pressionar em demasia as pessoas”. Segundo uma gerente, elas “têm que encontrar
saídas de forma que não agrida a equipe”.
Eu acho que, principalmente, é pela sensibilidade que estamos
mudando a forma de gerenciar nas instituições. Como é uma área
que realmente você tem que dizer muito não, então, como mulher,
busco olhar as coisas com um outro prisma.
(Gerente 3)
As mulheres têm muito mais capacidade de condução do que eles. Eu
acho que na condução eles perdem feio, porque é coisa de mulher,
talvez pela habilidade adquirida para lidar com os filhos, com a casa,
com o marido, com 1000 situações e, então, ela não apavora como
eles.
(Gerente 1)
R=0,7
19,66% 10,30 %
RELAÇÕES DE PODERRELAÇÕES DE PODER
RELAÇÕES DE PODERRELAÇÕES DE PODER
RELAÇÕES DE PODER
CLASSECLASSE
CLASSECLASSE
CLASSE
4 4
4 4
4
AprendizadoAprendizado
AprendizadoAprendizado
Aprendizado
CLASSE 6CLASSE 6
CLASSE 6CLASSE 6
CLASSE 6
Trajetória deTrajetória de
Trajetória deTrajetória de
Trajetória de
sucessosucesso
sucessosucesso
sucesso
Espaço
Poder
Aprendizado
Lógica
Mando
Política
Sociedade
Capacidade
Chefiar
Diferença
Ética feminina
Gerente
Liderança
MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
TÂNIA M. FONTENELE-MOURÃO
56 57
F
azer política enquanto sociedade civil, eu faço há mais de duas décadas.
Mas viver o poder por dentro, é um aprendizado que nenhum livro me
dá, que nenhum banco de escola pode dar.
(Gerente 5)
Eu tenho sempre uma visão de que a ação tem que ser planejada; tem
que ser acordada, para a partir daí, eu ter o monitoramento das ações.
(Gerente 2)
Aprendi a ter paciência, não ser precipitada, não sair disparando para
todos os lados, saber esperar o momento oportuno para falar.
(Gerente 1)
Tem um ditado que diz que a gente passa a vida pensando que é leão e
acaba sendo rato. Essa questão do bom senso, do aprendizado que a
vida te ensina, ela também te molda. É o aprendizado que adquirimos no
dia a dia com as equipes e com os infinitos desafios. Não se transmite por
genética, vai acontecendo
. (Gerente 7)
Característica importante nesta classe apontada pelas entrevistadas é de que não se
trata apenas de aprender novas habilidades, mas de ser capaz de compartilhar o
conhecimento e de repassar a experiência adquirida.
A discussão de competência básica para assumir cargos de liderança não
diz que tem de ser homem ou mulher, diz que tem que aprender a lidar
com o estresse, saber coordenar trabalhos, saber repassar conhecimento,
saber dividir conhecimento. Isso tudo estamos aprendendo rapidamente.
Agora só falta aumentar as mulheres no comando.
(Gerente 5)
O que se observa, é que a aprendizagem dentro de casa, na conciliação das múltiplas
tarefas, “ensina” a mulher a lidar melhor com as pessoas no ambiente de trabalho,
conforme fala de algumas gerentes. Trariam para a organização uma forma particular de
“mandar”, que não precisa necessariamente ser autoritária. Trazendo a idéia de uma
“mãe idealizada” com a representação da “boa mãe”.
Então, caracterizam-se, em geral, ações um pouco mais partilhadas como
sendo as características das mulheres. Concordo que temos uma lógica
própria, mas isso tudo foi fonte de uma longa aprendizagem, dentro de
casa, recebendo ensinamento de mães, avós e filhos. Não podemos negar
nossa ancestralidade matriarcal.
(Gerente 3)
nomeação. Nessa livre nomeação, o dirigente escolhe seus auxiliares. E
aí, entra a parte da política. E como na política as mulheres são minoria,
acaba refletindo também no percentual de mulheres em cargos
importantes.
(Gerente 3)
Se for uma mulher, melhor; mas se não for, existe essa questão na
política, nos cargos de direção. Existe análise de currículo também,
porque não adianta a pessoa não ter o perfil ou só porque é amigo de
fulano, ocupar aquele cargo.
(Gerente 2)
Eu acho que a mulher tem que mostrar muita competência, muita
disciplina e muita postura para ser reconhecida. Seja sobre o aspecto
pessoal, ético, ela tem que demonstrar além de tudo que é capaz.
(Gerente 2)
Pode haver a indicação política, considerando que os cargos ocupados são todos
de confiança e que esta indicação não está necessariamente relacionada às
competências profissionais, depende de negociações que extrapolam a capacidade
para gerenciar equipes e tarefas específicas. Porém, todas afirmam sua competência
e profissionalismo conforme apresentado nas Classes 2 e 3.
EE
EE
E
IXOIXO
IXOIXO
IXO
R R
R R
R
ELAÇÕESELAÇÕES
ELAÇÕESELAÇÕES
ELAÇÕES
DEDE
DEDE
DE
PODERPODER
PODERPODER
PODER
- C - C
- C - C
- C
LASSELASSE
LASSELASSE
LASSE
4: A 4: A
4: A 4: A
4: A
PRENDIZADOPRENDIZADO
PRENDIZADOPRENDIZADO
PRENDIZADO
O aprendizado é apontado nesta classe como habilidade no modo de conduzir e
gerenciar pessoas, da aprendizagem no percurso profissional e pessoal. O exercício
do poder traz ensinamentos práticos para a maior atuação na sociedade. Neste
sentido, são valorizados aspectos como o aprendizado conquistado na conciliação
de conflitos, nas formas de mandar e esperar o momento certo para falar, como
favorecedores da manutenção do cargo.
Tabela 6 Tabela 6
Tabela 6 Tabela 6
Tabela 6 – Classe 4: Aprendizado – Eixo Relações de poder
AprendizadoAprendizado
AprendizadoAprendizado
Aprendizado
Espaço
Poder
Aprendizado
Lógica
Mando
Política
Sociedade
19,66%
Palavras relevantes da Classe
% de variância explicada
MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
TÂNIA M. FONTENELE-MOURÃO
58 59
Minha trajetória de sucesso profissional foi marcada pelo esforço
pessoal e não pelo carreirismo que costumamos ver assolar pela
Esplanada.
(Gerente 2)
O poder é totalmente passa
g
eiro e não me preocupo com isso
.
Sigo
minha carreira sem pensar muito no que estar por vir.
(Gerente 7)
Acho que dá para fazer uma reflexão sobre mulheres no poder, sobretudo
mulheres negras no poder. É uma condição bastante interessante,
porque eu própria jamais me imaginei nessa situação. Sempre me
imaginei professora, coordenadora de uma ONG.
(Gerente 3)
Neste sentido, Huppert Laufer (1982) contribui afirmando que as aspirações
profissionais femininas visam mais igualdade com os homens que , grandeza, o
prestígio e a dominação hiperbólica
.
“Os estereótipos sexuais, o primado do sucesso
privado sobre o sucesso público têm por efeito limitar a altura das ambições
femininas, desviando dos projetos de onipotência e de poder sobre os outros.
Inclinadas socialmente a dar prioridade aos valores privados, as mulheres, com
algumas exceções, não se reconhecem na busca do poder; o poder pelo poder não
chega a se impor como finalidade existencial profunda”
(Huppert Laufer citado por
Lipovetsky, 2000, p.294)
.
Outro aspecto apontado nesta classe é a decepção e desagrado com mulheres que
usam de outros artifícios para chegar ao poder através de “jogos de sedução”,
comprometendo todo o esforço de outras mulheres que constroem sua trajetória
de sucesso pela competência profissional.
Homens e mulheres às vezes não são profissionais nas relações. Usam
da sedução, usam de outros jogos. O que torna uma relação de respeito
é a relação do profissional.
(Gerente 4)
/.../
Têm mulheres medíocres que chegam aos postos de poder pela
política dos lençóis. Eu abomino. Muito. Muito. Isto faz com que a
luta da gente atrase anos. Felizmente muitas mulheres fazem sua
trajetória pela capacidade de chefiar e sua liderança profissional
.
(Gerente 6)
Homens e mulheres conhecem as fragilidades e características dos
outros nas relações de poder. A minha base nessa relação é de
EE
EE
E
IXOIXO
IXOIXO
IXO
R R
R R
R
ELAÇÕESELAÇÕES
ELAÇÕESELAÇÕES
ELAÇÕES
DEDE
DEDE
DE
PP
PP
P
ODERODER
ODERODER
ODER
– C – C
– C – C
– C
LASSELASSE
LASSELASSE
LASSE
6: 6:
6: 6:
6:
TT
TT
T
RAJETÓRIARAJETÓRIA
RAJETÓRIARAJETÓRIA
RAJETÓRIA
DEDE
DEDE
DE
SS
SS
S
UCESSOUCESSO
UCESSOUCESSO
UCESSO
Podemos apontar nesta classe denominada
Trajetória de Trajetória de
Trajetória de Trajetória de
Trajetória de
ss
ss
s
ucessoucesso
ucessoucesso
ucesso algumas questões,
especialmente, no que tange à ênfase nas relações interpessoais. Parece haver um foco
fundamental no olhar gerencial das entrevistadas, que tende a ver todos os resultados
de seu trabalho em função da equipe. Além disto, de modo diferenciado, mas também
relacionado à presença de outros, foi possível notar a importância da opinião das
pessoas acerca do trabalho da gerente, como sendo “constituidora” do seu auto-
conceito, no que tange ao seu valor profissional (Tabela 7).
Tabela 7Tabela 7
Tabela 7Tabela 7
Tabela 7 Classe 6: Trajetória de sucesso - Eixo Relações de poder
Trajetória de sucessoTrajetória de sucesso
Trajetória de sucessoTrajetória de sucesso
Trajetória de sucesso
Palavras relevantes da Classe Capacidade
Chefiar
Diferença
Ética feminina
Gerente
Liderança
% de variância explicada 10,30%
Ao longo desses anos a gente foi acumulando experiência, fomos
fazendo bons trabalhos, sempre dividindo com as equipes. Meu traba-
lho é sempre compartilhado, muito dividido, com foco nos resultados,
mas todos se comprometendo. Assim alcançamos sucesso coletiva-
mente.
(Gerente 3)
Creio que mantemos mais equilíbrio nas relações profissionais, muito
mais jeito para conduzir e bom senso, fazendo com que todos partici-
pem do processo. Um gerenciamento mais voltado para as pessoas.
(Gerente 4)
As mulheres entrevistadas não afirmaram que se mostraram determinadas a galgar os
últimos escalões da organização, afirmam que sua trajetória de sucesso foi ocorrendo
por mérito e pelas circunstâncias profissionais e políticas. Lançam igualmente um
olhar crítico à corrida por postos e honras, ao carreirismo e ao oportunismo que
geralmente os homens demonstram ter.
MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
TÂNIA M. FONTENELE-MOURÃO
60 61
ambiente de trabalho. Este estilo se opõe ao masculino, considerado autoritário,
centralizador e severo. Opõe-se, também, às formas de galgar o poder através da
sedução – uma representação social ainda vigente do sucesso profissional obtido por
mulheres – que denigre e desqualifica os esforços e conquistas daquelas que obtiveram
sucesso por competência e dedicação.
Embora tenham alcançado postos de muita importância e de grande
responsabilidade na hierarquia organizacional, as mulheres gerentes demonstram a
preocupação em conciliar o trabalho com a família e as responsabilidades com o lar.
As exigências do cargo fazem com que passem muitas horas no ambiente de
trabalho, o que implica sofrimento por não poderem dar também a devida atenção
à vida privada. Neste caso, precisam contar com a compreensão dos familiares para
evitar a culpa. O apoio familiar é identificado como facilitador para exercer com
êxito a função gerencial. Sendo assim, inferimos que as mulheres estariam a “meio-
caminho” do espaço privado/feminino e do público/masculino.
Percebe-se, ainda, uma necessidade de confirmar competência profissional para
justificar o alcance dos postos de topo de carreira, ocorrida por mérito – e não por
quaisquer outros fatores. O sucesso na carreira implica em sacrifícios e persistência
para o alcance dos objetivos planejados. Há uma demonstração de satisfação de
terem alcançado postos de poder. Por outro lado, saber lidar com o poder exige a
compreensão de que se trata de algo passageiro vinculado ao exercício do cargo. É
em função do trabalho que a gerente organiza sua vida, o que envolve muita
dedicação e habilidades para conduzir as múltiplas obrigações. Saber conciliar os
conflitos e esperar o momento certo constitui fatores de sucesso profissional.
O grande desafio indicado pelas mulheres gerentes seria poder manter a flexibilidade,
apresentando características de afeto e ternura no gerenciamento e ao mesmo
tempo exercer seu papel profissional com objetividade, trazendo resultados
satisfatórios e sabendo o momento certo de ser exigente e de ter pulso forte. A
persistência é considerada um dos méritos que possibilita alcançar o sucesso.
Pode-se dizer que uma representação social do gerenciamento feminino vem sendo
construída pelas mulheres gerentes a partir de sua prática e relações profissionais.
Uma forma particular de gerenciar que não abandona a experiência de vida como
mulher e os ensinamentos advindos da vida no lar, conciliando o público e o privado
profissionalismo. Se você usa qualquer outro jogo, as relações de
poder caem e saem do campo da ética, e não do profissionalismo.
(Gerente 1)
As mulheres se vêem como mais competitivas entre si. A competição entre elas é
identificada como nociva e “dificultadora” do aumento de mais mulheres no poder.
Os homens são vistos como mais corporativos, competindo na verdade “consigo
mesmo”.
Tem mais competição, tem mais disputa e tem uma coisa: mulher não
ajuda outra mulher a subir. Acontece de favorecer um homem para
não ter uma concorrente feminina.
(Gerente 2)
Às vezes as mulheres têm um comportamento muito mesquinho,
vejo mais vantagens no comportamento dos homens, eles são mais
solidários entre si.
(Gerente 4)
Por outro lado, há uma valorização do gerenciamento de mulheres que poderia
levar à melhores resultados de gestão.
Porque acho que o mundo seria muito melhor se tivesse mais o
comando das mulheres nas instituições públicas ou privadas. Acho
que o nosso resultado, o resultado do governo, o resultado seria
outro, o nosso produto seria outro, se tivesse meio a meio, equilibrado,
eu acho que tudo seria bem diferente.
(Gerente 5)
Hoje as mulheres estão mais fortemente presentes no espaço público,
embora, ainda tenha muita conquista pela frente. Eu não acredito em
mudança espontânea. Porque nós estamos falando de poder. E poder,
uma vez exercido, nin
g
uém quer abrir mão
. (Gerente7)
DD
DD
D
ISCUSSÃOISCUSSÃO
ISCUSSÃOISCUSSÃO
ISCUSSÃO
Percebe-se no discurso das mulheres a valorização de uma forma feminina de gerenciar,
que se caracteriza pela sensibilidade, pelo trabalho em equipe, pela flexibilidade e
atenção às relações pessoais. O bom senso nos relacionamentos e na administração,
preocupação e cuidado com o outro, generosidade em compartilhar conhecimentos
e experiência fazem parte desta forma de gerenciamento. Há, neste caso, a transposição
e a valorização dos conhecimentos e aprendizados como mulher, na família, para o
MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
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62 63
EE
EE
E
STUDOSTUDO
STUDOSTUDO
STUDO
2 2
2 2
2
RR
RR
R
EPRESENTEPRESENT
EPRESENTEPRESENT
EPRESENT
AÇÕESAÇÕES
AÇÕESAÇÕES
AÇÕES
SOCIAISSOCIAIS
SOCIAISSOCIAIS
SOCIAIS
ACERCACERC
ACERCACERC
ACERC
AA
AA
A
DODO
DODO
DO
GERENCIAMENTOGERENCIAMENTO
GERENCIAMENTOGERENCIAMENTO
GERENCIAMENTO
FEMININOFEMININO
FEMININOFEMININO
FEMININO
CONSTRUÍDCONSTRUÍD
CONSTRUÍDCONSTRUÍD
CONSTRUÍD
ASAS
ASAS
AS
PELASPELAS
PELASPELAS
PELAS
EQUIPESEQUIPES
EQUIPESEQUIPES
EQUIPES
DASDAS
DASDAS
DAS
MULHERESMULHERES
MULHERESMULHERES
MULHERES
GERENTESGERENTES
GERENTESGERENTES
GERENTES
Neste segundo estudo o principal objetivo foi o de identificar os elementos
constituintes das representações sociais das equipes das mulheres gerentes sobre o
gerenciamento feminino. Secundariamente, verificar como esses elementos se
estruturavam em relação ao seu núcleo central e sistema periférico
. .
. .
. Através do
termo indutor: “Trabalhar com mulher gerente é...”.
Buscou-se no discurso dos participantes as representações sociais que elaboraram
a partir de sua experiência de trabalho tendo como gerente uma mulher. Nesse
sentido, adotou-se a abordagem estrutural da Teoria das Representações Sociais
como uma possibilidade de compreensão da percepção das equipes em relação ao
gerenciamento feminino.
PP
PP
P
articipantesarticipantes
articipantesarticipantes
articipantes
Neste estudo, 146 sujeitos responderam o instrumento de evocação, sendo 74
mulheres e 72 homens distribuídos. Dos funcionários contatados, apenas três não
quiseram participar da pesquisa, alegando falta de tempo no momento da aplicação.
De maneira geral, tivemos boa receptividade na coleta dos dados.
Os participantes foram indicados pelas gerentes ou por sua assessoria direta, sendo
ocupantes de postos diferentes na organização, desde cargos de maior hierarquia
e estariam inovando o estilo gerencial. As mulheres estariam, ainda, vivendo o
conflito entre as responsabilidades com a família e as com trabalho, angustiando-
se para desempenhar bem os vários papéis – mãe/esposa e profissional/gerente,
nas duas esferas de atuação. E, ainda, procurando superar a “inferioridade” feminina,
exigindo muito de si – as perdas e sacrifícios – e de sua equipe.
Segundo Hill
(1993), os gerentes estarão expostos a basicamente quatro tipos de
situações que levarão a possíveis ansiedades: tensão da função, negatividade,
isolamento e ônus da responsabilidade da liderança. No qeu diz respeito à tensão
da função, concebe-se o cargo gerencial como permeado por ambugüidades,
conflitos, sobrecarga de trabalho e o tempo como algo não planejado e não
controlado, resultando em prejuízos no convívio com a família e nas atividades de
lazer. Além disso, os gerentes têm que enfrentar o que a autora definiu como
“negatividade”: constantemente o seu trabalho é testado e questionado por aqueles
que estão a sua volta, cujos problemas aumentam a cada dia. A sensação de
isolamento do grupo também resulta em dificuldades no exercício da função, como
no caso de ter que tomar decisões impopulares com os subordinados. Verifica-se
que a questão colocada se relaciona aos gerentes sem especificidades de gênero
nem de setor mostrando a necessidade de aprofundar-se neste campo de estudo.
Naturalmente, as grandes mudanças no mendo do trabalho e nas relações de gênero
vêm contribuindo pouco a pouco para abalar muitas convicções organizacionais e
questioná-las. Assim, neste espaço fluido e flutuante de estruturas flexíveis de
empregos, o sucesso ainda existe mas, conforme afirma PAHL
(1997):
...seus contornos tornaram-se imprecisos - é quem sabe, mais um
conceito retrospectivo que prospectivo. Além disso, as mulheres,
desafiando a visão masculina de sucesso, oferecem os talentos da
esperteza e do equilíbrio em lugar da habilidade carreirista. Ser mãe,
atender a dois empregos de meio período e ainda levar intensa vida
social exige qualidades diferentes das que se esperam de um marido
e pai que galga inexoravelmente os degraus de sua carreira numa
grande empresa.
No entanto, as mulheres tomaram um caminho sem retorno no exercício gerencial
com conquistas, especificidades e dasafios mas também trazendo novos elementos
femininos e de gênero para o espaço organizacional.
MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
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64 65
II
II
I
NSTRUMENTONSTRUMENTO
NSTRUMENTONSTRUMENTO
NSTRUMENTO
Buscando compreender como os membros da equipe de trabalho de uma mulher
gerente - ocupante de cargo de alta hierarquia na Administração Pública - percebem
o gerenciamento feminino, foi elaborado um instrumento baseado na técnica de
associação livre, que foi dividido em quatro etapas.
Na primeira parte, o instrumento utilizado teve como termo indutor “trabalhar com
uma mulher gerente é...”, sendo solicitado para cada sujeito que apresentasse até
nove palavras ou expressões que lhe viessem à mente. Vale ressaltar que nas
instruções era dada a seguinte informação para especificar o que estava sendo
solicitado: “Estamos realizando uma pesquisa sobre como as equipes concebem o
gerenciamento feminino”. Em seguida, na segunda parte, era-lhes solicitado que
indicassem as três palavras ou expressões que lhes parecessem ser as mais importantes.
Em um terceiro momento, era solicitado que os sujeitos organizassem essas três
palavras em ordem de importância. Por fim, foi solicitado que expressasse o que
significava a palavra mais importante.
As associações, feitas a partir do termo indutor, permitem o acesso ao campo
semântico relacionado ao objeto de representação, propiciando ao pesquisador
conhecer os elementos que compõem o conteúdo das representações sociais
investigadas
(Abric, 2001).
As três questões visavam verificar a estrutura e a centralidade da representação
social do gerenciamento feminino entre os membros da equipe de trabalho de uma
mulher gerente. A estrutura é verificada por meio de freqüência de evocação das
palavras, de sua ordem de evocação e de sua importância para os sujeitos. A
congruência entre freqüência e ordem de evocação é um indicador de centralidade
dos elementos
(Abric, 2001).
A utilização da técnica de associação livre permite, assim, o acesso ao conteúdo e a
estrutura das representações sociais. Para Garnier
(1997), as representações sociais
até os que ocupam cargos operacionais. Quanto à escolaridade dos participantes
55,4 % dos respondentes do sexo feminino e 50 % do sexo masculino têm nível
superior completo. A variação da idade foi bem ampla (com idade mínima de 18 e
máxima de 61 anos). Houve uma maior concentração de funcionários nas faixas
etárias de 29 a 50 anos, como pode ser observado na Tabela 8. Quanto à função
ocupada, ocorreu maior concentração na função de assessoria técnica (47,22% do
sexo feminino e 40,54% do sexo masculino).
Tabela 8 -Tabela 8 -
Tabela 8 -Tabela 8 -
Tabela 8 - Características sócio-demográficas das equipes das mulheres gerentes
Nota: N = 146, NA = não se aplica, NR = não respondeu
DADOS DAS EQUIPESDADOS DAS EQUIPES
DADOS DAS EQUIPESDADOS DAS EQUIPES
DADOS DAS EQUIPES
ESCOLARIDADEESCOLARIDADE
ESCOLARIDADEESCOLARIDADE
ESCOLARIDADE
1. Ensino Fundamental
2. Ensino Médio
3. Superior Completo
4. Superior Incompleto
5. Pós-Graduação
FUNÇÃO
1. Assessoria Técnica
2. Secretário Executivo
3. Secretário Adjunto
4. Diretor
5. Gerente Executivo
6. Secretária
7. Assistente
8. Gerente de Projeto
9. NA
IDADE
18 a 28 anos
29 a 39 anos
40 a 50 anos
51 a 61 anos
MULHERESMULHERES
MULHERESMULHERES
MULHERES
f
-
09
41
06
18
30
02
01
01
06
05
14
10
03
10
26
27
11
%
-
12,16
55,40
8,12
24,32
40,54
2,70
1,35
1,35
8,12
6,76
18,92
16,20
4,06
13,51
35,13
36,48
14,88
HOMENSHOMENS
HOMENSHOMENS
HOMENS
f
-
07
36
12
17
34
02
02
01
05
-
13
15
02
07
28
33
04
%
-
9,73
50,00
16,66
23,61
47,22
2,77
2,77
1,39
6,95
-
18,05
18,08
2,77
9,72
38,90
45,83
5,55
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66 67
de Programmes Permettant l’Analyse dês Évocations),
que
permite a realização de
uma análise de evocação, fornecendo dados para o reconhecimento da estrutura
das representações sociais, com seus possíveis elementos centrais e periféricos. A
Análise de Evocação permite identificar a organização interna das representações
em função de dois critérios: a freqüência e a ordem de evocação. Após o cruzamento
desses critérios, define-se a relevância dos elementos que se associam ao termo
indutor. Os resultados são apresentados em quadrantes organizados em dois eixos,
sendo que o eixo vertical corresponde à freqüência de evocação das palavras e o
eixo horizontal, a ordem de evocação (Quadro 1).
Quadro 1Quadro 1
Quadro 1Quadro 1
Quadro 1 Disposição dos resultados obtidos a partir da análise de evocação
O primeiro quadrante corresponde aos elementos que são primeiramente evocados
e com uma freqüência significativamente mais elevada em relação às palavras ou
expressões associadas ao termo indutor. Esses elementos são os mais relevantes e,
portanto, indicadores do provável núcleo central da representação.
O segundo e o terceiro quadrantes correspondem aos elementos menos salientes na
estrutura da representação, porém significativos em sua organização. Esses
quadrantes referem-se à periferia próxima, ou seja, correspondem aos prováveis
elementos constitutivos do sistema periférico.
são formas de conhecimento que estão organizadas nos campos semânticos que
possuem estruturas estáveis e um teste de associação induz a expressão de
significados. Esses significados podem ser descritos como uma parte do conteúdo
das representações. A freqüência e a ordem de evocação permitem o acesso à
diversidade no campo semântico de um grupo.
PP
PP
P
ROCEDIMENTOROCEDIMENTO
ROCEDIMENTOROCEDIMENTO
ROCEDIMENTO
DEDE
DEDE
DE
COLETCOLET
COLETCOLET
COLET
AA
AA
A
A aplicação do instrumento de evocação foi realizada entre outubro de 2003 e
setembro de 2004. Os sujeitos foram indicados pelas gerentes ou por sua assessoria
direta.
Ao entrar em contato com os funcionários era explicado que se tratava de uma
pesquisa autorizada pela instituição. O(A) funcionário(a) era convidado(a) a responder
o instrumento de evocação e assinar, caso concordasse em participar, o termo de
consentimento livre e esclarecido.
Antes de iniciar a coleta dos dados foram feitos contatos com a assessoria de cada
mulher gerente para a obtenção de autorização formal para a realização da pesquisa
na instituição. Algumas gerentes reservaram sala de reunião para a aplicação do
instrumento com toda a equipe. Em outros casos, tivemos que distribuir o instrumento
de evocação entre os membros da equipe em suas salas de trabalho.
O tempo médio de aplicação do instrumento foi de 20 minutos, incluindo a
identificação dos sujeitos, leitura do termo de consentimento e orientação sobre o
preenchimento.
PP
PP
P
ROCEDIMENTOROCEDIMENTO
ROCEDIMENTOROCEDIMENTO
ROCEDIMENTO
DEDE
DEDE
DE
ANÁLISEANÁLISE
ANÁLISEANÁLISE
ANÁLISE
DEDE
DEDE
DE
DADOSDADOS
DADOSDADOS
DADOS
Para a análise dos dados recolhidos através do instrumento baseado na técnica de
associação livre, com as equipes das gerentes, foi utilizado o software EVOC (Ensemble
Ordem de evocaçãoOrdem de evocação
Ordem de evocaçãoOrdem de evocação
Ordem de evocação
2º Quadrante Sistema
periférico ou Periferia
próxima
O. E.
1º Quadrante Núcleo
central
O. E.
3º Quadrante Sistema
periférico ou Periferia
próxima
O. E.
4º Quadrante Periferia
distante
O. E.
FF
FF
F
RR
RR
R
ÊÊ
ÊÊ
Ê
QQ
QQ
Q
UU
UU
U
ÊÊ
ÊÊ
Ê
NN
NN
N
CC
CC
C
II
II
I
AA
AA
A
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68 69
RR
RR
R
ESULESUL
ESULESUL
ESUL
TT
TT
T
ADOSADOS
ADOSADOS
ADOS
EE
EE
E
DISCUSSÃODISCUSSÃO
DISCUSSÃODISCUSSÃO
DISCUSSÃO
A mulher gerente influencia com seu exemplo de organização toda a
equipe, fazendo com que todos sejam mais organizados e respeitem
melhor os prazos.
(Sujeito 87)
Não faz diferença ser homem ou ser mulher. Significa que não faz a
menor diferença trabalhar com uma mulher.
(Sujeito 15)
Os dados obtidos nesse estudo permitiram apreender conteúdos significativos das
representações sociais acerca do gerenciamento feminino elaboradas pelos membros
das equipes das mulheres em postos de alta hierarquia no serviço público.
Apresentamos, inicialmente, os resultados da análise de evocação. Em seguida, a
análise das palavras principais onde se buscou testar a centralidade dos elementos
possivelmente nucleares e periféricos. Finalmente, a análise de similitude, que
permitiu aprofundar a análise de evocação através da identificação das relações
entre os elementos centrais e periféricos, ou seja, permitiu visualizar uma organização
cognitiva destas representações em termos de estruturas de sentido.
AA
AA
A
NÁLISENÁLISE
NÁLISENÁLISE
NÁLISE
DEDE
DEDE
DE
EVOCAÇÃOEVOCAÇÃO
EVOCAÇÃOEVOCAÇÃO
EVOCAÇÃO
Neste nível realizou-se a análise de evocação que consiste na identificação da
organização interna das representações em função de dois critérios: a freqüência
e a ordem de evocação. O cruzamento desses dois critérios permitiu definir a
relevância dos elementos que se associaram ao termo indutor “Trabalhar com
mulher gerente é...”.
O procedimento utilizado consistiu na evocação livre das principais palavras, frases
ou expressões que representam o gerenciamento feminino. Segundo Vergès
(1992),
O quarto quadrante apresenta os elementos menos freqüentes e menos evocados,
correspondendo assim à periferia distante ou à segunda periferia. Esses elementos
estão ligados aos aspectos mais individuais do sujeito.
Como resultado da análise de evocação, realizou-se uma nova análise, chamada de
Análise de Palavras Principais. Aqui, consideram-se elementos do núcleo central e
do sistema periférico e foi feita a comparação de suas freqüências de evocação com
a freqüência de palavras consideradas importantes pelos sujeitos. A partir do cálculo
da “queda da freqüência”, obteve-se um segundo indicador de elementos,
provavelmente, pertencentes ao núcleo central e o sistema periférico.
Por fim, a partir dos resultados obtidos na análise de evocação simples, é realizada
uma outra etapa de análise, denominada Análise de Similitude, que permite verificar
e visualizar as relações que os termos da representação mantêm entre si.
A Análise de Similitude pressupõe que: a) uma representação social é constituída
por um conjunto de palavras organizadas com diversas relações; b) essas relações
podem ser orientadas, delimitando como exemplo hierarquia ou implicação, ou
serem simétricas indicando semelhança ou antagonismo; e c) em geral não são
relações transitivas, ou seja, se A combina com B e B combina com C, não implica
que A e C tenham alguma ligação. Essa relação simétrica não transitiva, constituinte
das representações sociais, recebe o nome de Análise de Similitude
(Cunha, 2000).
Calculamos o índice de similitude clássica, a partir do número de pessoas que tratam
itens iguais da mesma maneira e que aparecem graficamente mais próximos. Como
resultado desse procedimento, obtemos grafos que ilustram a interseção entre todos
os termos da representação que tem alguma relação.
MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
TÂNIA M. FONTENELE-MOURÃO
70 71
No quadrante superior esquerdo concentram-se os elementos evocados com maior
prontidão e freqüência, o que nos indica uma alta probabilidade de constituírem o
núcleo central da representação social
do gerenciamento feminino elaborada pelas
equipes. Os elementos situados no quadrante inferior direito, com evocação menos
freqüente e menos imediata, constituem, provavelmente, a periferia distante da
representação. Finalmente, os elementos situados nos dois outros quadrantes
parecem apontar para a periferia próxima, cujo papel, embora menos nítido do que
os elementos nucleares, também são importantes para a organização das
representações.
Habitualmente
(Vergés, Albertini & Ryba, 1996), quando se utiliza uma associação livre,
solicita-se que cada termo indutor seja apresentado pelo sujeito, pelo menos quatro
termos induzidos. Nesta pesquisa, solicitamos aos sujeitos (N=146) que
apresentassem até nove termos induzidos, o que redundou em algumas estereotipias.
Por essa razão, na análise final, a qual apresentaremos a seguir, foram eliminados os
três últimos termos induzidos.
De acordo com os membros das equipes das mulheres gerentes, aparecem como
sendo, provavelmente, os elementos mais centrais na representação do
gerenciamento feminino a organização, a compreensão, a competência, bom, o
aprendizado, interessante e indiferente. A periferia mais próxima aparece constituída
pelos elementos: agradável, sensibilidade, normal, detalhista, tranqüilidade,
desafiador e gratificante. Ocorreram no total 850 evocações tendo um quadro médio
de evocações de 3,42. (Tabela 9).
Este resultado mostra como as equipes percebem o trabalhar com mulheres gerentes,
estando esta percepção, provavelmente, relacionado ao trabalho desenvolvido
durante a gestão de cada gerente e às suas características de condução. Surge aqui
o termo “organização” como o mais relevante, apresentando-se como o elemento
de maior freqüência e baixa ordem de evocação, com 30 e 2,40 respectivamente.
Alguns sujeitos apontam que:
/.../
a gerente mulher é mais organizada
[e com isso]
toda a equipe,
e os indivíduos, se vê no dever de serem também mais
organizados
. (Sujeito 89)
as palavras evocadas com maior freqüência e prontidão pelos sujeitos devem, muito
provavelmente, constituir elementos centrais da representação.
Tabela 9 –Tabela 9 –
Tabela 9 –Tabela 9 –
Tabela 9 – Prováveis elementos da representação social do gerenciamento feminino
evocado pelos membros das equipes das mulheres em função da freqüência e da
ordem de evocação (N=146).
Ordem Média de EvocaçãoOrdem Média de Evocação
Ordem Média de EvocaçãoOrdem Média de Evocação
Ordem Média de Evocação
Nota: Nº total de evocações = 850; Nº total de palavras diferentes = 314.
Apresentamos acima, na Tabela 9, a distribuição das palavras em função da freqüência
e da ordem de evocação em que aparecem as palavras. Essa tabela, construída a
partir do instrumento de evocação, fornece quatro quadrantes pelos quais se
distribuem as palavras evocadas, proporcionando uma primeira aproximação quanto
à organização da representação social do gerenciamento feminino elaborada pelas
equipes.
F
R
E
Q
U
Ê
N
C
I
A
Inferior a 3,4 Superior a 3,4
Acima de 15
14 Competição 4,71
13 Diferente 3,61
11 Dedicação 3,63
10 Responsabilidade 3,90
01 Humanização 3,80
08 Inovador 4,00
08 Respeito 4,12
30 Organização 2,40
27 Compreensão 3,18
23 Competência 3,13
22 Bom 2,09
18 Indiferente 2,66
18 Interessante 3,05
17 Aprendizado 3,35
14 Agradável 2,78
14 Sensibilidade 3,00
13 Normal 2,76
12 Detalhista 3,33
12 Tranqüilidade 2,41
10 Desafiador 2,80
09 Gratificante 3,00
17 Flexibilidade 3,52
Abaixo de 15
MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
TÂNIA M. FONTENELE-MOURÃO
72 73
conjunturais da realidade. “Flexibilidade”, “agradável” “sensibilidade”, “normal”,
“detalhista” e “tranqüilidade” constituem os prováveis elementos periféricos da RS
do gerenciamento feminino. Refere-se aos elementos que orientam as condutas
dos sujeitos na sua relação com o mundo.
Observa-se que os elementos periféricos que constituem o sistema periférico das RS
do gerenciamento feminino articulam-se com os elementos pertencentes ao núcleo
central. Verifica-se no sistema periférico a existência de elementos associados a
características positivas do gerenciamento feminino, levando a suposição de certa
idealização deste gerenciamento (flexibilidade, agradável, sensibilidade,
tranqüilidade), surgindo apenas outros dois fatores que buscariam apontar fatores
não tão positivados (normal e detalhista).
No quarto quadrante encontram-se os elementos considerados pertencentes à
periferia distante ou segunda periferia da representação social tais como:
competição, diferente, dedicação, responsabilidade, humanização, inovador e
respeito. São os aspectos mais individuais de uma representação social por serem
pouco citados, com baixa freqüência e baixa posição no
ranking
das evocações.
Pode-se levantar a hipótese que seria também um provável indicador da zona muda
– aquilo que seria ameaçador ou que não seria politicamente correto dizer - que
alguns membros das equipes ousaram expressar.
AA
AA
A
NÁLISENÁLISE
NÁLISENÁLISE
NÁLISE
DD
DD
D
ASAS
ASAS
AS
PP
PP
P
ALAALA
ALAALA
ALA
VRVR
VRVR
VR
ASAS
ASAS
AS
PRINCIPPRINCIP
PRINCIPPRINCIP
PRINCIP
AISAIS
AISAIS
AIS
As palavras consideradas como as mais importantes pelos sujeitos foram submetidas
à análise de freqüência (Tabela 10), buscando identificar aquelas que mais se
destacaram. A análise das palavras principais foi realizada a partir da questão 2 do
As mulheres gostam de perfeição. Elas gostam de cada coisa no seu
devido lugar.
(Sujeito 36)
Desenvolve as atividades com muita organização e clareza. Há uma
preocupação em tudo que o faz sair bem feito, mais “detalhismo”. Não
pode haver erro
. (Sujeito 15)
O termo “organização” pode ter dois sentidos. De um lado, pode ser apontado como
algo em demasia, já que o excesso de organização levaria ao “detalhismo” exagerado,
tornando as decisões mais demoradas e podendo, ainda, conotar uma postura
autoritária ou centralizadora, o que dificultaria a agilidade dos processos. Por outro
lado, que as mulheres gerentes, com sua organização e o maior detalhamento,
evitam o retrabalho e pode favorecer o desenvolvimento de estratégias com maior
margem de planejamento.
Já o termo “indiferente”, que teve uma freqüência de evocação elevada (18) e
apareceu quase sempre na primeira e segunda evocação (2,66), demonstra que os
participantes não creditam competência profissional ao fato do gerenciamento ser
exercido por homem ou mulher.
Capacitação independe de sexo, ou seja, desde que o chefe tenha
conhecimento e as qualidades necessárias para o desempenho de
suas funções, não há diferença de ser homem ou mulher
. (Sujeito 74)
Em termos de dedicação e competência os sexos se equivalem, e vão
depender exclusivamente da capacidade e personalidade individual
.
(Sujeito 03)
Sendo assim, o profissionalismo e a competência estariam para além das distinções
sexuais. Percebe-se, entretanto que a essa resposta “ser indiferente” à questão do
sexo, muitos justificaram sua resposta com “depende”: do conhecimento, da forma
de gerenciar, da educação, da mulher e da personalidade.
O segundo e o terceiro quadrante apresentam os elementos considerados como
periferia próxima da representação ou seu sistema periférico. Esses elementos
correspondem os aspectos mais flexíveis da RS e remetem aos aspectos mais
Quadro 2Quadro 2
Quadro 2Quadro 2
Quadro 2 Questão nº 2 do instrumento de evocação
2. Agora escreva em ordem de importância, as três palavras ou
expressões que você marcou com X.
1º lugar___________________________________
2º lugar___________________________________
3º lugar ___________________________________
MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
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74 75
Neste estudo, os elementos que apresentaram uma queda de freqüência abaixo de
50% foram considerados como, muito provavelmente, pertencentes ao núcleo
central. Desta forma, considerando as análises apresentadas, estas indicam que,
possivelmente, os elementos constituintes do núcleo central da representação social
do gerenciamento feminino são: “organização” (20%), “indiferente” (22%),
“competência” (39%),
“flexibilidade” (41%) e “compreensão” (44%). Os demais
elementos pertencerão a uma primeira periferia.
Para melhor compreender esses elementos é apresentado o contexto semântico no
qual estão inseridos. O primeiro elemento, “organização”, se insere em dois contextos:
um que se refere ao fato das mulheres serem percebidas como organizadas e de
terem uma preocupação com a ordenação dos processos de trabalho e outra seria o
excesso de organização, o que levaria ao “detalhismo”, dificultando o andamento
do trabalho.
Significa que desenvolver as atividades com organização e clareza.
Há uma preocupação em tudo que faz e que seja organizado, bem
feito, não pode ter erros.
(Sujeito 134)
O ambiente fica mais organizado, com os trabalhos melhores
distribuídos, tornando o trabalho eficaz e estimulante.
(Sujeito 51)
As mulheres gostam de perfeição e organização.
(Sujeito 77)
Elas gostam de cada coisa no seu devido lugar, levando também a
um exagerado detalhismo.
(Sujeito 42)
Significa que a mulher gerente influencia com seu exemplo de
organização toda a equipe, fazendo com que todos sejam mais
organizados e respeitem melhor os prazos.
(Sujeito 107)
O segundo elemento, “indiferente”, insere-se no seguinte contexto semântico: não
é considerado como relevante para o trabalho o fato de ser homem ou mulher.
Os sujeitos expressam que o exercício do cargo gerencial não tem correlação com
sexo. E, ainda, apontam certo descaso com a valorização do papel da mulher na
organização.
instrumento de evocação (Quadro 2). Nesta questão foi solicitado aos sujeitos que,
dentre as palavras evocadas a partir do termo indutor “
trabalhar com mulher gerente
é
...”, escolhessem as três palavras principais.
Foram selecionadas as palavras com freqüência maior ou igual a 15 e as comparadas
com as freqüências das palavras consideradas pelos sujeitos como sendo as mais
importantes. Com a comparação das freqüências desses dois grupos de palavras
obteve-se o percentual de queda de freqüência
2
, o qual se constitui em um indicador
de centralidade dos elementos de uma RS
(Ribeiro & Almeida, 2003).
Como afirma Abric
(2001, p.54):
/.... /
o estudo das representações sociais vai necessitar da utilização
de métodos que visam, de um lado, identificar e fazer emergir os
elementos constitutivos da representação e, de outro, conhecer a
organização de seus elementos e identificar o núcleo central da
representação. Enfim, se for possível, verificar a centralidade e
hierarquia colocada em evidência.
Tabela 10Tabela 10
Tabela 10Tabela 10
Tabela 10. Elementos principais evocados pelas equipes
Nota: Para compor a tabela foram selecionadas as palavras com Freqüência = ou > a 10 e
examinamos a queda da freqüência (N = 146)
2
Queda de freqüência significa a queda das palavras comparando-se à freqüência total das palavras
mais evocadas (FTE) com a freqüência da seleção de palavras principais (FSPP). Realiza-se o seguinte
cálculo: FTE – FSPP = Queda da freqüência das palavras evocadas (%). (Ribeiro & Almeida, 2003).
18
17
22
ELEMENTOS
Freqüência de palavras
principais FPP (f)
Queda de
freqüência(%)
Freqüência total de
evocação FTE(f)
Núcleo
central
Elementos
periféricos
Competência
Compreensão
Indiferente
Organização
Flexibilidade
23
27
18
30
17
14
15
14
24
10
39
44
22
20
41
Interessante
Aprendizado
Bom
08
06
10
55
64
54
MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
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76 77
A flexibilidade considera aspectos ligados à preocupação com o outro, saber ouvir,
valorizar a intuição.
Significa que as mulheres de uma maneira em geral têm forte
flexibilidade para resolver os problemas humanos e nos chama atenção
para aspectos e detalhes que, comumente, os homens não dão muita
importância.
(Sujeito 25)
Flexibilidade é a forma adotada pelas mulheres para gerenciar. A
forma mais verdadeira, correta e humana de gerenciar equipes.
Respeitando as individualidades, a capacidade profissional de cada
servidor, não esquecendo que é um ser humano, visando o resultado
coletivo das metas em benefício da Administração Pública e dele
próprio.
(Sujeito 46)
Significa conciliar conhecimentos sobre a administração entre homens
e mulheres. Significa saber compreender a forma de gerenciar,
observando os detalhes entre atitudes feitas pelo homem ou mulher,
com isso, juntar conhecimentos buscando uma melhor administração.
(Sujeito 119)
Elas se envolvem mais facilmente com problemas pessoais, o que faz
com que o rendimento de homens e mulheres seja mais ou menos
equivalente no final.
(Sujeito 121)
Na análise das palavras principais, entre os oito elementos analisados ressaltam as
palavras com aspectos positivados do gerenciamento feminino (organização,
competência, flexibilidade, compreensão, interessante, aprendizado, bom e
indiferente). Como afirmamos anteriormente, supõe-se que pode ter ocorrido, por
parte dos sujeitos, uma ocultação dos aspectos ditos negativos. Teriam as equipes
preferido externar um discurso “politicamente correto” para não colocarem em
risco a sua permanência no cargo, mesmo havendo o critério de estabilidade
profissional no serviço público? Seria objeto de crítica depreciar o gerenciamento
de mulheres?
Trabalhar com uma profissional independente do sexo. Significa que
não acho necessário reforçar a posição de uma gerente só porque é
mulher.
(Sujeito 24)
Capacitação independe de sexo. Significa que desde que o chefe
tenha conhecimento e as qualidades necessárias para o desempenho
de suas funções, não há diferença se for homem ou mulher.
(Sujeito
142)
Não interessa o sexo significa que independe do trabalho com uma
mulher ou homem. O fator sexo não é relevante.
(Sujeito 7)
Depende da pessoa, da personalidade, da pessoa que pode ser
tranqüila ou autoritária, calma ou irritada, severa ou ponderada
.
(Sujeito 59)
A competência diz respeito às características profissionais adotadas para viabilizar
melhores resultados para a organização e sua habilidade em resolver conflitos.
Significa que a mulher valoriza a eficiência, com clara definição de
padrões, processos e rotinas.
(Sujeito 146)
Na maior parte das vezes em que trabalhei com mulher gerente tive a
percepção de que realmente são competentes e estavam preparadas.
Fazem um trabalho honesto.
(Sujeito111)
Competência significa estar envolvido no processo de decisão, gerar
mecanismos de ouvir a equipe, de participar, poder pensar alto e
expor sua opinião.
(Sujeito 52)
Competência significa estar comprometido e em sintonia com o
objetivo maior de sua ação e para a instituição. Desenvolve tarefas
e ter como meta alcançar resultados claros e avaliar suas ações
.
(Sujeito 3)
MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
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78 79
AA
AA
A
NÁLISENÁLISE
NÁLISENÁLISE
NÁLISE
DEDE
DEDE
DE
SIMILITUDESIMILITUDE
SIMILITUDESIMILITUDE
SIMILITUDE
Para finalizar as análises da estrutura das representações sociais acerca do
gerenciamento feminino elaborado pelas equipes, foi realizada uma análise de
similitude sobre as respostas dos sujeitos. Com esta análise extraímos um grafo
(Figura 7) mostrando as ligações entre os elementos da representação social do
gerenciamento feminino. Os resultados da análise de similitude fornecem as relações
mais significativas estabelecidas entre as palavras dos membros da equipe.
Figura 7Figura 7
Figura 7Figura 7
Figura 7 Árvore máxima da caracterização do gerenciamento feminino
A Figura 7 mostra que os elementos organizadores “competência”, “sensibilidade”,
“interessante” e “organização” sobressaem na análise e revelam que a descrição do
gerenciamento feminino está ligada a fatores que traduzem uma avaliação positiva
da atuação da mulher. Elementos como compreensão, flexibilidade e aprendizado,
mesmo não estando tão salientes, reforçam a percepção afirmativa.
Secundariamente, somente os dois aspectos: “difícil” e “indiferente” trariam aspectos
não positivados.
Os elementos apresentados nesta figura estão de acordo com o que é apontado por
(Tanure, 2004; Lipovetsky, 2000). No caso das mulheres, elas teriam uma vantagem
comparativa em relação aos homens. Elas trariam desenvolvidas essas características
de maior otimização do tempo e ordenação das tarefas, uma forte ênfase na
organização como algo adquirido durante sua vida no lar, na gestão de inúmeras
tarefas e por conseqüência, transfeririam naturalmente essas habilidades para o
ambiente de trabalho.
DD
DD
D
ISCUSSÃOISCUSSÃO
ISCUSSÃOISCUSSÃO
ISCUSSÃO
Observou-se uma representação social do gerenciamento sendo elaborada pelas
equipes, que apresenta uma mulher preocupada com a organização e ligada à
perfeição e o excesso de detalhes.
Considerando a freqüência e a ordem de evocação das respostas, pode-se inferir
que parte das características atribuídas ao gerenciamento das mulheres é própria do
modo de gerenciar que independe do sexo dos gerentes. Seriam elas competência,
organização e aprendizagem. Refere-se a aspectos estáveis que, provavelmente,
fazem parte do núcleo central da representação social do gerenciamento feminino.
Na periferia próxima já se observa a presença de elementos que poderiam ser
considerados “femininos”, como sensibilidade, tranqüilidade, agradável e
flexibilidade. Isto sugere que uma “feminilização” do gerenciamento já estaria sendo
aceita e incorporada na percepção dos membros das equipes.
Houve predominância de um discurso “bem comportado” e politicamente correto,
evitando abordagens dos aspectos considerados negativos no gerenciamento
feminino. Esta avaliação predominantemente positiva sugere a possibilidade de
existência de uma zona muda: algo que não pode ser dito, por ser ameaçador. A
Zona Muda é constituída de elementos da representação que não são verbalizados
pelos sujeitos através dos métodos clássicos de levantamento de dados e têm um
caráter contra-normativo. Estaria ligada a valores morais ou normas valorizadas
pelo grupo que poderiam ser ameaçadas se fossem verbalizadas.
O gerenciamento realizado por mulheres é positivamente avaliado pelas equipes,
sugerindo que os espaços públicos já não são percebidos como exclusivos dos
homens, uma mudança na forma tradicional de conceber a divisão sexual do
trabalho.
InteressanteInteressante
InteressanteInteressante
Interessante
OrganizaçãoOrganização
OrganizaçãoOrganização
Organização
CompetênciaCompetência
CompetênciaCompetência
Competência
AprendizadoAprendizado
AprendizadoAprendizado
Aprendizado
OutrosOutros
OutrosOutros
Outros
SensibilidadeSensibilidade
SensibilidadeSensibilidade
Sensibilidade
FlexibilidadeFlexibilidade
FlexibilidadeFlexibilidade
Flexibilidade
IndiferenteIndiferente
IndiferenteIndiferente
Indiferente
CompreensãoCompreensão
CompreensãoCompreensão
Compreensão
MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
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80 81
CC
CC
C
ONSIDERONSIDER
ONSIDERONSIDER
ONSIDER
AÇÕESAÇÕES
AÇÕESAÇÕES
AÇÕES
FINAISFINAIS
FINAISFINAIS
FINAIS
Observaram-se semelhanças nos resultados das entrevistas com as mulheres gerentes
e suas equipes em relação ao gerenciamento exercido por mulheres como:
organização, eficiência, flexibilidade e cuidado com o outro. Pode-se dizer que
uma representação social de uma forma feminina de gerenciar está sendo construída,
no contexto onde ocorreu a pesquisa, que se caracteriza por uma tentativa de
conciliação entre a exigência de si e do outro e atenção e cuidado com a equipe.
Os resultados apontaram para uma idealização do gerenciamento feminino onde
deve existir uma forma conciliatória entre eficiência, competência e as
responsabilidades no cuidado com o outro.
Outra questão que se apresentou diz respeito à distinção entre competências pessoais
e competências de gênero. Até que ponto a mulher atribui as suas habilidades ao
fato de ser mulher? Ou as atribui a uma competência pessoal, fruto de sua
personalidade e história pessoal? Pensar em uma competência pessoal não é uma
maneira de obscurecer a questão de gênero nas organizações? Ou indica uma
superação das diferenças? São também questões que se abriram.
O desempenho dos papéis na família é tão importante no discurso das mulheres
gerentes que a dupla jornada é assumida com sacrifícios a fim de preservar, mais
harmoniosamente, seu papel de mãe e de mulher profissional. A excessiva carga de
trabalho das mulheres, que acumulam as suas atividades na esfera pública com
MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
TÂNIA M. FONTENELE-MOURÃO
82 83
mas na relação social subjacente. Vale dizer, em uma cultura do trabalho que
fundamenta as divisões de tarefas em representativas do masculino e do feminino,
essas divisões obedecem a tradições e hierarquias que são componentes simbólicos,
socialmente construídos e vivenciados.
Outra questão que se apresenta é a de que o sucesso de mulheres em postos
gerenciais já não sucinta ostracismo social, ao contrário, há uma valorização para
sua maior participação e um sentimento de orgulho quando elas chegam ao poder.
Foi-se o tempo em que imperativamente, as mulheres deviam “apagar-se”,
renunciando aos estudos prolongados bem como aos postos de responsabilidade.
Felizmente, em nossos dias, as mulheres não têm medo de vencer, ao contrário,
sentem-se orgulhosas de alcançar sucesso profissional. Por outro lado, demonstram
que não se beneficiam das mesmas motivações sociais que os homens para elevar-
se ao topo. As mulheres gerentes deste estudo raramente se mostraram determinadas
a alcançar os últimos escalões das organizações, elas remetem que o sucesso foi
ocorrendo em decorrência de sua competência e grau de articulação, o alcance do
posto de comando se deu como meio e não como fim. Lançam igualmente um olhar
crítico à corrida por postos e honras, ao carreirismo e ao oportunismo que animam
os homens. Neste sentido, Lipovetsky
(2000) aponta que não se pode separar essa
distância feminina em relação às lutas de poder de uma socialização com dominância
“privada”, dirigida para os valores relacionais e afetivos. A orientação para as pessoas,
constitutiva da socialização feminina, torna as mulheres refratárias às lutas pelos
postos e pelo poder, esvazia de
sentido existencial
a busca de poder pelo poder e
leva-as, ao contrário dos homens, a cogitar o sacrifício de sua carreira se esta
prejudicar sua vida privada.
Cabe ressalvar, que o fato das mulheres não terem a “ambição” pelo poder, isso não
deve significar que seja a causa de tão poucas mulheres alcançarem os postos de
alta hierarquia. Fatores como: opção por maior qualidade de vida; “homens escolhem
homens” para postos no poder: e dificuldades e falta de estímulo organizacional
para maior inclusão de mulheres em postos de alta hierarquia são apontadas como
alguns dos elementos que impedem maior número de mulheres no topo de carreira.
afazeres domésticos indica que a divisão das tarefas domésticas ainda é desigual,
bem como falta a provisão, pelo Estado, de equipamentos sociais, como creches e
escolas de tempo integral. Por outro lado, as gerentes atribuem o apoio familiar
como essencial: tanto no incentivo à aceitação de novos desafios (apoio do marido
e filhos), quanto no modelo ou parâmetro a serem seguidos (pessoa da família da
qual a gerente descende, sobretudo a mãe).
Buscam formas mais flexíveis de lidar com as inúmeras demandas que estariam
relacionadas com a maneira “feminina” de trabalhar com processos gerenciais e
equipes, adquiridas na aprendizagem no âmbito doméstico. Uma flexibilidade
necessária tanto para conciliar as demandas da família quanto aquelas do trabalho.
Mas a persistência, refletida no espaço da conquista do sucesso sem fazer concessões
e na competência, é outro traço que caracteriza este estilo de gerenciar.
Percebe-se que, além de um movimento de “feminização”
(Lavinas, 2001) significando
um aumento na participação das mulheres no mercado de trabalho, pode-se observar,
também, uma “feminilização” na maneira de gerenciar. Em outras palavras, um
novo modelo de gerenciamento que busca a conciliação daquelas características
tradicionalmente consideradas femininas com as características tidas como
masculinas, para a obtenção de melhores resultados.
Considerando as relações de gênero, podemos também apontar como relevante a
reflexão sobre a forma feminina de gerenciar. Até que ponto estaria havendo uma
manutenção da dicotomia, só que agora sob a ótica inversa, legitimando “diferenças”
naturais. Poderíamos apontar para um estágio além do híbrido - masculino e
feminino - e sim para uma forma simplesmente com características humanas de
gerenciar, sem a necessidade de afirmar diferenças?
Desta sorte, mesmo trabalhando critérios aparentemente naturais de definição do
masculino e do feminino, como por exemplo, força e delicadeza, as implicações do
seu uso remeteriam a uma hierarquia que não estava contida na diferença biológica,
MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
TÂNIA M. FONTENELE-MOURÃO
84 85
RR
RR
R
EFERÊNCIASEFERÊNCIAS
EFERÊNCIASEFERÊNCIAS
EFERÊNCIAS
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Por outro lado, Wolf (2006) afirma que é preciso ter clara a perspectiva histórica da
participação feminina no mercado de trabalho. É preciso entender que tudo o que
as mulheres conquistaram no mercado de trabalho teve início nos últimos 50 anos
- e de forma progressiva. As pessoas que detêm os mais altos postos, atualmente,
estão na casa dos 50 anos e entraram no mercado de trabalho antes dessa abertura.
Fazem parte de uma geração na qual ainda havia poucas mulheres na universidade
e dispostas a enfrentar o mercado.
Se olharmos a geração que hoje está com 20 anos e imaginarmos como ela estará
daqui a três décadas, podemos inferir que nos postos mais altos das organizações
haverá tantas mulheres quanto homens
(Wolf, 2006).
É importante assinalar a necessidade de novos estudos que possam identificar, no
discurso e nas práticas dos sujeitos, possíveis elementos de transformação das
representações e suas conseqüências na construção do gerenciamento feminino.
Ainda no âmbito deste trabalho, analisar os resultados das equipes com distinção
por sexo e por categoria funcional, o que poderá trazer informações importantes
para a melhor compreensão do tema proposto. Estudos comparativos entre o
gerenciamento feminino e o gerenciamento masculino são recomendados, assim
como, estudos sobre o gerenciamento de mulheres que gerenciam em escalões
mais baixos.
MULHERES NO TOPO DE C ARREIRA
TÂNIA M. FONTENELE-MOURÃO
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Tânia Tânia
Tânia Tânia
Tânia
M. Fontenele-MourãoM. Fontenele-Mourão
M. Fontenele-MourãoM. Fontenele-Mourão
M. Fontenele-Mourão é economista, pós-graduada em Administração, mes-
tre e doutoranda em Psicologia Social e do Trabalho pela Universidade de Brasília.
Realizou pesquisas no Civil Service College - Ascot / Londres e desenvolve pesquisas
sobre Mulheres e Mercado de Trabalho, Representações Sociais do Gerenciamento
Feminino e Poder e Lideranças de Mulheres nas Organizações.
É consultora em organizações públicas e privadas, professora da ENAP - Escola
Nacional de Administração Pública - e do Instituto de Ensino Superior de Brasília.
Nasceu e foi criada em Brasília. Teve o privilégio de estudar em escolas públicas de
qualidade criadas por Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro. Aprecia a beleza do cerrado,
sendo os ipês amarelos seus preferidos. Adora nadar nas águas geladas das cachoeiras
e admirar a imensidão do céu azul do Planalto Central; admira a arquitetura moderna
de Brasília e seus espaço vazios.
TÂNIA M. FONTENELE-MOURÃO
92
Secretaria Especial de
Políticas para as Mulheres
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