
alvo de seu discurso e sua principal interlocutora - tornaram possí-
vel o desenvolvimento de um espaço cultural - através da imprensa
- no qual a subjetividade originada na esfera íntima da família foi
cada vez mais tematizada. (Bicalho, 1989, p.83)
Os anos iniciais do século, assim como as décadas seguintes,
contaram com uma imprensa periódica feminina que não deixou
de exigir maiores direitos para as mulheres, representados por
mais educação e instrução, c era veiculada no país com uma certa
periodicidade, em número suficiente e a preços acessíveis. As re-
vistas c jornais vinham principalmente da Europa que, nesse mo-
mento, se agitava com os tempos de guerra. Embora o Rio de Ja-
neiro representasse o pólo cultural do país, São Paulo do início do
século já se estruturava como a grande metrópole que viria a ser,
e, em 1890, estava em terceiro lugar no país com 1.384.750 habi-
tantes, logo depois de Minas Gerais e Bahia; cm 1940, saltaria
para o primeiro lugar, com 7.239.711.
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O artigo "São Paulo de ontem e de hoje", publicado na revista
Ella
10
em abril de 1936, referia-se uma cidade que cm 1902 de-
nunciava a grande capital que viria a ser, afirmando que apesar da
vida, do desenvolvimento comercial e industrial serem intensos,
a cidade ainda cheirava a província. Na imprensa, estavam em cir-
culação alguns periódicos e os jornalistas eram muito populares e
apontados com admiração e respeito, principalmente por serem
ainda tão poucos:
9 Dados de O Estudante (dez. 1943, p.20), publicação periódica mensal dirigida
por Menotti del Picchia. O jornal informa ainda que, cm 1890, Minas Gerais era
o Estado mais povoado, com 3.184.099 habitantes, seguido pela Bahia, com
1.919.802, e São Paulo encontrava-se em terceiro lugar, com 1.384.750 pessoas.
Em 1940, São Paulo já estava em primeiro lugar com 7.239.711 habitantes, se-
guido por Minas Gerais, com 6.798.647, c pela Bahia, com 3.938.909.
10 Ella, revista feminina, quinzenal, ilustrada, cm artigo de abertura do seu nú-
mero 1, publicado cm 15 de abril de 1936, de autoria de Mário Guastini, ex-
diretor do Jornal do Comércio. A revista era dirigida a um público de elite, im-
pressa em papel de excelente qualidade c tinha como intenção suprir o mer-
cado editorial brasileiro, que buscava suas principais revistas na Europa desde
o início do século. Aparentemente, a revista fundada pelo conde de Navásquez
teve curta duração, pouco mais de um ano. Tinha especialmente modas parisi-
enses, seção de cinema, arte, contos, poesias, jardinagem, conselhos de beleza
c culinária, entre outros.