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Mariana, Machado de Assis
Fonte:
ASSIS, Machado de. Obra Completa. Rio de Janeiro : Nova Aguilar 1994. v. II.
Texto proveniente de:
A Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro <http://www.bibvirt.futuro.usp.br>
A Escola do Futuro da Universidade de São Paulo
Permitido o uso apenas para fins educacionais.
Texto-base digitalizado por:
Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura e Lingüística
(http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/literat.html)
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Mariana
Capítulo Primeiro
"QUE SERÁ FEITO de Mariana?" perguntou Evaristo a si mesmo, no largo
da Carioca, ao despedir-se de um velho amigo, que lhe fez lembrar aquela
velha amiga.
Era em 1890. Evaristo voltara da Europa, dias antes, após dezoito anos de
ausência. Tinha saído do Rio de Janeiro em 1872, e contava demorar-se até
1874 ou 1875, depois de ver algumas cidades célebres ou curiosas, mas o
viajante põe e Paris dispõe. Uma vez entrando naquele mundo em 1873,
Evaristo deixou-se ir ficando, além do prazo determinado; adiou a viagem
um ano, outro ano, e afinal não pensou mais na volta. Desinteressara-se das
nossas cousas; ultimamente nem lia os jornais daqui; era um estudante pobre
da Bahia, que os ia buscar emprestados, e lhe referia depois uma ou outra
notícia de vulto. Senão quando, em novembro de 1889, entra-lhe em casa
um reporter parisiense, que lhe fala de revolução no Rio de Janeiro, pede
informações políticas, sociais, biográficas. Evaristo refletiu.
— Meu caro senhor, disse ao reporter, acho melhor ir eu mesmo buscá-
las.
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Não tendo partido, nem opiniões, nem parentes próximos, nem interesses
(todos os seus haveres estavam na Europa), mal se explica a resolução súbita
de Evaristo pela simples curiosidade, e contudo não houve outro motivo.
Quis ver o novo aspecto das cousas. Indagou da data de uma primeira
representação no Odéon, comédia de um amigo, calculou que, saindo no
primeiro paquete e voltando três paquetes depois, chegaria a tempo de
comprar bilhete e entrar no teatro; fez as malas,
correu a Bordéus, e embarcou.
"Que será feito de Mariana? repetia agora, descendo a rua da Assembléia.
Talvez morta... Se ainda viver, deve estar outra; há de andar pelos seus
quarenta e cinco... Upa! quarenta e oito; era mais moça que eu uns cinco
anos. Quarenta e oito... Bela mulher; grande mulher! Belos e grandes
amores!"
Teve desejo de vê-la. Indagou discretamente, soube que vivia e morava na
mesma casa em que a deixou, rua do Engenho Velho; mas não aparecia
desde alguns meses, por causa do marido, que estava mal, parece que à
morte.
— Ela também deve estar escangalhada, disse Evaristo ao conhecido que
lhe dava aquelas informações.
— Homem, não. A última vez que a vi, achei-a frescalhona. Não se lhe dá
mais de quarenta anos. Você quer saber uma coisa? Há por aí roseiras
magníficas, mas os nossos cedros de 1860 a 1865 parece que não nascem
mais.
— Nascem; você não os vê, porque já não sobe ao Líbano, retorquiu
Evaristo.
Crescera-lhe o desejo de ver Mariana. Que olhos teriam um para o outro?
Que visões antigas viriam transformar a realidade presente? A viagem de
Evaristo, cumpre sabê-lo, não foi de recreio, senão de cura. Agora que a lei
do tempo fizera sua obra, que efeito produziria neles, quando se
encontrassem, o espectro de 1872, aquele triste ano da separação que quase
o pôs doido, e quase a deixou morta?
Capítulo II
DIAS DEPOIS apeava-se ele de um tílburi à porta de Mariana, e dava um
cartão ao criado, que lhe abriu a sala.
Enquanto esperava circulou os olhos e ficou impressionado. Os móveis
eram os mesmos de dezoito anos antes. A memória, incapaz de os recompor
na ausência, reconheceu-os a todos, assim como a disposição deles, que não
mudara. Tinham o aspecto vetusto. As próprias flores artificiais de uma
grande jarra, que estava sobre um aparador, haviam desbotado com o tempo.
Tudo ossos dispersos, que a imaginação podia enfaixar para restaurar uma
figura a que só faltasse a alma.
Mas não faltava a alma. Pendente da parede, por cima do canapé, estava o
retrato de Mariana. Tinha sido pintado quando ela contava vinte e cinco
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anos; a moldura, dourada uma só vez, descascando em alguns lugares,
contrastava com a figura ridente e fresca. O tempo não descolara a
formosura. Mariana estava ali, trajada à moda de 1865, com os seus lindos
olhos redondos e namorados. Era o único alento vivo da sala; mas só ele
bastava a dar à decrepitude ambiente a fugidia mocidade. Grande foi a
comoção de Evaristo. Havia uma cadeira defronte do retrato, ele sentou-se
nela, e ficou a mirar a moça de outro tempo. Os olhos pintados fitavam
também os naturais, porventura admirados do encontro e da mudança,
porque os naturais não tinham o calor e a graça da pintura. Mas pouco durou
a diferença; a vida anterior do homem restituiu-lhe a verdura
exterior, e os olhos embeberam-se uns nos outros, e todos nos seus velhos
pecados.
Depois, vagarosamente, Mariana desceu da tela e da moldura, e veio
sentar-se defronte de Evaristo, inclinou-se, estendeu os braços sobre os
joelhos e abriu as mãos. Evaristo entregou-lhes as suas, e as quatro
apertaram-se cordialmente. Nenhum perguntou nada que se referisse ao
passado, porque ainda não havia passado; ambos estavam no presente, as
horas tinham parado, tão instantâneas e tão fixas, que pareciam haver sido
ensaiadas na véspera para esta representação única e interminável. Todos os
relógios da cidade e do mundo quebraram discretamente as cordas, e todos
os relojoeiros trocaram de ofício. Adeus, velho lago de Lamartine! Evaristo
e Mariana tinham ancorado no oceano dos tempos. E aí vieram as palavras
mais doces que jamais disseram lábios de homem nem de mulher, e as mais
ardentes também, e as mudas, e as tresloucadas, e as expirantes, e as de
ciúme, e as de perdão.
— Estás bom?
— Bom; e tu?
— Morria por ti. Há uma hora que te espero, ansiosa, quase chorando; mas
bem vês que estou risonha e alegre, tudo porque o melhor dos homens
entrou nesta sala. Por que te demoraste tanto?
— Tive duas interrupções em caminho; e a segunda muito maior que a
primeira.
— Se tu me amasses deveras, gastarias dous minutos com as duas, e estarias
aqui há três quartos de hora. Que riso é esse?
— A segunda interrupção foi teu marido.
Mariana estremeceu.
— Foi aqui perto, continuou Evaristo; falamos de ti, ele primeiro, a
propósito não sei de quê, e falou com bondade, quase que com ternura.
Cheguei a crer que era um laço, um modo de captar a minha confiança.
Afinal despedimo-nos; mas eu ainda fiquei espiando, a ver se ele voltava;
não vi ninguém. Aí está a causa da minha demora; aí tens também a causa
dos meus tormentos.
— Não venhas outra vez com essa eterna desconfiança, atalhou Mariana
sorrindo, como na tela, há pouco. Que quer você que eu faça? Xavier é meu
marido; não hei de mandá-lo embora, nem castigá-lo, nem matá-lo, só
porque eu e você nos amamos.
— Não digo que o mates; mas tu o amas, Mariana.
— Amo-te e a ninguém mais, respondeu ela, evitando assim a resposta
negativa, que lhe pareceu demasiado crua.
Foi o que pensou Evaristo; mas não aceitou a delicadeza da forma
indireta. Só a negativa rude e simples poderia contentá-lo.
— Tu o amas, insistiu ele.
Mariana refletiu um instante.
— Para que hás de revolver a minha alma e o meu passado? disse ela. Para
nós, o mundo começou há quatro meses, e não acabará mais — ou acabará
quando você se aborrecer de mim, porque eu não mudarei nunca...
Evaristo ajoelhou-se, puxou-lhe os braços, beijou-lhe as mãos, e fechou
nelas o rosto; finalmente deixou cair a cabeça nos joelhos de Mariana.
Ficaram assim alguns instantes, até que ela sentiu os dedos úmidos, ergueu-
lhe a cabeça e viu-lhe os olhos rasos de água. Que era?
— Nada, disse ele; adeus.
— Mas que foi?!
— Tu o amas, tornou Evaristo, e esta idéia apavora-me, ao mesmo tempo
que me aflige, porque eu sou capaz de matá-lo, se tiver certeza de que ainda
o amas.
— Você é um homem singular, retorquiu Mariana, depois de enxugar os
olhos de Evaristo com os cabelos, que despenteara às pressas, para servi-lo
com o melhor lenço do mundo. Que o amo? Não, já não o amo, aí tens a
resposta. Mas já agora hás de consentir que te diga tudo, porque a minha
índole não admite meias confidências.
Desta vez foi Evaristo que estremeceu; mas a curiosidade mordia-lhe a ele
o coração, em tal maneira, que não houve mais temer, senão aguardar e
escutar. Apoiado nos joelhos dela, ouviu a narração, que foi curta. Mariana
referiu o casamento, a resistência do pai, a dor da mãe, e a perseverança dela
e de Xavier. Esperaram dez meses, firmes, ela já menos paciente que ele,
porque a paixão que a tomou tinha toda a força necessária para as decisões
violentas. Que de lágrimas verteu por ele! Que de maldições lhe saíram do
coração contra os pais, e foram sufocadas por ela, que temia a Deus, e não
quisera que essas palavras, como armas de parricídio, a condenassem, pior
que ao inferno, à eterna separação do homem a quem amava. Venceu a
constância, o tempo desarmou os velhos, e o casamento se fez, lá se iam sete
anos. A paixão dos noivos prolongou-se na vida conjugal. Quando o tempo
trouxe o sossego, trouxe também a estima. Os corações eram harmônicos, as
recordações da luta pungentes e doces. A felicidade serena veio sentar-se à
porta deles, como uma sentinela. Mas bem depressa se foi a sentinela; não
deixou a desgraça, nem ainda o tédio, mas a apatia, uma figura pálida, sem
movimento, que mal sorria e não lembrava nada. Foi por esse tempo que
Evaristo apareceu aos seus olhos e a arrebatou. Não a arrebatou ao amor de
ninguém; mas por isso mesmo nada tinha que ver com o passado, que era
um mistério, e podia trazer remorsos...
— Remorsos? interrompeu ele.
— Podias supor que eu os tinha; mas não os tenho, nem os terei jamais.
— Obrigado! disse Evaristo após alguns momentos; agradeço-te a confissão.
Não falarei mais de tal assunto. Não o amas, é o essencial. Que linda és tu
quando juras assim, e me falas do nosso futuro! Sim, acabou; agora aqui
estou, ama-me!
— Só a ti, querido.
— Só a mim? Ainda uma vez, jura!
— Por estes olhos, respondeu ela, beijando-lhe os olhos; por estes lábios,
continuou, impondo-lhe um beijo nos lábios. Pela minha vida e pela tua!
Evaristo repetiu as mesmas fórmulas, com iguais cerimônias. Depois,
sentou-se defronte de Mariana como estava a princípio. Ela ergueu-se então,
por sua vez, e foi ajoelhar-se-lhe aos pés, com os braços nos joelhos dele. Os
cabelos caídos enquadravam tão bem o rosto, que ele sentiu não ser um
gênio para copiá-la e legá-la ao mundo. Disse-lhe isso, mas a moça não
respondeu palavra; tinha os olhos fitos nele, suplicantes. Evaristo inclinou-
se, cravando nela os seus, e assim ficaram, rosto a rosto, uma, duas, três
horas, até que alguém veio acordá-los:
— Faz favor de entrar.
Capítulo III
EVARISTO teve um sobressalto. Deu com um homem, o mesmo criado que
recebera o seu cartão de visita. Levantou-se depressa; Mariana recolheu-se à
tela, que pendia da parede, onde ele a viu outra vez, trajada à moda de 1865,
penteada e tranqüila. Como nos sonhos, os pensamentos, gestos e atos
mediram-se por outro tempo, que não o tempo; fez-se tudo em cinco ou seis
minutos, que tantos foram os que o criado despendeu em levar o cartão e
trazer o convite. Entretanto, é certo que Evaristo sentia ainda a impressão
das carícias da moça, vivera realmente entre 1869 e 1872, porque as três
horas da visão foram ainda uma concessão ao tempo. Toda a história
ressurgira com os ciúmes que ele tinha de Xavier, os seus perdões e as
ternuras recíprocas. Só faltou a crise final, quando a mãe de Mariana,
sabendo de tudo, corajosamente se interpôs e os separou. Mariana resolveu
morrer, chegou a ingerir veneno, e foi preciso o desespero da mãe para
restituí-la à vida. Xavier, que então estava na província do Rio, nada soube
daquela tragédia, senão que a mulher escapara da morte, por causa de uma
troca de medicamentos. Evaristo quis ainda vê-la antes de embarcar, mas foi
impossível.
— Vamos, disse ele agora ao criado que o esperava.
Xavier estava no gabinete próximo, estirado em um canapé, com a mulher
ao lado e algumas visitas. Evaristo penetrou ali cheio de comoção. A luz era
pouca, o silêncio grande; Mariana tinha presa uma das mãos do enfermo, a
observá-lo, a temer a morte ou uma crise. Mal pôde levantar os olhos para
Evaristo e estender-lhe a mão; voltou a fitar o marido, em cujo rosto havia a
marca do longo padecimento, e cujo respirar parecia o prelúdio da grande
ópera infinita. Evaristo, que apenas vira o
rosto de Mariana, retirou-se a um canto, sem ousar mirar-lhe a figura, nem
acompanhar-lhe os movimentos. Chegou o médico, examinou o enfermo,
recomendou as prescrições dadas, e retirou-se para voltar de noite. Mariana
foi com ele até à porta, interrogando baixo e procurando-lhe no rosto a
verdade que a boca não queria dizer. Foi então que Evaristo a viu bem; a dor
parecia alquebrá-la mais que os anos. Conheceu-lhe o jeito particular do
corpo. Não descia da tela, como a outra, mas
do tempo. Antes que ela tornasse ao leito do marido, Evaristo entendeu
retirar-se também, e foi até a porta.
— Peço-lhe licença... Sinto não poder falar agora a seu marido.
— Agora não pode ser; o médico recomenda repouso e silêncio. Será noutra
ocasião...
— Não vim há mais tempo vê-lo porque só há pouco é que soube... E não
cheguei há muito.
— Obrigada.
Evaristo estendeu-lhe a mão e saiu a passo abafado, enquanto ela voltava
a sentar-se ao pé do doente. Nem os olhos nem a mão de Mariana revelaram
em relação a ele uma impressão qualquer, e a despedida fez-se como entre
pessoas indiferentes. Certo, o amor acabara, a data era remota, o coração
envelhecera com o tempo, e o marido estava a expirar; mas, refletia ele,
como explicar que, ao cabo de dezoito anos de separação, Mariana visse
diante de si um homem que tanta parte tivera
em sua vida, sem o menor abalo, espanto, constrangimento que fosse? Eis aí
um mistério. Chamava-lhe mistério. Ainda agora à despedida, sentira ele um
aperto, uma coisa, que lhe fez a palavra trôpega, que lhe tirou as idéias e até
as simples fórmulas banais de pesar e de esperança. Ela, entretanto, não
recebeu dele a menor comoção. E lembrando-se do retrato da sala, Evaristo
concluiu que a arte era superior à natureza; a tela guardara o corpo e a
alma... Tudo isso borrifado de um despeitozinho acre.
Xavier durou ainda uma semana. Indo fazer-lhe segunda visita, Evaristo
assistiu à morte do enfermo, e não pôde furtar-se à comoção natural do
momento, do lugar e das circunstâncias. Mariana, desgrenhada ao pé do
leito, tinha os olhos mortos de vigília e de lágrimas. Quando Xavier, depois
de longa agonia, expirou, mal se ouviu o choro de alguns parentes e amigos;
um grito agudíssimo de Mariana chamou a atenção de todos; depois o
desmaio e a queda da viúva. Durou alguns minutos a
perda dos sentidos; tornada a si, Mariana correu ao cadáver, abraçou-se a
ele, soluçando desesperadamente, dizendo-lhe os nomes mais queridos e
ternos. Tinham esquecido de fechar os olhos ao cadáver; daí um lance
pavoroso e melancólico, porque ela, depois de os beijar muito, foi tomada de
alucinação e bradou que ele ainda vivia, que estava salvo; e, por mais que
quisessem arrancá-la dali, não cedia, empurrava a todos, clamava que
queriam tirar-lhe o marido. Nova crise a prostrou; foi levada às carreiras
para outro quarto.
Quando o enterro saiu no dia seguinte, Mariana não estava presente, por
mais que insistisse em despedir-se; já não tinha forças para acudir à vontade.
Evaristo acompanhou o enterro. Seguindo o carro fúnebre, mal chegava a
crer onde estava e o que fazia. No cemitério, falou a um dos parentes de
Xavier, confiando-lhe a pena que tivera de Mariana.
— Vê-se que se amavam muito, concluiu.
— Ah! muito, disse o parente. Casaram-se por paixão; não assisti ao
casamento, porque só cheguei ao Rio de Janeiro muitos anos depois, em
1874; achei-os, porém, tão unidos como se fossem noivos, e assisti até agora
à vida de ambos. Viviam um para o outro; não sei se ela ficará muito tempo
neste mundo.
"1874", pensou Evaristo; "dous anos depois".
Mariana não assistiu à missa do sétimo dia; um parente, — o mesmo do
cemitério, — representava-a naquela triste ocasião. Evaristo soube por ele
que o estado da viúva não lhe permitia arriscar-se à comemoração da
catástrofe. Deixou passar alguns dias, e foi fazer a sua visita de pêsames;
mas, tendo dado o cartão, ouviu que ela não recebia ninguém. Foi então a
São Paulo, voltou cinco ou seis semanas depois, preparou-se para embarcar;
antes de partir, pensou ainda em visitar Mariana, — não tanto por simples
cortesia, como para levar consigo a imagem, — deteriorada embora, —
daquela paixão de quatro anos.
Não a encontrou em casa. Voltava zangado, mal consigo, achava-se
impertinente e de mau gosto. A pouca distância viu sair da igreja do Espírito
Santo uma senhora de luto, que lhe pareceu Mariana. Era Mariana; vinha a
pé; ao passar pela carruagem olhou para ele, fez que o não conhecia, e foi
andando, de modo que o cumprimento de Evaristo ficou sem resposta. Este
ainda quis mandar parar o carro e despedir-se dela, ali mesmo, na rua, um
minuto, três palavras; como, porém, hesitasse na
resolução, só parou quando já havia passado a igreja, e Mariana ia um
grande pedaço adiante. Apeou-se, não obstante, e desandou o caminho; mas,
fosse respeito ou despeito, trocou de resolução, meteu-se no carro e partiu.
— Três vezes sincera, concluiu, passados alguns minutos de reflexão.
Antes de um mês estava em Paris. Não esquecera a comédia do amigo, a
cuja primeira representação no Odéon ficara de assistir. Correu a saber dela;
tinha caído redondamente.
— Cousas de teatro, disse Evaristo ao autor, para consolá-lo. Há peças que
caem. Há outras que ficam no repertório.
FIM
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