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Essa modalidade de legitimação carismática teve início ainda no período do governo
Vargas, entre 1937 e 1945, mas se desenvolveu efetivamente durante o período
liberal-democrático que vai de 1945 a 1964.
[...] O populismo personifica um estilo político sustentado pelo clamor das
lideranças e pela exaltação apaixonada das massas. Na relação ambivalente, em
troca do apoio popular, o político é obrigado a ceder parcialmente diante das
reivindicações, mas, por outro lado, pela centralidade mitificada de sua figura,
mantém o controle das manifestações e das reivindicações (CHAUÍ, 1988, p. 19-
23).
Com o fim da “política do café com leite” e a vitória do movimento de 30,
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novas
características vão marcar o Estado brasileiro, que passa a ser controlado por forças
sociais bastante diversas. Nele, passam a compartilhar o poder tanto as velhas
oligarquias rurais como as forças sociais urbanas que ascendiam.
As oligarquias, principalmente as de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande
do Sul, mantinham forte influência na política nacional, mas iam pouco a
pouco perdendo terreno para uma classe social que se fortalecia cada vez
mais: a burguesia industrial. Esta pouca ou nenhuma participação teve nos
acontecimentos de 1930, mas o Estado pós-1930, guiado pela mão forte de
Vargas, desenvolveu uma política industrializante, que teve como
conseqüência o fortalecimento dessa classe (VITA, 1997, p. 187).
É nesse quadro de mudanças na direção da vida pública que uma outra personagem
ganha destaque no cenário político nacional: a classe trabalhadora.
destacam-se: o fim da Segunda Guerra Mundial e a conseqüente prosperidade econômica do pós-
guerra — a “fase de ouro do capitalismo”, a “ameaça” do comunismo, a guerra fria e o fortalecimento
da capacidade de organização e de mobilização da classe trabalhadora. Nessa nova fase do
capitalismo, o Estado passa a ser o regulador e provedor de benefícios e serviços sociais, sendo
sustentado pelo seguinte tripé: extensão dos direitos sociais, universalização dos serviços sociais e
política de “pleno emprego” (BEHRING, 2000). Deve-se destacar que a articulação dessas
intervenções representou, em decorrência da correlação de forças, um acordo de classes com a
participação do Estado, do patronato e dos trabalhadores, o que não aconteceu na experiência
brasileira (FALEIROS, 2000). No Brasil aconteceu o que Oliveira (1990, p. 68) denomina de
“regulação truncada” ou “mal-estar social”. As estratégias intervencionistas não surgiram através de
pactos entre as classes que concorriam ao poder, mas foram, de um modo geral, implementadas por
uma elite conservadora, sem a participação da cidadania e das classes subalternas. Países
periféricos como o Brasil desenvolveram o regulacionismo estatal sem a universalização dos direitos
políticos e sociais da cidadania (ABREU, 1999).
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“A ‘República dos fazendeiros de café’ – a República Velha – teve seu fim com a chamada
Revolução de 30. Esse movimento inaugurou uma nova era no desenvolvimento econômico, social e
político brasileiro. Foi realizado por oligarquias até então excluídas do poder, como a gaúcha, liderada
por Getúlio Vargas, e pelos ‘tenentes’ — a jovem oficialidade do Exército que combateu o domínio
oligárquico durante boa parte da República Velha” (VITA, 1997, p. 186).