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do tempo” (BURGOS, 1982, p. 127).
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A escrita de negação é, assim, “escrita do refúgio; escrita
do espaço conquistado [...], escrita que procura esvaziar o tempo” (p. 160).
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A essa modalidade
se relaciona a dominante digestiva, do regime noturno do imaginário, que Ana Mello,
novamente retomando Durand, afirma caracterizar-se por imagens “de ‘negação’ do tempo,
tentando ignorá-lo, mas, ao mesmo tempo, empreendendo a busca de um espaço livre da
temporalidade” (2002, p. 15).
Por fim, a terceira modalidade de estruturação do imaginário é a de progresso: “Esta
modalidade de estruturação corresponde a uma atitude radicalmente diferente das duas
precedentes, [...] é uma atitude positiva que aceita, ou ao menos finge aceitar, o inevitável
desenrolar cronológico” (BURGOS, 1982, p. 165).
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Por outro lado, por meio da repetição
cíclica, ela encontra uma forma de abolir a força do tempo e alcançar a eternidade. A escrita
assume o espaço do profano que é “progressivamente valorizado e sacralizado, pela
valorização mesma do tempo” (p. 166)
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e este, em seu caráter circular, assume força criadora.
Voltando novamente aos estudos de Durand, percebe-se que essa última modalidade se
relaciona com a dominante cíclica, vinculada ao regime noturno do imaginário. Essa
dominante é apontada por Mello como sendo “de aceitação ou inserção no tempo, vendo-se a
repetição cíclica ou o fluir temporal como um eterno presente, cujas mudanças são formas de
permanecer” (2002, p. 15). Note-se como a referida autora faz uma releitura da obra de
Durand, permitindo uma aproximação mais clara entre os regimes e dominantes propostos por
este e as modalidades criadas por Burgos em relação ao imaginário e ao texto poético.
Os estudos de Gilbert Durand, com a classificação dos conjuntos de imagens em regimes
e dominantes, terá papel basilar na análise das obras poéticas de Carpinejar, que será realizada
na segunda parte deste trabalho. De forma paralela e pontual, será utilizada a proposta de Jean
Burgos para a aplicação das referidas teorias ao texto poético, retomada sob a perspectiva de
Ana Mello, a fim de revelar o posicionamento adotado em cada obra em relação ao fluir
temporal, quando isso for pertinente. Não se procederá, porém, a análise particularizada dos
verbos, uma vez que isso não está contemplado entre os objetivos deste estudo e mostra-se
extremamente complexo, considerando-se o volume de poemas analisados.
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“la délimitation progressive d’espaces dans l’espace, et de nouveaux espaces à l’intérieur de ceux-ci, comme si
l’édification et le renforcement d’espaces privilégiés, de plus em plus réduits, devaient permettre enfin de se
mettre à l’abri du temps dégradant des horloges”.
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“écriture de refuge; écriture de l’espace aménagé [...], écriture cherchant à évacuer le temps”.
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“Cette modalité de structuration correspond pour sa part à une attitude radicalement différente des deux
précédentes, […] elle est attitude positive qui est, ou plutôt semble être, acceptation de l’inéluctable déroulement
chronologique”.
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“progressivement valorisé, et sacralisé, par la valorisation même du temps”.