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FACULDADE JESUÍTA DE FILOSOFIA E TEOLOGIA
EROFILHO LOPES CARDOSO
A MENSAGEM TEOLÓGICO-PASTORAL DO PAPA JOÃO PAULO II
AOS JOVENS DE HOJE NAS JORNADAS MUNDIAIS DA JUVENTUDE
Dissertação de Mestrado
Orientador: Prof. Dr. João Batista Libanio
BELO HORIZONTE
2006
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Referências bibliográficas
Agradecimentos:
A Deus, o dom misterioso da vida,
Ao orientador, a disponibilidade e paciência,
À família e Fabiana Vieira, suas orações,
Ao pe. Maximinio, a solidariedade,
Aos amigos e amigas, o afeto e partilha,
À Capes, a manutenção parcial,
A FAJE, o ambiente intelectual apropriado,
À coordenadora Ir. Mª Carmelita de Freitas, a compreensão efetiva,
Aos professores, a dedicação acadêmica e correções edificantes,
À secretária Dulcinéia Guides, a docilidade e competência,
Aos alunos e funcionários, o convívio fraterno,
Ao memorável Papa João Paulo II e aos Jovens, a inspiração temática,
Às horas de estudo, o desejo de melhor servir a humanidade.
Referências bibliográficas
Desde quando nasci fui um anjo torto no desconforto do dormir ao trajar.
Sem titubear irei fragmentar a irreverência de sonhar com um Mundo
idealizado, mas não concretizado pela demagogia da politicagem do
planeta Terra e a crescente falta de solidariedade entre toda a humanidade.
Mundo, individualista Mundo, se desejar ser solidário, espiritualize a
humanidade, universalizando a caridade.
Erofilho Lopes Cardoso
Referências bibliográficas
RESUMO
Este trabalho é um estudo histórico-teológico-pastoral das vinte JMJ (1985-2005)
quanto a gênese, finalidade e conteúdo dos vários temas. Analisamos basicamente os seus
cinco documentos (cf. bibliografia) e conteúdos fundamentais (mensagens, discursos e
homilias) no contexto social, eclesial e teológico das JMJ. Explicitamos a teologia, o ponto
fulcral dos textos pontifícios, os pressupostos fundamentais e apresentamos a atualidade da
mensagem pastoral do Papa João Paulo II aos jovens, a partir da correlação entre o perfil da
juventude e o conteúdo da mensagem pontifícia.
As JMJ nasceram em Roma (1984/1985) para evangelizar os jovens. Anualmente
celebra-se uma JMJ diocesana (desde 1986) e, bienalmente, um encontro internacional. Elas
são acontecimentos missionários e pastorais, que estimulam a pastoral juvenil com diretrizes
pastorais e um largo respiro eclesial, espiritual e cultural, conforme uma proposta
querigmática, sacramental e catequética da fé. Depois de percorridos vinte anos de sua gênese
e instituição (1985-2005), as JMJ apresentam-se como um meio extraordinário de
evangelização do mundo dos jovens hodiernos. O encontro fundamental e revitalizante com
Cristo é o ponto central das JMJ.
A teologia explícita do Papa é marcadamente cristológica com ramificações nos
campos eclesiológicos, mariológicos éticos e outros. Os pressupostos com que trabalha
refletem uma visão de mundo, de pessoa humana, de graça, de Deus. Eles são indicados
sumariamente como fundamento das mensagens aos jovens. Mostramos o caráter de
atualidade a partir da resposta que elas oferecem aos anseios dos jovens, cujo perfil o próprio
Papa traça. Mas a religiosidade da juventude contemporânea não se manifesta
monoliticamente nas JMJ: não faltam posições diversas.
A mensagem pastoral do Papa à juventude contemporânea no contexto das JMJ
resume-se fundamentalmente na promoção da dignidade da pessoa humana sobre todas as
estruturas sociais, no empenho missionário em prol da paz, diante das divisões e na
construção da Civilização do Amor, que defende os grandes valores, diante da cultura efêmera
de morte, que oferta os antivalores. Daí a melhor herança a ser comunicada às próximas
gerações são os valores superiores do espírito: a liberdade, a justiça social e a
responsabilidade.
Referências bibliográficas
Palavras-chaves: Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ) - Papa João Paulo II-
Jovens - Mensagem - Teologia - Pastoral - Jesus Cristo.
Referências bibliográficas
SUMMARY
This dissertation is a historical-theological-pastoral study of the twenty World
Youth Days (WYD) (1985 - 2005) with regard to their origin, aim and thematic content.
Basically their five documents (cf. bibliography) and fundamental contents (messages,
discourses and homilies) are analyzed in the social, ecclesial and theological context of the
WYD. The theology, the pivotal point of the papal texts, and the fundamental
presuppositions are made explicit, and the current relevance of the message of Pope John Paul
II to young people is presented, in the correlation between the youth profile and the content of
the papal message.
The WYD began in Rome (1984/1985) in order to evangelize young people.
Every year a diocesan WYD is celebrated (since 1986), and every two years there is an
international meeting. These are missionary and pastoral events, which animate youth work
with pastoral directives and a broad ecclesial, spiritual and cultural breathing-space, according
to a kerygmatic, sacramental and catechetical proposal of faith. With the passage of twenty
years since their genesis and institution (1985 2005), the WYD represent an extraordinary
means of evangelization of the world of today´s young people. The fundamental and
revitalizing encounter with Christ is the focal point of the WYD.
The Pope’s explicit theology is markedly Christological, with ramifications in
ecclesiological, Mariological, ethical and other areas. The presuppositions with which he
works reflect a vision of the world, of the human person, of grace, of God. These are briefly
indicated as the foundation of the messages to young people. Their current relevance is
shown in the reply that they offer to young people’s aspirations, profiled by the Pope himself.
But the religiosity of contemporary youth doesn’t show itself monolithically at the WYD:
there is a diversity of positions.
The pastoral message of the Pope to contemporary youth in the context of WYD
can be summarized basically as the promotion of the dignity of the human person above all
social structures, in the missionary commitment in favour of peace, in the face of divisions
and in the construction of the Civilization of Love, which defends principal values, in the face
of the ephemeral culture of death, which offers anti-values. Thus the best inheritance to be
communicated to the next generations is the higher values of the spirit: freedom, social justice
and responsibility.
Referências bibliográficas
Key words: World Youth Days (WYD) Pope John Paul II Young people
Message – Theology – Pastoral work – Jesus Christ.
Referências bibliográficas
SIGLAS
DMJ Dia Mundial da Juventude
DR Domingo de Ramos
DWVE Disponível em <http://www.vatican.va/holy_fathe_jp-ii_mes_13121987_iii-word-
day_it.htm>. Extraído em 19 jan. 2005. Significado pormenorizado da sigla: D =
Disponível; WV = www.vatican; E = Extraído.
DWVEP Disponível em <http://www.vatican.va/holy_fathe_jp-ii_mes_13121987_iii-word-
day_po.htm>. Extraído em 19 jan. 2005. Significado pormenorizado da sigla: D =
Disponível; WV = www.vatican; E = Extraído; P = Português.
DWPCL Disponível em
<http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/laity/Colonia2005/rc_lai
ty_doc_20030805_toronto-colonia-gmg_it. htm>. Extraído em 01 mar.2005.
Significado pormenorizado da sigla: D = Disponível; W = www.vatican; PCL =
Pontifício Conselho para os Leigos.
DWDJ Disponível em <http://www.vatican.va/gmg/documents/gmg_docs_po.html>.
Extraído em 20 jan.2005. Significado pormenorizado da sigla: D = Disponível; W =
www.vatican; DJ = Documentos das Jornadas.
GMG Giornate Mondiale della Gioventù
GCSM GARELLI, F. & CAMOLETTO, R. F. Una spiritualità in movimento: Le Giornate
Mondiale della Gioventù, da Roma a Toronto. Padova: Messaggero, 2003.
JMJ Jornada Mundial da Juventude
PCL Pontifício Conselho para os Leigos
RAZI Ragazzi dell´azione cattolica italiana
SERMIG Servizio Missionario Giovanile
Referências bibliográficas
INTRODUÇÃO
Não é raro muitos jovens redescobrirem Jesus Cristo
e a Igreja numa JMJ.
(Pablo Lima)
As JMJ estão inscritas entre os eventos mais significativos da passagem do
segundo ao terceiro milênio. No caminho complexo da humanidade, essa iniciativa da Igreja
com os jovens e o Papa João Paulo II representa esperança para a sociedade. A sua relevância
vai além do âmbito eclesial. As JMJ mostram-se como ponto de referência para as novas
gerações, muitas vezes infantilizadas ou deixadas à margem pela sociedade consumista e
individualista que, fechada sobre si mesma, parece ter esquecido a memória do passado, o
compromisso e a responsabilidade com o futuro. As JMJ querem restabelecer e impulsionar as
relações da Igreja com os jovens para construir uma nova sociedade, a civilização do amor.
As causas do sucesso e a importância das JMJ não encontram resposta integral em
análises ou categorias meramente sociológicas, mas no mistério insondável de Cristo que
estabelece relação profunda com os jovens
1
. Relação particularmente relatada na parábola do
jovem rico (cf. Mt 19, 16-22), que o Papa interpretou de modo extraordinário e corajoso na
Carta aos jovens e às jovens
2
. Ela foi escrita a partir do texto evangélico de Mateus, no
início das experiências das JMJ (1985). Nela, o Papa prefigurava o sentido de tudo quanto
está acontecendo nas JMJ com os jovens do mundo inteiro. O Senhor crê nos jovens, interpela
o coração e a mente e ama medir-se com as perguntas juvenis.
Reunir os jovens em torno aos grandes temas da vida e religiosos em nosso
tempo, não é tarefacil, mas o Papa, graças a sua no Senhor e neles, conseguiu mobilizar
milhares de jovens e colocá-los à escuta da Palavra de Cristo. A história das JMJ documenta o
prodígio da que remove as montanhas (cf. Mt 17, 20), abre novas estradas, enfrenta os
desafios imediatos e aponta para um futuro de esperança nos jovens. A continua medindo-
se com a modernidade, transpondo os obstáculos e exprimindo-se em contínuo movimento: as
JMJ não constituem exceção no panorama social contemporâneo, mas são figura típica da
modernidade
3
. Nesse contexto, o Papa sensivelmente intuiu que, entre as suas numerosas
1
Cf. GCSM, p. 5.
2
JOÃO PAULO II. Carta Apostólica aos jovens e às jovens do mundo por ocasião do Ano Internacional da
Juventude. São Paulo: Paulinas, 1985.
3
Cf. GCSM, p. 13.
Referências bibliográficas
tarefas apostólicas, estava a de estabelecer a ponte entre o Senhor e os jovens, para que eles
pudessem encontrá-Lo de modo pleno e fecundo. Numa sociedade secularizada, em que as
famílias cristãs têm dificuldade para transmitir a fé, e as novas gerações distanciam-se dos
ambientes religiosos, o Papa apostou nos jovens para recomeçar o diálogo com o mundo e
renovar a Igreja. Daí a idéia do evento eclesial, que visava mobilizar os jovens e convocá-los
ao protagonismo, propondo um «Concílio dos jovens» itinerante pelo mundo
4
.
Esta dissertação objetiva analisar no contexto social, eclesial e teológico os cinco
documentos (cf. bibliografia) e os conteúdos fundamentais (mensagens, discursos e homilias)
das vinte JMJ (1985-2005) para explicitar a mensagem teológico-pastoral do Papa e os
pressupostos; descrever o perfil da juventude a que ele se dirige a partir dos próprios textos
pontifícios; e mostrar a correspondência entre as duas realidades.
A hipótese principal é de que a teologia explícita do Papa é marcadamente
cristológica com ramificações nos campos eclesiológicos, mariológicos, éticos e outros. Os
pressupostos com que trabalha refletem uma visão de mundo, de pessoa humana, de graça, de
Deus, que serão indicados de modo sumário, como fundamento. E, por fim, mostraremos a
atualidade da resposta que tais mensagens oferecem aos anseios dos jovens, cujo perfil o
próprio Papa traça. É um estudo histórico-teológico-pastoral das JMJ quanto a gênese,
finalidade, conteúdo dos vários temas e visa concluir com diretrizes pastorais úteis à Pastoral
da Juventude.
Dois fatores justificam o estudo e um outro, a sua relevância. O primeiro origina-
se da importância das JMJ para a «vida dos jovens e da Igreja»
5
; e o segundo do seu
magnífico e frutífero itinerário histórico de vinte anos (1985-2005). Por fim, analisaremos a
relevância do impulso que o Papa tem dado, na perspectiva teológico-pastorais, à Pastoral
Juvenil e ao agir pastoral da Igreja com e para os jovens
6
.
As JMJ oferecem os três elementos da pesquisa. Por isso, é importante
reapresentá-los com suas justificativas fundamentadas:
1. A teologia do Papa justifica-se pela quantidade e qualidade dos temas
abordados, como teologia e pastoral. Eis alguns temas
7
: «Sempre prontos para
4
Cf. Ibid., p. 10.
5
JOÃO PAULO II. «Mensagem para a XVII JMJ, 2002» (25 jul.2001). Em DWVEP.
6
Cf. J. JARDIM. «João Paulo II no caminho da Pastoral Juvenil». Disponível em
www.ecclesia.pt/destaqu/jmj2002/jacinto-jardim.htm Consultado em 19 jan. 2005.
7
São 19 temas ao todo, porque o da IX e X é o mesmo.
Referências bibliográficas
dar razão da vossa esperança a todo aquele que a pedir» (1Pr 3,15); «Como o
Pai me enviou, assim eu vos envio» (Jo 20, 21); «Vós sois a luz do mundo.
Vós sois o sal da terra» (Mt 5, 13-14); «Vimos adorá-Lo» (Mt 2, 2)
8
.
2. O perfil da juventude foi traçada em muitos momentos pelo Papa. A visão que
o Pontífice tem dos jovens é muito positiva e realista. Ele os reconhece, ao
apresentar os seguintes traços característicos: «alegria, esperança,
transparência, audácia, criatividade, idealismo, sensibilidade e generosidade
espontânea»
9
, tendência a tudo quanto é belo, procura e desejo de uma
sociedade mais justa, necessidade de serem escutados e amados, sedentos de
verdade e felicidade, riqueza e descoberta, diálogo com alegria, autenticidade
e outros
10
.
3. A correspondência entre a mensagem do Papa e a juventude, porque esta é
destinatária daquela. Ele, ao dirigir-se aos «Caríssimos jovens»
11
, segue a
seguinte lógica: convoca-os para pequenos e grandes encontros
12
; ama-os
13
;
envia-os em missão
14
; e confia-lhes o protagonismo da nova evangelização
15
, a
construção da civilização do amor, da nova sociedade mais justa e fraterna
16
,
da civilização reconciliadora, fundamentada sobre o amor fraterno
17
.
Por questão de método, delimitamos o campo de pesquisa basicamente aos cinco
documentos fundamentais e aos conteúdos primordiais das JMJ. recorreremos a outros
escritos do Papa, quando necessário para entender melhor algum ponto específico em questão.
Metodologicamente, seguiremos os seguintes passos:
1. Partiremos do campo de pesquisa delimitado (as JMJ) com um estudo
histórico, à guisa de introdução, para em seguida abordar a temática teológica
e o perfil da juventude, oferecidos pelas mensagens pontifícias.
8
Temas respectivos da I, IX e X, XVII e XX JMJ.
9
JOÃO PAULO II. «Discurso aos jovens de Portugal, Parque Eduardo VII» (15 de maio de 1982). Em
DWVEP.
10
Cf. Id. «Mensagem para o V DMJ» (1998), n. 2. Em DWVEP; e J. JARDIM..., fonte cit.
11
Este é o modo peculiar do Papa dirigir-se aos jovens no início de todas as suas mensagens pontifícias por
ocasião das JMJ.
12
JOÃO PAULO II. «Mensagem para o XII DMJ, 1997» (15 ago.1996), nn. 1 e 2. Em DWVEP.
13
Id. «Messaggio per la IV GMG, 1989» (27 nov.1988). Em DWVE.
14
Id. Cf. «Mensagem para o IX (1994) e X DMJ (1995)» (21 nov.1993), n. 5. Em DWVEP; Id. «Mensagem para
a XI JMJ, 1996» (26 nov.1995), nn. 5 e 8. Em DWVEP; «Mensagem para a VI JMJ, 1991» (15 ago.1990), n. 1.
Em DWVEP.
15
Id. «Messaggio per la VII GMG, 1992» (24 nov.1991), n. 1. Em DWVE.
16
Id. «Messaggio per la II GMG, 1987» (30 nov.1986), n. 1. Em DWVEP.
17
Id. «Homilia para os Delegados ao Fórum Internacional da Juventude» (23 ago. 1997), n. 3. Em DWVEP.
Referências bibliográficas
2. Inverteremos a ordem dos temas, começando pelo perfil da juventude e,
depois, a teologia do Papa, para conhecer melhor o destinatário da mensagem
pontifícia, avaliar a sua correspondência com a juventude, aprofundar no seu
conteúdo teológico-pastoral progressivamente.
3. Averiguaremos nas fontes as citações (Bíblicas, Patrísticas e/ou Magisteriais)
explícitas nas mensagens, para analisá-las e interpretá-las de modo crítico e
fiel.
4. Chegaremos à confirmação da hipótese de trabalho sobre a teologia do Papa,
seus pressupostos, a atualidade da sua mensagem aos jovens e, finalmente,
concluir com diretrizes pastorais à luz das JMJ.
A dissertação divide-se em três partes: as jornadas mundiais da juventude; o perfil
da juventude contemporânea; e a mensagem do Papa à juventude contemporânea.
Na primeira parte, as JMJ, estudaremos fundamentalmente três pontos: a natureza
das JMJ, o seu caminho histórico-teológico e a peregrinação da Cruz pelos diversos países do
mundo com os jovens. Na busca pela compreensão da natureza das JMJ, explicitaremos as
fases essenciais do programa e as finalidades fundamentais das JMJ. Percorreremos o
caminho das JMJ em bloco de cinco: da I à V JMJ (1986-1990); da VI à X JMJ (1991-1996);
da XI à XV JMJ (1997-2000); e da XVI à XX JMJ (2001-2005). Em cada JMJ, analisaremos
sistematicamente a data, o local, o tema teológico e as linhas fundamentais da mensagem
pastoral do Papa aos jovens, no contexto de cada país-sede do evento. Na peregrinação da
Cruz, compreenderemos a sua natureza e o caminho geográfico nos diversos países do mundo
com os jovens, que caminham com a Cruz de Cristo e vice-versa.
Na segunda parte, descreveremos o perfil da juventude contemporânea à luz
dos textos do Papa aos jovens, por ocasião das JMJ. Para isso, estudaremos o universo dos
jovens das JMJ e suas dimensões psicológica, social e religiosa, para conhecê-los melhor,
explicitar e avaliar, paulatinamente, a correspondência entre o conteúdo das mensagens e a
juventude atual. Apresentaremos também a implicação das JMJ na pastoral juvenil local,
explicitando três diretrizes pastorais a partir da descrição do perfil do jovem hodierno.
Na terceira parte, explicitaremos a mensagem do Papa à juventude
contemporânea. Partindo da finalidade e do itinerário teológico-pastoral do Papa, chega-se
aos três pressupostos teológicos fundamentais dos textos das JMJ. Não se trata de expor toda
Referências bibliográficas
a teologia do Pontífice, mas apresentar sumariamente tais pressupostos como fundamento da
mensagem aos jovens. Depois, apresentaremos a mensagem acerca da paz e da civilização do
amor, epicentro da mensagem pastoral do Papa aos jovens.
As análises, interpretações e considerações contidas nesta dissertação não
pretendem dar respostas cabais nem diretrizes pastorais definitivas à pastoral juvenil, mas
podem ajudá-la a compreender o universo interior dos jovens, o perfil e a visão que eles têm
do Papa, da Igreja e da sociedade vigente. Esses elementos ajudam também a comunidade
eclesial e a sociedade civil a interagir melhor com as novas gerações e os jovens a se
confrontarem com o próprio mundo. A dissertação ajuda a compreender alguns elementos que
fizeram das JMJ um evento extraordinário, na esperança de que isso contagie o ordinário da
vida juvenil e as propostas pastorais. Ela colhe as experiências espirituais e os estímulos
pastorais emergentes das JMJ para que não fiquem relegados ao âmbito das recordações e
emoções.
Esta dissertação apresenta basicamente a história e a mensagem do Papa aos
jovens no contexto das JMJ, incluindo a sistematização. Por isso, particularmente na terceira
parte, privilegiam-se as citações explícitas dos textos do Papa. Isso possibilita contato direto
com as fontes e ajuda a explicitar a mensagem aos jovens. Desse modo, a dissertação torna-se
instrumento valioso para ulteriores reflexões, porque pouco se fez para sistematizar os temas,
avaliar os conteúdos e colher as diretrizes pastorais dos textos do Papa aos jovens por ocasião
das JMJ.
Seguem-se as três partes com os seus respectivos temas concatenados e, ao final
de cada uma delas, faremos breve sistematização conclusiva da temática desenvolvida para
concluirmos com cinco diretrizes pastorais à luz das JMJ.
Referências bibliográficas
PRIMEIRA PARTE
AS JORNADAS MUNDIAIS DA JUVENTUDE
É na intimidade de uma conversa a dois, o jovem peregrino com o jovem
Jesus Cristo, que se realiza a razão de ser da JMJ!
(Pablo Lima)
Com grande pontualidade acontecem as JMJ, evento que surgiu mais de vinte
anos no calendário da Igreja e dos jovens. Elas se inscrevem entre os eventos mais
significativos da passagem do segundo ao terceiro milênio. A relevância delas vai além do
âmbito eclesial. Do ponto de vista sociológico, elas refletem em todos os âmbitos da época,
representando um lugar no qual se interpretam as questões de milhões de jovens e lhes abrem
horizontes mais amplos. Na ótica eclesiológica, elas querem restabelecer e impulsionar as
relações da Igreja com os jovens para construir nova sociedade. Elas se mostram como
referencial para as novas gerações encontrarem Cristo, conhecerem a Igreja e viverem a
missão na sociedade vigente. Mas o caminho dessas experiências mundiais teve um início
histórico.
Daí a necessidade de estudarmos, nesta primeira parte, o caminho histórico-
teológico das vinte JMJ para conhecermos a natureza, gênese, instituição, programa,
finalidade, conteúdo fundamental dos vários temas oferecidos pelas mensagens do Papa aos
jovens e fazermos a peregrinação da Cruz para apreender a sua natureza, percorrendo o
caminho geográfico nos diversos países do mundo com os jovens, que caminham com a Cruz
de Cristo e vice-versa.
1. O que são as JMJ?
1.1. Uma forte experiência festiva de fé
As JMJ são consideradas, pelo próprio Papa João Paulo II, uma «forte experiência
de fé»
18
. Elas podem ser concebidas como tal, exatamente porque, nelas, os jovens
aprofundam a em Deus ou aprendem-na pela primeira vez. Eles percebem a Igreja como
18
JOÃO PAULO II. «Mensagem para o DR» (28 mar.1999), n. 3. Em DWVEP.
Referências bibliográficas
uma comunidade universal, descobrem a novidade do próprio batismo e estabelecem um
vínculo pessoal com a celebração eucarística e da reconciliação.
As JMJ manifestam-se também como um evento festivo. O entusiasmo e o caráter
juvenil expressam-se por meio da dança, da música e das diversas manifestações artísticas
pelas ruas e nos lugares dos encontros, sejam espontâneas ou organizadas: é uma «festa da
conexão pacífica entre muitas nações». Elas podem ser concebidas como um evento festivo da
união acima das barreiras do idioma e da cultura. E, por isso, configuram uma expressão da
certeza de que Deus trará para a humanidade uma nova época, da justiça e da paz.
1.2. Um grande momento de comunhão eclesial
Um outro fator que, junto à experiência festiva de fé, determina as JMJ é a
«experiência de comunhão»
19
, de «união»
20
eclesial vivenciada pelos jovens no decorrer das
jornadas. O encontro entre o Papa e os jovens, por exemplo, é um sinal visível de unidade e
de comunhão da Igreja. A presença do Papa reforça a consciência e a alegria dos jovens de
pertencerem a Jesus Cristo e à sua Igreja fervorosa e viva. Consciente disso, em sua
mensagem para a II JMJ, o Papa oportunamente e sabiamente apresenta as JMJ aos jovens
como um momento em que eles poderiam viver em comunhão com todos os outros, com seus
pastores e unidos a todos que procuram Deus com coração sincero e querem construir uma
nova sociedade
21
.
As JMJ representam para os jovens uma verdadeira «pedagogia de comunhão»
22
e
uma parábola concreta de e de reconciliação, além das fronteiras. A comunhão, vivida
acima das diferenças de cultura, ngua ou nacionalidade, é um caminho privilegiado para
descobrir a «catolicidade» da Igreja, isto é, a sua universalidade.
No decorrer das JMJ, «são desenvolvidas várias formas de encontros que
permitem uma experiência de espiritualidade e de comunhão eclesial»
23
. Por exemplo, as
celebrações eucarísticas possibilitam encontros pequenos e descentralizados. Também as
catequeses, celebradas pelos bispos com os jovens de todo o mundo nas suas próprias línguas,
19
Ibid.
20
www.jmj2005.com.br Consultado em 19 jan.2005.
21
Cf. JOÃO PAULO II, Papa. «Mensagem para a II JMJ, 1987» (30 nov.1986), n.1. Em DWVEP.
22
P. F. KOHN. «La pastorale giovanile oggi: come rispondere alle atese della Chiesa e dei giovani?» (trad. do
it.). Em DWPCL.
23
Ibid.
Referências bibliográficas
dão visibilidade à variedade da Igreja universal. No festival cultural, alegria e encontro unem-
se à música, ao teatro, à dança etc.
As novas gerações estão muito sensibilizadas com o «fenômeno da
globalização»
24
e não hesitam em manifestar o desacordo, por entendê-la como o primado dos
critérios econômicos e financeiros. No grande debate atual, as JMJ permitem aos jovens
descobrir e experimentar a «dimensão cultural e religiosa da ‹globalização›»
25
. Dimensão
muitas vezes esquecida ou desconhecida, ainda que a Igreja a viva e a promova desde
Pentecostes (cf. At 2, 42s). Nessa ótica, as JMJ são fontes de esperança, porque revelam uma
dimensão da globalização fundada sobre valores inestimáveis da pessoa humana
26
. Elas
procuram mostrar os «aspectos positivos, sem ignorar os perigos»
27
desse fenômeno e colocá-
los a serviço da dignidade de cada ser humano, da solidariedade e do bem comum. Nessa era
da globalização, conforme o discurso João Paulo II, é preciso globalizar a solidariedade e o
amor na fidelidade a Cristo
28
. Cristo possibilita a promoção de uma «cultura global», não sua
«uniformização»
29
. Ele «é um Messias que está além de qualquer esquema e de qualquer
clamor, que não se consegue compreender com a lógica do sucesso e do poder, usada muito
pelo mundo como critério para verificar os próprios projetos»
30
.
1.3. Um estímulo à vida cristã e à evangelização
As JMJ são um «reconstituinte» para os jovens participantes
31
. Durante as
jornadas, eles tomam consciência de que não são os únicos cristãos no mundo e que não
pertencem a uma «espécie em via de extinção»
32
. Hodiernamente, os jovens cristãos não o
uma minoria, embora, em alguns países africanos ou asiáticos, sejam perseguidos por causa
da própria fé. Em outros continentes, como a Europa ocidental ou a América do Norte, vivem
num ambiente secularizado no qual a Igreja carece de visibilidade. Mas, confirmados na fé, no
amor e na esperança, os jovens retornam das JMJ com renovado desejo de testemunhar
33
.
24
GIOVANNI PAOLO II, Papa. «Discorso ai partecipanti del UNIV-2001» (9 apr. 2001), n. 2 (trad. do it.). Em
DWVE.
25
P. F. KOHN, fonte cit.
26
Cf. JOÃO PAULO II. «Mensagem para a VIII JMJ, 1993» (15 ago. 1992), n.1. Em DWVEP.
27
Ibid.
28
Id. «Discorso ai partecipanti dal SERMIG-2000» (22 dic. 2000), n.3 (trad. do it.). Em DWVE.
29
Ibid., n. 2.
30
Id. Mensagem do Papa João Paulo II por ocasião da XV JMJ. São Paulo: Paulinas, 2000 (A voz do papa
178).
31
P. F. KOHN, fonte cit.
32
Ibid.
33
Cf. JOÃO PAULO II. «Mensagem para a XVI JMJ, 2002» (14 fev.2001), n. 6. Em DWVPE; Id. «Discurso
aos jovens de Roma» (2 abr.1998), n. 2. Em DWVEP.
Referências bibliográficas
Graças a essa experiência revitalizante, os jovens sentem-se mais encorajados para
resistir à tentação de «deixar passar», quando se encontram isolados num ofício ou na
universidade. Estão em melhores condições de resistir ao vírus do desencorajamento e do
desespero que, em algumas zonas do mundo, tem amplamente contagiado a Igreja e a
sociedade. Muitos jovens reencontram, assim, a alegria e o orgulho de ser cristão. As JMJ
fazem com que compreendam que é possível afirmar a própria com simplicidade, sem
arrogância nem complexos
34
. As JMJ são «um momento de comunhão espiritual» da Igreja
universal e «um estímulo evangelizador» do mundo juvenil
35
. Os jovens participantes
representam as diversas «Igrejas particulares de todo o mundo», isso assegura a comunhão e a
«participação de toda a Igreja universal»
36
.
Permitindo aos jovens viverem a dimensão comunitária e eclesial da fé, as JMJ
mostram um novo estado de ânimo da juventude atual. Nos países de «antiga cristianidade», a
Igreja era vista como uma etapa «preliminar» da fé; hoje, ao contrário, é a experiência de
que geralmente conduz a Igreja. Os jovens de hoje querem crer, mas estão mais reticentes em
«pertencer» a uma instituição. Assistimos ao retorno do sentimento religioso, mas isso não
elimina o risco de certo esoterismo e sincretismo. As JMJ colocaram luz ao fato de que a nova
geração aceita ser evangelizada sem prevenções: manifesta de fato uma sede do absoluto, que
exige respostas claras e considera a dimensão religiosa da vida, sem ocultar a especificidade
cristã. Contrariamente, aos seus pais, que eram católicos por tradição, senão por convicção, os
jovens desta geração devem realizar um ato de liberdade para ser cristãos em um mundo não
mais cristão. Para um jovem de hoje, o ato de crer não coincide com um conformismo social,
mas com a vontade de ser diverso na nossa sociedade pós-cristã.
Ainda se os frutos das JMJ não são totalmente visíveis, e menos ainda avaliáveis
em breves termos, podemos revelar o novo impulso desses eventos nas Igrejas locais. As JMJ
não estimulam a pastoral juvenil, mas toda a Igreja, elas lhe trouxeram maior segurança,
num ambiente geralmente indiferente e hostil. No contexto de secularização, as JMJ revelam a
função de serviço público desenvolvido pela Igreja em numerosos setores da vida social, na
medida em que contribui para construir uma sociedade mais tolerante e aberta aos jovens,
participando assim da educação aos valores comuns. No âmbito de diminuição e de
envelhecimento dos sacerdotes, as JMJ permitiram aos pastores e fiéis experimentarem uma
34
Cf. Id. «Homilia na Santa Missa para os estudantes Universitários de Roma em preparação ao Santo Natal»
(11 dez.2001), n. 4. Em DWVEP.
35
Id. «Messaggio per la IV GMG, 1989» (27 nov.1988), n. 3 (trad. do it.). Em DWVE.
36
Ibid.
Referências bibliográficas
confiança nova. Portanto, as JMJ deram um bocado de oxigênio à Igreja, permitindo-lhe criar
uma dinâmica no âmbito pastoral. Notadamente melhoraram a visibilidade e a imagem da
Igreja, agora vista como mais acessível e próxima às pessoas, particularmente aos jovens.
As JMJ constituem um meio extraordinário de evangelização do mundo juvenil,
porque aparecem como uma resposta adequada as suas expectativas, sobretudo, graças à
pedagogia adotada. Elas objetivam levar o maior número possível de jovens a uma
experiência espiritual e eclesial, segundo uma proposta querigmática, sacramental e
catequética da fé. As JMJ têm também uma dimensão vocacional e missionária. Ajudam os
jovens a tomar consciência da própria identidade cristã e das exigências, que implicam a
vocação do batizado, fazendo-os descobrir que são chamados a ser santos, vivendo e
anunciando o Evangelho no coração da vida cotidiana.
Em síntese, as JMJ são concebidas, preparadas e vividas como uma celebração
festiva de e de alegria, com liturgias vivas e ensinamentos substanciosos. Elas constituem
também momentos inesquecíveis de intensa comunhão e descoberta da Igreja universal, com
numerosos encontros enriquecedores e uma abertura ao mundo. Enfim, as JMJ aparecem
como um estímulo para a vida cristã e para a evangelização do mundo juvenil.
1.4. Fases essenciais do programa das JMJ
O programa é concebido como uma peregrinação na fé. A programação das JMJ,
consideradas pelo próprio Papa «momento de descanso no qual é possível alimentar a
através do encontro com os coetâneos de outros países e o confronto das respectivas
experiências»
37
, possui cinco momentos essenciais
38
: fase preparatória, catequeses, propostas
de encontros e experiências espirituais e culturais, vigília e celebração eucarística. A dinâmica
entrega-reentrega da atravessa e inspira todas essas fases celebrativas das JMJ
39
, desde a
fase preparatória até à missa conclusiva de cada jornada.
37
Id. «Mensagem para a XVII JMJ, 2001» (25 jul.2001). Em DWVPE.
38
Cf. R. RICUCCI. «La GMG dia Toronto, tra conferme e sorprese». Em GCSM, p. 159 (trad. do it.).
39
Cf. http://www.vatican.va/ro.../rc_pc_laity_doc_20000815_xv-youth-day_program_po.htm Consultado
em 31 jan.2005.
Referências bibliográficas
Na fase de preparação
40
, os jovens são convidados a tomar consciência da
«memoria fidei» na Igreja local de origem, a abrir-se à unidade da e ao dinamismo
missionário da Igreja universal, a confrontar essa experiência com a história de hoje e a
aperceber-se dos novos incitantes desafios que ela comporta para a vida em Cristo e na Igreja
e, também, para o testemunho missionário.
As catequeses são ocasiões de um diálogo frutuoso entre os jovens e os bispos.
Os momentos de catequese, realizados por Bispos, de forma tradicional na parte da manhã dos
três dias antes da Vigília, em diferentes locais da cidade, ajudam os jovens a refletirem sobre
o anúncio/entrega da pessoal e a dimensão eclesial da recebida, com uma peregrinação
de caráter penitencial. Esse dia compreende uma liturgia penitencial com a possibilidade de
celebrar, no encontro com um sacerdote, individualmente o sacramento da reconciliação. Esse
é um elemento fundamental do itinerário espiritual proposto aos jovens durante as JMJ. Em
Roma e Toronto, por exemplo, era impressionante ver as longas filas de jovens na expectativa
de confessar-se no «Circo Máximo» e no «Duc in Altum Park». O próprio cansaço por causa
da peregrinação possibilita viver e experimentar a esperança do encontro definitivo com o
Senhor.
As propostas de encontros e experiências espirituais e culturais são promovidas,
geralmente, todas as tardes, nas igrejas e outros locais estabelecidos pelas paróquias,
movimentos, associações, grupos, realidades eclesiais. Os festivais da juventude, por
exemplo, oferecem aos jovens todas as tardes numerosas animações, «desde as mais culturais
às mais espirituais»
41
. Para o dia que antecede à Vigília, celebra-se a Via Sacra, organizada
por um numeroso grupo de jovens. Junto as JMJ, nasceu o «Fórum Internacional da
Juventude»
42
, com o objetivo de analisar a realidade da juventude mundial e possibilitar aos
participantes um enriquecimento de sua «experiência humana, espiritual e eclesial»
43
. A
oração é um momento privilegiado de escuta de Cristo, que fala ao coração humano mediante
o seu Espírito. Ela tem o seu significado profundo na escuta da Palavra de Cristo
44
.
40
No início ou no final de todas mensagens em preparação para cada JMJ, o Papa convida a juventude do mundo
a empenhar-se numa «preparação espiritual» remota-distante no tempo para uma celebração digna das JMJ. Cf.,
por exemplo, GIOVANNI PAOLO II. «Mensagem per la II GMG..., fonte cit., n. 4; Id. «Mensagem para a VI
JMJ, 1991» (15 ago.1990), n.7. Em DWVEP; Id. Mensagem por ocasião da XV JMJ op.cit., n. 1. Em DWVE;
Id. «Mensagem para a XX JMJ, 2005» (6 ago.2004), n.1. Em DWVEP.
41
P. LEGAVRE. «Em direção à JMJ». Em Cultura e Fé 76 (1997) 57.
42
Cf. GIBILEO dei giovani. Em I CARE 10 (2000) 24.
43
JOÃO PAULO II. «Homilia na Missa para os jovens do VII Fórum Internacional da Juventude» (17
ago.2000), n.1. Em DWVEP.
44
Cf. Id. «Discorso durante la cerimonia di accoglienza in Piazza San Pietro» (15 ago.2000), n. 6. Em DWVE.
Referências bibliográficas
Durante a Vigília, a dinâmica entrega-reentrega da é expressa por meio de
algumas narrações que refletem os temas da memória, da fidelidade, da novidade da em
Jesus Cristo, dando voz a vários personagens que, ao longo da história, foram testemunhas da
em Jesus Cristo: Maria em primeiro lugar, os santos apóstolos, os santos e os mártires da
Igreja. São também expressões dessa dinâmica o diálogo entre o Papa e os jovens acerca dos
questionamentos e das esperanças deles no que diz respeito à , na passagem e no início do
terceiro milênio, e a celebração para «reentregar» aos jovens a e o modo de exprimi-la
através dos «novos métodos de linguagem mais adequados ao mundo juvenil». A Vigília em
Tor Vergata, por exemplo, foi considerada pelos jovens o momento mais marcante da JMJ de
2000
45
. A celebração da vigília abarca três momentos fundamentais: o acolhimento da Cruz de
Cristo, a oração dos salmos e a leitura atenta da Palavra
46
.
Na Celebração Eucarística final, «ponto culminante das JMJ»
47
, fortalece-se e se
exprime a graça e o empenho missionário da traditio-redditio, manifestados no mandato
solene do Papa aos jovens
48
. É o ponto culminante de toda a Jornada, enquanto oferece ao
jovem, através da Palavra e do Sacramento, centro da da Igreja, ou seja, a presença viva e
perene do Verbo feito carne, Salvador do mundo, «única via de acesso ao Pai»
49
. A Eucaristia
é o sacramento da presença de Cristo que a nós porque nos ama
50
e a fonte da qual brota a
resposta de uma vivida e anunciada a todos: «Anunciamos a vossa morte, Senhor,
proclamamos a vossa ressurreição, vinde Senhor Jesus!»
51
.
1.5. Finalidades fundamentais das JMJ
Em 1985, no início das JMJ, o Papa disse que havia no coração as palavras do
Apóstolo João: «O que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e o
que nossas mãos apalparam do Verbo da Vida (...) vô-lo anunciamos» (cf. 1Jo 1, 1.3). E
imaginava as JMJ como «um momento forte (de) «experiência de fé e de comunhão eclesial»
52
, no qual os jovens do mundo pudessem encontrar Cristo, o eternamente jovem, e aprender
dEle a tornar os evangelizadores dos outros jovens»
53
. Quase vinte anos depois, em 2003, o
45
Digo isso como testemunho pessoal, porque tive o privilegio inexeqüível de vivenciar parcialmente a XV JMJ
em Roma.
46
Cf. GIOVANNI PAOLO II. «Saluto nella veglia con i giovani» (27 lug.2002). Em DWVE.
47
Id. «Homlia na Missa de encerramento da XV JMJ» (20 ago.2000), n. 2. Em DWVEP.
48
Cf. Ibid. n. 6.
49
Id. Carta Apost. Tertio millennio adveniente. São Paulo: Loyola, ³1996, 58 (Documentos Pontifícios).
50
Id. «Homilia na Missa de encerramento da XV JMJ» (20 ago.2000), n. 4. Em DWVEP.
51
Id. «Homilia no DR» (abr.1998), n. 2. Em DWVEP.
52
Id. «Mensagem para o DR» (28 mar.1999), n. 3. Em DWVEP.
53
Id. «Discorso nella veglia con i giovani della XVII GMG» (27 lug.2002), n. 1 (trad. do it.). Em DWVEP.
Referências bibliográficas
Papa vai afirmar que «essas (as JMJ) têm sido verdadeiras escolas de crescimento na fé, de
vida eclesial, de resposta vocacional»
54
.
Do que o Papa imaginava no seu coração, em 1985, e de sua afirmação, em 2003,
podemos deduzir e aprofundar as três finalidades principais das JMJ. A primeira finalidade e,
de certa forma, a principal porque dela depende as outras duas, é levar os jovens a um
momento forte de encontro com Cristo para que possam proclamar com crescente alegria e
audácia a comum nEle, morto e ressuscitado, e se tornar seus evangelizadores no mundo
contemporâneo. Este mundo espera com ânsia um testemunho de amor, que se origina de uma
profunda convicção pessoal e de um sincero ato de em Cristo ressuscitado
55
. Eis o primeiro
propósito fundamental das JMJ: reconduzir ao centro da e da vida de cada jovem a pessoa
de Jesus Cristo, para que se torne constante ponto de referência e seja também a verdadeira
luz de cada iniciativa e de cada empenho educativo para as novas gerações. É o «refrão» de
cada JMJ
56
. Por isso, durante o DMJ, os jovens professam e proclamam com alegria a própria
em Cristo, interrogam-se e renovam o próprio empenho na urgente tarefa da nova
evangelização. Eles procuram o Senhor no coração do Mistério Pascal. O mistério da Cruz
gloriosa torna-se para eles o grande dom e o sinal da maturidade da fé. Com a sua Cruz,
Cristo guia os jovens do mundo contemporâneo na grande «assembléia» do reino de Deus,
que transforma os corações e as sociedades
57
.
O segundo objetivo fundante das JMJ, além de possibilitar um encontro dos
jovens com Cristo em vista da nova evangelização, consiste em ajudá-los a aprofundar o
sentido de comunhão eclesial. Por isso, os jovens celebram o DMJ em comunhão de oração,
de amizade e de fraternidade, de responsabilidade e de empenho com todos os outros jovens,
os pastores e todos que procuram Deus com coração sincero e querem empenhar as suas
energias juvenis na construção de uma nova sociedade mais justa e fraterna
58
. Mas as JMJ não
se propõem como alternativa diante da pastoral da juventude ordinária. Elas querem antes
restaurá-la, oferecendo novos estímulos de engajamento, comprometimento e participação. E
suscitar crescente fervor na ação apostólica entre os jovens de hoje, para que sejam os
«protagonistas da nova evangelização»
59
, mas sem isolá-los do resto da comunidade. Assim,
as JMJ representam a jornada da Igreja para e com os jovens.
54
Id. «Discurso em preparação do XVIII DMJ» (10 apr.2003), n.5. Em DWVE.
55
Id. «Mensagem para a II JMJ..., fonte cit., n. 2.
56
Cf. Id. «Carta ao Cardeal E. Pironio..., fonte cit., n. 1.
57
Cf. Id. «Homilia para o DR» (28 mar.1999), n. 3. Em DWVEP.
58
Cf. Id. «Mensagem para a II JMJ» (30 nov.1986), n. 1. Em DWVEP.
59
Id. «Carta ao Cardeal E. Pironio..., fonte cit. n. 3 (trad. do it.).
Referências bibliográficas
O terceiro objetivo das JMJ, além de levar os jovens a um encontro com Cristo e a
um aprofundamento do sentido de pertença eclesial, é que elas foram projetadas para ajudá-
los a interrogarem-se sobre as aspirações mais íntimas e para responder a essas perguntas
existenciais
60
da juventude de todos os tempos. Por isso, o Papa disse aos jovens que as JMJ
são «um tempo privilegiado de peregrinação» em que o Senhor poderá esclarecê-los acerca da
«própria vocação»
61
. A esse propósito basta recordarmos que tanto o DMJ como as JMJ
nasceram vinte anos (1985), da intuição pastoral do Papa, que queria criar um instrumento
para responder à necessidade de dimensão espiritual e de nova sociedade que o mundo juvenil
parecia exprimir
62
, «realçar os esforços da Igreja no trabalho pastoral entre os jovens»
63
,
«reconsiderar o modo de aproximar dos jovens para lhes anunciar o Evangelho» e, assim,
«evangelizar o mundo juvenil»
64
.
Em síntese, a finalidade das JMJ é constituirem-se como momentos nos quais
muitos jovens amadureçam a escolha vocacional sob a orientação potente e suave do Espírito
Santo. E aprofundem o sentido de pertença eclesial a partir do forte encontro com Cristo
65
em
vista da missão evangelizadora da Igreja no mundo contemporâneo.
2. Caminho histórico-teológico das vinte JMJ
2.1. Gênese e instituição das JMJ
João Paulo II declarou o ano de 1983-1984 o «Jubileu extraordinário da
Redenção»
66
, para comemorar 1.950 anos da Redenção, com o lema: Aperite portas
Redemptori
67
. Em março de 1983, em Roma, o Centro Internacional de Jovens São Lourenço
lançou uma idéia: uma reunião de jovens no DR de 1984. Esse encontro imediatamente foi
aprovado pelo Papa, que entregou o projeto ao bispo alemão D. Paul-Joseph Cordes, então
vice-presidente do PCL e responsável pelo setor juventude. O ceticismo foi geral. Porém a
idéia seguiu em frente e a equipe (Cordes e os jovens) progrediu. No dia 14 de abril de 1984,
véspera do DR, duzentos e cinqüenta mil jovens convergem para a praça de São Pedro «para
60
Cf. R. RICUCCI. «Giovani..., op.cit., p. 26.
61
JOÃO PAULO II. «Discurso aos jovens franceses» (1998), n. 3. Em DWVEP.
62
Cf. R. RICUCCI. «Giovani..., op.cit., p. 26.
63
T. SZULC. João Paulo II: biografia. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995, p. 407.
64
JOÃO PAULO II. «Discurso para o DR» (1 abr.2004), n.1. Em DWVEP.
65
Cf. Id. «Mensagem para a VIII JMJ, 1993» (15 ago.1992), n.1. Em DWVEP.
66
Id. «Incontro con i Giovani in Piazza San Giovanni in Laterano» (30 mar.1985), n.1 (trad. do it.). Em DWVE.
67
Tradução: Abram as portas para o Redentor.
Referências bibliográficas
um encontro de oração, partilha e conversa»
68
. O sucesso foi magistral. Por isso, o Santo
Padre duplicou a aposta: aproveitando que a ONU havia declarado 1985 o «Ano Internacional
da Juventude», João Paulo II convidou os jovens para um outro encontro no dia 30 de março
desse ano. O seu convite fora muito estimulante e repleto de esperança:
Será um encontro de oração, de partilha, de diálogo, de alegria (...) de
verdade e de vida que oferecerá para todos e para cada um uma paz operante
(...) e vos fará edificadores de formas de vida nova e mais expressiva da face
do homem de hoje (...) e de amanhã, que nas vossas faces já se prefigura
69
.
Mais uma vez ceticismo, contrastando com o enorme sucesso: mais de trezentos
mil jovens disseram sim ao convite pontifício. Uma semana depois desse encontro
entusiástico com os jovens, em sua homilia de Páscoa, o Pontífice João Paulo II manifesta o
desejo e, ao mesmo tempo, confirma a sua convicção de comemorar todo ano uma JMJ. E,
sem descartar as dificuldades, transmite aos jovens a missão de transformar os mecanismos
egoísticos e opressores em estruturas inspiradas na verdade, solidariedade e paz:
Com centenas de milhares de jovens me encontrei no domingo passado e
imprimi na alma alguma imagem festiva do entusiasmo deles. No desejo de
que esta experiência possa repetir-se nos anos futuros, dando origem às JMJ
no Domingo de Ramos, confirmo a minha convicção: aos jovens cabe uma
tarefa difícil, mas exultante: transformar os mecanismos fundamentais que,
nas relações entre indivíduos e nações, favorecem o egoísmo e a opressão e
fazer nascer estruturas novas inspiradas na verdade, na solidariedade e na
paz
70
.
No dia 20 de dezembro seguinte, na sua mensagem natalícia ao Colégio
Cardinalício e à Cúria Romana, ele anuncia que as JMJ serão realizadas um ano em âmbito
local, em todas as dioceses do mundo, e no ano seguinte, no cenário internacional, em alguma
grande capital. Desta vez, as JMJ realmente estavam instituídas: «O Senhor abençoou aquele
encontro de modo extraordinário, tanto que, para os anos que virão, foi instituída a JMJ, a
celebrar no DR, com a válida colaboração do PCL»
71
. Algum tempo depois, o próprio Papa
dirá: «Ninguém inventou essas jornadas (...) foram os próprios jovens que as criaram (...)
abriram o seu caminho»
72
. E, em torno da Cruz do Ano Santo, surgiram e desenvolveram-se
as JMJ, significativos «momentos de parada» no caminho dos jovens e convite contínuo e
premente para fundar a vida sobre a rocha que é Cristo
73
.
68
Apud B. LECOMTE. João Paulo II... op.cit., p. 657; Cf. STORIA delle GMG. Disponível em
www.wjt2005.de/index.php Consultado em 29 abr.2005.
69
«GIUBILEO dei...», op.cit., p. 14.
70
STORIA delle GMG..., fonte cit.
71
JOÃO PAULO II, «Mensagem ao Colégio Cardinalício e à Cúria Romana» (20 dez.1985). Em DWVEP.
72
Id. «Homilia para a XII JMJ, 1997» (15 ago.1996), n.3. Em DWVEP.
73
Id. Mensagem do Papa João Paulo II... op.cit., n. 1.
Referências bibliográficas
E, quando tudo parecia estar consumado, o Papa surpreendentemente anunciou o
terceiro documento fundamental das JMJ
74
: a sua Carta Apostólica aos jovens e às jovens do
mundo
por ocasião do Ano Internacional da Juventude. Trata-se de uma mensagem de
esperança e de empenho, por meio da qual o Santo Padre recorda como a Igreja atribui ao
período da juventude uma particular importância, porque nessa fase reside a «confiança,
esperança da Igreja e da sociedade»
75
. O Papa comenta magistralmente três passagens bíblicas
com denso conteúdo teológico-pastoral. Primeiro, ele trabalha o texto do encontro de Cristo
com o jovem rico (cf. Mc 10, 17-22; Mt 19,16-22 e Lc 18,18-25), que se torna o eixo da Carta.
Depois, o da exortação de Pedro (cf. 1Pr 3,15) oferece o plano de abertura. E, finalmente,
comenta o testemunho do discípulo amado (cf. 1Jo, 2,13s), o fecho de ouro
76
da Carta
Apostólica do Papa aos jovens. Percorremos o caminho histórico-teológico das JMJ em
bloco de cinco: da I à V JMJ (1986-1990); da VI à X JMJ (1991-1996); da XI à XV JMJ
(1997-2000); e da XVI à XX JMJ (2001-2005).
2.2. Da I à V JMJ (1986-1990)
No dia 23 de março de 1986, foi celebrada oficialmente a I JMJ
77
em âmbito
diocesano, no DR. O Papa escolheu como tema de reflexão teológico-pastoral o texto bíblico
que, como dissemos, apresenta o plano de abertura do segundo documento fundamental das
JMJ: «Sempre prontos para dar razão da vossa esperança a todo aquele que a pedir» (1Pr
3,15). Na celebração diocesana da I JMJ em Roma, na sua homilia para o DR, o Papa disse
que «mediante a cruz e Ressurreição Cristo faz a cada jovem o chamado: ‹segue-me› »
78
.
Em junho, na homilia para o DR em Roma, o Papa João Paulo II anunciou com
grande alegria aos jovens do mundo inteiro a celebração internacional da II JMJ, de 11 a 12
de abril de 1987, em Buenos Aires na Argentina
79
. É interessante retomar uma das finalidades
fundamentais das JMJ, como o Pontífice descreve a dimensão de comunhão missionária das
JMJ:
74
Cf. http://www.vatican.va/gmg.html
75
JOÃO PAULO II. «Discurso para o DR» (1 abr.2004), n.7. Em DWVEP.
76
Cf. J. B. LIBANIO; G. GALACHE & J. ALVES. João Paulo II aos jovens. Apresentação didática. São
Paulo: Loyola, 1985, p. 10.
77
Junto à I JMJ, nasce o I Fórum Internacional dos Jovens. Trata-se de um encontro organizado pelo Pontifício
Conselho para os Leigos com dois jovens de cada Conferência Episcopal. Esse primeiro Fórum analisou a
realidade mundial da juventude. Cf. I CARE 10 (2000) 24.
78
JOÃO PAULO II. «Homilia para o DR» (23 mar.1986). Em DWVEP.
79
Cf. Id. «Messaggio per la II GMG, 1987» (30 nov.1986), n. 1. Em DWVE.
Referências bibliográficas
Naquele encontro tão esperado nos sentiremos todos em comunhão de
oração, de amizade e de fraternidade, de responsabilidade e de empenho com
todos os outros jovens que, reunidos em torno aos seus pastores (...) nos
sentiremos, igualmente, unidos a todos aqueles que procuram Deus com
coração sincero e querem empenhar as suas energias juvenis e construir uma
nova sociedade mais justa e fraterna
80
.
Em novembro, na sua mensagem para a II JMJ, o Papa convidou os jovens para as
celebrações diocesanas no DR: «Convido todos os jovens e as jovens do mundo para celebrar
com particular intensidade e esperança a JMJ, no próximo domingo de Ramos de 1987»
81
. Ele
o empenho dos jovens argentinos na construção da paz, da justiça e da verdade e os
estimula a bem preparar uma «festa de profundo empenho com Cristo, com a Igreja, com a
nova sociedade da verdade e do amor»
82
. E propõe como tema e conteúdo teológico fundante
e diretivo da II JMJ o testemunho ocular do apóstolo João: «Conhecemos o amor de Deus e
acreditamos nele» (I Jo 4,16).
Em abril de 1987, na Vigília do DR, o Papa encontra-se no centro de Buenos
Aires na Argentina com os jovens vivendo o contexto histórico de injustiça social. A
Argentina é um país no qual as feridas de dolorosas experiências não estão ainda eliminadas
83
.
Por isso, João Paulo II denunciou o ódio, a violência e anunciou a dignidade do ser humano:
«Que o irmão não mais contra o irmão, que não exista mais nem seqüestrados nem
desesperados, que não exista mais o ódio que conduz a violência, que a dignidade da pessoa
humana seja sempre respeitada»
84
. Cerca de um milhão de jovens ouviu atentamente as
memoráveis palavras do Pontífice: «Quero repetir o que vos disse desde o primeiro instante
de meu pontificado: que sois a esperança do Papa, a esperança da Igreja»
85
. E a empolgante
exortação a empenharem-se na construção do mundo: «Assim construireis uma sociedade da
vida e da verdade, da liberdade e da justiça, do amor, da reconciliação e da paz»
86
.
No dia 13 de dezembro de 1987, na sua mensagem para a III JMJ do Vaticano, o
Papa renova o seu convite aos jovens para a celebração diocesana dessa JMJ, 27 de março de
1988, no DR: «Convido-vos todos a participarem deste acontecimento muito importante.
Venham escutar a Mãe de Jesus, vossa mãe e mestra»
87
. O fio condutor daquela «jornada de
80
Ibid.
81
Ibid. n. 4 (trad. do it.).
82
Ibid.
83
Cf. Ibid. Aqui o Papa, além de descrever brevemente a situação dolorosa do povo argentino, recorda a sua
precedente visita ao país em 1982 e agradece os jovens argentinos pela dedicação na preparação da II JMJ.
84
Id. «Messaggio nell´incontro con i giovani per la II GMG, 1988» (11 apr.1987), n.1 (trad. do it.). Em DWVE.
85
Ibid.
86
Ibid.
87
Id. «Messaggio per la II GMG» (30 nov.1986), n. 3 (trad. do it.). Em DWVE.
Referências bibliográficas
escuta» foram as palavras de Maria aos serventes nas Bodas de Caná: «Fazei tudo quanto ele
vos disser» (Jo 2,5). Essa frase resume todo o magnífico projeto de vida de Maria baseado no
sólido fundamento que é Jesus. E, segundo o próprio Papa, Maria queria indicá-lo aos jovens
serventes: «escutem Jesus, meu Filho, sigam a sua palavra e tenham confiança nele»
88
. A III
JMJ não é uma mera celebração exterior e superficial, mas um dom divinal. Por isso, exige
um caminho de preparação espiritual, bem como todas JMJ precedentes, na pastoral diocesana
e paroquial dos grupos, movimentos e associações juvenis
89
.
No dia 27 de março de 1988, na homilia para o DR em preparação para a III JMJ,
o Papa afirma a centralidade da revelação plena do ser humano no mistério da Cruz de Cristo:
«Cristo revela plenamente o homem ao homem. Vós jovens procurem o Senhor no centro do
seu mistério»
90
.
No dia 27 de novembro, na mensagem para a IV JMJ do Vaticano, o Papa
anunciou e convidou solenemente os jovens de todo orbe para a celebração dessa JMJ, de 15 a
20 de agosto de 1989, em Santiago de Compostela na Espanha. Seria, na previsão do Papa,
um momento de comunhão espiritual de toda Igreja universal representada nos jovens das
Igrejas particulares e uma feliz ocasião para escutar e responder às expectativas mais
profundas da juventude
91
de hoje. A centralidade de sua reflexão teológica é Jesus Cristo: «Eu
sou o Caminho, a Verdade e a Vida» (Jo 14,6)
92
. Em Santiago, encontram-se as raízes da
Europa cristã: cada pedra fala da potência da de inteiras gerações de peregrinos. Por isso,
oportunamente e sabiamente o Papa disse aos jovens: «Se vocês calarem, as pedras
clamarão». Na cidade, cerca de seiscentos mil jovens de toda a Europa testemunharam que a
peregrinação, nos caminhos percorridos pelos peregrinos europeus na Idade Media
93
, não é
uma prática religiosa ultrapassada, mas um caminho de renovação interior, de
aprofundamento da , de fortalecimento do sentido de comunhão e da solidariedade e meio
concreto para redescobrir Cristo na própria vida
94
. Consciente disso, o Papa, em sua homilia
na missa de encerramento da IV JMJ, reafirmou a centralidade teológica e ponto fulcral das
mensagens aos jovens de hoje nas JMJ: «Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida» (Jo 14,6).
88
Ibid. 2.
89
Cf. Ibid. nn. 1-4.
90
GIUBILEO dei..., op.cit., p. 28 (trad. do it.).
91
Cf. GIOVANNI PAOLO II. «Messaggio per la IV GMG..., fonte cit., nn. 1.3.
92
Cf. Ibid. 1.
93
Cf. B. LECOMTE, op.cit., p. 658.
94
Cf. GIOVANNI PAOLO II. «Messaggio per la IV GMG..., fonte cit., n. 3.
Referências bibliográficas
No dia 23 de novembro de 1989, na mensagem para a V JMJ do Vaticano, o Papa
anunciou aos jovens dos cinco continentes a celebração diocesana dessa JMJ, 08 de abril de
1990, no DR. Na mesma ocasião, o Papa incentivou os jovens de todo orbe a redescobrir a
Igreja e a própria missão, estimulando-os a refletir sobre a temática da Igreja como mistério
de Cristo: «Eu sou a videira, e vós os ramos» (Jo 15,5). A Igreja de Cristo é uma realidade
antiga por sua história e perenemente jovem pela graça do Espírito Santo
95
. Por isso, e graças
às primeiras experiências das JMJ, o Papa João Paulo II formulou e explicitou na Carta
Apostólica Chistifideles Laici (1986, n. 46)
96
a relação dialógica existente entre a Igreja e os
jovens:
A Igreja tem muitas coisas a dizer aos jovens, e os jovens têm muitas coisas
a dizer a Igreja. Esse recíproco diálogo, a atuar-se com grande cordialidade,
clareza e coragem, favorecerá o encontro e a troca entre as gerações e será
fonte de riqueza e de juventude para a Igreja e para a sociedade civil
97
.
A V JMJ foi um evento eclesial de grande importância. Houve um excepcional
testemunho de e forte momento de evangelização de milhares de jovens provenientes de
todos os continentes. Em Santiago, a Igreja mostrou ao mundo mais uma vez a sua face
jovem, plena de alegria, de esperança e de entusiasmo na fé. O evento de Santiago foi um
grande dom para a Igreja e para toda a sociedade
98
.
2.3. Da VI à X JMJ (1991-1996)
No dia 15 de agosto de 1990, na sua mensagem para a VI JMJ do Vaticano, o
Papa anunciou aos jovens a celebração internacional dessa JMJ, de 10 a 15 de agosto de 1991,
em Czestochowa na Polônia. O tema teológico escolhido pelo Papa, para os jovens
meditarem, fora o da filiação divina: «Recebestes um espírito de filhos» (Rm 8,15). Essas
palavras introduzem ao profundo mistério da vida cristã: segundo o desígnio divino, somos de
fato chamados a tornar filhos de Deus em Cristo, por meio do Espírito Santo. Em março de
1991, na homilia do DR, o Papa disse aos jovens do mundo inteiro: «Há, às vezes, vozes que
procuram verificar o sentido desta peregrinação. Mas é óbvio o seu significado. Isso permite
Cristo falar ao homem da nossa época». E em abril, na Homilia do DR, apresentou Cristo
como a medida do homem: «Cristo entra na medida do homem».
95
Cf. Id., «Messaggio per la V GMG, 1990» (26 nov.1989), n. 1. Em DWVE.
96
Cf. www.jmj2005.blogger.com.br Consultado em 19 jan.2005.
97
JOÃO PAULO II. Cart. Apost. Chistifideles Laici. São Paulo: Loyola, 1986, p. 46.
98
Cf. Id. «Messaggio per la V GMG... font.cit., n. 1.
Referências bibliográficas
Em Czestochowa, reuniram-se jovens do Oriente e do Ocidente
99
. O muro de
Berlim não passava de uma dolorosa lembrança, e, por isso, o momento era de reconstrução
de uma nova Europa
100
. A peregrinação a Czestochowa foi um testemunho de e de
liberdade frente ao mundo inteiro e aos Estados que se abriam ao Cristo, Redentor do
Homem
101
. O Papa reúne consigo um milhão de jovens para celebrar a missa de encerramento
no Santuário da Madona, onde contemplou um cenário belíssimo: uma multidão variada de
jovens, que responderam ao seu convite com cantos e orações. João Paulo II começa a homilia
retomando o tema da filiação divina pela inabitação do Espírito: «Todos aqueles que são
guiados pelo espírito de Deus, eles são filhos de Deus».
Finalmente, o encontro internacional da juventude em Czestochowa foi um
momento muito importante do pontificado de João Paulo II por diversos motivos
102
: a alegria
e surpresa do encontro muito desejado e esperado entre Leste e Oeste e, assim,
providencialmente realizado quase com total normalidade; o sentido de fraternidade
evangélica e de solidariedade universal entre os jovens de diversos países e culturas; o sentido
da peregrinação que tinha sido muito forte em Santiago de Compostela, mas que ali
assumiu características novas por causa da variedade dos participantes; a grande presença e
afetuosidade dos Bispos com os jovens; enfim, era evidente que o Papa sentia-se
particularmente no seu apogeu ao encontrar os jovens na sua própria terra.
No dia 24 de novembro de 1991, na sua mensagem para a VII JMJ do Vaticano,
o Papa anunciou aos jovens a celebração diocesana dessa JMJ, 12 de abril de 1992, no DR. E,
na mensagem pastoral, apresentou a dimensão missionária do apostolado juvenil como tema
de reflexão teológica-pastoral: «Ide por todo o mundo e pregai o evangelho» (Mc 16,15). Em
abril de 1992, na homilia do DR em Roma, o Papa, refletindo com os jovens o tema proposto,
anteriormente, disse: «Quando Cristo, depois da Ressurreição, disse aos apóstolos: ‹Ide a todo
o mundo e preguem o Evangelho›, naquele momento lhes dera a ordem de pregar exatamente
este mistério, cuja plenitude se realiza nos eventos da Páscoa em Jerusalém: Jesus Cristo é o
Senhor»
103
.
Em 15 de agosto de 1992, na sua mensagem para a VIII JMJ, o Papa anunciou
aos jovens a celebração internacional dessa JMJ, de 11 a 15 de agosto de 1993, em Denver
99
Cf. Id. «Messaggio ai giovani in ocasione del 10 anniversario della VI GMG» (13 ago.2001). Em DWVE.
100
B. LECOMTE, op.cit., p. 658.
101
Cf. JOÃO PAULO II. «Mensagem para a VI JMJ, 1991» (15 ago.1990), n. 6. Em DWVEP.
102
Cf. GIBILEO dei..., op.cit., p. 36.
103
JOÃO PAULO II. «Homilia para o DR» (1992). Em DWVEP.
Referências bibliográficas
nos Estados Unidos. O tema teológico escolhido pelo Papa para aquele ano explicita a
singularidade universal do valor incalculável da Vida abundante em Cristo: «Eu vim para que
todos tenham a vida e a tenham em abundância» (Jo 10,10)
104
. Em abril de 1993, na homilia
para o DR, o Papa disse à juventude de todo orbe: «Cristo humilhou a si mesmo fazendo-se
obediente até a morte. Ele se tornou semelhante a todos e cada a um, especialmente aqueles
que estão no fundo da dor»
105
. Centenas de milhares de velas iluminam a noite na conclusão
da vigília. Quinhentos mil jovens aderiram ao convite do Papa e uniram suas mãos ao som do
hino da X JMJ: «We are One Body». Os jovens comovidos, com o grande afeto de João Paulo
II para com eles, gritaram entusiasticamente: «João Paulo II nos te queremos bem». O Papa
afetuosamente responde: «João Paulo II vos quer bem». O Papa convida os jovens a
escutarem e a seguirem a voz do Bom Pastor, a formarem bem as próprias consciências para
ser luz do mundo, para evangelizar e serem corajosos e generosos assim como são os
missionários.
No dia 21 de novembro de 1993, na mensagem para a IX e X JMJ do Vaticano, o
Papa proclamou o seu convite aos jovens para as celebrações, respectivamente da IX JMJ
diocesana, 27 de março de 1994, e da X JMJ internacional, de 10 a 15 de janeiro de 1995, em
Manila nas Filipinas. É muito interessante e significativa a síntese memorial que o Papa faz
dos encontros anteriores: «Nos precedentes encontros que assinalaram o nosso itinerário de
reflexão e de oração, vimos, como os discípulos, a possibilidade de ‹ver› - que significa
também crer e conhecer, quase ‹tocar› (cf. 1Jo 1,1) - o Senhor ressuscitado»
106
. Continuando a
«dimensão missionária»
107
do DMJ e das JMJ, o Papa escolheu como tema para o
aprofundamento teológico-pastoral o envio missionário: «Como o Pai me enviou, eu também
vos envio» (Jo 20,21). Em março, na homilia para o DR, o Papa disse vigorosamente:
«Olhemos com estupor como os jovens erguem a voz (...) Falam em vários lugares da terra e
suas vozes devem ser ouvidas. E acontece assim que, graças aos seus testemunhos, os jovens
discípulos de Cristo tornam para muitos uma surpresa»
108
.
De 11 a 15 de janeiro de 1995, ocorreu a celebração internacional da X JMJ em
Manila nas Filipinas
109
. Desta vez, três milhões de jovens responderam ao convite do Santo
104
Cf. Id. «Messaggio per la VIII GMG, 1993» (15 ago.1992), nn. 1-3. Em DWVE.
105
Id. «Homilia para o DR» (1993). Em DWVEP.
106
Id. «Messaggio in ocasione della IX e X GMG, 1994/95» (21 nov.1993), n.1 (trad. do it.). Em DWVE.
107
Id. «Homilia na missa para os delegados ao Fórum Internacional da Juventude» (23 ago.1997), n.2. Em
DWVEP.
108
Id. «Homilia para o DR» (mar.1995). Em DWVEP.
109
Antes de sua viagem a Manila, o Papa fez uma cirurgia de reposição do colo do fêmur (em abril de 1994), por
isso, passou a usar uma bengala. Mas (em novembro de 1994), ele bem soube tirar proveito desse fato,
Referências bibliográficas
Padre e, com atenção e confiança, ouviram a sua mensagem. Foi o encontro mais numeroso
de toda história das vinte JMJ. Houve também uma crescente presença dos Bispos. João Paulo
II traçou as linhas de um novo caminho: «As JMJ podem ser para todos vós uma ocasião para
descobrir o vosso chamado, para discernir o caminho particular que Cristo coloca diante de
vós. A procura e a descoberta do que Deus quer para vós é uma experiência profunda e
fascinante». Num clima de intensa oração e reflexão profunda, o Papa ajuda os jovens a
compreenderem os três aspectos mais urgentes para a Igreja hodierna: o testemunho dos
santos, a unidade dos cristãos e o dinamismo missionário. E, no enceramento da X JMJ, o
Papa enviou os jovens em dupla, pronunciando as palavras do próprio Jesus: «Como o Pai me
enviou, assim eu também vos envio» (Jo 20, 21).
Em abril de 1995, na homilia para o DR em Roma, o Papa explicitou o valor da
peregrinação durante a Semana Santa para a revelação histórica do mistério da peregrinação
de Cristo: «A Semana Santa, que hoje iniciamos, revela toda a plenitude, a largura, a altura e a
profundidade da peregrinação de Cristo. Nesta está contido o cumprimento do mistério de
Cristo, santíssimo peregrino, unido de algum modo a cada homem, peregrino que caminha na
nossa história»
110
.
2.4. Da XI à XV JMJ (1996-2000)
No dia 26 de novembro de 1995, na mensagem para a XI JMJ do Vaticano, o
Pontífice João Paulo II convida os «Caríssimos jovens» para essa celebração diocesana, 31 de
março de 1996, no DR. O convite pontifício é expresso magistralmente nas palavras do
apóstolo Paulo aos cristãos de Roma: «Realmente, desejo muito ver-vos, para vos comunicar
algum dom espiritual, que vos possa confirmar, ou melhor, para nos confortar convosco pela
que nos é comum a vós e a mim» (Rm 1,11-12). E apresenta o tema de preparação e
embasamento teológico-pastoral para a XI JMJ de 1996: «Senhor a quem iremos? Tu tens
palavras de vida eterna» (Jo 6, 68-69). O Santo Padre confiou um projeto trienal de ação
pastoral aos jovens que, baseado nas palavras do Evangelho e em correspondência com as
temáticas propostas para cada ano a toda a Igreja, constituirá o fio condutor das três próximas
JMJ
111
.
demonstrando seu senso de humor e oportunismo dialógico com um grupo de jovens em Siracusa: «Vocês são a
favor da bengala ou contra a bengala?», perguntou. «Alguns dizem que ela me faz parecer mais velho. Outros,
que me rejuvenesce... Ah, vejo que vocês são a favor da bengala! Estou me preparando para ir a Manila com
minha bengala! Vou para lá e acho que minha bengala também irá». Apud T. SZUC, op. cit. p. 470.
110
JOÃO PAULO II. «Homilia para o DR» (1995). Em DWVEP.
111
Cf. Id. «Messaggio per la XI GMG, 1997» (26 nov.1996), n.2. Em DWVE.
Referências bibliográficas
No dia 31 de março de 1996, na sua homilia para a celebração da XI JMJ em
Roma, o Papa apresenta o Deus da vida de Cristo que fala e chama os jovens de hoje a
seguirem-no no mistério pascal: «O Deus da vida nos fala da Cruz e Ressurreição do seu
Filho. Esta é a ultima palavra do Evangelho. Exatamente esta palavra está contida no mistério
pascal de Jesus Cristo. Mediante a Cruz e a Ressurreição, mediante o mistério pascal, Cristo
dirige a cada um de nós o chamado: ‹segue-me›»
112
.
No dia 15 de agosto de 1996, na sua mensagem para a XII JMJ de Castel
Gandolfo, o Papa convida os jovens para a celebração internacional dessa JMJ, de 19 a 24 de
agosto de 1997
113
, em Paris na França. E os exorta a fixar o olhar em Jesus, Mestre e Senhor
da vida, através das palavras do Evangelho de João
114
: «Mestre onde moras? Venham e
vejam» (Jo 1,38-39). Essa celebração, que reuniu mais de milhão de jovens de cento e
sessenta países, demonstrou que o cristianismo, na Europa, tem um coração juvenil e que
existem muitos jovens dispostos a conduzir o Evangelho além do limiar de 2000. O tema da
JMJ é um convite a colocar o fruto da própria vida, a ariscar o próprio tempo para construir
um mundo solidário, mas é também um olhar além, no futuro. «Na Igreja não existem
fronteiras, somos um único povo solidário, composto por múltiplos grupos de culturas,
sensibilidade e modo de agir diverso. Tal unidade é sinal de riqueza e de vitalidade»
115
. Essa
XII JMJ em Paris, na França, no primeiro ano preparatório para o Grande Jubileu, assinala o
ponto mais elevado e indica a direção precisa para os jovens chegarem bem preparados ao
encontro do terceiro milênio em Roma, no verão do ano 2000: «Caros jovens, o vosso
caminho não se firma aqui. O tempo não se firma hoje. Andem sobre as estradas do mundo,
sobre as estradas da humanidade, permanecendo unidos a Igreja de Cristo»
116
.
No dia 30 de novembro de 1997, na sua mensagem por ocasião da XIII JMJ do
Vaticano, o Papa convida a juventude universal para a celebração diocesana dessa JMJ, 04 de
abril de 1998, segundo ano preparatório para o Grande Jubileu, e a fixar o olhar no Espírito do
Senhor. Daí o tema para reflexão teológico-pastoral centrado na Terceira Pessoa da
Santíssima Trindade
117
: «O Espírito Santo vos ensinara todas as coisas» (Jo 14,26). No dia 2
de abril de 1998, o Papa convidou os «Caríssimos jovens de Roma»
118
(sua diocese) para
112
“GIUBILEO dei...”, op.cit. p.52 (trad. do it.).
113
Em 1997 a JMJ deveria realizar-se na África, mas pelo Sínodo africano foi constatada a impossibilidade de
encontrar um país hospedeiro, foi escolhida a França. Cf. P. LEGAVRE, op.cit.
114
Cf. JOÃO PAULO, «Mensagem por ocasião da XII JMJ, 1997» (15 ago.1996), n.1. Em DWVEP.
115
Apud “GIUBILEO dei...”, op.cit., p. 54 (trad. do it.).
116
Ibid.
117
Cf. Id. «Mensagem por ocasião da XIII JMJ, 1998» (30 nov.1997), n.2. Em DWVEP.
118
Id. «Saudação aos jovens em preparação para o DMJ» (2 abr.1998), n.1. Em DWVEP.
Referências bibliográficas
preparar a celebração da XIII JMJ. Nesse encontro preparatório, o Pontífice fala da espera da
«Cruz das JMJ» como «mensagem do amor de Cristo» velada na palavra Roma
119
e inscrita na
vida de cada homem e mulher de qualquer idade, povo e condição social, e denuncia a
difundida «cultura do efêmero»
120
. E no dia 05 de abril de 1998, três dias após o encontro
preparatório, na sua homilia para o DR, o Papa (re)propõe a mensagem da Cruz como centro
da existência e fonte da missão da juventude de hoje: «Caros jovens, hoje a mensagem da
Cruz é reproposta a vós. (...) A vossa escolha, jovens cristãos, é clara: descobrir na Cruz de
Cristo o sentido da vossa existência e a fonte do vosso entusiasmo missionário»
121
. No dia 14
de dezembro de 1999, na sua homilia em preparação para o Natal e o Grande Jubileu, o Papa
fala da abertura da «Porta Santa» como «a abertura de uma passagem universal», que significa
«Cristo, Redentor do homem, centro do cosmos e da história»
122
.
No dia 06 de janeiro de 1999, na sua mensagem por ocasião da XIV JMJ do
Vaticano, o Papa João Paulo II convida os «Caros Jovens amigos» para a celebração
diocesana dessa JMJ, 28 de março de 1999, e para dirigirem-se a Deus Pai e escutarem com
gratidão e maravilha a surpreendente revelação de Jesus: «O Pai vos ama» (Jo 16, 27). Essas
são as palavras que o Papa confiou aos jovens para a reflexão teológico-pastoral na
preparação e durante a XIV JMJ. No dia 25 de março, o Papa encontra-se com a juventude de
sua diocese (Roma) para preparar a celebração da XIV JMJ. A dinâmica desse encontro fora
uma «dialética de pergunta e resposta»
123
entre os jovens, que fazem três questões, e o Santo
Padre
124
. Eles concluíram dizendo: «Creio» que o Pai nos ama
125
. E no dia 28 de março do
mesmo ano, três dias após o encontro preparatório, em sua homilia de Ramos na celebração
diocesana da XIV JMJ em Roma, o Papa convidou os «Caros jovens» para irem ao encontro
de Cristo, que os alimenta no Evangelho, na Igreja, nos Sacramentos e a serem solidários com
o próximo
126
.
No dia 29 de junho de 1999, na sua mensagem para a XV JMJ do Vaticano, o
Papa escolheu como tema para a celebração internacional dessa JMJ, de 15 a 20 de agosto de
119
Velada porque a palavra Roma, quando lida ao contrário significa Amor.
120
Cf. JOÃO PAULO II. «Saudação... (2 abr.1998) font.cit., n.3.
121
Id. «Homilia de DR» (5 abr.1998), n.3. Em DWVEP.
122
Id. «Homilia em preparação para o natal e o grande jubileu» (1999), n.2. Em DWVEP.
123
Id. «Veglia di preghiera in Tor Vergata» (19 ago.2000), n.3 (trad. do it.). Em DWVE.
124
A primeira pergunta foi, em síntese, a de Dostoievski na Legenda do Grande Inquisitor: “Como posso crer
em Deus quando permite a morte de uma criança inocente”? A segunda foi sobre a necessidade da conversão, e a
terceira sobre o perdão ao inimigo. Cf. GIOVANI PAOLO II. «Incontro con i giovani della Diocese di Roma in
preparazine alla XIV GMG» (1999). Em DWVE.
125
Cf. Ibid.
126
Cf. GIUBILEO dei..., op.cit.
Referências bibliográficas
2000, em Roma na Itália, a frase lapidar com a qual o apóstolo João exprime o mistério
altíssimo de Deus que se fez homem: «O Verbo se fez homem e habitou entre nós» (Jo 1,14).
Esse mistério da encarnação é a certeza que distingue acristã de todas as outras religiões e,
com o mistério da Redenção, constitui a mensagem central da
127
. Antes do anúncio daquele
tema, o Papa havia convidado os «Jovens de todos os continentes» para esse grande
encontro eclesial:
Convido-vos a empreender com alegria a peregrinação rumo a este grande
encontro eclesial que será, a justo título, o «Jubileu dos Jovens». Preparai-
vos para cruzar a Porta Santa, sabendo que passar através dela significa
revigorar a própria fé em Cristo, para viver a vida nova que Ele nos deu
128
.
Quase dois milhões de jovens corresponderam ao caloroso e empolgante convite
do Papa, para revigorar a em Cristo. Juntos, o Papa «João Paulo II e os jovens: uma
fascinação recíproca»
129
, em Roma celebrando a XV JMJ de 2000: «grande encontro
eclesial», o «Jubileu dos Jovens»
130
. Essa festa gigantesca apresentou-se como um intenso
momento de contemplação do mistério do Verbo que se fez homem para a salvação da
humanidade, uma extraordinária ocasião para celebrar e proclamar a fé da Igreja e projetar um
renovado empenho cristão, dirigir um olhar para o mundo, que espera o anúncio da Palavra
salvífica
131
. Essa experiência de pode e deve ser compreendida e vivida com o espírito e
o significado do Jubileu
132
, porque se manifestou verdadeiramente e plenamente como o
«Jubileu da Igreja Jovem»
133
.
2.5. Da XVI à XX JMJ (2001-2005)
No dia 14 de fevereiro de 2001, na sua mensagem para a XVI JMJ do Vaticano, o
Papa dirige-se afetuosamente aos «Caríssimos jovens» convidando-os para a celebração
diocesana dessa JMJ, 08 de abril de 2001, no domingo de Ramos. O tema escolhido por ele é
a frase do próprio Cristo apresentada pelo evangelista São Lucas: «Se alguém quer vir após
mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz dia após dia e siga-me» (Lc 9,23). Depois, o Papa
127
Cf. JOÃO PAULO II. Mensagem do Papa João Paulo II... op. cit., nn. 2 e 4.
128
Ibid. n.1; Cf. Id. Bula Pontifícia Incarnationis mysterium. São Paulo: Loyola, 1998, n.10 (Documentos
Pontifícios); GIUBILEO dei... op.cit., p. 60.
129
J. BOUFFARD. «Jean-Paul II et lês jeunes: fascination réciproque?». Em Prêtre et Pasteur (2004) 659.
130
JOÃO PAULO II. Mensagem do Papa João Paulo II... op.cit. n.5.
131
Cf. Id. «Mensagem para o XVI DMJ, 2002» (14 fev.2001), n.1. Em DWVEP.
132
O Jubileu é uma ocasião particular para experienciar o amor misericordioso de Deus, que nos perdoa, abre um
futuro novo e nos comunica a plenitude da vida divina. Cf. Id. «Discorso al pellegrinaggio giubilare dei giovani
dell`Arcidiocesi Francese di Rouen» (14 apr.2000). Em DWVE.
133
Id. «Discorso durante la cerimônia di acoglienza dei giovani in Piazza San Pietro» (15 ago.2000), n.1. Em
DWVE.
Referências bibliográficas
trata de explicitá-lo, ao denunciar a cultura do efêmero com profundo conhecimento de
causa
134
.
O segredo da vida autêntica é Cristo, conclui o Papa. No início do terceiro
milênio, parece que esse discurso ainda continua interessando a milhões de jovens
135
. Por isso,
conscientemente o Papa dirige a eles uma palavra de ordem missionária, que encerra o grande
jubileu do ano 2000: «Avança para águas mais profundas!»
136
É o que Jesus disse a Simão
Pedro, à beira do lago de Tiberíades (cf. Lc 5,4), para convidá-lo a lançar sua rede longe da
margem, onde o mar é mais profundo, onde o mistério do amor de Deus abre espaços
maravilhosos, em que não bastará uma inteira vida para explorar
137
. Três palavras que têm o
valor de um testamento para a jovem «Igreja missionária»
138
do terceiro milênio: «Avança
para águas mais profundas».
No dia 25 de julho de 2001, na sua mensagem para a XVII JMJ do Castel
Gandolfo, o Pontífice Romano convidara os jovens do mundo inteiro para a celebração
internacional dessa JMJ, de 23 a 28 de julho de 2002, em Toronto no Canadá, e para encontrar
Cristo e testemunhá-lo construindo a «civilização do amor e da verdade»
139
. Mais interessante
e descritiva é a renovação do convite pontifical no quinto número daquela mensagem:
Vinde fazer ressoar pelas grandes artérias de Toronto o anúncio jubiloso de
Cristo que ama todos os homens e pleno cumprimento a todo o sinal de
bem, de beleza e de verdade presente na cidade humana. Vinde proclamar a
todo o mundo a vossa plena alegria por ter encontrado Cristo Jesus, vosso
desejo de conhecê-Lo cada vez melhor, o vosso compromisso de anunciar o
Evangelho da salvação até aos últimos confins da terra!
140
.
Desta vez, oitocentos mil jovens acolheram a mensagem do Santo Padre. E, em
Toronto, cidade multicultural e pluriconfessional, esses jovens proclamaram a unicidade de
Cristo Salvador e a universalidade do mistério da salvação cujo sacramento é a Igreja, em
busca da comunhão entre os cristãos na correspondência ao premente convite do Senhor de
«que todos sejam um» (Jo 17,11). Depois de renovar o seu convite à juventude, o Santo Padre
apresentou o tema da XVII JMJ para a reflexão teológico-pastoral: «Vós sois o sal da terra
134
Cf. Id. «Mensagem para a XVI JMJ... font.cit., n.6; Cf. Id. «Discorso aos jovens de Roma» (2 abr.1998), n.4.
Em DWVEP.
135
R. LECOMTE, op.cit., p. 659.
136
JOÃO PAULO II. Carta Apost. Novo Millenio Ineunte. São Paulo: Loyola, 2003, n. 57 (Documentos
Pontifícios).
137
Cf. Id. «Discorso ai partecipanti del UNIV-2000», n.5. Em DWVE.
138
Id. «Discorso ai giovani della diocesi di Roma» (5 abr.2001), n. 2. Em DWVE.
139
Id. «Mensagem para o XVII DMJ, 2002» (25 jul.2001), n.1. Em DWVEP.
140
Ibid. n. 5; cf. Id. «Discorso nella veglia con i giovani» (27 lug.2002), n. 1 (trad. do it.). Em DWVE.
Referências bibliográficas
(...) Vós sois a luz do mundo» (Mt 5,13-14). Essas palavras interpelam profundamente os
jovens a unirem-se ao «centro unificador e propulsor»
141
da história da humanidade, Aquele
que é a verdadeira luz do mundo e o sal que dá inalterável sabor a terra: Jesus Cristo, o Verbo
que se fez carne e veio habitar em nosso meio
142
. Como o sal sabor aos alimentos e a luz
ilumina as trevas, assim a santidade sentido pleno à vida dos jovens de hoje, tornando-a
reflexo da glória de Deus
143
. Mas santidade não é uma questão de idade; trata-se de viver no
Espírito Santo
144
. Eis o grande desafio e a urgência apostólica confiada pelo Papa João Paulo
II aos jovens: ser, no início do terceiro milênio, «sal da terra e luz do mundo» (Mt 5, 13)
145
.
No dia 08 de março de 2003, na sua mensagem para a XVIII JMJ do Vaticano, o
Santo Padre convidou os «Caríssimos jovens» para a celebração diocesana dessa JMJ, 13 de
abril de 2003, no DR. Para tal celebração, ele escolheu como tema as palavras de Cristo na
Cruz: «Eis a tua Mãe» (Jo 19,27). Aceitando esse testemunho de amor, João recebeu Maria
em sua casa (cf. Jo 19,27). Jesus dirige estas palavras a cada jovem hodierno para dizer que
«Maria, a minha mãe, a partir de hoje é também a tua mãe!»
146
. Mãe a quem «os jovens de
todo o mundo»
147
devem uma devoção «profundamente cristocêntrica»
148
, porque Jesus é o
único Mediador. E no dia 13 de abril de 2003, na sua homilia do DR em Roma, o Papa enviou
os «jovens do terceiro milênio»
149
, neste tempo ameaçado pela violência, pelo ódio e pela
guerra, para testemunhar que Jesus é Aquele que pode doar a verdadeira paz a toda
humanidade. Essa paz é dom de Cristo, obtido com o sacrifício da Cruz, e deve apoiar-se na
verdade, na justiça, no amor e na liberdade
150
.
No dia 22 de fevereiro de 2004, na sua mensagem para a XIX JMJ do Vaticano, o
Papa convida os jovens a intensificar o caminho de «preparação espiritual» para a celebração
diocesana desta JMJ, 24 de abril de 2004, no Domingo de Ramos. E os estimulou a fazer um
aprofundamento da temática cristológica antes e durante a celebração da XIX JMJ:
«Queremos ver Jesus» (Jo 12, 21), imitando «alguns gregos», que chegaram a Jerusalém para
a festa da Páscoa, suscitados pelo desejo de «ver Jesus». Para ver Jesus, é preciso em primeiro
141
Id. «Discorso durante l`incontro con i giovani di Roma» (21 mar.2002), n. 2 (trad. do it.). Em DWVE.
142
Cf. Ibid. 1.
143
Cf. Id. «Mensagem para o DMJ» (2002), n.3. Em DWVEP.
144
Id. «Homilia no Parque Downsview» (28 jul.2002), n.5. Em DWVEP.
145
Cf. Id. «Discorso nella veglia di preghiera degli universitari» (2 mar.2002), n. 7. Em DWVE.
146
Id. «Discurso em preparação do XVIII DMJ» (10 abr.2003), n.1. Em DWVEP.
147
Id. «Homilia na concelebração eucarística no DR» (13 abr.2003), n.3. Em DWVEP.
148
Id. «Discurso em preparação do XVIII DMJ..., fonte cit., n.2.
149
Id. «Homilia na celebração eucarística no DR» (13 abr.20003), n.4. Em DWVEP.
150
Cf. Ibid. n.3; Id. «Discorso ai partecipanti al meeting internazionale-UNIV-2003» (14 abr.2003), n.2. Em
DWVE.
Referências bibliográficas
lugar deixar-se olhar por Ele. O desejo de ver Deus reside no coração de cada homem e de
cada mulher de todos os tempos, porque as aspirações humanas mais profundas encontram
unicamente em Deus a resposta total. E, por isso, não basta «falar» aos jovens de hoje de
Jesus, mas é preciso também fazê-los «ve através do testemunho eloqüente da vida
151
. No
dia 24 de abril, na sua homilia do DR, celebração diocesana da XIX JMJ em Roma, o
Pontífice Romano apresenta aos jovens a resposta de Jesus a todos aqueles que procuram o
Filho do homem: «Eu, quando for erguido da terra, atrairei todos a mim» (Jo 12, 32). E
recorda que há vinte anos entregou a Cruz do Jubileu do Ano Santo aos jovens, celebrando-se
assim o «vigésimo aniversário desta extraordinária aventura espiritual»
152
. O Papa renova a
mesma recomendação feita naquela época (1984) no segundo documento fundamental das
JMJ
153
: «Confio-vos a Cruz de Cristo! Levai-a ao mundo como sinal do amor do Senhor Jesus
pela humanidade e anunciai a todos que em Cristo morto e ressuscitado salvação e
redenção»
154
. Essa «mensagem da Cruz» não é fácil de ser compreendida no mundo
contemporâneo, mas os «Caríssimos jovens» de hoje são enviados para proclamá-la sem
medo de ir contra a corrente: bem-estar material e as comodidades hodiernas
155
.
No dia 06 de agosto de 2004, na sua mensagem para a XX JMJ de Castel
Gandolfo, o Papa convidou os jovens para a celebração internacional dessa JMJ, de 16 a 21 de
agosto de 2005, em Colônia na Alemanha. O tema daquela jornada é um convite a adorar
Cristo: «Vimos adorá-Lo» (Mt 2, 2). Esse tema permite aos jovens de todos os continentes
refazerem individualmente o percurso dos Magos, cujas relíquias, segundo uma tradição
piedosa, são veneradas precisamente naquela cidade, e encontrarem, como eles, o Messias de
todas as nações. O Papa foi o primeiro a se inscrever na XX JMJ
156
e, lamentavelmente, o
primeiro a ausentar-se por uma inelutável realidade que abarca a limitação da vida humana: a
morte (02 abr.2005).
A XX JMJ de 2005 seria uma peregrinação da e um evento colorido. Foram
convidados jovens de 16 a 30 anos de mais de 120 nações. Junto ao Papa, não mais João
Paulo II, mas Bento XVI, esperam-se quase quatrocentos mil participantes. Até o último dia
desse encontro a cifra poderia se duplicar. Os jovens seriam acompanhados por quase
151
Cf. Id. «Mensagem aos participantes do VII Fórum Internacional dos Jovens» (25 mar.2004). Em DWVE; Cf.
também Id. Carta Apost. Novo..., op. cit., p. 21.
152
Id. «Homilia no DR em preparação para a XIX JMJ» (2004), n. 4. Em DWVEP.
153
Cf. Id. «Entrega da Cruz do Ano Santo» (1984). Em DWDJ.
154
Ibid. (trad. do it.).
155
Cf. Ibid.
156
Cf. http://www.pime.org.br/pimenet/noticias2004/noticiasvaticano111.htm Consultado em 19 jan. 2005.
Referências bibliográficas
seiscentos bispos e cardeais e quatro mil jornalistas internacionais. Durante dez dias, os olhos
do mundo estiveram direcionados para a Alemanha. As preparações continuaram, com uma
crescente expectativa por parte de todos, porque a celebração da XX JMJ, em Colônia na
Alemanha, nesse ano (2005), seria realizada pelo Papa Bento XVI em sua própria pátria, e
este parece o ter o brilhante carisma de João Paulo II para corresponder dialogicamente
com a juventude de hoje.
Retomamos sinteticamente o caminho histórico-teológico das vinte JMJ. Em
Roma (1984/85), os jovens deram razão da própria esperança (cf. 1Pr 3, 15), conduzindo a
Cruz de Cristo nas estradas do mundo. Em Buenos Aires (1987), diante das expectativas de
justiça social, os jovens de cada continente conheceram e creram no amor que Deus tem por
eles (cf. 1Jo 4, 16) e proclamaram que a sua revelação alimenta a esperança e renova a alegria
do empenho missionário para a reconstrução da civilização do amor. Em Santiago de
Compostela (1989), eles descobriram e reconheceram Cristo como caminho, verdade e vida
(cf. Jo 14, 6), meditando com o apóstolo Tiago sobre antigas raízes cristãs da Europa. Em
Czestochowa (1991), quando o muro de Berlim era apenas uma lembrança dolorosa, os
jovens do Leste e do Oeste, sob o olhar premente da Mãe celeste, proclamaram a paternidade
de Deus por meio do Espírito e reconheceram nEle irmãos: «recebestes um espírito de
filhos» (Rm 8, 15). Em Denver (1993) procuraram-No na face do homem contemporâneo num
contexto substancialmente diferente das precedentes etapas, mas não menos empolgante pela
profundidade dos conteúdos teológicos apresentados e desenvolvidos, experimentando e
degustando o dom da vida em abundância (cf. Jo 10, 10). Em Manila (1995), eles depararam
com o desafio das terras abertas à nova evangelização e foram enviados em missão ao mundo
de hoje (cf. Jo 20, 21). Em Paris (1997), ao mesmo tempo no coração da Europa cristã e na
fronteira da secularização e do confronto multicultural, foram ver o Mestre (cf. Jo 14, 26). Em
Roma (2000), contemplaram e vivenciaram a encarnação do Verbo (cf. Jo 1,14) no coração
do Grande Jubileu. Em Toronto (2002), transformaram-se em luz do mundo e sal da terra (cf.
Mt 5, 13-14). Em Colônia (2005), adoraram o Senhor (cf. Mt 2, 2).
3. A peregrinação da Cruz (1984-2005)
157
157
Para a estruturação geográfica deste tópico, baseamo-nos no que foi exposto pelo PCL: «Il pellegrinaggio
della Croce dei giovani (1984-2003)». Disponível em http://www.vatican.va Extraído em 28 jan.2005. E nos
fundamentamos nos textos pontifícios em estudo (Discursos, Homilias e Mensagens).
Referências bibliográficas
A Cruz é símbolo universal de um Amor que se faz dom total e gratuito
158
, uma
silenciosa e sublime cátedra de verdade e de amor
159
, o sinal do Redentor morto e
ressuscitado
160
. Ela é conhecida como a «Cruz do Ano Santo da Redenção»
161
, a «Cruz do
Jubileu»
162
, a «Cruz das JMJ»
163
, a «Cruz peregrina»
164
; muitos a chamam de «Cruz dos
jovens»
165
, porque foi entregue a eles, para que a conduzissem em todo o mundo, em cada
lugar e em cada tempo. Ela é significativa e, principalmente, a expressão da «Cruz de
Cristo»
166
nas vinte JMJ. Portanto, peregrinemos atentamente em sua história de vinte anos no
contexto das JMJ.
3.1. De Roma a Santiago (1984-1989)
Em 1984, no «Ano Santo da Redenção», o Papa João Paulo II decidiu colocar
uma cruz símbolo da próxima ao altar maior na Basílica São Pedro, onde todos
pudessem vê-la. Assim, foi posta uma grande cruz de madeira, com 3,8 m de altura, conforme
os desejos do Pontífice.
Ao final do Ano Santo, depois de fechada a Porta Santa, o Papa confiou a mesma
cruz à juventude do mundo, representada pelos jovens do Centro Internacional Juvenil de São
Lourenço de Roma. Estas foram as suas palavras naquela ocasião, no segundo dos cinco
documentos fundamentais das JMJ: «Caríssimos jovens, ao término do Ano Santo, confio a
vós o sinal mesmo deste Ano Jubilar: a Cruz de Cristo! Levai-a ao mundo, como sinal do
amor do Senhor Jesus pela humanidade e anunciai a todos que em Cristo morto e
ressuscitado tem salvação e redenção»
167
.
158
Cf. JOÃO PAULO II. «Homilia para o DR» (28 mar.1999), n. 3. Em DWVEP.
159
Cf. Id. «Discorso ai partecipanti del UNIV-2000» (2000), n. 3. Em DWVE; Id. «Homilia no DR» (24
mar.2002), n.4. Em DWVEP.
160
Id. «Homilia no DR» (24 mar.2002), n.2. Em DWVEP.
161
Id. Ano Internacionale della Gioventù: incontro di Giovanni Paolo II con i giovani in piazza San Giovanni
Laterano, Vaticano: Vaticana, 1985, n.10; Cf. também: Id. «Homilia no DR» (28 mar.1999), n. 4. Em DWVEP;
J. F. STAFFORD (Presidente do Pontifício Conselho para os Leigos). «da un Giubileo all`altro». Em I CARE
10 (2000) 6; GIOVANI PAOLO II «Incontro del Santo Padre com i giovani della diocesi di Roma in preparazine
alla XVII GMG» (10 apr.2003), n. 5. Em DWVE.
162
Id. «Saluto del Santo Padre nella festa di accoglienza dei giovani» (25 lug.2002), n. 2. Em DWVE.
163
Id. «Parole nella recita del Santo Rosario con gli universitari romani» (3 mar.2001). Em DWVE; Id.
«Saudação aos jovens em preparação para o DMJ» (2 abr.1998), n. 1. Em DWVEP.
164
Id. «Homilia para o DR» (5 abr.1998) nn. 3 e 4. Em DWVEP.
165
Id. «Homilia para o DR» (24 mar.2002) n. 1. Em DWVEP.
166
Ibid., n. 2; cf. também: Id. «Homilia no DR» (8 abr.2001) n. 5. Em DWVEP; Id. «Homilia no D (5
abr.1998), n. 3. Em DWVEP; Id. «Messaggio ai giovani in ocasione del 10 aniversario della VI GMG» (13
ago.20001). Em DWVE.
167
Id. «Entrega da Cruz..., fonte cit.
Referências bibliográficas
Os jovens acolheram o pedido do Santo Padre. Conduziram a cruz ao Centro São
Lourenço, que se tornou a sua casa habitual nos períodos em que não estivesse em
peregrinação pelo mundo.
A Cruz do Ano Santo fez a sua primeira peregrinação em julho de 1984, os jovens
levaram-na a Mônaco, na Alemanha, para a Katholikentag (Jornada dos Católicos). Era
considerada uma simples cruz de madeira. No início, o povo não compreendia o que havia
de especial nela. Pouco a pouco, porém, compreendeu-se que a Cruz estava ali em missão
pelo desejo do Santo Padre. Na celebração eucarística final no estádio da cidade, com 120.000
pessoas presentes, a Cruz estava próxima ao altar de modo que todos pudessem vê-la.
Em seguida, os jovens conduziram a Cruz a Lourdes, Paray-le-Monial e outras
localidades da França, depois de novo à Alemanha. Ouvindo essa notícia, o Papa disse:
«Devem levá-la também a Praga, ao Cardeal Tomasek». Naquela época, a Tchecoslováquia
estava ainda atrás da cortina de ferro, e a Cruz conduzida pelos jovens seria símbolo da
comunhão com o Santo Padre. A Cruz retornou à Alemanha em 27 de dezembro.
Em janeiro de 1985, como resposta ao pedido do Santo Padre, um grupo de jovens
alemães levou a Cruz a Praga. O mesmo ano (1985) fora proclamado pela ONU como o Ano
Internacional da Juventude. Em março de 1985, o Papa disse aos jovens: «nesta Cruz vemos a
nossa redenção, vemos a vitória do amor sobre o ódio, à vitória da paz sobre a guerra e sobre
a violência; vemos a ressurreição». E, no DR, participaram do encontro com ele na Praça São
Pedro aproximadamente 300.000 jovens, e a Cruz estava com eles. Os jovens caminham com
a Cruz e a Cruz caminha com eles. No decorrer daquele ano, a Cruz foi conduzida a diversas
partes da Europa: Itália, Franca, Luxemburgo, Irlanda, Escócia, Malta e Alemanha; em cada
um desses lugares foi conduzida em peregrinação, foi protagonista de Via-Sacra nas estradas
das cidades e participou de diversos encontros juvenis. Em dezembro, o Papa João Paulo II
anunciou que a partir dos sucessivos DR se teria cada ano uma JMJ.
Em 1986, a Cruz acompanhou a celebração da I JMJ na diocese de Roma, que
aconteceu na Basílica de São João de Latrão no DR. Para a Cruz, foi um ano rico de
peregrinações e encontros na Itália, Franca e Suíça.
Em 1987, a Cruz estava presidindo a celebração internacional da II JMJ em
Buenos Aires, na Argentina. Foi a sua primeira peregrinação num continente americano.
Durante a celebração, o Santo Padre recordou aos jovens a origem do mbolo: «Preside hoje
Referências bibliográficas
o nosso encontro a grande Cruz que iniciou as cerimônias do Ano Santo da Redenção e que,
no DR entreguei a um grupo de jovens»
168
. Depois, ela retornou à Europa para alguns
encontros juvenis na Alemanha, França e Grécia. Foi também ao Sínodo dos Bispos que
ocorreu em Roma no mês de outubro.
Em 1988, depois da celebração da III JMJ nas dioceses Roma no DR, a Cruz foi
conduzida à Alemanha e à França; atravessou novamente o Atlântico, desta vez para chegar a
Steubenville nos Estados Unidos.
Em 1989, o símbolo fez uma volta pelas dioceses dos Países Baixos; em agosto,
chegou à Espanha, a Santiago de Compostela, para a IV JMJ, onde se realizou um novo
Encontro Mundial dos jovens com o Papa. Ali estava no meio da multidão, juntos aos jovens
do Centro São Lourenço, para dar as boas-vindas ao Papa na tarde da Vigília; na manhã
seguinte, pela primeira vez, foi ao continente asiático chegando a Seul (Coréia) para o
Congresso Eucarístico Internacional.
3.2. De Roma a Manila (1990-1995)
Em 1990, a Cruz foi conduzida à celebração da V JMJ na diocese de Roma no
DR. Retornou duas vezes ao continente americano: México e Estados Unidos. Depois visitou
a Franca, Alemanha e Itália.
Em agosto de 1991, por ocasião da VI JMJ, o símbolo de Cristo foi com os jovens
a Czestochowa (Polônia) para participar de um novo Encontro Mundial com o Papa. Mais
uma vez, o Santo Padre chamou a atenção dos jovens para o símbolo: «No meio de nós, que
vigiamos, se firmou a Cruz. Conduzistes aqui esta Cruz e a haveis exaltado ao centro da nossa
assembléia. (...) A Cruz, o sinal do inefável amor divino, o sinal que revela que ‹Deus é amor›
(cf. 1Jo 4, 8)»
169
. Em seguida a Cruz visitou a Alemanha e Suíça.
No DR de 1992, durante a celebração da VII JMJ da diocese de Roma, a Cruz foi
confiada aos jovens dos Estados Unidos, onde houve o seguinte Encontro Mundial. No
momento do Ângelus, o Santo Padre disse: «A Cruz do Ano Santo – árvore da vida! – que ora
passará das mãos dos jovens poloneses aos jovens dos Estados Unidos, acompanhe o vosso
caminho de preparação»
170
. Antes de começar a sua viagem através das dioceses dos Estados
168
Id. «Messaggio ai giovani» (11 apr.1987) (trad. do it.). Em DWVE.
169
Id. «Homilia para o DR» (14 abr.1991). Em DWVEP.
170
Id. «Homilia para o DR» (12 abr.1992). Em DWVEP.
Referências bibliográficas
Unidos, Ela foi conduzida à Áustria, onde os jovens desejavam muito hospedá-la ainda que
por um breve período.
Em 1993, a Cruz iniciou a sua viagem pelos Estados Unidos, presidindo
celebrações, reuniões, convênios e peregrinações em todo o país. Depois foi conduzida ao
Encontro Mundial dos jovens com o Papa, para a VIII JMJ, ocorrida em Denver. Aos jovens
ali reunidos, o Santo Padre disse: «Sigam a Cruz ‹peregrina›; andem à procura de Deus, para
que possam encontrá-Lo também no coração de uma cidade moderna»
171
. Ela continuou a
viajar através dos Estados Unidos do inicio ao fim do ano.
No DR de 1994, durante a celebração da IX JMJ da diocese de Roma na Praça
São Pedro, uma delegação de jovens dos Estados Unidos passou a Cruz aos jovens das
Filipinas; de fato, em Denver, o Santo Padre havia dito: «A Cruz do Ano Santo nos conduzirá
a um encontro com o povo generoso e pleno dedas Filipinas»
172
. Portanto, Ela pegou o vôo
para as Filipinas, onde realizou uma grande peregrinação através das 79 dioceses do país
sobre os ombros dos jovens e com outros meios de transporte disponível.
Em janeiro de 1995, realizou-se em Manila um novo Encontro Mundial dos
jovens com o Papa, por ocasião da X JMJ. A Cruz foi conduzida à cidade alguns dias antes da
celebração. Durante a Vigília do sábado à noite, o Santo Padre expressou-se assim: «A Cruz
peregrina passa de um Continente a outro e os jovens de todos os lugares se reúnem para
testemunhar juntos que Jesus Cristo é o mesmo para cada um, e a sua mensagem é sempre a
mesma. Nele não existem divisões, nem rivalidade étnicas, nem discriminações sociais. Todos
são irmãos e irmãs na única família de Deus»
173
. Depois da X JMJ, o símbolo de Cristo
retornou à Itália, onde visitou diversas cidades e lugares de peregrinação.
3.3. De Manila a Roma (1996-2000)
Os jovens das Filipinas entregaram aos seus coetâneos franceses a Cruz peregrina
do «Dia Mundial da Juventude» no Domingo de Ramos de 1996, durante a celebração da XI
JMJ da diocese de Roma na Praça São Pedro
174
. Estas foram às palavras do Papa na ocasião:
171
Id. «Homilia em preparação para a VIII JMJ» (12 ago.1993). Em DWVEP.
172
Ibid.
173
Id. «Homilia na X JMJ» (14 jan.1995). Em DWVEP.
174
Cf. Id. «Homilia ao Fórum Internacional da Juventude» (23 ago.1997), n. 3. Em DWVE. Neste mesmo
número o Papa faz o DMJ retroceder até ao «de Jerusalém, quando Cristo entrou na cidade santa».
Referências bibliográficas
Abraçar nestes dias a Cruz e passá-la de mão em mão, constitui um gesto
muito eloqüente. É como dizer: Senhor, não queremos permanecer contigo
somente no momento do ´Hosana`; mas, com a tua ajuda, quer acompanhar-
te na via da Cruz com fez Maria, Mãe sua e nossa, e o apostolo João
175
.
Sucessivamente, os jovens franceses levaram a Cruz ao próprio país, fazendo o
ingresso triunfal na catedral de Chartres, na Missa de Ramos na mesma tarde. Começou assim
a sua nova peregrinação, que a conduziu a visitar 90 dioceses e movimentos, também na
Alemanha (junho) e nos Países Baixos (novembro). Na Alemanha, deteve-se em Berlim, onde
o Papa tinha um encontro com os jovens do lugar; a Cruz permaneceu toda a noite com os
jovens reunidos em oração.
Em 1997, a Cruz prosseguiu a sua peregrinação pela França e pelos países
adjacentes (Áustria em janeiro, Bélgica em abril), chegando a Paris em agosto, para a XII
JMJ, novamente celebrada com um Encontro Mundial dos jovens com o Papa.
Posteriormente, retornou a Roma.
Em 1998, durante a celebração da XIII JMJ da diocese de Roma na Praça São
Pedro, uma delegação de jovens franceses entregou a Cruz aos jovens italianos: o próximo
Encontro Mundial seria em Roma durante o Grande Jubileu. Na sua homilia do DR, João
Paulo II disse:
Caros jovens, hoje a mensagem da Cruz é reentregue a vós. A vós, que sereis
os adultos do terceiro milênio, é confiada esta Cruz que precisamente daqui a
pouco será entregue por um grupo de jovens franceses a uma representação
da juventude de Roma e da Itália. De Roma a Buenos Aires; de Buenos
Aires a Santiago de Compostela; de Santiago de Compostela a Czestochowa;
de Jasna Gorá a Denver; de Denver a Manila; de Manila a Paris, esta Cruz
peregrinou com os jovens de um País ao outro, de um Continente ao outro. A
vossa escolha, jovens cristãos, é clara: descobrir na Cruz de Cristo o sentido
da vossa existência e a fonte do vosso entusiasmo missionário
176
.
Assim, a Cruz passa de forma ideal de Paris para Roma. E depois da celebração, a
Cruz começou a viajar pelas Dioceses da Itália, até ao DMJ do Ano 2000 em Roma
177
.
Em 1999, continuando a sua peregrinação pela Itália, a Cruz parou em Turim para
o DR (14 março) e participou de uma reunião de jovens em conexão televisiva com a Praça
São Pedro para o Ângelus do Santo Padre. Em maio, encontra-se em Anona (Itália) quando o
Santo Padre foi visitar a cidade. A primeira etapa do caminho propriamente jubilar foi a
175
Id. «Homilia para o DR» (31 mar.1996). Em DWVEP.
176
Id. «Mensagem para o DR» (5 abr.1998), n. 3. Em DWVEP.
177
Cf. Ibid.
Referências bibliográficas
celebração que houve com a Cruz em 14 de setembro em Roma, na basílica da Santa Cruz em
Jerusalém.
Em 2000, a Cruz prosseguiu a sua peregrinação jubilar pela Itália: na última etapa
foi conduzida, nas costas, de Mantova a Roma por um grupo de 200 jovens, que a entregaram
aos delegados do Fórum Internacional dos Jovens, com estas palavras: «Durante o caminho
nos enamoramos fortemente desta Cruz (...) mas estamos verdadeiramente felizes em entregá-
la a vós, porque esta Cruz não é mais de madeira, mas uma Cruz que todos nós jovens
devemos conduzir conosco»
178
. Depois, Ela foi conduzida a Praça São Pedro para a abertura
da XV JMJ, celebrada como uma das maiores reuniões juvenis jamais vista: entre 15 e 20 de
agosto 2000, o Símbolo foi protagonista de uma imponente via-crúcis que atravessou o Fórum
Romano chegando ao Coliseu; viram-se milhares de jovens aproximando-se do sacramento da
reconciliação na Circo Máximo, e mais de dois milhões de pessoas participarem da Missa
final celebrada pelo Santo Padre em Tor Vergata.
3.4. De Roma a Colônia (2001-2005)
Em 2001, novamente na Praça São Pedro para a celebração da XVI JMJ da
diocese de Roma, a Cruz foi confiada por uma delegação de jovens italianos aos jovens do
Canadá, onde foi realizado o Encontro Internacional de 2002
179
. Eis as palavras de vida do
Santo Padre aos jovens na sua homilia: «Caríssimos jovens, Jesus morreu e ressuscitou e
agora Ele vive para sempre! Deu a sua vida. Mas ninguém lha tirou; deu-a ‹por nós› (Jo
10,18). Por meio da Cruz veio a nós a vida. Graças à sua morte e à sua ressurreição, o
Evangelho triunfou, e nasceu a Igreja»
180
. Atravessando de novo o Atlântico, a Cruz começou
a sua longa «peregrinação em todas as Dioceses do Canadá»
181
nos mais variados meios de
transportes (aviões, tratores, barcas e outros).
Em 2002, a Cruz prosseguiu a sua viagem no Canadá, interrompendo três dias em
fevereiro, quando foi conduzida a Ground Zero, Nova Iorque, como sinal de esperança para o
povo dos Estados Unidos, sobrevivente da tragédia de 11 de setembro. Depois a Cruz
178
Apud “GIUBILEO dei...”, op.cit., p. 44 (trad. do it.).
179
Em muitos textos do Papa, encontramos a mesma informação: Cf. GIOVANNI PAOLO II «Parole del Santo
Padre, recita del Santo Rosário con gli universitari romani» (3 mar.2001). Em DWVE; Id. «Homilia no DR» (24
mar.2002), n. 1. Em DWVEP; Id. «Discorso ai giovani della diocesi di Roma» (5 apr.2001), n. 1. Em DWVE;
Id. «Homilia para o DR» (8 abr.2001), n. 5. Em DWVE.
180
Id. «Parole del Santo Padre, recita del Santo Rosário con gli universitari romani» (3 mar.2001), n. 6 (trad. do
it.). Em DWVE; cf. Id. «Discoros ai giovani della diocesi di Roma» (5 apr.2001), n. 1. Em DWVE.
181
Id. «Parole del Santo Padre nella Recita del Santo Rosário con gli universitari romani» (3 mar.2001). Em
DWVE.
Referências bibliográficas
retornou ao Canadá. Em 28 de abril, um grupo de jovens do Ontário e do Quebec (chamados
«portageurs») partiu com a Cruz da Catedral Maria Regina Mundi de Montreal, para levá-la a
até Toronto, com uma peregrinação que durou 43 dias. Em qualquer lugar em que se
detinha, durante essa viagem, a Cruz atraía muita gente, que foi tocá-la e abraçá-la, rezando
com fervor. Em Toronto, a Cruz permaneceu com os jovens por toda a XVII JMJ; aí foi posta
no centro de todas as celebrações principais. Estas foram às palavras do Papa durante a
Cerimônia de acolhida em Toronto: «Acolhendo agora a sua Cruz gloriosa, aquela Cruz que
percorreu junto aos jovens as estradas do mundo, deixem ressonar no silêncio do vosso
coração esta palavra consoladora e empenhativa: ‹Felizes› »
182
. Depois do Encontro Mundial
em Toronto no Canadá, a Cruz retornou à Europa, de onde se transferiu para a República
Checa até ao final do ano.
Entre 21 de março e 5 de abril de 2003, a Cruz foi à Irlanda, retornando a Roma
para o DR, quando os jovens canadenses a confiaram aos jovens da Alemanha, sede do
seguinte Encontro Mundial da Juventude. No final da Missa de Ramos, o Papa João Paulo II
confiou aos jovens uma copia do Ícone de Maria para acompanhar, juntamente com a Cruz, as
JMJ
183
: «A delegação vinda da Alemanha, confio hoje também o Ícone de Maria. De agora
em diante, junto à Cruz, essa peregrine pelo mundo para preparar as JMJ. Será um sinal da
materna presença de Maria junto aos jovens, chamados, como apóstolos João, acolhem-na na
suas vidas»
184
. No dia 24 de abril de 2004, o Papa João Paulo II celebra o «vigésimo
aniversário» da peregrinação da Cruz, «desta extraordinária aventura espiritual», quando ela
encontrava-se em «Berlim»
185
.
Aquele Ícone de Maria, cuja versão original está guardada na basílica de Santa
Maria Maior em Roma, foi uma figura central durante as celebrações da JMJ do ano 2000 em
Tor Vergata
186
. E junto à Cruz, o Ícone de Maria encontra-se com os jovens de hoje «em
caminho para a XX JMJ de Colônia»
187
na Alemanha de 16 a 21 de agosto de 2005. Assim, a
Cruz de Cristo e o Ícone de Maria caminham com os jovens e vice-versa.
182
Id. «Saluto nella festa di accoglienza dei giovani nella XVII GMG» (2002) (trad. do it.). Em DWVE.
183
É interessante notar que em agosto de 2001, (cf. Id. «Messaggio ai giovani in ocasione del 10 anniversario
della GMG, 2001». Em DWVEP) o Papa havia manifestado o seu desejo de que o «Ícone de Maria»
acompanhasse as JMJ.
184
GIOVANNI PAOLO II. «Discorso in preparazione alla XVII GMG» (10 apr.2003), n. 4 (trad. do it.); Id.
«Angelus» (2003). Em DWVE.
185
Id. «Homilia para o DR» (24 abr.2004), n. 3. Em DWVEP.
186
Cf. Id. Mensagem do Papa João Paulo II..., op.cit.
187
Id. «Discorso in preparazione alla XVIII GMG» (10 apr.2003), n. 4. Em DWVE.
Referências bibliográficas
4. Conclusão
Três pontos fundamentais resumem essa primeira parte: a natureza das JMJ, o seu
caminho e a peregrinação da Cruz pelos diversos países do mundo. Elas são um meio
extraordinário de evangelização do mundo dos jovens de hoje. Aparecem como resposta
adequada a suas expectativas, sobretudo graças à pedagogia adotada. Conduzem o maior
número possível de jovens a uma forte experiência espiritual e eclesial, segundo uma proposta
kerigmática, sacramental e catequética da fé. As JMJ têm uma dimensão vocacional e
missionária. Ajudam de fato os jovens a tomar consciência da sua identidade cristã e das
exigências que implica a vocação de todo batizado, mostrando-lhes que são chamados a serem
os «santos do terceiro milênio», vivendo e anunciando o Evangelho no coração da própria
vida ordinária. O encontro fundamental e revitalizante com Cristo é ápice das JMJ, como
proposta e resposta aos jovens em busca de plena felicidade.
No segundo item (o caminho histórico-teológico das vinte JMJ), constatamos que,
com as mensagens do Papa, as JMJ surgiram durante os encontros de jovens realizados em
Roma para o Ano Santo de 1984 e do Ano Internacional da Juventude, proposto pela ONU
em 1985. E foram instituídas depois deles. A JMJ é celebrada a cada ano em todas as
dioceses, no DR, a partir de 1986. E a cada dois anos assume o aspecto de um encontro
internacional organizado pelo Pontifício Conselho para os Leigos. As celebrações
internacionais, bem como as diocesanas intermediárias, demonstraram ser acontecimentos
providenciais, ocasião de graça para muitos jovens, momentos privilegiados para eles
descobrirem e professarem a em Cristo, para consolidarem a comunhão com a Igreja, para
se sentirem chamados ao empenho da nova evangelização no mundo de hoje. Assim, as JMJ
foram no decorrer de seus vinte anos de história (1985-2005) acontecimentos missionários e
pastorais. Acontecimentos que estimulam as igrejas particulares a uma renovada atenção
pastoral à juventude hodierna, com o objetivo de um largo respiro eclesial, espiritual e
cultural, e convidam a explicitar a numerosa e qualificada mensagem teológico-pastoral do
Papa à juventude contemporânea.
A Cruz é símbolo universal de um Amor que se faz dom total e gratuito, uma
silenciosa e sublime cátedra de verdade e de amor, o sinal do Redentor morto e ressuscitado.
Ela peregrina passou de um Continente a outro, e os jovens de todos os lugares reuniram-se
para testemunhar juntos que Jesus Cristo é o mesmo para cada um e que a sua mensagem é
sempre a mesma. Nele, não existem divisões, nem rivalidade étnica, nem discriminações
Referências bibliográficas
sociais. Todos são irmãos e irmãs na única família de Deus. Portanto, a Cruz de Cristo fora
conduzida de um encontro a outro pelos jovens generosos e plenos de fé. Durante o caminho,
os jovens enamoram-se fortemente dessa Cruz e se sentiram felizes quando a entregavam aos
jovens peregrinos de outros países. A Cruz do Jubileu não era mais simplesmente uma
representação de madeira, mas símbolo de vida em Cristo. Jesus morreu e ressuscitou e agora
Ele vive para sempre. Ele deu a sua vida por todos. Por meio da Cruz, veio a vida.
As jovens gerações tornar-se-ão cada vez mais o ícone vivo da Igreja peregrina
pelas estradas do mundo. Elas conduzem a Cruz do Ano Santo com o ícone de Maria, como
quem realmente crê em Cristo, em todos os encontros de oração e de reflexão. Nesses
encontros, os jovens peregrinos dialogam entre si para além das diferenças de língua e de
raça, compartilham os seus grandes ideais, problemas e esperanças. E, finalmente, fazem uma
experiência viva da realidade prometida por Jesus: «Onde estão dois ou três reunidos em Meu
nome, Eu estou no meio deles» (Mt 18, 20).
Referências bibliográficas
ÍNDICE
SUMMARY............................................................................................................................ 149
SIGLAS.................................................................................................................................. 151
INTRODUÇÃO......................................................................................................................152
PRIMEIRA PARTE...............................................................................................................157
AS JORNADAS MUNDIAIS DA JUVENTUDE.................................................................157
1. O que são as JMJ?......................................................................................................................157
1.1. Uma forte experiência festiva de fé...................................................................................................... 157
1.2. Um grande momento de comunhão eclesial.........................................................................................158
1.3. Um estímulo à vida cristã e à evangelização........................................................................................ 159
1.4. Fases essenciais do programa das JMJ................................................................................................. 161
1.5. Finalidades fundamentais das JMJ....................................................................................................... 163
2. Caminho histórico-teológico das vinte JMJ.............................................................................165
2.1. Gênese e instituição das JMJ................................................................................................................ 165
2.2. Da I à V JMJ (1986-1990)....................................................................................................................167
2.3. Da VI à X JMJ (1991-1996)................................................................................................................. 170
2.4. Da XI à XV JMJ (1996-2000).............................................................................................................. 173
2.5. Da XVI à XX JMJ (2001-2005)........................................................................................................... 176
3. A peregrinação da Cruz (1984-2005)........................................................................................180
3.1. De Roma a Santiago (1984-1989)........................................................................................................ 181
3.2. De Roma a Manila (1990-1995)...........................................................................................................183
3.3. De Manila a Roma (1996-2000)...........................................................................................................184
3.4. De Roma a Colônia (2001-2005)..........................................................................................................186
4. Conclusão.................................................................................................................................... 188
........................................................................................................................................................190
__________ 8...................................................................................................................................194
O PERFIL DA JUVENTUDE CONTEMPORÂNEA......................................................... 196
1. O universo da juventude hodierna............................................................................................197
1.1. O que significa ser jovem?................................................................................................................... 197
1.2. Quem são os jovens hodiernos?............................................................................................................197
Referências bibliográficas
1.3. Análise de uma descrição da situação dos jovens................................................................................ 198
1.4. A sociedade favorece a dependência psicológica dos jovens...............................................................200
1.5. «Confusão entre religioso e paranormalidade».................................................................................... 201
2. Os jovens são seres em busca.....................................................................................................202
2.1. Os jovens são como as gerações precedentes....................................................................................... 202
2.2. Buscam vida espiritual autêntica ......................................................................................................... 204
1.3. Buscam o sentido pleno da vida........................................................................................................... 206
2.4. Buscam o encontro com Jesus Cristo................................................................................................... 207
2.5. Buscam o amor: decisão mais importante............................................................................................ 209
3. Os jovens são seres em relação..................................................................................................210
3.1. A pessoa renasce de um encontro.........................................................................................................210
3.2. Os jovens sem formação religiosa........................................................................................................ 212
3.3. «Os jovens e as novas influências ideológicas»................................................................................... 213
3.4. Os jovens e João Paulo II: mútua fascinação, afinidade de espírito.....................................................217
3.5. Os jovens e os modelos de vida............................................................................................................219
4. Análise pastoral duma pesquisa com participantes das JMJ.................................................222
4.1. Breve apresentação da pesquisa............................................................................................................223
4.2. As JMJ como evento «ordinário».........................................................................................................223
4.3. Perfil religioso dos jovens das JMJ...................................................................................................... 224
4.4. Uma «pastoral ordinária» das JMJ....................................................................................................... 228
4.5. Uma pastoral juvenil à altura das JMJ..................................................................................................228
5. Conclusão.................................................................................................................................... 231
TERCEIRA PARTE.............................................................................................................. 237
A MENSAGEM DO PAPA À JUVENTUDE CONTEMPORÂNEA .................................237
1. Pressupostos teológicos fundamentais...................................................................................... 237
1.1. Objetivo da mensagem e itinerário teológico-pastoral......................................................................... 237
1.2. Pressuposto Antropológico: primazia da dignidade da pessoa humana............................................... 239
1.3. Pressuposto Antropocristológico: o ser humano à luz do mistério de Cristo....................................... 241
1.4. Pressuposto Cristológico: da encarnação do Verbo à missão da Igreja................................................244
1.5. Pressuposto Eclesiológico: Igreja de Cristo, mistério de missão e comunhão de amor.......................248
1.6. Pressuposto Mariológico: Maria, Mãe de Deus, modelo máximo que conduz os jovens a Cristo.......251
2. Construir a paz no século XXI.................................................................................................. 253
2.1. A natureza e o ideal juvenil de paz diante dos desafios atuais............................................................. 253
2.2. Dimensões práticas da paz....................................................................................................................256
2.3. A missão jovem de paz e os quatro pilares da paz............................................................................... 258
2.4. A unidade dos cristãos como empenho ecumênico.............................................................................. 262
3. Construir a civilização do amor: encarnação histórica do Reino..........................................265
3.1. A cultura efêmera de morte.................................................................................................................. 265
3.2. Descrição da natureza da Civilização do Amor....................................................................................268
3.3. Princípios da Civilização do Amor.......................................................................................................269
3.4. Responsabilidade dos jovens hodiernos............................................................................................... 275
3.5. Reafirmar os grandes valores, negar os antivalores..............................................................................278
4. Conclusão.................................................................................................................................... 281
Primeira diretriz pastoral: uma vida profundamente radicada em Cristo....................................................289
Segunda diretriz pastoral: uma vida estruturada por sólida formação.........................................................291
Terceira diretriz pastoral: formação permanente dos agentes de pastoral juvenil.......................................293
Quarta diretriz pastoral: uma vida animada de amor a Igreja......................................................................295
Quinta diretriz pastoral: uma vida empenhada no mundo e orientada à missão......................................... 296
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................298
1. Documentos fundamentais das JMJ (1965-1996):...................................................................298
2. Discursos pontifícios (1978-2004):............................................................................................ 298
Referências bibliográficas
3. Homilias pontifícias (1979-2005):..............................................................................................300
4. Mensagens pontifícias (1980-2004):.......................................................................................... 301
5. Outros textos pontifícios (1979-2003)....................................................................................... 303
6. Referência bibliográfica extra-pontifícia................................................................................. 303
7. As JMJ em rede.......................................................................................................................... 305
SUMMARY............................................................................................................................ 149
SIGLAS.................................................................................................................................. 151
INTRODUÇÃO......................................................................................................................152
PRIMEIRA PARTE...............................................................................................................157
AS JORNADAS MUNDIAIS DA JUVENTUDE.................................................................157
1. O que são as JMJ?......................................................................................................................157
1.1. Uma forte experiência festiva de fé...................................................................................................... 157
1.2. Um grande momento de comunhão eclesial.........................................................................................158
1.3. Um estímulo à vida cristã e à evangelização........................................................................................ 159
1.4. Fases essenciais do programa das JMJ................................................................................................. 161
1.5. Finalidades fundamentais das JMJ....................................................................................................... 163
2. Caminho histórico-teológico das vinte JMJ.............................................................................165
2.1. Gênese e instituição das JMJ................................................................................................................ 165
2.2. Da I à V JMJ (1986-1990)....................................................................................................................167
2.3. Da VI à X JMJ (1991-1996)................................................................................................................. 170
2.4. Da XI à XV JMJ (1996-2000).............................................................................................................. 173
2.5. Da XVI à XX JMJ (2001-2005)........................................................................................................... 176
3. A peregrinação da Cruz (1984-2005)........................................................................................180
3.1. De Roma a Santiago (1984-1989)........................................................................................................ 181
3.2. De Roma a Manila (1990-1995)...........................................................................................................183
3.3. De Manila a Roma (1996-2000)...........................................................................................................184
3.4. De Roma a Colônia (2001-2005)..........................................................................................................186
4. Conclusão.................................................................................................................................... 188
........................................................................................................................................................190
__________ 8...................................................................................................................................194
O PERFIL DA JUVENTUDE CONTEMPORÂNEA......................................................... 196
1. O universo da juventude hodierna............................................................................................197
1.1. O que significa ser jovem?................................................................................................................... 197
1.2. Quem são os jovens hodiernos?............................................................................................................197
1.3. Análise de uma descrição da situação dos jovens................................................................................ 198
1.4. A sociedade favorece a dependência psicológica dos jovens...............................................................200
1.5. «Confusão entre religioso e paranormalidade».................................................................................... 201
2. Os jovens são seres em busca.....................................................................................................202
2.1. Os jovens são como as gerações precedentes....................................................................................... 202
2.2. Buscam vida espiritual autêntica ......................................................................................................... 204
1.3. Buscam o sentido pleno da vida........................................................................................................... 206
2.4. Buscam o encontro com Jesus Cristo................................................................................................... 207
2.5. Buscam o amor: decisão mais importante............................................................................................ 209
3. Os jovens são seres em relação..................................................................................................210
Referências bibliográficas
3.1. A pessoa renasce de um encontro.........................................................................................................210
3.2. Os jovens sem formação religiosa........................................................................................................ 212
3.3. «Os jovens e as novas influências ideológicas»................................................................................... 213
3.4. Os jovens e João Paulo II: mútua fascinação, afinidade de espírito.....................................................217
3.5. Os jovens e os modelos de vida............................................................................................................219
4. Análise pastoral duma pesquisa com participantes das JMJ.................................................222
4.1. Breve apresentação da pesquisa............................................................................................................223
4.2. As JMJ como evento «ordinário».........................................................................................................223
4.3. Perfil religioso dos jovens das JMJ...................................................................................................... 224
4.4. Uma «pastoral ordinária» das JMJ....................................................................................................... 228
4.5. Uma pastoral juvenil à altura das JMJ..................................................................................................228
5. Conclusão.................................................................................................................................... 231
TERCEIRA PARTE.............................................................................................................. 237
A MENSAGEM DO PAPA À JUVENTUDE CONTEMPORÂNEA .................................237
1. Pressupostos teológicos fundamentais...................................................................................... 237
1.1. Objetivo da mensagem e itinerário teológico-pastoral......................................................................... 237
1.2. Pressuposto Antropológico: primazia da dignidade da pessoa humana............................................... 239
1.3. Pressuposto Antropocristológico: o ser humano à luz do mistério de Cristo....................................... 241
1.4. Pressuposto Cristológico: da encarnação do Verbo à missão da Igreja................................................244
1.5. Pressuposto Eclesiológico: Igreja de Cristo, mistério de missão e comunhão de amor.......................248
1.6. Pressuposto Mariológico: Maria, Mãe de Deus, modelo máximo que conduz os jovens a Cristo.......251
2. Construir a paz no século XXI.................................................................................................. 253
2.1. A natureza e o ideal juvenil de paz diante dos desafios atuais............................................................. 253
2.2. Dimensões práticas da paz....................................................................................................................256
2.3. A missão jovem de paz e os quatro pilares da paz............................................................................... 258
2.4. A unidade dos cristãos como empenho ecumênico.............................................................................. 262
3. Construir a civilização do amor: encarnação histórica do Reino..........................................265
3.1. A cultura efêmera de morte.................................................................................................................. 265
3.2. Descrição da natureza da Civilização do Amor....................................................................................268
3.3. Princípios da Civilização do Amor.......................................................................................................269
3.4. Responsabilidade dos jovens hodiernos............................................................................................... 275
3.5. Reafirmar os grandes valores, negar os antivalores..............................................................................278
4. Conclusão.................................................................................................................................... 281
Primeira diretriz pastoral: uma vida profundamente radicada em Cristo....................................................289
Segunda diretriz pastoral: uma vida estruturada por sólida formação.........................................................291
Terceira diretriz pastoral: formação permanente dos agentes de pastoral juvenil.......................................293
Quarta diretriz pastoral: uma vida animada de amor a Igreja......................................................................295
Quinta diretriz pastoral: uma vida empenhada no mundo e orientada à missão......................................... 296
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................298
1. Documentos fundamentais das JMJ (1965-1996):...................................................................298
2. Discursos pontifícios (1978-2004):............................................................................................ 298
3. Homilias pontifícias (1979-2005):..............................................................................................300
4. Mensagens pontifícias (1980-2004):.......................................................................................... 301
5. Outros textos pontifícios (1979-2003)....................................................................................... 303
6. Referência bibliográfica extra-pontifícia................................................................................. 303
7. As JMJ em rede.......................................................................................................................... 305
Referências bibliográficas
__________ 8
SUMMARY............................................................................................................................ 149
SIGLAS.................................................................................................................................. 151
INTRODUÇÃO......................................................................................................................152
PRIMEIRA PARTE...............................................................................................................157
AS JORNADAS MUNDIAIS DA JUVENTUDE.................................................................157
1. O que são as JMJ?......................................................................................................................157
1.1. Uma forte experiência festiva de fé...................................................................................................... 157
1.2. Um grande momento de comunhão eclesial.........................................................................................158
1.3. Um estímulo à vida cristã e à evangelização........................................................................................ 159
1.4. Fases essenciais do programa das JMJ................................................................................................. 161
1.5. Finalidades fundamentais das JMJ....................................................................................................... 163
2. Caminho histórico-teológico das vinte JMJ.............................................................................165
2.1. Gênese e instituição das JMJ................................................................................................................ 165
2.2. Da I à V JMJ (1986-1990)....................................................................................................................167
2.3. Da VI à X JMJ (1991-1996)................................................................................................................. 170
2.4. Da XI à XV JMJ (1996-2000).............................................................................................................. 173
2.5. Da XVI à XX JMJ (2001-2005)........................................................................................................... 176
3. A peregrinação da Cruz (1984-2005)........................................................................................180
3.1. De Roma a Santiago (1984-1989)........................................................................................................ 181
3.2. De Roma a Manila (1990-1995)...........................................................................................................183
3.3. De Manila a Roma (1996-2000)...........................................................................................................184
3.4. De Roma a Colônia (2001-2005)..........................................................................................................186
4. Conclusão.................................................................................................................................... 188
........................................................................................................................................................190
__________ 8...................................................................................................................................194
O PERFIL DA JUVENTUDE CONTEMPORÂNEA......................................................... 196
1. O universo da juventude hodierna............................................................................................197
1.1. O que significa ser jovem?................................................................................................................... 197
1.2. Quem são os jovens hodiernos?............................................................................................................197
1.3. Análise de uma descrição da situação dos jovens................................................................................ 198
1.4. A sociedade favorece a dependência psicológica dos jovens...............................................................200
1.5. «Confusão entre religioso e paranormalidade».................................................................................... 201
2. Os jovens são seres em busca.....................................................................................................202
2.1. Os jovens são como as gerações precedentes....................................................................................... 202
2.2. Buscam vida espiritual autêntica ......................................................................................................... 204
1.3. Buscam o sentido pleno da vida........................................................................................................... 206
2.4. Buscam o encontro com Jesus Cristo................................................................................................... 207
2.5. Buscam o amor: decisão mais importante............................................................................................ 209
3. Os jovens são seres em relação..................................................................................................210
3.1. A pessoa renasce de um encontro.........................................................................................................210
3.2. Os jovens sem formação religiosa........................................................................................................ 212
3.3. «Os jovens e as novas influências ideológicas»................................................................................... 213
3.4. Os jovens e João Paulo II: mútua fascinação, afinidade de espírito.....................................................217
3.5. Os jovens e os modelos de vida............................................................................................................219
4. Análise pastoral duma pesquisa com participantes das JMJ.................................................222
4.1. Breve apresentação da pesquisa............................................................................................................223
4.2. As JMJ como evento «ordinário».........................................................................................................223
Referências bibliográficas
4.3. Perfil religioso dos jovens das JMJ...................................................................................................... 224
4.4. Uma «pastoral ordinária» das JMJ....................................................................................................... 228
4.5. Uma pastoral juvenil à altura das JMJ..................................................................................................228
5. Conclusão.................................................................................................................................... 231
TERCEIRA PARTE.............................................................................................................. 237
A MENSAGEM DO PAPA À JUVENTUDE CONTEMPORÂNEA .................................237
1. Pressupostos teológicos fundamentais...................................................................................... 237
1.1. Objetivo da mensagem e itinerário teológico-pastoral......................................................................... 237
1.2. Pressuposto Antropológico: primazia da dignidade da pessoa humana............................................... 239
1.3. Pressuposto Antropocristológico: o ser humano à luz do mistério de Cristo....................................... 241
1.4. Pressuposto Cristológico: da encarnação do Verbo à missão da Igreja................................................244
1.5. Pressuposto Eclesiológico: Igreja de Cristo, mistério de missão e comunhão de amor.......................248
1.6. Pressuposto Mariológico: Maria, Mãe de Deus, modelo máximo que conduz os jovens a Cristo.......251
2. Construir a paz no século XXI.................................................................................................. 253
2.1. A natureza e o ideal juvenil de paz diante dos desafios atuais............................................................. 253
2.2. Dimensões práticas da paz....................................................................................................................256
2.3. A missão jovem de paz e os quatro pilares da paz............................................................................... 258
2.4. A unidade dos cristãos como empenho ecumênico.............................................................................. 262
3. Construir a civilização do amor: encarnação histórica do Reino..........................................265
3.1. A cultura efêmera de morte.................................................................................................................. 265
3.2. Descrição da natureza da Civilização do Amor....................................................................................268
3.3. Princípios da Civilização do Amor.......................................................................................................269
3.4. Responsabilidade dos jovens hodiernos............................................................................................... 275
3.5. Reafirmar os grandes valores, negar os antivalores..............................................................................278
4. Conclusão.................................................................................................................................... 281
Primeira diretriz pastoral: uma vida profundamente radicada em Cristo....................................................289
Segunda diretriz pastoral: uma vida estruturada por sólida formação.........................................................291
Terceira diretriz pastoral: formação permanente dos agentes de pastoral juvenil.......................................293
Quarta diretriz pastoral: uma vida animada de amor a Igreja......................................................................295
Quinta diretriz pastoral: uma vida empenhada no mundo e orientada à missão......................................... 296
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................298
1. Documentos fundamentais das JMJ (1965-1996):...................................................................298
2. Discursos pontifícios (1978-2004):............................................................................................ 298
3. Homilias pontifícias (1979-2005):..............................................................................................300
4. Mensagens pontifícias (1980-2004):.......................................................................................... 301
5. Outros textos pontifícios (1979-2003)....................................................................................... 303
6. Referência bibliográfica extra-pontifícia................................................................................. 303
7. As JMJ em rede.......................................................................................................................... 305
Referências bibliográficas
SEGUNDA PARTE
O PERFIL DA JUVENTUDE CONTEMPORÂNEA
A juventude é uma fase da vida e uma atitude diante da mesma, que se
caracteriza por um espírito de risco, aspiração forte de liberdade, sentido de
gozo e felicidade, sensibilidade social (...). Em relação à Igreja, as suas
atitudes são diversificadas, desde profundo respeito e engajamento até
indiferença e crítica acérrima.
(J. B. Libanio)
O jovem (...) é pessoal e socialmente uma identidade em formação,
amadurecendo para a vida na Igreja e na sociedade. (...) O que realmente
existe é uma diversidade de jovens (...).
(C. Caliman)
Nesta segunda parte, descreveremos o perfil da juventude contemporânea,
destinatária das mensagens pontifícias, a partir dos textos (discursos, mensagens e homilias)
do Papa João Paulo II. Para isso, concentraremos a atenção no universo dos jovens das JMJ e
suas dimensões psicológica, social e religiosa. Assim, os conheceremos melhor, para
explicitar e avaliar, paulatinamente, a correspondência entre o conteúdo daquelas mensagens e
a juventude atual.
A análise dos jovens hodiernos corre o risco das «generalizações»
188
, pede cautela.
Apesar deles não serem iguais em todos os países, constatam-se alguns traços comuns na
sociologia, na psicologia e na religiosidade. O modelo econômico, o liberalismo, a
globalização, as mudanças nos casais e na família, as representações da sexualidade, o
impacto da música, da televisão, do cinema e da Internet influenciam e unificam
consideravelmente a mentalidade juvenil em quase todos os países. E o contexto das JMJ é
ambiente propício para identificarmos esses traços, a mentalidade da geração atual e o perfil
religioso emergente no universo da juventude hodierna.
A juventude contemporânea é estudada nas características comuns, sem
preocupação nem negação do contexto particular do país, mas principalmente no âmbito
social, eclesial e pastoral das JMJ.
188
R. NOVAES & P. VANNUCHI (org.). Juventude e sociedade: trabalho, educação, cultura e participação.
São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2004, p. 16.
Referências bibliográficas
1. O universo da juventude hodierna
1.1. O que significa ser jovem?
O jovem possui incessante novidade de espírito, cultiva uma contínua busca pelo
bem, empenha-se na perseverante vontade de doação e na realização da meta. O autêntico
jovem, nesse sentido, prepara-se melhor ao futuro de cumprir a vocação de adultos
plenamente maduros em Cristo. Não ignora jamais a força irresistível que estimula para o
futuro potencialmente presente no hoje
189
. Não é suficiente a consciência de uma incipiente
idade anagráfica para obter confiança interior e estar em condições de transformar as forças
operantes na sociedade, construindo uma nova convivência digna da pessoa humana.
1.2. Quem são os jovens hodiernos?
Compõem a juventude contemporânea as pessoas que estão na mesma faixa
etária
190
. Elas nasceram num mesmo momento histórico e estão fadadas a passar a vida juntas,
atravessando as mesmas vicissitudes políticas, econômicas e religiosas, em cada país. Os
jovens enfocados são aqueles compreendidos entre 18 e 30 anos, convidados pelo Papa João
Paulo II para as celebrações das JMJ
191
. Eles se encontram na idade da pós-adolescência e
querem tornar-se psicologicamente autônomos. A juventude é precisamente, na ótica de João
Paulo II, a saída dos anos da infância
192
, a fase em que cada jovem necessita ser si mesmo e
tomar distância da educação recebida e das pressões sociais.
Os jovens em questão inserem-se socialmente no âmbito dos estudos ou em
situações profissionais ou pessoais precárias, tais como: desempregado, desestabilidade
psicológica, comportamentos indiscriminados e numerosos problemas da vida. Exprimem o
desejo de conquistar a autoconfiança, superando as dúvidas existenciais e medos de assumir
189
Cf. GIOVANI PAOLO II. «Discorso agli studenti dell´università di Santo Tomas» (18 feb. 1981), n. 2. Em
DWVE; Id. «Discorso ai giovani presenti nella Basilica Vaticana» (15 nov. 1978). Em DWVE.
190
Cf. P. SINGER. «A juventude como coorte: uma geração em tempos de crise social». Em R. NOVAES &
P.VANNUCHI, op.cit., p.27.
191
Não discutiremos questões de cronologia, porque nem sempre existe um consenso no que se refere ao
momento etário inicial e final da juventude. O Papa menciona, por exemplo, a idade dos jovens em sua:
«Homilia no Parque «Downsview» por ocasião da XVII JMJ» (28 jul. 2002), n. 5. Em DWVEP. O nosso
parecer é de que, nem sempre idade cronológica denota amadurecimento psicológico, espiritual, intelectual e
vice-versa. Vemos um cenário complexo no mundo de hoje: «adultos» procurando eternizar a sua juventude (os
que não só pelo modismo épico, mas também pelo modo de sentir, pensar e comportar apresentam traços juvenis
extremados); muitos jovens-adultos forçados por circunstâncias socioeconômicas e culturais (os que assumem
responsabilidades em âmbito familiar e/ou social peculiar aos adultos) e eternas crianças (em ambos os casos); e,
raramente, jovens e adultos cronologicamente e psicologicamente falando.
192
JOÃO PAULO II. Carta Apostólica aos jovens e às jovens do mundo por ocasião do Ano Internacional
da Juventude. São Paulo: Paulinas, 1985, p. 10.
Referências bibliográficas
compromissos sérios. Às vezes, pedem ajuda aos pais, mas encontram certo incômodo nessa
relação. A maioria continua vivendo com os pais, enquanto alguns vivem sozinhos, embora
ainda dependentes. Têm também, na visão de João Paulo II, necessidade de «sentir-se
reconhecidos, sustentados, escutados e amados»
193
quando se encontram diante da realidade,
para conseguir aceitar a si mesmos, à vida e começar a agir na realidade.
Os jovens vivem numa sociedade que, por diversas razões, cultiva a dúvida e o
cinismo, o medo e a impotência, a imaturidade e o infantilismo. Por isso, eles tendem a
agrupar-se em modalidades primárias e têm dificuldades para amadurecer. Madura é a
personalidade que harmonizou as funções basilares da vida psíquica e está em condições de
diferenciar a sua vida interior do mundo externo. Muitos jovens têm dificuldade para realizar
tal diferenciação, porque o que sentem e imaginam freqüentemente substitui os fatos e a
realidade externa. Esse fenômeno é simplificado e alimentado pela cultura midiática e o
universo virtual criado pelos videocassetes e pela Internet.
Tudo isso predispõe os jovens hodiernos a viverem no imaginário e num mundo
virtual distanciado da realidade. Eles encontram na sociedade uma proposta lúdica para a
vida, com uma necessidade de fazer confusão, sobretudo no week-end. E, sem saber bem a
razão, procuram ambientes totalizantes e sensações que lhes dê a impressão de existir. Enfim,
essa juventude é ambivalente, porque quer encontrar o modo de interagir com a realidade e
contemporaneamente fugir dela. É possível encontrar uma descrição apropriada da situação
dos jovens de hoje?
1.3. Análise de uma descrição da situação dos jovens
L. Giussani
194
oferece descrição sintética e criativa dos jovens de hoje. Ela foi
retomada pelo Reitor do Instituto Sagrado Coração de Milão, D. G. Pontiggia, quando
ministrava uma palestra no convênio internacional
195
, em Roma (10-13/04/2003), organizado
193
Id. «Mensagem para a II JMJ, 1987» (30 nov.1986), n.2. Em DWVEP.
194
L. GIUSSANI é o fundador do movimento «Comunhão e Liberação». P. J. CORDES, atual presidente do
Pontifício Conselho para os Leigos e articulador das JMJ, num de seus livros (Segni di Speranza: movimenti e
nuove realità nella vita della Chiesa al vigilia del Giubileo, Milano: San Paolo, 1998, pp. 98-114), faz uma
interessante entrevista com L. Giussani, que possibilita compreender a origem, a finalidade e o desenvolvimento
desse movimento, mas a sua análise oferece uma visão demasiadamente positiva. Para usar expressões de J. B.
Libanio (Numa conferência no ISI sobre o Concílio Vaticano II, 15/09/05), P. J. CORDES corre o risco de
conceber uma «Igreja de movimentos, e não com movimentos». Certamente, seria muito mais prudente e
apropriado para o nosso tempo conceber «a religião em movimento». Título de um livro de D. HERVIEU-
LÉGER (La religion en mouvement: le pèlerin et le converti. Paris: Flammarion, 1999).
195
Nesse convênio internacional, participaram 200 responsáveis pela pastoral juvenil, provenientes de 70 países
e de 45 movimentos, associações e comunidades internacionais. Os objetivos do convênio eram respectivamente:
colher as experiências e considerações dos participantes da JMJ de Toronto (2002); preparar o itinerário
Referências bibliográficas
pelo PCL, sobre as JMJ. Essa leitura amplia a compreensão da situação da juventude no
mundo contemporâneo:
É como se todos os jovens de hoje fossem investidos de uma maneira de
Chernobyl, de uma enorme explosão nuclear: o seu organismo
estruturalmente é como antes, mas dinamicamente não é mais; está como um
plágio fisiológico, operado pela mentalidade dominante. É como se hoje não
existisse mais nenhuma evidência real, senão a moda (conceito e instrumento
de poder). Jamais como hoje o ambiente (clima mental e modo de vida) teve
a disposição instrumentos de igual despótica invasão das consciências. Hoje
mais do que nunca o educador, ou o deseducador soberano é o ambiente com
todas as suas formas expressivas. Assim também o anúncio cristão esforça
muito mais para tornar vida convicta, (...) e convicção. Aquilo que se escuta
e senão é assimilado verdadeiramente: o que nos circunda, a mentalidade
dominante, a cultura, o poder realizam em nós uma estranheza a respeito de
nós mesmos, isto é, se permanece, de uma parte, abstrato na relação
consigo e efetivamente descarregado (como pilhas que em vez de durar
horas, dura minutos); e, da outra, por contraste, se refugia na comunidade
como proteção
196
.
Essa magistral descrição dos jovens revela sua situação de «estranheza a respeito
de si mesmos». O jovem hodierno está «abstrato na relação consigo», porque substituiu a
razão, que possibilita o conhecimento da realidade e da experiência, pelo sentimento. Ele não
é aquilo que é, mas é o que sente e a razão torna-se a capacidade de justificação desta reação:
«Vá aonde te levar o sentimento», precisa expressão de D. G. Pontiggia
197
. Prevalece à
opinião, não o juízo. Perdeu-se a evidência da fragilidade original na qual se vive. Foi tomada
como dogma e difundida nos meios de comunicação social a afirmação de Rousseau: «Faze
aquilo que queres porque por natureza o homem é estimulado a atos virtuosos»
198
. Com isso, a
fadiga e o sacrifício passam a ser uma objeção, o mais a condição do viver, «efetivamente
descarregado (como pilhas que em vez de durar horas, duram minutos)». Essa afirmação é
agora a satisfação de um prazer, não mais a atividade verdadeira. Assim tudo é volúvel,
inseguro; e as pilhas descarregadas fazem da vida um perambular, não um caminho para uma
meta definida. E, continua D. Pontiggia, «a religiosidade de muitos jovens hodiernos é um
flutuar no sentimento de Deus, mais do que seu reconhecimento. Para eles todas as religiões
são iguais, porque correspondem à espontaneidade e não porque realizam mais a natureza»
199
.
E, consequentemente, a juventude contemporânea «refugia-se na comunidade como
proteção», afirma D. Pontiggia
200
.
espiritual e organizativo da JMJ de Colônia (2005); e, enfim, promover uma reflexão conjunta sobre as JMJ e as
prioridades da pastoral juvenil no mundo contemporâneo.
196
Apud D. G. PONTIGGIA. «I giovani di fronte a Cristo e alla Chiesa» (trad. do it.). Em DWPCL.
197
Ibid.
198
Apud ibid.
199
Ibid.
200
Ibid.
Referências bibliográficas
No âmbito eclesial, os movimentos juvenis emergentes não conseguem levar os
jovens ao crescimento pessoal, mas apenas possibilita-lhes viver experiências sensoriais e
emotivas. Eles se constituem como nova forma de ideologia, a faixa de transmissão da moda
passageira e da mentalidade consumista e individualista dominante na sociedade vigente.
Mas, segundo D. G. Pontiggia, «em todos os tempos a juventude apresentou espetáculo de
crises. Por isso, fale-se agora de uma crise dos jovens, particular e eclesial. Esta, em última
análise, deve ser procurada na educação, nos fatores educativos»
201
. E, segundo o Papa, a crise
dos educadores concretiza-se na fratura entre cristianismo e vida
202
.
Na sociedade «pós-cristã», expressão do teólogo J. B. Libanio
203
, o cristianismo
mostra-se ligado às estruturas sociais
204
. Essa sociedade tende a destituí-lo de qualquer
influência sobre si e, com isso, reduzi-lo ao «âmbito da intimidade afetiva das pessoas»
205
. Os
cristãos o aceitando a função que a sociedade privatizante lhes atribui: «a de serem
suplemento religioso, em vez de juízos críticos e colaboradores na realização da aspiração
comum dos seres humanos, a felicidade», afirma D. Pontiggia
206
. Ciente dessa tendência e da
passividade de muitos cristãos, o Papa convida-os a imprimirem com liberdade e alegria «na
própria existência o novo ritmo que a vida de Cristo deu a vida humana»
207
. E denuncia a
tendência da sociedade atual, dizendo que «O cristianismo não é uma simples preferência
religiosa subjetiva, atualmente irracional, relegada ao âmbito do privado»
208
. O cristianismo é,
em última análise, vida atuante em Cristo.
1.4. A sociedade favorece a dependência psicológica dos jovens
A «dependência psicológica» da juventude contemporânea, na ótica de D.
Pontiggia, é fruto da «educação contemporânea»
209
. Essa educação produz jovens dependentes
e apegados às pessoas e às coisas, porque durante a infância todos os seus desejos e
expectativas foram satisfeitos e, consequentemente, no início da pós-adolescência
«desenvolvem relações de dependência na vida em grupo e/ou a dois»
210
. Assim ela ficou
201
Ibid. (trad. do it.).
202
Cf. Id.«Omelia durante la Messa pe i giovani irlandesi», 30 set. 1979, n. 4 (trad. do it.). Em DWVE.
203
J. B. Libanio. A religião no início do milênio. São Paulo: Loyola, 2002, p. 122 (Theologia, 8).
204
Cf. D. G. PONTIGGIA, fonte cit.
205
Ibid.
206
Ibid.
207
Id. «Discorso ai giovani partecipanti al congresso internazionale promosso dal´instituto a cooperazione
università» 814 apr. 1981), n. 6 (trad. do it.). Em DWVE.
208
Id. «Messaggio ai partecipanti al VIII Forum Internazionale dei giovani» (31 mar. 2004) (trad. do it.). Em
DWVE.
209
Cf. D. G. PONTIGGIA, fonte cit.
210
Ibid.
Referências bibliográficas
demasiadamente centrada no bem-estar afetivo, a tal ponto que não ajuda as jovens gerações
na construção de um «universo interior», exorta o Papa
211
.
Em decorrência da forma educacional vigente na sociedade hodierna, os jovens de
hoje tendem mais ao narcisismo do que ao desenvolvimento pessoal. Eles não têm
consciência do limite e da realidade, confundem os códigos pessoais com os sociais e
esquecem o sentido da hierarquia, da autoridade e do sagrado. Alguns jovens não aprenderam
as regras da convivência familiar, social e lingüística, vivem no mundo das gírias
212
.
Os adultos, por sua vez, induzem os jovens a crer na possibilidade imediata da
satisfação plena de todos os desejos como se fossem reais necessidades. Por isso, os jovens
hodiernos têm muita dificuldade para tomar decisões, assumir responsabilidades duradouras e,
segundo D. Pontiggia, «distanciar dos habituais objetos de referência e viver a própria vida»
213
.
Os «desejos sem limites e sem educação tiranizam os jovens», afirma J. B.
Libanio
214
. Daí emerge a real necessidade de conscientizar os jovens acerca da finalidade dos
desejos que não é de serem plenamente satisfeitos, mas são apenas estímulos para buscar o
crescimento psicológico. Esse crescimento consiste na separação dos períodos da infância e
da adolescência, mas muitos jovens não conseguem realizar tal divórcio, principalmente,
porque «os espaços psíquicos entre os pais e os filhos confundem-se», disse D. Pontiggia
215
.
E, eternizando aqueles períodos, a sociedade vigente mostra explicitamente aos jovens atuais
que não tem nada de agradável no universo dos adultos. Consequentemente, os jovens
hodiernos não conseguem separar radicalmente das gratificações infantis e atingir satisfações
superiores
216
. Daí a pergunta conclusiva fundamental, formulada pela psicanalista M. R. Kehl,
que os jovens hodiernos colocam explicitamente aos adultos: «Como ingressar no mundo
adulto onde nenhum adulto quer viver?»
217
.
1.5. «Confusão entre religioso e paranormalidade»
218
211
Id. «Mensagem para a XIII JMJ, 1998» (30 nov.1997), n. 8. Em DWVE.
212
Cf. Cf. D. G. PONTIGGIA, fonte cit.
213
Ibid.
214
J. B. LIBANIO. Jovens em tempo de pós-modernidade: considerações socioculturais e pastorais. São Paulo:
Loyola, 2004, p. 82 (Humanística, 9).
215
Ibid.
216
Cf. Ibid.
217
M. R. KEHL. «A juventude como sintonia da cultura». Em R. NOVAES e P. VANNUCHI, op.cit., p. 97.
218
P. T. ANATRELLA. «Il mondo dei giovani: chi sono? Che cosa cercano». Em DWPCL.
Referências bibliográficas
A juventude atual é, conforme a lúcida postura de J. B. Libanio, «uma geração
sem formação religiosa que começaram a sentir enorme vazio e insatisfação existencial»
219
.
Por isso, os jovens «confundem a dimensão religiosa com a parapsicologia, o irracional e a
magia»
220
e são atraídos pelos fenômenos além da realidade, mas não encontram nada além
das próprias sensações e imaginação. Nesse contexto, «a espiritualidade da moda é aquela
privada de palavras, de reflexão e de conteúdos intelectuais», elucida P. T. Anatrella
221
.
Nesse reino do sentimento imanente, confundido com a presença transcendente de
Deus, os jovens carentes de formação religiosa vivenciam qualquer divagação porque o
orientação institucional ou intelectual. Daí a necessidade de conscientizar os jovens cristãos
de que o «Cristianismo não é uma opinião e não consiste em palavras s. O Cristianismo é
Cristo», exorta o Papa
222
. Assim, eles estarão cientes de que o «sentimento religioso» em si
não é um mau, mas se não for educado e enriquecido pela mensagem autenticamente cristã, a
da Encarnação do Filho de Deus na história humana, transmitida pela Igreja no decurso da
história e pelo Papa nas JMJ, «permanece no estágio primeiro e prisioneiro de uma
mentalidade supersticiosa e mágica»
223
.
Além do mais, a falta de educação religiosa dos jovens hodiernos favorece as
seitas e os falsos profetas criados conforme a própria imagem. Por isso, é preciso conduzir os
jovens, reconhecendo o valor do sentimento religioso (circunscrito no reino da imanência), na
dimensão da transcendência, além de si mesmos, dimensão que o Criador escreveu em seus
corações juvenis. Assim, eles estarão ligados a Deus, aos outros, à história e a um projeto de
vida que os revela a si próprios. É esse o sentido da mensagem autenticamente cristã
transmitida pela Igreja e pelo Papa nas JMJ
224
.
2. Os jovens são seres em busca
2.1. Os jovens são como as gerações precedentes
Os jovens hodiernos são, como as gerações precedentes, capazes de generosidade,
solidariedade e dedicação quando estimulada por uma grande causa, mas têm menos
referencial social e sentido de pertença do que os seus predecessores. São individualistas,
219
J. B. LIBANIO. A religião..., op.cit., p. 220.
220
P. T. ANATRELLA, fonte cit.
221
Ibid.
222
JOÃO PAULO II. Mensagem para a XVIII JMJ (8 mar. 2003), n.4. Em DWVE.
223
Cf. P. T. ANATRELLA, fonte cit.
224
Cf. Ibid.
Referências bibliográficas
querem fazer as próprias escolhas, desconsiderando o conjunto dos valores, das idéias e/ou
das leis comuns. Constroem os seus referenciais pegando um pouco de cada parte. Tendem
facilmente a uniformização e à intolerância. Estão mergulhados nas modas e mensagens
midiáticas e utilizam-nas como fonte para construir o universo interior. Demergem o risco
do conformismo, a fragilidade afetiva e as dúvidas dos jovens
225
.
A afetividade dos jovens está marcada de hesitações sobre a identidade, o sexo, a
família. Eles confundem os sentimentos e nem sempre distinguem uma atração amigável de
uma tendência homossexual
226
. A co-educação recebida desde a infância, na pós-adolescência
pode complicar a relação homem-mulher, e o aumento considerável dos divórcios não
favorece a confiança no outro e no futuro
227
.
A personalidade juvenil hodierna resulta da educação, da escolarização e da
catequese, queo penetraram na inteligência. Os jovens atuais foram estimulados a viver no
nível afetivo e sensorial, em detrimento da razão entendida como conhecimento, memória e
reflexão. Eles buscam todas as sensações possíveis no álcool, na droga e outras. Assim, as
sensações tornam-se a fonte segura do comportamento juvenil, não a capacidade reflexiva,
racional
228
.
Quando tais «jovens corações»
229
encontram adultos verdadeiros, como João
Paulo II, escutam os seus ensinamentos sobre os valores da vida e a experiência cristã, na
expectativa de encontrarem inspiração e o sentido da vida. É muito significativa e ilustrativa a
explícita confiança que o Papa, em seu agradecimento a Deus pelo caminho e pelos jovens
das JMJ, deposita nessa «nova humanidade» em relação à geração precedente:
Quero dizer a Deus obrigado pelo caminho das JMJ. Obrigado pelas
multidões de jovens que elas atingiram ao longo destes dezesseis anos! São
jovens que agora, adultos, continuam a viver a onde residem e
trabalham. Tenho a certeza de que vós, queridos amigos, estareis à altura de
quantos vos precederam. Vós levareis o anúncio de Cristo ao novo milênio.
Voltando a casa, não vos isoleis. Confirmai e aprofundai a vossa adesão à
comunidade cristã a que pertenceis. (...) o Papa acompanha-vos com afeto e,
parafraseando uma afirmação de Santa Catarina de Sena, diz-vos: ‹Se fordes
225
Cf. Ibid.
226
Cf. Ibid. Segundo P. T. ANATRELLA «a homossexualidade não é uma variante da sexualidade humana
comparável à heterossexualidade, mas a expressão de uma tensão conflituosa inserida no âmbito de uma
tendência que se afasta da identidade sexual. A educação ao sexo do outro e ao sentido da diferença entre o
homem e a mulher é o ponto nodal da descoberta do verdadeiro sentido da alteridade».
227
Cf. Ibid.
228
Cf. Ibid.
229
JOÃO PAULO II. «Homilia na Santa Missa para os jovens junto ao Lago de Tiberíades» (24 mar. 2000), n. 1.
Em DWVEP.
Referências bibliográficas
aquilo que deveis ser, poreis fogo ao mundo inteiro!› (cf. Carta 368). Com
confiança olho esta nova humanidade
230
.
2.2. Buscam vida espiritual autêntica
A juventude busca uma «vida espiritua autêntica
231
. A maioria dos jovens
participantes das JMJ esbanja bem-estar e alegria de viver. Eles são reconhecidos pelo Papa
João Paulo II e pelos espectadores das JMJ, por suas características mais acentuadas: «alegria,
esperança, transparência, audácia, criatividade, idealismo, sensibilidade e generosidade
espontânea»
232
, a calma, o sorriso, a delicadeza, a gentileza, a cooperação e a «abertura à
grande diversidade cultural do mundo atual»
233
. Essas características fomentam a esperança
do Papa nos jovens e impactam aqueles expectadores.
É preciso confiar nos jovens das JMJ. Eles preparam, conforme as palavras do
Papa, uma «autêntica revolução cultural e espiritual»
234
«silenciosa»
235
, mas muito ativa.
Enfrentam os mesmos problemas de seus coetâneos: «a queda dos valores, a dúvida, o
consumismo, a droga, a delinqüência, o erotismo etc. Mas, ao mesmo tempo, es viva em
cada jovem uma grande sede de Deus»
236
. Vivem experiências e decepções, mas aspiram a um
ideal de vida e a uma espiritualidade fundada sobre Deus. A sociedade européia, por exemplo,
cada vez mais velha, cética e sem esperança, sensibiliza-se com os jovens das JMJ. A maioria
deles vem de comunidade cristã, que tem acolhido os jovens em busca. Cristãos, não
batizados, ou quem não se sente reconhecido na Igreja
237
dirigem-se às JMJ para encontrar as
respostas para a sua necessidade espiritual. Eles buscam vida espiritual autêntica nas JMJ.
A presença radiante dos jovens das jornadas deixou rastos indeléveis em todos os
países, onde celebraram as JMJ com o Papa. Eles invertem as imagens redutivas da
230
Id. «Homilia na Missa de encerramento da XV JMJ» (28 ago. 2000), n.7. Em DWVEP.
231
Id. «Mensagem por ocasião do XIII DMJ» (30 nov. 1997), n. 8. Em DWVEP.
232
Id. «Discurso aos jovens de Portugal» (15 maio 1982). Em DWVEP.
233
Id. «Messaggio ai giovani verso il Giubileo» (21 nov. 199), n.2 (trad. do it.). Em DWVE.
234
Id. «Discorso ai giovani della Diocese di Roma» (5 apr. 2001), n. 4 (trad. do it.). Em DWVE.
235
F. COLZANI. «Dall´evento all´quatidianità. L´impatto della GMG nella vita dei giovani partecipanti». Em
GCSM, p. 131.
236
JOÃO PAULO II. «Mensagem para a VII JMJ, 1990» (24 nov.1991), n.3. Em DWVEP.
237
Cf. Id. «Mensagem para a XIX JMJ, 2004» (22 fev. 2004), n. 6. Em DWVEP.
Referências bibliográficas
juventude de hoje, da qual se fala para evocar uma sexualidade compulsiva, a droga, a
delinqüência etc. Se alguns deles vivem assim, é porque, como acertadamente disse o
teólogo J. B. Libanio, estão «abandonados a eles mesmos»
238
.
A sociedade consumista é infantil com os jovens porque os usa como modelo,
enquanto precisam de pontos de referência. Ela os lisonjeia, mas não ama os próprios filhos.
A ação pastoral local também tem a sua parcela de colaboração, à medida que as tarefas
educativas foram transcuradas ou abandonadas pelas ordens religiosas e pelos sacerdotes que
tinham-nas como vocação. Mas é preciso reconhecer que a tarefa deles, segundo P. Singer
239
,
na «época de ruptura» (1960-1970) não era simples, porque os jovens refutavam maciçamente
todo tipo de reflexão religiosa. E rejeitavam também, conforme J. B. Libanio, a «tradição no
referente à sexualidade»
240
. Àqueles de hoje faltam completamente as bases do ponto de vista
religioso. Graças ao «sucesso das JMJ»
241
, essa visão poderá mudar quando «os jovens do
século XXI»
242
conquistarem uma «sólida espiritualidade»
243
. E descobrirem que grande parte
da visão da pessoa humana, também de inteiros setores da vida social, foi plasmada pela
mensagem de Cristo transmitida pela Igreja e pelas gerações cristãs no decurso da história.
Somente uma sólida vida espiritual cura a enfermidade do novo milênio. Daí a
urgente necessidade de reconstruir um universo interior vigoroso para resistir à mentalidade
corrente. Por isso, o Papa aconselha a juventude contemporânea a buscar autêntica vida
espiritual fundamentada no amor:
Uma vida espiritual, que coloca em contato com o amor de Deus e delineia
no cristão a imagem de Jesus, pode curar a enfermidade do novo milênio,
demasiadamente desenvolvido na racionalidade técnica e subdesenvolvido
na atenção ao homem, às suas aspirações e ao seu mistério. Urge reconstruir
um universo interior inspirado e sustentado pelo Espírito, alimentado de
oração e orientado para a ação, de maneira que seja suficientemente vigoroso
para resistir às múltiplas situações em que convém tutelar a fidelidade a um
projeto, em vez de seguir o de se conformar à mentalidade corrente
244
.
Os jovens hodiernos não procuram unicamente vida espiritual autêntica, em vista
da transformação da mentalidade corrente. Eles buscam também o sentido pleno da vida e da
238
J. B. LIBANIO. Jovens em..., op.cit., p. 144.
239
Cf. P. SINGER. «A juventude como coorte». Em H. W. ABRAMO & P. P. M. BRANCO (org.). Retratos da
juventude brasileira: análise de uma pesquisa nacional. São Paulo: Fundação Perseu Abramo/Instituto
Cidadania, 2005, p. 30.
240
Ibid., p. 57.
241
GIOVANI PAOLO II. «Messaggio al movimento giovanile guanelliano» (20 apr. 2002), n. 2. Em DWVE.
242
Id. «Homilia na Missa para os jovens junto ao Lago Tiberíades» (24 mar. 2000), n. 4. Em DWVEP.
243
Id. «Messaggio al movimento giovanile guanelliano» (20 apr. 2002), n. 2 (trad. do it.). Em DWVE.
244
Id. «Mensagem para a XIII JMJ» (30 nov. 1997), n. 8 (o itálico é nosso). Em DWVEP.
Referências bibliográficas
história. Os textos pontifícios de João Paulo II aos jovens das JMJ mostram explicitamente
tais buscas da juventude.
1.3. Buscam o sentido pleno da vida
A juventude é o momento ideal da pergunta suprema: qual é o sentido da vida e da
história? Cristo (resposta definitiva à questão) revela o verdadeiro significado da nossa
existência no mistério do universo e da história.
De fato, o ser humano não pode fechar-se no limite do tempo, no cerco da
matéria, no limite da existência imanente e auto-suficiente; pode tentar fazê-lo, afirmando
com palavras e gestos que a sua pátria é o tempo e a morada o corpo. Mas na realidade a
pergunta suprema agita-o, punge-o e o atormenta constantemente. É uma questão que não se
pode eliminar. Essa transcendência está inscrita profundamente na constituição humana da
pessoa, embora grande parte do pensamento moderno, ateu, agnóstico, secularizado, insista
em afirmar e ensinar que a interrrogativa suprema seria uma doença da pessoa humana, uma
armação de gênero psicológico e sentimental a ser curada, enfrentando corajosamente o
absurdo, a morte, o nada. Essa filosofia é sutilmente perigosa, sobretudo, para o jovem frágil
no pensamento, comovido pelos dolorosos acontecimentos da história, às vezes traído nos
afetos, marginalizado, incompreendido, desempregado. «Jesus exalta aqueles que o mundo
geralmente considera frágeis», afirma o Papa
245
.
A juventude é o período muito importante e crítico da vida para decidir o futuro.
Nessa fase singular, segundo o Papa, toma-se consciência de que a pessoa humana «não pode
viver sem conhecer o significado da própria existência»
246
e de que as questões decisivas não
dizem respeito à «que coisa», mas a «quem» ir e entregar a vida
247
. Muitos jovens
contemporâneos perderam o verdadeiro sentido da vida e procuram refúgio no consumismo
desenfreado, na droga, no alcoolismo e no sexismo. Procuram à felicidade, mas o resultado é
a tristeza, o vazio e o desespero. O importante da vida juvenil é a pessoa com quem decide
partilhá-la. Jesus é a pessoa que satisfaz as aspirações profundas dos jovens na história.
É por meio de Cristo que Deus fala na história da humanidade. Deus revela-se nos
acontecimentos do mundo, onde dialoga com os homens e as mulheres criados a sua imagem
e semelhança. A história é um caminho de recíproco conhecimento dialógico entre o Criador e
245
Id. «Homilia na Missa para os jovens junto ao Lago de Tiberíades» (24 mar. 2000), n. 3. Em DWVEP.
246
Id. «Omelia nella Santa Messa per i giovani» (19 nov. 1980), n. 1 (trad. do it.). Em DWVE.
247
Id. «Homilia na Missa de encerramento da XV JMJ» (28 ago. 2000), n.3. Em DWVEP.
Referências bibliográficas
o ser humano. Ela é um caminho para a liberdade
248
e o amor, que vivifica a existência
humana e contribui para edificar um mundo solidário e justo
249
.
Na juventude, os jovens buscam o que é importante e central na existência. E ao
contrário das gerações precedentes, especialmente das que vivenciaram os transtornos da
guerra mundial e de outros conflitos, grande parte dos jovens atuais cresceu em clima de paz,
de liberdade e de segurança. Mas o bem-estar material não produz automaticamente a
felicidade nem a serenidade. A liberdade garantida pela lei não assegura a liberdade interior
das paixões, que nasce da força regeneradora da Graça de Cristo
250
. Os jovens de hoje, bem
como as gerações precedentes, precisam encontrar Cristo, que revela o sentido pleno da vida
juvenil e da história da humanidade
251
.
2.4. Buscam o encontro com Jesus Cristo
A juventude é uma riqueza singular, porque os jovens descobrem a si mesmos
(personalidade e existência), a história, o mundo circundante dos homens e da natureza. Mas a
descoberta fundamental é a de Jesus Cristo, que lhes revela a dignidade de filhos de Deus, o
sentido da existência, a verdade plena sobre si e o sentido da história. Nele os jovens
alcançam a autêntica maturidade humana e espiritual
252
. Descobri-Lo é a exigência principal
da juventude. Mas onde encontrá-Lo? O Papa responde, apresentando diversos lugares
possíveis.
Jesus revela o seu Rosto aos jovens, conforme as palavras do Papa, «onde os
homens sofrem e esperam»: nas pequenas aldeias espalhadas pelos continentes,
aparentemente à margem da história, nas imensas metrópoles, onde milhões de seres humanos
vivem como estranhos. Cada ser humano é concidadão de Cristo
253
. Jesus manifesta-se nos
mais pobres, nos marginalizados, vítimas geralmente de um injusto modelo de
desenvolvimento, que coloca o lucro em primeiro lugar, e faz da pessoa humana um meio em
vez de fim. Cristo reside onde a pessoa sofre pelos direitos negados, esperanças traídas e suas
angústias ignoradas
254
.
248
Cf. Id. «Discorso nell´incontro con i giovani» (26 giug. 2001), nn. 2-3. Em DWVE.
249
Cf. Ibid., n. 6.
250
Cf. Id. «Messaggio ai partecipanti al meeting dei giovani verso il Giubileo» (21 nov. 1999), n. 2. Em DWVE.
251
Ibid.
252
Id. «Homilia na celebração do DR e da Paixão do Senhor» (16 abr. 2000), nn. 3-4. Em
DWVEP.
253
Cf. Id. «Mensagem para a XII JMJ..., fonte cit., n. 4.
254
Cf. Ibid.
Referências bibliográficas
Jesus mora também, segundo o Papa, no «meio daqueles que O invocam sem O
terem conhecido», dos que tendo começado a conhecê-Lo, sem culpa própria, perderam-No,
dos que O procuram de coração sincero, mesmo pertencendo a situações culturais e religiosas
diversas
255
.
Jesus está presente, segundo o Papa, entre os seres humanos «marcados pelo nome
cristão»
256
. Todos O podem encontrar nas Escrituras, na Oração e no serviço ao próximo. Ele
reside particularmente nas «paróquias», mas também nas «comunidades visíveis», nas
«associações» e nos «movimentos eclesiais» e em tantas outras formas de «agregação e
apostolado». Jesus vive finalmente na «Eucaristia», na qual se realiza de forma máxima a Sua
presença real e sua contemporaneidade com a história da humanidade
257
.
Cristo deixa-se encontrar em tais lugares. Os jovens O buscam. Encontrá-Lo é
achar a luz que ilumina, de maneira radical e salvífica, o caminho de cada vida humana:
radical porque desce aos fundamentos do ser; salvífica porque demonstra a plena prospectiva
do bem
258
. Cristo revela o significado da existência humana no infinito mistério do universo,
no vértice obscuro e imprevisível da história. O grande e notável filósofo e matemático
francês B. Pascal, por exemplo, chegou ao encontro definitivo e alegre com Cristo e escreveu
nos seus pensamentos, com insuperável lucidez:
Não apenas conhecemos Deus somente por Jesus Cristo, como ainda
conhecemos a nós mesmos somente por Jesus Cristo. conhecemos a vida
e a morte por Jesus Cristo. Fora de Jesus Cristo não sabemos o que é nossa
vida, nem nossa morte, nem nós mesmos. Assim sem a Escritura, que tem
Jesus Cristo por objeto, nada conhecemos e só vemos obscuridade e
confusão na natureza de Deus e na própria natureza
259
.
E o Concílio Vaticano II, conforme a homilia do Papa, sublinhou que no mistério
do Verbo Encarnado o mistério do homem encontra a plena luz
260
. Jesus Cristo é a revelação
plena e definitiva do advento de Deus na história da humanidade e de cada ser humano. Deus
vem a nós de modo literal, radical e definitivo, em Jesus Cristo na história. Buscando Cristo e
encontrando-se com Ele, o jovem precisa tomar a decisão mais importante da existência.
255
Ibid., n. 5.
256
Ibid.
257
Cf. Ibid., nn. 5-8.
258
Cf. Id. «Homilia em preparação para a Páscoa» (20 mar.1980), n. 2. Em DWVEP.
259
P. BLAISE. Pensamentos. São Paulo: Nova Cultural, 2005, p. 169 (Os pensadores).
260
GIOVANI PAOLO II. «Omelia nel´incontro con una rappresentanza de militari italiani» (01 mar.1979), n. 2.
Em DWVE.
Referências bibliográficas
2.5. Buscam o amor: decisão mais importante
A juventude é, finalmente, a fase adequada para o jovem tomar a decisão mais
importante da vida. «O jovem procura uma estrada», afirma Karol Woytila
261
. Qualquer
estrada que ele escolha, a decisão mais importante é a de viver o ideal cristão do amor a Deus
e ao próximo. O Evangelho de Cristo proclama o amor como o maior mandamento: «Amará
ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento
(...). Amarás o teu próximo como a ti mesmo» (Mt 22, 37.39).
São esses os dois mandamentos, que unem um ao outro e se condicionam
reciprocamente. Segundo o ensinamento e o exemplo de Cristo, devemos amar a Deus acima
de todas as coisas e ao próximo na medida do ser humano. Contemporaneamente na carta de
João, lemos: «quem não ama seu irmão, a quem vê, a Deus, a quem não vê, não poderá amar»
(1Jo 4, 20). O amor a Deus verifica-se no amor ao próximo, que devemos amar como a nós
mesmos. O próximo é cada pessoa humana sem exceção. Esse ideal de amor cristão deve ser
compartilhado, particularmente, com os irmãos em provação, nos quais contemplamos a face
do Senhor (cf. Mt 25, 31-46). Cristo fala também de amor aos inimigos: «Amai os vossos
inimigos, fazei o bem aos que vos odeia, bendizei os que vos amaldiçoam, orai por aqueles
que vos difamam» (Lc 6, 27-28). Além do mais, o próprio Cristo deu-nos o exemplo de amor
ao próximo, orando pelos que O crucificavam
262
.
João Paulo II, na sua mensagem para a XIV JMJ, comentando os dois
mandamentos explicita a consistência própria de cada um e as suas interdependências na
verificação do agir cristão:
Jesus não diz que o segundo mandamento é idêntico ao primeiro, mas que
lhe é «semelhante». Os dois mandamentos, portanto, não são cambiáveis,
com se se pudesse satisfazer de maneira automática o mandamento do amor
de Deus, observando o do amor do próximo, ou vice-versa. Eles têm
consistência própria, e ambos devem ser observados. Jesus, porém, põe um
ao lado do outro para tornar claro a todos que eles, entre si, estão
estreitamente conexos: impossível observar um, sem pôr em pratica o outro.
(...) Para saber se se ama verdadeiramente a Deus, é preciso verificar se se
ama seriamente o próximo. E se quiser saborear a qualidade do amor pelo
próximo, deve-se perguntar se se ama verdadeiramente a Deus
263
.
Portanto, não distanciar de Cristo. Decidir-se por Ele. A humanidade precisa de
Cristo e, particularmente, de bons samaritanos. Daí a necessidade de conscientizar o jovem
hodierno de que a grandeza e a honra do mundo dependem muito de sua compreensão de si
261
A. P. dos REIS. O Papa operário. Rio de Janeiro: Monterrey, p. 26.
262
Cf. GIOVANI PAOLO II. «Discorso ai giovani» (Budokan, 24 febb. 1981), n. 4. Em DWVE.
263
Id. «Mensagem pela XIV JMJ, 2000» (06 jan. 1999), n. 6. Em DWVEP.
Referências bibliográficas
mesmo, de seu encontro com Cristo e da sua vivência concreta do amor fraterno. Amor que,
conforme as palavras do Papa, «transforma a existência da pessoa e as próprias estruturas da
sociedade»
264
.
3. Os jovens são seres em relação
3.1. A pessoa renasce de um encontro
Esta é a dimensão fundamental do encontro: não se está diante de uma coisa, mas
de Alguém Vivo. Os cristãos não o discípulos de um sistema filosófico: são homens e
mulheres que experimentaram na fé o Cristo (cf. 1Jo 1, 1-4)
265
. Essa experiência torna o início
de uma nova relação entre o ser humano e Cristo, na qual a pessoa humana reconhece
existencialmente Cristo como Senhor e Deus do mundo, da humanidade, e da sua vida
266
.
O cristianismo não é simplesmente uma doutrina; é um encontro na com Deus,
que Se tornou presente na nossa história, com a encarnação de Jesus
267
. O método para
conhecê-Lo não deve ser mais o de antes da sua vinda, que era apoiado sobre o esforço, o
estudo, a genialidade, o sentimento religioso. Agora, é Alguém a encontrar, não exige
particulares capacidades, mas a simplicidade de um encontro, como magistralmente escreveu
o Papa João Paulo II aos jovens contemporâneos em suas mensagens pontifícias para as JMJ:
O cristianismo, antes de ser um conjunto de doutrina ou uma regra para a
salvação, é um ‹acontecimento› de um encontro. O cristianismo é Cristo! É
uma Pessoa, é Aquele que vive! Encontrar Jesus, amá-Lo e fazer com que
Ele seja amado: eis em que consiste a vocação cristã
268
. O encontro pessoal
com Cristo ilumina a vida com uma nova luz, orienta-nos pelo bom caminho
e leva-nos a ser suas testemunhas. O novo modo de ver o mundo e as
pessoas, que d`Ele nos vem, fazem-nos penetrar mais profundamente no
mistério da fé, que não é simplesmente um conjunto de enunciados teóricos
para serem acolhidos e ratificados pela inteligência, mas uma experiência a
assimilar, uma verdade a ser vivida, o sal e a luz de toda a realidade
269
.
O eu «reencontra-se consigo mesmo»
270
no encontro com uma pessoa. O encontro
como presença não constitui ontologicamente a pessoa na sua subjetividade: ele a desperta
para o que era existencialmente imprevisto e imprevisível. O ser humano descobre a sua
identidade original encontrando-se com uma presença, que o atrai e desperta as exigências
264
Id. «Homilia na Missa para os universitários em preparação para o Natal» (15 dez.1998), n. 4. Em DWVEP.
265
Cf. Id. «Mensagem para a XII JMJ..., fonte cit., n. 2.
266
Cf. Id. «Veglia di preghiera nella XV GMG» (19 ago. 2000), n. 2. Em DWVE.
267
Cf. Id. «Mensagem para a XIX JMJ..., fonte cit., n. 3.
268
Id. «Mensagem pela XVIII JMJ» (8 mar. 2003), n. 4. Em DWVEP.
269
Id. «Mensagem para o XVII DMJ» (25 jul. 2001), n. 3. Em DWVEP.
270
Id. «Homilia durante a Missa para os universitários em preparação para o Natal e o Grande Jubileu» (14 dez.
1999), n.2. Em DWVEP.
Referências bibliográficas
constitutivas da sua natureza, da vida na totalidade de suas dimensões. Paradoxalmente, a
originalidade do eu emerge quando ele percebe que tem em si algo que está em todos os seres
humanos.
O encontro é uma experiência a ser feita. Sem empenho na busca dessa
experiência, não se pode compreender o que é o caminho do olhar. Difícil é aceitar o que nos
desperta para a verdade da vida, o destino, a esperança, e a moralidade, um acontecimento. A
palavra acontecimento, do qual o encontro é a forma, indica uma «coincidência» entre o real
experimentável e o sobrenatural. O maior fato não é o existir, mas o encontro: aquele
fragmento único do qual toda uma história depende, um momento delimitado no tempo.
Quando o ser humano encontra com Cristo a sua vida muda e ele é chamado a
comunicar aos outros a própria experiência
271
mediante o testemunho. A responsabilidade da
pastoral juvenil local é, conforme a mensagem do Papa aos jovens, «tornar possível este
encontro utilizando todos os meios»
272
. É preciso identificar-se bem com o valor da afirmação
de que o cristianismo «é» agora um acontecimento, o «foi» um acontecimento. É uma
presença paterna que gera um Encontro, que comunica a vida, porque a verdadeira
paternidade transmite uma proposta para a vida. O encontro é proposta de uma resposta ao
que o outro é.
Ele gera uma companhia, uma certeza afetiva, uma família, um lugar de esperança
para a vida. Essa certeza para os jovens está nos adultos. Como afirmou o Papa João Paulo II
dois anos: «O encontro com certas pessoas gera afinidade e esta afinidade gera uma
companhia, uma comunhão, um acontecimento. Viver esta comunhão é participar do Mistério
do Espírito»
273
. Do encontro comum com as pessoas, sentimos solicitados, atraídos e
estimulados a viver em união.
A companhia é o lugar geográfico e social, que chama ao que despertou o
encontro: Cristo, o destino feito pessoa. Ela é o local da amizade que sustenta a pessoa no
caminho de Cristo; ajuda na realização de si e não aliena. Isso provoca. É a experiência com
Alguém que se propõe, o que faz a humanidade mais humana. Na experiência, em sentido
analógico, experimenta-se o milagre. Uma multidão vinha até Jesus quando fazia milagres.
271
Cf. Id. «Mensagem para a XX JMJ, 2005» (6 ago. 2004), n.6. Em DWVEP.
272
Id. «Mensagem para a XIX JMJ..., fonte cit., n. 3.
273
Id. «Discorso ai giovani della Diocesei di Roma» (05 apr. 2001), n. 2 (trad. do it.). Em DWVE.
Referências bibliográficas
Ele não veio para fazer os milagres, mas os fez para possibilitar a compreensão do porquê
veio e quem era.
Assim a meta do cristão é viver essa Presença para ser Presença que abarca toda a
humanidade. O método é, conforme o discurso do Papa aos jovens participantes do Congresso
Internacional, um encontro existencial: «O cristão é aquele que livre e alegremente imprime
na própria existência o novo ritmo que a vida de Cristo deu à vida humana»
274
. É preciso levar
os jovens sem formação religiosa à experiência e vivência de tal Presença.
3.2. Os jovens sem formação religiosa
A maioria das questões sobre os jovens e a religião confirma o quesabemos: os
jovens hodiernos são filhos dos adultos que eram adolescentes entre 1960 e 1970 e que nem
sempre transmitiram aos seus filhos o que receberam na educação
275
. Por isso, muitos jovens
devem encontrar a estrada da sem ou contra a vontade dos próprios pais
276
. Estes relegaram
aos filhos a construção do plano moral e espiritual. Eles se preocuparam mais com a
satisfação dos desejos dos filhos.
Assim, os adultos privaram os jovens hodiernos de referências espirituais,
deixando-os abandonados a si mesmos. Queriam fazer os jovens felizes, mas sem ensinar-lhes
as regras de vida social, o uso das riquezas e a cristã, matriz de tantas civilizações. Daí a
necessidade de desenvolver uma pastoral juvenil capaz de conscientizar a juventude do valor
da pessoa, da consciência, da liberdade, da fraternidade e da igualdade. Este é o débito da
geração precedente em relação à juventude contemporânea: não lhe comunicou a mensagem
salvífica de Cristo transmitida pela Igreja.
Tais valores, segundo P. T Anatrella, foram banalizados e separados da fonte. Ao
desconhecer a sua origem o risco de não poder mais transmiti-los. Essa mentalidade
274
Id. «Discorso ai giovani partecipanti al congresso internazionale promosso dal´instituto a cooperazione
università» (14 apr. 1981), n.6 (trad. do it.). Em DWVE.
275
Cito aqui o meu próprio exemplo: venho de uma família, que se dizia tradicionalmente católica, maso me
transmitiu o que recebera dos meus avós (o meu avô, por exemplo, jamais faltava a uma Missa dominical, exceto
em caso extraordinário, e participava ativamente das decisões políticas e sociais). Até aos meus 19 anos, nada
sabia das atividades espirituais e sociais da Igreja, particularmente, porque não fui conscientizado e muito menos
incentivado à participação eclesial e social no seio familiar. Quando alguém me perguntava qual era a minha
religião? Sempre respondia: sou católico. Mas até então tinha ido a três missas (respectivamente: de sétimo dia
de um irmão, de meu avô e de minha mãe) e jamais participado de qualquer atividade espiritual ou social
promovida pela Igreja, exceto quando pessoalmente decidi participar duma peregrinação (aos 16 anos), em busca
unicamente de aventura espiritual e nada mais. Portanto, tive que descobrir e percorrer o caminho de busca de
maturação na fé, de vivência eclesial e inserção social pessoalmente.
276
Cf. GIOVANNI PAOLO II. «Omelia nella Santa Messa per i giovani» (19 nov. 1980), n. 2. Em DWVE.
Referências bibliográficas
antieducativa não permitiu que os filhos fossem batizados nem catequizados, porque eles
precisavam fazer tabula rasa aristotélica do passado para liberar-se da tradição. Daí surgem
os handicaps culturais, jovens sem formação ou pouquíssima cultura religiosa
277
. Por isso, os
jovens hodiernos não compreendem inteiros períodos da história da nossa civilização, da arte,
da literatura e da música. Eles não são alérgicos às verdades fundamentais de cristã e nem
contrários à Igreja, mas simplesmente não sabem quase nada de cultura religiosa. Se eles
forem interrogados acerca de tais questões, as suas respostas revelarão ignorância, indiferença
e essencialmente falta de educação religiosa. São condicionados por todos os clichês e os
conformismos que circulam na mídia sobre a fé cristã e a Igreja, exorta P. T. Anatrella
278
.
Em poucas palavras, muitos jovens de hoje estão longe da Igreja, porque não
foram educados e nem inseridos adequadamente na riquíssima tradição religiosa
279
. São
jovens sem formação religiosa, necessitados de um encontro existencial para renascer. Eles
facilmente confundem o religioso com paranormalidade e estão também diante das
interpelações das novas influências ideológicas.
3.3. «Os jovens e as novas influências ideológicas»
280
A juventude contemporânea não deposita credibilidade na política quando não é
capaz de assegurar o bem comum. O liberalismo das sociedades de consumo e o
individualismo favoreceram a desistência dos jovens diante da política e do sistema
democrático. Os grandes desafios sociais deram lugar às reivindicações subjetivas e setoriais.
Nesse contexto, segundo P. T. Anatrella, é preciso elaborar projetos eficazes para despertar o
interesse dos jovens para a vida política e conscientizá-los sobre o valor do matrimônio, da
família (homem, mulher e filhos), da escola e da educação, da lei civil e moral, da inserção
social e profissional, da qualidade do ambiente, do sentido de justiça e da paz
281
.
A teoria do gênero. Segundo o psicanalista, especialista em psiquiatria social, P.
T. Anatrella, as nossas «sociedades estão atualmente influenciadas por uma confusão
sexual»
282
. A teoria do gênero defende que a diferença sexual (ser homem ou mulher) é
secundária no estabelecimento das relações sociais e dos vínculos afetivos, que são
construídos no matrimônio e contribuem para fundar uma família. Conforme tal teoria, é
277
Cf. P. T. ANATRELLA, fonte cit.
278
Ibid.
279
Ibid.
280
Ibid.
281
Cf. Ibid.
282
Ibid.
Referências bibliográficas
preciso privilegiar e reconhecer o gênero sexual. Este não depende mais do gênero masculino
e feminino, mas do que cada um constitui subjetivamente e que orienta a heterossexualidade,
a homossexualidade, o transexualismo etc. Fala-se hoje de casal e de família heterossexual ou
de homossexual. Assim a diferença sexual é substituída pela diferença de sexualidade.
Atualmente, a teoria do gênero é difundida pela Comissão de Populações da ONU
e pelo Parlamento europeu. Eles querem obrigar os países a modificarem as suas legislações e
reconhecerem, por exemplo, as uniões homossexuais ou a homopaternidade mediante
adoções. Essa nova ideologia, segundo P. T. Anatrella, representa uma «manipulação
semântica»
283
, porque aplica à noção de casal e de paternidade a homossexualidade, enquanto
o casal implica a dessimetria sexual, constituindo a relação entre um homem e uma mulher.
Desse modo, a homossexualidade não pode estar na origem do matrimônio e da paternidade.
Ela deriva de uma problemática individual e não pode constituir norma social nem ser
reconhecida como um valor basilar da educação dos filhos.
A educação deve visar à renovação da sociedade, fundada sobre o casal
constituído por um homem e uma mulher. Não é por acaso que o início da Bíblia está
centrado na criação de um casal, que na sua relação é a imagem e semelhança de Deus, como
humanidade. O Papa, por sua vez, coloca-se em favor da família e denuncia as ideologias que
tentam destruí-la: «A família é a expressão histórica e visível do amor de Deus. (...) É triste
pensar que certas ideologias querem destruir a família, espalhando o desamor e estimulando a
contestação»
284
. É preciso construir uma «cultura de aliança», afirma P. T. Anatrella
285
, e não
um sorvedouro de uma luta de poder entre os sexos.
A ideologia do mercado e do consumo. A maioria da juventude contemporânea
está sendo sucumbida pelas regras da sociedade de consumo, da ambição de ter sempre mais,
ao invés de procurar ser sempre mais, que outros têm sempre menos. Essa sociedade,
segundo o médico psiquiatra e psicanalista J. F. Costa, depende das atitudes e disposições
psicológicas dos indivíduos para agir e pensar «como se ela existisse»
286
. A satisfação
imediata dos desejos é solicitada pela publicidade. A organização política da sociedade
283
Ibid.
284
GIOVANNI PAOLO II. «Discorso ai giovani» (7 sett. 1980). Em DWVE.
285
P. T. ANATRELLA, fonte cit.
286
J. F. COSTA. «Perspectivas da juventude na sociedade de mercado». Em: R. NOVAES & P. VANNUCHI
(orgs.). Juventude e sociedade: trabalho, educação, cultura e participação. São Paulo: Fundação Perseu
Abramo, 2004, p. 76. Nesta mesma página, o autor apresenta também as disposições e atitudes que contribuem
para a reprodução da sociedade de mercado: o sujeito «1) deve se deixar seduzir pela propaganda de
mercadorias; 2) deve possuir uma identidade pessoal flexível, compatível com as novas relações de trabalho; 3)
deve estar convertido à moral das sensações».
Referências bibliográficas
baseia-se nessa mentalidade mercantilista, que transforma os cidadãos em consumidores. As
regras econômicas encobrem as morais, ditando leis e impondo o seu sistema de referência e
valor a todos os setores da existência. Tanto o consenso do poder político como a educação, o
ensinamento, a saúde e o trabalho são regulados em função das normas econômicas e em
detrimento dos valores da vida.
No centro desse mecanismo não estão pessoas e o bem comum, mas o custo e
regime econômico. A ditadura do dinheiro e da economia constrói com a publicidade uma
visão mecanicista da vida, o que não produz não deve existir. Isso ajuda alterar o sentido da
pessoa humana, das relações sociais e do bem-comum. A atitude consumista hodierna é,
conforme as palavras de J. F. Costa, «dissolutora (sic) desses ideais (...). Ela rompe o fio da
tradição e nada coloca no lugar. É uma cultura do imediato, do descompromisso consigo, com
o outro e com o devir de todos»
287
.
A sociedade consumista vem minando a confiança dos jovens na história e no
próprio valor como agentes de transformação social, na qual muitas vezes prevalecem os
interesses econômicos. Nesse contexto, o Papa convida-lhes a testemunhar um novo e mais
profundo respeito pelos bens da natureza, vivendo a pobreza em espírito, e pela dignidade de
cada pessoa humana
288
:
Penso que aqui (numa sociedade de consumo) na vida de cada jovem ganha
sentido e força concretos e atuais a bem-aventurança à pobreza em espírito:
no jovem rico para que aprenda que o seu supérfluo é quase sempre o que
falta a outros e para que não se retire triste, quando perceber no fundo da
consciência um apelo do Senhor a um desapego mais pleno; no jovem que
vive a dura contingência da incerteza quanto ao dia de amanhã, talvez até na
fome, para que buscando a legítima melhoria de condições para si e para os
seus, seja atraído pela dignidade humana, mas não pela ambição, pela
ganância, pelo fascínio supérfluo
289
.
A laicidade e a exclusão do religioso
290
. O cristianismo está na origem da
concepção que distingue o poder religioso do poder temporal. No curso da história, quando
aconteceram momentos de confusão, o poder político quis ditar as normas à Igreja, por
exemplo, sobre as decisões conciliares. A laicidade, superando a esfera dos poderes e
desenvolvida em oposição à Igreja, implicaria a exclusão da dimensão religiosa do âmbito
social. Assim, a religião seria privatizada, dependente da consciência individual
291
.
287
Ibid. p. 85.
288
Cf. JOÃO PAULO II. «Discurso à juventude franciscana» (09 maio 1998), n. 3. Em DWVEP.
289
Id. «Homilia para os jovens de Belo Horizonte» (01 jul. 1980), n. 7 (o itálico é nosso). Em DWVEP.
290
A revista ÉXODO 80 (sept.oct.) 2005 é toda dedicada a temática em questão, com o título: «Lacidade e
religião: do conflito à convergência».
291
Cf. P. T. ANATRELLA, fonte cit.
Referências bibliográficas
A privatização da religião continuou com a laicização da moral, que foi separada
dos princípios universais, individualizados pela razão, e confundida com a lei civil. A
legalidade substituiu a moralidade. Por isso, os jovens hodiernos não distinguem o valor legal
do moral. A lei civil não diz se algo é moral. Ela apenas organiza a vida da nação e regula os
direitos e deveres dos cidadãos. Ela se fundamenta nos princípios que reconhecem os valores
da vida e respeitam a dignidade da pessoa
292
.
Depois da laicização da sociedade e da moral, agora é o momento da religião. A
vida espiritual está sendo confundida com a vida intelectual e poética. A Bíblia, por exemplo,
está sendo traduzida por não crentes e por escritores de diversas correntes de pensamentos,
assim promovem uma leitura leiga dos Evangelhos. O Papa muitas vezes sublinhou o modo
contraditório de o homem hodierno aproximar-se da Bíblia:
O homem de hoje, desiludido com tantas respostas insatisfatórias as suas
perguntas fundamentais do viver, parece abrir-se às vozes que provêm da
Transcendência e se exprime na mensagem blica. Contemporaneamente,
porém, ele mostra-se sempre mais insensível às questões de comportamentos
em relação com os valores que desde sempre a Igreja apresenta como
fundantes do Evangelho. Assistimos às mais variadas tentativas de desligar a
revelação bíblica das propostas mais comprometedoras
293
.
Para alguns, a Palavra de Deus seria portadora de um discurso mundano. Isso está
exatamente de acordo com a mentalidade religiosa laicizada e os costumes reduzidos ao
mínimo denominador comum, e, segundo P. T. Anatrella, em nome da «modernidade» e de
uma «religião moderada»
294
. Esses seriam os cânones vigentes numa sociedade que quer
regular a dimensão religiosa e as exigências que dela derivam.
A religião cristã está na base da civilização européia e ocidental. Mas quando a
laicidade não a reconhece como tal, não respeita a dimensão religiosa peculiar à existência
humana. Desse modo, as nações respeitaria a liberdade de fé na vida privada, mas recusando o
direito social e institucional à religião, que está a serviço do bem-comum, dos interesses
superiores e consciência humana. Deus não pode ser removido da vida social. A religião cristã
deve educar os jovens nessa dimensão social e institucional para que a Igreja não seja vista
como um grupo intimista e individualista
295
. Educar para essa dimensão tem sido uma
tentativa constante do Papa na sua relação fascinante com os jovens das JMJ. Por isso,
estamos analisando os textos pontifícios aos jovens atuais.
292
Ibid.
293
Id. «Discorso ai partecipanti all´Assemblea Plenaria della Pontificia Comissione Biblica» (29 apr. 2003), n. 2
(trad. do it.). Em L´Osservatore Romano 100 (30 apr. 2003) 4.
294
P. T. ANATRELLA, fonte cit.
295
Cf. Ibid.
Referências bibliográficas
3.4. Os jovens e João Paulo II: mútua fascinação, afinidade de espírito
uma fascinação mútua, uma afinidade de espírito entre João Paulo II e os
jovens das JMJ. Para explicitar essa fascinação basta responder à pergunta: por que João
Paulo II atrai tantos jovens para as JMJ, como vimos no itinerário histórico-teológico, mesmo
à mensagem cristã sendo exigente? A resposta à pergunta encontra-se na própria questão, a
resposta é dada por si: trata-se da mensagem de Cristo transmitida pela Igreja, e ela foi sempre
exigente. Mas é também fonte de alegria (cf. Jo 16, 22). João Paulo II indica o caminho a ser
percorrido em torno do amor de Deus, que é um modo de procurar o bem e a vida para si e
para os outros em Deus, não é, portanto, um sentimento nem um bem-estar afetivo. Os jovens
ficam sensibilizados com essa linguagem e a própria pessoa do Papa, que afirma
tranqüilamente o amor de Deus e professa «Creio na juventude com todo o meu coração e
com toda a força do meu convencimento»
296
. A sua mensagem fala de vida onde outros falam
de morte pela droga e suicídio, de falências afetivas concluídas com o divórcio, de
desemprego e do descuido da sociedade para com os jovens hodiernos. Essa «mensagem não
pode ser outra», conforme a sua homilia aos jovens irlandeses, senão «a mensagem do próprio
Cristo», as suas palavras não podem ser outras, senão a Palavra de Deus
297
.
O Papa João Paulo II confia na geração atual e lhe transmite confiança na vida.
Disse aos jovens que «Não somos a soma das nossas dificuldades e falências; constituímos a
soma do amor do Pai por nós e da nossa capacidade concreta de nos tornarmos imagem de seu
Filho»
298
, e que viver e recomeçar durante a vida é possível e explica também como
299
. A
geração precedente nem sempre lhes transmitiu suas próprias convicções, nem lhes ensinou a
viver segundo determinados valores, senão para repetir aquela monotonia da sociedade
consumista. Então o que devem fazer os jovens hodiernos? A lúcida escolha é se voltarem
para os anciões para obter o que não tiveram. São as pessoas anciãs que, como o Papa nas
JMJ, recorda-lhes a história e a memória cultural e religiosa de cada Nação.
Entre o Papa e os jovens não divisões, mas fascinação mútua, correspondência
harmoniosa. Há uma troca fascinante e comovente de olhares apaixonados pelo amor perfeito:
«Cristo eternamente jovem»
300
. Quando os jovens percebem as suas palavras autênticas, que
296
GIOVANI PAOLO II. «Omelia durante la Messa per i giovani irlandesi» (30 sett. 1979), n. 1 (trad. do it.). Em
DWVE.
297
Cf. Ibid.
298
Id. «Homilia no Parque Downsview» (28 jul. 2002), n. 5. Em DWVEP.
299
Cf. Ibid.
300
MENSAGEM do Concílio aos Jovens (1965). Em DWDJ.
Referências bibliográficas
correspondem aos seus anseios de «verdade e bondade», se sentem respeitados e valorizados.
Nessa relação, «uma afinidade de espírito», porque o Papa «representa a juventude de
Cristo e da Igreja», e os jovens «são expressão da juventude da vida e da humanidade». E
cada lado tem a sua função específica na correspondência dialógica, espontânea e ativa. Tudo
isso fica explícito no seguinte discurso do Papa aos jovens na Basílica Vaticana:
O Papa, que representa a juventude de Cristo e da Igreja, está sempre alegre
por encontrar-se com aqueles que são a expressão da juventude da vida e da
humanidade! entre nós, portanto, uma afinidade de espírito; se afirma
quase uma exigência de entreter-nos como entre verdadeiros amigos; se
realiza um gosto de comunicar alegria, esperança, ideais; aflora vivo e
espontâneo desejo de diálogo, que, da parte do Papa, se articula em
ensinamento de verdade e de bondade, em exortação e encorajamento, em
bondade e benção; enquanto, da vossa parte, rapazes e jovens, se manifesta
na acolhida livre e desejosa dos ditos ensinamentos paternos, se exprime em
promessa de traduzir em ato tudo quanto vos é dito, se concretiza no
empenho de ser testemunhas entre os vossos coetâneos, da verdadeira
alegria, que aflora em corações bons, puros, ricos da graça do Senhor
301
.
Os jovens participantes das JMJ, por sua vez, sublinharam o calor humano que
caracteriza o encontro deles com o pontífice. Eles, segundo R. Ricucci, geralmente se
impressionam com a «figura do Papa e sua capacidade comunicativa»
302
. Por exemplo, os
jovens italianos, que participaram da JMJ de Toronto, foram particularmente atraídos pela
ternura e humanidade do Papa. Isso fica evidente no seguinte testemunho de dois jovens
participantes (Saba e Lecco):
Que emoção reconhecer no Santo Padre a fragilidade e a sabedoria de um
homem, a firmeza e a amabilidade de um pai, a cumplicidade e a
compreensão de um irmão, a espontaneidade e a proximidade de um amigo.
O seu incansável desejo de sentir-se jovem que deriva da sua descoberta em
Jesus e no Evangelho o ‹bálsamo› da eterna juventude, o seu ser exigente e
amável ao mesmo tempo, a sua fragilidade física que o torna testemunho de
uma força interior superior, isso nos aproximou para escutar o nosso
companheiro de tenda na imensa esplanada de Downsview, que falava ao
coração de cada um de nós
303
.
É evidente, particularmente, pelos dois últimos textos que existe mútua
fascinação entre o Papa e os jovens. Mas, além disso, eles precisam também de encontrar
modelos que correspondam aos seus altos ideais.
301
Id. «Discorso ai ragazzi e ai giovani riuniti nella Basilica Vaticana» (20 dic. 1978), n. 5 (trad. do it.). Em
DWVE.
302
R. RICUCCI. «La GMJ di Toronto, tra conferme e sorprese». Em GCSM, p.178 (trad. do it.).
303
Testemunho traduzido do italiano. Disponível em http://digilander.libero.it/dentrolagmg/esperienze13.htm
Consultado em: 10 mar.2005.
Referências bibliográficas
3.5. Os jovens e os modelos de vida
Dissemos que a sociedade hodierna infantiliza os jovens porque faz deles
modelos, enquanto eles sentem a urgente, conforme a lúcida postura do teólogo J. B. Libanio,
«necessidade de encontrar modelos»
304
de vida. E, segundo a antropóloga C. A. Sarti, a busca
de referenciais fora da família, como parte integrante do processo de individuação, caracteriza
os jovens
305
. Mas infelizmente no atual contexto de secularização, quando muitos jovens (e
adultos) contemporâneos pensam e vivem como se Deus não existisse ou são atraídos por
formas irracionais de religiosidade, não modelos autênticos, que correspondam aos altos
ideais juvenis. Por exemplo, o modelo paterno, que teve a sua era de esplendor, não fala e
nem convence mais o universo juvenil. Os pais em geral o satisfazem mais às expectativas
e exigências dos filhos, particularmente, nos aspectos morais
306
. Os instrumentos de
comunicação social, os divertimentos e a literatura apresentam modelos de vida nos quais
muito freqüentemente cada um vive por si mesmo; essa desenfreada afirmação de si não deixa
espaço para interessar-se pelos outros
307
.
Daí a urgente necessidade, conforme as palavras de J. B. Libanio, de «repensar
seriamente a questão dos modelos para os jovens de hoje»
308
. Eles precisam de
pessoas/modelos que tenham a estatura das suas exigências humanas, que saibam dar razão da
própria fé. As JMJ, por sua vez, (no momento da Vigília, como visto na primeira parte)
procuram dar voz a rios personagens que ao longo da história e, também, hoje foram
testemunhas daem Jesus Cristo: Maria, os apóstolos, os santos e os mártires da Igreja. Mas
não se trata simplesmente de imitá-las ou de (re)propor o passado aos jovens hodiernos; é
preciso, ao contrário, viver intensamente os interrogativos e as esperanças dos dias
309
.
Veremos duas personagens/modelos retomadas pelas JMJ aos jovens contemporâneos: os
mártires e os santos.
304
J. B. LIBANIO. Jovens em..., op. cit., p. 25; cf. também R. A. ULLMANN. «O jovem e a experiência de
Deus». Em Teocomunicação 3 (1985) 31.33.
305
Cf.C. A. SARTI. «O jovem na família: o outro necessário». Em R. NOVAES e P. VANNUCHI, op.cit., p.
123.
306
Como registro, ainda ontem (22 ago.2005) uma jovem de 22 anos (Nina), da Paróquia de Lourdes, procurou-
me para pedir aconselhamento, porque, no domingo precedente (dia dos pais), deslocou-se de Belo Horizonte ao
interior de Minas Gerais para encontrar e parabenizar o seu pai. Mas, infelizmente, encontrou-o em uma situação
moral indecorosa (adultério), que a levou a agir lastimosamente e instintivamente: jogou álcool e lançou fogo na
pessoa que estava com ele. Esse é apenas um, entre muitos, casos de decepção de jovem com o modelo paterno.
307
Cf. GIOVANI PAOLO II. «Omelia durante la Messa per i giovani irlandesi» (30 set. 1979), n. 3. Em DWVE.
308
J. B. LIBANIO. Jovens em..., op.cit., p. 28.
309
Cf. JOÃO PAULO II. «Homilia na Missa para os Universitários em preparação para o Natal» (15 dez. 1998),
n. 4. Em DWVE.
Referências bibliográficas
Nos últimos 500 anos, a história do mundo sofreu muitas mudanças. Mas o ser
humano, na sua profunda interioridade, manteve os mesmos desejos, ideais, exigências.
Permanecem ainda o significado e o valor do fato religioso e da fé cristã. Diante das sugestões
de certas ideologias contemporâneas, que exaltam e proclamam o ateísmo teórico e prático, as
JMJ proclamam a urgente necessidade dos jovens repetirem, com plena convicção e
consciência, as palavras dos beatos mártires (Antonio Pezzulla e outros): «Nós cremos em
Jesus Cristo, Filho de Deus; e por Jesus Cristo, estamos prontos para morrer!(...) Morreremos
por Jesus Cristo, todos; morreremos com prazer, para não renegar a sua santa fé»
310
. E estar
dispostos a morrer por Cristo, implica a tarefa de aceitar com generosidade e coerência as
exigências da vida cristã; isso significa viver em Cristo. Os mártires deixaram dois
referenciais à estatura das exigências dos jovens hodiernos: o amor pela pátria terrena e a
autenticidade da fé cristã.
O Cristão ama a sua pátria terrena. O amor pela pátria é uma virtude cristã
fundada no exemplo de Cristo. Os seus primeiros discípulos manifestaram sempre uma
sincera «pietas», um profundo respeito e uma límpida lealdade nos confrontos da pátria
terrena, quando eram ultrajados e perseguidos até a morte pelas autoridades civis. Os cristãos
deram no curso de mais de dois milênios, e continuam dando, a sua contribuição de trabalho,
de dedicação, de sacrifício, de preparação, de sangue pelo progresso civil, social, econômico
da sua pátria.
O cristão deve ser sempre coerente com a sua fé. João Paulo II, citando Clemente
Alexandrino, disse que «O martírio consiste em testemunhar Deus. Mas cada alma que
procura com pureza o conhecimento de Deus e obedece aos mandamentos de Deus é mártir,
seja na vida ou nas palavras. Essa, de fato, ainda que não derrame o sangue, derrama a sua
(...) antes de morrer»
311
. A dos jovens, no confronto com os desafios do mundo
contemporâneo, deve ser forte, alegre e operosa.
Na história da humanidade sempre aconteceu que, esquecendo Deus, foram
fabricados e colocados em seu lugar ídolos: «São uns infelizes, põem sua esperança em seres
mortos, estes que chamam deuses a obras de mãos humanas» (Sb 13,10). De fato, se a
juventude de hoje colocar a sua confiança nas forças da natureza, ela será como um vivente
situado na condição de morte. O mundo atual oferece-lhe prospectivas de morte: a droga, a
violência, o terrorismo, a opressão, o consumismo de todos os gêneros. É o contrário de tudo
310
Id. «Discorso ai giovani» (20 sett. 1980), n.1. Em DWVE.
311
Ibid., n.2.
Referências bibliográficas
o que é a vida, o amor, a paz, a alegria, a verdade, o respeito pelo homem e pelas coisas, ou
seja, tudo que deriva da em Deus, e do empenho cristão. Mas são esses valores que o Papa
anuncia aos jovens nas JMJ, e os envia para anunciá-los
312
e vivê-los concretamente no mundo
contemporâneo para serem os «santos do terceiro milênio»
313
.
Os santos são aqueles que, no seu amor a Deus, fizeram resplandecer as suas
virtudes heróicas diante do mundo, tornando-se modelo de vida que a Igreja propôs para a
imitação de todos. Estavam talvez iludidos ou fora do próprio tempo? Os santos eram pessoas,
autênticas, fortes, decididas, coerentes, bem situadas na história; eram pessoas que amavam
intensamente a sua cidade; estavam fortemente ligadas as suas famílias; entre eles, havia
jovens, que desejavam a alegria, a felicidade, o amor; sonhavam um honesto e seguro
trabalho, um santo lar, uma vida serena e tranqüila na comunidade civil e religiosa. E fizeram,
com lucidez e firmeza, a sua escolha por Cristo.
Cristo é o caminho que conduz a verdade e a vida. Todos os seres humanos são
chamados a percorrer esse caminho; nem todos são alunos desse Mestre, que tem palavras de
vida eterna. Os santos percorreram de modo edificante e exemplar o Caminho, e os jovens
atuais devem recordá-los e venerá-los como pedras miliares, como sinais exaltados pelo povo
de Deus. Por exemplo, São Bento foi um «homem verdadeiro» porque buscou e encontrou em
Deus o significado e a esperança da existência na sociedade do momento histórico em que
viveu. Ele, desde a sua juventude, optou corajosamente pelas exigências de Deus diante das
ofertas de uma agitada e prometedora vida terrena
314
.
Os jovens atuais são convidados a dizer sim a Cristo como os Apóstolos e tantos
outras testemunhas do Evangelho, ao longo dos séculos em várias partes do mundo (São
Bento, São Francisco de Assis, Santa Teresa de Ávila, Santo Inácio de Loyola, São Carlos
Borromeu). Luminosas figuras de crentes não faltaram na contemporaneidade (Maximiliano
Kolbe, Edith Stein, Madre Teresa, Padre Pio, Madre Paulina), nos diversos lugares da terra. E
os seus exemplos permanecem como ponto de referência concreta para os jovens hodiernos,
que devem olhar e encontrar em tais modelos inspiração para as suas escolhas concretas de
vida.
312
Cf. Ibid.
313
Id. «Mensagem por ocasião do XVII DMJ... fonte cit., n.3.
314
Cf. Id. «Discorso ai giovani» (20 sett. 1980), n.2. Em DWVE.
Referências bibliográficas
Esta é a formidável reproposta das JMJ, conforme as palavras de João Paulo II,
para a juventude contemporânea: as «figuras eminentes da história, antiga (medieval,
moderna) e/ou contemporânea, de uma nação, também servem de guias para a sua juventude e
favorecem o desenvolvimento daquele amor social, que mais freqüentemente é chamado de
‹amor pátrio›»
315
. Mas tais figuras, refletindo com J. B. Libanio, são (re)propostas com todo
«grau de altura e exigência», sem «nivelação», porque isso tiraria a «força de atração» delas.
As jornadas procuram encontrar a «experiência significativa» do jovem em que o modelo
figurativo «se insere e como ele consegue tocá-la»
316
.
Os jovens são levados a testemunhar Jesus Cristo na sociedade contemporânea.
Para isso, são sustentados pelo eloqüente testemunho exemplar de Maria, dos Apóstolos, dos
santos e rtires, mas percorrendo com coragem a vida de santidade pessoal, de amor e e
nutrindo assiduamente da palavra de Deus, da oração perseverante e da Eucaristia, fontes
inesgotáveis de santidade
317
de vida.
Continuaremos trabalhando os textos do Papa aos jovens, analisando uma
cuidadosa pesquisa com participantes das JMJ, para melhor compreendermos e traçarmos o
perfil religioso da juventude contemporânea.
4. Análise pastoral duma pesquisa com participantes das JMJ
Não vamos expor toda a pesquisa efetuada com jovens italianos, nem avaliar
todos os seus resultados. Temos consciência de que os jovens, participantes das JMJ de
Toronto (2002) e de Roma (2000), não representam a totalidade dos outros jovens
provenientes de 140 países, que também participaram das duas JMJ em questão.
Focalizaremos a atenção nos seus aspectos universais, não nos específicos do contexto
cultural e eclesial dos participantes italianos, para explicitar o que é comum à juventude
contemporânea e apresentar algumas pistas com implicações pastorais em amplo sentido. Será
uma análise um pouco parcial e bem direcionada à pastoral juvenil, visando descrever o perfil
religioso da juventude atual, emergente dos participantes das JMJ.
315
Id. Carta Apostólica aos jovens..., op. cit., p. 46.
316
J. B. LIBANIO. Jovens em..., op.cit., p. 28.
317
Cf. GIOVANI PAOLO II. «Mensagem ai giovani della Sicilia» (18 ott. 2000), nn. 2-4. Em DWVEP.
Referências bibliográficas
4.1. Breve apresentação da pesquisa
A Comissão organizadora decidiu efetuar a pesquisa
318
, com jovens italianos
participantes das JMJ, no grande encontro em Tor Vergata. Ela elaborou duas perguntas
fundamentais: em que medida os numerosos participantes representam o universo juvenil? E
como a experiência vivenciada em Roma incidiu na vida cotidiana dos jovens? O objetivo
principal da pesquisa era individuar vias para melhorar a integração do evento mundial no
caminho ordinário da pastoral juvenil. A extensão das questões aos participantes da JMJ 2002
foi julgada pela Conferência Episcopal Italiana, para dar uma densidade diacrônica aos
resultados relativos a Roma em 2000.
As duas partes do trabalho foram conduzidas de modo diverso. Os jovens de Tor
Vergata foram consultados, quando voltaram para suas casas, e entrevistados segundo uma
modalidade mais articulada: questionário com respostas fechadas; entrevistas semi-
estruturadas; e focus groups (de jovens e representantes)
319
. Tratou-se de um trabalho longo e
exigente, que foi do verão de 2001 ao inverno de 2002. Os jovens de Toronto foram
entrevistados no Canadá, imediatamente depois da conclusão do evento, através de
questionários com respostas fechadas
320
.
4.2. As JMJ como evento «ordinário»
As JMJ não podem ser mais consideradas eventos extraordinários, porque os
dados e as considerações abaixo não são apenas imponentes do ponto de vista midiático, mas
principalmente influenciados pela ação pastoral. O que representam de fato os 20.000 de
Toronto diante dos quase 12 milhões de adolescentes e jovens italianos?
321
E o que é uma
semana de evento diante de mais de cem dias que o separam do sucessivo? Aconteceria, para
essa pesquisa, aquilo que se verifica em questões que se ocupam de aspectos específicos do
mundo juvenil: servem para ter uma idéia de algumas tendências, mas não para determinar
etapas fixas do caminho que a Igreja propõe aos jovens.
Na Itália, verifica-se não a maciça participação em Roma, mas também o
fenômeno de milhares de jovens que se reuniram em diversas localidades para viver à
318
A pesquisa envolveu 600 jovens nas regiões de Piemonte, Lombardia, Lazio e Puglia. Foram efetuadas 40
entrevistas semi-estruturadas e 13 focus groups (5 de jovens e 8 de responsáveis).
319
Cf. R. F. CAMOLETTO & R. RICUCCI. «Appendice metodologica». Em GCSM, pp. 281-316.
320
Foram administrados 1800 questionários, muito semelhantes aos usados com os participantes da JMJ de
Roma (integrados com referimentos da JMJ precedente e com elementos peculiares à experiência canadense).
321
ISTAT, Popolazione e statistiche demografiche. Disponível em www.istat.it. Consultado em 10 de maio de
2005.
Referências bibliográficas
distância a «sua» JMJ virtual. E não menos significativa foi a participação dos que estavam
com o Papa no Downsview Park. E o que dizer, depois, dos outros 8.000 acessos de
internautas à seção «Toronto live» no site www.gmg2002.it? Em resumo, os jovens
mostraram que a JMJ não é um optional, mas um evento fundamental na vida dos jovens
hodiernos.
É exatamente esse o primeiro dado significativo evidenciado pela pesquisa: as
JMJ apresentam necessidades e exigências não marginais ou secundárias, que não se referem
a uma tipologia de jovens «diversos» de seus coetâneos. Os participantes das JMJ são como
os seus coetâneos. Eles formam a «faixa de excelência do mundo católico»
322
, manifestam as
características típicas da cultura juvenil e, ao mesmo tempo, uma realidade não homogênea.
Assim, conhecer a sensibilidade religiosa dos participantes de Roma e Toronto é
uma chave para compreender como está mudando a busca religiosa dos jovens neste início do
terceiro milênio. Esse argumento é importante tanto para planejar uma correta «pastoral das
JMJ», bem como para calibrar as propostas de pastoral juvenil local, no confronto com o
universo juvenil hodierno, a partir do seu perfil religioso em movimento.
4.3. Perfil religioso dos jovens das JMJ
A pesquisa dedica particular atenção à sensibilidade religiosa dos jovens
participantes nas JMJ de Roma e Toronto. O titulo do livro (Uma espiritualidade em
movimento)
323
exprime a característica de fundo da religiosidade juvenil hodierna,
manifestada nos jovens das JMJ. Essa religiosidade aproxima-se do modelo dos aventureiros
e dos peregrinos. O peregrino, conforme a tipologia de D. Hervieu-Léger
324
, está aberto a
experiências novas, vive uma busca religiosa contínua, considera cada experiência uma etapa
no próprio itinerário de fé. A escolha dessa figura é emblemática de uma religiosidade em
movimento, que faz da mobilidade exterior o reflexo da interior. Está à procura de novas
experiências religiosas como ocasiões de enriquecimento da própria vivência da fé. Os jovens
admitem também a fragilidade de sua fé, que interpretam mais como um processo e um
dinamismo do que como uma conquista já realizada
325
.
322
Os jovens italianos que participam das JMJ são principalmente expressão de associações de base, isto é, dos
grupos ligados às Igrejas locais. Cf. GCSM, pp. 255-256.
323
Ibid.
324
D. HERVIEU-LÉGER. Le pélerin et le converti. Paris: Flammarion, 2003.
325
Cf. R. F. CAMOLETTO. «I giovani delle GMG: un arcipelago di ‹stili religiosi›»? Em GCSM, pp. 256-257.
Referências bibliográficas
Nessa sensibilidade, a pesquisa identificou quatro «estilos de religiosidade» dos
participantes das JMJ: «in stand by», «fidelíssimos», «pesquisadores», e «regulares»
326
. Esses
estilos desmentem a idéia de uma substancial homogeneidade dos jovens das JMJ, em favor
de uma visão mais articulada que interpela a pastoral juvenil. Os participantes das JMJ
representam a elite no panorama religioso contemporâneo, mas dentro desse espaço de mundo
relativamente homogêneo, emergem alguns elementos de diferenciação interna. O Papa
mostrou-se consciente e sensível a essa diversidade
327
. Isso fica exemplificado parcialmente
no seu convite aos jovens de todo o mundo para participarem na XX JMJ (Colônia – 2005):
O convite para participar na JMJ é também para vós, queridos amigos, que
não sois batizados ou que não vos reconhecem na Igreja. Não é porventura
verdade que também vós tendes sede de Absoluto e andais em busca de
‹algo› que significado à vossa existência? Dirigi-vos a Cristo eo sereis
desiludidos
328
.
O primeiro perfil religioso juvenil manifesta-se nos jovens «in stand by» (14,
8%)
329
. São jovens que não freqüentam nenhum grupo eclesial e vivem a própria e/ou
pertença eclesial de modo bastante separado e se situam entre os passivos e os críticos.
A falta de inserção, em alguma atividade ou grupo eclesial, constitui o elemento
que diferencia os in stand by dos outros perfis (fidelíssimos, pesquisadores e reguladores) e os
caracteriza como tais. Eles estão em busca de algo que desperte o próprio entusiasmo e lhes
faça decidir por uma participação mais pessoal ou pelo afastamento definitivo. Estão situados
à margem do ambiente eclesial e o freqüentam mais por tradição ou hábito do que por
convicção, sem estar inseridos num percurso pessoal ou comunitário. Manifestam uma
pertença frágil ou «semipertença». Recordam os jovens do muro, que transitam pelos
ambientes paroquiais e oratórios, sem jamais criar raízes. Assumem uma posição oscilante
entre ser espectador e ser desfrutador dos produtos e serviços religiosos. Trata-se de jovens
com uma religiosidade de baixa intensidade, que constitui mais um elemento de fundo que um
componente central da própria vida. A sua participação em eventos como as JMJ é expressão
da fome de experiência típica da sociedade contemporânea mais que uma busca espiritual, o
fruto de um projeto existencial mais que uma opção religiosa.
326
Ibid., pp. 223-252.
327
A diversidade na fase juvenil identificada numa sociedade de classes tende a ser obscurecida pelo retrato que
se constitui associado à identificação de uma fase dourada. Isso acontece freqüentemente, porque a referência
das informações sobre a juventude concentra-se, na maior parte das vezes, nos jovens pertencentes às camadas
privilegiadas, como, no passado, à monarquia e, no presente, à burguesia, em contraponto aos jovens escravos e
filhos de pais pobres. Cf. M. POCHMANN. «Juventude em busca de novos caminhos no Brasil». Em R.
NOVAES & P. VANNUCHI, op. cit. p. 231.
328
JOÃO PAULO II. «Mensagem para a XX JMJ..., fonte cit., n.6.
329
R. F. CAMOLETTO. «I giovani delle GMG: um arcipelago di ‹stili religiosi›?». Em GCSM, pp. 233-238.
Referências bibliográficas
Os in stand by refletem uma religião confinada ao bastidor e reduzida a um rumor,
que não incide fortemente nas escolhas concretas da vida. Estão entre os passivos e os
críticos. Representam uma minoria dentro do conjunto do variado arquipélago juvenil católico
e o mais vasto universo juvenil no qual o primeiro coloca-se. Explicitam melhor que os outros
perfis os traços de pertença à cultura difundida hodiernamente.
O segundo perfil religioso da juventude atual explicita-se nos jovens
«fidelíssimos» (37%)
330
. São jovens que se identificam e se aproximam da religiosidade da
igreja. Participam de um grupo eclesial determinado (paroquial, associativo ou movimento) e
vivem a fé convicta e ativamente.
Os fidelíssimos podem ser considerados a «menina dos olhos» do universo juvenil
católico. Eles se colocam como «discípulos» nos confrontos da igreja e colaboram em
atividades pastorais. Expressam uma «religiosidade de igreja orientada», conforme as
posições do magistério, em suas escolhas de campo sobre questões que para os outros (in
stand by, aventureiros e regulares) são problemáticas e controversas. Praticam assiduamente
os rituais individuais e coletivos e estabelecem uma relação de familiaridade e colaboração
com o clero. Exprimem uma religiosidade sólida, repensada e operosa, feita de crença e de
princípios éticos que levam à prática religiosa e a comportamentos cotidianos coerentes. A
identidade e pertença religiosa é o metro com o qual medem os seus passos e constroem a
existência, mantendo uma visão da vida de «militantes»: séria, comprometida e orientada.
Em poucas palavras, os fidelíssimos são os jovens que representam o «casco
duro» do mundo católico. Eles aderem plenamente ao modelo oficial de religiosidade e vivem
a fé como o fulcro da própria existência.
O terceiro perfil religioso da juventude contemporânea, no contexto das JMJ,
manifesta-se nos jovens «pesquisadores» (15%)
331
. São os participantes de um grupo, no qual
vivem a convicta e ativamente, mas também manifestam uma postura seletiva e
freqüentemente autônoma nos confrontos com os ensinamentos da Igreja.
Os pesquisadores podem ser considerados, conforme a pesquisa, a «consciência
crítica» do universo juvenil católico. Estão «dentro e fora» do ambiente eclesial, manifestam
um elevado sentido de identificação e de pertença, mas sem renunciar a uma orientação
330
Ibid. pp. 238-242.
331
Ibid. pp. 242-246.
Referências bibliográficas
autônoma, seletiva e muitas vezes crítica nos confrontos da própria colocação. Conjugam
compromisso religioso com o reconhecimento da relevância do divertimento. Se, no nível
prático, estão próximos aos fidelíssimos, eles se distinguem deles por maior independência.
Se os fidelíssimos estão «achegados na fé», embora permanecendo em caminho, os
pesquisadores estão buscando equilíbrio na vida interior e na relação com a instituição
eclesiástica. Eles provêm dos extratos mais elevados da estrutura social, tanto por nível de
instrução como de renda. São representados por estudantes, em média maior que os outros
perfis (in stand by, pesquisadores e reguladores). Eles amadureceram provavelmente no
ambiente familiar e, depois, no percurso escolástico, conquistaram maior capacidade reflexiva
e crítica.
O quarto perfil religioso juvenil é composto pelos jovens «regulares» (32,8%)
332
.
São aqueles que geralmente freqüentam um grupo paroquial ou eclesial, mas conservam uma
postura religiosa «reservada», destacada ou passiva, com envolvimento reduzido e mínimo
investimento pessoal, intermitente, exercido provavelmente em termos mais amigáveis e
agregativos do que propriamente religioso.
O perfil religioso dos regulares é menos definido. Eles oscilam entre os dois
pólos, o dos fidelíssimos (mais identificados) e o dos in stand by (situados a margem) a
respeito do modelo oficial de religiosidade. Trata-se de jovens que freqüentam os ambientes
religiosos (paróquia, associações ou movimentos), mas vivem essa pertença mais como um
lugar de referência social do que de fé. São jovens atraídos pelo percurso de dos amigos,
mas não assumem uma posição clara nem se distinguem dos seus coetâneos, que manifestam
uma identificação religiosa mais frágil e intermitente.
Os regulares «estão dentro das normas». Vivem a própria pertença eclesial e de
grupo como uma abertura sem jamais questionar os seus pressupostos, mas fazendo de tal
pertença uma rotina. Procedem com lentidão, sem investir muita energia no caminho que
estão inseridos. São os jovens católicos que freqüentam os lugares de referência e respeitam
parcialmente os ensinamentos do magistério, mas ainda não fizeram uma escolha de campo
precisa. Eles afluíram numerosamente para as JMJ, principalmente porque buscam uma forte
experiência de fé. Representam o verdadeiro desafio para a igreja. E necessitam de
acompanhamento pastoral no itinerário de maturação na fé, para não naufragar na pluralidade
de propostas religiosas presentes no mercado sagrado hodierno.
332
Ibid. pp. 246-250.
Referências bibliográficas
4.4. Uma «pastoral ordinária» das JMJ
Desde suas origens, as JMJ procuraram estabelecer uma relação com a «pastoral
ordinária»
333
. Elas nasceram, como apresentamos na primeira parte, da intuição de João Paulo
II para revitalizar a relação da Igreja com o universo juvenil nos tempos e nos espaços do
cotidiano
334
. Essa finalidade originária das JMJ, no decorrer de seus vinte anos de história, foi
modificada e «aperfeiçoada», de modo que hoje percebemos três aspectos pastorais relevantes
para a pastoral juvenil ordinária. São eles respectivamente: a tensão missionária nos
confrontos dos Países hospitaleiros, que contam com o evento para revitalizar a própria
pastoral juvenil; a atenção para acolher, nos riquíssimos temas teológicos propostos, os
desafios da atualidade e inserir na pastoral ordinária intuições e conteúdos novos; e a proposta
de mobilidade lingüística (válida para além do evento) para comunicar eficazmente com a
juventude contemporânea.
As JMJ são limitadas, o que não impede de colocá-las no contexto de pastoral
juvenil local. Para isso, elas devem ser consideradas com a mesma mentalidade de projeto das
experiências educativas. Conforme a pesquisa, é preciso preparar e motivar os participantes
com um projeto para o antes e o pós-JMJ. Ela sublinhou também que eles sabem apreciar as
dimensões centrais do evento (espiritual e formativa) e que alguns têm dificuldade em vivê-
las bem. Por isso, é fundamental propor uma fluidez inteligente e direcionada (baseada num
projeto) das oportunidades oferecidas pelas JMJ. Finalmente, a pesquisa ressaltou que quase
metade dos participantes manifesta uma relação frágil e significativa com a e com a Igreja.
Daí a importância de estimular os jovens a uma participação conscientemente missionária,
mediante a predisposição de oportunas iniciativas locais, para que cada jovem sinta-se
chamado por sua fé. De outro modo, não seria possível explicitar as conseqüências relevantes
das JMJ para a pastoral ordinária.
4.5. Uma pastoral juvenil à altura das JMJ
As JMJ constituem uma experiência de pastoral juvenil muito positiva. A pesquisa
evidencia que os jovens das JMJ constituem a faixa de excelência do universo católico e que
emergem alguns elementos de diferenciação interna. Tais elementos mostram que a eficácia
do evento não pode ser atribuída à natureza elitizada de seus participantes. Desse modo, as
JMJ interpelam fortemente a «pastoral ordinária».
333
Uso a expressão com um pouco de reserva, por certo sentido redutivo e instrumental que geralmente lhe é
atribuído, voltado a identificar «extraordinário» como excedente ou supérfluo, inútil ou danoso.
334
Cf. GIOVANNI PAOLO II. «Carta ao Cardeal Pironio..., fonte cit., n. 3.
Referências bibliográficas
Segundo alguns entrevistados, dado que não é possível reproduzi-la em âmbito
local
335
, as JMJ suscitam entusiasmos e energias que podem desaparecer no cotidiano da vida
e da Igreja. Junto a tantos jovens que em Toronto e em Roma cresceram na fé, estão os que
viveram essas JMJ como uma bela ocasião, mas com êxitos efêmeros e as conseqüentes
frustrações dos responsáveis (diocesanos ou paroquiais). Alguns participantes esperavam um
salto qualitativo na pastoral juvenil, sobretudo na pós-JMJ romana, mas colheram apenas
cansaço e desânimo. A questão é séria, não pode ser solucionada nem com adesões acríticas
ou tentativas de imitação, nem com a rejeição total do evento. É necessário explicitar as
dinâmicas positivas das JMJ e revertê-las no cotidiano.
Desse ponto de vista, a pesquisa ajuda a individuar as «reações» positivas que as
JMJ produzem nos jovens. Diante da postura crítica e seletiva nos confrontos de pertença
cristã, o vivido na JMJ conduz a um juízo crítico. Diante do caminho pobre de «memória
religiosa», as jornadas tornam-se pedras miliares. Diante do isolamento e marginalidade
ligada à vida cotidiana, a jornada consente partilhar experiências de e vida. Diante da
tentação de uma espiritualidade intimista, a jornada (re)propõe a centralidade da Palavra e a
formação na fé. Diante do risco de uma missão frágil, no contexto de pluralismo, a jornada
desperta a exigência da missão, ad intra e ad extra do âmbito eclesial.
As JMJ, sem negar as dimensões da sensibilidade religiosa juvenil, formulam
preciosos estímulos e corretivos para realizar uma satisfatória integração entre e vida.
Nesse ponto, coloca-se o problema de como a «pastoral juvenil ordinária» pode absorver a
positividade das JMJ. Muitas interências poderiam ser ditas a esse propósito. Mas basta, por
ora, sugerir três pistas pastorais concretas.
A primeira pista pastoral consiste em envolver toda a comunidade cristã. A JMJ
canadense catalisou, talvez mais do que a romana
336
, em torno dos jovens a atenção da Igreja
de providência, das comunidades locais do País hospitaleiro, de paróquia, famílias,
associações e instituições em Toronto. Os jovens entrevistados têm sentido fortemente o
envolvimento paroquial, a atenção do Papa e a proximidade das outras figuras da Igreja.
335
A Igreja de Belo Horizonte, por exemplo, tentou realizar o evento-JMJ em âmbito local. Mas fora quase uma
repetição da XX JMJ de Colônia, sobretudo, no que se refere ao programa. Aqui reside a falha primordial,
porque as JMJ são, como estudamos na primeira parte deste trabalho, um estímulo para a pastoral juvenil
evangelizar o universo juvenil, mas não um modelo pronto e acabado a ser repetido integralmente na Igreja local.
É preciso ver o que de positivo nas JMJ e adaptar à realidade local. Cf. www.arquidiocesebh.org.br e
www.bhnajornada.com.br
336
Cf. R. RICUCCI. «La GMG di Toronto». Em GCSM, p. 186.
Referências bibliográficas
Fizeram a experiência de ser aquela prioridade pastoral, que muitas vezes permanece como
enunciados dos princípios, mas não de ação pastoral concreta.
Essa amplitude de investimentos, que exprime uma consideração muito positiva
do mundo juvenil, é o primeiro estímulo a ser absorvido em vista da continuidade. Quando a
pastoral juvenil for prioridade real da comunidade cristã, quando os adultos (família, padres,
bispos e outros) estiverem comprometidos com os jovens e depositarem confiança neles, eles
responderão com entusiasmo. Trata-se de concretizar essa sintonia em cada diocese e
paróquia, superando a mentalidade superficial de delegado, para fazer às novas gerações
protagonistas. Freqüentemente a redução no estímulo e os abandonos, ao retornar das JMJ,
originam-se do ambiente de proveniência.
Uma segunda pista pastoral, complementar à primeira, refere-se à multiplicidade
de linguagens adotadas pelas JMJ para se comunicar com os jovens participantes. Toronto
prosseguiu no desenvolvimento dessa «multimidialidade»: se imaginarmos, por exemplo, a
Via Sacra televisiva, a relevância da Internet e da televisão e, também, a proposta de diversas
formas de encontros interpessoais. A riqueza de formas comunicativas adapta-se à variedade
dos participantes, possibilitando o encontro pessoal de cada jovem, no próprio nível, com a
proposta cristã. Nas JMJ, ninguém se sente excluído
337
.
Na atual sociedade midiática, a pastoral juvenil precisa aprender das JMJ a
dinâmica da comunicação «em diversos canais e mediante várias linguagens» para cumprir a
sua missão: evangelizar o universo juvenil. É preciso adquirir «competências comunicativas»
e colocá-las no centro de um «projeto pastoral unitário», que englobe «percursos, estilos e
modalidades de linguagens diversificadas»
338
.
A última pista pastoral, oferecida por D. P. Giulietti
339
, implica apresentar aos
jovens «um cristianismo de grandes horizontes e de alta estatura». A JMJ de Toronto
(2002), cidade mais pluritécnica do globo terrestre, reuniu jovens de 180 Países, num
momento crítico da história da humanidade e no período pós-jubilar. Ela foi desafiada a
promover a vida de santidade, espiritualidade e formação dos jovens
340
. Por isso, o Papa
337
Sobre o estilo comunicativo da JMJ de Toronto: cf. ibid., p. 180.
338
Cf. D. P. GIULIETTI. «GMG: da Toronto a Colonia – Roma 10-13 aprile 2003». Em DWPCL.
339
Ibid.
340
«Os jovens de Toronto, em síntese, confirmaram a validade do evento JMJ, mas Toronto parecia ter dado uma
interpretação mais pessoal e mais reflexiva, sublinhando majoritariamente a dimensão espiritual em relação
àquele encontro humano (...)» (trad. do it.). R. RICUCCI, op.cit., p. 170; cf. também pp. 189-190.
Referências bibliográficas
chamou os jovens para «ser santos» e os «construtores duma nova humanidade»
341
no terceiro
milênio.
Tais propostas exigentes vão ao encontro das expectativas dos jovens atuais,
porque o universo juvenil hodierno está repleto de «projetos de baixa estatura», frutos da crise
das ideologias. Mas também o risco de firmar-se em enunciados de princípio ou de
exaltações momentâneas, se não forem indicadas ações concretas. D a necessidade de
pensar em âmbito mundial (com a mentalidade dinâmica das JMJ) e agir em âmbito diocesano
(com a pastoral juvenil revitalizada), isso é relevante para o itinerário de santidade e
«temáticas sociais, culturais e econômicas»
342
.
Não resta dúvida de que a JMJ de Toronto ofereceu algumas intuições e estímulos
positivos para as relações interpessoais
343
, mas o caminho para evangelizar fecundamente os
jovens hodiernos é a pastoral juvenil ordinária. Para isso, ela precisa dar continuidade ao
evento mundial, levando os jovens à assimilação e vivência concreta dos estímulos das JMJ
344
para «surgir a geração de novos construtores»
345
na sociedade contemporânea. Desse modo, a
relação entre igreja central e igrejas locais pode ser uma chave de leitura das JMJ
346
.
5. Conclusão
Jovem é aquele que possui uma incessante novidade de espírito e busca o bem,
que é cumprir a vocação de adultos plenamente maduros em Cristo. A juventude é a fase em
que cada jovem necessita ser si mesmo e tomar distância da educação recebida e das pressões
sociais. Ser jovem constitui de per si uma riqueza singular, que consiste, entre outros, no
fato de que nessa idade ele descobre a si mesmo, a própria personalidade, o sentido da própria
existência e da história. Mas, entre elas, não pode faltar a principal para cada ser humano: a
descoberta pessoal de Jesus Cristo. Os jovens são seres em busca de Jesus Cristo. A juventude
é a fase propícia para encontrá-Lo, porque Ele é a resposta adequada e última à busca
espiritual e à pergunta suprema acerca do sentido da vida e da história. O encontro manifesta-
341
JOÃO PAULO II. «Mensagem por ocasião da XV JMJ, 2000» (29 jun. 1999), n. 3. Em DWVEP.
342
Cf. D. P. GIULIETTI, fonte cit.
343
«O impacto com o Canadá não se limitou a uma viagem turística (...), mas articulou muitas observações e
descobertas de um ambiente caracterizado por sua particularidade social e cultural. (...) Não surgiu jovem em
busca somente de emoções e de novas experiências, mas desejoso de encontros vitais e de enriquecimento
humano» (trad. do it.). Cf. R. RICUCCI, op.cit., p. 176.
344
Cf. R. F. CAMOLETTO. «La GMG e la pastorale giovanile ordinaria». Em GCSM, p. 139.
345
D. P. GIULIETTI, fonte cit.
346
Cf. R. F. CAMOLETTO. «La GMG e la pastorale..., op.cit., p. 156.
Referências bibliográficas
se no amor fraterno, que transforma a existência da pessoa e as próprias estruturas da
sociedade contemporânea. Trata-se de uma experiência a ser feita, que gera uma companhia.
Assim o método é um encontro existencial concreto com Cristo. Mas a geração
precedente não transmitiu à juventude contemporânea a mensagem salvífica de Cristo
transmitida pela Igreja. São, portanto, jovens sem raízes religiosas, por isso, facilmente
confundem o religioso com paranormalidade. Além do mais, estão diante das interpelações
das novas influências ideológicas. Mas João Paulo II indica-lhes o caminho a ser percorrido,
como cristão em torno do amor de Deus, como procura do bem e da vida para si mesmo e
para os outros. Os jovens ficam sensibilizados com essa linguagem e com o Papa. A sua
mensagem é a de Cristo, transmitida pela Igreja. Quando os jovens percebem as suas palavras
autênticas, que correspondem aos seus anseios, sentem-se respeitados e valorizados. João
Paulo II confia na geração atual e lhe transmite confiança na vida. Nessa relação, o Papa
representa a juventude de Cristo e da Igreja, e os jovens são expressão da juventude da vida e
da humanidade. Há, portanto, entre o Papa e os jovens uma correspondência dialógica,
espontânea e ativa, uma fascinação mútua, uma afinidade de espírito.
A sociedade contemporânea infantiliza os jovens, faz deles modelos. Mas eles
precisam de pessoas/modelos que tenham a estatura das suas exigências humanas e saibam
dar razão da própria fé. Das JMJ, eles são enviados ao mundo atual para testemunhar Jesus
Cristo, sustentados pelo eloqüente testemunho exemplar de Maria, dos Apóstolos, dos santos
e mártires. Assim, percorrem com coragem a vida de santidade pessoal, de amor e fé, mas
sempre nutrindo assiduamente da palavra de Deus, da oração perseverante e da Eucaristia,
fontes inesgotáveis de santidade de vida.
O perfil psicológico da juventude contemporânea resulta da educação centrada no
afetivo, nos prazeres imediatos e na ruptura entre os pais por causa do divórcio e outros. As
representações sociais estão na origem da insegurança afetiva e da dúvida sobre si diante do
outro e do sentido da tarefa e do compromisso. Na sociedade vigente, o indivíduo vive como
vítima da vida e dos outros, com a mentalidade de consumo, num ritmo concebido em função
do instante e com uma representação da vida midiática e virtual, é urgente descobrir o sentido
da realidade. Os jovens de hoje manifestam diversas fragilidades, mesmo permanecendo
abertos, disponíveis e generosos. O contexto social também não lhes ajuda a desenvolver uma
verdadeira e própria dimensão espiritual, mesmo assim eles querem empenhar-se em grandes
e nobres causas. Por isso, é necessário promover uma educação mais realista, que não fecha a
Referências bibliográficas
pessoa jovem nos objetivos mentais e no narcisismo da adolescência. Os jovens hodiernos
serão estimulados a tornarem-se verdadeiros adultos. A experiência espiritual cristã implica
tal dimensão e constitui a riqueza, que perpassa e se mostra nas diversas tradições ao longo
dos séculos.
Mas os jovens das JMJ estão fazendo uma revolução religiosa silenciosa e
decidida. Eles suscitam interrogações entre os cristãos por viverem a própria com
emancipação e liberação em Deus, isso deveria inspirar as velhas comunidades cristãs. Cada
JMJ é uma etapa histórica importante para os jovens participantes, a sociedade civil e a
comunidade eclesial. A Igreja deve, portanto, assegurar um seguimento pós-JMJ e assumir
uma catequese mais ativa e renovada. A inteligência da necessita ser nutrida. A ação
pastoral paroquial deve cuidar da sensibilização das famílias sobre a importância da educação
religiosa. As famílias, por sua vez, questionam a sociedade, que quase cancelou a dimensão
religiosa da vida por vontade política. A laicidade é a distinção entre poder político e
religioso, não a exclusão da religião do campo social. A sociedade não pode relegar a função
religiosa na repartição do privado, porque a fé implica ação social. O fato religioso, como fato
social, não pode ser reduzido à esfera do privado; ele constitui fonte de ligações sociais e
permanece escrito nos tempos do calendário. A essa dimensão privatizante da vida religiosa
os jovens das JMJ, com os seus comportamentos, deram não em massa.
Finalmente, a pesquisa dedicou particular atenção à sensibilidade religiosa dos
jovens participantes nas JMJ de Roma e Toronto. Nessa sensibilidade, manifesta os perfis
religiosos da juventude contemporânea: in stand by, fidelíssimos, pesquisadores e os
regulares. Esses estilos de religiosidade desmentem a idéia de uma substancial
homogeneidade dos participantes, em favor de uma visão mais articulada que interpela
seriamente a pastoral juvenil. A pesquisa mostrou-nos também que as JMJ constituem
instrumento pastoral muito incisivo. Elas souberam colher e interpretar as mudanças no
universo jovem em movimento, estimulando a pastoral juvenil com importantes diretrizes
pastorais: envolver toda a comunidade cristã, usar linguagem múltipla e apresentar um
cristianismo de grandes horizontes e alta estatura aos jovens, destinatários da mensagem do
Papa.
Referências bibliográficas
SUMMARY............................................................................................................................ 149
SIGLAS.................................................................................................................................. 151
INTRODUÇÃO......................................................................................................................152
PRIMEIRA PARTE...............................................................................................................157
AS JORNADAS MUNDIAIS DA JUVENTUDE.................................................................157
1. O que são as JMJ?......................................................................................................................157
1.1. Uma forte experiência festiva de fé...................................................................................................... 157
1.2. Um grande momento de comunhão eclesial.........................................................................................158
1.3. Um estímulo à vida cristã e à evangelização........................................................................................ 159
1.4. Fases essenciais do programa das JMJ................................................................................................. 161
1.5. Finalidades fundamentais das JMJ....................................................................................................... 163
2. Caminho histórico-teológico das vinte JMJ.............................................................................165
2.1. Gênese e instituição das JMJ................................................................................................................ 165
2.2. Da I à V JMJ (1986-1990)....................................................................................................................167
2.3. Da VI à X JMJ (1991-1996)................................................................................................................. 170
2.4. Da XI à XV JMJ (1996-2000).............................................................................................................. 173
2.5. Da XVI à XX JMJ (2001-2005)........................................................................................................... 176
3. A peregrinação da Cruz (1984-2005)........................................................................................180
3.1. De Roma a Santiago (1984-1989)........................................................................................................ 181
3.2. De Roma a Manila (1990-1995)...........................................................................................................183
3.3. De Manila a Roma (1996-2000)...........................................................................................................184
3.4. De Roma a Colônia (2001-2005)..........................................................................................................186
4. Conclusão.................................................................................................................................... 188
........................................................................................................................................................190
__________ 8...................................................................................................................................194
O PERFIL DA JUVENTUDE CONTEMPORÂNEA......................................................... 196
1. O universo da juventude hodierna............................................................................................197
1.1. O que significa ser jovem?................................................................................................................... 197
1.2. Quem são os jovens hodiernos?............................................................................................................197
1.3. Análise de uma descrição da situação dos jovens................................................................................ 198
1.4. A sociedade favorece a dependência psicológica dos jovens...............................................................200
1.5. «Confusão entre religioso e paranormalidade».................................................................................... 201
Referências bibliográficas
2. Os jovens são seres em busca.....................................................................................................202
2.1. Os jovens são como as gerações precedentes....................................................................................... 202
2.2. Buscam vida espiritual autêntica ......................................................................................................... 204
1.3. Buscam o sentido pleno da vida........................................................................................................... 206
2.4. Buscam o encontro com Jesus Cristo................................................................................................... 207
2.5. Buscam o amor: decisão mais importante............................................................................................ 209
3. Os jovens são seres em relação..................................................................................................210
3.1. A pessoa renasce de um encontro.........................................................................................................210
3.2. Os jovens sem formação religiosa........................................................................................................ 212
3.3. «Os jovens e as novas influências ideológicas»................................................................................... 213
3.4. Os jovens e João Paulo II: mútua fascinação, afinidade de espírito.....................................................217
3.5. Os jovens e os modelos de vida............................................................................................................219
4. Análise pastoral duma pesquisa com participantes das JMJ.................................................222
4.1. Breve apresentação da pesquisa............................................................................................................223
4.2. As JMJ como evento «ordinário».........................................................................................................223
4.3. Perfil religioso dos jovens das JMJ...................................................................................................... 224
4.4. Uma «pastoral ordinária» das JMJ....................................................................................................... 228
4.5. Uma pastoral juvenil à altura das JMJ..................................................................................................228
5. Conclusão.................................................................................................................................... 231
TERCEIRA PARTE.............................................................................................................. 237
A MENSAGEM DO PAPA À JUVENTUDE CONTEMPORÂNEA .................................237
1. Pressupostos teológicos fundamentais...................................................................................... 237
1.1. Objetivo da mensagem e itinerário teológico-pastoral......................................................................... 237
1.2. Pressuposto Antropológico: primazia da dignidade da pessoa humana............................................... 239
1.3. Pressuposto Antropocristológico: o ser humano à luz do mistério de Cristo....................................... 241
1.4. Pressuposto Cristológico: da encarnação do Verbo à missão da Igreja................................................244
1.5. Pressuposto Eclesiológico: Igreja de Cristo, mistério de missão e comunhão de amor.......................248
1.6. Pressuposto Mariológico: Maria, Mãe de Deus, modelo máximo que conduz os jovens a Cristo.......251
2. Construir a paz no século XXI.................................................................................................. 253
2.1. A natureza e o ideal juvenil de paz diante dos desafios atuais............................................................. 253
2.2. Dimensões práticas da paz....................................................................................................................256
2.3. A missão jovem de paz e os quatro pilares da paz............................................................................... 258
2.4. A unidade dos cristãos como empenho ecumênico.............................................................................. 262
3. Construir a civilização do amor: encarnação histórica do Reino..........................................265
3.1. A cultura efêmera de morte.................................................................................................................. 265
3.2. Descrição da natureza da Civilização do Amor....................................................................................268
3.3. Princípios da Civilização do Amor.......................................................................................................269
3.4. Responsabilidade dos jovens hodiernos............................................................................................... 275
3.5. Reafirmar os grandes valores, negar os antivalores..............................................................................278
4. Conclusão.................................................................................................................................... 281
Primeira diretriz pastoral: uma vida profundamente radicada em Cristo....................................................289
Segunda diretriz pastoral: uma vida estruturada por sólida formação.........................................................291
Terceira diretriz pastoral: formação permanente dos agentes de pastoral juvenil.......................................293
Quarta diretriz pastoral: uma vida animada de amor a Igreja......................................................................295
Quinta diretriz pastoral: uma vida empenhada no mundo e orientada à missão......................................... 296
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................298
1. Documentos fundamentais das JMJ (1965-1996):...................................................................298
2. Discursos pontifícios (1978-2004):............................................................................................ 298
3. Homilias pontifícias (1979-2005):..............................................................................................300
4. Mensagens pontifícias (1980-2004):.......................................................................................... 301
5. Outros textos pontifícios (1979-2003)....................................................................................... 303
Referências bibliográficas
6. Referência bibliográfica extra-pontifícia................................................................................. 303
7. As JMJ em rede.......................................................................................................................... 305
Referências bibliográficas
TERCEIRA PARTE
A MENSAGEM DO PAPA À JUVENTUDE CONTEMPORÂNEA
O amor (...) é a afirmação da pessoa, a afirmação do homem na sua
humanidade. Os jovens têm necessidade de tal afirmação (...). E sobre
isso se baseia (...) a aliança com eles.
(João Paulo II)
Em Cristo não existem pessoas inferiores ou superiores; não existem
senão membros de um mesmo corpo, que querem a felicidade uns dos
outros e que desejam construir um mundo acolhedor para todos.
(Id.)
A Igreja toda só será jovem, quando os jovens todos forem Igreja.
(Pablo Lima)
Nesta terceira parte, após termos exposto diligentemente o itinerário histórico-
teológico das JMJ e traçado o perfil dos jovens, explicitaremos a mensagem do Papa
destinada à juventude. Partiremos dos três pressupostos teológicos fundamentais dos textos
pontifícios (mensagens, discursos e homilias) por ocasião das JMJ. Não se trata de expor-lhe
toda a teologia, mas apresentar sumariamente os pressupostos como fundamento da
mensagem do Pontífice aos jovens acerca da paz e da civilização do amor, epicentro dos
textos do Papa, para finalizarmos com diretrizes pastorais à luz das JMJ.
1. Pressupostos teológicos fundamentais
1.1. Objetivo da mensagem e itinerário teológico-pastoral
Do ponto de vista histórico, desde a eleição à Cátedra de Pedro (16 out. 1978), o
Papa traçou o seu itinerário teológico-pastoral apontando explicitamente os três
pressupostos fundamentais de seus textos aos jovens. Isso fica evidente na mensagem de
acolhida aos jovens na Basílica São Pedro (15 ago. 2000-XV JMJ), quando ele, citando a
primeira encíclica
347
, recordou a própria resposta à pergunta se aceitava ser Papa: «Com
obediência na de Cristo, meu senhor, e com confiança na Mãe de Cristo e na Igreja,
apesar de grandes dificuldades, aceito»
348
.
347
JOÃO PAULO II. Carta Enc. Redemptoris Hominis. São Paulo: Loyola, 1979, n. 6.
348
Id. «Discorso durante la cerimonia di accoglienza in San Pietro» (15 ago. 2000), n. 4 (trad. do it.). Em
DWVE. O mesmo texto é citado por J. L. Jr. Allen. Conclave: a política, as personalidades e processo da
próxima eleição papal. Rio de Janeiro: Record, 2003, p. 138.
Referências bibliográficas
O Papa afirma, no mesmo discurso, que procurou desenvolver a tarefa de cada dia
com a luz e a força da que o ligava a Cristo, para testemunhá-lo em todo ângulo da terra e
que o seu «Credo continua no (...) serviço à Igreja»
349
. Depois, no discurso de acolhida aos
jovens, em São João de Latrão, ele disse: «Abramos estas jornadas sob o olhar de Maria
Santíssima (...), jovem Virgem de Nazaré vos ajude a dizer sim ao Senhor que bate na vossa
porta e deseja entrar e tomar demora em vós»
350
.
Embora o Papa apresente implicitamente e explicitamente outras temáticas, a
mensagem dos textos aos jovens gira, principalmente, em torno de três pressupostos
teológico-pastorais fundamentais: o cristológico, o eclesiológico e o mariológico. E, em todos
eles, o fulcro central é o pressuposto cristológico. Em poucas palavras: Cristo é o ponto
fulcral dos textos, da e das atividades teológico-pastorais do Papa na Igreja com Maria e
os jovens. E o ser humano, como veremos infra, tem primazia diante de todas as instâncias
sociais e só se compreende à luz do mistério de Cristo encarnado, que revela o amor do Pai.
Portanto, estudaremos sumariamente os três pressupostos teológico-pastorais
dados a partir da perspectiva antropológica, mas dando relevo ao pressuposto cristológico,
porque a mensagem do Papa é marcadamente cristocêntrica. Mas qual é a finalidade da
mensagem e das viagens apostólicas do Papa?
A mensagem do Papa aos jovens tem por finalidade constituir-se como programa
diretivo de opção de vida. Ele mesmo mostra explicitamente esse objetivo fundamental da
mensagem aos jovens: «Nesta jornada, assim singular, desejo deixar-vos uma mensagem, que
possa servir para vós e para todos aqueles que se fascinam com a vida, como programa e
como diretiva para as vossas escolhas»
351
. Por isso, as viagens apostólicas não são apenas
atos diplomáticos de um Chefe de Estado, mas uma feliz oportunidade para evangelizar,
anunciar, testemunhar e confirmar os jovens irmãos na em Cristo mediante o contato
pessoal:
Estou feliz por (...) encontrar os jovens cristãos cada vez que os meus
empenhos o permitem, por ser testemunha da sua vitalidade humana e
religiosa, e para encorajar a sua . Jesus disse a Pedro: «Confirma os seus
irmãos». É isto que eu faço esta manhã (...). A evangelização permanece
uma parte importante do... (meu) ministério
352
. Caros amigos, no meu
ministério não me canso jamais de encontrar as pessoas, esta é a finalidade
349
Ibid.
350
JOÃO PAULO II. «Discorso durante la cerimonia di accoglienza in San Giovanni in Laterano» (15 ago.
2000), n. 5. Em DWVE.
351
Id. «Discorso ai giovani, Velletri (Roma)» (7 sett. 1980) (trad. do it. e grifo nosso). Em DWVE.
352
Id. «Discorso dall`Arcidiocesi di Rouen» (14 apr. 1980) (trad. do it.). Em DWVE.
Referências bibliográficas
das peregrinações e das visitas pastorais que tenho realizado. E também
agora que os anos passam, se Deus quiser, não pretendo firmar-me, porque
estou certo de que no contato pessoal com os irmãos se pode mais facilmente
anunciar Cristo
353
.
Compreendido sinteticamente o itinerário teológico-pastoral do Papa, a finalidade
da mensagem aos jovens e das viagens apostólicas, estudaremos o pressuposto antropológico
como primazia da dignidade da pessoa humana sobre todas as estruturas.
1.2. Pressuposto Antropológico: primazia da dignidade da pessoa
humana
João Paulo II é Papa da dignidade da pessoa humana. Ele mostra essa opção
preferencial nos textos destinados aos jovens em diversas ocasiões. A referência fundamental
e o valor da pessoa ficam evidentes no exemplar testemunho aos jovens: «Vós sabeis bem é
freqüente da minha parte esta referência à pessoa, porque se trata verdadeiramente de um
dado fundamental, do qual não se poderá jamais prescindir»
354
.
Tratar da dignidade da pessoa humana, na ótica do Papa, não consiste em fazer
discurso humanista autônomo ou circunscrito na realidade terrestre, porque ela tem «imenso
valor», que não provém de si mesma, mas de Deus, que a criou «a sua imagem e semelhança»
(Gn 1, 26.27). Nessa ótica teoantropológica, ele faz articulação muito estreita, no discurso aos
jovens universitários, entre a dignidade e os direitos invioláveis do ser humano, porque são
fundamentalmente direitos de Deus: «O homem é criatura de Deus e, por isso, os direitos
humanos têm a sua origem nele, baseiam-se no desígnio da criação e entram no plano da
Redenção. Pode dizer-se, com uma expressão audaz, que os direitos humanos são também
direitos de Deus»
355
.
A «tutela e promoção (da pessoa) pertencem ao núcleo central da missão da
Igreja», afirma o Papa
356
. A Igreja condena todo e qualquer abuso contra a pessoa, porque é
pecado contra o Criador, e promove o seu autêntico desenvolvimento, pois tem consciência de
que o respeito a ela constitui o verdadeiro caminho para construir um mundo melhor, humano
e fraterno. E, também, recorda a missão essencial dos seus filhos: lutar pelo reconhecimento
da dignidade dos filhos de Deus. Assim a Igreja promove a defesa dos direitos humanos e
colabora com o crescimento do Reino de Deus no seio da humanidade. São algumas deduções
353
Id. «Discorso ai giovani della diocesi di Roma» (5 apr. 2001), n. 2 (trad. do it.). Em DWVE.
354
Id. «Discorso ai giovani, 1980» (Torino, 13 apr. 1980), nn. 2-3 (trad. do it.). Em DWVE.
355
Id. «Discurso aos jovens universitários no 31º. Congresso Internacional UNIV-98» (7 abr. 1998) n. 3 (trad. do
it.). Em DWVE.
356
Ibid.
Referências bibliográficas
lógicas das afirmações centrais do Papa na meditação com os jovens, na qual os convida a
rezar pelos coetâneos que não têm a possibilidade de viver dignamente por diversas causas:
Quando homens sofrem, quando são humilhados pela miséria e pela
injustiça, quando são desprezados nos seus direitos (...) a Igreja convida
todos os seus filhos a empenharem-se a fim de que toda pessoa possa viver e
ser reconhecida na sua dignidade primordial de filhos de Deus (...). Desse
modo, (....) contribuímos para o crescimento do Reino de Deus no mundo e
para o progresso da humanidade. Para recordar essa essencial missão dos
cristãos para com todo homem, particularmente com os mais pobres, quis
rezar no Mastro, junto ao sacrário dos direitos do homem, desde o início das
JMJ. Juntos, rezamos hoje de modo especial pelos jovens que não têm nem a
possibilidade nem os meios para viver dignamente e receber a educação
necessária ao seu crescimento humano e espiritual por causa da miséria, da
guerra ou da doença. Estamos certos do efeito e do amparo da Igreja
357
.
Os direitos da pessoa humana são o elemento-chave de toda a ordem social.
Refletem as exigências objetivas e invioláveis de uma lei moral universal, que tem o seu
fundamento em Deus. O Papa considera tais direitos como «fundamento e a medida de toda a
organização humana e com base neles construir-se-á uma sociedade digna da pessoa
humana, arraigada com solidez na verdade, articulada segundo as exigências da justiça e
vivificada pelo amor»
358
. Ele também a conversão, a partilha e a solidariedade como
basilares para efetivar o respeito aos direitos humanos:
Para realizar plenamente tudo isto [ser autênticas testemunhas de Jesus e
corajosos agentes de renovação social], é preciso agir em duas vertentes ao
mesmo tempo: converter-se, isto é, cancelar da própria vida o mal,
melhorando a si mesmo pouco a pouco, e compartilhar com os outros os
frutos da graça divina, mediante obras de solidariedade concreta. Estão aqui
os pressupostos para alcançar o efetivo respeito pelos direitos de cada
um
359
.
O reconhecimento efetivo da dignidade humana exige respeito, defesa e a
promoção. Trata-se de direitos naturais, universais e invioláveis, que emanam do próprio
Deus. Esse compromisso efetivo da Igreja e dos jovens com os direitos do ser humano remete
a duas afirmações substanciais do magistério eclesiástico de João Paulo II sobre a prioridade
da dignidade da pessoa humana. A primeira diz que a Igreja serve a Deus percorrendo o
caminho do homem, e a segunda mostra que pessoa tem primazia sobre todas as estruturas
sociais:
O homem é o primeiro caminho que a Igreja deve percorrer no cumprimento
da sua missão. A Igreja deve servir o homem se quiser servir a Deus. Este é
um elemento decisivo da sua fidelidade a Ele
360
. A Igreja não deixa de
357
Id. «Meditazione durante l`incontro con giovani» (21 ago. 1997) n. 3 (trad. do it.). Em DWVE.
358
Ibid.
359
Ibid., n. 1.
360
Ibid., n. 3.
Referências bibliográficas
recordar que a primazia da dignidade do homem sobre qualquer estrutura
social é uma verdade moral que ninguém (nem o individuo, nem o grupo,
nem a autoridade, nem o Estado) pode ignorar
361
.
Diante das diversas formas de opressão existentes no mundo, a Igreja denuncia
com coragem as violências, luta por justiça e caridade. Se não o fizesse, não seria fiel à
missão confiada por Jesus. Quando está em jogo a pessoa, Cristo mesmo move os crentes a
erguer a voz no Seu nome. Ele convida os jovens a testemunharem essa convicção na vida
quotidiana, assumindo iniciativas de voluntariado e respondendo às necessidades materiais e à
sede espiritual que as pessoas sentem de Deus.
Daí o «aspecto mais sublime da dignidade do homem encontra-se exatamente na
sua vocação a comunicar-se com Deus», afirma o Papa
362
. O desejo de ver Deus reside no
coração de cada homem e de cada mulher de todos os tempos. Deus criou-nos por amor e para
que nós O amemos. Eis o motivo da saudade insuprimível de Deus no coração humano. A
pessoa livre acolhe-O como Criador e aceita Seu senhorio na própria vida, pois todos os bens
da terra, os bons êxitos profissionais e o amor humano jamais poderão satisfazer
completamente as expectativas mais íntimas e profundas do coração humano
363
. Mas, para
promover a verdadeira dignidade do ser humano, os jovens precisam de profunda formação
baseada no ensinamento, nas palavras e no exemplo de vida de Cristo
364
, pois o ser humano só
se compreende à luz do mistério do Verbo encarnado.
1.3. Pressuposto Antropocristológico: o ser humano à luz do mistério de
Cristo
A relação do ser humano com Cristo constitui outro dado fundamental tanto da
mensagem do Papa João Paulo aos jovens, bem como do seu magistério eclesiástico. Ele, por
exemplo, na encíclica inaugural Redemptor hominis (1979)
365
, partindo da afirmação conciliar
de que «pela encarnação, o filho de Deus uniu-se de certa maneira a todo o homem: trabalhou
com mãos de homem, pensou com uma inteligência de homem, agiu com uma vontade de
homem, amou com um coração de homem»
366
, deduz a antropologia a partir da cristologia e
aprofunda a relação fundamental entre Jesus Cristo, «redentor dos homens e centro do mundo
361
Ibid.
362
Id. «Mensagem para a XIX JMJ, 2004» (22 fev. 2004). Em DWVE.
363
Cf. Ibid. e «Discurso aos universitários participantes no 31º. Congresso Internacional UNIV-98» n. 4. Em
DWVE.
364
Cf. Id. «Omelia nella messa pasquale per gli universitari romani» (5 apr. 1979) n.4. DWVE.
365
Id. Redemptor…, op. cit.
366
Gaudium et spes, 22.
Referências bibliográficas
e da história»
367
, e cada um dos «quatro bilhões de homens que vivem no mundo
atualmente»
368
.
Eis a primeira afirmação categórica do Papa, na mensagem aos jovens acerca da
relação entre o ser humano e Cristo: «o mistério do homem só no mistério do Verbo
encarnado (...) se esclarece verdadeiramente (...) Cristo, novo Adão, na própria revelação do
mistério do Pai e do seu amor, revela o homem a si mesmo e descobre-lhe a sua vocação
sublime»
369
. Assim, a verdade do ser humano está indissoluvelmente ligada à verdade do
Filho de Deus encarnado. Cristo é especialmente, na ótica de João Paulo II, fonte de liberdade
plena na verdade para o ser humano atual:
Ainda hoje (...) Cristo continua a aparecer-nos como Aquele que traz ao
homem a liberdade baseada na verdade, como Aquele que liberta o homem
daquilo que limita, diminui e como que espedaça essa liberdade nas próprias
raízes, na alma do homem, no seu coração e na sua consciência
370
.
Na perspectiva cristoantropológica, conforme a mensagem do Papa, o pesquisador
e o estudante crentes compreendem que todo o «aspecto de um autêntico humanismo está
intimamente ligado ao mistério de Cristo»
371
. Por isso, o Papa confia tarefa exigente aos
jovens no «limiar do terceiro milênio» e no decurso dessa era: «Servir o ser humano»
372
,
vivendo em Cristo.
Outro dado fundamental da mensagem do Papa aos jovens, acerca do pressuposto
cristoantropológico, consiste na conexão intrínseca entre a em Cristo e a defesa da
dignidade do ser humano. A esse propósito, ele disse-lhes: «Estudem o tema do humanismo
(...) nos seus diversos aspectos, de modo que aparece sempre mais claramente a conexão
intrínseca entre a fé em Cristo e a defesa da dignidade do homem»
373
.
Cristo é «fonte de esperança para o ser humano contemporâneo», afirma o Papa
374
.
Ele acompanha/ilumina o ser humano no processo de amadurecimento pleno em Deus. Daí a
idéia fundamental que o Papa transmite aos jovens em memorável homilia:
367
JOÃO PAULO II. Redemptor..., op.cit., n. 1.
368
Ibid. n. 3.
369
Id. «Omelia pellegrinaggio apostolico nella repubblica federale tedesca, santa messa per i giovani» (19 nov.
1980) n. 4 (trad. do it.). Em DWVE.
370
Id. «Discurso aos universitários participantes no 31º..., fonte cit.
371
Ibid.
372
Ibid.
373
Id. «Recita del Santo Rosário con gli universitari romani» (3 mar. 2001) (trad. do it.). Em DWVE.
374
Id. «Discorso ai partecipanti all`incontro promosso dal SERMIG-2000» (22 dic. 2000) n.1 (trad. do it.). In:
DWVE.
Referências bibliográficas
Cristo acompanhará a maturação do homem para a sua humanidade. Ele
acompanha-nos, nutre-nos e encoraja-nos na vida da sua Igreja, com a sua
palavra e sacramentos, com o corpo e o sangue da sua celebração pascal. Ele
nos nutre como eternos filhos de Deus, faz assim o homem partícipe da sua
filiação divina, o diviniza interiormente, para que ele seja homem em toda
plenitude de seu significado, para que o homem, criado a imagem e
semelhança de Deus chegue a sua maturidade em Deus
375
.
Posteriormente, o Papa partindo de Cristo teocentraliza a mensagem aos jovens: é
«Cristo, o Homem perfeito, o Homem novo, que revela aos homens e as mulheres de todos os
tempos sua grandeza e sua dignidade de filhos de Deus»
376
.
O ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus, para poder existir e
dizer ao seu Criador ‹eu sou›. No ‹eu sou› humano está toda a verdade sobre a existência e a
consciência: «‹Eu sou› diante de Ti, que És»
377
. Por isso, o Papa denunciou energicamente a
«cultura moderna», que pretendia tirar o «Eu sou divino da consciência do homem»:
O mundo que vos circunda, a civilização moderna, influenciou muito para
tirar o Eu-Sou divino da consciência do homem. Porém, se Deus não está, o
homem verdadeiramente poderá ser? Viestes aqui, caros amigos, para
reencontrar e confirmar esta identidade humana: eu sou, diante do Eu - Sou
de Deus. Olhai a cruz sobre a qual o divino Eu - Sou significa Amor. Olhai a
cruz e não esqueçais! O Eu estou próximo a vós permanece a palavra chave
de toda a vossa vida
378
.
As categorias «Perto» e «distante» abrem perspectivas fascinantes na
compreensão do ser humano à luz de Cristo-Deus. São categorias ligadas à distância. O
Advento Cristo, convida a considerar, sobretudo, a dimensão espiritual e profunda dessa
distância: a sua referência a Deus. Em que consiste e como se percebe a proximidade ou o
afastamento de Deus? Não é talvez no «coração inquieto» do ser humano que a dimensão
espiritual da distância e da proximidade de Deus encontre a relevância mais sensível e
adequada?
O ser humano é tudo isto: visibilidade e mistério, proximidade e afastamento de
Deus, frágil posse e contínua pesquisa. aceitando essas íntimas coordenadas da pessoa
humana, compreendem-se o advento e a espera do Messias. Quem é o Messias, Redentor do
mundo? Para que e em que consiste a Sua vinda? O pecado e o seu ingresso na história são a
375
Id. «Omelia pellegrinaggio apostólico nella repubblica federale tedesca, santa messa per i giovani, Mônaco di
Baviera» (19 nov. 1980), n. 4 (trad. do it.). Em DWVE.
376
Id. «Mensagem aos participantes do Encontro Europeu de Jovens em Santiago de Compostela» (8
agosto1999) n. 2 (trad. do it.). Em DWVEP.
377
Cf. Id. «Homilia na missa dos universitários em preparação para o Natal» (15 dez. 1998) n. 2-4 (trad. do it.).
DWVEP.
378
Id. «Messaggio ai giovani radunati a Czestochowa-Polônia in occasione del X anniversario della VI GMG»
(13 ag. 2001) (trad. do it.). DWVE.
Referências bibliográficas
causa da distância entre a pessoa humana e Deus. Mas esse afastamento não é uma questão
irrevogável. Deus exorta a humanidade a esperar o Messias, que nascerá como Filho da
Mulher no seio de Israel, povo eleito por Deus entre todas as nações. À medida que se
aproxima a «plenitude dos tempos» (Gl 4, 4), a expectativa está a realizar-se e se compreende
sempre mais o seu sentido e valor. Com João Batista, essa expectativa torna-se uma pergunta
concreta, a que os discípulos do Precursor dirigem a Cristo: «És Tu o que está para vir, ou
devemos esperar outro» (Lc 7, 19)? Essa mesma pergunta ser-Lhe-á feita muitas vezes. A
resposta de Cristo foi a causa da Sua morte e crucifixão, mas indiretamente foi também a
causa da Sua ressurreição, da manifestação plena da Sua messianidade. Desse modo
admirável, cumprir-se-á a promessa feita à humanidade depois do pecado original
379
.
Na perspectiva cristoteoantropológica, o Papa exorta: «Eis , jovens, a visão
cristã do homem». Essa visão partindo de Deus criador e pai possibilita descobrir a pessoa
humana no que ela deve ser. Ela deve frutificar no tempo, durante a vida terrena, e não
somente per si, mas também para os outros, para a sociedade. Esse seu operar no tempo não
deve fazê-lo nem esquecer nem transcurar a sua outra essencial dimensão: ser que está
orientado para a eternidade. A pessoa deve frutificar no tempo para a eternidade. E se
tirarmos, conforme o discurso do Papa aos jovens, «esta prospectiva da pessoa humana, ela
permanecerá uma figueira estéril»
380
.
Depois de estudado o pressuposto antropocristológico, compreendendo o ser
humano à luz do mistério de Cristo-Deus, seguiremos com um breve estudo do pressuposto
cristológico.
1.4. Pressuposto Cristológico: da encarnação do Verbo à missão da
Igreja
A reflexão cristológica foi também uma das constantes do magistério eclesiástico
do Papa João Paulo II. Depois da eleição, na homilia de entronização como Bispo de Roma e
Pastor da Igreja universal (22 out. 1978), partindo da profissão de Pedro: «Tu és o Cristo, o
filho do Deus vivo» (Mt 16, 16), ele lançou um apelo/mensagem que perpassou todo o longo
pontificado (1978-2005). Foi exatamente a mesma mensagem marcadamente
cristocêntrica, que ele anunciou ininterruptamente aos jovens no decurso das JMJ (1985-
2005), bem como na vigília do milênio e na abertura do «Jubileu dos jovens» (Roma-2000):
379
Cf. Id. «Homilia na missa dos universitários em preparação para o Natal» (15 dez. 1998) nn. 2-4. DWVEP.
380
Id. «Discorso ai giovani, Torino» (13 apr. 1980), nn. 2-3 (trad. do it.). Em DWVE.
Referências bibliográficas
Na vigília do novo milênio, renovo-vos de coração o premente convite a
abrir de par em par as portas a Cristo
381
. Não temais. Abri, antes, escancarai
as portas a Cristo! Abri ao seu poder salvador os confins dos Estados, os
sistemas econômicos assim como políticos, os vastos campos da cultura, da
civilização, do progresso. Não tenhais medo! Cristo sabe o que tem dentro
do homem
382
.
Ainda nos primeiros meses (6 dez. 1978) de pontificado, o Papa mostrou
explicitamente Cristo como único fundamento sólido para construir aos jovens: «Recordem
sempre que podereis construir qualquer coisa de verdadeiramente grande e duradoura se
vos consolidais, como disse São Paulo, sobre o único fundamento que é Jesus Cristo (1Cor
3, 11)»
383
. E, noutra ocasião, o Pontífice indicou-lhes o fulcro de sua mensagem teológico-
pastoral: «Cristo reuniu-nos. Ele é o fulcro das nossas reflexões nestes dias; é o centro da
nossa oração. É a fonte do vínculo espiritual que nos une na sua Igreja»
384
. Tais afirmações
marcadamente cristocêntricas devem-se ao fato de que «o homem tem a tendência a ‹pensar a
si mesmo›, a colocar a sua própria pessoa no centro dos interesses e pôr-se a si mesmo como
parâmetro de tudo»
385
. Daí a magistral exortação do Papa aos jovens: «O homem e mundo
asfixiam-se, se não se abrem a Cristo».
Em várias outras ocasiões igualmente significativas, particularmente no contexto
das JMJ, o Papa expressou o fulcro de suas mensagens aos jovens: Jesus Cristo. Mas o
caminho que seguiremos para explicitar o pressuposto cristológico das mensagens, não
permite continuar com exposição cronológica, mas discursivo-sistemática, partindo
sumariamente da Encarnação do Verbo à responsabilidade missionária da Igreja.
A certeza de que o homem Jesus de Nazaré é Filho de Deus, o Verbo feito carne,
a segunda pessoa da Trindade que veio ao mundo, distingue a cristã de todas as outras
religiões. Jesus de Nazaré é Deus conosco, o Emanuel. Em Jesus nascido em Belém, Deus
assume a condição humana e torna-Se acessível, fazendo aliança com o ser humano
386
.
O evento da Encarnação abre a inteligência da ao conhecimento do amor de
Deus pela pessoa humana e à compreensão do sentido da existência e da história. Ao fixar o
381
Id. Mensagem do Papa João Paulo II por ocasião da XV JMJ. São Paulo: Paulinas, 2000, n. 2 (A voz do
papa 178).
382
Id. «Discorso durante la cerimonia di accoglienza nella XV GMG» (15 ago. 2000), n. 4 (trad. do it.). Em
DWVE.
383
Id. «Discorso ai ragazzi e ai giovani riuiniti nella Basilica Vaticana» (6 dic. 1978) (trad. do it.). Em DWVE.
384
Id. Saluto e meditazione nella festa di benvenuto dei giovani nel Champ-Mars di Parigi» (21 ago. 1997) (trad.
do it.). Em DWVE.
385
Id. «Mensagem para o XVI DMJ, 2001» (14 fev. 2001) n. 4. Em DWVE.
386
Cf. Id. Mensagem do Papa João Paulo II..., op.cit., n. 2.
Referências bibliográficas
olhar no mistério do Verbo Encarnado, o ser humano reencontra-se consigo mesmo
387
. Na
perspectiva encarnacionista, a mensagem pastoral central do Papa aos jovens apresenta Jesus
Cristo como a única resposta fundamentalmente essencial às interrogativas do ser
humano acerca de si, da história e do amor de Deus: «a única orientação do espírito, a única
direção da inteligência, da vontade e do coração para nós é esta: para Cristo, redentor do
homem; para Cristo, redentor do mundo»
388
.
Depois da Encarnação, existe um rosto de ser humano no qual se Deus:
«Acreditai que estou no Pai, e o Pai em Mim», diz Jesus a Felipe e a todos que acreditam (cf.
Jo 14, 11). A partir daí, quem acolhe o Filho de Deus, acolhe Aquele que O enviou (cf. Jo 13,
20), e nova relação é possível entre o Criador e a criatura, relação do filho com o próprio Pai.
Nele, encontra confirmação à condição humana de filhos
389
. Com o convite ‹segue-me›, Jesus
não repete aos seus discípulos: tome-me como modelo, mas também compartilha a minha
vida e opções, vivendo por amor a Deus e aos irmãos
390
.
Jesus foi ao encontro da morte, não recuando diante de nenhuma conseqüência do
seu «estar conosco» como Emanuel. Pôs-se no lugar de toda e cada pessoa humana,
regatando-a do mal e do pecado na Cruz. Assim como o centurião romano, ao ver como Jesus
morria, compreendeu que Ele era o Filho de Deus (cf. Mc 15, 39), igualmente ao vermos e
contemplarmos o Crucificado, compreendemos que Deus revela n`Ele a medida do seu amor
pela humanidade. Paixão quer dizer amor apaixonado que ao doar-se não faz cálculos: «a
paixão de Cristo é o ápice de uma inteira existência ‹oferecida› aos irmãos para revelar o
coração do Pai», afirma o Papa
391
. A Cruz, que parece elevar-se da terra, na realidade pende
do céu, como braço divino que estreita o universo. Segundo o Papa, a Cruz «revela-se como o
centro, o sentido e o fim de toda a história e de cada vida humana»
392
.
Antes de subir para o Pai, Jesus confiou à sua Igreja o mistério da reconciliação
(cf. Jo 20, 23). Não basta, portanto, um arrependimento apenas interior para obter o perdão de
Deus. Reconciliamos com Ele através da reconciliação com a comunidade eclesial. Por isso, o
reconhecimento da culpa passa através de um gesto sacramental concreto: o arrependimento e
a acusação dos pecados, com o propósito de vida nova, diante do ministro da Igreja. O
387
Cf. Id. «Homilia durante a santa missa para os universitários em preparação para o natal e o grande Jubileu»
(14 dez. 1999) n.3. Em DWVE.
388
Id. «Omelia» (24 lug. 1980) n. 2 (trad. do it.). Em DWVE.
389
Cf. Id. «Mensagem para a XIV JMJ, 1999» (6 jan. 1999) n. 2. Em DWVE.
390
Cf. Id. «Mensagem para a XVI JMJ, 2002» (14 fev. 2001) n. 5. Em DWVE.
391
Id. Mensagem do Papa João Paulo II..., op.cit., n. 2.
392
Ibid.
Referências bibliográficas
homem contemporâneo, infelizmente, quanto mais perde o sentido do pecado tanto menos
recorre ao perdão de Deus: disso dependem muitos dos problemas e das dificuldades do
tempo. É preciso redescobrir a beleza e riqueza da graça penitencial; retomando atentamente a
parábola do filho pródigo, vemos ressaltado não tanto o pecado, mas principalmente a ternura
e a misericórdia de Deus
393
.
Na hora de passar deste mundo ao Pai, a oração sacerdotal revela o ânimo do
Filho: «Glorifica-Me Tu, ó Pai, junto a Ti mesmo, com aquela glória que tinha Contigo antes
que o mundo existisse» (Jo 10, 16). Como Sumo e Eterno Sacerdote, Cristo põe-Se à frente
do imenso cortejo dos remidos. Primogênito de uma multidão de irmãos, Ele reconduz ao
único redil as ovelhas do rebanho disperso, para que haja «um só rebanho e um só pastor» (Jo
10, 16). A encarnação do Verbo eterno no tempo e o nascimento para a eternidade de quantos
estão a Ele incorporados mediante o batismo não seriam concebíveis sem a ação vivificante
do Espírito
394
. Por isso, antes da Ascensão, Jesus dissera aos Apóstolos: «O Espírito Santo
descerá sobre vós, e d`Ele recebereis força para serdes minhas testemunhas em Jerusalém, em
toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra» (At 1, 8). Desde então, sob o impulso do
Espírito, os discípulos de Jesus continuam a estar presentes nos caminhos do mundo, para
anunciar a todos os homens a palavra salvífica. Entre êxitos e fracassos, entre grandeza e
miséria, com o poder do Espírito que age na debilidade humana, a Igreja descobre a inteira
amplitude e a responsabilidade de sua missão universal
395
. O próprio Papa oferece uma síntese
qualificada dos mistérios de Cristo, convidando os jovens à contemplação de Jesus de
Nazaré como Salvador e Redentor, o Deus da vida:
Caros jovens, diante destes grandes mistérios sabei elevar-vos a uma atitude
de contemplação. Detende-vos a admirar extasiados o recém-nascido que
Maria deu à luz, envolvido em panos e depositado na manjedoura: é o
próprio Deus que veio ao meio de nós. Contemplai Jesus de Nazaré, por
alguns acolhido e por outros ridicularizado, desprezado e rejeitado: Ele é o
Salvador de todos. Adorai a Cristo, nosso Redentor, que vos resgata e liberta
do pecado e da morte: é o Deus vivo, fonte da vida
396
.
Depois de percorrermos sinteticamente o itinerário dos mistérios de Cristo até a
origem da responsabilidade missionária da Igreja, concluímos: Jesus Cristo é o fulcro das
mensagens pastorais do Papa aos jovens hodiernos no contexto das JMJ. Dessa mensagem
marcadamente cristocêntrica do Papa aos jovens, passa-se ao estudo do terceiro pressuposto
teológico de seus textos: o eclesiológico.
393
Id. «Mensagem do XIV DMJ, 2001» (6 jan. 1999) n. 5. Em DWVEP.
394
Cf. ibid. n. 2.
395
Cf. Id. «Mensagem para a XIII JMJ, 1998» (30 nov. 1997) n. 6. Em DWVEP.
396
Id. Mensagem do Papa João Paulo II..., op.cit., n. 3.
Referências bibliográficas
1.5. Pressuposto Eclesiológico: Igreja de Cristo, mistério de missão
e comunhão de amor
O pressuposto cristológico não se encontra solitário nas mensagens do Papa aos
jovens nas JMJ, ele se apresenta com o eclesiológico. uma correlação entre os dois
pressupostos. Não se trata, conforme a mensagem do Papa, de uma «correlação casual». Entre
Cristo e a sua Igreja existe um «vinculo orgânico muito estreito e profundo». Cristo vive na
Igreja, a Igreja mostra-se como mistério de Cristo vivente e operante no meio de nós (cf. Cl 1,
27; 1Cor 12, 27)
397
. Partindo dessa correlação, o Papa exorta os jovens a descobrir a Igreja de
Cristo, como mistério de missão e comunhão.
A Igreja de Cristo mostra-se também como realidade fascinante e maravilhosa.
Ela é antiga, porque «consta quase dois mil anos», e perenemente nova na ordem da graça do
«Espírito Santo que a anima». Jovem é a Igreja, por causa da atualidade da sua mensagem de
salvação. Por isso, existe diálogo ininterrupto entre ela e os jovens. As JMJ são, como visto na
primeira parte, uma resposta pastoral à continuidade dessa relação dialógica. Nela, os jovens
descobrem a Igreja e a missão.
Na Bíblia, entre as numerosas imagens que exprimem o mistério da Igreja,
encontramos também a imagem da vinha (cf. Jr 2, 21; Is 5, 1-7). A Igreja é a vinha plantada
pelo próprio Senhor, que goza do seu particular amor. No Evangelho de João, Cristo explica o
princípio fundamental da vida dessa vinha, quando disse: «Eu sou a videira, vós os ramos»
(Jo 15, 5). Daí o próprio convite do Papa aos jovens: serem «ramos vivos na Igreja».
Os ramos vivos são os que vivem em comunhão vital com Cristo-videira na
Igreja-vinha. Eles não são auto-suficientes, porque dependem totalmente da Videira. Nela
encontra-se a fonte da sua vida. Mediante o Batismo, os jovens/cristãos foram imersos em
Cristo e receberam gratuitamente o dom da vida nova. Eles são ramos vivendo a realidade do
Batismo, aprofundando a comunhão com o Senhor na escuta e obediência a Sua Palavra,
participando na Eucaristia e no sacramento da Reconciliação e dialogando pessoalmente com
Cristo na oração. Jesus disse: «Quem permanece em mim, e eu nele, muitos frutos, porque
sem mim nada podeis fazer» (Jo 15, 5).
Os ramos vivos da Igreja-vinha empenham-se na comunidade e na sociedade.
Todos os jovens batizados, segundo as vocações particulares, são participantes da missão de
397
Cf. Id. «Mensagem pela V JMJ, 1990» (26 nov.1989), n.1. Em DWVEP.
Referências bibliográficas
Cristo e da sua Igreja. A comunhão eclesial é uma comunhão missionária. A Igreja é por
natureza uma comunidade missionária. Ela vive constantemente envolvida nesse ardor
missionário, que recebeu do Espírito Santo, «protagonista de toda missão eclesial»
398
, no dia
de Pentecostes (cf. At 1, 7).
A Igreja precisa de muitos operários. Nas JMJ, o próprio Cristo convida os
jovens: «Ide também vós à minha vinha» (Mt 20, 4). A Igreja é uma comunhão orgânica, na
qual cada um tem próprios o lugar e a função. Os jovens também têm. É um lugar muito
importante. A Igreja, porque chamada pelo Senhor a evangelizar, precisa dos jovens, com o
seu dinamismo, autenticidade e vontade de crescer na fé. Plenamente consciente disso, o Papa
exorta-os: «Colocai-vos a serviço da Igreja. Assumi o vosso lugar na Igreja, que não é
aquele de cuidado pastoral, mas, sobretudo, de protagonistas ativos da sua missão. A Igreja é
vossa, antes, vós mesmos sois a Igreja»
399
.
A Igreja, por sua vez, tem muito a oferecer aos jovens. Assistimos hoje a um
fenômeno muito significativo. Depois de um período de indiferença e distanciamento nos
confrontos da Igreja, agora, particularmente, com o impulso pastoral do Papa nas JMJ, muitos
jovens estão redescobrindo-a como guia seguro e fiel, lugar indispensável de comunhão com
Deus e com os irmãos, ambiente de crescimento espiritual e de empenho missionário. É um
sinal muito eloqüente. Muitos jovens hodiernos não se contentam em pertencer à Igreja de
modo meramente formal, anagráfico. Eles procuram algo mais.
Lugar privilegiado de redescoberta da Igreja e do empenho eclesial, além das JMJ,
são as associações, os movimentos e as várias comunidades eclesiais juvenis. De fato,
referimo-nos a «nova estação agregativa» na Igreja. Eis uma riqueza enorme e um dom
preciso do Espírito Santo, que está sendo acolhido com muito reconhecimento por quase toda
comunidade eclesial.
A Igreja-vinha precisa também de operários particulares, que a sirvam de maneira
específica, com radicalismo evangélico, consagrando-lhe toda a vida. Trata-se das vocações
sacerdotais e religiosas como também das associações de leigos consagrados no mundo. A
esse propósito, o Papa disse aos jovens participantes das JMJ: «Estou seguro que muitos de
vós, meditando o mistério da Igreja, sentiram no profundo da alma o convite de Cristo: ‹Ide,
também vós para minha vinha, e eu vos darei o que for justo› (Mt 20, 4)». A mensagem do
398
Id. «Mensagem para a VII JMJ, 1992» (24 nov.1991), n. 2. Em DWVEP.
399
Ibid., n. 3.
Referências bibliográficas
Papa aos jovens acerca da Igreja de Cristo e sua missão resume-se nas suas próprias palavras,
quando lhes falava da dimensão festiva, espiritual e preparatória das JMJ:
A JMJ (...) não é uma festa, mas também um sério empenho espiritual.
Para poder colher os frutos é necessário um caminho de preparação sob a
guia dos vossos Pastores nas dioceses, nas paróquias, nas associações, nos
movimentos e nas comunidades eclesiais juvenis. Procurai conhecer melhor
a Igreja, a sua natureza, a sua história, já bi-milenar, e o seu presente.
Procurai descobrir o vosso lugar na Igreja e a vossa missão enquanto
jovens
400
.
A Igreja configura-se como mistério de comunhão, convite à vida. Na comunhão
bidimensional: na vertical com Deus e na horizontal com Cristo e os outros. A comunhão
estimula a plena relação entre pessoa e pessoa. A Igreja mostra-se como mistério de
comunhão íntima e sempre renovada com a fonte da vida: a Santíssima Trindade. Comunhão
de vida, de amor, de imitação, de seqüela de Cristo, Redentor do homem, que insere
estritamente em Deus. Surge, o autêntico promotor de comunhão e de amor entre a
humanidade, por causa da semelhança ontológica com ele. Por isso, o Papa exorta
pastoralmente os jovens: «Vivam com generoso empenho as exigências que nascem de tal
realidade (a comunhão). Procurem por isso fazer unidade de pensamentos, nos sentimentos,
nas iniciativas em torno dos (...) paroquianos e com eles em torno do Bispo»
401
. Segundo o
Papa, «A Igreja não é uma realidade abstrata e desencarnada; ao contrário, é uma realidade
muito concreta»
402
. Daí o seu belíssimo ensinamento acerca da comunhão missionária de amor
cristoeclesiológico:
Grande será a luz se (...) vos unirdes como um só na comunhão da Igreja! Se
amardes Jesus, amai a Igreja!
403
(e vice-versa). Deixo-vos duas simples
tarefas. De um lado, radicai-vos na (...) da Igreja. Trata-se para vós de
acolher a mensagem de Cristo (...). De outro lado, tornai-vos de fato
testemunhas de Cristo. O mundo precisa conhecer por vós o alegre Anúncio:
com o testemunho da vossa fé em Jesus Cristo, do vosso afeto pela Igreja
404
.
A presença de jovens constitui riqueza grandiosa e fonte de vitalidade para toda
a comunidade cristã, que com eles é chamada a dar razão e a testemunhar a até os confins
da terra
405
. Na ótica da testemunhal, o Papa ensina os jovens a comunicarem a salvação,
participarem da construção do Reino de Cristo e compartilharem a fé com os outros a partir da
experiência com o Filho de Deus:
400
Id. «Messaggio per la V GMG, 1990» (26 nov. 1989) n. 3 (trad. do it.). Em DWVE.
401
Id. «Discorso ai giovani di Comunione e liberazione» (31 mar. 1979) (trad. do it.). Em DWVE.
402
Id. «Menssaggio per la V GMG... fonte cit., n. 3 (trad. do it.).
403
Id. «Homilia no Parque Downsview» (28 jul. 2002), n. 5. DWVEP.
404
Id. «Discorso dall´Arcidiocesi di Rouen» (14 apr. 1980) (trad. do it.). DWVE.
405
Cf. Id. «Discorso per la veglia battesimale con i giovani-GMG-Parigi» (23 ago. 1997), n. 7. DWVE.
Referências bibliográficas
Cristo, através da sua Igreja, confia-vos a missão fundamental de comunicar
aos outros o dom da salvação e vos convida a participar da construção do
seu Reino. Escolheu-vos,..., porque vos ama e crê em vós. Este amor (...)
incondicional deve constituir a alma mesma do vosso apostolado (cf. 2Cor
5,14): ser discípulo de Cristo não é um fato privado. Ao contrário, o dom da
deve ser compartilhado com os outros (cf. 1Cor 9,6). Não vos esqueçais
de que a se fortifica e cresce exatamente quando é doada aos outros
406
. A
religião mesma, sem uma experiência de grande descoberta e de comunhão
com o Filho de Deus..., se reduz a uma soma de princípios sempre mais
árduos para compreender e regular sempre mais difícil para suportar
407
.
A conseqüência lógica da pertença dos jovens à Igreja de Cristo, mistério de
comunhão e missão (mediante o Batismo), manifesta-se, nas palavras do próprio Papa, como
«presença assídua e colaboração nas paróquias e nos movimentos eclesiais, atenção fraterna e
solidária para com os que sofrem no corpo e no espírito, a edificação da sociedade respeitosa
pelos diretos de todos e promoção do bem comum e a paz»
408
.
1.6. Pressuposto Mariológico: Maria, Mãe de Deus, modelo máximo que
conduz os jovens a Cristo
Maria, como «filha predestinada do Pai», sintetiza na sua pessoa todo o mistério
da Igreja. Ela escolheu livremente e respondeu com disponibilidade ao dom de Deus. «Filha»
do Pai, mereceu tornar-se a Mãe do Seu Filho: «faça em mim segundo a tua palavra» (Lc 1,
38). É Mãe de Deus, porque perfeitamente filha do Pai
409
. Deus, o invisível, está vivo e
presente em Jesus, o Filho de Maria, a Theotokos, a Mãe de Deus, quem O a Deus;
quem O segue, segue a Deus; quem se une a Ele está unido a Deus (cf. Jo 12,44-50)
410
.
Maria é Mãe da divina graça, porque é Mãe do Autor da graça. Por isso, o Papa
exortou os jovens a depositar confiança n`Ela, daí resplandecerá com «a beleza de Cristo».
Abertos ao sopro do Espírito, tornar-se-ão apóstolos intrépidos, capazes de difundir «o fogo
da caridade e a luz da verdade» no mundo. Na escola de Maria, segundo o Papa, os jovens
descobrem «o compromisso concreto que Cristo espera» deles: colocá-Lo em primeiro lugar
na própria vida, orientando para Ele seus pensamentos e suas ações
411
.
Oferece-se Maria aos jovens para ajudá-los a entrar numa relação mais verdadeira
e pessoal com Jesus. Com o seu exemplo, Maria ensina-lhes a fixar o olhar de amor nAquele
406
Id. «Mensagem para a VII JMJ, 1992» (24 nov.1991), nn. 1 e 2. DWVEP.
407
Id. «Discorso nell´incontro con i giovani» (23 set. 2001), n. 4 (trad. do it.). DWVE.
408
Id. «Discorso nell´incontro con i giovani nella Cattedrale Greco-Cattolica di Damasco» (7 magg. 2001), n. 7
(trad. do it.). DWVE.
409
Cf. Id. «Mensagem para a XIV JMJ, 2000» (6 jan. 1999) n. 7. DWVEP.
410
Cf. Id. Mensagem do Papa João Paulo II..., op.cit., n. 2.
411
Cf. Id. «Mensagem pela XVII JMJ, 2002» (25 jul.2001) n. 4. DWVEP.
Referências bibliográficas
que foi o primeiro a amar. Com a sua intercessão, Ela forma neles um coração de discípulos
capazes de colocá-los à escuta do Filho, que revela o rosto autêntico do Pai e a verdadeira
dignidade do ser humano. Com Ela, Discípula do Mestre, eles seguirão Cristo ao longo dos
caminhos da Palestina e se tornarão testemunha da pregação e dos seus milagres. Com Ela,
Mãe das Dores, acompanharão Jesus na Sua paixão e morte. Com Ela, Virgem da Esperança,
receberão o anúncio jubiloso da Páscoa e o dom inestimável do Espírito Santo. Com a oração
do Rosário, serão fortes na fé, constantes na caridade, alegres e perseverantes na esperança
412
.
Com tudo isso, o Papa convida os jovens para acolherem a primeira colaboradora de Deus na
obra da salvação, como educadora e modelo exemplar de um sim incondicional a Cristo:
Prezados jovens, (...) Cristo pede expressamente que recebais Maria ‹em
vossa casa›, que a acolhais ‹no meio dos vossos bens› para aprender dela (...)
a disposição interior da escuta e a atitude de humildade e de generosidade
que a caracteriza como primeira colaboradora de Deus na obra da salvação.
É Ela que, desempenhando o seu ministério maternal, vos educa e vos
modela até que Cristo se forme plenamente em vós. Ninguém, senão Jesus,
poderá dar-vos a verdadeira felicidade. Seguindo o exemplo de Maria, sabei
dizer-lhe o vosso ‹sim› incondicional
413
.
Maria foi uma jovem que realizou em si mesma a adesão mais completa à vontade
de Deus. Ela é, nas palavras do Papa, «modelo da máxima perfeição cristã»
414
. Ela depositou
total confiança em Deus: «Bem-aventurada aquela que acreditou, porque vai acontecer o que
o Senhor lhe prometeu!» (Lc 1, 45). Robustecida pela palavra recebida de Deus e conservada
no seu coração (cf. Lc 2, 9), venceu o egoísmo e derrotou o mal. O amor preparou-a para o
serviço humilde e concreto ao próximo. A Igreja, segundo o Papa, dirige-se a Ela como
«auxílio e modelo de caridade generosa»
415
. Os jovens também, continua o Papa, olham Maria
como «exemplo de defesa e promoção da vida, de ternura, de fortaleza no sofrimento, de
pureza na vida e de alegria sadia»
416
.
Nas JMJ, os jovens são convidados a confiar o coração a Maria, a jamais se
separar dEla, a caminhar juntamente com Ela para ser santos. Refletindo n'Ela e confortados
pelo Seu auxílio, acolherão a palavra da promessa, guardando-a ciosamente no interior, e
serão «os arautos da nova evangelização para construir sociedade nova reconciliada no amor»,
disse o Papa
417
. Mas mesmo na III JMJ (1988), que teve como «fio condutor» Maria, a
mensagem do Papa aos jovens foi cristocêntrica. As palavras de Maria aos serventes «faça
412
Cf. Ibid.
413
Ibid., nn. 3 e 6.
414
Id. «Mensagem aos jovens cubanos» (23 jan. 1998) n. 6. DWVEP.
415
Ibid.
416
Ibid.
417
Ibid.
Referências bibliográficas
aquilo que ele vos disser», exemplificam claramente isso. Comentando-as, afirmou o Papa:
com tais palavras Maria queria dizer
escutem Jesus, (...), os seus mandamentos, tenham confiança Nele. Nesta
frase encontra-se um programa de vida que Maria realizou como primeira
discípula do Senhor, e que hoje ensina também a nós. É um projeto de vida
baseada no sólido e seguro fundamento que se chama Jesus Cristo
418
.
Concluiremos com três exemplos explícitos de como o Papa encerra praticamente
todas as mensagens aos jovens por ocasião das JMJ: confiando cada JMJ a Maria. Em 1989,
ele disse: «Confio o processo de preparação espiritual e a celebração mesma da próxima JMJ
de 1990 à intercessão de Maria. Ela, que veneramos como Mãe da Igreja, vos seja mestra e
guia neste renovado empenho eclesial»
419
. E em 1991: «Confio a Maria, Rainha dos
Apóstolos, a celebração da JMJ de 1992. Ela vos ensina que para levar Jesus aos outros não é
necessário realizar gestos extraordinários, mas basta simplesmente ter um coração cheio de
amor por Deus e pelos irmãos»
420
. E, finalmente, em 1998: «Caros amigos, confio-vos à
intercessão materna de Maria, a quem gostamos de implorar sob o título de Mãe da Igreja:
Ela vos ajude a reencontrar o seu Filho, para caminhardes no Seu seguimento! De todo o
coração, dou-vos a Bênção Apostólica»
421
. Com Maria constrói-se a Paz. Ela é a Regina pacis.
2. Construir a paz no século XXI
2.1. A natureza e o ideal juvenil de paz diante dos desafios atuais
A paz mostra-se, em primeiro lugar, como verdadeira ordem nas relações entre os
seres humanos e as nações. Assim a construção da paz pelo fundamento implica o
reconhecimento e o conseqüente respeito de todos os direitos da pessoa humana (tanto dos
que dizem respeito à parte material como também dos que interessam à parte espiritual da sua
existência terrena) e de todas as Nações sem exceção: sejam grandes ou pequenas. A paz não
existirá enquanto os grandes e os potentes violarem os direitos dos fracos, mas somente
quando o programa da paz no mundo se exprimir na fórmula «Nunca mais Hiroshima»,
afirma o Papa
422
.
O esforço para construir a paz no mundo realiza-se em vários níveis. A paz não é
um êxtase, mas grande esforço de colaboração de toda pessoa humana. É preciso formar a
418
«Messaggio per la III GMG, 1988» (13 dic. 1987), n. 2 (trad. do it.). DWVE.
419
Id. «Messaggio per la V GMG..., fonte cit., n. 3 (trad. do it.).
420
Id. «Messaggio per la VII GMG, 1992» (24 nov. 1991), n. 6 (trad. do it.). DWVE.
421
Id. «Discurso a um grupo de jovens franceses da Arquidiocese de Ruão» (17 abril 1998) n.5. DWVEP.
422
Cf. Id. «Discorso ai giovani in Budokan» (24 febb. 1981) n. 7. Em DWVE.
Referências bibliográficas
consciência e o sentido de responsabilidade entre os seres humanos, particularmente entre os
jovens, pela causa da paz. Daí nascerá a solidariedade para com todos quanto têm os direitos
violados. É necessário também ensinar os jovens a «ver julgar agir» pela paz, conforme o
discurso do Papa
423
. Assim, surgirá a reflexão e elaboração de um programa de ação em prol
da paz, entre os jovens, as pessoas e os representantes de todas as religiões
424
. O próprio
Cristo disse: «felizes os operadores de paz» (Mt 5, 9). O Papa, por sua vez, exortou os jovens:
«Tornai também vós operadores de paz»
425
.
A religião cristã, que a partir da Palavra «Glória a Deus no mais alto dos céus e
paz na terra aos homens que Ele ama» (Lc 2, 14), têm duas convicções primordiais em vista
da paz. Ela afirma e promove a oração ardente e incessante pela paz. E possui a convicção de
que o ser humano é capaz, com a ajuda da graça divina, de superar o mal multiforme que o
impulsiona ao ódio, à guerra, à destruição. Também a sociedade é capazes de vencer o mal. O
cristianismo afirma essa convicção e trabalha pela sua consolidação, animado pela palavra de
Cristo, mestre e testemunha da esperança
426
para os jovens construtores de paz.
Os jovens querem a paz, que é um ideal inscrito em seus corações. Eles próprios
revelam tal ideal, expressando enorme desejo de contato e partilha entre os seres humanos.
Eles são gratos à liberdade, família, estudo e projetos e querem viver, vencer, amar e ser
amados, mudar a mentalidade circundante. Esses grandes ideais juvenis estão explícitos no
seguinte diálogo aberto dos jovens com o Papa João Paulo II:
Queremos a paz, um contato verdadeiro entre os homens. Queremos a
partilha. Nós somos felizes por encontrar-nos em um País de liberdade, que
nos apóia numa família que se sacrificou pelos nossos estudos. Nós temos os
nossos projetos de família. Queremos viver, vencer na nossa vida e, também,
das pessoas. Nós desejamos amar e ser amados. O futuro está aberto diante
de nós. E lá onde é necessário, queremos mudar a mentalidade
427
.
Mas o ideal juvenil de paz resistirá à dura realidade do mundo contemporâneo?
Terminará como as utopias? Será fogo de palha ou apenas uma festa sem amanhã? Longo é o
elenco dos males da nossa sociedade: a solidão, o desemprego, a miséria de todo tipo, as
ilusões de uma falsa liberdade, os riscos inerentes aos progressos nucleares, a invasão dos
423
Cf. Ibid., n. 8.
424
A primeira conferência que refletiu sobre a questão da paz ocorreu exatamente no Japão no ano de 1970, em
Kyoto.
425
GIOVANNI PAOLO II. «Discorso ai giovani in Budokan» (24 feb. 1981) n. 1. Em DWVE.
426
Ibid., n. 6.
427
Id. «Discorso ai giovani nello Stadio Gerland» (5 ott. 1986), n. 21 (trad. do it.). Em DWVE.
Referências bibliográficas
gadgets artificiais, a tecnicidade que aumenta o anonimato, despersonaliza e leva ao comércio
de embriões humanos
428
.
Na sociedade atual, na ótica de João Paulo II, «os jovens são frequentemente
tentados pelas miragens duma vida fácil e cômoda, pela droga e pelo hedonismo, acabando
depois nas malhas do desespero, pela falta de sentido, pela violência»
429
; a «queda dos
valores, a dúvida, o consumismo, a droga, (...) o erotismo»
430
. também os problemas dos
países em via de desenvolvimento: a questão do trabalho, da promoção da dignidade humana,
da paz, da acolhida, da ambientação, os transtornos econômicos e dos jovens estrangeiros.
Trata-se de questões que ultrapassam os limites das nações e dos continentes
431
. São «males
de tipo individual, social, econômico e, sobretudo, moral», afirma o Papa
432
. O discurso
abarca os poderes públicos, as instituições civis e religiosas do mundo inteiro. Mas as suas
soluções virão de uma dilatação do olhar e do coração, do evangélico «fazer-se próximo»
também dos mais distantes, alargando o «coração as dimensões do mundo›»
433
.
Daí a formidável mensagem do Papa aos jovens: «é urgente mudar de direção
tomando o rumo de Cristo, que é também o rumo da justiça, da solidariedade, do empenho
por uma sociedade e um futuro dignos do homem»
434
. Com essa mudança de direção e a
denúncia dos males da sociedade sem temor, principalmente porque Deus não quer o mal, os
ideais juvenis de justiça, solidariedade, amor e paz permanecerão vivos:
Denunciai sem temor aquilo que está ligado de modo ainda mais evidente ao
pecado dos homens, ao seu duro coração, violento, pleno de ódio ou as suas
fragilidades morais, os seus medos egoísticos. necessidade de se
denunciar de novo a intolerância, o racismo, a tortura, a prostituição, a droga
e as tentações do desespero, a delinqüência, o aborto, a banalização dos
gestos de amor, o terrorismo cego e sem piedade, quaisquer que sejam as
razões invocadas? Na Casa Branca, diante aos jovens mulçumanos, dirigi a
Deus está oração: ‹Não permitas que, invocando o teu nome, nós
justifiquemos as desordens humanas›, (...) que Deus não quer o mal. Ele
criou os homens para o amor, para a paz, para a solidariedade, o domínio
racional do mundo. Continuem tendo compaixão, como Jesus, pelos
sofredores (...) e chamando de mal o que é mal
435
.
428
Cf. Id. «Discorso ai giovani nello Stadio Gerland» (5 ott. 1986), n. 21. Em DWVE.
429
Id. «Homilia na missa de encerramento da XV JMJ» (20 ago. 2000), n. 5. Em DWVEP.
430
Id. «Menssaggio per la VII GMG, 1992» (24 nov.1991), n. 3. Em DWVEP.
431
Cf. Id. «Discorso ai giovani universitari italiani e stranieri presenti a Perugia» (26 ott. 1986) n. 4. DWVE.
432
Id. «Discorso ai giovani riuniti nel teatro parrocchiale» (14 dic. 1986) (trad. do it.). DWVE.
433
Id. «Discorso ai giovani universitari italiani e stranieeri presenti a Perugia» (26 ott. 1986), n. 4 (trad. do it.).
Em DWVE.
434
Id. «Homilia na missa de encerramento da XV JMJ, Tor Vergata» (20 ago. 2000), n. 5. Em DWVEP.
435
Id. «Discorso ai giovani nello Stadio Gerland» (5 ott. 1986) n. 21 (trad. do it.). Em DWVE.
Referências bibliográficas
É preciso enfrentar os males da sociedade vigente com responsabilidade pessoal,
pela própria vida, seu futuro perfil e valor, e social pela justiça, paz, ordem moral e autêntico
bem comum
436
. Com jovens virtuosos, um país torna-se grande. Consciente disso, o Papa
convidou-os cautelosamente a enfrentar «os grandiosos desafios do presente com fortaleza,
temperança, justiça e prudência»
437
.
2.2. Dimensões práticas da paz
A paz tem as suas dimensões humanas e as suas exigências. O que significa isso
na prática? Como pode a paz tornar-se a realidade da vida juvenil no mundo hodierno? O
Papa falou muitas vezes das dimensões práticas da paz, do que os jovens precisam fazer para
proteger e promover o dom divino da paz: a paz que Cristo deseja muito compartilhar
conosco. A esse propósito, texto ilustrativo do Papa é o seguinte:
Se desejardes a paz, operai pela justiça. Se desejardes a paz defendei a vida.
Se desejardes a paz, proclamai a verdade. Se desejardes a paz, «tudo quanto
quereis que os homens façam a vós, também vós fazei a eles» (Mt 7,12).
Numa palavra: se quiserdes a paz, deveis amar (cf. Mc 12,30). Tudo isso
implica empenho pessoal e disciplina. Comporta aceitar nós mesmos e os
outros como criaturas de Deus, como filhos de Deus, como seres humanos
cuja felicidade depende da lei de Deus, que é o seu projeto para a nossa
vida
438
.
Em cada fase da vida, os jovens precisam superar toda tendência ao egoísmo,
abrindo-se aos outros com os corações e as mentes, no diálogo, não na rivalidade, com
respeito e amor sincero por todos os seres humanos. Essa abertura aos outros na compreensão,
na paciência, na compaixão e no desejo de contribuir para promover o seu bem, expressa o
amor fraterno e exemplifica uma ação em prol da paz
439
.
Mas abertura aos outros não significa que toda opinião tem o mesmo valor; não
importa quanto ela seja forte, a sinceridade da convicção não pode transformar a injustiça em
justiça ou a falsidade em verdade. A verdade não é o caminho mais fácil e cômodo e nem
sempre corresponde à opinião da maioria, mas será sempre o caminho para a verdadeira
liberdade. O próprio Jesus disse: «Conhecereis a verdade e a verdade vos fará livres» (Jo 8,
436
Cf. Id. «Omelia nella messa pasquale per gli universitari romani» (5 apr. 1979), n. 4 (trad. do it.). Em DWVE.
437
Id. «Mensagem aos jovens cubanos» (23 jan.1998) n. 4. Em DWVEP.
438
Id. «Discorso ai giovani nel Sidney Cricket Ground» (25 nov. 1986), nn. 3-5 (trad. do it.). Em DWVE.
439
Cf. Id. «Homilia durante a santa missa para os estudantes dos ateneus da cidade de Roma» (10 dez. 2002) n.3.
Em DWVEP.
Referências bibliográficas
32). A verdade e a liberdade, juntos com a justiça e o amor, são o fundamento da verdadeira
paz de Cristo
440
.
O triunfo da justiça no mundo depende em grande parte dos jovens. A eliminação
da injustiça deve começar com a purificação de seus corações. Eles são estimulados a
enfrentar as tendências e os erros do mundo com o poder da verdade. Trata-se de viver a
verdade no amor e de crescer na maturidade de Cristo (cf. Ef 4, 15)
441
.
Diante da rivalidade, os jovens são estimulados a oferecer ao mundo a imagem do
diálogo respeitoso. O perdão mostra-se como resposta ao insulto e a injúria. A única posição
aceitável diante da separação consiste na promoção da reconciliação e vivência da
solidariedade fraterna. Eis a missão dos jovens: superar todo o mal com o bem, recolocando
sempre a confiança em Deus, que sustenta e fortalece a fragilidade humana, e opondo a toda e
qualquer forma de ódio com o amor de Cristo. A construção da paz não deve ser imposta pela
força das armas, mas proposta pela força do diálogo, da tolerância, do respeito e da estima
mútuos entre toda humanidade
442
. O Papa, em seu discurso de acolhida aos jovens na XVII
JMJ, cristocentraliza a visão juvenil:
Jovens do Canadá, da América e cada parte do Mundo! Olhando a Cristo vós
podereis aprender (...) o que quer dizer procurar a justiça, ser (...) operadores
de paz. Com o olhar fixo nEle, vós descobrireis o caminho do perdão e da
reconciliação, em um mundo freqüentemente tomado pela violência e o
terror. Experimentamos com dramática evidência, no curso do século
passado, a face trágica da malícia humana. Vimos o que sucede quando
reinam o ódio, o pecado e a morte. Mas hoje a voz de Jesus ressoa como voz
de vida, de esperança, de perdão, é voz de justiça e de paz
443
.
Os jovens operadores de paz contribuem na construção do reino de Cristo. Eis a
missão jovem de paz. Mas a eficácia dessa missão depende da sua aceitação livre, pois cada
um precisa dizer pessoalmente sim a Cristo na oração: exigência primordial de toda ação
missionária de paz
444
.
A oração contribui na construção da paz e está estreitamente ligada à paz, que
depende largamente da oração. Ela se mostra como fonte inesgotável de numerosas graças
para os jovens hodiernos, e fundamenta a relação e os possibilita conhecer Jesus. Ajuda-os a
440
Cf. Id. «Homilia durante a santa missa para os estudantes dos ateneus da cidade de Roma» (10 dez. 2002) n.3.
Em DWVEP.
441
Cf. Ibid.
442
Cf. Ibid.
443
Id. «Discorso nella festa di accoglienza dei giovani» (25 lug. 2002), n. 5 (trad. do it.). Em DWVE.
444
Cf. Id. «Homilia durante a santa missa para os estudantes dos ateneus da cidade de Roma» (10 dez. 2002), n.
3. Em DWVE.
Referências bibliográficas
descobrir o sentido da missão, a sentir as dores e atender as necessidades do próximo, a
compreender o mundo e suas relações com ele e a discernir os sinais dos tempos
445
. Em
poucas palavras: a oração ajuda os jovens a possuírem e transmitirem Cristo aos outros, como
dom da paz.
Construir a paz no mundo de hoje, é um compromisso inadiável dos jovens. Eles
são estimulados a viver na justiça, a tornar instrumentos de amor e de paz. Na busca da
justiça, na promoção da paz, no empenho de fraternidade e de solidariedade, eles não são
segundos a ninguém
446
. O Papa, recordando a «Jornada de Oração pela Paz», disse-lhes:
«Jovens do terceiro milênio, jovens cristãos, jovens de todas as gerações, peço-vos que sejais
(...) sentinelas dóceis e corajosas da paz verdadeira, fundada na justiça e no perdão, na
verdade e na misericórdia!»
447
.
2.3. A missão jovem de paz e os quatro pilares da paz
Um evento dinâmico acontece na vida dos jovens participantes das JMJ. Cristo,
representado na pessoa do Papa, dirige aos jovens continuamente as seguintes palavras: «a
paz esteja convosco». E os envia em missão como mandou os apóstolos: «Como o Pai me
enviou, também eu vos envio ». Cristo ressuscitado oferece a paz ao mundo inteiro e quer
transformar os jovens hodiernos em instrumentos de paz. Eles são estimulados e enviados das
JMJ para combater o caos e a confusão com a ordem
448
, para anunciar e testemunhar Cristo,
construindo a paz na justiça. A mensagem do Papa aos jovens é a seguinte:
Os jovens cristãos são convidados a anunciar e testemunhar Cristo e a ser
construtores (...) de paz na justiça, paz que o mondo hodierno tem particular
necessidade
449
. Nesta época ameaçada pela violência, pelo ódio e pela
guerra, daí testemunho de que Ele (Jesus) é o único que pode dar a
verdadeira paz ao coração do homem, às famílias e aos povos da terra.
Procurai e promovei a paz, a justiça e a fraternidade. E não vos esqueçais da
palavra do Evangelho: ‹Bem-aventurados os pacificadores, porque serão
considerados filhos de Deus› (Mt 5, 9)
450
.
Neste momento complexo da história, enquanto o terrorismo e as guerras
ameaçam a concórdia entre os seres humanos e as religiões, o Papa incentiva os jovens a
445
Cf. Id. «Discorso ai giovani nel Sidney Cricket Ground» (25 nov. 1986), n. 7. Em DWVE.
446
Cf. Id. «Discorso nella Festa di Accoglienza dei Giovani» (25 lug. 2002), n. 6. Em DWVE.
447
Id. «Messaggio ai ragazzi GEN-3» (18 magg. 2002), n. 3 (trad. do it.). Em DWVE.
448
Cf. Id. «Discorso ai giovani nel Sidney Crichet Ground» (25 nov. 1986), n. 8. Em DWVE.
449
Id. «Discorso ai partecipanti al meeting internazionale UNIV-2003» (14 apr. 2003), n. 2 (trad. do it.). Em
DWVE.
450
Id. «Mensagem pela XVIII JMJ, 2003» (8 mar. 2003) n. 7. Em DWVE.
Referências bibliográficas
serem «promotores da cultura da paz, hoje mais do que nunca necessária»
451
. O empenho
juvenil pela paz, complementa o Papa, comporta um único interesse: pelo «ser humano
enquanto tal e pela amizade entre os seres humanos, os povos e as religiões»
452
. Uma paz
assim não é fruto unicamente dos esforços humanos, embora necessários, mas principalmente
da oração confiante e insistente ao Deus da paz
453
.
Construir a paz é uma exigência inadiável neste tempo ameaçado pela violência,
terrorismo, pelo ódio e pela guerra, por exemplo, no Iraque, na Terra Santa e em diversas
outras regiões do mundo. Tudo isso faz mais urgente a educação para a paz. Os jovens
cristãos são estimulados e enviados pelo Papa das JMJ para «serem construtores de paz no
novo milênio», no mundo de hoje, particularmente necessitado de paz
454
. Por isso, na aurora
do terceiro milênio, fazendo uma retrospectiva dos lamentáveis messianismos secularizantes,
ele convocou os jovens a dizer não ao ódio, à violência, à destruição e os enviou para
defender a paz e a vida no novo milênio:
No decorrer do século que morre, jovens como vós fostes convocados em
reuniões oceânicas para aprender a odiar, viestes combater uns contra os
outros. Os diversos messianismos secularizantes, que tentavam substituir a
esperança cristã, revelaram-se depois verdadeiros e particulares infernos.
Hoje vós sois convocados para refletir que no novo século não sereis
instrumento de violência e destruição; defendereis a paz, pagando também
pessoalmente se necessário. Não vos conformeis com um mundo, no qual
outros seres humanos morrem de fome, permanecem analfabetos, falta
trabalho. Defendereis a vida em cada momento de seu desenvolvimento
terreno, esforçai-vos com toda energia para fazer esta terra sempre mais
habitável para todos
455
.
Mas, depois da convocação e envio, o Papa dolorosamente fala aos jovens acerca
dos dois cenários contrastantes do mundo no início do terceiro milênio:
O novo milênio inaugurou-se com dois cenários contrastantes: aquele da
multidão de peregrinos vindos a Roma no Grande Jubileu para atravessar a
Porta Santa; e aquele do terrível atentado terrorista de New York, ícone de
um mundo no qual parece prevalecer a dialética da inimizade e do ódio
456
.
Apesar de mostrar-se pesaroso com as adversidades (o terrorismo, a dialética da
inimizade e o ódio) e o cenário contrastante do novo milênio, o «Grande Jubileu», de um
lado, e o «atentado terrorista de New York», de outro, o Papa também estava muito otimista. O
seu otimismo devia-se à crescente tomada de consciência das pessoas acerca da
451
Id. «Discorso nell´incontro con i giovani della Diocesi di Roma in preparazione alla GMG» (10 apr. 2003) n.
6. Em DWVE.
452
Ibid.
453
Cf. Ibid.
454
Cf. Id. «Discorso nella Veglia di Preghiera degli Universitari» (15 mar. 2003), n. 1. Em DWVE.
455
Id. «Discorso nella veglia a Tor Vergata» (19 ago. 2000), n. 6 (trad. do it.). Em DWVE.
456
Id. «Discorso nella Veglia con i giovani» (27 lug. 2002), n. 2 (trad. do it.). Em DWVE.
Referências bibliográficas
impossibilidade de continuar vivendo divididas no mundo hodierno. Nesse cenário complexo,
os jovens são estimulados a trabalhar criativamente pela unidade do mundo no cotidiano da
vida. Eis as linhas fundamentais da mensagem aos jovens:
Estamos no início de um novo milênio: é uma época importante para o
mundo, porque na alma das pessoas está difundindo a convicção de que não
é possível continuar vivendo assim divididos. Infelizmente, se, de um lado,
as comunicações tornam cada dia mais fáceis, de outro, as divergências
crescem de modo realmente dramático. Encorajo-vos a trabalhar por um
mundo mais unido e a fazê-lo no cotidiano da vida, dando-lhe a contribuição
criativa de um coração renovado
457
.
Os jovens deste século na aurora do milênio viveram (e ainda vivem) os
tormentos derivados do pecado, do ódio, da violência, do terrorismo e da guerra. Mas a Igreja
deposita olhar de confiança e «esperança»
458
neles. Ela está convicta de que, com a ajuda da
graça de Deus, eles serão as testemunhas do Evangelho no hoje da história, anunciadores
intrépidos da Paz
459
e da unidade entre os cristãos.
O empenho dos jovens pela paz busca restabelecer a cooperação entre as nações e
harmonizar os interesses diversos e contrastantes de culturas e instituições. Trata-se da
comum consciência de pertencer à única família humana. Mas somente empenhando para
construir a paz sobre os quatro pilares da verdade, da justiça, do amor e da liberdade, será
possível promover a cooperação entre as nações e harmonizar os interesses diversos e
contrastantes de culturas e instituições
460
.
A construção da paz no mundo hodierno implica antes de tudo viver na verdade.
Os jovens, como foram estudados na segunda parte, são seres que se interrogam acerca do
sentido da vida e da história. Buscar respostas a tais questões exige deles uma retidão de
pensamento e de ação, de respeito e de diálogo com os outros. Ter, em primeiro lugar, uma
relação verdadeira com Deus que implica conversão pessoal e abertura ao seu mistério. O ser
humano compreende si mesmo em relação a Deus, plenitude de verdade, de beleza e de
bondade
461
.
457
Id. «Discorso ai giovani Universitari di Roma» (23 sett. 2001), n.6 (trad. do it.). Em DWVE.
458
Em muitos textos, o Papa fala dos jovens como «esperança da Igreja e do mundo»: «Discorso ai giovani della
Diocesi di Roma in preparazione alla XIX GMG» (1 apr. 2004), n. 3. Em DWVE; «Discorso ai giovani» (3 mag.
2003), n. 1. Em DWVE; «Discorso durante la cerimonia di accoglienza in San Pietro» (15 ago. 2000), n. 4. Em
DWVE; «Discorso durante la cerimonia di accoglienza» (15 ago. 2000). Em DWVE. E outros.
459
Id. «Discurso no encontro com os jovens de Roma em preparação para a XVII JMJ, 2002». Em DWVEP.
460
Cf. Id. «Discorso nell´incontro con i giovani della Diocesi di Roma in preparazione alla XVIII GMG» (10 apr.
2003) n. 6. Em DWVE.
461
Cf. Id. «Discorso ai partecipanti al meeting internazionale UNIV-2003» (14 apr. 2003) nn. 3-5. Em DWVE.
Referências bibliográficas
A verdade vem conjugada à justiça e ao respeito pela dignidade de cada pessoa
humana. Sabemos, porém, que sem amor sincero e desinteressando a justiça não asseguraria
ao mundo a paz. A paz verdadeira emerge quando no coração são vencidos o ódio, o rancor e
a inveja; quando se diz não ao egoísmo e a tudo quanto estimula o ser humano ao fechamento
sobre si mesmo e à defesa de seus próprios interesses
462
.
Com amor semeia-se nos seres humanos a paz, não a do mundo, mas a verdadeira
que a em Cristo pode dar, essa os jovens querem construir
463
. Se o amor, como sinal
distintivo dos discípulos de Cristo, traduz-se em gestos de serviço gratuito e desinteressado,
em palavras de compreensão e de perdão, a onda pacificadora do amor alarga-se e se estende
até o interesse por toda a comunidade humana. Assim compreende-se melhor o quarto pilar da
paz: a liberdade. O reconhecimento dos direitos da pessoa e dos povos e o livre dom de si no
responsável cumprimento dos deveres que competem a cada um no próprio estado de vida
464
.
Os jovens de paz são construtores de um mundo «pacificado» e «pacificador». A
missão do cristão consiste em vencer o mal com a superabundância do bem. Não se trata de
fazer campanhas negativas nem de ser anti-alguma coisa. Ao contrário, trata-se de viver de
afirmações, plenas de otimismo, com juventude, alegria e paz, de olhar a todos com
compreensão. Seguindo tais ensinamentos, os jovens acolhem a paz de Cristo no coração e
difundi-la em cada ambiente (família, escola, esporte e outros) constitui a missão mais
sublime e urgente que o Papa confiou-lhes nas JMJ
465
. Assim, eles se mostram como
protagonistas do Reino de Deus, Reino de «Justiça, paz e alegria no Espírito Santo» (Rm
14,17).
O seguinte discurso do Papa aos jovens do SERMIG, no qual ele os define como
artífices de unidade e os convida a consagrarem a vida pela causa paz, sintetiza
magistralmente o percurso que fizemos até aqui. E nos introduz na questão da unidade dos
cristãos e na mensagem do Papa aos jovens acerca da construção da civilização do amor:
Caros jovens do SERMIG, a (...) vossa ‹Carta dos jovens› (...) estimula-vos a
serdes artífices de unidade entre as culturas e religiões diversas, através de
gestos concretos de solidariedade, como aqueles que estão realizando no
Oriente Médio. Prosseguir neste caminho: consagrar a vida pela causa da
paz. O Papa olha-vos com confiança e (...) encoraja-vos a (....) escrever uma
página de história dos jovens para os jovens, onde as novas gerações surjam
462
Cf. Id. «Discorso ai partecipanti all´incontro promosso dal SERMIG» (22 dic. 2000), n. 4. Em DWVE.
463
Cf. Ibid.
464
Cf. Id. «Discorso ai partecipanti al metting internazional UNIV-2003» (14 apr. 2003), nn. 3-5. Em DWVE.
465
Cf. Ibid.
Referências bibliográficas
como protagonistas apaixonados de uma fecunda estação da civilização do
amor
466
.
2.4. A unidade dos cristãos como empenho ecumênico
Quando se fala em unidade, evoca-se com sofrimento a atual condição humana de
separação entre os cristãos. Por isso, o ecumenismo mostra-se como uma das tarefas
prioritárias e mais urgentes da comunidade cristã. O Papa, plenamente consciente da
separação e empenhado na promoção da unidade entre os cristãos, mostra que tal unidade não
é fruto de esforços humanos, mas, sobretudo, graça e dom do Espírito Santo. Ele também
convida os jovens, citando a Tertio millennio adveniente n. 34, a examinarem a própria
consciência e lhes confia, como compromisso e tarefa, as iniciativas ecumênicas no término
do segundo milênio:
Neste crepúsculo do milênio, a Igreja deve dirigir-se com prece mais
constante ao Espírito Santo, implorando-Lhe a graça da unidade dos
cristãos (...) Mas todos nós estamos conscientes de que a obtenção dessa
meta não pode ser fruto apenas de esforços humanos, embora indispensáveis.
A unidade é, em última análise, dom do Espírito Santo (...) A aproximação
do fim do segundo milênio impele todos a um exame de consciência e a
oportunas iniciativas ecumênicas. Confio também a vós, estimados jovens,
essa preocupação e essa esperança como compromisso e tarefa
467
.
E, neste início do terceiro milênio, torna-se mais urgente o dever de reparar o
escândalo da divisão entre os cristãos, reforçando a unidade através da oração, do diálogo e do
testemunho. Não se trata de ignorar as divergências e os problemas, contentando-se com um
relativismo morno, isso seria como tapar a ferida sem curá-las, com o risco de interromper o
caminho antes de se ter chegado à meta da plena comunhão. Trata-se, pelo contrário, de agir
guiado pelo Espírito Santo em vista de uma real reconciliação, confiando na eficácia da
oração pronunciada por Jesus na véspera da Sua Paixão: «Eu lhes dei a glória que me deste
para que sejam um, como nós somos um» (Jo 17, 22)
468
.
A oração é a «alma de todo o movimento ecumênico», afirma o Papa
469
. Ela
forças para manter os grandes ideais e a fé, coragem para sair da indiferença e da culpa, a luz
para ver e para considerar os acontecimentos da própria vida e da história na prospectiva
salvífica de Deus e da eternidade. A oração não é dever, mas também diálogo com Deus
466
Id. «Discorso ai partecipanti all´incontro promosso dal SERMIG» (22 dic. 2000), n. 3 (trad. do it.). Em
DWVE.
467
Id. «Mensagem para a XIII JMJ, 1998» (30 nov. 1997), n. 6. Em DWVEP.
468
Cf. Id. «Mensagem para a XII JMJ, 1997» (15 ago. 1996), n. 5. Em DWVEP.
469
Id. «Discurso ai ragazzi e ai giovani riuiniti nella Basilica Vaticana» (17 gen. 1979). Em DWVE.
Referências bibliográficas
por meio de Jesus Cristo
470
. O Papa, saudando e agradecendo os jovens de outras tradições
religiosas, mostra-nos a necessidade da oração e do empenho pela promoção da unidade:
O meu pensamento dirige-se, enfim, aos jovens de outras Igrejas e
Comunidades eclesiais, que estão aqui, esta noite, juntos, e alguns dos seus
Pastores: seja a JMJ uma ocasião ulterior de recíproco conhecimento e de
comunhão de oração ao Espírito Santo para implorar o dom da plena
unidade
471
. Agradeço aos jovens que me saudaram em vosso nome.
Pertencentes a confissões cristãs diversas, mas, todos juntos querem colocar-
se a escuta do único Senhor e caminhar para Ele: que a vossa presença aqui
seja um sinal do vosso empenho comum a participar, com a graça de Cristo,
da promoção da plena unidade visível entre todos os cristãos
472
.
Com isso, o Papa conscientiza os jovens de que «a pertença a tradições religiosas
diferentes não deve constituir hoje fonte de oposição ou de tensão. Ao contrário, o amor de
Cristo que nos é comum nos impulsiona a procurar sem descanso o caminho da plena
unidade»
473
. A oração deve ser contínua e fervorosa para agradecer ao Senhor, que suscitou
entre todos os cristãos o desejo da unidade, descobrir o que temos em comum com «os irmãos
separados» e chegar à perfeita unidade, desejada pelo Senhor na sua oração ao Pai: «a fim de
que todos sejam um. Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles estejam em nós, para
que o mundo creia que tu me enviastes» (Jo 17, 21).
Em poucas palavras: a «oração pela unidade dos cristãos» visa pedir ao Senhor a
graça da recomposição da unidade de todas as Igrejas cristãs e de chegar finalmente a um
rebanho sobre um só Pastor (cf. Jo 10, 16).
As «ações falam mais forte do que palavras», disse o Papa
474
. Por isso, os cristãos,
além da oração, precisam fazer concretamente todo o possível na caridade e na verdade (cf.
Col 4, 15-16) para chegar à unidade plena. Quanto mais «os cristãos se agarrarem a Jesus»,
mais serão capazes de estar próximos uns dos outros; e na medida em que «cumprirem gestos
concretos de reconciliação», eles entrarão na intimidade do Seu amor, afirma o Papa
475
.
Em obediência à vontade de Cristo, «que todos sejam um» (Jo 17, 21a), a Igreja
católica instaurou fraternas relações com as outras Igrejas e confissões cristãs. A esse
propósito, o Papa procurou conscientizar os jovens de que existe «um diálogo teológico
470
Cf. Id. «Discorso ai ragazzi e ai giovani in San Pietro» (14 mar. 1979), n. 3. Em DWVE.
471
Id. «Discorso durante la cerimonia di accoglienza» (15 ago. 2000) (trad. do it.). Em DWVE.
472
Id. «Discorso nell´incontro con i giovani nella Cattedrale Greco-Cattolica di Damasco» (7 magg. 2001), n. 1
(trad. do it.). Em DWVE.
473
Id. «Discorso per la veglia battesimale con i giovani» (23 ago. 1997) (trad. do it.). Em DWVE.
474
Id. «Discorso agli studenti della «High Shool» nel Madison Square Garden» (3 ott. 1979), n. 3 (trad. do it.).
Em DWVE.
475
Cf. Id. «Mensagem para a XII JMJ, 1997» (15 ago. 1996), n. 5. Em DWVEP.
Referências bibliográficas
entre a Igreja católica e as Igrejas ortodoxas de tradição bizantina», a fim de eliminar as
dificuldades que ainda impedem a «concelebração eucarística». E «Há muito tempo estão em
curso diálogos também com os irmãos separados anglicanos, luteranos, metodistas e
reformados». Além do mais, esses temas «no passado constituíam profundas divergências, se
tornaram hoje consoladores pontos de encontro». Foram, em outras palavras, instituídas
amigáveis e frutuosas relações com o «Conselho Ecumênico das Igrejas e com outras
organizações interrconfessionais». No entanto, o caminho da unidade entre os cristãos exige
tempo: devemos por isso acelerar o passo para chegar à meta muito almejada pelo Senhor da
Unidade, Jesus Cristo
476
.
urgente necessidade de os cristãos reconhecerem a herança comum: a
cooperação, o amor mútuo, o serviço recíproco. Com isso, eles conhecerão melhor uns aos
outros e, juntos, encontrarão caminhos para superar as divergências
477
; promoverão o respeito
à dignidade, à vida e aos direitos da pessoa humana; enfatizarão a abertura ao transcendente e
às dimensões do espírito
478
, vivendo a colaboração e responsabilidade pelo Evangelho
479
no
mundo.
A mensagem do Papa aos jovens acerca do dever missionário de protagonizar o
ecumenismo, a união dos cristãos, resume-se em dois magníficos textos. No primeiro, o Papa
mostra de modo claro o percurso que fizemos nessa breve exposição sobre a unidade dos
cristãos, na qual fala da busca da unidade, como dever da Igreja, das suas etapas, dos seus
elementos fundamentais, dos esforços e finalmente a vê como um dom de Cristo a sua Igreja:
Considero a obra da unidade dos cristãos um dos maiores e mais
entusiasmantes dever da Igreja no nosso tempo. Vós quereis saber se espero
essa unidade e como a imagino (...) aqui vejo uma chamada particular do
Espírito Santo. Por isso, no que se refere a sua realização, as diversas etapas
dessa realização, nós encontramos no ensinamento do Concílio todos os
elementos fundamentais. São estes que devemos realizar, procurar as suas
aplicações concretas e, sobretudo, rezar sempre com fervor, constância e
humildade. A união dos cristãos pode realizar-se com uma maturação
profunda na verdade e uma conversão constante dos corações. Devemos
fazer tudo segundo a nossa capacidade humana, reexaminando todos os
processos históricos que duraram séculos. Mas, definitivamente, esta união
pela qual não devemos economizar os nossos esforços, nem as nossas
fadigas será o dom de Cristo a sua Igreja, como é um dom seu o fato de
ter começado o caminho da unidade
480
.
476
Cf. Ibid.
477
Cf. Ibid. «Discorso ai ragazzi e ai giovani riuiniti nella Basilica Vaticana» (17 gen. 1979). Em DWVE.
478
Cf. Id. «Mensagem para a VIII JMJ, 1993» (15 ago. 1992), n. 1. Em DWVEP.
479
Cf. Id. «Omelia nella concelebrazione eucaristica con i vescovi d´Europa nella Cappella Sistina» (20 giu.
1979) n.4. Em DWVE.
480
Id. «Veglia con i giovani nel Parc Des Princês, Parigi-Francia» (1 giug. 1980), n. 14 (trad. do it.). Em DWVE.
Referências bibliográficas
O segundo texto mostra-nos explicitamente o fundamento e o fulcro da mensagem
do Papa aos jovens, da unidade dos cristãos: Jesus Cristo. Não existe nenhum outro mestre
capaz de fundamentá-la no mundo contemporâneo:
Pensem: qual voz, qual mestre do pensamento pode fundar a unidade entre
os homens e as nações, senão aquele que, dando a sua própria vida, obteve
para todos nós a adoração a filhos do mesmo Pai? É exatamente esta a
filiação divina, conquistada por Cristo sobre a Cruz e realizada com o
convite de seu Espírito nos nossos corações, o único fundamento sólido e
indestrutível da unidade de uma humanidade redimida
481
.
Os jovens unidos entre si encontram força para lutar pela unidade: nessa
construirão a paz de Cristo. Ela é uma grande realidade nas JMJ, nas quais se mostra como
unidade na diversidade autenticamente católica. Eles representam grupos diversos com
finalidade específicas, mas são um no nome e na paz de Jesus, no ideal do serviço cristão, no
perseguir a justiça e no proclamar a verdade da igual dignidade de todo gênero humano. Eles
vêm de diversos grupos étnicos e se reúnem nas JMJ, isso demonstra que eles rejeitam toda
forma de preconceito e de discriminação baseada na raça, na origem, na cor, na cultura, no
sexo e/ou na religião
482
, porque querem construir a paz de Cristo na Civilização do Amor.
3. Construir a civilização do amor: encarnação histórica do Reino
3.1. A cultura efêmera de morte
A «cultura da morte» procura impor-se ao desejo de viver plenamente. os que
rejeitam a luz da vida, preferindo os «estéreis trabalhos das trevas». Colhem injustiça,
discriminação, exploração, impostura, violência. Em todas as épocas, a medida de seu
aparente sucesso mostra-se «a morte de inocentes», afirma o Papa
483
.
No século passado, como em nenhum outro momento da história, a «cultura da
morte» assumiu forma social e institucional de legalidade para justificar crimes horríveis
contra a humanidade, tais como: o genocídio, as ‹soluções finais›, as ‹limpezas étnicas›, e a
extinção em massa de vidas de seres humanos mesmo antes de nascerem ou de chegarem ao
momento natural de morrer. Amplos setores da sociedade estão hoje confusos sobre o que é
481
Id. «Discorso a seimila studenti universitari provenienti da tutto il mondo» (10 apr. 1979) (trad. do it.). Em
DWVE.
482
Cf. Id. «Discorso ai giovani nel Sidney Cricket Ground» (25 nov. 1986), n. 4. Em DWVE.
483
Cf. Id. «Homilia para a VIII JMJ» (15 ago. 1993). Apud T. SZULC. João Paulo II: bibliografia. Rio de
Janeiro: Francisco Alves, 1995, p. 406.
Referências bibliográficas
certo e o que é errado, e permanecemos à mercê dos que têm o poder de ‹criar› opinião e
impô-la aos outros
484
.
Na hodierna cultura de morte, Cristo tantas pessoas jovens jogando a vida fora
numa fuga para as irresponsabilidades e para a falsidade. Abuso de drogas e de álcool,
pornografia e desordem sexual, violência são graves problemas sociais que exigem resposta
da sociedade, dentro de cada país e no plano internacional. O Papa apresenta explicitamente
tais problemas e outros, como fruto da «crise de valores» e da «perniciosa crise de
identidade» vigentes na sociedade. E, também, convida os jovens a combatê-los com a força
de Cristo ressuscitado:
Todavia, a sombra da assustadora crise atual de valores que agita o mundo
ameaça também a juventude (...). Difunde-se uma perniciosa crise de
identidade, que leva o jovem a viver sem sentido, sem rumo, nem projeto
para o futuro, asfixiado pelo que é imediato. Impõem-se o relativismo, a
indiferença religiosa e a falta de se render aos ídolos da sociedade de
consumo, fascinado pelo brilho fugaz (...). Diante disso, as estruturas
públicas (...) têm [que] despertar uma notável solicitude [nos jovens] pela
busca da verdade, pela defesa da beleza, e pela salvação da bondade. (...)
Jovens combatei com a força de Cristo ressuscitado, para não cair na
tentação das várias formas de fuga do mundo e da sociedade; para não
sucumbir perante a ausência de aspirações, que leva à autodestruição da
própria personalidade mediante o alcoolismo, a droga, os abusos sexuais e a
prostituição, a busca contínua de novas sensações e o refúgio em seitas,
cultos espiritualistas alienantes ou grupos totalmente alheios à cultura e à
Tradição da vossa Pátria
485
.
A cultura de morte manifesta-se, na ótica do Papa, como fruto da «cultura
tecnológica», na qual as pessoas são usadas para dominar a matéria, descobrir-lhe as leis e
mecanismos, para transformá-la conforme os próprios desejos. Surge, assim, o perigo de se
querer manipular a consciência e suas exigências. Para a cultura de morte, nada é absoluto.
Ela sustenta a impossibilidade de verdade universalmente válida; a bondade objetiva e o mal
não têm a menor importância. O bem consiste no que é bom e útil em determinado momento,
o mal é o que contraria os desejos subjetivos. Cada pessoa jovem pode construir um sistema
particular de valores
486
.
A espalhada cultura do efêmero, que atribui valor ao que agrada e parece belo,
quer fazer os jovens acreditarem que para ser feliz precisam eliminar a cruz. Apresentam-se
como ideal o sucesso fácil, a carreira pida, a sexualidade desvinculada do sentido de
responsabilidade, a existência centrada na afirmação do próprio eu, sem respeito ao próximo.
484
Ibid.
485
Id. «Mensagem aos jovens cubanos» (23 jan.1998) n. 2. Em DWVEP.
486
Cf. Id. «Homilia para a VIII JMJ» (15 ago. 1993). Apud: T. SZULC, op. cit., p. 407.
Referências bibliográficas
Daí a alerta do Papa «estimados jovens, abri bem os olhos: este não é o caminho que faz
viver, mas a estrada que faz precipitar na morte»
487
. Jesus abre-nos o «caminho da vida», que
é ameaçado constantemente pela «senda da morte»
488
. Noutra ocasião, Ele orienta os jovens
acerca do perigo das falsas ilusões e soluções, denunciando severamente as ofertas da cultura
efêmera e de morte:
Jovens, não cedais a falsas ilusões nem a modas efêmeras, que muitas vezes
deixam um trágico vazio espiritual! Recusai as soluções do dinheiro, do
consumismo e da violência dissimulada que por vezes os meios de
comunicação propõem
489
. São efêmeras as satisfações ofertadas pelo
hedonismo superficial e como deixa um vazio na alma; quanto seja ilusório
fechar-se na couraça do próprio egoísmo; como a indiferença e o ceticismo
contradizem os sublimes anéis de amor sem fronteira; como as tentações...
da violência e das ideologias negadoras de Deus levam a vínculos
cegos
490
.
Diante da senda da morte e suas ofertas efêmeras, o Papa estimula os jovens a
anunciarem o caminho da vida, da felicidade, da paz, do domínio e da alegria, vivendo a fé e a
conversão no seguimento de Cristo em todas as circunstâncias:
O ‹caminho da vida›, que retoma e renova as atitudes de Jesus, torna-se a
senda da e da conversão. Precisamente, a verdade da cruz. É o caminho
que leva a confiar n`Ele e no seu desígnio salvífico, a acreditar que Ele
morreu para manifestar o amor de Deus por cada pessoa; é a estrada da
salvação no meio de uma sociedade, com freqüência, fragmentária, confusa e
contraditória; é o caminho da felicidade de seguir Cristo até ao fim, nas
circunstâncias não raro dramáticas da vida cotidiana; é a vereda que não tem
fracassos, dificuldades, marginalizações nem solidões, porque impregna o
coração humano com a presença de Jesus; é a via da paz, do domínio de si
próprio e da profunda alegria do coração
491
.
Essa mensagem cristocêntrica do Papa aos jovens mostra, em suas próprias
palavras, a necessidade de «edificar estruturas sociais mais dignas do homem e de cada
homem, ao promover e defender a cultura da vida contra qualquer ameaça de morte»
492
. Ou
seja, é preciso «promover uma cultura integral, que tenda ao desenvolvimento completo da
pessoa humana, na qual ressaltem os valores da inteligência, da vontade, da consciência, da
fraternidade, todos baseados no Deus Criador e que foram maravilhosamente exaltados em
Cristo»
493
. Construir a cultura da vida/integral, exige «um novo humanismo (...). Ela convida a
487
Id. «Mensagem para o XVI DMJ, 2001» (14 fev. 2001) n. 6. Em DWVEP; Cf. «Discurso aos Jovens de
Roma» (2 abr. 1998). Em DWVEP.
488
Cf. Id. «Mensagem para o XVI JMJ, 2001» (14 fev. 2001), n. 5. Em DWVEP.
489
Id. «Mensagem para a XX JMJ, 2005» (6 ago. 2004) n. 5. Em DWVEP.
490
Id. «Messaggio per la II JMJ, 1987» (30 nov.1986), n. 2. Em DWVE.
491
Id. «Mensagem para a XVI DMJ, 2001» (14 fev. 2001), n. 5. Em DWVEP.
492
Id. «Messaggio per la VIII GMG, 1993» (15 ago. 1992), n. 5 (trad. do it.). Em DWVE.
493
Id. «Omelia per gli universitari romani» (5 apr. 1979), n. 5. Em DWVE.
Referências bibliográficas
desenvolver e incrementar o rico patrimônio científico da humanidade segundo um projeto
que ponha no centro o homem», disse o Papa
494
.
Desenvolve-se, assim, uma cultura da pessoa para a pessoa; cultura densa de
valores, atraída pelo esplendor da Verdade, Evangelho de vida para o ser humano de todos os
tempos, que se difunde e impregna os campos do saber, nas formas de vida e de costume, no
correto ordenamento da sociedade. A ordem dos valores éticos, em última análise, tem função
de primordial em todas as culturas
495
. A Civilização do Amor defende e promove os grandes
valores religiosos, culturais e morais (a vida, o amor, a paz, o bem comum, a dignidade da
pessoa humana e do mundo criado) e nega os antivalores. Continuaremos com a descrição da
natureza e os princípios da Civilização do Amor.
3.2. Descrição da natureza da Civilização do Amor
Os jovens atuais são desafiados a assumir a causa do Reino, a construir, na Igreja,
na sociedade e no universo de seus coetâneos a Civilização do Amor. Mas em que consiste a
Civilização do Amor? Ela é fundamentalmente a mensagem Evangélica, proposta sem
qualquer socialismo nem sentimentalismo, como convite capaz de encarnar historicamente o
mistério do Reino inaugurado por Cristo e atuado pelos crentes, em particular pelos jovens.
A Civilização do Amor não é um novo partido político dos jovens cristãos nem a
hegemonia da Igreja sobre os povos
496
. Paulo VI define-a como «conjunto de condições
morais, civis, econômicas, que permitem à vida humana melhor condição de existência,
plenitude racional, um feliz destino eterno»
497
. João Paulo II, por sua vez, apresenta os
princípios de tal civilização, «princípios de um mundo novo»: «a verdade, o bem, o respeito
pela dignidade do homem»
498
, «paz, solidariedade, justiça e liberdade, que encontram em
Cristo sua plena realização»
499
.
A Civilização do Amor mostra-se também como chamado a reconhecer que o
Reino de Deus cresce no mundo entre os povos e nações. Embora seja pequeno como grão de
494
Id. «Homilia durante a santa missa para os universitários em preparação para o Natal e o grande Jubileu» (14
dez. 1999), n. 3. Em DWVEP.
495
Cf. Id. «Homilia durante a missa para os universitários romanos» (16 dez. 1997), n. 5. DWVEP.
496
CONSELHO EPISCOPAL LATINO-AMERICANO. Pastoral da juventude: sim à civilização do amor. São
Paulo: Paulinas, 1987, p. 97.
497
PAULO VI. «Discurso de encerramento do Ano Santo» (25 dez. 1975). Em DWVE.
498
GIOVANNI PAOLO II. «Discorso ai giovani nello Stadio Gerland» (5 ott. 1986), n. 21 (trad. do it.). Em
DWVE.
499
Id. Carta Apost. Tertio Millennio Adveniente, 52. São Paulo: Loyola, ²1997.
Referências bibliográficas
mostarda, torna-se árvore em cujos ramos os pássaros farão seus ninhos (Mt 13,31-32). Ela se
constitui como compromisso criador que transforma os jovens em construtores ativos de
novos modos de convivência e de relações humanas. É o amor a serviço da vida e uma visão
do mundo a partir do Evangelho
500
. Nessa ótica evangélica, o Papa alertou firmemente os
jovens: «prestem atenção ao que vos é proposto. Quando vos propõem palavras e modos de
viver antievangélicos, tenham força para dizer não»
501
.
A Civilização do Amor manifesta-se também como esforço sério de todo o povo
de Deus para viver o Evangelho de Jesus Cristo no âmbito pessoal e no corpo social. Ela crê
que o estilo de vida inaugurado por Jesus e proclamado nas bem-aventuranças é o mais
humano e atual. Então, ela não é ideologia, é cosmovisão, estilo novo de vida proposto pelo
Papa aos jovens dos cinco Continentes nas JMJ. É antigo, porque inspirado na palavra e na
pessoa de Jesus; e atual, porque corresponde às necessidades vigentes na sociedade. Como
estilo novo, questiona o jovem crente e é proposto igualmente ao não crente. É pessoal,
porque leva o jovem a viver como pessoa nova; e social, porque procura encarnar-se na
própria vivência do povo.
Em poucas palavras: a Civilização do Amor consiste na construção de «nova
humanidade» e de «mundo novo», na encarnação histórica do Reino. Civilização fundada
sobre o amor, o perdão, a luta contra a injustiça e toda a miséria física, moral, espiritual e
sobre a orientação da política, da economia, da cultura e da tecnologia a serviço do ser
humano e do seu desenvolvimento integral. Para construir tal Civilização, os jovens são
convidados a tomar posição contra tudo quanto avilta a pessoa humana, porque Cristo,
princípio fundamental, revelou o amor do Pai por todas as criaturas
502
.
3.3. Princípios da Civilização do Amor
Afirmamos que o novo milênio inaugurou-se com dois cenários contrastantes.
Disso segue as questões dramáticas formuladas pelo próprio Papa, em discurso aos jovens em
Toronto (2002): sobre qual fundamento construir a nova época histórica? Será suficiente
apostar na revolução tecnológica em curso, sem referência à dimensão religiosa do ser
humano e discernimento ético universalmente válido? Basta colher as respostas provisórias
aos problemas de fundo e deixar a vida permanecer sob o domínio dos impulsos instintivos,
500
Cf. LUCAS, M. Os jovens e a grande primavera da Igreja. São Paulo: Paulus, 1998, p. 67.
501
GIOVANNI PAOLO II. «Discorso ai giovani della Diocesi di Roma» (5 apr. 2001), n. 4 (trad. do it.). Em
DWVE.
502
Cf. Id. Mensagem do Papa João Paulo II... op.cit., n. 3.
Referências bibliográficas
das sensações e entusiasmos passageiros? A questão de fundo retorna: sobre quais bases,
quais certezas edificar a própria existência e a comunidade humana?
503
Quanto ao fundamental para construir a existência, o Papa, dialogando com os
jovens amigos na vigília de oração em Toronto, responde que Cristo é a «pedra angular»:
Caros amigos, vós o escutastes instintivamente dentro de vós, no
entusiasmo dos vossos jovens anos, e o afirmastes com a vossa
presença aqui esta noite: Cristo é a pedra angular sobre a qual é
possível construir solidamente o edifício da própria existência.
Cristo, conhecido, contemplado e amado é o amigo fiel que não
desilude, que se faz companheiro de estrada e as palavras aquecem o
coração (cf. Lc 24, 13-35)
504
.
O século XX pretendeu ignorar ou rejeitar a «pedra angular», tentando construir a
cidade humana sem fazer referência a Cristo e terminou por edificá-la contra os seres
humanos. A expectativa que a humanidade vai cultivando, entre tantas injustiças e
sofrimentos, consiste na construção de nova civilização, na qual reinem a paz, a liberdade, a
verdade e o amor. Isso exige necessariamente nova geração de construtores, que não são
movidos pelo medo nem pela violência, mas pela urgência de autêntico amor, sabendo colocar
pedra sobre pedra o edificar, na cidade humana, a cidade de Deus. Os construtores são os
jovens
505
.
A ação evangelizadora da Igreja tem como finalidade fazer a mensagem de Cristo
penetrar no coração de cada pessoa humana e de todos os povos. Por isso, Ele é «o princípio
da construção de uma civilização do amor»
506
, «é a coluna-mestra de um mundo novo»
507
.
Além dessas duas afirmações do Papa acerca do princípio fundante da Civilização do Amor e
da existência humana, o seu convite aos jovens para participarem da JMJ em Roma mostra
que a construção da Civilização do Amor no novo milênio implica referência a Cristo e
vivência de seu Evangelho:
Caríssimos jovens, este vosso encontro itinerante, que tocou lugares e temas
sugestivos da fé, pode ser considerado como uma antecipação da JMJ que, se
Deus quiser, será aqui em Roma no próximo ano. A ela, sim, hoje, vos
convido todos a participar. No coração do Ano Santo de Dois mil, ela será de
fato uma extraordinária ocasião para vós jovens: Cristo vos quer seus
503
Id. «Discorso nella veglia di preghiera con i giovani» (Toronto, Downsview Park, 27 lug. 2002), n. 3 (trad. do
it.). Em DWVE.
504
Id.
505
Cf. Ibid. n. 4.
506
Id. «Discorso ai segretari regionali della gioventù studentesca cattolica internazionale ed ai membri del
comitato direttivo del movimento internazionale degli studenti cattolici» (16 genn. 1981), n. 2. Em DWVE.
507
Id. «Homilia na santa missa para os estudantes dos ateneus romanos» (11 dez. 2001) n. 5. Em DWVE.
Referências bibliográficas
colaboradores para construir o novo milênio, segundo o seu universal
desígnio de salvação. Viver o Evangelho é certamente uma tarefa exigente;
mas só com Cristo é possível edificar eficazmente a civilização do amor
508
.
Os jovens construtores da Civilização do Amor pressentem Cristo como princípio
fundante da nova Civilização. Eles desejam, continua o Papa, apresentando outros quatro
princípios da Civilização do Amor, «ser a vanguarda de um impulso para a fraternidade
humana, para a paz, a justiça e a verdade», expressos particularmente na «solidariedade» com
os pequenos, os pobres, os oprimidos
509
.
Num mundo onde parece prevalecer a lógica do proveito e do interesse pessoal ou
de grupo
510
, a solidariedade cristã não é apenas uma virtude em si mesma, mas atitude
espiritual para a qual convergem diversas virtudes, particularmente a justiça e o amor. A
justiça reduz as diferenças, elimina as discriminações, assegura as condições para o respeito
da dignidade da pessoa. A alma gêmea da justiça é a caridade, que se explicita como serviço
à pessoa, abarcando todas as dimensões da existência humana. A primeira e fundamental
contribuição de cada crente na construção da civilização do amor consiste na encarnação fiel
do Evangelho na própria vida. Construir a Civilização do Amor é encarnar historicamente o
Reino. Quem busca sem reservas construir tal Civilização contribui eficazmente para a
difusão do bem no mundo inteiro. O modo concreto e ao alcance de todos é serem apóstolos
do Evangelho e artífices de nova humanidade
511
.
Mas, segundo o Papa, o futuro dos jovens, do mundo e da humanidade depende
diretamente da solidariedade: «É a solidariedade que salvará o futuro dos jovens, ajudando-os
a crescer em harmonia. Salvá-los-ão a luta corajosa e tenaz contra o individualismo e as
lógicas da exploração. A solidariedade salvará o futuro do mundo e da humanidade»
512
. Ele
evidencia também a força educativa da solidariedade para os jovens: «A solidariedade com
quem é menos favorecido abre o coração às grandes exigências da humanidade. Nos pobres e
necessitados, pode-se conhecer o rosto de Jesus»
513
.
Assim a construção da Civilização do Amor, encarnação histórica do Reino, na
ótica do Papa, implica também «opção preferencial pelos pobres». Não se trata de opção
exclusiva, mas, sim, de «opção preferencial». Jesus convida-nos a amar os pobres, porque a
508
Id. «Discorso ai giovani verso Assisi», s.d., n. 4 (trad. do it.). Em DWVE.
509
Cf. Id. «Discorso ai segretari regionali della gioventù studentesca cattolica internazionale ed ai membri del
comitato direttivo del movimento internazionale degli studenti cattolici» (16 genn. 1981), n. 2. Em DWVE.
510
Id. «Veglia di preghiera a Tor Vergata» (19 ago. 2000), n. 4. Em DWVE.
511
Id. «Discorso all`UNIV-1999» (30 mar. 1999), n. 3. Em DWVE.
512
Id. «Discorso ai giovani universitari italiani e stranieri presenti a Perugia» (26 ott. 1986), n. 3. Em DWVE.
513
Id. «Messaggio all´opera della santa infanzia missionaria» (6 gen. 2003). Em DWVE.
Referências bibliográficas
eles se deve atenção particular, por causa da sua vulnerabilidade. Eles crescem
numericamente nos países ricos e pobres, mas «os bens deste mundo são destinados a
todos»
514
.
Toda situação de pobreza interpela a caridade do cristão, como empenho social e
político, porque o problema da pobreza no mundo depende de condições concretas, a serem
transformadas por homens e mulheres de boa vontade e, particularmente, pelos jovens,
«construtores da civilização do amor». São, segundo o Papa, «estruturas de pecado» que não
podem ser vencidas, senão com a colaboração de todos, na disponibilidade a «perder-se» pelo
outro, ao invés de explorá-lo, a «servi-lo» ao invés de oprimi-lo
515
. A mensagem central do
Papa aos jovens, referente à opção preferencial dos jovens pelos pobres, mostra caminhos
concretos para construir a Civilização do Amor. Eles precisam ser percorridos,
particularmente pelos jovens, na solidariedade, na partilha, na fraternidade e na participação
em projetos concretos, indica o Papa:
Caros jovens, convido-vos, de modo particular, a tomar iniciativas
concretas de solidariedade e de partilha ao lado e com os mais pobres.
Participai com generosidade em algum dos projetos que nos diversos países
vêem empenhados outros coetâneos vossos, gestos de fraternidade e
solidariedade: será um modo de «restituir» ao Senhor, na pessoa dos pobres,
pelo menos alguma coisa de tudo o que Ele vos deu, a vós mais afortunados.
E poderá ser também a expressão imediatamente visível de uma opção
fundamental: a de orientar com decisão a vida para Deus e os irmãos
516
.
Caros amigos, considerai com este olhar evangélico todos os vossos irmãos
necessitados, os vossos vizinhos e os que estão longe. O amor não se
contenta em olhar: ele dá a sua parte de sustento, de ajuda recíproca concreta
e inventiva, de oração
517
.
Muitas são as pessoas que a vida maltratou, excluídas do progresso econômico,
sem um teto, uma família ou um emprego; muitas se extraviaram atrás de falsas ilusões ou
perderam toda a esperança
518
para construir nova civilização fundada sobre a solidariedade,
a justiça, o amor e a verdade.
A verdade é a exigência mais profunda do espírito humano. Os jovens têm fome
da verdade sobre Deus, o homem, a vida e o mundo. Eles são testemunhas da verdade. Eles a
procuram nos estudos, que têm por finalidade auxiliá-los a desenvolver o intelecto, aumentar
a compreensão do sentido da realidade física e humana, ter «uma consciência aprimorada do
514
Cf. Id. «Mensagem para o XIV JMJ, 1999» (6 jan. 1999) n. 6. Em DWVEP.
515
Ibid.
516
Ibid.
517
Id. «Discorso ai giovani nello Stadio Gerland» (5 ott. 1986), n. 21 (trad. do it.). Em DWVE.
518
Id. «Mensagem para XVII JMJ, 2002» (25 jul. 2001), n. 4. Em DWVE.
Referências bibliográficas
mundo, da cultura e da linguagem e (...) procurar a verdade (...) para formar-se uma pessoa
livre e responsável. Nesse caminho que nutre a inteligência não pode faltar a colhida do
mistério do homem»
519
, em referência a Deus para descobrir o agir no mundo. Com isso,
segundo o Papa, os jovens estudantes católicos precisam aprofundar também «a própria
identidade de jovem intelectual católico»
520
para dar razão da fé, construindo a Civilização do
Amor.
Os jovens construtores da civilização do amor, considerando o princípio da
verdade, lutam para superar, no pensamente e na ação, «a dicotomia determinada pelas
diversas correntes de pensamentos, antigas e contemporâneas, (...) entre teocentrismo e
antropocentrismo», afirma o Papa
521
. A Civilização do Amor, segundo o Papa, «vive da
estupenda unidade entre divino e humano, celeste e terreno, histórico e transcendente»
522
. A
verdade do ser humano es indissoluvelmente relacionada à verdade de Deus. Fiéis a ela, os
jovens rejeitarão as tentações das ideologias, os slogans simplificadores e a violência, que
nada constrói. Com a fidelidade à verdade, o Papa apresenta mais três responsabilidades
apostólicas dos jovens: «anunciar incansavelmente o Evangelho (...) contribuir na comunhão
eclesial (...) e na evangelização da cultura»
523
. Além disso, ele afirma que a prática de tais
tarefas elucida o protagonismo juvenil em favor do novo mundo, da nova relação de aliança
entre Deus e os seres humanos:
Caros jovens, acolhei estas tarefas que eu hoje coloco nas vossas os e
traduzi-as na prática com todo o entusiasmo do qual sois capazes. assim
conseguireis dissipar os temores e as incertezas que carregam sobre o futuro
e sereis os arautos e os protagonistas de uma nova civilização, da nova
aliança entre Deus e os homens
524
.
O Papa, falando da ação providencial de Deus na história humana, mostra que, na
construção da Civilização do Amor, o verdadeiro tem primazia sobre o útil, o bem sobre o
bem-estar, a liberdade sobre as modas, a pessoa sobre a estrutura:
O verdadeiro deve prevalecer sobre o útil, o bem sobre o bem-estar, a
liberdade sobre as modas, à pessoa sobre a estrutura. O cristão, de fato, não
519
Id. «Discorso agli studenti di Roma» (13 febb. 1999), n. 1 (trad. do it.). Em DWVE.
520
Id. «Discorso ai segretari regionali della gioventù studentesca cattolica internazionale ed ai membri del
comitato diretivo del movimento internazionale degli studenti cattolici» (16 genn. 1981), n. 4 (trad. do it.). Em
DWVE.
521
Id. «Discorso ai segretari regionali della gioventù studentesca cattolica internazionale ed ai membri del
comitato diretivo del movimento internazionale degli studenti cattolici» (16 genn. 1981), n. 4 (trad. do it.). Em
DWVE.
522
Id. «Homilia durante a santa missa para os universitários em preparação para o Natal e o grande Jubileu» (14
dez. 1999), n. 21. Em DWVE.
523
Id. «Discorso ai segretari regionali della gioventù studentesca cattolica internazionale ed ai membri del
comitato diretivo del movimento internazionale degli studenti cattolici» (16 genn. 1981), n. 4. Em DWVE.
524
Id. «Discorso ai giovan» (14 sett. 1980), n. 3. Em DWVE.
Referências bibliográficas
pode limitar-se a analisar os processos históricos em curso, mantendo uma
postura passiva, como se eles excedessem as suas capacidades de intervir,
porque guiados pela força cega e impessoal. O crente está persuadido de que
cada evento humano está sob a providencial mão de Deus, o qual pede a
cada um para colaborar com Ele no orientar a história para um mundo digno
do homem
525
.
Outro princípio constitutivo da Civilização do Amor é participação. Participar é
«estar juntos». Estamos juntos, em primeiro lugar, na comunidade familiar: escola
fundamental de participação. Eles são convidados a construir, no futuro, boas famílias.
Também a Igreja é escola de participação. Ela faz entrar, por meio de Jesus Cristo, na própria
vida de Deus e participar de seu amor. Convidam-se os jovens para viver na graça de Deus, a
qual lhes é concedida particularmente nos sacramentos, e participar no verdadeiro
desenvolvimento: ajudar na criação da civilização do amor seguindo os caminhos de Cristo
526
.
A mensagem fundamental do Papa aos jovens acerca do princípio de participação na
construção da Civilização do Amor é: «Sois convidados a participar no verdadeiro e autêntico
desenvolvimento, que mediante o justo equilíbrio entre ‹ser› e ‹possuir›, (...) na civilização do
amor»
527
.
A família é, na ótica do Papa, «o centro e coração da civilização do amor»
528
. A
maioria dos jovens formará uma família. Quantas situações de mal-estar pessoal e social
originam-se das dificuldades, crises e rupturas familiares? Consciente disso, o Papa convida
os jovens: «Preparai-vos bem para ser no futuro os construtores de lares sadios e tranqüilos,
onde se vive o clima tonificador da concórdia mediante o dialogo aberto e a compreensão
recíproca. O divórcio não é solução, mas fracasso que se deve evitar»
529
. A família funda-se
sobre o matrimônio indissolúvel e a abertura generosa ao precioso dom da vida. Isso implica
que tudo seja fomentado em favor da santidade, da unidade e da estabilidade da família. O
amor verdadeiro é exigente. Os jovens precisam descobrir e viver esse amor. Ele fundamenta
solidamente e autenticamente a família e a «Civilização do Amor»
530
. O Papa deixa explícitas
essas e outras convicções na seguinte mensagem aos jovens:
A vida familiar cristã e a fidelidade no matrimônio para toda a vida são
muito necessárias no mundo de hoje, no qual a sacralidade da vida humana é
frequentemente ignorada e até contestada, no qual o mistério da sexualidade
humana é facilmente distorcida e confusa, no qual a beleza do amor humano
é esquecido em uma cega corrida pela satisfação dos desejos egoísticos. Não
525
Id. «Discorso ai partecipanti all`incontro internazionale UNIV-2001» (9 apr. 2001), n. 2. Em DWVE.
526
Cf. Id. Incontro con i giovani in Piazza San Giovanni in Laterano. Vaticano: Vaticana, 1985, nn. 2-6.
527
Ibid. n. 10.
528
Id. «Mensagem escrita aos jovens cubanos» (23 jan. 1998) n. 5. Em DWVEP.
529
Ibid.
530
Cf. Ibid.
Referências bibliográficas
vos deixeis desviar ou desencorajar. Em Cristo e na Igreja, encontrareis a luz
e a graça da qual tendes necessidade para viver na fidelidade e na alegria
531
.
O Papa não transmite as convicções da Igreja aos jovens, mas também lhes
apresenta de forma magistral a responsabilidade irrenunciável do novo milênio: construir a
Civilização do Amor.
3.4. Responsabilidade dos jovens hodiernos
Em 1987, na sua mensagem para a II JMJ, o Papa afirmou que a «construção da
civilização do amor» «é uma responsabilidade dos jovens de hoje (...) do terceiro milênio
cristão»
532
, e que ela é «ao mesmo tempo pessoal: pela própria vida, (...) seu futuro (e) valor; e
(...) social: pela justiça e a paz, pela ordem moral do próprio ambiente nativo e de toda a
sociedade, é uma responsabilidade pelo autêntico bem comum»
533
. Contribuímos na
edificação da Civilização do Amor, conscientizando os jovens de suas responsabilidades
pessoais e sociais. Por isso, o Papa assumiu esse grande desafio, como compromisso pastoral
ininterrupto nas JMJ.
Em 1988, no encontro com os jovens no hipódromo de Monterrico (Peru), o Papa
João Paulo escolheu o texto das bem-aventuranças e, recordando as palavras de Paulo VI
numa de suas homilias, o qualificou como
um dos textos mais surpreendentes e mais positivamente revolucionários:
Quem se atreveria no decurso da história proclamar ‹felizes› os pobres de
espírito, os aflitos, os mansos, os sedentos de justiça, os misericordiosos, os
puros de coração, os artífices de paz, os perseguidos, os insultados? Aquelas
palavras, semeadas numa sociedade baseada na força, no poder, na riqueza,
na violência, na transgressão, poderiam interpretar-se como um programa de
vileza e abulia indignas do ser humano; e, ao contrário, era programa de
nova Civilização do amor
534
.
O Papa João Paulo II, inspirando-se nesse comentário de seu venerável antecessor
Paulo VI, continuou delineando um programa pastoral com os jovens. Esse programa tornou-
se verdadeiramente revolucionário para mudar a sociedade tão semelhante à descrita pelo
Papa Paulo VI, como marco referencial do ambiente em que as pronunciou o próprio Jesus.
Desde então, os jovens têm a responsabilidade/tarefa de mudar a sociedade de
morte e ódio em sociedade de amor. Mas a construção da Civilização do Amor não acontece
531
Id. «Discorso nell´incontro con i giovani nel Domain Park» (22 nov. 1986), n. 6. Em DWVE.
532
Id. «Menssaggio per la II GMG, 1997» (30 nov.1986), n. 3. Em DWVE.
533
Id. «Omelia nella messa pasquale per gli universitari romani» (5 apr. 1979), n. 4. Em DWVE.
534
Apud CONFERÊNCIA EPISCOPAL PERUANA. Costructor de la civizacion del amor: mensajes de S. S.
Juan Pablo II 14-16 de mayo de 1988 Lima-Perú. Lima: Piedul, 1988, p. 65.
Referências bibliográficas
imediatamente, não é ato mágico, nem compromisso de uma só geração, mas esforço conjunto
e perseverante de toda comunidade humana. O caminho é longo e árduo. Por isso, o Papa
cuidadosamente convida os jovens: «A construção de uma civilização do amor requer tempos
fortes e perseverantes, dispostos ao sacrifício e desejosos de abrir novas estradas à convicção
social, superando divisões e opostos materialismos»
535
. O vigor próprio da juventude que
começou esse caminho com o Papa nas JMJ, «unidos a todos que procuram a Deus (... para)
construir uma nova sociedade mais justa e mais fraterna»
536
, ajuda a depositar esperança em
futuro promissor para a comunidade humana no orbe terrestre.
Em 1992, em sua mensagem para a VII JMJ, o Papa estimulou os jovens a
participar da construção do Reino de Cristo, como discípulos que testemunham e
compartilham a fé publicamente com os outros:
Cristo, através da Igreja, vos confia a missão fundamental de comunicar aos
outros o dom da salvação e vos convida a participar da construção do seu
Reino. Escolheu-vos (....) porque vos ama e crê em vós. Esse amor (...)
incondicional, deve constituir a alma mesma do vosso apostolado (cf. 2 Cor
5, 14). Ser discípulos de Cristo não é um fato privado. Ao contrário, o dom
da fé deve ser compartilhado com os outros (cf. 1 Cor 9, 6)
537
.
Em 1995, em mensagem por ocasião da XI JMJ, o Papa convidou os jovens a
afirmarem com vigor a Civilização do Amor: «Opor-nos hoje (..) àquela que parece a
‹derrotada da civilização›, para reafirmar com vigor a ‹civilização do amor› que única
pode abrir aos homens do nosso tempo horizontes de autêntica paz e de duradoura justiça na
legalidade e na solidariedade»
538
.
Em 1996, em mensagem para a XII JMJ, o Papa transmite a responsabilidade
missionária aos jovens missionários de Cristo: «Neste mundo vós sois convidados a viver a
fraternidade, o como utopia, mas como possibilidade real; nessa sociedade vós sois
convidados a construir, como verdadeiros missionários de Cristo, a civilização do amor»
539
.
Em 1997, em homilia no enceramento daquela JMJ, o Papa reafirmou a missão
dos jovens: «Continue a contemplar a glória de Deus, o amor de Deus; e sereis iluminados
535
JOÃO PAULO II. «Menssaggi per la II GMG, 1987» (30 nov.1986), n. 3. Em DWVE.
536
Ibid., n. 1.
537
Id. «Mensagem para a VII JMJ, 1992» (24 nov.1991), n. 1 e 2. Em DWVEP.
538
Id. «Messaggio per la XI GMG, 1996» (26 nov. 1995), n. 5. Em DWVE.
539
Id. «Mensagem para a XII JMJ, 1997» (15 ago. 1996), n. 8. Em DWVEP.
Referências bibliográficas
para construir a civilização do amor «fundada sobre o amor fraterno»
540
, para ajudar o homem
a ver o mundo transfigurado pela sabedoria e a o amor eterno»
541
.
Em 2000, em discurso aos jovens a caminho de Assis, o Papa cristocentraliza a
possibilidade de os jovens construírem a Civilização do Amor: «Viver o Evangelho é
certamente uma tarefa exigente; mas com Cristo é possível edificar eficazmente a
civilização do amor»
542
.
Em 2001, no discurso aos jovens no encontro internacional, o Papa disse-lhes:
«Caros jovens cristãos: testemunhai o Evangelho da caridade (...) construí a civilização do
amor. Deixo-vos essas tarefas com uma grande esperança e uma grande confiança»
543
.
Em 2002, o Papa comunicou a sua esperança a 600 mil jovens, que participaram
da Vigília de Oração em Downsview Park, por ocasião da XVII JMJ, expressa na difícil e
empolgante tarefa de colaborar com Deus na construção da civilização do amor, a partir do
encontro fundamental com Cristo nas JMJ e do testemunho na sociedade:
Queridos jovens, permiti-me vos confiar a minha esperança: estes
construtores deveis ser vós! Vós sois os homens e as mulheres de amanhã; o
futuro está contido nos vossos corações e nas vossas mãos. Deus confia-vos
a tarefa, difícil, mas empolgante, de colaborar com Ele na construção da
civilização do amor
544
. A ocorrência da JMJ tornou-se (...) uma nova
ocasião para encontrar Cristo, dar testemunho da sua presença na sociedade
contemporânea e tornar-se construtores da civilização do amor
545
.
Da breve exposição cronológico-temática dos textos, fica evidente que o Papa no
decurso das JMJ responsabiliza, particularmente, os jovens pela «construção da civilização do
amor». Mas construí-la não é tarefa fácil. Ela se torna até impossível, se os jovens contarem
unicamente consigo mesmos. Mas «o que é impossível aos homens, é possível a Deus», disse
Jesus (Lc 18, 27; 1, 37). Os jovens verdadeiros discípulos de Cristo estão conscientes da
própria fragilidade, por isso, depositam toda confiança na graça de Deus, sabendo que sem
Ele nada podem fazer (cf. Jo 15, 5). Aquilo que os caracteriza e os distingue dos próprios
coetâneos não são os talentos nem as disposições naturais, mas a firme determinação para
seguir os passos de Jesus. Assim, eles se tornam imitadores, promotores e edificadores do
Reino de Cristo
546
, da Civilização do Amor no seio da humanidade.
540
Id. «Homilia para os Delegados do Fórum Internacional da Juventude» (23 ago. 1997), n. 1. Em DWVEP.
541
Id. «Homilia no encerramento do encontro como os jovens em LongChamp» (24 ago. 1997), n. 6. DWVEP.
542
Id. «Discorso ai giovani verso Assisi» (3 mag. 2003), n. 4. Em DWVE.
543
Id. «Discorso ai partecipanti all`incontro internazionale «UNIV 2001» (9 apr. 2001), n. 2. DWVE.
544
Id. «Discorso nella veglia con i giovani, Toronto, Downsview Park» (27 lug. 2002), n. 4. DWVE.
545
Id. «Mensagem para a XVII JMJ, 2002» (25 jul.2001), n.1. Em DWVEP.
546
Id. «Mensagem pela XVIII JMJ, 2003» (8 mar. 2003), n. 6. Em DWVEP.
Referências bibliográficas
Para concluir a perspectiva da «nova civilização do amor», como responsabilidade
missionária dos jovens hodiernos, citamos a seguinte ilustrativa mensagem do Papa à
juventude, a qual nos introduz na temática da defesa dos grandes valores para construir a
Civilização do Amor:
Estai dispostos a empenhar cotidianamente a vida para transformar a
história. Hoje o mundo precisa mais do que nunca, da vossa fortaleza, e do
vosso empenho, para construir uma nova sociedade mais justa, mais
fraterna, mais humana e mais cristã: a nova civilização do amor, que se
desdobra no serviço a todos os homens. Construireis assim a civilização da
vida e da verdade, da liberdade e da justiça, do amor, da reconciliação e da
paz
547
.
Pensar nos outros até esquecer-se de si, é o modo mais eficaz para aproximar a
humanidade de Deus e contribuir na construção de um mundo melhor e mais solidário, porque
a conversão e o compromisso de um são sementes de salvação para todos
548
. Constrói-se um
mundo melhor, ao reafirmarem-se os grandes valores, negando os antivalores.
3.5. Reafirmar os grandes valores, negar os antivalores
A construção da civilização do amor implica necessariamente a reafirmação dos
grandes «valores religiosos, artísticos, culturais e morais»
549
: o respeito à dignidade do ser
humano, a acolhida da vida, a defesa dos direitos humanos, a abertura ao transcendente e as
dimensões do espírito
550
, a vida de graça, o amor fraterno, a dedicação aos outros, o perdão
dado e recebido, a disponibilidade para acolher e ser acolhido, a esperança, a paz
551
, a fé, a
unidade
552
. São valores pelos quais «vale a pena viver e dar a própria vida», afirma
convictamente o Papa
553
. Afirmando tais valores, concomitantemente, negam-se os
antivalores.
O valor e o sentido da vida humana encontram-se no realismo cristológico.
uma grande tensão no mundo contemporâneo quanto ao sentido da vida, o seu significado, sua
dignidade, seu valor. A sociedade tecnológica perdeu o verdadeiro sentido do valor da vida
554
.
claros sintomas disso. O materialismo sob diversas formas, desenvolvido nos últimos
séculos, deturpa o sentido e o valor da vida. Mas o materialismo não forma as raízes da
547
Id. «Messaggio ai partecipanti al congresso internazionale UNIV-2000», n. 3. Em DWVE.
548
Ibid.
549
Id. «Messaggio ai giovani della Sicília» (18 ott. 2000), nn. 2-4. Em DWVE.
550
Cf. Id. «Mensagem para a VIII JMJ, 1993» (15 ago.1992), n.1. Em DWVEP.
551
Id. «Messaggio all`opera della santa infazia missionaria» (6 gen. 2003), n. 2. Em DWVE.
552
Id. «Discorso nel incontro côn i giovani nella Catedrale Greco-Catolica di Damaso» (7 magg. 2001), n. 3. Em
DWVE.
553
Ibid.
554
Cf. Id. «Mensagem para a III JMJ, 1988» (13 dic.1987), n. 3. Em DWVEP.
Referências bibliográficas
cultura mundial, não é um correspondente nem uma expressão do relativismo epistemológico
nem ético. Cristo é o maior realista da história da humanidade. Em virtude desse realismo
cristológico, o ser humano
555
encontra o sentido da própria vida em Deus. Por isso, o Papa
alerta os jovens acerca da «maior utopia», encontrar a vida renunciando a Deus, e os convida
cantarem «a festa da vida», da fraternidade e do amor:
A maior utopia, a fonte mais importante da infelicidade consiste na ilusão de
encontrar a vida renunciando a Deus, de conquistar a liberdade, excluindo as
verdades morais e a responsabilidade pessoal
556
. Sois convidados a cantar a
festa da vida, da liberdade, da reconciliação; sois destinados a caminhar
sobre os caminhos da fraternidade e do amor
557
.
Nesse caminho, a Igreja, que se diz «perita em humanidade», acompanha os
jovens. Ela os auxilia a escolher com liberdade e maturidade o rumo da vida e oferece a ajuda
necessária para que eles abram o coração e a alma à transcendência. A abertura ao mistério
do sobrenatural fará com que eles descubram a bondade infinita, a beleza incomparável e a
verdade suprema, em última análise, a imagem que Deus gravou em cada pessoa humana
558
.
Com isso, o Papa esclarece os jovens quanto aos riscos das ilusões de progresso e
desenvolvimento científico e tecnológico, contrárias ao desígnio divino, mostrando-lhes a
nobre missão dos estudiosos e cientistas:
As verdades eternas (...) iluminam de sábio realismo as vicissitudes
quotidianas (...). Caros jovens, não cedam às ilusões de um progresso que
não está conforme o desígnio divino (...), por muito maravilhoso que seja o
moderno desenvolvimento científico e tecnológico, e por muito promissor
que pareça o futuro da humanidade, por vezes ele encerra em si sombras
assustadoras de destruição e de morte, como também aconteceu em tempos
recentes (...). Eis a nobre missão que a Providência confiou aos estudiosos e
cientistas (...) empenhados na investigação e no progresso: aproximar do
homem e da criação com humildade e sabedoria (...) (para aproximar) cada
vez mais do imperscrutável mistério de Deus
559
.
Quem vive objetivando unicamente dos bens terrestres será pessoa frustrada,
apesar das aparências de sucesso: para ela, a morte vai chegar com a acumulação de coisas,
mas com vida fracassada (cf. Lc 12, 13-21). Portanto, a escolha reside entre o ser e o ter, entre
a vida repleta e a existência vazia, entre a verdade e a falsidade. Nessa ótica, o Papa faz um
convite cristocêntrico a todos: «viver no seguimento do Senhor é o valor supremo, então
todos os outros valores recebem deste a justa disposição e importância»
560
.
555
Id. «Omelia per gli universitari romani» (5 apr. 1979), n. 5. Em DWVE.
556
Id. «Homilia no Parque Downsview-XVII JMJ» (28 jul. 2002), n. 2. Em DWVEP.
557
Id. «Messaggio ai partecipanti al meeting dei giovani verso il Giubileo» (21 nov. 199), n. 3. Em DWVE.
558
Id. «Mensagem aos jovens cubanos» (23 jan. 1998), n. 14. Em DWVE.
559
Id. «Homilia na santa missa para os estudantes dos ateneus romanos» (11 dez. 2001), n. 6. Em DWVEP.
560
Id. «Mensagem para o XVI JMJ, 2001» (14 fev. 2001), n. 4. Em DWVEP.
Referências bibliográficas
Na sociedade vigente, que persegue a otimização dos percursos produtivos,
acontece o processo de uniformização, que coloca em risco a liberdade pessoal e as próprias
culturas nacionais. Como reagir? A doutrina social da Igreja aponta os princípios de resposta
que respeita a função dos indivíduos e dos grupos. Mas, para promover cultura integral dos
valores que sãos direitos da pessoa, cada um deve começar de si mesmo, para refletir nos
pensamentos e nos atos a imagem de Cristo. Não é programa fácil, mas ato de de quem
segue a Cristo e sabe que isso implica negar si mesmo, ao doar-se completamente a Deus e
aos irmãos
561
.
Noutra ocasião, o Papa mostra explicitamente que a liberdade está vinculada à
verdade: «A liberdade não é a capacidade, que permite fazer tudo o que queremos, quando
queremos, mas a capacidade de viver responsavelmente a verdade de nossa relação com Deus
e com os outros»
562
. Ela consiste na prerrogativa (entre outras a santidade e o amor fraterno)
dos filhos de Deus, dom, que precisa ser bem usado, fundamento do dever de cada cristão
563
.
O Papa, pensando em todos que vivem os diversos estados de vida e nos que
lutam por determinado ideal na sociedade atual, faz belíssimo paralelo entre alguns valores e
os respectivos contra-valores:
Penso nos noivos e na dificuldade de viver, dentro do mundo de hoje, a
pureza na espera do matrimônio. Penso nos jovens casais e nas provas as
quais está exposto o seu empenho recíproco pela fidelidade. Penso nas
relações entre amigos e nas tentações de deslealdade que pode insinuar-se
entre eles. Penso também em quem tomou um caminho de especial
consagração e na luta que deve às vezes enfrentar para perseverar na
dedicação a Deus e aos irmãos. Penso ainda em quem quer viver relações de
solidariedade e de amor num mundo onde parece prevalecer somente a
lógica do proveito e do interesse pessoal ou de grupo. Penso também em
quem trabalha pela paz e vê nascer e desenvolver em várias partes do mundo
ações de guerra; penso em quem opera pela liberdade do ser humano e
ainda escravo de si mesmo e dos outros; penso em quem luta para fazer amar
e respeitar a vida humana e assiste a freqüentes atentados contra ela, contra
o respeito a ela devido
564
.
A construção da Civilização do Amor implica que os jovens digam não ao
egoísmo, à rivalidade, ao ócio
565
, eliminem a injustiça no próprio coração, enfrentem os erros
do mundo com a verdade no amor de Cristo
566
. Implica também dizer o às «opções imorais
561
Id. «Discorso ai partecipanti all´incontro internazionale UNIV-2001» (9 apr. 2001), n. 4. Em DWVE.
562
Id. «Incontro com i giovani nel Kiel-Center di St. Louis» (26 jan. 1999), n. 3. Em DWVE.
563
Id. «Mensagem para a VI JMJ, 1991» (15 ago.1990), n. 3. Em DWVEP.
564
Id. «Veglia di preghiera a Tor Vergata» (19 ago. 2000), n. 4. Em DWVE.
565
Cf. Id. «Mensagem para a XVIII JMJ, 2003» (8 mar. 2003), n. 6. Em DWVEP.
566
Cf. Id. «Discorso ai giovani nel Sidney Cricket Ground» (25 nov. 1986), n. 8. Em DWVE.
Referências bibliográficas
(apresentadas) como valores», aos desatinos morais, «à verdade (apresentada) com perfil
imutável de oportunidade»
567
, e «ao amor livre», aos «impulsos afetivos (...) as paixões»:
Rejeitai com determinação qualquer um dos seus sucedâneos, como o
chamado «amor livre»! Quantas famílias foram destruídas por sua causa!
Não vos esqueçais de que seguir cegamente o impulso afetivo muitas vezes
significa ser escravo das próprias paixões
568
.
O próprio Papa, em mensagem aos jovens cubanos, oferece conclusão lógica do
estudo acerca da reafirmação dos grandes valores para construir a civilização do amor,
mostrando que a melhor herança a ser comunicada às próximas gerações (e à atual) são os
valores superiores do espírito:
A melhor herança que se pode comunicar às futuras gerações é a transmissão
dos valores superiores do espírito. Não se trata apenas de salvar alguns
deles, mas de favorecer uma educação ética e cívica que vos ajude a assumir
novos valores, a reconstruir o próprio caráter e a alma social sobre a base de
uma educação para a liberdade, a justiça social e a responsabilidade
569
.
4. Conclusão
A finalidade da mensagem do Papa aos jovens é constituir-se como programa
diretivo de opção de vida. Ela gira principalmente em torno de três pressupostos teológico-
pastorais fundamentais: o cristológico, o eclesiológico e o mariológico. Mas Jesus Cristo é o
fulcro das mensagens pastorais do Papa aos jovens hodiernos no contexto das JMJ.
João Paulo II é o Papa da dignidade da pessoa humana. A tutela e promoção da
pessoa e de seus direitos constituem o núcleo central da missão da Igreja. Trata-se de direitos
naturais, universais e invioláveis, porque emanam do próprio Deus. A verdade do ser humano
está indissoluvelmente ligada à verdade do Filho de Deus encarnado. Cristo esclarece o
mistério da vida e leva todas as potencialidades da pessoa à plena maturidade em Deus. O ser
humano só é inteligível à luz de Cristo-Deus.
O ser humano à luz do mistério de Cristo é a pessoa criada no Verbo à imagem e
semelhança de Deus e redimida, a quem conseqüentemente essa imagem é restituída pela
libertação e redenção realizada por Cristo na Cruz. Ele é um ser pecador, provido de
dignidade pessoal, verdadeiro sujeito e, ao mesmo tempo, enriquecido por uma dimensão
social, um ser livre, chamado a desenvolver continuamente, capaz de verdade, justiça, paz, e
567
Id. «Discorso ai giovani della Diocesi di Roma» (5 apr. 2001), n. 3. Em DWVE.
568
Id. «Mensagem aos jovens cubanos» (23 jan. 1998), n.5. Em DWVE.
569
Id. «Mensagem aos jovens cubanos» (23 jan. 1998), n. 4. Em DWVEP.
Referências bibliográficas
amor. Trabalhando, transforma o universo, é autor de cultura. Tem uma dimensão moral e
religiosa fundamental, está aberto ao transcendente, ao Absoluto.
A mensagem do Papa aos jovens é marcadamente cristocêntrica. Jesus Cristo é a
única resposta fundamentalmente essencial às interrogativas do ser humano. A sua
Encarnação abre a inteligência da da pessoa humana ao conhecimento do amor de Deus e
à compreensão do sentido da sua existência e da história. A sua morte na Cruz resgatou o ser
humano do mal e do pecado. A tarefa da Igreja é formar Cristo nos jovens, e a dos jovens é
servi-lo, servindo os irmãos.
Cristo vive na Igreja, que é o mistério de Cristo vivente e operante no mundo. Ela
é a vinha (cf. Jr 2, 21; Is 5, 1-7) plantada pelo Senhor (cf. Jo 15, 5). Os jovens, ramos vivos,
participam da missão de Cristo (cf. Mt 20, 4) e da sua Igreja. Essa é por natureza uma
comunidade missionária. A comunhão eclesial é missionária. A Igreja é uma comunhão
orgânica, que precisa dos operários jovens para evangelizar o mundo. Eles descobrem a Igreja
universal nas JMJ. A Igreja é essencialmente mistério de comunhão com a Santíssima
Trindade.
Maria sintetiza na sua pessoa todo o mistério da Igreja, é a «filha predestinada do
Pai». «Filha» do Pai tornou-se a Mãe do Seu Filho (cf. Lc 1, 38). É Mãe de Deus, porque
perfeitamente filha do Pai. É Mãe da divina graça, porque é Mãe do Autor da graça. É a
primeira colaboradora de Deus na obra da salvação. Ela é também exemplo de defesa e
promoção da vida, de ternura, de fortaleza no sofrimento, de pureza na vida e de alegria para
os jovens.
Construir a paz no mundo, onde abundam os tormentos derivados do pecado, o
ódio, a violência, o terrorismo e a guerra, é um compromisso inadiável dos jovens. Trata-se da
comum consciência de pertencer à única família humana. Os jovens querem a paz. Jesus
Cristo chama os jovens para serem os apóstolos da sua paz no novo milênio. Ele é o
fundamento por excelência da paz. Cristo ressuscitado oferece a paz ao mundo inteiro, a
oração ajuda os jovens a conhecerem e transmitirem Cristo como dom da paz ao mundo.
Constroem-se a paz, a cooperação entre as nações, a harmonização dos interresses diversos e
contrastantes de culturas e instituições, sobre quatro pilares: a verdade, a justiça, o amor e a
liberdade.
Referências bibliográficas
O ecumenismo é a prioridade mais urgente da comunidade cristã. Cristo é o
fundamento da unidade dos cristãos. Isso é um desejo explícito na oração de Cristo ao Pai:
«a fim de que todos sejam um. Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles estejam em
nós, para que o mundo creia que tu me enviastes» (Jo 17, 21). A oração constante e fervorosa
é a «alma de todo o movimento ecumênico». A recomposição de todas as Igrejas cristãs, em
torno a um Pastor (cf. Jo 10, 16), não é fruto só de esforços humanos, mas, sobretudo,
graça e dom do Espírito Santo. Os jovens são convidados a tomar iniciativas ecumênicas
concretas. A promoção da unidade dos cristãos é uma missão prioritária da Igreja. Os jovens
unidos entre si encontram forças para lutar pela unidade e, na unidade, construirão a paz de
Cristo. Assim eles se tornam artífices de unidade, de paz e protagonistas da Civilização do
Amor.
A «cultura da morte» rejeita a luz da vida, preferindo as «trevas», a injustiça, a
discriminação, a exploração, a impostura, a violência, «a morte de inocentes». Diante disso, a
tarefa dos jovens consiste em anunciar e promover a cultura integral, que tende ao
desenvolvimento completo da pessoa humana e ressalta os valores da inteligência, da vontade,
da consciência, da fraternidade, todos baseados no Deus Criador e exaltados em Cristo.
A responsabilidade irrenunciável dos jovens no terceiro milênio é construir a
Civilização do Amor. Essa Civilização consiste fundamentalmente na transmissão da
mensagem Evangélica, sem socialismo nem sentimentalismo, como convite capaz de encarnar
historicamente o mistério do Reino inaugurado por Cristo e atuado pelos crentes. Ela não é
um novo partido político dos cristãos, nem a hegemonia da Igreja sobre os povos, mas esforço
de todo o povo de Deus para encarnar o Evangelho de Cristo no âmbito pessoal e no corpo
social. Cristo é o princípio fundante da nova Civilização, junto com a solidariedade, a justiça,
a caridade, a verdade, a família, centro e coração da civilização do amor. Ela se funda ao
amor, ao perdão, à luta contra a injustiça e toda a miséria física, moral, espiritual, e à
orientação da política, da economia, da cultura e da tecnologia, a serviço do ser humano e do
seu desenvolvimento integral.
A construção da Civilização do Amor implica necessariamente a reafirmação dos
valores religiosos, artísticos, culturais e morais e a negação dos antivalores, o egoísmo, à
rivalidade, o ócio, a injustiça, os erros do mundo, as opções imorais, os desatinos morais, a
verdade com perfil imutável de oportunidade, o amor livre, os impulsos afetivos. Diante
Referências bibliográficas
disso, a melhor herança a ser comunicada às próximas gerações são os valores superiores do
espírito.
SUMMARY............................................................................................................................ 149
SIGLAS.................................................................................................................................. 151
INTRODUÇÃO......................................................................................................................152
PRIMEIRA PARTE...............................................................................................................157
AS JORNADAS MUNDIAIS DA JUVENTUDE.................................................................157
1. O que são as JMJ?......................................................................................................................157
1.1. Uma forte experiência festiva de fé...................................................................................................... 157
1.2. Um grande momento de comunhão eclesial.........................................................................................158
1.3. Um estímulo à vida cristã e à evangelização........................................................................................ 159
1.4. Fases essenciais do programa das JMJ................................................................................................. 161
1.5. Finalidades fundamentais das JMJ....................................................................................................... 163
2. Caminho histórico-teológico das vinte JMJ.............................................................................165
2.1. Gênese e instituição das JMJ................................................................................................................ 165
2.2. Da I à V JMJ (1986-1990)....................................................................................................................167
2.3. Da VI à X JMJ (1991-1996)................................................................................................................. 170
2.4. Da XI à XV JMJ (1996-2000).............................................................................................................. 173
2.5. Da XVI à XX JMJ (2001-2005)........................................................................................................... 176
3. A peregrinação da Cruz (1984-2005)........................................................................................180
3.1. De Roma a Santiago (1984-1989)........................................................................................................ 181
3.2. De Roma a Manila (1990-1995)...........................................................................................................183
3.3. De Manila a Roma (1996-2000)...........................................................................................................184
3.4. De Roma a Colônia (2001-2005)..........................................................................................................186
4. Conclusão.................................................................................................................................... 188
........................................................................................................................................................190
__________ 8...................................................................................................................................194
O PERFIL DA JUVENTUDE CONTEMPORÂNEA......................................................... 196
1. O universo da juventude hodierna............................................................................................197
1.1. O que significa ser jovem?................................................................................................................... 197
1.2. Quem são os jovens hodiernos?............................................................................................................197
1.3. Análise de uma descrição da situação dos jovens................................................................................ 198
1.4. A sociedade favorece a dependência psicológica dos jovens...............................................................200
1.5. «Confusão entre religioso e paranormalidade».................................................................................... 201
2. Os jovens são seres em busca.....................................................................................................202
Referências bibliográficas
2.1. Os jovens são como as gerações precedentes....................................................................................... 202
2.2. Buscam vida espiritual autêntica ......................................................................................................... 204
1.3. Buscam o sentido pleno da vida........................................................................................................... 206
2.4. Buscam o encontro com Jesus Cristo................................................................................................... 207
2.5. Buscam o amor: decisão mais importante............................................................................................ 209
3. Os jovens são seres em relação..................................................................................................210
3.1. A pessoa renasce de um encontro.........................................................................................................210
3.2. Os jovens sem formação religiosa........................................................................................................ 212
3.3. «Os jovens e as novas influências ideológicas»................................................................................... 213
3.4. Os jovens e João Paulo II: mútua fascinação, afinidade de espírito.....................................................217
3.5. Os jovens e os modelos de vida............................................................................................................219
4. Análise pastoral duma pesquisa com participantes das JMJ.................................................222
4.1. Breve apresentação da pesquisa............................................................................................................223
4.2. As JMJ como evento «ordinário».........................................................................................................223
4.3. Perfil religioso dos jovens das JMJ...................................................................................................... 224
4.4. Uma «pastoral ordinária» das JMJ....................................................................................................... 228
4.5. Uma pastoral juvenil à altura das JMJ..................................................................................................228
5. Conclusão.................................................................................................................................... 231
TERCEIRA PARTE.............................................................................................................. 237
A MENSAGEM DO PAPA À JUVENTUDE CONTEMPORÂNEA .................................237
1. Pressupostos teológicos fundamentais...................................................................................... 237
1.1. Objetivo da mensagem e itinerário teológico-pastoral......................................................................... 237
1.2. Pressuposto Antropológico: primazia da dignidade da pessoa humana............................................... 239
1.3. Pressuposto Antropocristológico: o ser humano à luz do mistério de Cristo....................................... 241
1.4. Pressuposto Cristológico: da encarnação do Verbo à missão da Igreja................................................244
1.5. Pressuposto Eclesiológico: Igreja de Cristo, mistério de missão e comunhão de amor.......................248
1.6. Pressuposto Mariológico: Maria, Mãe de Deus, modelo máximo que conduz os jovens a Cristo.......251
2. Construir a paz no século XXI.................................................................................................. 253
2.1. A natureza e o ideal juvenil de paz diante dos desafios atuais............................................................. 253
2.2. Dimensões práticas da paz....................................................................................................................256
2.3. A missão jovem de paz e os quatro pilares da paz............................................................................... 258
2.4. A unidade dos cristãos como empenho ecumênico.............................................................................. 262
3. Construir a civilização do amor: encarnação histórica do Reino..........................................265
3.1. A cultura efêmera de morte.................................................................................................................. 265
3.2. Descrição da natureza da Civilização do Amor....................................................................................268
3.3. Princípios da Civilização do Amor.......................................................................................................269
3.4. Responsabilidade dos jovens hodiernos............................................................................................... 275
3.5. Reafirmar os grandes valores, negar os antivalores..............................................................................278
4. Conclusão.................................................................................................................................... 281
Primeira diretriz pastoral: uma vida profundamente radicada em Cristo....................................................289
Segunda diretriz pastoral: uma vida estruturada por sólida formação.........................................................291
Terceira diretriz pastoral: formação permanente dos agentes de pastoral juvenil.......................................293
Quarta diretriz pastoral: uma vida animada de amor a Igreja......................................................................295
Quinta diretriz pastoral: uma vida empenhada no mundo e orientada à missão......................................... 296
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................298
1. Documentos fundamentais das JMJ (1965-1996):...................................................................298
2. Discursos pontifícios (1978-2004):............................................................................................ 298
3. Homilias pontifícias (1979-2005):..............................................................................................300
4. Mensagens pontifícias (1980-2004):.......................................................................................... 301
5. Outros textos pontifícios (1979-2003)....................................................................................... 303
Referências bibliográficas
6. Referência bibliográfica extra-pontifícia................................................................................. 303
7. As JMJ em rede.......................................................................................................................... 305
SUMMARY............................................................................................................................ 149
SIGLAS.................................................................................................................................. 151
INTRODUÇÃO......................................................................................................................152
PRIMEIRA PARTE...............................................................................................................157
AS JORNADAS MUNDIAIS DA JUVENTUDE.................................................................157
1. O que são as JMJ?......................................................................................................................157
1.1. Uma forte experiência festiva de fé...................................................................................................... 157
1.2. Um grande momento de comunhão eclesial.........................................................................................158
1.3. Um estímulo à vida cristã e à evangelização........................................................................................ 159
1.4. Fases essenciais do programa das JMJ................................................................................................. 161
1.5. Finalidades fundamentais das JMJ....................................................................................................... 163
2. Caminho histórico-teológico das vinte JMJ.............................................................................165
2.1. Gênese e instituição das JMJ................................................................................................................ 165
2.2. Da I à V JMJ (1986-1990)....................................................................................................................167
2.3. Da VI à X JMJ (1991-1996)................................................................................................................. 170
2.4. Da XI à XV JMJ (1996-2000).............................................................................................................. 173
2.5. Da XVI à XX JMJ (2001-2005)........................................................................................................... 176
3. A peregrinação da Cruz (1984-2005)........................................................................................180
3.1. De Roma a Santiago (1984-1989)........................................................................................................ 181
3.2. De Roma a Manila (1990-1995)...........................................................................................................183
3.3. De Manila a Roma (1996-2000)...........................................................................................................184
3.4. De Roma a Colônia (2001-2005)..........................................................................................................186
4. Conclusão.................................................................................................................................... 188
........................................................................................................................................................190
__________ 8...................................................................................................................................194
O PERFIL DA JUVENTUDE CONTEMPORÂNEA......................................................... 196
1. O universo da juventude hodierna............................................................................................197
1.1. O que significa ser jovem?................................................................................................................... 197
1.2. Quem são os jovens hodiernos?............................................................................................................197
1.3. Análise de uma descrição da situação dos jovens................................................................................ 198
1.4. A sociedade favorece a dependência psicológica dos jovens...............................................................200
1.5. «Confusão entre religioso e paranormalidade».................................................................................... 201
2. Os jovens são seres em busca.....................................................................................................202
2.1. Os jovens são como as gerações precedentes....................................................................................... 202
2.2. Buscam vida espiritual autêntica ......................................................................................................... 204
1.3. Buscam o sentido pleno da vida........................................................................................................... 206
2.4. Buscam o encontro com Jesus Cristo................................................................................................... 207
2.5. Buscam o amor: decisão mais importante............................................................................................ 209
3. Os jovens são seres em relação..................................................................................................210
3.1. A pessoa renasce de um encontro.........................................................................................................210
3.2. Os jovens sem formação religiosa........................................................................................................ 212
3.3. «Os jovens e as novas influências ideológicas»................................................................................... 213
3.4. Os jovens e João Paulo II: mútua fascinação, afinidade de espírito.....................................................217
3.5. Os jovens e os modelos de vida............................................................................................................219
4. Análise pastoral duma pesquisa com participantes das JMJ.................................................222
4.1. Breve apresentação da pesquisa............................................................................................................223
4.2. As JMJ como evento «ordinário».........................................................................................................223
Referências bibliográficas
4.3. Perfil religioso dos jovens das JMJ...................................................................................................... 224
4.4. Uma «pastoral ordinária» das JMJ....................................................................................................... 228
4.5. Uma pastoral juvenil à altura das JMJ..................................................................................................228
5. Conclusão.................................................................................................................................... 231
TERCEIRA PARTE.............................................................................................................. 237
A MENSAGEM DO PAPA À JUVENTUDE CONTEMPORÂNEA .................................237
1. Pressupostos teológicos fundamentais...................................................................................... 237
1.1. Objetivo da mensagem e itinerário teológico-pastoral......................................................................... 237
1.2. Pressuposto Antropológico: primazia da dignidade da pessoa humana............................................... 239
1.3. Pressuposto Antropocristológico: o ser humano à luz do mistério de Cristo....................................... 241
1.4. Pressuposto Cristológico: da encarnação do Verbo à missão da Igreja................................................244
1.5. Pressuposto Eclesiológico: Igreja de Cristo, mistério de missão e comunhão de amor.......................248
1.6. Pressuposto Mariológico: Maria, Mãe de Deus, modelo máximo que conduz os jovens a Cristo.......251
2. Construir a paz no século XXI.................................................................................................. 253
2.1. A natureza e o ideal juvenil de paz diante dos desafios atuais............................................................. 253
2.2. Dimensões práticas da paz....................................................................................................................256
2.3. A missão jovem de paz e os quatro pilares da paz............................................................................... 258
2.4. A unidade dos cristãos como empenho ecumênico.............................................................................. 262
3. Construir a civilização do amor: encarnação histórica do Reino..........................................265
3.1. A cultura efêmera de morte.................................................................................................................. 265
3.2. Descrição da natureza da Civilização do Amor....................................................................................268
3.3. Princípios da Civilização do Amor.......................................................................................................269
3.4. Responsabilidade dos jovens hodiernos............................................................................................... 275
3.5. Reafirmar os grandes valores, negar os antivalores..............................................................................278
4. Conclusão.................................................................................................................................... 281
Primeira diretriz pastoral: uma vida profundamente radicada em Cristo....................................................289
Segunda diretriz pastoral: uma vida estruturada por sólida formação.........................................................291
Terceira diretriz pastoral: formação permanente dos agentes de pastoral juvenil.......................................293
Quarta diretriz pastoral: uma vida animada de amor a Igreja......................................................................295
Quinta diretriz pastoral: uma vida empenhada no mundo e orientada à missão......................................... 296
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................298
1. Documentos fundamentais das JMJ (1965-1996):...................................................................298
2. Discursos pontifícios (1978-2004):............................................................................................ 298
3. Homilias pontifícias (1979-2005):..............................................................................................300
4. Mensagens pontifícias (1980-2004):.......................................................................................... 301
5. Outros textos pontifícios (1979-2003)....................................................................................... 303
6. Referência bibliográfica extra-pontifícia................................................................................. 303
7. As JMJ em rede.......................................................................................................................... 305
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS________________________________ __ ___________________ 144
Referências bibliográficas
CONCLUSÃO COM DIRETRIZES PASTORAIS À LUZ DAS JMJ
(...) o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na
videira (...) Eu sou a videira; vós os ramos. Aquele que permanece em
mim e eu nele, produz muito fruto; porque, sem mim, nada podeis fazer.
(Jo 15, 4-5)
As XX JMJ contribuíram para fazer a Igreja atenta às interrogações e ao grito dos
jovens de hoje, favorecendo assim o diálogo entre as gerações. Uma das chaves do sucesso
das JMJ é o fato de serem realizadas para e pelos jovens com o Papa. Em diversos momentos,
os jovens são convidados a tomar consciência do patrimônio de fé e do testemunho de que são
herdeiros (traditio) e a assumir a grande responsabilidade missionária do terceiro milênio
cristão (redditio): construir a paz na Civilização do Amor. A peregrinação as JMJ tem um
significado espiritual muito profundo e pode constituir de per si importante catequese.
A «peregrinação das JMJ»
570
possibilita, como finalidade, a descoberta da norma
concreta da vida humana: o Verbo eterno de Deus, que João viu, ouviu e tocou (cf. 1Jo 1, 1-
2). A experiência das JMJ foi radicada na verdade da encarnação do Verbo. Os jovens
peregrinos buscam a comunhão com Deus na humanidade de Cristo e descobrem a «história e
a tradição» da Igreja e o próprio Cristo como fundamento dos verdadeiros valores religiosos,
artísticos, culturais e morais. A peregrinação responde à natural necessidade humana de ver e
tocar a Deus. Durante a peregrinação a Buenos Aires (1987), a Santiago de Compostela
(1989), a Czestochowa (1991), a Denver (1993), à Filipinas (1995), a Paris (1997), a Roma
(2000), a Toronto (2002) e a Colônia (2005), os jovens vivenciaram esse encontro/contato
com Cristo.
A maioria dos jovens que participam das peregrinações as JMJ estão próximos ao
modelo oficial de religiosidade, que une compromisso e consciência (o caráter «ativo» da fé)
a uma confiança na orientação da igreja (o caráter «não crítico ou seletivo»). Mas a
religiosidade juvenil não se manifesta monoliticamente: não faltam posições diversas. De um
lado, registra-se presença de jovens que vivem a própria religiosidade de modo afastado, sem
se sentirem muito envolvidos (postura «indefinida») ou sem repensarem pessoalmente a
própria (postura de «espectadores»). De outro lado, também jovens que, mesmo
atribuindo importância à própria e vivendo-a de modo intenso, não se reconhecem
570
JOÃO PAULO II. «Homilia na Missa de encerramento da XV JMJ» (20 ago. 2000). Em DWVEP.
Referências bibliográficas
plenamente na Igreja, e suas posições vão da manifestação de reserva ou perplexidade à
reivindicação de autonomia.
As JMJ ajudam os adultos a reconhecerem a necessidade de depositar confiança,
atribuir responsabilidades e amar profundamente os jovens: eis a intuição fundamental que o
Papa João Paulo II expressou e traduziu em fatos durante as XX JMJ (1985-2005) e em todo o
longo Pontificado (1978-2005). A pastoral juvenil, por sua vez, deve incorporar essa
formidável intuição pontifícia em seu projeto pastoral ordinário, como chave (confiar,
responsabilizar e amar os jovens) que possibilita evangelizar eficazmente o universo juvenil.
A missão irrenunciável da Igreja de hoje consiste em transmitir a rica experiência bi-milenar
aos jovens em relação dialogal ininterrupta.
A Pastoral Juvenil tem como missão fundamental evangelizar o mundo dos
jovens. As JMJ oferecem diretrizes pastorais úteis à Pastoral Juvenil: uma vida
profundamente radicada em Cristo, estruturada por sólida formação (tanto dos jovens como
dos agentes de pastoral juvenil), animada de amor a Igreja, empenhada no mundo e orientada
à missão, além de envolver toda a comunidade cristã, usar linguagem múltipla e apresentar
um cristianismo de grandes horizontes e alta estatura (como visto na segunda parte). Vejamos
detalhadamente cinco diretrizes pastorais à luz das JMJ, porque três foram apresentadas na
segunda parte.
Primeira diretriz pastoral: uma vida profundamente radicada em Cristo
A prioridade da pastoral juvenil consiste em fortificar os jovens na relação com
Jesus Cristo. As JMJ têm permitido a muitos jovens viver uma efusão do Espírito Santo que
se distingue exatamente pelo encontro pessoal com Cristo, descoberto como pessoa viva. Por
isso, conscientemente disse o Papa aos jovens: «Não se pode aprender o cristianismo como
lição composta por diversos capítulos, mas é preciso associá-lo sempre a uma pessoa, a uma
pessoa viva: Jesus Cristo»
571
. Ele falou também a eles que: o «ser e o existir do cristão devem
unificar-se em torno ao núcleo central, a adesão a Jesus Cristo»
572
. Uma símile experiência
renova toda a vida cristã do batizado e revitaliza o zelo pela evangelização.
A relação fundamental com Cristo constitui-se dia após dia na oração pessoal, na
leitura da Palavra de Deus e na vida sacramental regular. Esses elementos não são muito
571
Id. «Messaggio ai giovanni di Francia» (1 giu. 1980) n. 9. Em DWVE.
572
Id. «Discorso nell´incontro con i giovani nella Catedrale Greco-Cattolica di Damasco» (7 magg. 2001), n. 4.
Em DWVE.
Referências bibliográficas
comuns à geração hodierna pouco habituada a enfrentar tarefas concretas e duradouras. Daí a
importância de introduzir e acompanhar tal geração na vida espiritual em movimento.
Os jovens buscam autênticas propostas de oração. Eles também estão geralmente
confusos pelos turbilhões de ofertas espiritualistas díspares, assombrados exatamente com a
própria geração, mas têm fome de silêncio e estão prontos para ser guiados no caminho da
interioridade, absolutamente necessária para o equilíbrio tanto humano quanto espiritual. A
educação para a vida litúrgica e sacramental ajuda a entrar na profundidade da vida de e na
beleza do Mistério da Igreja de Cristo, como magnificamente ilustra o seguinte texto do Papa
João Paulo II aos jovens:
A base de tudo está numa relação cotidiana e sincera com o Mestre divino: a
oração, a escuta da Palavra, e a meditação, a celebração da eucaristia, a
adoração da Eucaristia e o sacramento da Confissão. Voltar às fontes da fé,
à oração, não significa refugiar-se num vago sentimentalismo religioso, mas
dedicar-se mais à contemplação da face de Cristo, condição indispensável
para podê-lo refletir na vida
573
.
Cristo é o modelo por excelência para os jovens hodiernos crescerem até a plena
maturidade. Vimos, na segunda parte, que os jovens precisam de modelos para se espelhar e
construir a vida. Nessa ótica, apresentamos os santos e mártires como modelos
correspondentes às exigências da juventude hodierna. Na terceira parte, vimos Maria como
exemplo de máxima perfeição cristã. Apesar de tudo isso, e mesmo as JMJ reservando um
momento particular (a Vigília) a tais figuras/pessoas, o Papa apresenta especialmente Jesus
Cristo, em sua humanidade, como modelo/caminho ideal por excelência para os jovens do
mundo inteiro:
Cristo é o vosso modelo: Cristo na sua humanidade, Cristo homem. Prestai
atenção: Ele não é o vosso fim, é também o caminho que conduz onde
estais andando. E sobre o caminho Ele age como um pastor; Ele chega ao
fim a ponto de dar a si mesmo como comida para a vossa viagem. Se
aceitardes modelar a vossa juventude sob Cristo, encontrareis o inteiro
processo numa única palavra no Evangelho de Lucas. A palavra é que Jesus
‹crescia›. ‹Jesus crescia em sabedoria, idade e graça diante de Deus e dos
homens› (Lc 2, 52). Esse não é um convite para vós? A palavra de Cristo
‹segui-me› (Mt 4, 19) deveria tocar uma corda particular no vosso coração.
Aceitai o chamado de Cristo, esse é um modo seguro de responder a vossa
vocação de serdes adultos plenamente maduros; e esta é a aspiração
fundamental de todo jovem merecedor
574
.
Daí segue que o exemplo e o testemunho pessoal são elementos educativos
importantes para se inserir na vida da pastoral juvenil. Os jovens têm necessidade de perceber
a coerência entre palavra e ação. Nessa ótica, seria importante mostrá-los testemunhas da fé,
573
Id. «Discorso ai giovani della Diocesi di Roma» (5 apr. 2001), nn. 5 e 6. Em DWVE.
574
Id. «Discorso agli studenti dell´università di Santo Tomas» (18 febb. 1981), n. 2. Em DWVE.
Referências bibliográficas
comprometidas na vida da Igreja e no mundo. A pastoral vocacional está no coração de cada
pastoral juvenil, porque os jovens refletem sobre o próprio advir para descobrir a vocação, o
chamado único de Deus para cada ser humano.
A presença de pessoas de diversos estados de vida nos grupos juvenis fará crescer
nos jovens o desejo de santidade e lhes ajudará a reconhecer a vocação específica
(matrimônio, sacerdócio, vida consagrada) para responder radicalmente o chamado do
Senhor. Assim a pastoral das vocações será realmente valorizada, enquanto plenamente
integrada ao conjunto dos objetivos pastorais, embora isso implique necessariamente um
programa de ação pastoral exigente.
Segunda diretriz pastoral: uma vida estruturada por sólida formação
Os jovens estão prontos para serem instruídos e educados na fé, ainda que se
declarem não crentes ou estranhos a Igreja. Eis um dos paradoxos da nossa época. A
ignorância deles quanto às realidades de torna-os abertos para receber um primeiro
nutrimento, que permite ascender à formação mais sólida. Depois das JMJ, constata-se de fato
um incremento de catecúmenos e de praticantes de «retorno», sobretudo nos países
organizadores do evento, como ilustramos na segunda parte. O interesse suscitado pelas
«catequeses», «guiados pela atenção pastoral dos Bispos»
575
, ocorridas durante as JMJ, ilustra
também essa tendência, como vimos na primeira parte. Daí segue a quarta pista para a
pastoral juvenil hodierna: por que não efetivar a experiência catequética positiva das JMJ em
âmbito local? Por que não programar e estabelecer encontros catequéticos dos bispos com os
jovens no âmbito diocesano? Mas que tipo de formação privilegiar em tais encontros?
Os jovens de hoje necessitam de formação, ao mesmo tempo, estruturada e
estruturante, que associe os fundamentos da e a experiência cristã. Uma formação sólida e
acurada, constantemente nutrida pela meditação da Palavra de Deus, acompanhada e
promovida pelos agentes de pastoral, que ajudam os jovens no caminho de fé, e fundamentada
sobre critérios apropriados para discernir a genuína identidade cristã e em sintonia com os
Pastores da Igreja
576
sem perder a capacidade crítica.
Mas, para ser atraente, tal formação deve ser acessível e diversificada. Ela pode
ser descrita da seguinte forma, conforme os textos do Papa João Paulo II aos jovens:
575
Id. «Mensagem aos jovens cubanos» (23 jan. 1998), n. 6. Em DWVE.
576
Cf. Id. «Mensaggio ai giovani della F.U.C.I.» (26 apr. 2002), n. 1. Em DWVE.
Referências bibliográficas
a) uma «formação integral»
577
, que considere a pessoa holisticamente, tanto
no aspecto humano como espiritual, também na relação entre natureza e
graça. Uma formação integral capaz de preparar os jovens para vida
responsável no seio da família, da sociedade e da Igreja, formação humana
e espiritual
578
;
b) uma formação bíblica e antropológica
579
, que introduza os jovens na
compreensão do plano da salvação de Deus para os seres humanos, e os
ajude a estruturarem a personalidade e a exercitarem responsavelmente a
liberdade. Esta se constitui como prioridade, porque os jovens de hoje têm
muita dificuldade para empenhar-se e tomar uma decisão que abarque toda
sua vida. É preciso estimular o gosto pela Palavra e a alegria de poder
testemunhar Deus
580
;
c) uma formação doutrinal sistemática e coerente, que sublinhe as nossas
razões de crer e ofereça o tesouro da cristã, assim como foi transmitida
pela Tradição;
d) uma formação eclesial que ajude os jovens batizados a descobrirem a
própria identidade cristã e a amarem a Igreja como uma Mãe que cuida dos
filhos e vigia pela educação para a vida;
e) uma profunda formação moral cristã, que seja intimamente vivida e
realize síntese cada vez mais harmoniosa ente e razão, entre e cultura,
entre fé e vida
581
. Uma formação ética que dê pontos de referência objetivos
para os jovens orientarem-se em suas opções fundamentais na vida
concreta.
Considerando a diversidade das situações, surge a necessidade de propor aos
jovens «percursos» congruentes com o itinerário de fé. Nessa ótica, é bom que a pastoral
juvenil considere os diversos aspectos da formação integral apresentados
577
Id. «Homilia durante a santa missa para os estudantes dos ateneus da cidade de Roma» (10 dez. 2002), n. 4.
Em DWVE.
578
Cf. Ibid.
579
Interessante notar que o Papa indica aos jovens de modo magistral os ensinamentos basilares da palavra de
Deus: a natureza mesma de Deus, conhecer o destino eterno, a verdadeira dignidade do homem, como se
comportar e a presença sempre atual de Cristo. Cf. GIOVANNI PAOLO II. «Omelia nella santa messa per i
giovani del movimento internazionale-OASI» (24 lug. 1980), n. 2. Em DWVE.
580
JOÃO PAULO II. «Homilia na missa para os participantes no VII Fórum Internacional da Juventude» (17
ago. 2000), n. 2. Em DWVEP.
581
Cf. Id. «Omelia nella messa pasquale per gli universitari romani» (5 apr. 1979), n. 5. Em DWVE.
Referências bibliográficas
complementarmente, não isoladamente. Daí a exortação do Papa aos agentes de pastoral
juvenil acerca de tais aspectos formativos: «Este é um maravilhoso programa pastoral, que
deveis atuar dia a dia; este é o vosso serviço de amor»
582
. Ele nos oferece também memorável
testemunho sobre a necessidade da formação integral dos jovens, no qual recorda a sua
experiência pastoral pessoal com a juventude universitária:
Recordo a minha experiência universitária pessoal. Do cotidiano com os
alunos e os professores, aprendi que é necessária uma formação integral,
capaz de preparar os jovens para a vida: um ensino que os eduque a fim de
poderem assumir de maneira responsável o papel que lhes cabe no seio da
família e da sociedade, com uma competência não profissional, mas
também humana e espiritual
583
.
Não resta dúvida de que, se a pastoral quiser responder adequadamente à sua
missão evangelizadora do universo juvenil, precisa elaborar projeto de formação integral do
jovem hodierno, que abarque todos os aspectos apresentados. Então, o que dizer dos agentes
de pastoral juvenil? Eles também precisam de formação permanente.
Terceira diretriz pastoral: formação permanente dos agentes de pastoral
juvenil
A formação dos formadores/agentes de pastoral juvenil é uma das necessidades
urgentes da Igreja de hoje. Graças às JMJ, cresceu uma geração de jovens, a denominada
«geração de João Paulo II», a geração das «sentinelas da manhã»
584
, a geração do «povo das
bem-aventuranças»
585
. Esses jovens têm necessidade de nova geração de formadores, nova
nos métodos, nos programas e no entusiasmo. Consciente disso, o Papa diz-nos abertamente:
Hoje é necessário repensar o modo de aproximar-nos dos jovens para
anunciar-lhes o Evangelho. Devemos colocar-nos certamente em questão
para evangelizar o mundo juvenil, mas com a certeza de que também hoje
Cristo quer deixar-se ver, (...) quer mostrar a todos o seu Rosto
586
.
O setor da pastoral juvenil, talvez mais que outros setores pastorais da Igreja,
exige testemunho autêntico e crível de Cristo, que corresponda às expectativas juvenis. Quem
trabalha com os jovens sabe bem o quanto é fácil desiludi-los, e quão pouco basta para perdê-
los.
582
Id. «Discorso ai giovani della Diocesi di Roma» (5 apr. 2001) nn. 5 e 6. Em DWVE.
583
Id. «Homilia durante a santa missa para os estudantes dos ateneus da cidade de Roma» (10 dez. 2002), n. 4.
Em DWVEP.
584
Id. «Messaggio al movimento giovanile e guanelliano» (20 apr. 2002), n. 4. Em DWVE.
585
Id. «Mensagem em preparação para a XVIII JMJ» (8 mar. 2003) n. 1. Em DWVEP; Id. «Homilia na XVII
JMJ» (28 jul. 2002), n. 6. Em DWVEP; Id. «Homilia na concelebração eucarística no DR» (24 mar.2002), n. 5.
Em DWVEP.
586
Id. «Discorso ai giovani della Diocesi di Roma in preparazione alla XIX GMG» (01 apr. 2000), n. 2. Em
DWVE.
Referências bibliográficas
A pergunta dos gregos aos apóstolos, «Queremos ver Jesus» (como visto na
primeira parte: tema da XIX JMJ-2004), exprime plenamente o desejo profundo dos jovens
corações. Um desejo que lhes estimula a olharem em torno, a procurarem, a interrogarem.
Essa expectativa, essa esperança, para os responsáveis da pastoral juvenil, acarreta pergunta
inadiável sobre a própria capacidade de fazer o jovem de hoje «ver Jesus».
A pastoral juvenil hodierna não pode ser uma rotina. É urgente redescobrir a
dimensão profética, reencontrando o ardor, a coragem, a capacidade de ir contra a correnteza,
de romper com esquemas preestabelecidos. Ela se constitui como campo de ação, no qual se
decide o futuro da Igreja. Mas métodos e programas por si não bastam, se não tivermos a
capacidade de nos questionar. Daí surge a necessidade de nos interrogarmos seriamente
acerca do próprio testemunho de vida diante desta permanente pergunta originada no mundo
dos jovens: «queríamos ver Jesus» (Jo12, 21). O Papa comenta assim esse texto bíblico na sua
Carta Apostólica Novo millennio ineunte:
Como aqueles peregrinos de dois mil anos, os homens do nosso tempo,
talvez sem se dar conta, pedem aos crentes de hoje não que lhes falem de
Cristo, mas também que de certa forma façam ver (...) nosso testemunho
seria excessivamente pobre, se primeiro não fôssemos contemplativos do seu
rosto
587
. E acrescenta: vivemos num tempo em contínuo movimento, em que
muitas vezes se chega à agitação, caindo-se facilmente no risco do “fazer por
fazer”. É preciso resistir a esta tentação, procurando antes o “ser” ao
“fazer”
588
.
As JMJ interpelam os agentes de pastoral juvenil menos sobre o fazer, porque
geralmente se realizam muitas coisas, e mais sobre o ser. Talvez seja preciso promover menos
congressos, menos convênios e mais retiros espirituais para sermos melhor. A pastoral juvenil
hodierna exige maior consistência espiritual. Incentivando a formação espiritual dos agentes
de pastoral juvenil, o Papa disse aos jovens vocacionados: «O requisito necessário para o
(apostolado) é a formação espiritual, mediante a qual encontramos a unidade da personalidade
e da existência e descobrimos a importância da oração pela Igreja e pelo Mundo»
589
.
Assim, a formação permanente dos agentes de pastoral juvenil, setor
verdadeiramente estratégico da ação pastoral da Igreja, mostra-se como questão de máxima
importância nos dias de hoje.
587
Id. Carta Apost. Novo millennio ineunte. São Paulo: Paulus/Loyola, ³2003, n. 16.
588
Ibid., n. 15.
589
Id. «Messaggio durante la veglia di preghiera per le vocazioni-XII-GMG» (21 ago. 1997), n.1. Em DWVE.
Referências bibliográficas
Quarta diretriz pastoral: uma vida animada de amor a Igreja
As JMJ, como apresentadas no início da primeira parte, são uma ocasião
privilegiada para fazer os jovens descobrirem a Igreja na sua universalidade. Daí surge à
questão: como fazer ainda mais presente essa dimensão da Igreja na pastoral ordinária? Um
meio simples e pedagógico seria fazer os jovens viverem no ritmo da Igreja universal:
associando a pastoral ordinária às iniciativas do Papa João Paulo II com os jovens nas JMJ;
fazendo-os rezar regularmente segundo as intenções da Igreja; e fazê-los conhecer a riqueza
educativa extraordinária dos textos pontifícios estudados.
A pastoral juvenil ordinária enriquecer-se-ia muito se inspirasse a ação pastoral
nas grandes orientações do Papa. Ela poderia, por exemplo, colher algumas diretrizes
pastorais da mensagem anual que ele dirigia (e agora Bento XVI dirige) aos jovens do mundo
inteiro, por ocasião de cada JMJ. Isso tem muita relevância, porque o estudo e a meditação da
mensagem pontifícia nos grupos paroquiais são um elemento fundamental do programa
pastoral de cada JMJ, como indicamos na primeira parte. Isso goza de validez tanto na fase
preparatória, como no pós-JMJ.
Outro elemento positivo das JMJ é fazer os jovens descobrirem a Igreja na sua
universal-diversidade. O Papa oportunamente mostra-nos, em homilia aos jovens
participantes do VII Fórum Internacional, essa diversidade-católica como manifestação da
riqueza do dom da Revelação:
Quanta riqueza na universalidade da Igreja, na sua ‹catolicidade›! Quanta
diversidade segundo os países, os ritos, as espiritualidades, as associações,
movimentos e comunidades, quanta beleza e, ao mesmo tempo, que
profunda comunhão nos valores e adesão comuns à pessoa de Jesus, o
Senhor! Percebestes, vivendo e orando juntos, que a diversidade dos vossos
modos de acolher e de exprimir a fé não vos separa uns dos outros nem vos
põe em concorrência. Ela é apenas uma manifestação da riqueza daquele
único e extraordinário dom que é a Revelação, do qual o mundo tanto
precisa
590
.
Em cada Igreja local seria bom promulgar essa experiência, encorajando ao
conhecimento da realidade eclesial diversa e suscitando iniciativas e colaborações novas, por
exemplo, entre paróquias e escolas, entre instância diocesana, movimentos eclesiais e novas
comunidades. É uma ocasião propícia para consentir a uns e outros a possibilidade de se
conhecerem melhor e se respeitarem reciprocamente. Para os jovens, ávidos por conhecer de
590
Id. «Homilia na missa para os participantes no VII Fórum Internacional da Juventude» (17 ago. 2000), n. 2.
Em DWVE.
Referências bibliográficas
maneira diversa a fé, podem ser tomadas várias iniciativas que favoreçam a partilha, com os
coetâneos provenientes de ambientes e horizontes culturais diferentes e com jovens de outras
regiões e/ou países.
Mas permanece intacta a dificuldade principal do pós-JMJ: como encorajar os
jovens a freqüentarem as paróquias, pois geralmente as suas dioceses de proveniência são
pouco numerosas e constituídas majoritariamente por pessoas idosas (particularmente na
Europa hodierna)? Eles não se sentem atraídos porque não encontram a vida vivenciada nas
JMJ, com centenas de milhares de jovens reunidos em torno ao Papa. Não é certamente
possível «reproduzir» artificialmente a experiência de comunhão vivida em Manila, Denver,
Paris, Roma, Toronto e, na JMJ mais recente, Colônia (Alemanha-2005, com Bento XVI).
Mas, com zelo, os agentes de pastoral juvenil podem ajudar as paróquias, os assistentes e os
grupos de suas cidades ou regiões a tornarem-se mais uma comunidade aberta, na qual a vida
fraterna seja calorosa: porque vida atrai vida. Uma das prioridades pastorais é a qualidade da
acolhida, que seja atenta e personalizada. Isso comporta a presença de pessoas disponíveis
para escutar os jovens e caminhar com eles na fé. Uma pastoral da confidência. Desse modo,
os jovens virão e começarão a participar confiantemente.
Na sociedade atual, os jovens experimentam grande solidão, muitas vezes
mascarada pela necessidade de agregações; eles buscam saídas nas bandas de músicas ou nos
grupos de amigos. Mas o verdadeiro crescimento humano e espiritual encontra-se na
constituição de uma rede de acompanhantes formados no âmbito das comunidades cristãs.
Em poucas palavras: o pós-JMJ exige da pastoral local o estabelecimento de uma
pastoral de escuta e de acompanhamento personalizado. Eis o formidável ensinamento do
Papa João Paulo II a todos pastoralistas: «Deus não considera a humanidade como uma massa
anônima, mas se detém diante de cada indivíduo e cuida de cada um pessoalmente»
591
.
Quinta diretriz pastoral: uma vida empenhada no mundo e orientada à missão
Se a oração e a vida espiritual são elementos importantes de cada vida cristã, a
experiência concreta demonstra que muitos jovens têm necessidade de fazer alguma ação e de
servir. Por isso, encorajá-los a aderir a iniciativas humanitárias e/ou sociais pode ser um bom
meio para ajudá-los a tomarem consciência do fato de que o cristão deve empenhar-se no
mundo e assumir as próprias responsabilidades na sociedade, ao serviço do bem comum e da
591
Id. «Homilia para Universitários de Roma» (10 dez. 2002), n. 5. Em DWVE.
Referências bibliográficas
construção da paz na Civilização do Amor. Colocando-se a serviço dos mais pobres, o
coração do jovem abrir-seà compaixão e à caridade e, em resposta ao desígnio de Deus ao
revelar o próprio amor a todos os homens, crescerá nele o desejo da missão.
A pastoral juvenil deve considerar essa prospectiva missionária, animada pelo
desejo de salvação de todos os homens. Suscitar localmente diversas iniciativas missionárias
faz os jovens compreenderem que a missão é a vocação normal e «essencial» de todos os
batizados. Toda forma de evangelização implica um anúncio explícito. Essas iniciativas não
se opõem ao testemunho de vida, também necessário no âmbito da existência cotidiana
normal, no mundo dos estudos, do trabalho ou no tempo livre. Muitos jovens não se sentem
bem participando de Igreja estática, mas de Igreja dinâmica, que não os teme e sai do
fechamento, como fez o Papa no decurso das XX JMJ, para pregar e testemunhar
publicamente a própria fé. Daí a necessidade de a pastoral juvenil promover e estimular as
peregrinações a lugares, às vezes desconhecidos ou abandonados, que possibilitem os jovens
descobrirem as raízes cristãs da sua história e cultura.
Conclui-se que pensar hoje a pastoral juvenil implica necessariamente fazer
referência ao magistério eclesiástico do Papa João Paulo II, autêntico mestre de Pastoral
Juvenil. As JMJ, acontecimentos protagonizados por ele com e para os jovens, marcaram a
ação pastoral da Igreja nos últimos 20 anos (1985-2005). Tais acontecimentos deram aos
jovens a plena cidadania na comunidade eclesial e responsabilidades no corpo social. Ele
exerceu influência carismática sobre os jovens, de forma que eles lhe escutaram as palavras e
procuraram seguir-lhe os substanciosos ensinamentos. Mas nem sempre conseguiram acolher
toda a densidade e riqueza da mensagem teológico-pastoral dos textos pontifícios por ocasião
das JMJ. O Papa das JMJ foi apoiado, acompanhou e indicou o caminho de Cristo aos jovens
do mundo inteiro, durante a sua peregrinação apostólica terrestre, com sincera gratidão a
Deus:
Aqui quero expressar, do íntimo do meu coração, um sincero agradecimento
a Deus pela dádiva da juventude que, através de vós (jovens), subsiste na
Igreja e no Mundo. Além disso, desejo agradecer-Lhe com emoção porque
me concede acompanhar os jovens do mundo durante as últimas duas
décadas do século (... e início do novo milênio), indicando-lhes o caminho
que conduz a Cristo, ‹o mesmo ontem, hoje e sempre› (Hb 13, 8). Mas, ao
mesmo tempo, dou-Lhe graças porque os jovens acompanharam e apoiaram
o Papa ao longo da sua peregrinação apostólica através dos países da terra
592
.
592
JOÃO PAULO II. «Mensagem para a XVI JMJ, 2001» (14 fev. 2001), n.1. Em DWEVP.
Referências bibliográficas
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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JOÃO PAULO II. «Entrega da Cruz do Ano Santo (1984)». Em DWDJ.
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Internacional da Juventude. São Paulo: Paulinas, 1985.
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(Documentos Pontifícios).
MENSAGEM do Concílio aos Jovens (1965). Em DWDJ.
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4. Mensagens pontifícias (1980-2004):
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——, «Mensagem ao Colégio Cardinalício e a Cúria Romana» (1985). Em DWVE.
——, «Incontro con i Giovani in Piazza San Giovanni in Laterano» (1985). Em DWVE.
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——, «Messaggio ai giovani radunati a Czestochowa-Polônia in ocasione del X anniversario
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Referências bibliográficas
5. Outros textos pontifícios (1979-2003)
JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Redemptoris Hominis. São Paulo: Loyola, 1979
(Documentos Pontifícios).
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——, Anno Internazionale della Gioventù: incontro di Giovanni Paolo II con i giovani in
piazza San Giovanni Laterano. Vaticano: Vaticana, 1985.
——, Carta Apostólica Cristifideles Laici. São Paulo: Loyola, 1986.
——, Saluto e meditazione nella festa di benvenuto dei giovani nel Champ-Mars di Parigi»
(1997). Em DWVE.
——, «Meditazione durante l´incontro con giovani» (1997). Em DWVE.
——, Bula Pontifícia Incarnationis mysterium. São Paulo: Loyola, 1998 (Documentos
Pontifícios).
——, «Saudação aos jovens em preparação para o DMJ» (1998). Em DWVEP.
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Em DWVE.
——, «Incontro con i giovani nel Kiel-Center di St. Louis» (26 jan. 1999). Em DWVE.
——, «Recita del Santo Rosario con gli universitari romani» (2001). Em DWVE.
——, «Recita del Santo Rosário con gli universitari romani» (2001). Em DWVE
——, «Recita del Santo Rosario con gli universitari romani» (2001). Em DWVE.
——, «Recita del Santo Rosário con gli universitari romani» (2001). Em DWVE.
——, «Saluto del Santo Padre nella festa di accoglienza dei giovani» (2002). Em DWVE.
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SZULC, Tad. João Paulo II: biografia. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995.
7. As JMJ em rede
Desde a JMJ de Roma (2000), a organização das JMJ viaja na web: encontros,
calendários, notas organizativas, conselhos e instrumentos preparatórios do evento estão
reunidos, principalmente, no site oficial do evento, mas também nas páginas de paróquias,
entre outras. Porém, a web o ajuda só a organização dos eventos, mas serve também como
fonte de pesquisa, na qual recolhemos as emoções, as recordações, os comentários pós-
evento.
Os sites são muitos diversificados quanto aos números de páginas, conteúdos,
propostas, link, mas também aos gráficos, tempo de aggiornamento. Para nos orientar no
arquipélago dos sites dedicados ao argumento e links pesquisados com as palavras «jovens-
jmj», selecionamos alguns sites, distintos pelos aspectos organizativo/pastoral e
emotivo/experiencial:
a. Portais oficiais
http://www.gmg2000.it/
http://www.gmg2002.it/
Referências bibliográficas
http://www.gmg2005.it/ ou http://www.jmj2005.com.br
b. Portais gerais, com seções dedicadas as JMJ
http:/www.vatican.va/gmg.html ou http://www.vatican.va/jmj.html
http:/www.giovani.org/
http:/www.papaboys.it/
http:/www.oltrelagmg.net/
http://www.inx16/jmj/
http://www.wjt2005.de/index.php/
http://www.jmj2005.blogger.com.br/
c. Páginas web – algumas solicitações
http://www.pime.org.br/pimenet/noticias2004/noticiasvaticano111.htm
http://www.vatican.va/ro.../rc_pc_laity_doc_20000815_xv-youth-day_program_po.htm
http://www.db.avvenire.it/avvenire/gmg/index.jsp?idCategoria=47
http://www.rai.it/rainet/community/pub/copertina/copertinaindex/o,4965,11_19,00.htm
http://web.tiscali.it/ricordigmg2000/links_italia.htm (possui conexões a outras páginas da
web, idealizadas por grupos italianos que participaram da JMJ 2000, onde fotos,
reflexões e recordações desta experiência).
http://amos.arezzogiovani.it/amos_rubriche.html
http://www.wekthzgebdtag.ch/2000/
http://www.sympatico.ca/raymond.martel3/jmj2002.tml
http://br.news.yahoo.com/050821/40/wru6.html
http://www.paroquias.org/jmj.php3?id=2378
http://www.pime.org.br/pimenet/noticias2004/noticiasvaticano111.htm