Mas se a necessidade do conceito exclui o caminho folgado da
conversa raciocinante, como também o rígido procedimento do pedantismo
científico, seu lugar, como acima lembramos, não deve ser tomado pelo não-
método do pressentimento e do entusiasmo, e pelo arbitrário do discurso
profético que não só despreza aquela cientificidade, mas a cientificidade em
geral.
O conceito da ciência surgiu depois que se elevou à sua significação
absoluta aquela forma triádica que em Kant era ainda carente-de-conceito,
morta, e descoberta por instinto. Assim, a verdadeira forma foi igualmente
estabelecida no seu verdadeiro conteúdo. Não se pode, de modo algum,
considerar como científico o uso daquela forma [triádica], onde a vemos
reduzida a um esquema sem vida, a um verdadeiro fantasma. A organização
científica [está aí] reduzida a uma tabela.
Já falamos acima desse formalismo de modo geral. Queremos agora
expor mais de perto sua maneira de proceder. Julga que concebeu e exprimiu a
natureza e a vida de uma figura, quando afirmou como predicado uma
determinação do esquema; por exemplo, a subjetividade ou a objetividade, ou
então o magnetismo, a eletricidade etc., a contração ou a expansão, o oeste ou o
leste etc. Coisas semelhantes podem ser multiplicadas ao infinito, pois, nesse
procedimento, cada determinação ou figura pode ser reutilizada em outra, como
forma ou momento do esquema; e cada uma, agradecida, pode prestar o mesmo
serviço à outra. E um círculo de reciprocidades, através do qual não se
experimenta o que seja a Coisa mesma, nem o que seja uma nem a outra. Aí se
aceitam, por um lado, determinações sensíveis da intuição vulgar, que de certo
devem significar algo diverso do que dizem; e, por outro lado, o que é em si
significante, as determinações puras do pensamento — como sujeito, objeto,
substância, causa, universal etc. — são aplicadas tão sem reflexão e sem crítica
como na vida cotidiana. Do mesmo modo [se fala de] força e fraqueza,
expansão e contração, de tal forma que aquela metafísica é tão a-científica
quanto essas representações sensíveis.
Em vez da vida interior e do automovimento de seu ser-aí, essa
simples determinidade da intuição — quer dizer, aqui: do saber sensível — se
exprime conforme uma analogia superficial. Chama-se construção essa
aplicação vazia e exterior da fórmula. A tal formalismo toca a mesma sorte de
qualquer formalismo. Deve ser bem obtusa a cabeça em que não se possa
inculcar, num quarto de hora, a teoria das doenças astênicas, estênicas; e
indiretamente astênicas e outros tantos métodos de cura. E como não esperar,
com tal ensino, em pouco tempo transformar um curandeiro em doutor? O
formalismo da filosofia da natureza pode ensinar que a inteligência é a
eletricidade, ou que o animal é o nitrogênio, ou então igual ao sul ou ao norte;