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Universidade Federal Fluminense
Centro de Ciências Médicas
Curso de Pós-Graduação (Mestrado) em Ciências Médicas
CLÁUDIA REGINA NETO PEREIRA
Fatores de risco para lesões intra-epiteliais cervicais de alto grau e
câncer cervical. Um estudo de caso-controle no serviço de
Patologia Cervical do HUAP.
Dissertação submetida ao Curso de Pós-
Graduação em Ciências Médicas da Universidade
Federal Fluminense como parte dos requisitos
necessários à obtenção do Grau de Mestre em
Ciências Médicas. Área de Concentração: Ciências
Médicas
Orientadores: PROF. DRA. LEDY DO HORTO DOS SANTOS OLIVEIRA
PROF. DRA. MARIA LUIZA GARCIA ROSA
Niterói
2006
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Milhares de livros grátis para download.
II
Pereira, Cláudia Regina Neto Pereira
Fatores de risco para lesões intra-
epiteliais cervicais de alto grau e câncer
cervical: um estudo caso controle no serviço de
Patologia Cervical do HUAP / Cláudia Regina Neto
Pereira – Niterói : [s.n.], 2006.
P436
103 f., 30 cm.
Dissertação (Mestrado em Ciências
Médicas)-Universidade Federal Fluminense, 2006.
1
. Neoplasias do colo do útero. 2. Fatores
de risco. 3. Papillomavirus humano.4. Neoplasia
intra-epitelial cervical. I.Título.
CDD 616.994
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III
CLÁUDIA REGINA NETO PEREIRA
Fatores de risco para lesões intra-epiteliais cervicais de alto
grau e câncer cervical. Um estudo de caso-controle no serviço de
Patologia Cervical do HUAP.
Dissertação submetida ao
Curso de Pós-Graduação do Centro de
Ciências Médicas da Universidade
Federal Fluminense como parte dos
requisitos necessários à obtenção do
Grau de Mestre em Ciências Médicas.
Área de Concentração: Ciências
Médicas
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dra. Silvia Maria Baeta Cavalcanti
Universidade Federal Fluminense.
Prof. Dra. Izabel Christina Palmier Paixão Frugulhetti
Universidade Federal Fluminense
Prof. Dr. Gutemberg Leão de Almeida Filho
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Niterói
2006
IV
A Deus,
Aos meus pais, pelo apoio incondicional e por tornarem tudo possível,
Ao meu marido, por sua compreensão,
Ao meu filho, por me mostrar as mudanças que o amor é capaz,
Muito Obrigada!
V
Agradecimentos:
Ao longo destes anos de Mestrado, diversas pessoas contribuíram de várias formas
para a elaboração desta tese. Desta forma, agradeço:
À minha orientadora Ledy do Horto S. Oliveira, por ter sido incansável em sua
dedicação ao nosso trabalho, compreensiva e companheira nos momentos de dificuldades
(que foram inúmeros), acessível e aberta a discussões e alternativas.
À minha co-orientadora Maria Luisa Garcia Rosa, por simplificar e explicar
pacientemente o incompreensível, e por seu empenho incondicional.
À Dra. Eliana de Vasconcelos Machado Rodrigues, professora de Ginecologia, por
compartilhar seu conhecimento e por sua infinita boa vontade.
À Dra. Maria Diva Paz de Lima Ferreira por sua paciência e contribuição teórica e
prática.
Aos meus amigos com quem compartilhei momentos de alegrias e angústias,
principalmente à minha amiga Elaine Toscano pelos desabafos e pela ajuda cibernética.
Aos colegas: Gentil Vasconcelos, Paula Faria, Roberta Silva e Tomás Barrese por
facilitarem a execução do trabalho.
À coordenação do Curso de Pós-Graduação em Ciências Médicas por estar sempre
disponível para resolver nossos problemas.
VI
“Disseram-vos que a vida é escuridão: e no vosso
cansaço, repetis o que os cansados vos disseram.
Eu vos digo que a vida é realmente escuridão, exceto
quando há um impulso.
E todo o impulso é cego, exceto quando há saber.
E todo o saber é vão, exceto quando há trabalho.
E todo o trabalho é vazio, exceto quando há amor.”
Gibran
VII
SUMÁRIO
ÍNDICE DE FIGURAS..................................................................................................................................VIIII
ÍNDICE DE TABELAS ......................................................................................................................................IX
LISTA DE ABREVIAÇÕES...............................................................................................................................X
RESUMO ........................................................................................................................................................... XII
ABSTRACT................................................................................................................................................. XIVIV
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................................1
1.1 HISTÓRICO..................................................................................................................................................2
1.2 O VÍRUS HPV...............................................................................................................................................3
1.2.1 Classificação ..........................................................................................................................................3
1.2.2 Biologia dos Papilomavírus ...................................................................................................................4
1.2.3 Ciclo Oncogênico...................................................................................................................................5
1.2.4 Ciclo Produtivo ......................................................................................................................................6
1.3 HISTÓRIA NATURAL DA INFECÇÃO......................................................................................................7
1.4 ASPECTOS CLÍNICOS DO HPV.................................................................................................................9
1.5 EPIDEMIOLOGIA DO HPV ......................................................................................................................15
1.6 FATORES DE RISCO PARA EVOLUÇÃO DA DOENÇA.......................................................................19
1.7 DIAGNÓSTICO..........................................................................................................................................25
1.7.1 – Colpocitologia oncótica ....................................................................................................................26
1.7.2 Colposcopia..........................................................................................................................................28
1.7.3 Métodos de biologia molecular............................................................................................................29
1.7.3.1 Captura do híbrido ...........................................................................................................................................29
1.7.3.2 Reação da polimerase em cadeia (PCR)...........................................................................................................30
1.8 TRATAMENTO..........................................................................................................................................30
1.9 PREVENÇÃO.............................................................................................................................................31
2 OBJETIVO.......................................................................................................................................................33
3 MATERIAL E MÉTODO...............................................................................................................................34
3.1 DESENHO DO ESTUDO E POPULAÇÃO................................................................................................34
3.2 PROCESSAMENTO DAS AMOSTRAS....................................................................................................35
3.2.1 Extração do DNA das amostras ...........................................................................................................36
3.2.2 Detecção e Tipagem do DNA ...............................................................................................................36
3.2.2.1 Reação de PCR ................................................................................................................................................36
3.2.2.2 Detecção dos produtos de PCR (amplicons)....................................................................................................37
3.2.2.3 Tipagem do HPV .............................................................................................................................................38
3.3 ANÁLISE ESTATÍSTICA..........................................................................................................................39
4 RESULTADOS.................................................................................................................................................40
5 DISCUSSÃO.....................................................................................................................................................48
6 CONCLUSÕES ................................................................................................................................................55
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................................................56
8 ANEXOS...........................................................................................................................................................63
I. TRABALHOS APRESENTADOS EM CONGRESSOS................................................................................................63
II. TRABALHOS PUBLICADOS EM PERIÓDICOS ACEITOS E EM FASE DE IMPRESSÃO ..............................................65
III. QUESTIONÁRIO.............................................................................................................................................66
IV. TRABALHO SUBMETIDO A PUBLICAÇÃO NO INTERNATIONAL JOURNAL OF GYNECOLOGICAL CANCER......ERRO!
INDICADOR NÃO DEFINIDO.
VIII
ÍNDICE DE FIGURAS
FIGURA 1 - LESÕES DO EPITÉLIO CERVICAL: PERSISTÊNCIA, PROGRESSÃO E REGRESSÃO........14
FIGURA 2 - PACIENTES NÚMEROS 1, 3, 5, 6 E 7 POSITIVOS PARA HPV TIPO 16 PELA TÉCNICA DE
PCR. ......................................................................................................................................................................42
IX
ÍNDICE DE TABELAS
TABELA 1 - DISTRIBUIÇÃO DAS PACIENTES POR VARIÁVEIS DEMOGRÁFICAS, SÓCIO-
ECONÔMICAS, COMPORTAMENTAIS E BIOLÓGICAS.........................................................41
TABELA 2 - DISTRIBUIÇÃO DA PRESENÇA DE INFECÇÃO POR HPV, SEGUNDO DIAGNÓSTICO
POR PCR.........................................................................................................................................43
TABELA 3 - CARACTERÍSTICAS SOCIO-DEMOGRÁFICAS, ESTILO DE VIDA E FATORES
REPRODUTIVOS NOS GRUPOS DE CASOS E CONTROLES..................................................44
TABELA 4 - ODDS RATIOS PARA FATORES DE RISCO AJUSTADOS POR IDADE NOS GRUPOS DE
CASOS E CONTROLES.................................................................................................................45
TABELA 5 - ASSOCIAÇÃO ENTRE CÂNCER VERSUS HSIL E CO-VARIÁVEIS.......................................46
TABELA 6 – ODDS RATIO AJUSTADOS ENTRE CÂNCER E HSIL, E CO-FATORES QUE
APRESENTARAM NÍVEL DE SIGNIFICÂNCIA INFERIOR A 0.1...........................................47
X
LISTA DE ABREVIAÇÕES
AIDS – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
ASCUS – Atipias de células escamosas de significado indeterminado
DNA – Ácido desoxirribonucléico
DST – Doença Sexualmente Transmissível
E – Early
HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana
HLA – Human Leucocyte Antigen
HPV – Papilomavírus humano
HSIL – Lesão intra-epitelial de alto grau
HUAP – Hospital Universitário Antônio Pedro
IARC – International Agency for Research on Cancer
INCA – Instituto Nacional do Câncer
L – Late
LCR – Long Control Region
LSIL – Lesão intra-epitelial de baixo grau
NIC – Neoplasia intra-epitelial cervical
OMS – Organização Mundial de Saúde
OR – Odds Ratio
XI
PCR – Reação em cadeia de polimerase
RNA – Ácido ribonucléico
SIL – Lesão intra-epitelial
SUS – Sistema Único de Saúde
UFF – Universidade Federal Fluminense
VLP – Vírus Like Particle
XII
RESUMO
Embora largamente estudados, os fatores de risco na progressão ao câncer cervical não
estão bem esclarecidos. Para investigá-los, estudamos uma população feminina, selecionada
por citologias cervicais prévias alteradas. Realizamos um estudo de corte transversal de caso
controle em pacientes encaminhadas ao Serviço de Patologia Cervical do Hospital
Universitário Antônio Pedro (HUAP), no período de junho de 2000 a março de 2005. Foram
considerados como controles as pacientes com citologia normal ou padrão inflamatório, lesão
por HPV, ASCUS e LSIL (NIC I) e, considerados como casos, as pacientes com HSIL (NIC
II, III, ca in situ) ou carcinoma invasor. Esfregaços cervicais foram coletados das pacientes e
processados para extração do DNA por fenol-clorofórmio-álcool isoamílico. A detecção e a
tipificação do DNA viral foram realizadas pela técnica da reação da cadeia da polimerase
(PCR) por amplificação com os oligonucleotídeos iniciadores genéricos My09/My11 e
tipadas para HPV 6, 11, 16, 18, 31, 33, 35 e 58 com oligonucleotídeos tipo-específicos. A
amostra continha 84 casos e 117 controles e era composta em sua maioria por mulheres de
mais de 30 anos, não brancas, baixa renda familiar, baixa escolaridade, com parceiro estável e
mais de um parceiro sexual durante a vida, com até dois filhos, sexarca até 17 anos e com
história familiar de neoplasia. A prevalência de infecção por HPV foi de 75,6%. Os tipos de
HPV de alto risco foram responsáveis por 84,4% das infecções tipadas, sendo o HPV 16
(53,3%) o mais prevalente. Entre as amostras positivas para HPV, 11,2% foram consideradas
como de tipo indeterminado, fato este que deve ser considerado na produção de vacinas anti-
HPV. Como fatores de risco independentes para o câncer cervical encontramos alto índice de
infecção por tipos oncogênicos de HPV, baixa escolaridade, tabagismo, paridade e história
familiar de neoplasia. Observamos uma interação entre HPV de alto risco e idade acima de 30
anos, que sugere fortemente presença de infecções virais persistentes. Na estratificação por
idade, HPV de alto risco (p<0,001) e escolaridade (p=0,015) foram fatores significativos para
XIII
a progressão de lesões, seguido do tabagismo (p=0,029) em mulheres mais velhas. Na
evolução de HSIL a câncer cervical, a idade foi o fator principal (p=0,002), com chances que
aumentam 9% a cada ano de vida. A cor não branca e baixa escolaridade foram fatores que
afetaram a progressão a câncer nas mulheres estudadas (0,056 e 0,067). Observamos que as
características da população feminina atendida pelo SUS são, em grande parte, os fatores de
risco para o desenvolvimento do câncer cervical.
XIV
ABSTRACT
Although the risk factors associated to cervical cancer have been esively studied, they
are not fully understood. To investigate them, we studied a female population referred for
previous abnormal cytology. Therefore, a case control study was undertaken including
women who attended the Service of Cervical Pathology of Antonio Pedro University Hospital
(HUAP), from June 2000 to March 2005. Patients with normal cytology or carrying HPV,
ASCUS, and LSIL (CIN I) were included in controls. Patients who were diagnosed as HSIL
(CIN II, III, ca in situ) or invasive cancer were referred as cases. Cervical smears containing
ectocervical and endocervical cells were taken from each patient and processed for DNA
extraction with phenol-cloroform-isoamyl alcohol. HPV detection was performed by PCR
assay using the generic primers My09/My11. Typing was done with specific primers for 6,
11, 16, 18, 31, 33, 35 e 58 types. The population studied was grouped in 84 cases and 117
controls. It was composed by women above 30 years, non-white, poor income status, low
schooling, living with a stable sexual partner and have more than one lifetime sexual partner.
Besides, they had two children or less, age of first intercourse below 17 years and familiar
neoplasia history. The overall prevalence of HPV infected individuals was 75.6% Among
them, 84,4% were infected by high risk HPV types being HPV 16 type the most prevalent.
We found 11.2% of undetermined types, an event that may be considered for anti-HPV
vaccines manufactory. High risk HPV infection, low schooling, smoking, parity and familiar
neoplasia history affected significantly cancer development as independent risk factors. We
also observed an association between high risk HPV and age above 30 years suggesting
persistent viral infection. After stratification for age, high risk HPV (p<0.001) and schooling
(p=0.015) were significant factors to lesions development, followed by smoking (p=0.029) in
older women. Age acted as the main factors in progression from HSIL to cervical cancer
(p=0.002), with 9% of incresead chance to develop cancer for each year of life. Non-white
XV
ethnia and poor schooling were also associated to cancer progress in the analysed women
(p=0,056 and p=0,067). We verified that the characteristics of the female people who attended
the SUS are, in part, the risk factors to cervical cancer development.
1
1 INTRODUÇÃO
Desde que foi sugerida a associação entre os papilomavírus humanos (HPV) e câncer
cervical, por zur Hausen
(1)
, em 1974, e apesar de fortes evidências epidemiológicas e
experimentais desta associação, tornou-se claro que o HPV sozinho não é causa suficiente
para o desenvolvimento do câncer, representando uma parte dos múltiplos fatores envolvidos
na oncogênese cervical
(2)
. O HPV é causa necessária, mas não suficiente para o
desenvolvimento do câncer cervical
(3)
.
Além da infecção por HPV, fatores adicionais devem estar envolvidos no processo de
desenvolvimento dos tumores cervicais. A interação dos diversos fatores de risco com
prevalências diferentes em cada população pode levar a diferentes probabilidades de
desenvolvimento de lesões cervicais. Entender a epidemiologia da infecção pelo HPV e os
co-fatores envolvidos na progressão da doença são passos importantes no desenvolvimento de
estratégias para prevenção do câncer cervical em populações com perfis semelhantes.
2
1.1 HISTÓRICO
As verrugas genitais são reconhecidas como doenças sexualmente transmissíveis
desde a Antiguidade (Grécia e Roma antiga). Hunter
(4)
, em 1786, fez clara descrição das
verrugas genitais, mas considerou-as manifestações sifilíticas.
Licht
(5)
, em 1894, foi quem inicialmente relatou produção experimental de verrugas
ao verificar seu desenvolvimento na pele após inocular material de verrugas de seu irmão.
Waelsch
(6)
, em 1918, demonstrou experimentalmente que verruga vulgar e condiloma
acuminado eram causados pelo mesmo extrato filtrado.
Goodman & Greenwood
(7)
, em 1934, concluíram que todos os tipos de verruga
(genital, comum e plantar) tinham em comum o mesmo agente etiológico. Em 1968, Dunn &
Ogilvie
(8)
concluíram que as verrugas genitais eram causadas por vírus idênticos ou
fortemente relacionados ao vírus do papiloma humano, o que fora proposto por Melnick
(9)
em
1962.
Em 1974, Zur Hausen et al.
(1)
realizaram estudos que conduziram à identificação de
DNA do HPV por hibridização molecular e à possível existência de diferentes tipos virais nos
condilomas. Em 1976, Meisels e colaboradores
(10)
, descreveram que o reconhecimento de
características morfológicas previamente interpretadas no exame de Papanicolau e nas
biópsias com displasia continham manifestações da infecção do papilomavírus na cérvice. Zur
Hausen em 1977 sugere o HPV como o mais importante agente na etiologia do câncer
cervical.
3
1.2 O VÍRUS HPV
Os papilomavírus são amplamente encontrados na natureza. Não se propagam in vitro
e não produzem infecção em mais de uma espécie, sendo hospedeiro e tecido específicos
(11)
.
O HPV parece ter especificidade tecidual para o epitélio pavimentoso da pele e das
mucosas humanas, e os diferentes tipos de HPV têm preferências para sítios diferentes do
corpo, podendo ser divididos em 2 grupos: os cutaneotrópicos (causadores de verrugas
vulgares) e os mucosotrópicos (que acometem mucosas genitais, orais e respiratórias), apesar
de lesões cutâneas também estarem relacionadas a HPV genitais
(11)
.
A infecção viral pode gerar lesões clínicas localizadas, sintomáticas, subclínicas ou
latentes, sendo a manifestação clínica mais comum a presença de verrugas.
1.2.1 Classificação
Os papilomavírus pertencem ao gênero Papillomavírus, da família Papillomaviridae
(12)
. Estes vírus são classificados por tropismo para uma determinada espécie, designados por
tipos e numerados por ordem de descoberta. Atualmente, cento e dezoito papilomavírus já
foram descritos, incluindo cerca de 100 HPV baseados no isolamento do genoma completo
(13)
. Muitos ainda estão sem classificação. Cerca de 40 tipos infectam o trato genital.
Conhecendo-se a seqüência nucleotídica, considera-se novo tipo de HPV quando a
seqüência de nucleotídeos dos gens L1, E6 e E7 (30% do genoma viral) diferir em mais de
10% dos tipos conhecidos. Caso as diferenças sejam menores que 2%, o novo tipo isolado é
tido como variante do mesmo tipo ou intratipos. Subtipos virais são genomas cujas seqüências
nucleotídicas diferem entre 2 e 10% dos tipos descritos. Desta forma, os papilomavírus são
genotipados e não sorotipados
(14)
. As classificações são importantes, pois cada uma reflete
um tropismo tecidual específico e diferentes propriedades oncogênicas
(15)
.
4
Os HPV genitais são caracterizados como: baixo risco (ex: 6 e 11), que estão
relacionados a lesões hiperproliferativas e lesões intraepiteliais de baixo grau, raramente
promovendo lesões malignas; e HPV de alto risco, com mais de 50% de prevalência em
lesões intraepiteliais de alto grau e mais de 80-90% de prevalência em câncer cervical
(16)
. Os
HPV de alto risco são aproximadamente em torno de 15 tipos, e estão significativamente
relacionados à progressão para carcinoma invasor ( 16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58,
59, 66, 68, e possivelmente poucos outros tipos)
(17)
. A maioria destes tipos de HPV de alto
risco é filogeneticamente associada ao HPV 16 (31, 33, 35, 52 e 58) ou HPV 18 (39, 45, 59 e
68) e sua distribuição pode variar de acordo com a região geográfica. A origem geográfica do
HPV parece ter implicação no prognóstico da infecção. Observa-se pela análise de PCR, que
as mulheres com vírus de origem não européia têm uma tendência maior para a persistência
da infecção do que as variantes européias. Além disso, as não-européias estão mais associadas
a maior prevalência e incidência de lesões de alto grau
(18)
.
1.2.2 Biologia dos Papilomavírus
Estes vírus consistem de partículas icosaédricas, não envelopadas, de pequeno
diâmetro (50 nm), cujo capsídeo é composto por 72 capsômeros. O genoma do vírus é
composto por um DNA de dupla fita circular, cujo comprimento varia entre 7500 e 8000
pares de bases, e peso molecular de 5,2 x 10
6
dáltons. Comparado a outros vírus, como o vírus
do herpes simples, o HPV é um vírus relativamente pequeno
(15)
. Apesar das partículas virais
serem muito semelhantes entre si à microscopia eletrônica em relação à organização de
genoma e dimensões, os HPV diferem nas seqüências de nucleotídeos do DNA
(11)
.
Todos os papilomavírus sequenciados são similares em sua organização genômica. O
genoma do HPV divide-se em 2 regiões funcionais (codificantes): regiões E e L, e um
segmento não codificante, LCR (upstream regulatory region). A região E (Early), representa
5
cerca de 45% do genoma viral, codifica proteínas que têm papel na replicação e
transformação (oncogenicidade) e é constituída por seis seqüências abertas de leitura (open
reading frames): E1, E2, E4, E5, E6 e E7. O gen E1 está envolvido na replicação do DNA
viral; a proteína E2 regula a transcrição e replicação do DNA viral; E4 interfere na produção
de infecção viral; E5 tem algumas propriedades de transformação; E6 e E7 codificam
oncoproteínas. A região L (Late), corresponde a 40% do genoma e é composta pelos gens L1
e L2, que codificam as proteínas do capsídeo maior e menor, respectivamente
(19)
. A região
não codificante é denominada LCR (Long Control Region), representa 15%, localiza-se entre
o fim da região L e o início da região E, e está envolvida no controle da expressão das
proteinas das outras regiões virais
(11)
. A compreensão do genoma tem levado a importantes
descobertas na patogênese do HPV e no desenvolvimento de vacinas.
Em nível molecular, a diferença entre os tipos de HPV de baixo e alto risco
oncogênico é relacionada à capacidade do DNA dos últimos de se integrarem ao genoma do
hospedeiro. Podemos considerar a integração como uma mutação, com conseqüências para o
genoma celular e viral
(16)
. Pesquisas mostram integração do HPV 16 e 18 em 72 e 100% dos
cânceres invasivos da cérvice, respectivamente. Seqüências de DNA integradas também são
encontradas em 5 a 50% das neoplasias intra-epiteliais cervicais (NIC), principalmente nas
variantes de alto grau
(20)
. Já em estados inflamatórios ou lesões intra-epiteliais de baixo grau
(LSIL), o vírus é geralmente detectado na forma epissomal
(16)
.
1.2.3 Ciclo Oncogênico
A integração do HPV DNA ao DNA do hospedeiro é crucial para o desenvolvimento
de neoplasia cervical. O vírus passa da forma epissomal (circular) para a forma linear e se
incorpora ao DNA da célula epitelial. Vários estudos sugerem que a integração ocorre num
estágio bem precoce do desenvolvimento do câncer. Em condições fisiológicas, as células que
6
sofrem dano no DNA interrompem o ciclo celular na fase G1/S, permitindo o reparo em caso
de erro de síntese de DNA. As células infectadas por HPV oncogênicos, que expressam as
oncoproteínas E6 ou E7, são resistentes a esta interrupção do ciclo
(21)
.
Ao haver integração, existe ruptura da região E2 do genoma do HPV, o que resulta na
perda de sua função supressora sobre as oncoproteínas E6 e E7. Estas proteínas E6 e E7,
ligam-se respectivamente às proteínas p53 e Rb, que expressam dois importantes genes
supressores tumorais, e esta ligação resulta em sua inativação, culminando em proliferação
celular descontrolada, mutações celulares devido a rearranjo cromossomial, ativação de proto-
oncogene, perda da heterozigose, imortalização celular e instabilidade genômica, que são
estágios fundamentais para o desenvolvimento de neoplasia cervical. A proteína E6 interage
com a proteína celular p53 e está localizada no braço direito do cromossomo 17, tendo função
transativadora. A interação entre E6 e p53 induz a degradação acelerada desta. A p53
inativada não induz o bloqueio do ciclo celular em resposta a danos do DNA e permite a
acumulação de mutações que podem levar à carcinogênese
(22)
. A proteína E7 dos tipos de
HPV de alto risco leva à imortalização dos queratinócitos humanos e à transformação de
certos tipos celulares. A afinidade das proteínas E7 dos HPV dos tipos 16 e 18 para ligarem-se
às proteínas supressoras tumorais é 10 vezes maior do que as proteínas E7 dos HPV dso tipos
6 e 11
(20)
.
1.2.4 Ciclo Produtivo
O ciclo viral produtivo do HPV é dependente da diferenciação das células epiteliais e
o vírus precisa infectar a camada basal. A penetração do vírus ocorre pelas células da
membrana basal do epitélio cervical, consideradas como não permissivas. Na fase de
incubação, que dura de duas semanas a oito meses ou mais, se estabelece a infecção
epissômica, com a interação célula-vírus sendo favorecida por fatores locais (ex: tabagismo,
7
falha do sistema imune, predisposição genética). Há transcrição simples do epissoma viral
ainda na camada basal, fornecendo uma reserva de células infectadas histologicamente
indistinguíveis das células não infectadas, resultando numa infecção latente ou subclínica
(22)
.
A infecção viral pode permanecer sem manifestação ativa da doença nas células
basais, provavelmente na maior parte das pessoas expostas ao HPV. A doença ativamente
revelada resultará numa expressão morfológica em células escamosas diferenciadas. Quando
isso ocorre, há uma fase de proliferação ativa que dura de três a seis meses. Nesta fase, a
estimulação das células hospedeiras leva a alteração pronunciada no crescimento da camada
basal, replicação viral nas camadas médias, efeitos citopáticos virais nas células superficiais.
Estas alterações podem se manifestar como doença óbvia ou campos subclínicos de
acetobranqueamento com graus variáveis de neoplasia ou formas de papilomas
macroscopicamente aparentes. À medida que ocorre a maturação dos queratinócitos, são
sintetizadas proteínas dependentes da diferenciação (E5, E6, E7). As proteínas estruturais L1
e L2, as proteínas associadas à maturação viral, a síntese do DNA vegetativo e a montagem
do vírion ocorrem na camada diferenciada do queratinócito. O aspecto citológico
característico da infecção por HPV (coilocitose, acantose, papilomatose) é induzido por
produtos virais
(23)
.
Após a resposta das células B e T à infecção pelo HPV, segue-se uma fase de
quiescência por três a seis meses. Na fase tardia, aproximadamente 80% das mulheres
afetadas permanecerão em estado de remissão clínica, apesar de poderem continuar a
apresentar infecção persistente ou latente pelo HPV
(11)
.
1.3 HISTÓRIA NATURAL DA INFECÇÃO
A aquisição da infecção pelo HPV é reconhecidamente o principal precursor biológico
desencadeante de uma série de eventos que culminam com o câncer cervical. Seqüências de
8
HPV DNA do tipo de alto risco têm sido encontradas em até 99,7% das lesões neoplásicas da
cérvice uterina, indicando que o HPV é um fator necessário para o câncer cervical
(24)
. Em
1996, a International Agency for Research on Cancer (IARC) e a Organização Mundial de
Saúde consideraram os genótipos 16 e18 do HPV como agentes etiológicos do câncer de colo
de útero
(25)
.
Pouco tempo depois da sexarca, muitas mulheres são infectadas pelo HPV
(26)
.
Raramente essas mulheres apresentam sintomas ou sinais de infecção, embora seja possível
que várias dessas infecções acarretem lesões intra-epiteliais microscópicas que passem
desapercebidas
(25)
. Em poucos anos a infecção não é mais detectável na grande maioria
dessas mulheres, ou por ter sido realmente eliminada, ou por se tornar latente
(26)
. Parte das
mulheres inicialmente infectadas desenvolve lesões cervicais de baixo grau (NIC I), que
freqüentemente regridem de modo espontâneo. Apenas uma minoria das mulheres expostas ao
vírus desenvolve infecção persistente. O período de incubação da infecção varia de 2 a 3
semanas a 8 meses, com uma média de 3 meses. Após o contágio, o vírus pode desaparecer,
eliminado pelas defesas do organismo.
A via sexual é a modalidade de contato mais comum para a aquisição da infecção pelo
HPV genital, apesar da infecção também ser transmissível por fômites contaminados (toalhas,
roupas íntimas, entre outros) e periparto ou intra-parto, mas estas vias são claramente menos
importantes que a via sexual
(27)
. Estudos mostram que o HPV está virtualmente ausente em
mulheres sem nenhuma experiência sexual anterior (virgens e monjas). O HPV pode ser
transmitido de uma mulher para outra, como tem sido mostrado em mulheres que têm relações
sexuais com outras mulheres. Coito anal pode resultar em infecção anal e lesões neoplásicas
em mulheres e homens. Há relatos de que 19% das mulheres com HSIL cervical têm
evidência de lesão intra-epitelial anal
(17)
. A multicentricidade associada à infecção pelo HPV
9
sugere que um sítio pode servir de reservatório para outro. Parece que condoms não fornecem
proteção completa, provavelmente devido à infecção ser pan-genital
(17)
.
Diversos estudos mostram que a infecção pelo HPV geralmente é um evento
transitório ou intermitente, apenas uma pequena proporção da população infectada tende a
permanecer positiva em exames subseqüentes e a maioria das infecções torna-se indetectável,
mesmo por técnicas muito sensíveis de detecção de DNA do vírus em 1 a 2 anos. Em torno de
70% das infecções pelo HPV do tipo de alto risco e 90% das infecções por HPV de baixo
risco são erradicadas dentro de um período de 30 meses
(28)
. A duração média da infecção pelo
HPV é de 8 meses. Até 12 meses após a infecção, 70% das mulheres não estão mais
infectadas pelo vírus, e após 24 meses, somente 9% permanecem infectadas
(29)
.
Há dúvidas se há eliminação viral definitiva, pois os HPV que foram clareados podem
reaparecer com expressão clínica vários anos mais tarde, quando há uso de imunossupressor,
doença HIV, transplante, ou seja, quando o suporte imune não é mais tão eficaz. Quando há
primo-infecção pelo HPV, a carga viral é alta, e vai diminuindo, podendo negativar em dois
ou três anos, na maioria dos casos. A negativação corresponde à quantidade ínfima de cópias
daquele HPV em questão. Pode durar dias, meses ou uma vida com carga viral não detectável.
Mas caso haja imunodepressão, mesmo sem contato com outro HPV, a doença no indivíduo
infectado pode voltar a se expressar
(17)
.
A média de tempo de permanência de positividade para o HPV é substancialmente
maior para os tipos de alto risco (8,1 meses) do que para tipos de baixo risco (4,8 meses)
(30)
.
1.4 ASPECTOS CLÍNICOS DO HPV
A infecção é facilmente transmissível, com o vírus penetrando no organismo através
de microtraumatismos na superfície epitelial decorrentes da relação sexual, sendo que a
topografia das lesões verrucosas é típica das áreas mais expostas ao trauma, como fúrcula e
10
intróito vaginal, lábios menores e clitóris. A cérvice apresenta lesão condilomatosa em 6 a 8%
dos casos principalmente na zona de transformação, onde o epitélio é mais frágil. Estudos
mostram que 50 a 70% das lesões condilomatosas da cérvice estão associadas a NIC, mas a
infecção subclínica é a forma mais comum de acometimento da cérvice. Infecções no intróito
e vagina são tão comuns quanto infecções cervicais, evidenciando desta forma a importância
da zona de transformação no processo de carcinogênese
(27)
.
A zona de transformação do epitélio cervical é há longo tempo reconhecida como
local de origem do pré-câncer e câncer. A vulnerabilidade desta área parece ser relacionada
ao processo de metaplasia escamosa inerente a esta área. O ciclo de vida do HPV é
dependente da proliferação e diferenciação celular do hospedeiro, e estas fases são partes
integrantes do processo de metaplasia escamosa. Teoricamente, as células basais em
diferenciação da zona de transformação são vulneráveis ao dano do DNA e mutações durante
o processo replicativo. O HPV é um organismo exclusivamente intracelular que infecta
células mitoticamente ativas para se estabelecer no epitélio. Isso explica por que tanto os
carcinomas escamosos como os glandulares se originam na junção escamo-colunar e dentro
da zona de transformação, pois nesse local há acesso imediato às células basais e parabasais
do epitélio metaplásico. Adolescentes com SIL (lesão intra-epitelial) mostram maiores áreas
de ectopia do que adolescentes sem SIL, e estudos mostram que a infecção pelo HPV é mais
comum em adolescentes que tiveram menarca recentemente, sugerindo uma vulnerabilidade
ao HPV nas áreas de ectopia e no período próximo à menarca
(15)
.
A infecção inicial da cérvice parece começar através de abrasões ou
microtraumatismos na superfície epitelial, promovendo o acesso do vírus às células
permissivas da camada basal de células primordiais não diferenciadas do epitélio, onde
permanecem no estado epissomal. Em princípio, os vírus podem permanecer relativamente
latentes, ou seja, o vírus está presente nas células basais e parabasais sem nenhuma evidência
11
clínica e sem mudanças visíveis no epitélio-alvo. Mantêm-se na camada basal na forma
estável e em múltiplas cópias, garantindo uma infecção persistente. Ou pode haver uma
infecção ativa das células parabasais, com o HPV induzindo hiperplasia celular da camada
basal do epitélio e a síntese das proteínas do vírus, e pode ocorrer a formação de uma lesão
epitelial visível, como uma verruga genital, por exemplo. Nesta situação de replicação ativa, o
número de partículas virais aumenta substancialmente durante o ciclo de vida da célula
epitelial, até as células que possuem grandes números de vírions completos serem esfoliadas
na superfície epitelial. Esta infecção produtiva está associada a efeitos citopáticos virais que
dão origem às manifestações citológicas e histológicas típicas
(27)
. A replicação viral produtiva
é associada com o aparecimento de proliferação hiperplásica das células basais e parabasais
(acantose), vacuolização citoplasmática degenerativa (coilocitose), e espessamento variável
das camadas celulares mais superficiais (hiperqueratose e paraqueratose). Outras
características morfológicas importantes associadas à infecção incluem ativação e
espessamento nuclear, picnose e binucleação e em formas mais severas de atipia nuclear,
agrupamento irregular da cromatina e hipercromasia
(31)
.
A prevalência de processos sugestivos de HPV segundo a citologia em algumas
populações pode alcançar taxas em torno de 13%. Já estatísticas norte-americanas mostram
que aproximadamente 7% das mulheres apresentam colpocitologia oncótica alterada,
requerendo avaliação adicional. A história natural do carcinoma cervical envolve alterações
reversíveis no tecido cervical que podem variar desde o estado normal, onde nenhuma
alteração é encontrada no epitélio escamoso, a vários estágios de anormalidades celulares que
levam ao câncer cervical. Esta seqüência forma a premissa na qual o rastreio citológico é
baseado e corresponde ao processo carcinogenético do desenvolvimento da neoplasia intra-
epitelial cervical
(32)
.
12
A doença pelo HPV tem cura clínica, apesar da grande possibilidade de recidiva nos
três primeiros anos, e após este período, a possibilidade de recidiva é remota e aconteceria
apenas se uma doença crônica debilitante ou uso de imunossupressores causassem
desequilíbrio entre o vírus e o hospedeiro
(32)
.
A infecção pelo vírus pode ocorrer em três formas distintas: latente, clínica e
subclínica. A forma latente ocorre quando o vírus permanece nas células do estrato basal por
longo período, em forma evidenciável apenas através de técnicas de detecção do DNA por
biologia molecular em indivíduos clínica e histologicamente normais, ou seja, com citologia,
colposcopia e biópsia normais. Infecções latentes, que se supõem serem não infecciosas,
provavelmente representam o maior reservatório para infecções HPV genitais. Ainda não é
claro se essas infecções latentes também podem ser residuais de lesões que regrediram
espontaneamente
(27)
. Na infecção clínica, a lesão pode ser identificada a olho nu, na forma de
condiloma plano, espiculado ou acuminado (kondilos deriva do grego e quer dizer excrecência
carnosa, tumor), geralmente associados a tipos de HPV de baixo risco como HPV 6 (65%) e
11 (20%). O aspecto macroscópico dos condilomas é de pequenas neoformações sésseis,
papilares, múltiplas, cobertas por epitélio queratótico. As lesões podem ser únicas ou
múltiplas, confluentes ou disseminadas, de tamanho que pode variar de 0,2 a 1 cm, que podem
confluir, atingindo grandes superfícies do trato genital. Localizam-se nas áreas úmidas,
particularmente naquelas expostas ao atrito durante o coito. As lesões aumentam com o passar
do tempo, crescem rapidamente até um certo ponto, parecendo ser autolimitadas. A infecção
clínica é incomum no colo do útero. Na forma subclínica, a lesão só pode ser identificada com
o uso do colposcópio após aplicação de ácido acético a 5% e geralmente é associada a tipos de
HPV de alto risco, através de alterações na citologia ou no resultado histopatológico de uma
biópsia. É a forma mais freqüente de infecção. A progressão da fase de incubação para a de
infecção ativa depende de três fatores: da permissividade celular, do tipo de vírus e do estágio
13
imunológico do hospedeiro. Alguns autores descrevem que as lesões latentes ou subclínicas
podem se tornar clínicas após períodos de tempo extremamente variáveis
(11, 27, 33, 34)
.
A manifestação citológica do HPV (LSIL) é comum, em torno de 25% de adolescentes
e mulheres jovens desenvolvem LSIL após uma infecção por HPV. Apesar da LSIL ser
encarada como uma expressão benigna da infecção viral, fatores de risco para o
desenvolvimento de LSIL parecem ser distintos daqueles associados à aquisição do HPV, o
que sugere que o desenvolvimento da LSIL não é apenas uma simples infecção viral. Estudos
(32)
mostram que 20-40% destas lesões (LSIL) progredirão para HSIL, com regressão
espontânea em torno de 50-60%, em mulheres adultas. Segundo estudos destes mesmos
autores, em adolescentes (13-22 anos), a probabilidade de regressão da LSIL seria de 61% em
12 meses e 91% em 36 meses. A probabilidade de progressão para HSIL, no mesmo período
foi de 3%. Estas diferenças em taxas de regressão seriam baseadas em vários fatores.
Primeiro, porque infecções por HPV em adolescentes são extremamente freqüentes e
transitórias e mulheres mais velhas com LSIL na citologia poderiam representar uma
população com infecção por HPV persistente, o que é um risco para HSIL
(28)
. Cerca de 10%
das LSIL podem progredir para HSIL ou, em proporção mínima, carcinoma invasor.
A persistência do HPV é um fator necessário para a emergência do pré-câncer, mas
uma grande fração de lesões pré-câncer derivam da infecção pelo HPV na ausência de lesões
intra-epiteliais de baixo grau detectáveis citologicamente. Em termos histológicos, parece que
uma porcentagem razoável de NIC III deriva somente da infecção pelo HPV, sem atravessar a
fase de NIC I, mas no entanto, a certeza desta afirmação ainda não é confirmada, ainda
necessitando mais estudos
(17)
.
14
INFECÇÃO POR HPV
EPITÉLIO ESCAMOSO –COLUNAR
DA CÉRVICE UETRINA
LESÃO GLANDULAR INTRAEPITELIAL
–ADENOCARCINOMA IN SITU
ADENOCARCINOMA
INVASOR
EPITÉLIO CILÍNDRICO EPITÉLIO ESCAMOSO
LESÃO INTRAEPITELIAL
ESCAMOSA - SIL
LSIL – NIC I HSIL – NIC II E NIC III
Figura 1 –
Lesões do epitélio cervical: persistência, progressão e regressão. Adaptado de
Bosch et al.
(35)
REGRESSÃO
TOTAL OU
PARCIAL
REGRESSÃO
TOTAL OU
PARCIAL
CARCINOMA
EPIDERMÓIDE
INVASOR
PERSISTÊNCIA
PERSISTÊNCIA
15
1.5 EPIDEMIOLOGIA DO HPV
A infecção pelo HPV é a doença sexualmente transmissível viral mais freqüente na
população humana sexualmente ativa. A prevalência de DNA do HPV, considerando
diferentes populações femininas no mundo, tem variado entre 3 e 70%
(36)
, e a infecção é
particularmente comum em adolescentes e mulheres jovens, ocorrendo em mais de 70%
destas, tendo sido postulado que a imaturidade biológica da cérvice associada ao
desenvolvimento adolescente normal, pode tornar esta cérvice vulnerável a DST, incluindo o
HPV
(28)
. Estima-se que nos Estados Unidos, a prevalência de manifestação clínica da
infecção por HPV seja de 1% entre os adultos sexualmente ativos e pelo menos 15% têm
infecção sub-clínica, detectada por testes de biologia molecular, encontrando-se entre 18 e 28
anos, a população mais atingida
(31)
. De acordo com algumas estimativas, metade das
mulheres sexualmente ativas desenvolverá pelo menos uma infecção pelo HPV em 10 anos, e
mais de 79% das mulheres contrairão pelo menos uma infecção pelo HPV entre 20 e 79 anos
(37)
. Apesar da alta prevalência do vírus, somente uma pequena fração das mulheres infectadas
(menos que 3%) eventualmente desenvolverá câncer de colo de útero. O fato da prevalência
dos picos de infecção ser em idades mais precoces, declinando à medida que a idade atinge a
proximidade dos 50 anos (como nos EUA e Europa), dá-se provavelmente como resultado da
imunidade HPV tipo específica adquirida. Já em outras populações, em outras áreas
geográficas, não há um grande declínio na prevalência do HPV de acordo com a idade, a
curva nunca cai significativamente. Esta variação de padrões é de grande importância na
elaboração de estratégias de rastreamento e prevenção. Alguns estudos mostram que
populações altamente expostas, como prostitutas, mostram uma diminuição significativa na
prevalência de HPV com a idade, a despeito da manutenção do fator de risco, mostrando aqui
a importância do desenvolvimento da imunidade
(17)
.
16
O HPV mais encontrado na população em geral, conforme estudos epidemiológicos, é
o HPV 16 (53%), seguido pelo HPV 53, tipos indeterminados e HPV 58
(30)
. Já nas lesões
neoplásicas invasivas, os tipos de HPV mais prevalentes foram o 16 (53%), 18 (15%), 45
(9%), 31 (6%) e 33 (3%)
(3)
. O HPV 16 foi identificado mais frequentemente em carcinomas
de células escamosas (55.2%) do que em adenocarcinomas (31.3%), já o HPV 18 foi mais
prevalente em adenocarcinomas (37.7%) do que em carcinoma de células escamosas (12.3%)
(3)
.
O DNA do HPV 16 foi encontrado em 10-25% das NIC I, em 25-40% das NIC II e em
50-75% das NIC III; já o DNA do HPV 18 foi encontrado em 5%, 2% e 4% das NIC I, II, III,
respectivamente
(38)
.
Schlecht e colaboradores
(32)
encontraram média de duração de ASCUS de 7,9 meses
para pacientes negativas para HPV; 10,5 meses em HPV de tipos não oncogênicos e 15,4
meses para HPV oncogênicos. Já as médias de tempo de duração de LSIL foram de 8,9, 10,3 e
12,2 meses para HPV negativos, HPV não oncogênicos e HPV oncogênicos, respectivamente.
Em relação ao tempo de progressão da lesão para graus maiores, de ASCUS para LSIL houve
médias de 67 e 88 meses para HPV do tipo oncogênico e não oncogênico, respectivamente.
Na progressão da LSIL, médias de 73,3 e 83,5 meses para HPV oncogênicos e não
oncogênicos, confirmando que lesões por causadas por HPV oncogênico progridem mais
rapidamente que os tipos de HPV não oncogênicos. Em relação à idade, observou-se que
mulheres com mais de 30 anos têm um risco maior de progressão da lesão do que mulheres de
16-30 anos
(32)
. Moreno et al
(39)
calculou taxas médias de progressão para HSIL em 24 meses
em 7,1%, 20,8% e 23,4% para ASCUS, LSIL e persistência de HSIL, respectivamente; e
verificou médias de regressão espontânea para uma citologia (Papanicolau) normal de 68,2%
para ASCUS; 47,4% para LSIL e 35% para HSIL.
17
A progressão da infecção por HPV para neoplasia intra-epitelial cervical (NIC I) –
lesão de baixo grau, parece ocorrer em 6 a 15% dos casos, em período variável de 3 a 5 anos.
A evolução para lesão de alto grau ocorreria em 10 a 25% dos casos, após 3 anos Moreno et
al
(39)
, descreve que 50% dos casos de lesões pré-cancerosas progridem a câncer após 16 anos
de acompanhamento. A evolução para câncer microinvasor pode ocorrer após 6 anos da lesão
inicial e após 14 anos para carcinoma invasor com metástase
(33; 40)
.
O câncer cervical é o terceiro câncer mais comum na população feminina no Brasil
(após câncer de pele não melanoma e mama), correspondendo a 10% de todos os tumores
malignos em mulheres, e é a quarta causa de morte por câncer em mulheres no país. No
contexto mundial, o câncer de colo de útero é o segundo tipo mais comum em mulheres,
sendo responsável anualmente por cerca de 471 mil casos novos e pelo óbito de
aproximadamente, 230 mil mulheres por ano. Para 2006, estimativas prevêem 19.260 novos
casos de carcinoma cervical no Brasil, com risco estimado de 20 casos a cada 100.000
mulheres. Estimativas de novos casos por região em 2006 mostram para a região Norte, 1.680
novos casos no ano, na região Nordeste, 4.700 novos casos, na região Centro-Oeste, 1.490, na
região Sul, 4.180 e na região Sudeste, 8.640 novos casos no ano. Sem considerar os tumores
de pele não-melanoma, o câncer de colo é o mais incidente na região Norte (22/100.000). Nas
regiões Sul (28/100.000), Centro-Oeste (21/100.000) e Nordeste (17/100.000) é o segundo
tumor mais incidente. Na região Sudeste, é o terceiro mais freqüente (20/100.000)
(40)
. São
estimados 466.000 novos casos de câncer cervical diagnosticados a cada ano no mundo, sendo
que 80% destes casos ocorrem em países em desenvolvimento
(41)
. A incidência global
estimada de câncer invasivo é em torno de 371.000 casos por ano. Quatro de cinco novos
casos de câncer cervical e a maioria das mortes ocorrem nos países em desenvolvimento
(20)
.
As áreas de maior risco são América Central e do Sul, Caribe, África Sub-Saárica e sul e
sudeste da Asia, com taxas de incidência de pelo menos 30 novos casos por 100.000 mulheres
18
ao ano
(42)
. Nos países desenvolvidos, as taxas médias de incidência anuais são baixas
(menores que 14/100.000). A incidência de câncer de colo de útero é mais evidente na faixa
etária de 20 a 29 anos e o risco aumenta rapidamente até atingir seu pico, geralmente na faixa
de 40 a 60 anos (com maior incidência entre 45 e 49 anos)
(40)
.
As taxas de mortalidade do câncer de colo de útero nos países desenvolvidos vêm
diminuindo, ao contrário do Brasil, onde continuam altas, podendo significar tanto o número
de mortes quanto melhoria na qualidade de informação. As taxas brutas de mortalidade e a
incidência do câncer de colo de útero no país são respectivamente 4,58/100.000 e
18,32/100.000, com variações nas taxas de acordo com a área geográfica. O Nordeste
brasileiro tem as maiores taxas de mortalidade do país, alcançando níveis seis vezes maiores
que a média mundial
(43)
, mas tem as menores taxas de notificação de câncer, sendo as
variações de mortalidade regionais atribuídas às variações de acesso aos serviços de saúde.
No sistema atual, somente 30% das mulheres se submetem ao exame preventivo
(colpocitologia oncótica) pelo menos três vezes na vida, o que resulta em mais de 70% das
pacientes diagnosticadas com câncer de colo de útero apresentando a doença em estágio
avançado já na primeira consulta
(40)
. Dentre todos os tipos de câncer, o de colo de útero é o
que apresenta um dos mais altos potenciais de prevenção e cura, podendo chegar a 100%
quando diagnosticado precocemente. É estimado que uma redução de cerca de 80% da
mortalidade por carcinoma cervical pode ser alcançado através do rastreamento de mulheres
na faixa etária de 25 a 65 anos com exame de Papanicolau
(40)
.
A mortalidade por carcinoma de colo é substancialmente menor que a incidência. Em
países desenvolvidos, a sobrevida média estimada em 5 anos varia de 59 a 69%. Nos países
em desenvolvimento, como os casos são encontrados em estados relativamente mais
avançados, a sobrevida média é cerca de 49% após 5 anos. A média mundial estimada é de
49%
(40)
.
19
Diversos estudos epidemiológicos e de seguimento mostram que: a persistência da
infecção por HPV de alto risco é fator de risco para carcinoma cervical; nenhuma progressão
é observada quando a mulher não tem o vírus ou quando estão presentes vírus não
oncogênicos; cinco a 10% das mulheres com mais de 35 anos apresentam infecção persistente
por vírus de alto risco; pacientes com citologia negativa e com presença de vírus não-
oncogênico não evoluem para lesão de alto grau; mulheres com citologia normal e presença
de vírus oncogênico têm chance 116 vezes maior de evoluir para lesão de alto grau
(33)
.
1.6 FATORES DE RISCO PARA EVOLUÇÃO DA
DOENÇA
Nos últimos anos, inúmeros autores focaram seus estudos nos fatores de risco de
aquisição da infecção pelo HPV e na evolução da doença, apontando aumento do risco de
incidência de infecção pelo vírus em algumas populações, relacionado a idade (jovens, sendo
o pico de incidência de infecção após a iniciação sexual), início precoce da atividade sexual,
número de parceiros (há relação direta entre a detecção da infecção pelo HPV e o número de
parceiros sexuais principalmente nos últimos 7 a 12 meses), atividade sexual do parceiro
(parceiro promíscuo), membro de grupo racial ou étnico minoritário, consumo abusivo de
álcool, tabagismo (diretamente relacionado à quantidade de cigarros), uso de contraceptivos
orais, baixa condição sócio-econômica, outras doenças sexualmente transmissíveis, higiene
íntima inadequada e paridade (partos não cirúrgicos)
(40,44,45)
.
Como apenas uma pequena fração de mulheres que adquire o HPV apresentará
infecção persistente e eventualmente progredirá para câncer cervical, verifica-se a importância
da compreensão dos co-fatores associados à infecção viral, apesar de suas participações ainda
não serem suficientemente esclarecidas.
20
Estudos epidemiológicos realizados nos últimos 30 anos têm indicado que o câncer
cervical é muito influenciado pelo comportamento sexual: número de parceiros sexuais (o
risco parece aumentar proporcionalmente ao número de parceiros sexuais no decorrer da vida
(38)
, múltiplos parceiros (maior ou igual a 4) nos últimos 6 a 12 meses é um fator de risco
significativo para aquisição da infecção
(29)
. Início precoce da atividade sexual (mulheres na
perimenarca têm maior susceptibilidade na zona de transformação da cérvice aos efeitos
carcinogênicos do HPV, talvez relacionado ao “turn-over” celular aumentado durante a
maturação.
Estudos epidemiológicos mostram que o número de parceiros sexuais masculinos que
uma mulher possui está diretamente relacionado ao risco de desenvolvimento de carcinoma
cervical e seus precursores (neoplasia intraepitelia cervical-NIC), sendo sugerido que o
homem é o grande reservatório de DNA HPV, carreando-os em seus pênis e disseminando-os.
Há risco 5 vezes maior em mulheres com 2 ou mais parceiros sexuais antes de completar 20
anos (sabe-se que a detecção do HPV DNA é especialmente ligado ao número de parceiros
sexuais recentes em concordância como uma infecção sexualmente transmissível aguda).
Recentes dados sugerem que o risco de aquisição do HPV aumenta em paralelo com número
de parceiros sexuais, variando de 17% em mulheres com um parceiro, até 83% em mulheres
com cinco parceiros. O comportamento sexual do parceiro também tem relevância. Existe
forte relação entre número de relações extra-maritais do parceiro, particularmente com
prostitutas, e risco de aquisição da infecção. Há relatos de estudos mostrando que esposas de
maridos com câncer de pênis têm risco aumentado de câncer cervical. Sabe-se que a
circuncisão do parceiro masculino reduz a possibilidade de infecção por HPV e diminui o
risco de câncer cervical nas parceiras sexuais
(20; 46;47; 48; 49; 42; 50, 51)
.
O tabagismo é outro fator de risco conhecido, e provavelmente a associação melhor
estabelecida. Mulheres que fumam têm duas vezes mais chance de desenvolver câncer de colo
21
do que não tabagistas. Diversos estudos têm mostrado a relação direta entre fumo e
anormalidades cervicais pré-invasivas e invasivas. Apesar de inicialmente ter sido sugerido
um fator de confusão de fumo com atividade sexual ou outras variáveis, o risco persistiu após
ajuste dos fatores
(38)
. Idade de início, período, freqüência e número de cigarros consumidos,
todos estes fatores parecem influenciar na incidência de lesões displásicas no colo.
Metabólitos da nicotina podem ser encontrados no muco cervical de tabagistas. Sugere-se
uma ação carcinogênica direta no epitélio cervical, com exposição do DNA de células
epiteliais cervicais à nicotina e cotidina, que estão presentes no tabaco, promovendo um efeito
mitogênico e causando dano ao DNA. Um segundo mecanismo seria a imunossupressão.
Alterações verificadas no sistema imune periférico de tabagistas,como diminuição do número
e da atividade dos linfócitos, diminuição do número de células de Langerhans e baixos níveis
sanguíneos de imunoglobulinas, além do tabagismo causar impedimento da defesa imune
local no epitélio cervical e facilitar a mutagênese. Ademais, a nicotina inibe a apoptose no
sistema epitelial in vitro
(52; 53; 42; 20)
.
Há risco aumentado em usuárias de contraceptivos orais por longo período (maior que
5-6 anos). A associação é de alguma forma mais relacionada ao adenocarcinoma do que ao
carcinoma de células escamosas. Estudos mostram que a contracepção hormonal por longo
prazo está associada ao desenvolvimento de HSIL, mas não de LSIL ou ASCUS, resultados
estes que são suportados por vários outros estudos
(54; 55)
. O estradiol e a progesterona
parecem aumentar a atividade transformadora dos oncogenes do HPV, aumentando a
expressão de HPV E6/E7, interferindo na resolução eficiente de lesões causadas pelo vírus na
cérvice. Há relatos que o contraceptivo oral induziria uma deficiência local de folato,
interferindo na síntese e de DNA, ou de alguma forma alteraria a suceptibilidade das células
aos vírus oncogênicos ou carcinógenos químicos, vindo a ser um fator de risco para NIC
(50; 20;
52)
. Pode haver presença de viés nestes estudos, pois a associação do uso de contraceptivo oral
22
pode estar relacionada à atividade sexual não protegida, e ao fato das usuárias da medicação
procurarem atendimento médico mais frequentemente que as não usuárias.
Variáveis sócio-demográficas como classe social (baixo nível sócio-econômico),
estado civil (solteiras), grupos étnicos e religião estão associados ao carcinoma cervical
(40)
.
O número de filhos nascidos vivos (paridade) é um fator de risco consistente para
carcinoma cervical, não tendo sido encontrada relação com abortos espontâneos ou
provocados. Há um padrão linear na associação entre paridade e risco. Uma explicação
possível seria o trauma à cérvice durante o parto, outra, seria o aumento da susceptibilidade à
infecção devido à imunossupressão, influências hormonais e deficiências dietéticas
(55; 56; 42)
.
Doenças sexualmente transmissíveis concorrentes, como herpes simples, sífilis,
gonorréia, Trichomonas vaginallis e principalmente, infecção por Chlamydia trachomatis,
contribuem para o aumento do risco de carcinoma cervical. O mecanismo não é claro, mas
parece que estas infecções atuam como co-fatores na ativação dos mecanismos de
transformação celular, induzindo processo inflamatório crônico ou deprimindo a imunidade
local do trato genital, diminuindo a probabilidade de clareamento da infecção viral,
favorecendo a infecção persistente pelo HPV
(47, 56, 57)
. Estudos mostram que mulheres cujo
resultado de exame de sangue mostram infecção por Chlamydia no presente ou passado têm
maior risco de desenvolvimento de câncer cervical
(40)
.
A resposta imune local, apesar de pouco compreendida, tem tido sua importância
demonstrada no desenvolvimento e progressão do câncer cervical, principalmente no estágio
inicial do processo, no controle da infecção pelo HPV. Enquanto anticorpos contra HPV
parecem exercer pouco efeito de proteção, a imunidade celular parece desenvolver um papel
muito mais importante. Pacientes com imunidade celular deficiente (exemplo: HIV positivas,
pacientes transplantadas), têm taxas maiores de infecção pelo HPV e são mais susceptíveis ao
desenvolvimento de lesões de alto grau, maior gravidade e recidivas. Além disso, o risco de
23
desenvolver carcinoma aumenta de forma diretamente proporcional ao tempo de duração da
terapia de imunossupressão. Há também manifestações mais evidentes da infecção durante a
gravidez, que é sabidamente um período de imunodepressão transitório
(27)
. Já a imunidade
humoral parece não afetar a história natural da infecção pelo HPV
(31)
. A resposta imune ao
HPV é pouco compreendida. Entretanto, deve representar um papel crucial no
desenvolvimento de cânceres, pois indivíduos com tumores associados a HPV têm maior
probabilidade de desenvolverem um segundo tumor
(58)
. A proteção ao HPV é tipo-específica,
contribuindo, pelo menos em parte, para a infecção por múltiplos tipos. A freqüente regressão
das lesões é atribuída à resposta imune celular.
A soropositividade para HIV é um fator de risco independente para infecção por HPV
nas formas latente e clínica. Um baixo número de linfócitos T CD4 (menos de 200 células/ml)
está relacionado à infecção por HPV e o desenvolvimento de NIC
(52; 57)
. Em mulheres
portadoras do HIV-1, a concomitância de infecção pelo HPV e NIC é maior que na população
geral, apresentando risco relativo de 6,6 vezes. Aproximadamente 50% das mulheres com a
Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) possuem citologia cervical anormal com
suspeita de NIC, demonstrando que a imunodeficiência, em especial a redução de linfócitos
T-CD4 está associada a maior prevalência e persistência da infecção por HPV e NIC
(59)
.
A genética do hospedeiro também é relevante no que se relaciona aos antígenos de
histocompatibilidade HLA (Human leucocyte antigen). Como as moléculas do sistema HLA
são responsáveis pela apresentação dos antígenos ao sistema imune, elas têm função essencial
no reconhecimento e eliminação das células infectadas pelo vírus. Em decorrência do alto
grau de polimorfismo genético do sistema HLA, pode-se sugerir que indivíduos que
expressem moléculas de alta afinidade para o reconhecimento de antígenos do HPV tenham
maior proteção do que os que não expressam
(60)
. O polimorfismo da proteína p53,
relacionado ao seu genótipo, pode resultar na produção de uma proteína com unidades de
24
aminoácidos Prolina ou Arginina. Foi demonstrado que mulheres homozigotas para Arginina
são sete vezes mais suscetíveis ao carcinoma cervical do que as heterozigotas Arginina-
Prolina. Esta teoria, entretanto, não tem sido sustentada por outros autores
(61)
. Segundo
Inserra et al
(62)
, não foram encontradas evidências deste polimorfismo em doenças
relacionadas a HPV de alto risco. Estes fatos podem ser justificativas para as recentes
observações em relação à história familiar de câncer cervical, pois mulheres cuja mãe ou
irmãs tenham história de carcinoma cervical, têm maior chance de desenvolvimento da
doença
(63)
.
Um dado relevante em relação à genética viral é o fato de que quase 50% dos casos de
câncer cervical estão associados ao HPV 16. Foram descritas cinco linhagens filogenéticas do
HPV 16, baseadas na região LCR: Européia, Asiática, Américo-Asiática, Africana 1 e
Africana 2. Parece haver associação entre variantes não européias e risco aumentado de
câncer cervical e suas lesões precursoras
(60; 64; 65)
. É possível que variantes não européias, em
associação com outros fatores de risco possam contribuir para a alta prevalência de câncer
cervical no Brasil, pois a variante não européia foi encontrada frequentemente em mulheres
negras e mestiças brasileiras
(20)
.
Estudos recentes mostram que mulheres com irmãs ou mães com carcinoma cervical
têm maior facilidade de desenvolvimento de carcinoma
(63)
. Alguns pesquisadores acham que
esta tendência familiar é causada por uma condição herdada que faz algumas mulheres
capazes de combater infecções por HPV e outras não.
O risco de câncer invasivo é duas a dez vezes maior em mulheres que não se
submetem ao exame Papanicolau, e o risco aumenta com o tempo desde o último esfregaço
normal
(42)
.
É descrito que a alta ingesta de alimentos ricos em beta caroteno e vitamina C, e com
menor intensidade, vitamina A, pode reduzir o risco de câncer cervical
(42)
.
25
Recentemente também tem sido citada na literatura relação entre obesidade e câncer
cervical, provavelmente relacionado a alterações dos níveis hormonais endógenos
(66)
e
estresse psicossocial e neoplasia cervical pré-invasiva, que obviamente necessitam de estudos
complementares.
1.7 DIAGNÓSTICO
O diagnóstico da infecção por HPV leva em conta os dados da história, exame físico e
exames complementares com a pesquisa direta do vírus ou indiretamente através de alterações
provocadas pela infecção nas células e nos tecidos. O estudo da história natural da infecção
pelo HPV pode ser avaliado visualmente (colposcopia e técnicas relacionadas),
microscopicamente (citologia e histologia), e por via molecular (testes de detecção do DNA
HPV). Há três fases necessárias na carcinogênese cervical, que podem ser distintos, estudados
e usados em programas de prevenção, que incluem: infecção pelo HPV, progressão da
infecção ao estágio de pré-câncer e invasão
(17)
.
O método mais simples para detecção do HPV é a observação das verrugas genitais a
olho nu, mas como a maioria das infecções é subclínica, lança-se mão de métodos de
diagnóstico complementares, como a colpocitologia, a colposcopia, biópsia dirigida e os
métodos de biologia molecular. Estudos mostram que a infecção pelo HPV é melhor estudada
em nível molecular, pois a maior parte das infecções não são evidentes clinicamente nem
microscopicamente. A sorologia para HPV não é sensível, mostrando-se negativa em muitas
mulheres infectadas, mas a sorologia é específica, ou seja, o resultado é negativo em mulheres
não infectadas
(46)
.
26
1.7.1 – Colpocitologia oncótica
A colpocitologia (Papanicolau ou exame preventivo) baseia-se nas alterações celulares
(efeito citopático) relacionadas ao HPV e evolução do processo neoplásico em células
examinadas em esfregaços corados pelo método de Papanicolau. Esta técnica, apesar de
pouco sensível, pois não detecta a infecção latente, é considerada propedêutica indispensável
no rastreamento de lesões cervicais
(42; 40)
. Indicado na rotina de rastreio para o câncer cervical
e diagnóstico de suas lesões precursoras.
Apenas uma pequena minoria de mulheres com HPV detectado por métodos
moleculares de pesquisa de DNA HPV terão anormalidades microscópicas diagnosticadas. O
índice de esfregaços falso-negativos para processos neoplásicos malignos pode atingir cifras
de 10 a 20%. Esta técnica não é capaz de identificar a forma latente da infecção
(17)
. Há
limitações na citologia convencional, em especial na amostragem celular, pois somente 10 a
20% das células colhidas são colocadas na lâmina. Além disso, há dificuldade na apropriada
observação celular obtida através de esfregaços irregulares, espessos, purulentos, com intensa
citólise e hemorragia. Dessa maneira, os resultados falso-negativos devem ser considerados,
com taxa de ocorrência em 5 a 30% na rotina laboratorial
(59)
.
A coleta de amostras para o exame de Papanicolau e encaminhamento para a
colposcopia, se necessário, torna os resultados histopatológicos mais exatos, através da
biópsia orientada pela colposcopia. Os laudos citológicos são baseados no sistema de
Bethesda, 2001
(67)
. Deve ser descrito o tipo de amostra, se foi coletado por método
convencional ou em meio líquido; a adequação da amostra: se satisfatória para avaliação
(descrevendo a presença ou ausência dos elementos da junção escamo-colunar – JEC, e se o
material está parcialmente obscurecido por sangue / exsudato, em até 75%), ou insatisfatória
para avaliação (justificar o motivo da rejeição do espécime). A citologia convencional deve
ter entre 8.000 e 12.000 células escamosas, bem conservadas e visualizadas, além de um
27
mínimo de 10 células endocervicais (glandulares ou metaplásicas) isoladas ou em grupos. A
classificação geral é descrita como:
A - Negativo para atipias intra-epiteliais ou malignidade (inclui microorganismos e
alterações não neoplásicas)
B - Anormalidade de células epiteliais (subespecificando se escamosas ou
glandulares)
- Atipias de células escamosas (ASC)
* de significado indeterminado (ASC-US)
* não podendo excluir lesão de alto grau (ASC-H)
- Lesão intra-epitelial de baixo grau - LSIL (inclui displasia leve, NIC I –
neoplasia intra-epitelial cervical I, HPV)
- Lesão intra-epitelial de alto grau – HSIL (inclui displasia moderada – NIC II,
acentuada – NIC III e “CA in situ”).
- Lesão intra-epitelial de alto grau com padrão suspeito de invasão
C - Anormalidades de células glandulares:
- Atipias de células:
* Endocervicais;
* Endometriais
* Glandulares
- Células endocervicais atípicas favorecendo neoplasia
- Células endometriais atípicas favorecendo neoplasia
- Células glandulares atípicas favorecendo neoplasia
D - Adenocarcinoma endocervical “in situ”
E - Adenocarcinoma: Endocervical
Endometrial
28
Extra-uterino
Sem especificação
Entende-se como NIC I o quadro onde as alterações celulares restringem-se ao terço
inferior do epitélio cervical (chamada também de lesão intra-epitelial cervical de baixo grau
ou LSIL). Na NIC II, as alterações chegam até o terço médio do epitélio cervical. Na NIC III,
verifica-se que as alterações celulares ocupam os três terços do epitélio cervical, atingindo o
terço superior. As lesões compatíveis com NIC II e NIC III são também denominadas de lesão
intra-epitelial de alto grau, ou HSIL. Convencionalmente as NIC II e III são agrupadas juntas,
pois ambas progridem numa minoria, mas não obstante em uma porcentagem significante dos
casos.
1.7.2 Colposcopia
Deve ser lembrado que o exame citológico é um teste de rastreio das pacientes e não
favorece diagnóstico definitivo. A colposcopia é exame obrigatório na colpocitologia suspeita
e se utiliza do colposcópio (aparelho que aumenta o poder de visão do médico) e de reagentes
específicos como ácido acético, lugol e azul de toluidina para identificar a zona de
transformação anormal, orientando a biópsia (Figura 1). A biópsia visa à exérese de
fragmento de colo de útero para exame histopatológico. A correlação entre o aspecto
colposcópico das lesões com os aspectos citológicos e colposcópicos é fundamental tanto para
diagnóstico como para acompanhamento adequado dos pacientes
(11; 40)
. Já a biologia
molecular é de grande importância para o diagnóstico e orientação a ser tomada em paciente
com infecção genital pelo HPV.
29
1.7.3 Métodos de biologia molecular
Os métodos atualmente disponíveis em biologia molecular para HPV são a captura
híbrida e a reação da polimerase em cadeia (PCR). Indicam-se para pacientes com lesões
colposcópicas incomuns, citologia cervicovaginal sugestiva de ASCUS e AGUS, lesões de
baixo grau de colo, vagina e vulva diagnosticadas pela citologia e/ou histopatologia,
discordância cito-histopatológica, controle de cura terapêutica.
1.
7.3.1 Captura do híbrido
O princípio das técnicas de hibridização é baseado na propriedade que os ácidos
nucléicos têm de parear suas fitas complementares por afinidade das bases nitrogenadas. De
um modo geral, as reações se fundamentam na tendência das cadeias de DNA de se
associarem (anelamento), formando uma dupla hélice e, se separarem (desnaturação)
mediante alta temperatura ou tratamento com álcalis. No processo de hibridização, o DNA das
sondas (um pequeno fragmento de DNA do microorganismo que se deseja pesquisar), e o
DNA alvo são desnaturados e o anelamento é feito entre as fitas simples da sonda e do DNA
teste, resultando um híbrido.
A técnica de hibridização para HPV utilizada rotineiramente nos laboratórios de
análises clínicas é a técnica de Captura do Híbrido. Esta técnica foi desenvolvida inicialmente
pelo laboratório Digene
TM
para detecção do DNA de papilomavírus. O material a ser
analisado pode ser de esfregaço ou biópsia. O método é baseado em uma hibridização
molecular convencional, em que diferentes tipos de sondas de ácidos ribonucléicos (RNA)
reagem com amostras desnaturadas que contém o DNA pesquisado: uma com tipos de baixo
risco oncogênico (HPVs tipos 6, 11, 42, 43 e 44), e outra de sondas de tipos potencialmente
oncogênicos (HPVs tipos 16, 18, 31, 33, 35, 45, 51, 52 e 56). O método é revelado por
30
quimioluminescência, cujo princípio técnico pressupõe uma sensibilidade variando em torno
de 70% a 90%. Este método, associado à citologia convencional, tem uma sensibilidade de
90% a 100%
(68)
.
1.7.3.2 Reação da polimerase em cadeia (PCR)
Esta técnica, apesar de comercialmente ser menos utilizada que a técnica de captura do
híbrido, pois a primeira tem a vantagem da automatização, tem melhor sensibilidade e
especificidade, sendo de rotina nos laboratórios de pesquisa e em alguns laboratórios de
patologia. Além disso, pode ser usada na tipagem dos HPVs. Esta técnica é executada em três
fases: desnaturação do DNA alvo mediante elevação da temperatura, anelamento ou
hibridização entre a cadeia original do DNA desnaturado e o oligonucleotídeo que se ligará à
região inicial seqüência de DNA a ser amplificada ("primers") e extensão da seqüência de
DNA a ser amplificada. A reação é mediada por uma DNA polimerase termoestável, que
suporta grandes variações de temperatura, a taq-polimerase, oriunda do microorganismo
Thermus aquaticus. Esta enzima cataliza a síntese de seqüências do DNA da amostra inicial,
sendo ampliada a região limitada pelos dois extremos de ligação dos oligonucleotídeos
iniciadores. Geralmente, este ciclo é repetido 30 a 40 vezes, dando origem a várias cópias do
produto de amplificação, conhecido como amplicons. O material amplificado pode ser
detectado por eletroforese em gel de agarose, onde os produtos amplificados são visualisados
de acordo com o seu peso molecular, ou por hibridização, para revelação a presença do DNA
viral.
1.8 TRATAMENTO
O tratamento tem por objetivo reduzir ou eliminar as lesões causadas pela infecção. A
forma de tratamento depende de fatores como a idade da paciente, o tipo, a extensão e a
31
localização das lesões. A terapia inclui eletrocauterização, cauterização química, crioterapia,
ablação por laser de dióxido de carbono, terapia antiviral e imunomoduladores. Nenhum
destes métodos isolados é inteiramente eficaz, havendo recorrência em boa parte dos casos
tratados. Terapias combinadas são utilizadas em alguns casos
(69; 70)
.
1.9 PREVENÇÃO
O preceito básico para as doenças sexualmente transmissíveis é interromper a cadeia
de transmissão e o aparecimento de novos casos. A prevenção como estratégia para o controle
da transmissão do HPV e promoção do diagnóstico precoce, deve ter como componente a
constante informação para a população geral. São necessárias atividades educativas capazes
de promover a percepção dos fatores de risco associados. É também fundamental o
aconselhamento das pessoas infectadas e seus parceiros, enfatizando-se a associação entre o
HPV e outras DST.
Em relação à prevenção primária do câncer do colo do útero, é recomendado o uso de
preservativos na relação sexual, principalmente para os que nunca tiveram contato com o
HPV, diminuindo assim o contágio pelo HPV e para evitar outras DST. Entretanto faltam
evidências concretas sobre sua utilidade na prevenção específica da transmissão do HPV. A
principal estratégia para detecção precoce da doença (prevenção secundária) é a realização da
citologia oncótica. Vacinas para prevenção e tratamento do câncer cervical estão sendo
desenvolvidas e testadas. Algumas das vacinas têm objetivo de produzir imunidade contra o
HPV, baseadas em partículas semelhantes aos HPV de alto risco, denominadas VLP (vírus
like particle). São morfologicamente indistintas dos autênticos vírions, exceto pela ausência
de núcleo e do genoma viral. Estas partículas são capazes de induzir altos títulos de anticorpos
capazes de neutralizar a infecção por HPV in vitro. Encontram-se na fase III de teste. Outro
tipo de vacina seria usada na doença estabelecida pelo HPV para auxiliar o sistema imune a
32
destruir o vírus e curar a infecção antes que o câncer se desenvolva, denominada vacina
terapêutica, e um terceiro tipo de vacina seria indicada em pacientes com doença avançada,
com o objetivo de destruir as células cancerosas ou impedir o crescimento celular
(71; 40)
.
33
2 OBJETIVO
Estudar a prevalência de HPV e os fatores de risco envolvidos na evolução das lesões
intra-epiteliais cervicais de baixo grau para alto grau e câncer cervical em pacientes atendidas
no Serviço de Patologia Cervical do Hospital Antonio Pedro no período compreendido entre
2000 e 2005.
34
3 MATERIAL E MÉTODO
3.1 DESENHO DO ESTUDO E POPULAÇÃO
Foi realizado um estudo de corte transversal de caso controle em pacientes com
colpocitologias oncóticas alteradas colhidas no Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP)
ou em postos de saúde situados no em torno do Hospital (postos de saúde de Niterói, São
Gonçalo, Magé, entre outros) que foram encaminhadas ao Serviço de Patologia Cervical do
HUAP para nova colpocitologia, colposcopia e biópsia cervical, caso necessário, no período
de junho de 2000 a março de 2005. Estas pacientes ao chegarem ao ambulatório de Patologia
Cervical, tiveram nova citologia oncótica realizada, passaram por exame colposcópico e
tiveram colhido material da cérvice uterina com escova endocervical para a realização do
PCR. Caso a citologia ou a colposcopia sugerissem lesão intra-epitelial de alto grau ou lesão
mais grave, a paciente era submetida à biópsia. Para todas as pacientes foi solicitada sorologia
anti-HIV.
Os critérios de inclusão foram: ter citologia ou biópsia alterada, sorologia anti-HIV
negativa. Foram excluídas do estudo as grávidas, HIV positivas, virgens (pelo fato de que não
foram, teoricamente expostas ao HPV), imunodeprimidas (ex: lúpus eritematoso sistêmico em
uso de corticoesteróides), ter sido submetida à cirurgia para tratamento de neoplasia intra-
35
epitelial cervical (conização) ou carcinoma de colo uterino previamente ou ainda à
radioterapia.
Foram considerados como controles as pacientes com citologia normal ou padrão
inflamatório, lesão por HPV, ASCUS e LSIL (NIC I).Todas as pacientes atendidas no Serviço
de Patologia Cervical são referidas da rede de saúde do SUS com alguma alteração citológica
(LSIL, HSIL ou carcinoma). Assim, presumimos que todas as pacientes controles com
citologia normal ou inflamatório regrediram do seu quadro inicial, conforme a história natural
da infecçao pelo HPV, uma vez que casos com resultado citológico normal/inflamatório não
são encaminhados para o Serviço de Patologia Cervical. A maioria das pacientes trazia
somente o encaminhamento do serviço de origem, sem data da coleta, o que impossibilitou a
inclusão desta variável no estudo. Foram considerados como casos, as pacientes com HSIL
(NIC II, III, ca in situ) ou carcinoma invasor.
Como instrumento de medida para avaliação de fatores de risco, foi aplicado um
questionário ministrado pela mestranda e pela médica responsável pelo ambulatório de
Patologia Cervical. Este questionário tinha como variáveis de risco dados demográficos
(idade, cor, estado civil, escolaridade, renda familiar), dados de comportamento (sexarca,
número de parceiros sexuais, uso de álcool, tabagismo, paridade, aborto, anticoncepcionais,
história de DST) e biológicos (história familiar de neoplasia).
O protocolo foi aprovado pela Comissão de Ética do HUAP (CEP CMM/HUAP n
o
061/2004). Todas as pacientes assinaram ficha de consentimento informado.
3.2 PROCESSAMENTO DAS AMOSTRAS
As amostras coletadas no HUAP foram colocadas em tubo contendo tampão TRIS-
EDTA pH 7.4 (10mM TRIS-HCl pH 7,4; 1mM de EDTA) e armazenadas por curto período
36
em refrigerador a 0
o
C e transferidas para congelador sob temperatura de -20
o
C, no laboratório
de Virologia do Departamento de Microbiologia e Parasitologia, Instituto Biomédico, UFF,
onde foram registradas e processadas.
3.2.1 Extração do DNA das amostras
Digestão por proteinase K: as amostras foram suspensas em 1000μl do tampão de
digestão TE (10mM TRIS-HCl pH 7,4; 1mM de EDTA) com Tween 5%), contendo 100μg/ml
de proteinase K (2mg/ml - GIBCO/BRL), e incubadas em banho maria a 50
o
C por 4 a 6 horas.
Extração por fenol-clorofórmio-álcool isoamílico: após digestão, a cada tubo foi
acrescentado 1ml de fenol-clorofórmio-álcool isoamílico (25:24:1) e misturado fortemente
por 5 minutos. Em seguida, os tubos foram centrifugados a 8000 X G por 5 minutos.
Precipitação do DNA com acetato de sódio e etanol: a seguir, foi adicionado acetato
de sódio (3M pH 6,0) na concentração final de 0,3M e etanol absoluto na concentração final
de 70%, e misturados por inversão. O material foi armazenado a –20
o
C por no mínimo uma
noite e posteriormente centrifugado a 16000 X G por 30 minutos. Após remoção do
sobrenadante, foi feita ressuspensão do material com 1ml de etanol a 70% e nova
centrifugação a 16000 X G por 10 minutos. Após remoção do etanol, foi feita secagem do
material e, por fim, ressuspensão em 100 μl de água destilada.
3.2.2 Detecção e Tipagem do DNA
3.2.2.1 Reação de PCR
Para a amplificação de um fragmento de 460 bp do DNA do HPV localizado no gene
L1, que detecta um amplo espectro de tipos genitais de HPV, foram utilizados os
oligonucleotídeos iniciadores genéricos My09/My11, cuja seqüência é CGT CCM ARR GGA
37
WAC TGA TC/ GCM CAG GGW CAT AAY AAT GG, onde M = A + C, R = A + G, W =
A + T, Y = C + T
(72)
. Uma amostra de 5μl de DNA extraído de cada amostra foi adicionado
a 45μl da mistura de reação composta por tampão (10mM Tris-HCl pH 8,0, 1mM de EDTA,
10mM de NaCl; concentração 1X), MgCl
2
(4 mM/L), dNTP (quatro dioxinucleotídeos
trifosfatos – deoxiadenina, deoxitimidina, deoxicitidina e deoxiguanosina, na concentração de
1,25mM de cada; total de 200μM/L cada), 1pM de cada oligonucleotídeo iniciador genérico,
1,25 U de Taq polimerase e água destilada para completar o volume da reação. Como controle
interno da reação foi usado 5pM do oligonucleotídeo iniciador β-actina (que amplifica um
fragmento de 340bp de uma proteína humana nuclear
(73)
. O total de 50μL composto pelo
DNA mais a mistura de reação foi colocado no termociclador (DNA Thermal Cycler, Perkin
Elmer Cetus) e submetido a 35 ciclos de amplificação. Cada ciclo consistia de elevação da
temperatura até 94
o
C por 5 minutos, desnaturação das fitas de DNA a 94
o
C por 1 minuto,
anelamento (pareamento) com os oligonucleotídeos iniciadores a 55
o
C por 2 minutos,
polimerização (síntese das fitas de DNA complementares) a 72
o
C por 2 minutos e síntese
final dos produtos a 72
o
C por 10 minutos. Para monitorar a contaminação do DNA na reação
de PCR foi utilizado um tubo contendo água milli-Q.
3.2.2.2 Detecção dos produtos de PCR (amplicons)
Após amplificação, os produtos foram submetidos à eletroforese em gel de agarose a
2% em TBE (TRIS-EDTA-Ácido bórico) 0,5X a 120V por cerca de 90 minutos. Utilizou-se
para cada reação, 15μl de cada produto da PCR e 3μl de corante azul de bromofenol 6X,
xileno cianol 0,25%, azul de bromofenol 0,25%, glicerol 30%. A corrida foi efetuada com 2μl
de DNA padrão (INVITROGEN) de 100 bp. Em seguida o gel foi transferido para uma
solução de brometo de etídio 0,5μg/ml por 15 minutos e lavado com água por 5 minutos. O
resultado final foi visualizado em transiluminador sob luz UV. O produto amplificado do
38
HPV apresentava peso molecular estimado de 460bp e foi detectado por comparação com o
DNA padrão.
3.2.2.3 Tipagem do HPV
As amostras positivas para a reação acima foram então submetidas à nova
amplificação, sendo utilizados os oligonucleotídeos iniciadores para fragmentos do gene E6
dos HPVs tipos 6 (230bp), 11 (89bp), 16 (134bp), 18 (119bp), 31 (97bp), 33 (132), 35 (186)
(74)
e para um fragmento do gene E7 do HPV 58 (100bp)
(24)
. O quadro 1 apresenta a
seqüência dos fragmentos de DNA utilizados na reação. A amplificação dos fragmentos foi
efetuada em 30 ciclos de 30 segundos a 94
o
C; 1 minuto a 60
o
C e 1 minuto a 72
o
C, e para a
extensão dos produtos obtidos, 10 minutos a 72
o
C. A detecção dos produtos foi obtida como
anteriormente citada.
Quadro 1 – Seqüência de oligonucleotídeos iniciadores específicos para amplificação de fragmentos do
gene E6 para HPVs dos tipos 6,11,16,18,31,33,35 e 58 e o do gene E7 para o tipo 58
(24)
DNA
HPV
Oligonucleotídeos iniciadores
Gene
Amplicon
pb
6 P1/P2 CAC CAT AAG GTC CTG TTT/ GAA CCG CGC CTT GGT TAG E6 230
11P1/P2 CGC AGA GAT ATA TGC ATA TG/ AGT TCT AAG CAA CAG GCA CA E6 89
16P1/P2 CCC AGA AAG TTA CCA CAG/ TAC TAT GCA TAA ATC CCG E6 134
18P1/P2 GAA ACC GTT GAA TCC AGC/ GTT CCT GTC GTC CTC GGT E6 119
31P1/P2 GAC CTC GGA AAT TGC ATC/ TGT TTC TGT TAA CTG ACC E6 97
33P1/P2 GTA TAT AGA GAG GGA AAT/TAA AGG TTT TTT AAC TGT E6 132
35P1/P2 ACA AGA ATT ACA GCG GAG/TAA CTG TTT GTT GCA TTG E6 186
58P1/P2 CGA GGA TGA AAT AGG CTT GG/ ACA CAA ACG AAC CGT GGT GC E7 100
39
3.3 ANÁLISE ESTATÍSTICA
Para uma significância estatística de 5% e um poder de teste de 80%, considerando-se
para cada caso, 1,5 controles e odds ratio (OR) de 2,5 com uma freqüência de exposição nos
controles de cerca de 25%, chegou-se a uma amostra de 84 casos e 117 controles, no total de
201 pacientes. As diferenças de média para variáveis contínuas e distribuição normal foram
testadas com o teste t de student. Para as variáveis dicotômicas foi utilizado o teste do qui-
quadrado. Realizou-se análise de regressão logística para a estimação do OR ajustado. O
nível significância estatística foi estabelecido em 5% em todos os casos.
40
4 RESULTADOS
Foram recrutadas 238 mulheres, das quais 201 foram incluídas no trabalho, por
respeitarem os critérios de inclusão da pesquisa. Seis pacientes foram excluídas por falta de
material adequado (β-actina negativo) para amplificação. Doze mulheres que tinham sido
conizadas previamente e dezenove portadoras de HIV e/ou lupus eritematoso sistêmico
também foram excluídas do estudo.
A amostra estudada em sua maioria foi composta por mulheres de mais de 30 anos
(67,2%), com idades variando entre 15 a 81 anos e média de idade de 37,8 anos, não brancas
(58,6%), com renda familiar até 2 salários mínimos (63,3%), com baixa escolaridade (58,1%),
casada, com companheiro ou viúva (58,2%). O número de parceiros sexuais variou de 1 a 30,
com média de 3 parceiros, e 76,1% com mais de um parceiro sexual na vida. O relato de
sexarca variou dos 10 aos 29 anos, sendo 83,7% com sexarca até 17 anos. O número de
gestações nesta população variou de 0 a 14, com até dois filhos (62,7%). Um terço delas
afirmou ter história de familiar de neoplasia; 28,3 % afirmou ter tido um aborto; 27,8%
confirmou história de tabagismo e 12,8% de uso de álcool e 6% relatou história prévia de
outras DST (Tabela 1).
41
Tabela 1 - Distribuição das pacientes por variáveis demográficas, sócio-econômicas, comportamentais e
biológicas. Serviço de Patologia Cervical do HUAP, Niterói, 2003-2005.
Variáveis N° (%)
IDADE
Até 30 anos 66 (32,8)
Mais de 30 anos 135 (67,2)
COR*
Branca 82 (41,40)
Preta, parda, amarela, albina 116 (58,6)
RENDA FAMILIAR***
0 a 2 salários mínimos 124 (63,3)
Mais de 2 salários mínimos 72 (36,7)
ESCOLARIDADE*
Analfabeto ou elementar incompleto/ completo 115 (58,1)
Ensino médio incompleto/completo ou superior incompleto/completo 83 (41,9)
NÚMERO DE PARCEIROS**
Um parceiro 47 (23,9)
Mais de um parceiro 150 (76,1)
PARIDADE
Até dois filhos 126 (62,7)
Três filhos ou mais 75 (37,3)
SEXARCA*****
Até 17 anos 108 (83,7)
18 anos ou mais 21 (16,3)
USO DE MÉTODOS ANTICONCEPCIONAIS 121 (60,0)
ABORTO* 56 (28,3)
ALCOOL*** 25 (12,8)
TABAGISMO* 55 (27,8)
DST 12 (6,0)
HISTÓRIA FAMILIAR DE NEOPLASIAS**** 65 (33,7)
* 3 pacientes com ignorado; ** 4 pacientes com ignorado; *** 5 pacientes com ignorado; **** 8 pacientes com
ignorado; *****72 pacientes com ignorado
A distribuição da presença de infecção por HPV, diagnosticado por PCR encontra-se
descrita na Tabela 2, com 75,6% das amostras positivas para HPV, sendo que deste total, em
88,8% pôde-se determinar o tipo de HPV. Os tipos de HPV de alto risco foram responsáveis
42
por 84,4% das infecções tipadas. Foram testados sete tipos de vírus e o HPV 16 foi o mais
freqüente, com 53,3% das infecções, seguido dos tipos 6 (25%), 18 (17,1%), 11 (8,6%), 35
(7,9%), 58 (7,2%) e 33, este último presente em somente 1,1% das infecções. Entre as
amostras positivas para HPV, 11,2% não puderam ser identificadas pelos oligonucleotídeos
iniciadores específicos para tipagem usados neste estudo e foram consideradas como de tipo
indeterminado (Tabela 2). As infecções múltiplas, envolvendo pelo menos um tipo de HPV de
alto risco, ocorreram em 25,6% das amostras, 19,4% causadas por dois tipos e 6,2%, por três
tipos de HPV.
1 2 3 4 5 L 6 7
330bp
132bp
Figura 2 - Pacientes números 1, 3, 5, 6 e 7 positivos para HPV tipo 16 pela técnica de PCR com
amplificação da seqüência E6 do DNA de132 bp. Comparação com o DNA padrão -100bp. Uma seqüência
de 330 bp do gene para actina humana é usada como controle interno da da reação.
.
43
Tabela 2 - Distribuição da presença de infecção por HPV, segundo diagnóstico por PCR. Serviço de
Patologia Cervical do HUAP, Niterói, 2003-2005.
Variável N (%)
PRESENÇA DE HPV
Positivo 152 (75,6%)
Negativo 49 (24,4%)
TIPO INDETERMINADO
Sim 17 (11,2%)
Não 135 (88,8%)
TIPOS SEGUNDO O RISCO
6 e/ou 11* 21 (15,6%)
16 e/ou 18, 33, 35 e 58** 114 (84,4%)
TIPOS DE HPV***
6 38 (25%)
11 13 (8,6%)
16 81 (53,3%)
18 26 (17,1%)
33 2 (1,3%)
35 12 (7,9%)
58 11 (7,2%)
INFECÇOES MÚLTIPLAS****
Dois tipos 25 (19,4%)
Três tipos 8 (6,2%)
Não 96 (74,4%)
* Somente casos que apresentaram tipos de HPV de baixo risco; ** Casos que apresentaram pelo menos um
tipo de HPV de alto risco; *** A soma é superior a 135 casos porque há casos de infecções múltiplas; ****
Envolvendo pelo menos um tipo de HPV de alto risco
44
Tabela 3– Características socio-demográficas, estilo de vida e fatores reprodutivos nos grupos de casos e
controles. Serviço de Patologia Cervical, HUAP, Niterói, 2003-2005.
Variáveis
N=201
Casos
No (%)
N=84(41.8)
Controles
No (%)
N=117 (58.2)
OR (95 % CI) P valor
HPV 6.16(2.6-14.6) <0.001
Sim 77 (91.7) 75 (64.1)
Não 7 (8.3) 42 (35.9)
HPV de alto risco 15.69(3.5-70.7) <0.001
Sim 71 (97.3) 43 (69.4)
Não 2 (2.7) 19 (30.6)
Idade 5.14 (2.5-10.5) <0.001
30 anos ou mais 72 (85.7) 63 (53.8)
Menos de 30 anos 12 (14.3) 54 (46.2)
Escolaridade 3.13 (1.7-5.7) <0.001
Analfabeto / ens. fundamental 61 (73.5) 54 (47.0)
Ensino médio ou acima 22 (26.5) 61 (53.0)
Paridade 3.05 (1.7-5.5) <0.001
3 filhos ou mais 44 (52.4) 31 (26.5)
Menos de 3 filhos 40 (47.6) 86 (73.5)
Tabagismo 3.11 (1.6-5.9) 0.001
Sim 34 (41.0) 21 (18.3)
Não 49 (59.0) 94 (81.7)
História familiar de neoplasia 2.15 (1.2-3.9) 0.014
Sim 35 (43.8) 30 (26.5)
Não 45 (56.3) 83 (73.5)
Sexarca 2.0 (1.12-3.57) 0.02
17 anos ou menos 54 (64.3) 54 (47.4)
Mais de 17 anos 30 (35.7) 60 (52.6)
Aborto 1.88 (1.0-3.5) 0.056
Sim 30 (35.7) 26 (22.8)
Não 54 (64.3) 88 (77.2)
Renda familiar 1.55 (0.8-2.8) 0.177
0 - 2 salários-mínimos 56 (69.1) 68 (59.1)
> 2 salários-mínimos 25 (30.9) 47 (40.9)
Número de parceiros sexuais 1.39 (0.7-2.7) 0.399
Um parceiro 17 (20.5) 30 (26.3)
Mais de um parceiro 66 (79.5) 84 (73.7)
Infecções múltiplas HPV 1.48(0.6-3.3) 0.457
Sim 21 (28.8) 12 (21.4)
Não 52 (71.2) 44 (78.6)
Uso de álcool 1.33 (0.6-3.0) 0.522
Sim 12 (14.6) 13 (11.4)
Não 70 (85.4) 101 (88.6)
DST 0.68 (0.2-2.3) 0.764
Sim 4 (4.8) 8 (6.8)
Não 80 (95.2) 109 (93.2)
Etnia 0.93 (0.5-1.6) 0.884
Branca 34 (40.5) 48 (42.1)
Não-branca 50 (59.5) 66 (57.9)
*um salário mínimo é R$ 300,00
As características sócio-demográficas e reprodutivas associadas aos casos e controles
podem ser observadas na Tabela 3. Constatamos que os tipos de HPV de alto risco foram
predominantemente encontrados nos casos (97,3 versus 69,4), assim como idade mais
45
avançada (30 anos ou mais) em 85.7% dos casos versus 53.8% dos controles. Também foi
observado nos casos, maior incidência de baixo nível educacional (73.5 versus 47.0), paridade
superior a dois ou mais filhos (52.4 versus 26.5), sexarca precoce, com idade inferior a 17
anos (64.3 versus 47.4) e história familiar de neoplasia (43.8 versus 26.5). Mulheres com
história de aborto, baixo nível econômico, múltiplos parceiros sexuais, infecções múltiplas
por HPV e usuárias de álcool mostraram tendência a serem mais incidentes nos casos, mas
não foi alcançada significância estatística.
Tabela 4 – Odds ratios para fatores de risco ajustados por idade nos grupos de casos e controles. Serviço
de Patologia Cervical, Niterói, 2003-2005.
Até 30 anos 30 anos ou mais
Variáveis OR (IC 95%) Valor de P OR (IC 95%) Valor de P
Infecção por HPV 5,50 (0,66-46,00) 0,156 6,7 (2,54-18,00) <0,001
HPV de alto risco 5,20 (0,58-46,81) 0,231 20,67 (2,45-174,18) 0,001
Escolaridade 1,47 (0,41-5,32) 0,737 2,62 (1,23-5,60) 0,015
Sexarca 7.10 (0.85-59.29) 0.05 2.58(1.26-5.17) 0.01
Tabagismo 3,83 (0,88-16,69) 0,082 2,34 (1,11-4,94) 0,029
Número de gestações 5,20 (0,65-41,35) 0,148 1,64 (0,83-3,25) 0,170
Abortos 4,80 (1,06-21,79) 0,052 1,08 (0,53-2,20) 0,858
A idade é um fator confundidor potencial na associação entre lesões intra-epiteliais
escamosas cervicais e fatores de exposição, então foi realizada uma análise estratificada por
idade (até 30 anos versus 30 anos ou mais). Analisamos os fatores cujos p valores encontrados
foram inferiores a 0.10. História familiar de neolasia não foi incluída, pois não apresenta
relação com idade. Todos os fatores, com exceção da infecção pelo HPV, mostraram
diferentes OR em ambas as análises estratificadas, indicando que a idade promove um efeito
modificador sobre as associações, como podemos observar na Tabela 4. Este fato torna difícil
a avaliação do efeito confundidor. A despeito da ausência de significância estatística da
maioria dos resultados, pudemos observar padrões distintos entre os dados não estratificados e
os estratificados. A presença de HPV de alto risco estava fortemente associada a mulheres
mais velhas (OR: 20.67 versus 5.2). Baixo nível educacional mostrou uma leve tendência
(OR: 2.62 versus 1.47). Por outro lado, sexarca (OR: 7.10 versus 2.58), multiparidade (OR:
46
5.2 versus 1.64), aborto (OR: 4.80 versus 1.08) e tabagismo apresentam maior peso em
mulheres mais novas.
Tabela 5 – Associação entre câncer versus HSIL e co-variáveis. Serviço de Patologia Cervical, Niterói,
2003-2005.
Variáveis Casos de câncer
No (%)
HSIL
No (%)
OR (IC 95%) P valor
Idade - -
Menos de 30 anos 0 (0%) 12 (23,5%)
> 30 anos 33 (100%) 39 (76,5%)
Escolaridade 6,13 (1,6-22,9) 0,005
Analfabeto ou ens. fundamental 30 (90,9%) 31 (62%)
Ensino médio ou acima 3 (9,1%) 19 (38%)
Etnia 0,39 (0,15-1,0) 0,068
Branca 9 (27,3%) 25 (49%)
Não-branca 24 (72,7%) 26 (51%)
Paridade 3,29 (1,3-8,3) 0,14
Menos de 3 filhos 10 (30,3%) 30 (58,8%)
3 filhos ou mais 23 (69,7%) 43 (86%)
Sexarca 0,40 (0,14-1,1) 0,06
17 anos ou menos 17 (51.5%) 37 (72,5%)
Mais de 17 anos 16 (48.5%) 14 (27,5%)
HPV 4,27 (0,5-37,2) 0,24
Sim 32 (97%) 45 (88,2%)
Não 1 (3%) 6 (11,8%)
HPV de alto risco 0,69 (0,4-11,5) 1,00
Sim 29 (96,7%) 42 (97,7%)
Não 1 (3,3%) 1 (2,3%)
Infecções múltiplas 1,46 (0,5-4,0) 0,60
Sim 10 (33,3%) 11 (25,6%)
Não 20 (66,7%) 32 (74,4%)
Renda Familiar 1,59 (0,6-4,3) 0,46
0 - 2 salários-mínimos 24 (75%) 32 (65,3%)
> 2 salários-mínimos 8 (25%) 17 (34,7%)
Número de parceiros sexuais 0,37 (0,1-1,1) 0,97
Um parceiro 10 (30,3%) 7 (14%)
Mais de um parceiro 23 (69,7%) 43 (86%)
Aborto 0,84 (0,3-2,1) 0,82
Sim 11 (33,3%) 19 (37,3%)
Não 22 (66,7%) 32 (62,7%)
Uso de álcool 0,47 (0,1-1,9) 0,35
Sim 3 (9,4%) 9 (18%)
Não 29 (90,6%) 41 (82%)
Tabagismo 0,47 (0,2-1,2) 0,12
Sim 10 (30,3%) 24 (48%)
Não 23 (69,7%) 26 (52%)
DST 1,58 (0,2-11,8) 0,64
Sim 2 (6,1%) 2 (3,9%)
Não 31 (93,9%) 49 (96,1%)
História familiar de neoplasia 1,00 (0,4-2,5) 1,00
Sim 14 (43,8%) 21 (43,8%)
Não 18 (56,3%) 27 (56,3%)
47
Dada a particular relevância do desenvolvimento do câncer cervical e, considerando o
período relativamente longo de evolução do câncer de colo de útero (superior a 10 anos), nós
investigamos possíveis mediadores de comportamento que pudessem afetar a progressão do
estágio de pré-câncer a câncer. Estes resultados podem ser vistos na Tabela 5. Não houve
casos de câncer em mulheres com idade inferior a 30 anos. Baixo nível educacional
(analfabetas ou ensino fundamental), mostrou importante papel na progressão ao câncer (OR:
6.13). Apesar da etnia não ter alcançado significância estatística (p=0.068), ser branca foi um
fator de proteção em relação ao desenvolvimento de câncer (OR: 0.39).
Tabela 6 - OR ajustados entre câncer e HSIL, e co-fatores que apresentaram nível de significância inferior
a 0.1. Serviço de Patologia Cervical, Niterói, 2003-2005.
Variáveis com nível de significância < 0.1
Odds ratio ajustado p valor
Idade 1,09 0.002
Etnia 0,32 0,055
Escolaridade 4,20 0.066
Sexarca 1.04 0.710
Para avaliar a associação entre co-fatores e o desenvolvimento de carcinoma invasor,
foi feito um modelo de regressão logística. OR ajustados foram estimados para todos os
fatores de risco que apresentavam menos de 10% de nível de significância na análise simples.
Foram incluídos como variáveis: idade, etnia, educação e sexarca. A Tabela 6 mostra os
resultados. A idade mostrou ser o co-fator de maior relevância na progressão da patologia.
Encontramos que, em uma paciente portadora de HSIL, sua chance de ter câncer irá aumentar
9% ao ano. Mulheres não brancas e baixo nível educacional permaneceram como fatores de
risco, mas a associação com sexarca desapareceu (OR: 1.04), sem significância estatística.
48
5 DISCUSSÃO
A população estudada foi composta por pacientes atendidas no Serviço de Patologia
Cervical do Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP) encaminhadas por terem
apresentado alterações em citologias oncóticas cervicais. A população foi majoritariamente
composta por mulheres acima de 30 anos, não brancas, com baixa renda familiar (até dois
salários mínimos) e baixa escolaridade, com mais de um parceiro sexual na vida e sexarca
precoce (até 17 anos), caracterizando uma população descrita na literatura como de alto risco
para infecção por HPV e lesões decorrentes de sua persistência
(75; 76; 66; 77)
.
Cerca de um quarto das pacientes controles apresentavam resultados citológicos
normais/inflamatório no exame coletado no HUAP, que parece contraditório quanto ao
encaminhamento destas pacientes ao Serviço de Patologia Cervical. Entretanto, como
anteriormente descrito, eram pacientes que no momento da coleta do material para exame,
apresentavam alterações citológicas sugestivas de infecção por HPV ou LSIL. A história
natural da infecção pelo vírus HPV evidencia seu caráter temporário na maior parte das
infecções com, principalmente lesões intra-epiteliais de baixo grau, tendendo à involução, o
que justifica o resultado acima observado
(28)
. A regressão das alterações citológicas
entretanto, não significa sempre a eliminação do vírus. O período de tempo para a eliminação
viral, ou para o vírus se tornar indetectável pelo método de PCR (ou em estado de longo
período de latência) é de um a dois anos
(29,78)
. Segundo Schlecht et al. (2003)
(32)
metade dos
casos de LSIL regridem a normal ou ASCUS dentro de seis meses. A taxa de cerca de 47%
das pacientes com citologia normal/inflamatório infectadas por HPV, mais alta que o
encontrado na literatura, pode estar associada à infecção latente/persistente, principalmente
porque a média de idade neste subgrupo era 36,5 anos. Em algumas populações, mulheres
49
com o mesmo resultado citológico apresentam 20-40% de prevalência de infecção cervical
por HPV e, quanto mais jovem a população, mais alta a prevalência
(79)
.
A presença de HPV foi identificada pela análise de PCR em 75% das mulheres
estudadas. Este percentual é considerado alto, quando comparado ao de populações aleatórias
(27)
. Também é considerado um percentual alto, mesmo considerando-se estudos de
populações brasileiras selecionadas
(80; 57; 81)
. Devemos considerar, entretanto, que no estudo
de Cavalcanti et al.
(57)
a técnica utilizada foi menos sensível (hibridização in situ) que a
utilizada no presente estudo (PCR). Analisando-se a taxa de prevalência de infecção viral nos
casos de HSIL e câncer (91%), verifica-se que esta também é maior do que o descrito em
trabalhos brasileiros. Noronha et al.
(80)
, encontraram 63% de prevalência e Rebelo-Santos et
al.
(82)
encontraram 76% de prevalência em lesões neoplásicas. A incidência de HPV em 97%
dos casos de carcinoma invasivo não difere significativamente de trabalhos de referência
associando a infecção por HPV e câncer cervical
(79, 3; 18)
. Se a alta incidência de HPV em uma
população está associada ao câncer cervical
(3)
, então nossa amostra, que apresentou uma
interação positiva entre infecção por HPV e idade (média de 38,7 anos), é altamente passível
de desenvolver esta doença.
Entre os tipos de HPV de alto risco, os tipos 16 e 18 foram encontrados
predominantemente nos casos. Os demais tipos de HPV de alto risco foram encontrados em
casos e controles, em uma freqüência mais baixa. O percentual de HPV 16 (53,3% da
amostra) foi o esperado, por ser este tipo o mais freqüente, tanto em lesões de baixo como de
alto grau
(38)
, com 33,3% de incidência nas lesões de baixo grau, 66,7% em lesões de alto grau
e 68.8% nos casos de câncer, não só em infecções causadas unicamente por este tipo de HPV
como também em infecções múltiplas, confirmando seu papel oncogênico e sua alta
freqüência em lesões malignas
(20)
. As freqüências dos HPV de alto risco 18, 33, 35 e 58
foram identificados em percentuais diversos de outras áreas geográficas brasileiras estudadas.
50
A taxa de infecção pelo HPV 18 (17,1%) foi mais alta que as encontradas por Câmara et al
(81)
no Distrito Federal; Rabelo-Santos
(82)
em Goiás; Noronha et al.
(80)
no Pará. O tipo 33,
entretanto, foi encontrado em uma prevalência (1,1%) muito menor que a observada nestes
estudos. O HPV 31 não foi detectado nesta população, apesar deste tipo ser relativamente
comum em lesões de alto grau
(81)
. Outros estudos com populações da mesma região
geográfica (Niterói e periferia) também não identificaram presença deste tipo de vírus
(trabalhos não publicados). Já o HPV 35 foi responsável por 7,2% das infecções. A
prevalência de 7,2% para o HPV 58 nos pareceu alta, uma vez que este é mais freqüente nas
regiões centrais do país
(81)
apresentando freqüência muito baixa ou ausente nas demais
regiões brasileiras
(49)
. A hipótese de migração das pacientes está afastada, pois cerca de 80%
delas são naturais do estado do Rio de Janeiro, no entanto, não temos informações sobre a
naturalidade dos parceiros. Como extensivamente relatado em publicações especializadas
(83;
84)
os tipos de baixo risco 6 e 11 foram detectados principalmente no grupo controle (90,5%).
O método de tipificação empregado limitou-se aos tipos de HPV mais comuns em nosso
meio, o que pode justificar os 11,2% das amostras com HPV indeterminado. Entretanto,
outros estudos que aplicaram métodos mais sensíveis, também descreveram tipos
indeterminados nos casos positivos para HPV
(30)
.
Um aspecto importante observado na distribuição dos tipos virais foi a freqüência de
27,4% encontrada de outros tipos diferentes de HPV além de 6, 11, 16 e 18, que são os tipos
que compõem as vacinas anti-HPV profiláticas a serem disponibilizadas para a população
susceptível. Baseado em diversos estudos caso-controles, uma vacina pentavalente com
proteção para os HPVs 16, 18, 45, 31 e 33 poderia prevenir 83% de todos os carcinomas.
Como não encontramos HPV 31 em nossa amostra, podemos observar que ainda existem
diversas considerações a serem realizadas a respeito da cobertura das vacinas.
51
Embora tenhamos encontrado 25,6% de infecções múltiplas, observamos uma
associação de fraca intensidade (OR=1,48), sem significância estatística, entre os casos e os
controles para esta variável. Este resultado que está de acordo com estudo do IARC
(18)
.
Cushieri et al.
(85)
analisando 3.444 amostras citológicas de exames preventivos verificou que
co-infecções por HPV eram mais freqüentes em mulheres mais jovens e eram detectadas tanto
em lesões de baixo grau como de alto grau. O fato dos tipos virais infectarem de forma
independente o mesmo hospedeiro deve contribuir para este resultado. Entretanto, para Ho et
al.
(29)
, a infecção por múltiplos tipos sugere uma falha no sistema imune, o que predispõe a
uma infecção persistente. Confirmando este autor, trabalhos com pacientes imunossuprimidos
por infecção por HIV mostram um risco aumentado para múltiplas infecções
(86; 87)
.
Consideramos o estudo de caso-controle como o melhor desenho para avaliar a
progressão dos fatores de risco para o câncer. Apesar da maioria dos estudos de caso-controle
serem baseados no estado de positividade para o HPV
(18)
, optamos por considerar a
positividade para o HPV como um dos fatores a serem avaliados nesta população fortemente
exposta ao vírus, uma vez que os poucos casos negativos para o HPV são mais prováveis de
serem falso-negativos do que verdadeiros, devido à sensibilidade do método de detecção
empregado. Desta forma, os controles não foram restritos à positividade para o HPV, pois não
pudemos diferenciar infecção transitória de persistente, que é um fator determinante na
progressão da doença. HSIL e câncer foram considerados como casos, pois HSIL parece ser o
verdadeiro precursor do carcinoma cervical. A escolha dos controles, uma difícil questão, foi
resolvida agrupando todos os pacientes que não se enquadravam nos casos.
Este estudo foi realizado focando uma população com citologia oncótica prévia alterada.
Pacientes com citologias normais não eram encaminhadas ao Serviço de Patologia Cervical.
Entretanto, 49 pacientes não apresentaram alterações nas citologias colhidas ao darem entrada
no estudo. Duas razões podem ser consideradas para estes resultados conflitantes: a dinâmica
52
particular das lesões benignas (LSIL, ASCUS, efeitos citopáticos compatíveis com infecção
pelo HPV), que tendem à regressão em um espaço de tempo relativamente curto; ou
resultados falso-positivos citológicos no exame prévio.
Em nosso estudo, a análise univariada (Tabela 3) mostrou que mulheres com idade igual
ou superior a 30 anos, baixa escolaridade, multíparas (três ou mais filhos), tabagistas e com
sexarca precoce tinham maior chance de serem casos (HSIL ou câncer) do que ser controles
(LSIL ou alteração menor), de acordo com a literatura
(88)
.
Entretanto, nossos dados mostraram que a idade atuou mais como uma variável
modificadora do que como um fator confundidor. Os co-fatores afetaram com diferentes pesos
mulheres mais jovens e mulheres mais velhas em relação à severidade das lesões cervicais
(Tabela 4). Não encontramos referências na literatura relativas a esta observação. Mulheres
com 30 anos ou mais, quando comparadas a mulheres mais jovens, têm maior chance de ter
HSIL ou câncer quando infectadas por HPV de alto risco, confirmando o já descrito
amplamente na literatura
(29; 20; 16)
. Alguns autores concluem que presença de HPV de alto
risco associados a picos de incidência do câncer cervical em mulheres com mais de 40 anos
poderia ser explicado pela longa duração da infecção por HPV de alto risco nas mulheres de
idades mais avançadas
(29)
. A infecção por HPV de alto risco (84,4%) mostrou um OR de 20
entre as mulheres de mais de 30 anos, quatro vezes o OR daquelas de até 30 anos. Ho et al.
(78)
, na tentativa de associar persistência de lesões intra-epiteliais a fatores de risco,
verificaram que o único fator significativo associado a estas lesões era a infecção persistente
por HPV de alto risco com carga viral continuamente alta. Idade, etnia, educação,
comportamento sexual, contraceptivos orais e tabagismo não tinham influência na persistência
das lesões. Em nosso trabalho, também foi observado que mulheres com baixa escolaridade,
sexarca precoce, tabagistas e multíparas tem maior chance de desenvolvimento de lesões de
maior gravidade. No primeiro caso, os fatores refletem persistência viral, no segundo, indicam
53
condições fisiológicas, como susceptibilidade cervical e condições sociais. Quando
controlados por idade, todos os fatores à exceção da sexarca precoce têm maior relevância no
grupo de mulheres com idade igual ou superior a 30 anos, enquanto que o número de
gestações perdeu sua significância. Mas o número de gestações e abortos afetaram mulheres
até 30 anos (Tabela 4). Acreditamos que as observações acima sejam válidas, apesar da
ausência de significância estatística em alguns estratos, que deve ter ocorrido pela perda do
poder estatístico devido à estratificação com a conseqüente diminuição do número de cada
sub-amostra. Mas, para todos os co-fatores, a associação foi estatisticamente significativa em
pelo menos um dos estratos.
É descrito na literatura que HSIL e câncer cervical compartilham os mesmos fatores
de risco. Programas de rastreio mostram que a diminuição das HSIL levaria à redução da
incidência do carcinoma invasor. Tem sido sugerido que um a dois terços das mulheres
portadoras de HSIL desenvolverão câncer se não tratadas
(89)
. Em nosso trabalho, detectamos
fatores de risco distintos entre o estágio pré-câncer e o carcinoma invasor. Apesar de ser
praticamente impossível determinar o ponto de mudança entre HSIL e câncer, variáveis como
baixa escolaridade e etnia não-branca mostraram-se como parâmetros do rastreio preventivo
inadequado, o que afeta diretamente a detecção precoce e o tratamento das lesões precursoras
do câncer de colo de útero. A etnia, que não mostrou qualquer significado na exposição ao
HPV ou nas lesões benignas, apresentou importância crescente no desenvolvimento do
câncer. A idade mais avançada manteve sua significância na progressão das lesões benignas a
mais severas, tanto quanto na progressão das lesões de alto grau a câncer nas mulheres
infectadas. A sexarca precoce não afetou a progressão de HSIL a câncer, pelo contrário,
mostrou um fraco efeito protetor (Tabela 5). Apesar de não ter alcançado significância
estatística, o tabagismo também mostrou um efeito similar. Após ajustar os OR, a
escolaridade permaneceu como importante marcador na progressão entre HSIL e câncer. Liu
54
et al.
(90)
estudaram características particulares das altas taxas de carcinoma cervical no
sudeste da China e compararam às baixas taxas do Sul da Austrália, verificando que apesar
das australianas apresentarem estilo de vida de maior risco para a carcinogênse cervical,
tinham melhor nível educacional, eram usuárias freqüentes de métodos de barreira, e
relatavam maior regularidade na realização de citologias oncóticas (Papanicolau). Em ambos
os grupos, a prevalência de HPV 16 e 18 era similar.
A idade média das mulheres com HSIL foi 37.19, enquanto que a média de idade das
mulheres com câncer foi de 50.79, uma diferença fortemente significante (p<0.00001). Estes
dados se referem não somente ao longo tempo de evolução entre o estado de pré-câncer e
câncer, mas também refletem a falta acesso da população aos serviços de saúde, de políticas
que garantam a continuidade dos programas de rastreio e a inadequada detecção precoce das
lesões cervicais precursoras.
Nosso país apresenta diferentes taxas de câncer cervical em suas regiões, com
estimativas variando de 16.75 (região Nordeste) a 27.1 (região Sul) por 100.000 habitantes
(40)
. Como a região Sul tem melhores marcadores culturais e sócio-econômicos comparados à
região Nordeste, é mais provável que estas taxas reflitam uma maior detecção dos casos
devido ao maior acesso da população ao sistema de saúde. Apesar da região sudeste
apresentar estimativas intermediárias (19.62), o estado do Rio de Janeiro tem uma taxa muito
alta (26.64). Como estudamos uma população de baixa condição socio-econômica de nosso
estado, podemos afirmar que o baixo nível educacional (aliado à desinformação) e a etnia
(legado de descriminação histórica) parecem ser mais importantes que diferenças biológicas
na evolução ao câncer. As vacinas profiláticas para o HPV, mesmo que consigam subsídio
político e financeiro, não afetarão esta população. Um dos resultados positivos que
encontramos neste trabalho foi demonstrar para quem e aonde a vacina é mais necessária em
futuras campanhas de prevenção.
55
6 CONCLUSÕES
A amostra estudada foi caracterizada como uma população representativa de
atendimento pelo SUS: mulheres acima de 30 anos, não brancas, com rendimento familiar de
até dois salários mínimos, com escolaridade elementar, não monogâmicas, com sexarca até 17
anos.
Os fatores de risco para o câncer cervical encontrados nesta amostra, após extratificação
por idade, foram HPV de alto risco e escolaridade. A interação entre HPV de alto risco e
idade acima de 30 anos sugere fortemente infecções virais persistentes.
Na evolução de HSIL a câncer cervical, a idade foi o fator principal. A cor não branca e
pouca escolaridade, embora com menos força, também apareceram como fatores de risco.
As características da população feminina atendida pelo SUS são, em grande parte, os
fatores de risco para o desenvolvimento do câncer cervical. Sem programas de prevenção, o
desenvolvimento da doença é só uma questão de tempo.
Um percentual de 27,4% dos tipos de HPV diferentes dos que estão sendo incluídos em
vacinas anti-HPV foi detectado. Este dado sugere um prévio levantamento sobre os tipos de
HPV que circulam a área geográfica da aplicação da vacina.
56
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8 ANEXOS
I. Trabalhos apresentados em congressos
PEREIRA, Claudia Regina Neto; ROSA, Maria Luisa Garcia; VASCONCELOS, Gentil
Arthur Lins Bentes Mendonça de; CAVALCANTI, Silvia Maria Baeta; RODRIGUES, Eliana
de Vasconcelos Machado; OLIVEIRA, Ledy Do Horto dos Santos. ANÁLISE DA
PREVALÊNCIA DE PAPILOMAVÍRUS HUMANO (HPV) EM MULHERES
ATENDIDAS EM SERVIÇO PRIVADO E PÚBLICO NO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO. In: 51O CONGRESSO BRASILEIRO DE GINECOLOGIA, 2005, Rio de
Janeiro, RJ. Sociedade Brasileira de Ginecologia, 2005.
PEREIRA, Claudia Regina Neto; ROSA, Maria Luisa Garcia; VASCONCELOS, Gentil
Arthur Lins Bentes Mendonça de; RODRIGUES, Eliana de Vasconcelos Machado;
CAVALCANTI, Silvia Maria Baeta; OLIVEIRA, Ledy Do Horto dos Santos.
PREVALÊNCIA DE PAPILOMAVÍRUS HUMANO EM MULHERES PORTADORAS DE
LESÕES CERVICAIS PRÉ-MALÍGNAS E MALÍGNAS DO SERVIÇO DE PATOLOGIA
CERVICAL DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ANTÔNIO PEDRO (HUAP). In: 51º
CONGRESSO BRASILEIRO DE GINECOLOGIA, 2005, Rio de janeiro, RJ. Sociedade
Brasileira de Ginecologia, 2005.
PEREIRA, Claudia Regina Neto; RODRIGUES, Eliana de Vasconcelos Machado; ABIB,
Gabriela Mourão Abi; ROSA, Maria Luisa Garcia; CAVALCANTI, Silvia Maria Baeta;
OLIVEIRA, Ledy Do Horto dos Santos. PREVALÊNCIA DE HIV EM PACIENTES COM
LESÕES CERVICAIS COM LESÕES POSITIVAS PARA HPV. In: XXVIII CONGRESSO
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OLIVEIRA, Ledy Do Horto dos Santos; ROSA, Maria Luisa Garcia; PEREIRA, Claudia
Regina Neto; VASCONCELOS, Gentil Arthur Lins Bentes Mendonça de; BARRESE, Tomás
Zecchini; SILVA, Roberta Alves da; CARVALHO, Maria Odete O; RODRIGUES, Eliana de
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Virologia, 2005. v. 10, p. 179-179.
OLIVEIRA, Ledy Do Horto dos Santos; PEREIRA, Claudia Regina Neto; ABIB, Gabriela de
Mourão Abi; ROSA, Maria Luiza Garcia; RODRIGUES, Eliana de Vasconcelos Machado;
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GENITAL LESIONS. In: XV ENCONTRO NACIONAL DE VIROLOGIA, 2004, São
Pedro, SP. Virus Reviews & Research. Rio de Janeiro, Sociedade Brasileira de Virologia,
2004. v. 9, p. 181-181.
65
II. Trabalhos publicados em periódicos aceitos e em fase de
impressão
OLIVEIRA, Ledy Do Horto dos Santos; ROSA, Maria Luisa Garcia; PEREIRA, Claudia
Regina Neto; VASCONCELOS, Gentil Arthur Lins Bentes Mendonça de; SILVA, Roberta
Alves da; BARRESE, Tomás Zecchini; CARVALHO, Maria Odete O; ABIB, Gabriela de
Mourão Abi; RODRIGUES, Eliana de Vasconcelos Machado; CAVALCANTI, Silvia Maria
Baeta. HUMAN PAPILLOMAVIRUS STATUS AND CERVICAL ABNORMALITIES
IN WOMEN FROM PUBLIC AND PRIVATE HEALTH CARE IN RIO DE JANEIRO
STATE. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, 2006.
OLIVEIRA, Ledy Do Horto dos Santos; RODRIGUES, Eliana de Vasconcelos Machado;
ROSA, Maria Luiza Garcia; PEREIRA, Claudia Regina Neto; CAVALCANTI, Silvia Maria
Baeta; VASCONCELOS, Gentil Mendonça. HIV PREVALENCE AMONG WOMEN WITH
GENITAL LESIONS. Virus Reviews and Research, Rio de Janeiro, v. 10, n. 2, 2005.
66
III. Questionário
UFF - MIP - Virologia Prontuário:
Data:__________ No:
FICHA - QUESTIONÁRIO
Nome:
Idade: Data de Nascimento: / / Sexo: 1-Feminino 2-Masculino
Paridade: ____ DUM: ______ Idade gestacional: _______ Abortos: ______
Cor: 1-Branco 2-Preto 3-Pardo 4-Amarelo 5-Albino
Estado Civil: 1-Solteiro 2-Casado 3-Separado 4-Solteiro c/ Companheira 5-Viúvo
6 - Não sabe
Escolaridade: 1-Analfabeto 2- 1o Incompleto 3- 1o Completo 4-2o Incompleto
5-2o Completo 6-Superior Incompleto 7-Superior Completo 8- Não sabe
Profissão:
Renda Familiar: 1- Até 2 salários 2- 3 à 5 Salários 3- 6 à 10 Salários 4-Acima de 10
5 - Não respondeu 6 - Desempregado
Naturalidade:
Tabagismo: 1 - Sim 2 - Não Cig/dia______ Alcool: 1 - Sim 2 - Não
Drogas: 1 - Sim 2 - Não 3 - Tipo_________ Imunossupressores: 1 - Sim 2 - Não
História Clínica:___________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
HPP:_____________Menarca:__________ Sexarca_________Cirurgias:________ N
o
DST: 1 - Gonorréia 2 - Sífilis 3 - HIV 4 - HepB 5 - Herpes 6 - Outra
No. De Parceiros:______ Métodos contraceptivos____________________
H.Familiar: Hipertensão 1-Sim 2-Não Neoplasia 1-Sim 2-Não Outros: ______________
67
Exame colposcópio:
J.E.C. : não visualizada
Ectocervical J.E.C. 0 -1 -2 -3
Zona de transformação típica:
Shiller: 1 - Sim 2 - Não
Zona de transformação atípica:
Lesões: 1- mosaico
2 - área aceto-branca
3 - eucoplasia
4 - pontilhado
5 - orifícios glandulares espessados
6 - ectopia
Obervações:_____________________________________________________________
Colpocitologia:_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
Biópsia : _______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
Conclusão:_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
Observações: ________________________ Médico:
________________________
________________________
________________________
________________________ Assinatura e Carimbo:
68
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO DO PACIENTE
NOME DO PACIENTE___________________________________________________
IDADE__________ANOS. RG_____________________RG -HUAP______________
RESPONSÁVEL LEGAL__________________________________________________
(use se for o caso)
TÍTULO DO PROJETO_____________________________________________________
RESPONSÁVEL PELO PROJETO____________________________________________
(nome e inscrição no conselho)
DEPARTAMENTO DE _________________UNVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE-UFF
Eu, ______________________________________________________, abaixo assinado,
responsável pelo meu parente próximo,________________________________________
(nome do paciente)
declaro ter pleno conhecimento do que se segue (especificar cada um dos itens):
A - dos seguintes objetivos desta pesquisa: Identificar co-fatores associados ao HPV
presentes em mulheres com lesões cervicais intraepiteliais pré-malignas e malignas em
relação aos controles, avaliar se a chance positividade para HPV de alto risco (16 e ou 18) é
maior entre as portadoras de lesões pré-malignas em relação aos controles e estimar a
prevalência de co-infecções sexualmente transmissíveis associadas patogenia da infecção por
HPV.
B - dos procedimentos necessários para sua realização;
C - do benefício de obter gratuitamente um exame de detecção e tipificação de HPV;
D - que receberei respostas ou esclarecimentos a qualquer dúvida acerca dos procedimentos, riscos,
benefícios e outros assuntos relacionados com a pesquisa e o meu tratamento individual;
E - da liberdade de retirar o meu consentimento a qualquer momento e deixar de participar do estudo,
sem que isto traga prejuízo à continuação do meu tratamento;
F - que se manterá o caráter confidencial das informações relacionadas com a minha privacidade;
G - que obterei informações atualizadas durante o estudo, ainda que isto possa alertar a minha
vontade de continuar participando;
H - que concordo em fazer teste sorológico para detecção de HIV;
Niterói, _______de_________________de_____________
_______________________________ ________________________________
Assinatura do ( ) paciente ou ( )responsável Assinatura do médico que obteve o consentimento e
inscrição
______________________________________________
Assinatura da testemunha
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