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FACULDADE DE FÍSICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICA
NELSON ELINTON FONSECA CASARIN
FAMÍLIA E APRENDIZAGEM ESCOLAR
Porto Alegre
2007
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NELSON ELINTON FONSECA CASARIN
FAMÍLIA E APRENDIZAGEM ESCOLAR
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Educação em Ciências e Matemática, da Faculdade
de Física da Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul, como requisito parcial para a obtenção do
grau de Mestre em Educação em Ciências e Matemática.
Orientadora: Profa. Dr. Maria Beatriz Jacques Ramos
Porto Alegre
2007
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NELSON ELINTON FONSECA CASARIN
FAMÍLIA E APRENDIZAGEM ESCOLAR
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Educação em Ciências e Matemática, da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul, como
requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em
Educação em Ciências e Matemática.
Aprovado em:................de...........................de...............
Banca Examinadora:
Orientadora: Profa. Dr. Maria Beatriz Jacques Ramos
3
À minha família, pela compreensão e orientação nas horas de angústia, pelo
incentivo e por todas as vezes que viabilizou a busca dos meus sonhos, e a todas
as famílias que esta pesquisa poderá ajudar, dedico esta conquista com gratidão a Deus.
4
AGRADECIMENTOS
AGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOS
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus pelas orientações e demonstrações do Seu amor.
Agradeço a minha família pelo apoio e dedicação recebidos, da minha esposa
e em especial de meus pais que me oportunizaram o estudo quando as condições eram adversas.
Agradeço a minha orientadora, Profª Beatriz, pela compreensão e sabedoria
com que sempre me acolheu.
Agradeço aos professores do curso que, com sua sabedoria demonstraram a
necessidade da pesquisa e da aplicação em sala de aula.
Agradeço aos colegas de trabalho pelas inúmeras conversas e orientações prestadas.
Agradeço às famílias que entenderam o objetivo dessa pesquisa e aceitaram participar
da mesma fornecendo os dados necessários.
5
Educação, palavra bonita.
Expressa valores do ser humano.
Enaltecida por alguns corajosos educadores...
...desprezada por muitos na sociedade.
Mas se todos a tivessem, seria diferente...
...ah, como sonho com esse momento.
Parece utopia! Clamo para que um dia isso se torne realidade.
Não sei se em meus dias, mas aguardo...
...por esse sonho.
Educação, palavra tão fácil de ser dita ou mesmo debatida...
...difícil compreender o que com ela se pode alcançar.
Educação, não quero brincar contigo...
...usufruir-te, sim, eu quero.
Espalhar-te mudará o mundo, que carece ser humano.
Nelson Elinton Fonseca Casarin
6
RESUMO
Essa pesquisa teve como objetivo a compreensão da organização familiar e suas
implicações no processo de escolarização de crianças e adolescentes que
apresentam dificuldades de aprendizagem. As informações foram obtidas a partir de
entrevistas com famílias selecionadas por uma escola particular de Porto Alegre. Isto
possibilitou a investigação de relações familiares que acarretam dificuldades
evidentes na aprendizagem. Esse estudo baseou-se na análise de referenciais
teóricos sobre o assunto. Muitas pesquisas têm sido dedicadas ao entendimento das
causas do fracasso escolar de crianças ao longo do tempo. Entre as causas
apontadas nos estudos, em geral, percebemos a influência da origem social, da
prática pedagógica do professor sobre o padrão de estímulo intelectual e afetivo das
crianças. Porém, a relação existente entre a família e os processos de
aprendizagem não aparecem claramente nesses estudos. A aprendizagem está
ligada à ação social. A orientação educacional é vital para as pessoas, tanto em
instituições de ensino quanto nas famílias. Penso que, a aprendizagem e o
desempenho escolar dependem, primeiramente, da inter-relação familiar, e
posteriormente, da relação entre professor e aluno. Se antes as escolas e famílias
tinham objetivos que aparentemente não se relacionavam, agora ambas passaram a
ser vistas como participantes na educação. Embora distintas, buscam atingir
objetivos complementares.
Palavras-chave: Dificuldades de aprendizagem. Família. Aprendizagem e família.
Desempenho escolar.
7
ABSTRACT
This research was intended to provide some understanding about family organization
and its implications to the school process of children and teenagers who have
learning troubles. The informations were obtained through interviews with families
chosen by the school. It made possible to investigate family relationships that lead to
obvious learning difficulties. This study was based on the analysis of theoretical
references on the subject. A great deal of research have been devoted to uderstand
the reasons for children's school failure along the time. Amidst the reasons pointed
out by studies, one usually sees the influence of the social origin and the teacher's
educational practice on the children's emotional and intellectual stimuli patterns. But
the relationsihp between the family and the learning process do not appear clearly at
those studies. Learning is connected to social action. Educational guidance is vital for
people, both at educational institutions and within families. I think that learning and
school performance depend first on the family interrelations and then on the
relationship between teacher and student. If, in the past, schools and families had
apparently unrelated goals, they now both begin to be seen as participants in the
education process. Although different, they try to achieve complementary objectives.
Key-words: Learning troubles. Learning difficulties. Family. Learning and family.
School performance.
8
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................10
2 JUSTIFICATIVA.....................................................................................................12
3 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA........................................................................13
3.1 MEU PERCURSO COMO EDUCADOR..............................................................13
4 OBJETIVO CENTRAL ...........................................................................................17
4.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...............................................................................17
5 PROBLEMA DA INVESTIGAÇÃO ........................................................................18
5.1 QUESTÕES DE SOBRE A RELÃO ENTRE FAMÍLIA E
APRENDIZAGEM ESCOLAR ....................................................................................18
6 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS..............................................................................19
6.1 FAMÍLIA E APRENDIZAGEM ESCOLAR ...........................................................19
6.2 A FAMÍLIA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA .............................................19
6.3 AS TRANSFORMAÇÕES FAMILIARES E AS SEPARAÇÕES ..........................29
6.4 O ENSINO E A APRENDIZAGEM ESCOLAR ....................................................32
6.5 OS PROBLEMAS FAMILIARES E AS DIFICULDADES DE
APRENDIZAGEM................................................................................................35
6.6 EDUCAR É UM PROCESSO COMPLEXO QUE EXIGE EQUILÍBRIO...............39
7 METODOLOGIA ....................................................................................................42
8 ANÁLISE DESCRITIVA DAS ENTREVISTAS ......................................................45
9 UMA REFLEXÃO FINAL .......................................................................................60
REFERÊNCIAS.........................................................................................................62
9
APÊNDICES .............................................................................................................66
APÊNDICE A - Entrevista para as famílias ...............................................................67
APÊNDICE B - Entrevista com a Família “A” ............................................................68
APÊNDICE C - Entrevista com a Família “B” ............................................................71
APÊNDICE D - Entrevista com a Família “C”............................................................74
APÊNDICE E - Entrevista com a Família “D” ............................................................77
APÊNDICE F - Entrevista com a Família “E”.............................................................80
ANEXO .....................................................................................................................83
ANEXO A – Autorização ...........................................................................................84
10
1 INTRODUÇÃO
A sociedade tem passado por transformações sociais e culturais importantes
nos últimos tempos. As novas concepções familiares, bem como o relacionamento
entre indivíduos no meio familiar, refletem em larga escala essas mudanças.
Em uma análise histórica, encontramos uma família que se compunha por
figuras bem definidas dentro do lar. O pai buscava suprir as necessidades básicas
do grupo de um modo geral e a mãe tinha por responsabilidade o cuidado da casa e
a educação dos filhos. Porém, o tempo passou e a mulher, segundo Tiba (2002),
saiu para o mercado de trabalho sem deixar, contudo, de ser mãe. Isso não implicou
em que o pai assumisse a responsabilidade deixada por ela.
Hoje se diz que pai e mãe passaram a dividir a tarefa de educar os filhos, o
que parece louvável. Porém, no final do século XX, a família começou a
desestruturar-se, em função de algo chamado “busca da qualidade de vida”. Isso
originou a defasagem no meio familiar das figuras parentais e, conseqüentemente, a
desestruturação na educação dos filhos. Os pais foram em busca de melhores
condições financeiras para suprir as necessidades básicas, esquecendo-se de, em
muitos casos, participar da educação dos filhos. Essa tarefa foi atribuída à escola.
No decorrer dessa pesquisa, relacionei características da família atual com
aspectos da aprendizagem escolar na sociedade contemporânea, buscando refletir
sobre o modo como as situações familiares têm influenciado o comportamento e o
rendimento escolar dos filhos nos diferentes grupos sociais.
É bem possível, embora igualmente improvável, que durante sua carreira
profissional o professor não questione sobre os principais motivos dos elevados
índices de dificuldades de aprendizagem com os quais convive diariamente. Por
isso, propus esse estudo.
Penso que esse trabalho foi importante tanto às famílias, do ponto de vista
social, como também às instituições de ensino, pois nos dois casos percebemos que
“com educação não se brinca”.
Essa pesquisa orientou-se a partir da perspectiva qualitativa na análise de
conteúdo com narrativas dos sujeitos que fizeram parte da amostra, os pais, ou
responsáveis, dos estudantes do Ensino Fundamental e Médio de uma escola
particular de Porto Alegre. Os dados da análise e acompanhamento dos sujeitos
11
foram avalizados com artigos e referenciais teóricos sobre o assunto em estudo.
Em síntese, essa pesquisa se mostrou uma contribuição devido à franqueza e
honestidade com que se procurou mostrar aos pais e educadores suas funções
básicas na tarefa de educar, expondo resultados e indicando que a aprendizagem se
em um processo em que a família e a Instituição Escolar têm responsabilidades
claras e definidas, afinal, educação e aprendizagem, no contexto atual, não são
tarefas simples.
12
2 JUSTIFICATIVA
Meu interesse em realizar esse trabalho sobre Família e Aprendizagem
Escolar baseou-se nas manifestações dos sentimentos de alunos em relação às
suas famílias.
Ao observar as aulas de matemática, percebi que muitos estudantes, com
dificuldade de aprendizagem, apresentavam desordens familiares, o que parecia
levá-los ao insucesso e ao fracasso escolar.
Iniciei o magistério em 1994, como auxiliar de disciplina em uma escola do
interior. Na metade do ano de 1995, assumi a sala de aula na área da matemática.
Aprendi muito nessa nova experiência, principalmente a reconhecer que por trás de
cada aluno um ser humano em fase de desenvolvimento. Comecei a buscar
informações sobre a realidade familiar do meu aluno. Essas se tornaram reveladoras
das causas das dificuldades de aprendizagem. Ao escutar diferentes histórias de
vida, percebi os motivos pelos quais alguns alunos não conseguiam resolver os
exercícios em aula, pois detestavam o trabalho e alguns até relatavam o desgosto
pelo estudo.
Ao refletir sobre isso, observei o distanciamento do ensino formal em relação
à realidade familiar, que, em muitos casos, revelava uma falta de participação e
interesse dos pais no amadurecimento e desenvolvimento cognitivo de seus filhos.
Isto parecia ocorrer, com mais freqüência, com filhos de pais separados, porque
talvez não conseguiam desempenhar adequadamente a função materna ou a função
paterna.
Deste modo, o estudo desse tema foi se delineando na minha trajetória
docente com crianças e adolescentes, em sua maioria inteligentes e capazes, mas
com dificuldades para pensar, para usufruir do conhecimento matemático no
cotidiano de suas vidas.
A matemática é lógica e ação, é prática e reflexão.
Como crescer sem simbolizar, sem raciocinar e problematizar?
13
3 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA
3.1 MEU PERCURSO COMO EDUCADOR
Minha primeira experiência como professor foi com turmas de e 6ª séries.
Isso foi espetacular! É uma fase na qual a criança está descobrindo conceitos e
formulando “questionamentos”. Esta experiência me permitiu entender o que eu
aprendia na faculdade, e também o que havia aprendido com professores no
passado. As crianças me mostraram que educar vai além de ensinar e que, com
educação não se brinca. Deve-se perceber que por trás de todo aprendiz um ser
humano. Passei a visitar as famílias dos meus alunos, principalmente, as daqueles
que apresentavam dificuldades na aprendizagem e constatei os problemas inerentes
às famílias, refletidos nas suas vidas escolares. O reconhecimento desse trabalho
logo começou a aparecer.
A experiência em sala de aula foi crescendo e, na própria instituição na qual
trabalhava, surgiu o convite para que me transferisse para Porto Alegre e assumisse
as turmas de Ensino Médio de uma escola maior. O desafio estava lançado, resolvi
aceitar. Faltavam apenas dois semestres para a conclusão do curso de licenciatura
plena em Matemática. Foi um ano difícil, pois além de trabalhar em Porto Alegre,
estudava em Pelotas. Contei com o apoio financeiro do Colégio, custeando minhas
passagens.
Finalmente, acontece a tão esperada formatura! Sou grato a Deus e a meus
pais, que ofereceram o possível, porém, mesmo sem oferecerem muito, doaram
tudo o que foi necessário para minha educação.
Na vida profissional, ao aplicar os conhecimentos que aprendi em sala de
aula, questionava-me, constantemente, sobre o porquê dos estudantes
apresentarem tanta dificuldade na aprendizagem. Comecei a pesquisar e trabalhar
em profundidade essa situação, quando soube do curso de pós-graduação oferecido
por uma faculdade de Porto Alegre sobre Metodologia do Ensino de Matemática
para a Educação Básica.
No ano de 2002, fui convidado para ser o coordenador da área de Matemática
na Rede de Escolas em que trabalho. Com o curso de pós-graduação em
14
andamento, senti a necessidade de pesquisar em sala de aula, tanto na condição de
professor como de estudante. Assim, percebi que alguns alunos com problemas
escolares necessitavam de uma ajuda diferenciada, um trabalho especializado,
principalmente, aqueles com Déficit de Atenção e Hiperatividade e Discalculia.
Segundo Guerra (2002), a Discalculia é um distúrbio neurológico localizado
na parte superior do cérebro, na região responsável pelos cálculos matemáticos.
Uma pessoa que apresenta esse distúrbio pode ter um desempenho normal em
todas as demais áreas do conhecimento, o que significa que é uma pessoa normal,
com grandes dificuldades nos cálculos.
Sobre este tema, desenvolvi a minha monografia no curso de pós-graduação.
O restante, o que não se encaixava neste distúrbio, acreditava ser puro desinteresse
pelo estudo. Então onde estava o problema? Acreditava que era na forma como as
aulas eram conduzidas, não sendo interessantes para o aluno. Porém, quando o
15
desenvolvimento da criança ou adolescente. Vejo a necessidade de professores
capacitados para identificar dificuldades de aprendizagem oriundas da família e
estimular buscas de soluções.
Vejo que as crianças que apresentam problemas familiares têm um
rendimento inadequado, não apresentam o retorno esperado no processo
educacional ao qual estão sendo submetidas. É importante destacar que, muitas
vezes, as instituições educacionais e os educadores não apresentam qualificação
para reconhecer essa situação do aluno. E, pelo desconhecimento, não o auxiliam
adequadamente, não percebem a necessidade de encaminhá-lo, bem como a seus
familiares, para um acompanhamento adequado.
De acordo com Eizirik (2001), os cuidados dos filhos em idade escolar exigem
da família grande coesão e organização. A escola funciona como verdadeira vitrina
da família, mostrando o que está indo bem e o que está indo mal. Por isso, é natural
que seja a escola que tome freqüentemente a iniciativa de encaminhar a criança
para atendimento.
O meu objetivo é pesquisar as condições familiares que estão diretamente
ligadas à aprendizagem. Investigar os motivos pelos quais alunos oriundos de
famílias desorganizadas, na sua grande maioria, segundo Eizirik (2001), não
desenvolvem satisfatoriamente seu aprendizado escolar.
Conhecer a realidade da estrutura familiar significa auxiliar o desenvolvimento
da aprendizagem, no sentido de ajudar a família a encontrar-se, mesmo em meio as
dificuldades. Queiramos ou não, os pais e as escolas compartilham a mesma tarefa
na educação de filhos, embora de modos diferentes. Na prática, nos dias de hoje, o
desempenho dos pais deixa muito a desejar, principalmente, nas aprendizagens
sociais, pois a criança, ou adolescente, parece não apresentar maturidade suficiente
para enfrentar seus problemas. Com isso, nota-se que muitas famílias passam essa
responsabilidade à escola.
Algumas teorias mostram a idéia de que a escola e a família devem atuar em
conjunto na busca de soluções para o desenvolvimento da aprendizagem. Assim, a
família e os educadores, devem atuar no desenvolvimento intelectual e afetivo, bem
como na aprendizagem de alunos com baixo rendimento, diretamente no centro da
dificuldade de aprendizagem.
As crianças precisam ser protegidas e cobradas de acordo com suas
necessidades e capacidades, tanto por pais como por professores. Mas como cobrar
16
se os laços de família estão se esfacelando com o passar dos tempos?
Conhecemos e trabalhamos com adolescentes que parecem adaptados no meio
familiar, porém não paramos pra pensar que a educação tem mudado muito, embora
não de maneira a adequar-se a essas novas situações familiares. Com os
referenciais teóricos verificou-se que o conceito de família mudou drasticamente.
Historicamente, analisando Eizirik (2001), a infância como se conhece hoje foi
construída ao longo do século XVIII, entre outras razões, com a criação da escola; a
adolescência é um produto do século XIX, enquanto a mulher independente e
valorizada surgiu plenamente na segunda metade do século XX.
É possível que no culo XXI se presencie o surgimento de novas
configurações familiares e sociais com o aumento das mudanças familiares; com
novas configurações, distintas daquelas dos casamentos monogâmicos, devido ao
alto índice de divórcios. Porém, Roudinesco (2003), afirma que a família humana é
uma instituição insubstituível para a constituição de sujeitos em desenvolvimento.
A escola e nós educadores não podemos esperar que o caos venha nos
assombrar sem que estejamos preparados. Desconhecemos o futuro e
presenciamos algo preocupante que aponta para um contexto nada agradável no
campo familiar no que se refere à educação dos filhos que nos são confiados como
alunos.
Hoje temos números assombrosos de reprovações e nem por isso paramos
para analisar o que está acontecendo. Tiba (2002), afirma que se os pais
acompanharem o rendimento escolar do filho desde o começo do ano, poderão
identificar precocemente essas tendências e, com o apoio dos professores, reativar
seu interesse pela aprendizagem.
Ao trabalhar com esses dados e com o caminho que percorri na educação,
pretendo ampliar minha compreensão sobre esses assuntos, pois percebo que
novos horizontes podem ser descobertos e aplicados em nossas escolas, para que
nos tornemos educadores mais conscientes e atuantes na relação com os
estudantes que “não conseguem aprender”.
17
4 OBJETIVO CENTRAL
Compreender a relação entre família e as dificuldades de aprendizagem
escolar, de estudantes do Ensino Fundamental e Médio.
4.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
a) Pesquisar o modo como as situações familiares influenciam o processo de
ensino e aprendizagem escolar.
b) Analisar os motivos pelos quais os alunos, de famílias pensadas como
disfuncionais, não desenvolvem satisfatoriamente o aprendizado escolar.
Destaco que famílias disfuncionais não exercem adequadamente suas
representações sociais e os papéis parentais para que se concretizem o
amadurecimento e as metas de crescimento do sujeito.
c) Conhecer a realidade das famílias para auxiliá-las no desenvolvimento e
no processo de ensino e aprendizagem de seus filhos.
18
5 PROBLEMA DA INVESTIGAÇÃO
Qual a relação entre as situações familiares e as dificuldades de
aprendizagem escolar, na área de matemática, de estudantes do Ensino
Fundamental e Médio?
5.1 QUESTÕES DE PESQUISA SOBRE A RELAÇÃO ENTRE FAMÍLIA E
APRENDIZAGEM ESCOLAR
a) Que dificuldades de aprendizagem matemática são apontadas pelo Setor
de Orientação da escola oriundas de problemas familiares?
b) Como o professor e a escola reconhecem e devem agir com os alunos que
apresentam dificuldades de aprendizagem em função da organização
familiar?
c) De que forma a família deve propiciar à criança, ou adolescente,
condições para que este possa ter um desempenho escolar adequado?
19
6 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
6.1 FAMÍLIA E APRENDIZAGEM ESCOLAR
Muitos estudos têm sido dedicados à compreensão das causas do fracasso
escolar das crianças ao longo do tempo. Dentre as causas apontadas, em geral,
percebemos a influência da origem social, da prática pedagógica do professor sobre
o padrão de estímulo intelectual e afetivo das crianças. Porém, a relação existente
entre a família e os processos de aprendizagem não aparecem claramente nesses
estudos.
Embora o tema família venha sendo bastante estudado, as idéias que a
maioria das pessoas têm sobre o que seja uma família variam, no decorrer do
tempo, de acordo com o contexto a que pertencem.
Acredito que a organização familiar esteja diretamente ligada ao grau de
aproveitamento escolar dos filhos. Percebo que alunos com baixo rendimento
escolar possuem uma organização familiar prejudicada. A escola tem o dever de agir
em relação ao desempenho escolar de seus alunos, principalmente nos dias de
hoje, afinal, o conceito de família vem perdendo espaço dentro da sociedade
capitalista.
Os estudos têm mostrado que a família que acompanha o processo de
aprendizagem do filho poderá auxiliá-lo no momento que surgem dificuldades
escolares. Logo, se a família acompanhar o rendimento dos filhos em sala de aula,
estes dificilmente enfrentarão situações de defasagem no aprendizado.
6.2 A FAMÍLIA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
Ao longo da história do Brasil, a família vem passando por transformações
importantes, as quais se relacionam com o contexto sócio-cultural e mesmo
econômico no país. No Brasil-Colônia, marcado pela escravidão e pela produção
rural para as exportações, percebemos um modelo de família extensa e patriarcal
20
onde os casamentos baseavam-se em interesses econômicos e a mulher era
destinada aos afazeres domésticos e à educação dos filhos.
Tiba (1996 p. 66-67), terapeuta de adolescentes, assim se expressa sobre a
questão:
Nas últimas três décadas, a tradicional divisão de papéis entre o homem e a
mulher sofreu grandes alterações. Atualmente, ambos não recebem mais
uma educação formal tão diferenciada. As moças pleiteiam as mesmas
faculdades e ocupam espaços cada vez maiores no mercado de trabalho.
Com isso, a clássica divisão de tarefas pai/provedor, mãe/rainha do lar foi
modificada [...]. Isso é muito bom! A mulher poderia aproveitar essa
percepção para iniciar um movimento que lhe garantisse uma posição
melhor no mundo. O problema surge quando, por não enfrentar esse
contexto novo com tranqüilidade, a mãe começa a se cobrar e a querer
fazer coisas demais, como uma espécie de punição por ter abandonado os
filhos, passando tanto tempo fora de casa. Se, por um lado, a mãe que
trabalha fora leva a vantagem de poder enxergar como se sobrecarrega e
cria filhos folgados, por outro, corre o risco de exagerar e aumentar ainda
mais a sua carga, por julgar que sua ausência lesa as crianças.
Apesar do autor fazer uma interpretação pessoal do papel da mulher na
sociedade, ele aponta uma importante questão: Como a estrutura familiar atual
interfere na educação dos filhos? Desta questão se pode deduzir outras como: A
aprendizagem escolar possui relação com a família? Como a escola pode auxiliar,
no contexto familiar, a aprendizagem dos filhos?
Cabe lembrar que, apesar da modificação no atual perfil da família, essa não
deixa de ser um importante núcleo de crescimento e aprendizado com os adultos
assim como para as crianças e os adolescentes.
Sobre a fundamental importância da família, assim se expressa Pestalozzi
(apud FREINET, 1974, p. 14)
Não livros, não métodos artificiais que possam substituir a educação
em família. A melhor história, o quadro mais emocionante visto num livro
são para a criança como a visão de um sonho sem vínculos, sem
seguimento, sem verdade interior. Pelo contrário, o que se passa em casa,
sob os olhos da criança, liga-se naturalmente, no seu espírito, a mil outras
imagens precedentes, pertencendo à mesma ordem de idéias e, portanto,
têm para ela uma verdade interior.
Este autor atribui grande importância à família na educação da pessoa. Isso
eu percebo nos estudantes que não enfrentam problemas familiares.
Segundo Tiba (2002), a partir das últimas décadas do século XIX, identifica-se
um novo modelo de família. Pois com o fim do trabalho escravo, as novas práticas
21
sociais, o início do processo de modernização do país, trouxe um terreno rtil à
proliferação do modelo de família nuclear burguesa, originário da Europa. Trata-se
de uma família constituída por pai, mãe e poucos filhos. O homem continua detentor
da autoridade, enquanto a mulher assume uma nova posição: “dona de casa”.
Desde cedo, a menina é educada para desempenhar seu papel de mãe e esposa,
zelar pela educação dos filhos e pelos cuidados com o lar.
Nos últimos vinte anos, várias mudanças no plano sócio-econômico e cultural,
relacionadas ao processo de globalização, vêm interferindo na dinâmica e estrutura
familiar e, conseqüentemente, estimulando alterações em seu padrão tradicional de
organização. Embora, esse processo tenha começado com a Revolução Industrial, a
interferência nas configurações familiares passa por grandes mudanças; depois da II
Guerra mundial viu-se que a mão de obra feminina aumentou, em virtude da
ausência masculina no mercado de trabalho.
Assim, não podemos deixar de relacionar os aspectos históricos,
provocadores de alterações nas relações familiares, que incidiram nos processos de
aprendizagem dos filhos.
Outro aspecto a ser ressaltado, diz respeito ao significado da escola no
contexto da família ao longo do tempo. Pois, essa irá dar continuidade na educação
dos filhos, sem se tornar responsável por esse processo, já que a responsabilidade
maior deve ser do núcleo familiar.
Segundo Kaloustian (1988), a família é indispensável para a garantia da
sobrevivência e da proteção integral dos filhos, independentemente da estrutura
familiar ou da forma como vêm se estruturando. É a família que propicia a
construção dos laços afetivos e a satisfação das necessidades no desenvolvimento
dos filhos. Ela desempenha um papel decisivo na socialização e educação. É na
família que são absorvidos os primeiros saberes, e onde se aprofundam os laços de
solidariedade.
Gokhale (1980) diz que a família não é somente o berço da cultura e a base
da sociedade futura, mas é também o centro da vida social. A educação bem
sucedida da criança vai servir de apoio à sua criatividade e ao seu comportamento
produtivo escolar. A família tem sido, e será, a matriz mais poderosa para o
desenvolvimento da personalidade e do caráter das pessoas.
A família é responsável pelo desenvolvimento psicossocial e maturidade da
criança, proporcionando uma sustentação necessária à individuação. Porém, só
22
conseguirão êxito nesse processo, famílias organizadas.
Os pais são responsáveis pela sustentação emocional dos filhos, para que
estes encontrem sucesso na aprendizagem escolar, orientando-os para lidar com as
frustrações em relação aos modelos de aprendizagem formal.
Os problemas vividos nas relações familiares vêm acentuando-se,
gradativamente, ao longo da história. Porém, nos últimos anos, percebeu-se
mudanças drásticas nas famílias. A falta de tempo, os desencontros e a solidão têm
sido graves dificuldades para os adultos dentro de suas casas. E para um
adolescente, que necessita de apoio e orientação, se não for na família, onde os
encontrará? Nós, seres humanos, precisamos estar com os bolsos forrados de
dinheiro, mas possivelmente sem saúde, e principalmente sem familiares, nossa
humanidade vai esfacelando-se. Trabalhar é necessário, porém a sociedade vem
impondo um ritmo frenético, no qual a competitividade obriga cada vez mais a
produção e, conseqüentemente, a diminuição do tempo de convívio familiar. Antes
que seja tarde, precisamos rever nossos conceitos em relação à família e à
organização que esta necessita para prover um local aprazível, no qual as relações
sejam agradáveis e confiáveis.
Acredita-se que em uma relação vivenciaremos a mesma situação mais de
uma vez. É na família que as transformações individuais e coletivas devem ser
maturadas de forma a desenvolverem-se corretamente nos padrões da sociedade
em que se está inserido. Mas, isso demanda tempo de convívio.
A reorganização das pessoas em grupo é um processo constante, pois é
através dele que se a evolução pessoal, proporcionando a cada um a estrutura
necessária à formação de novas bases e identificações.
A criança precisa de afetividade e compreensão para sentir-se segura nos
processos de aprendizagem. Um ambiente desfavorável provoca a depreciação do
amor, do sentimento de incapacidade e, conseqüentemente, um comportamento
social comprometido.
A família tem um papel central no desenvolvimento da criança, pois nela se
realizam as aprendizagens básicas para o desenvolvimento escolar. A falta, ou
escassez, de relações familiares adequadas, devido ao pouco tempo de convívio,
provoca a carência das funções materna e paterna, fragiliza os laços amorosos.
Segundo o ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente - título I, deve-se
assegurar a dignidade da criança e do adolescente em família:
23
Art. A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais
inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata
esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as
oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico,
mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.
Art. É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do
poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer,
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária (ECA, 1990).
Não devemos esquecer que todo o ser humano procura identificação e
aceitação em um grupo. Se sua família não estiver provendo essa ideortuJu5x:z464fcaU.0:57433fçUJzfJx207foU.0:57433f U.Jx2:J75feU3:Jx207f U244:502;úÃC.06x:x7uzuú%37uú43ªfoUJ:607433frU0:zz45JfoU.0Jx207frU0:a57433fnU.0:57433fdU3::z464fcaU.zsaU.:57433fçUJzfJx7433foU.0:57433f U.J72:464fcaU.n57433feU3:Jx7433fceU.0:57433fiU2:ssá07433frU0:zz45JfoU.0x75frU.7:a57377foU.0,J3464f U.J72:464f U.J:57433f U.J72:464fcaU.a57433fdU3:Jx207foU.0:57433rU0:J3464fiU2::57433fiU2:scJx207fUJ:60x75foUJ:60e57433f U.J72:464fcaU.vsaçcacauioa laro ca o CªfeU.0co57433fnU.0:57433fdU3:vsacaca carrondaça o oo 37uú%CªfaU.0s:57433frU0:zz45JfaU.0gx207feU.0:57433fvUJz25:J6faU3:607433frU0:25:J6faU3:Jx207fuU.0:57433feU.0:57433f U.072:J6faU3:R3464faU.0:57433f U.J:662J6foU.0:57433fsUJzf72:J6faU3:(z45JfaU.0257433fsUJz057377foU.0057433fsUJz157433fsUJz)z45Jf U.Jx2:25fdU.0:57433feU.0:57fÉU660:57433fdU3:ox207fmU.3:662J6fíU4::z464fcaU.n57433frU0:a07433frU0:x2:25fdU.0:57433feU.0:57433frU0:x2:25fdU.0ax207fpU.0:57377frU0:zz45JfoU.0:57433fnU.0:57433fmU0::57433feU.0:z464fcaU.zsaU.:57433fçUJzgx207feU.0:57433fvUJzn57433fsUJzf72:J6faU3::57433feU.0:z464fcaU.2:J0J2:522:ú%CªftU.2607433frU0:zz45JfoU.0cJ3464fdU.0:57433feU3::57433f U.JssaU.,J3464f U.J72:45fpU.0:57433frU0::57433fdU3:Jx7433rrdp iiroa
24
família. Nesse sentido, o sujeito vai estabelecendo o desenvolvimento de sua
maturidade e iniciando o processo de individuação. Poderíamos dizer que a família é
uma célula reprodutora de outras. Pois, o indivíduo ao atingir a maturidade e
individuação irá formar outra célula, no caso, outra família.
O papel da família vai além de prover os meios necessários à sobrevivência
do indivíduo. Para o casal que decide ter filhos a responsabilidade é ampla. No
sentido de que não é apenas colocar uma criança no mundo. Esta deve ter suas
necessidades sicas satisfeitas e receber afeto, usufruindo dos aprendizados que
lhe permitam tornar-se um ser capaz de viver em sociedade.
Se a família não oferecer a base necessária ao desenvolvimento da criança,
ou do adolescente, este irá buscá-la em outros grupos. O perigo se instala nesse
momento, pois, se o sujeito não encontrar apoio e atenção nos membros do seu
grupo mais próximo, certamente irá buscá-los fora. Assim a fragilidade do
adolescente aflora, pois o mesmo deixa de reconhecer o futuro para viver o
presente, afinal, ele não vislumbra expectativas de crescimento e autonomia no
futuro. Logo a família deve rever seus conceitos como grupo, caso contrário o
desenvolvimento desse sujeito estará abalado e certamente a aprendizagem não se
dará de forma satisfatória, pois ele enxerga apenas o momento.
Nascemos em um mundo de sons e vozes e logo percebemos a importância
da comunicação humana. Assim, nossas palavras assumem um significado
grandioso ao conversarmos, pois uma comunicação eficiente diminui a chance de
desvios de compreensão. Portanto, é necessário haver muito diálogo na tarefa de
educar. Poderíamos dizer que as relações parentais, regidas pelo comprometimento
e diálogo, são essenciais para uma situação confortável entre as pessoas na família.
muitas maneiras de definir o que é família e o que é escola. Justamente,
devido às concepções de família e escola que temos hoje, é que proponho esta
pesquisa e, assim, poderemos compreender nosso papel na sociedade, seja como
pais ou professores.
Segundo Sukiennik (1996), entende-se a família como sendo uma estrutura
protetora e que desempenha a tarefa de orientar a criança ou adolescente de forma
a favorecer o seu crescimento e aprendizado no contexto social. Com o passar do
tempo, essa idéia vem sofrendo transformações até chegar ao ponto de a família
deixar essa tarefa para a escola. Por outro lado, Sukiennik coloca a escola como
auxiliadora da família na construção de conhecimento e formação social.
25
Cabem aqui alguns questionamentos: a família reconhece o verdadeiro papel
da escola? Que tipo de papel a escola está desenvolvendo no contexto social e
familiar?
Percebemos, hoje, que tanto a família como a escola, têm visto sua tarefa
complicar-se devido às transformações que a sociedade vem sofrendo ao longo do
tempo. Como conseqüência, observamos pais e professores queixam-se em relação
tarefa de educar.
O alongamento da jornada de trabalho, devido tanto à necessidade de
trabalhar mais para aumentar o rendimento familiar quanto ao crescimento
das cidades, diminuiu consideravelmente o tempo que os pais dispunham
para compartilhar com os filhos. Mas a criança carece de muito afeto e de
uma troca com os adultos que além da satisfação das suas
necessidades fisiológicas. A diminuição desse afeto, dessa troca,
empobrece consideravelmente a criança e limita suas possibilidades de
amadurecimento. Paradoxalmente, para poder satisfazer as necessidades
fisiológicas e materiais dos filhos, os pais precisaram trabalhar cada vez
mais, reduzindo com isto o tempo de contato direto com eles (SUKIENNIK,
1996, p. 50).
Ao analisar o contexto de relações cada vez mais distantes entre pais e filhos,
vemos que certamente os filhos irão procurar, de alguma forma, suprir a
necessidade de afeto, então, mesmo sem querer, na grande maioria dos casos, eles
utilizam meios para atrair a atenção dos pais. Na sociedade que vivemos o contexto
escolar é de fundamental importância para os pais e perturba-os constatar que seus
filhos não estão bem nas atividades escolares. A criança, muitas vezes, ao perceber
este fato, utiliza-se, mesmo que inconscientemente, desse artifício para mostrar aos
pais a carência afetiva que está vivenciando.
A dificuldade de aprendizagem de uma criança, ou um adolescente, pode não
ser mais do que uma forma encontrada de manifestar a falta, a precariedade dos
vínculos familiares, nesse sentido, educar não é uma tarefa tão simples como pode
parecer.
Educar vai muito além de prover os meios para a criança vir ao mundo e ser
mantida nele, é um processo e, dentro desse estamos inseridos, enquanto família e
escola, pois as crianças aprendem de acordo com o que vivenciam com seus
modelos de identificação. Assim, crianças e adolescentes constantemente,
observam, analisam nossas atitudes, nossos comportamentos sociais e
profissionais. Daí a importância da solidez familiar, porque, segundo Zagury (2001),
ninguém, ao vir ao mundo, sabe o que é certo e o que é errado. O ser humano ao
26
nascer, não tem uma personalidade definida. São os pais que têm a tarefa de
fundamentar e consolidar a personalidade da criança.
Entendo como família um sistema em constante transformação, evoluindo
graças à capacidade de buscar a estabilidade e, então, recuperando-a através de
reorganizações de suas estruturas sob novas bases. Ou seja, a família é um sistema
que passa por transformações constantes.
Percebemos isso, na mudança de uma família, ao nascer uma criança.
Segundo Fernandez (1990), a criança que nasce vem preencher um lugar
preparado, mas quando nasce é uma realidade que desde o imaginário, a fantasia,
desafia a realidade. Ela também destaca que quando o fracasso escolar se instala,
profissionais devem intervir no sujeito que não aprende e na família, ajudando
através de indicações adequadas.
Hoje, portanto, é necessário compreender que as mudanças que se
manifestam nos indivíduos se dão pelas conseqüências do meio sócio-cultural que
vive a família.
Precisamos ser sensíveis às particularidades de cada família e seus
membros, também temos alguns dados sobre o que é essencial para o bom
desenvolvimento de cada pessoa que compõe a família.
Fatores complexos contribuem para o ambiente familiar atual no qual,
segundo Eizirik (2001), além da presença e da esperança, problemas sociais, como
a ansiedade e a incerteza fazem parte intrínseca do contexto da família que
encontra cada vez menos verdades prontas e cada vez mais valores que, em grande
medida, têm de ser construídos em conjunto.
Na formação de uma família, espera-se que as pessoas já tenham uma
relativa separação emocional das famílias de origem. Isso é demasiado importante,
pois facilita o processo no qual o cônjuge, na formação do novo lar, torna-se uma
pessoa significativa no seu novo contexto. Porém, a maioria dos jovens começa
sua vida conjugal na dependência financeira dos pais, o que pode ser um problema.
A autonomia, um dos principais desafios dessa fase, acaba ficando de lado, logo, a
dependência econômica prejudica o processo de formação da nova família em
termos de responsabilidade e autonomia.
Não é rara a formação de novas famílias a partir de gravidez não-planejada
por ocasião do namoro, momento que seria para o conhecimento e lapidação de
elos para construir uma família. Porém, a presença do bebê pode causar
27
instabilidade trazer insegurança ao casal em formação. Toda família em formação
requer muita maturidade e, conseqüente, desprendimento em favor do grupo a ser
formado.
Taille (2002), descreve que conciliar todas essas necessidades requer muita
maturidade. Só se constrói harmonia conjugal com muitas renuncias pessoais, o que
em nossa sociedade, praticamente não acontece, pois a cultura do egoísmo e do
individualismo não prepara adequadamente as pessoas para a vida em família, para
o enfrentamento das diversidades e adversidades. Essa é uma das principais razões
do divórcio precoce.
Percebo que não precisamos aceitar as conseqüências desse sistema. Se
isto ocorrer seremos meras “vítimas do sistema”; precisamos compreender que
temos grande parte de responsabilidade no que acontece na sociedade
comtemporânea. Os caminhos que escolhemos são nossos e as conseqüências
também. Talvez, frente a família, educação e sociedade, o que mais se precise é
reconhecer a responsabilidade em relação a nossos filhos e alunos.
Outro fator importante a ser destacado é a luta das mulheres. Apesar da
revolução feminista, elas ainda ficam com o fardo principal da educação dos filhos,
não que isto seja responsabilidade apenas delas, sem contar com as tarefas
domésticas. Os homens, por sua vez, continuam, em grande parte, a assumir a
principal responsabilidade pelo aspecto econômico, o que faz com que para eles o
desemprego seja moralmente catastrófico. Este, portanto, passa a ser um dos
grandes abalos familiares. Outro ponto que destaco é o número crescente de
mulheres descasadas que precisam, praticamente sozinhas, arcar com o sustento
da família, porque seus maridos assumiram o encargo de uma nova família ou, não
aceitaram a gravidez e o filho, a situação conjugal que usufruíam.
O desequilíbrio familiar pode se dar por vários motivos, e todos importantes e
com implicações na vida as pessoas. Assim, devo lembrar da importância da
estrutura emocional dos adultos no sistema familiar ao enfrentar abalos. Percebo
que existe um importante período inicial durante o qual o casal sem filhos passa por
um processo intenso, tuo, de adaptação emocional e, se esse processo não
ocorrer o casal pode não apresentar maturidade suficiente para lidar com eventuais
dificuldades, o que pode gerar a ruptura da família. De acordo com Eizirik (2001),
isso resulta na formação de novas famílias, e cada vez mais crianças estão vivendo
nessas novas famílias, devido ao rompimento da sua família anterior. Ocorre que
28
esses novos lares não estão prontos para terem filhos, porém iniciam com eles,
frutos de relações anteriores desfeitas. E, segundo o autor, essa é a principal razão
de 60% dos segundos casamentos terminarem em divórcio em menos de cinco
anos.
Geralmente os pais apresentam mudanças significativas na adolescência dos
filhos, o casal enfrenta algumas crises, que também podem abalar a aprendizagem
escolar dos filhos, pois todos os indivíduos da família são afetados.
Outras razões como possíveis problemas de saúde nos avós também podem
gerar essas crises. Para os pais, a crise é um momento de reflexão em que avaliam
os rumos que a vida lhes tem reservado. Surgem questionamentos sobre o
casamento, a profissão e a própria felicidade, também aparece a insegurança nas
relações afetivas. O problema, é que nesse momento as pessoas, que formam o
casal, ainda se sentem jovens para mudar, e em casos específicos, não levam em
consideração as pessoas envolvidas em suas decisões, no caso, os filhos, ou
mesmo o outro cônjuge. Nessa etapa são comuns os divórcios e, como
conseqüência, as dificuldades escolares dos filhos.
Tudo isso é agravado pela mídia e pela intensa propaganda comercial sobre a
vida estar apenas começando na meia idade. O estimulo a individualidade, em
detrimento do coletivo, que freqüentemente e mostrado pela mídia enaltece a
mudança de valores e estilo de vida. Porém essa não coloca que existem
sentimentos envolvidos e, esses podem ser severamente abalados.
Muitas vezes chega ao meu conhecimento histórias de crianças e
adolescentes em fase de formação de uma identidade que precisam de adultos
coerentes e consistentes em suas ações, mas não as encontram. Adultos que
tenham limites e saibam estabelecer limites. A maturidade é fundamental nessa
fase, para que o sujeito perceba que a felicidade não está nas coisas que se podem
comprar e sim naquelas que não podem ser compradas, substituídas, como a
família.
Os filhos, ao passarem por tudo isso, buscam a diferenciação - buscam um
espaço pessoal, ou seja, a própria identidade. Cada pessoa crescerá e se definirá
através das trocas com outras pessoas e, se não for nas relações parentais, buscará
isso fora do convívio familiar.
Conforme mencionei, a família de hoje vive em uma época de grandes
transformações. Temos tecnologias avançadas, porém as mais graves dificuldades
29
são de relacionamento interpessoal, pois falta-nos a percepção da importância do
semelhante ao qual estamos criando. Convivemos com o fim das verdades e com o
crescente egoísmo. Compreendo que presenciamos maiores oportunidades, porém,
sequer utilizamos as que possuímos.
A família, que devia ser a célula da sociedade está se esfacelando aos
poucos, dando lugar ao liberalismo descontrolado, a procura de segurança no
trabalho, no dinheiro, resumindo, em coisas materiais. Estamos perdidos, inseridos
em um meio que não percebe a família como a base ou a sustentação para a
resolução dessas dificuldades de ordem individual e coletiva.
Vejo que a descrição é sucinta e parcial, mas parece-me necessária como
parte do contexto mais amplo da família nessa parte do trabalho.
Hoje, fala-se muito em relações interpessoais, porém, os conflitos envolvendo
diferenças de opinião aumentam drasticamente. Portanto, precisamos de um olhar
atento aos processos de mudanças individuais dentro da família, pois isso trará a
maturidade necessária ao convívio do grupo.
6.3 AS TRANSFORMAÇÕES FAMILIARES E AS SEPARAÇÕES
A estrutura e o funcionamento familiar vêm se modificando ao longo do
tempo, assim, existem momentos em que predominam as forças internas e ora as
forças externas, como o nascimento de um bebê ou o casamento de um filho, com
entradas e saídas no sistema familiar. Podemos dizer que as transformações
familiares ocorrem por vários problemas alheios à vontade dos sujeitos envolvidos,
para tanto cito o que Eizirik (2001, p. 63) defende em seu artigo sobre o ciclo vital da
família:
[...] das pesquisas sobre a associação das transições familiares com
mudanças no comportamento das crianças, uma lição geral sobressai:
existe cada vez mais evidência para a hipótese de que muitos efeitos das
transições familiares, pobreza, problemas sociais e outros fatores de risco
para as crianças o provavelmente mediados pelos processos mais
íntimos das relações emocionais dentro das famílias, principalmente entre
pais e filhos”. Enquanto todas as famílias passam por situações de estresse
como doenças, divórcio, crises econômicas e acidentais, algumas delas
saem relativamente ilesas, ao passo que outras desorganizam-se
gravemente. Quando as questões básicas de sobrevivência não estão
garantidas, como mostrou um estudo clássico no Havaí (Walsh, 1996) que
30
acompanhou ao longo de 20 anos a evolução de todas as crianças de um
bairro extremamente pobre, constata-se que apenas 25% delas não
repetiram o ciclo tradicional da pobreza caracterizado pela delinqüência,
marginalidade, gravidez precoce, alcoolismo e doença mental. Para
entender isso, tem-se utilizado o conceito de resilência familiar, que é um
termo emprestado da Física e que significa a capacidade de um material
voltar ao estado inicial depois de sofrer pressões ou deformações (por
exemplo, uma mola tem alta resilência; a argila, pouca). Parece que as
famílias com mais resilência, que enfrentam melhor as dificuldades da vida,
conseguem manter um equilíbrio dinâmico entre dois grupos de
características psicológicas complementares. O primeiro é formado por
valores auto-afirmativos que incluem iniciativa, independência, criatividade,
humor e flexibilidade. O segundo engloba as necessidades integradoras tais
como visão de mundo compartilhada, cooperação, altruísmo, e
espiritualidade. Além disso, os indivíduos que escaparam do ciclo da
pobreza atribuíam sempre seu destino a uma mão amiga estendida por
alguém.
O contexto sócio-cultural é um parâmetro indispensável para a compreensão
do que se passa com a família de hoje. Fatores sociais como o desemprego, a
corrupção e a violência atingem todos os setores da sociedade, principalmente a
família, que desprotegida pelas Entidades Governamentais, encontra-se só para
enfrentar essas
desordens, em muitos casos, não está preparada para enfrentar
todos esses agravantes.
Considerando o contexto que vivemos, deparamo-nos com a questão da
origem de tantos divórcios. Problemas conjugais sempre existiram e vão continuar a
existir, para que se resolvam essas situações, precisa-se trabalhar com o casal. O
que percebe-se, são pessoas mais independentes, e também menos tolerantes.
Segundo Tiba (2002), a sociedade moderna educa as pessoas para exigir o
“máximo” da vida, não aceitando os limites de uma relação com o outro. No entanto,
em uma separação, os sentimentos de perda são muito grandes, principalmente
quando filhos. Os sentimentos fortes de fracasso, frustração, raiva e desejos de
vingança são comuns quando um casamento é desfeito, na maioria dos casos isso é
transmitido aos filhos, mesmo que esse o seja o desejo nessa fase de ruptura.
Existem casos, ainda que em números menores, nos quais os filhos são
preservados. Deve-se destacar que isso ocorre se houver maturidade suficiente
entre os cônjuges e o divórcio se der de forma amigável.
De acordo com Gardner (1980), as separações mais difíceis, principalmente
nos casamentos de pessoas muito dependentes, com história de perda familiar,
despertam grandes temores na criança e sensações de insegurança e desamparo. É
comum que nesse período o(a) filho(a) precise mostrar seu desagrado, mesmo que
31
isto seja involuntário, expondo-o através de bloqueios e retrações escolares, o que
abala os pais. Um fator importante a destacar é o resultado nos estudos, pois os
pais preocupam-se com a educação de seus filhos.
Esse mesmo autor diz que a maioria das crianças apresenta alguns sintomas
nos primeiros anos após o divórcio, principalmente na escola.
Um dos pontos importantes é que a criança nasce “dependente”, precisa de
uma família ou de um grupo que a acolha, Eizirik (2001), destaca que, na verdade, a
“independência” é algo que nunca atingimos totalmente.
Vejamos o que este autor refere quanto à família e à escola:
À medida que os filhos crescem, a família gradativamente abre-se para o
mundo externo, representado principalmente pela escola. Os cuidados de
filhos em idade escolar exigem da família grande coesão e organização. A
escola funciona como verdadeira vitrina da família, mostrando o que está
indo bem e o que está indo mal. Por isso, é natural que seja a escola quem
tome freqüentemente a iniciativa de encaminhar a criança para atendimento
(EIZIRIK, 2001, p. 66).
Assim, tem-se evitado falar de “falia normal”, pois constatamos conflitos nas
gerões, o adolescente que está bem tende a um bom desempenho escolar e convive
com a falia em relativa harmonia. Porém, o adolescente que nessa fase apresenta
dificuldades de relacionamento familiar reflete e denuncia essa instabilidade no
aprendizado, com base na história de problemas familiares.
O fracasso escolar e suas manifestões podem estar associados aos
problemas que, involuntariamente, impedem o aluno no processo de aquisição de
conhecimento, levando-o a apresentar dificuldades, ou transtornos emocionais.
Problemas complexos que, segundo Gardner (1980), adm de inflncias familiares.
A criança, ou adolescente, com suas crenças e expectativas, pode o
compreender claramente o que está acontecendo, sente-se culpado pelos problemas
familiares. Assim, esses sujeitos negam-se o direito de saber, salienta Souza, (1995).
Destaco esta perspectiva ao tentar compreender a dificuldade de aprendizagem.
Polity (1997), acrescenta que os problemas familiares fornecem as condições
para que o aprendiz não adquira o conhecimento que lhe é transmitido, por o obter “a
autorizão para conhecer e, portanto, para aprender, deixando, desta forma de ser
considerado aprendiz(POLITY, 1997, p. 24).
32
Se os pais, ou a sociedade, em sua maioria forem esclarecidos, existe a
possibilidade da escola compreender e auxiliar na superação de alguns conflitos,
desajustes relacionais e dificuldades escolares que seriam , sem dúvida , resolvidos a
tempo.
Se a falia e a escola formassem uma parceria, já nos primeiros anos escolares
da criança, todos teriam a lucrar. Afinal, segundo Tiba (2002), a criança que estiver bem
vai melhorar e aquela que estiver com dificuldades receberá ajuda tanto da escola
quanto dos pais para superá-las.
6.4 O ENSINO E A APRENDIZAGEM ESCOLAR
Ao analisar os processos de desenvolvimento e de aprendizado, Vygotsky
(1991), propôs um complexo estudo sobre esse tema. Um dos pontos de reflexão,
que esse autor destacou é que o bom ensino é aquele que leva ao bom
desenvolvimento e Rego (1998), aprofunda esse tema. Creio que as reflexões
desses autores abrem caminho para esse estudo. Esse conceito de
desenvolvimento e aprendizagem, segundo Vygotsky (1991), pode ser
compreendido como a distância entre o que o aluno é capaz de aprender, em seu
desenvolvimento normal, e aquilo que ele não consegue desenvolver sozinho, mas
consegue realizar no contexto da interação com o meio escolar e familiar, na
mediação com o outro.
Penso que a família e a instituição escolar compartilham a mesma função
educacional, embora uma não possa, ou não apresente, condições de fazer o
serviço do outro. Nos tempos atuais, o desempenho dos pais deixa muito a desejar,
principalmente, nos modelos de ensino e aprendizagem, pois isto exige prática e
acompanhamento do desenvolvimento, que a criança, ou adolescente não
apresenta maturidade suficiente para enfrentar suas dificuldades sem a presença e
os limites colocados pelo adulto.
Esse trabalho tem a intenção de colaborar com os professores e familiares,
no sentido de mostrar que o aluno necessita de um ambiente que o estimule, pois o
sujeito que aprende deve ser estimulado e acompanhado, recebendo afeto
necessário no desenvolvimento da aprendizagem.
33
Destaco uma família disfuncional como sendo aquela que não responde às
exigências internas e externas de convivência entre seus membros, com papéis
pouco discriminados e modelos de comportamento inadequado.
A relação entre pais e filhos, que se mostra rígida, parece não permitir
possibilidades de alternativa de crescimento e diferenciação. Com isso ocorre um
bloqueio no processo de comunicação familiar.
A aprendizagem demanda pesquisa, mas como pesquisar se não apoio e,
por falta desse, motivação. Logo, esse trabalho quer sensibilizar a sociedade com
relação a aprendizagem, esclarecendo e mostrando situações nas quais temos tido
altos índices de enfraquecimento no desempenho escolar.
É possível planejar ou mesmo executar o processo de educação escolar
independentemente das condições familiares?
Essa questão merece um tratamento cuidadoso, que leve em conta aspectos
sociais e culturais. A aprendizagem é um processo individual, mas se no contexto
sócio-cultural no qual o indivíduo está inserido, promovendo uma articulação entre a
inteligência e as experiências afetivas do aprendiz.
Drouet (1995),
refere-se à importância do ambiente familiar quanto à
influência que exerce, de forma decisiva, na formação da personalidade da criança,
através da transmissão, de forma sistemática, dos usos e costumes de gerações
anteriores. Segundo o autor, o desenvolvimento da personalidade se deve tanto ao
fator genético, quanto à aprendizagem que é adquirida na interação física e social
com o meio.
Quanto à escola, segundo Marturana (1997), ela pode contribuir para
diferentes trajetórias de desenvolvimento. No sentido positivo, através do acesso à
educação básica, a criança pode alcançar estágios cognitivos mais elevados. Essa
condição lhe possibilitará melhores oportunidades profissionais.
O ato de aprender não ocorre de forma solitária, é um processo vincular que
exige interação. Vivemos em um modelo de sociedade no qual os saberes são
discutidos e, de certa forma, possibilitam a reconstrução de saberes anteriores. Essa
troca de informações proporciona à pessoa chegar a conclusões sobre saberes em
construção. De acordo com Alosp (1999), a aprendizagem se em um contexto
social, no qual as possibilidades de troca de informações são exercidas
proporcionando o crescimento do grupo.
34
Percebemos que, na medida que a criança consegue corresponder às
solicitações escolares, desempenhar o seu papel de aluno, realizar as atividades
propostas e preparar-se para as avaliações, cresce nela a auto-estima e a confiança
em sua capacidade para lidar com os desafios que surgem, tanto no ambiente
escolar como fora dele, o que, naturalmente, vai estimular a busca pelo aprender por
si mesma, a autonomia.
Para que o sujeito participe, exponha seus saberes e incertezas, ele precisa
pertencer a um grupo e sentir-se aceito nele. Essa aceitação fará com que este se
assuma como autor de idéias, tenha convicções, estabeleça diálogos reconstrutivos
e aprendizagens.
Cada um possui uma forma diferente de organizar-se, seja social ou
mentalmente. Porém, a criança ainda não o faz com responsabilidade. Na
aprendizagem não é diferente. Cada sujeito, inserido em um meio, deve
compreender o seu modo de organização, suas possibilidades e modalidades de
aprendizagem.
Todos têm condições de discernir entre o que é certo ou errado e, frente às
possibilidades de escolhas
à disposição, tornarem-se responsáveis por seus atos.
Porém, uma criança em fase de maturação psicossocial relativamente dependente
dos cuidados dos outros, não pode ser responsabilizada por seus fracassos. Isso
deve ser repartido com seu grupo familiar, com as pessoas que a orientam quanto
às escolhas e às possíveis conseqüências de seus atos, que lhe transfiram
responsabilidades. Seu desempenho escolar deve ter uma “co-responsabilidade”
com os pais.
um adolescente precisa começar a assumir responsabilidades sobre seus
atos e escolhas. Para que isso aconteça, a família deve promover os meios para que
este se sinta seguro ao iniciar o processo de individuação e separação progressiva
das relações familiares. Deve-se lembrar que esse processo não se dá do dia para a
noite. A adolescência é um período que demanda amadurecimento no grupo familiar
e, principalmente, no jovem, para formar a sua identidade pessoal. Por isso é um
processo que deve ser acompanhado de perto pela família e não basicamente pela
escola, como tem ocorrido em muitos casos.
É necessário destacar a grande importância dos adultos, inicialmente os pais,
na educação das novas gerações. Isso também se refere a participação na vida
escolar do filho. Se por um lado a família começa a abrir mão de suas obrigações
35
elementares, enquanto segmento responsável pela orientação e conduta básica do
indivíduo, por outro, a escola incentiva e acolhe esta opção, não fazendo, muitas
vezes, nenhum chamamento que destaque a importância da presença dos pais.
Assim, a escola se coloca em uma posição cômoda, pois não necessita dar
36
distintos de pessoa para pessoa, porém cada um apresenta motivos para o seu
modo de ser. Precisamos compreender cada sujeito e fornecer os meios
necessários ao desenvolvimento de cada um dentro de seu contexto. Isso não é
uma tarefa fácil.
Muitos pais não impõem limites e permitem que seus filhos tenham uma
vivência social permissiva. Esses possivelmente apresentarão conflitos
comportamentais, deixando de considerar a importância dos conhecimentos
escolares, pois não acreditam em sua capacidade de aprender. No entanto, o motivo
é a falta de limites a intolerância as regras a que ficam submetidos nos
relacionamentos com colegas e professores. Esse sujeito não foi educado para
tolerar a realidade e as suposições da vida social.
Tenho percebido, ao longo da prática em educação, que alguns indivíduos
mais retraídos, e com dificuldade de aceitação no grupo, acabam se refugiando em
seus saberes pessoais, mostram inibição cognitiva, resistência em mudar e não
aprendem os conteúdos escolares. Como não possuem uma organização intelectual
e afetiva delimitadas com parâmetros externos, ao exporem suas idéias ao grupo,
são ridicularizados e, como não sabem lidar com a frustração, ou mesmo não
possuem uma argumentação para defenderem suas idéias, acabam partindo para a
ignorância, para atos de agressão, pois a ação predomina sobre os pensamentos.
Estes, na grande maioria das vezes, arrependem-se de seus atos, porém a
impulsividade do comportamento domina a lógica, a objetividade.
Toda criança e adolescente necessitam orientação.
O adulto, no caso os pais, têm o dever de orientar seus filhos a desenvolver
hábitos frente aos estudos. A tarefa de educar não cabe somente a escola, embora
também seja um dos seus papéis. A participação da família na escola é fundamental
para o bom desempenho escolar.
É preciso ter bem claro o que entendemos por participar. Muitos podem ser os
significados dessa palavra. Acredito ser necessário que conheçamos as razões
pelas quais as famílias não têm correspondido ao que educadores esperam com
respeito a sua participação na escola. Precisamos conhecer as razões e
investigarmos as causas em relação à falta de participação de modo que esse
conhecimento torne-se público e todos sintam a necessidade de fazer parte do
processo.
37
É importante destacar que o MEC instituiu a data de 24 de abril como Dia
Nacional da Família na Escola. Isso significa que nesse dia as escolas deveriam
convidar os familiares de alunos para participarem das atividades escolares. Afinal,
se os pais se comprometer, não apenas com a criação e sustento, mas sim com a
educação dos filhos, eles aprenderão mais.
Nas ries Iniciais deve-se analisar se a criança está construindo de maneira
satisfatória, seu aprendizado. Aprender não significa decorar ou mesmo exercitar
situações prontas, aprender significa estabelecer relações e a partir destas
reconstruir novos conhecimentos. Propor atividades que desenvolvam o
aprendizado, é uma tarefa tanto da escola como da família e ambas necessitam de
apoio para fornecer os subsídios necessários ao desenvolvimento das dimensões
intelectual e afetiva em relação a aprendizagem do sujeito.
Andolfi (1984, p. 19) diz: “Podemos admitir que, para atingir a diferenciação -
para encontrar espaço pessoal, a própria identidade - cada pessoa crescerá e se
definirá através de trocas com outras pessoas”.
A criança que enfrenta o fracasso escolar é tida como “desligada”,
“preguiçosa” e é tratada, muitas vezes, com menosprezo pelo professor, geralmente
é deixada de lado.
Assim, sente-se a única responsável por sua incapacidade, tornando-se
apática e indiferente ao que se passa ao seu redor. Fica privada de sentir o prazer
da descoberta, da criatividade, do enriquecimento pessoal. Normalmente, os pais
não sabem como ajudá-la, e apoiando-se na opinião da professora despreparada,
também responsabilizam a criança pelo problema.
A capacidade de enfrentamento dessa situação por parte da criança, depende
principalmente das condições da família e da própria criança (MARTURANA, 1997).
Muitas vezes, a família ignora, ou têm uma noção precária, que seu papel é
significativo no suporte que deve oferecer aos seus filhos para torná-los capazes de
obter o sucesso escolar.
Para que a criança exponha suas frustrações, ela precisa sentir-se segura em
relação à sua família. Ninguém acerta todas, ou erra. Na vida fazemos escolhas
certas e erradas, o fato é que para cada uma delas existem conseqüências. A
criança terá confiança em falar sobre suas derrotas ao sentir-se aceita e
orientada dentro de um convívio saudável na relação parental.
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Somente em famílias onde diálogo e aceitação, ou seja, famílias
organizadas, esse processo se de forma tranqüila e equilibrada. Assim,
percebemos que coesão é um passo fundamental para o grupo no processo de
individuação do sujeito. Segundo Andolfi (1984), em famílias saudáveis, a
diferenciação individual e a coesão grupal são garantidas pelo equilíbrio dinâmico
estabelecido entre os mecanismos de diversificação e estabilização.
A rigidez dos adultos é outro fator que preocupa. O sujeito em
desenvolvimento, tratando-se de uma criança ou adolescente, quando acuado retira-
se para o seu mundo individual e não tem maturidade adequada para lidar com esse
tipo de situação. Nesse momento o sistema está abalado e o grupo incapaz de
reconhecer seus conflitos.
Somente a família que desenvolve o hábito de conversar e expor as situações
vivenciadas saberá trabalhar com a verdade. A falta de comunicação proporciona o
aparecimento de meias verdades, pois a desconfiança e o desconhecimento das
possíveis ações frente à exposição da verdade lugar à insegurança e confusão
ao se tomar decisões sobre a forma de agir.
Ninguém retribui carinho com agressão. O ser humano busca refúgio em
quem o compreenda e ofereça gestos de amor, de aceitação. Assim, o lar deve ser
um lugar de aconchego e harmonia, com isso, não quero dizer que não haverá
discórdia, porém o amor e a maturidade familiar serão os responsáveis pelas
escolhas e estruturação psíquica e social.
Crianças, ou adolescentes, que não possuem a confiança necessária na
família irão esconder seus fracassos. Isso é grave, pois a família deve ser
conhecedora de todas as situações que os afligem. Situações como esta, fazem os
problemas pessoais da criança, ou do adolescente, piorarem. Os nossos
sentimentos são facilmente percebidos através da nossa fisionomia e
comportamento. Segundo Gardner (1980, p. 53), “as pessoas têm vários tipos
diferentes de sentimentos e cada um deles se mostra de uma forma especial. A
felicidade é um sentimento que aparece quando as coisas estão indo bem para nós”.
Logo, é importante que a família esteja atenta, pois assim como a felicidade é
facilmente percebida, o sentimento de tristeza também é visível. Penso que desta
forma poderemos, tanto escola como família, dar a atenção necessária ao
educando.
39
6.6 EDUCAR É UM PROCESSO COMPLEXO QUE EXIGE EQUILÍBRIO
Na sociedade fala-se muito em limites. Porém, a criança não aprende a ter
limites individualmente, é necessário um grupo de pessoas orientando-a em seus
desejos e vontades, mostrando como ela deve agir frente às situações encontradas,
sejam estas
dificuldades ou vitórias. Logo, a criança sem limites não sabe lidar com
as emoções e com o convívio social, isso se torna inadequada e, essa situação,
claramente é percebida na escola. É nesse momento que a noção de valores
familiares fica exposta à sociedade.
Os limites devem ser vivenciados na família, na casa de cada sujeito, criança,
adolescente ou adulto. Hoje, nos bancos escolares, o que mais se percebe é a falta
de limites nas relações familiares, isso se torna claro na escola. Famílias
disfuncionais facilmente demonstram suas irritações e sentimentos descontrolados
através das comunicações dos estudantes em sala de aula. As crianças e
adolescentes que vivenciam esse tipo de relação expõem facilmente essa irritação,
extrapolando limites, pois não conseguem conviver com as diferenças familiares.
Segundo Zagury (2001), o mesmo ocorre com crianças e adolescentes que não
aprenderam a lidar com a perda, quando um familiar morre, ficam assustados com a
possibilidade de ficarem s. Nesse instante o restante da família deve dar o devido
apoio, no sentido da criança perceber que não está só.
Os pais são os responsáveis pelo ensinamento de valores. A escola também
deve ajudá-los, porém a responsabilidade é do grupo familiar, os pais ou cuidadores
são insubstituíveis. Proporcionar a individuação e a aceitação de valores é um
processo longo que passa pelos relacionamentos no grupo familiar, e este, deve
influenciar positivamente o indivíduo em desenvolvimento, de forma que este
aprenda a interagir com meio social no qual vive.
Os pais, ou cuidadores, são responsáveis pelos ensinamentos que a criança
necessita para que aprenda a fazer as escolhas corretas. Isso vale para a vida
social, afinal, temos que escolher até os tipos de companhias que, se mal
escolhidas, influenciarão negativamente as condutas sociais. Toda a criança
necessita aprender a lidar com as frustrações e dificuldades, em outras palavras,
deve aprender a crescer, ter a maturidade individual necessária para superar
momentos de desequilíbrio e frustração diante da realidade.
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Educar gera situações inesperadas e complexas, logo, o trabalho não é fácil,
demanda paciência o tempo todo. Para tanto, o educador precisa agir com
segurança e demonstrar maturidade e sabedoria ao lidar com as situações. Zagury
(1994. p. 75) diz: “Administrar conflitos é uma arte e um exercício de paciência.
Porque o antigo dito popular’ensinar é repeti’ assume, na relação com os filhos, uma
dimensão infinita.”
Ninguém gosta que seus pontos fracos sejam expostos ou mesmo criticados,
principalmente a criança e o adolescente. Logo, em família, deve-se agir com
elogios e incentivo, verdadeiros. O fato de se elogiar não significa deixar de lidar
com as dificuldades, porém deve-se dar ênfase aos pontos positivos nos momentos
de conversa em grupo. Segundo Zagury (2001. p. 66), é importante que se aja com
equilíbrio; exageros sempre soam de forma falsa; tanto o elogio quanto o prêmio
devem ser adequados à dimensão do ato.
Educar é um processo complexo e difícil. Quem ensina, aprende. O aprender,
por sua vez, tem seu fundamento na individuação do ser. Porém essa complexidade
se reduz quando a escola e a família estão juntas em um mesmo ideal.
As pessoas estão distanciando-se mais, mas continuam casando-se e
recasando-se. Portanto, a complexidade do que se entende por família tem
aumentado. O ser humano precisa de segurança afetiva, ainda não encontrou a
melhor forma de conviver e de criar filhos. É pena que estes estão sendo
prejudicados em virtude do despreparo e de buscas pessoais.
Um fator importante para destacar é a liberdade pessoal no meio familiar. Mas
deve prevalecer a máxima: “liberdade com responsabilidade”. Esse é um tema que
pode gerar conflitos entre o adolescente e os pais, que precisam saber ter
flexibilidade e bom senso frente àquele. Ele ainda não está completamente formado,
ora porta-se como criança, ora como adulto. Os adolescentes cobram privilégios, e a
família insiste principalmente nas responsabilidades. Acredito que ambos devem
concorrer paralelamente, não privilegiando-se um em detrimento do outro.
Se proibição, é porque desejo. Desta forma, destaque-se que todo o
homem merece respeito, inclusive as crianças. Percebo que, antes de falar das
crianças, como seres “sem limites”, é preciso reconhecer que inúmeros adultos
carecem desses limites. Acredito que isso ocorra não somente de forma individual,
mas na sociedade de um modo geral.
41
Liberdade não significa descumprir leis, pelo contrário, as leis vêm em nossa
defesa. Logo, a liberdade não deve ser entendida como total ausência de leis, algo
que muitos pensam.
Hoje, os adultos não têm mais tanta certeza de que limites bem explicados
garantem sucesso e felicidade. A não-colocação de limites, no meu modo de ver,
significa o descompromisso em relação aos filhos e à sociedade. Dar liberdade pode
significar dar demasiada responsabilidade, ressalta Taille (2002). É pena que ao se
falar em limites para as crianças e adolescentes, seja preciso reconhecer que, antes,
inúmeros adultos necessitam deles nas suas relações pessoais, para depois poder
colocá-los em prática na família. Concluo o exposto acima, destacando que nenhum
homem é superior, nossos direitos e deveres o iguais, principalmente em relação
aos filhos e, por que não dizer, alunos.
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7 METODOLOGIA
Esta pesquisa desenvolveu-se numa escola de Ensino Fundamental e Médio
de Porto Alegre. Foram analisados casos de cinco alunos, previamente selecionados
por um Orientador Escolar de 7ª eséries, do Ensino Fundamental, de 1º e 2º ano,
do Ensino Médio.
O critério para seleção dos alunos, com suas respectivas famílias, foi
combinado com o Serviço de Orientação Escolar (SOE). Levou-se em conta o
rendimento na aprendizagem escolar de cada estudante e suas respectivas
dificuldades. Os que foram selecionados, juntamente com os familiares, aceitaram
participar desse trabalho. Os estudos dos casos realizaram-se com o grupo familiar,
a partir de entrevistas estruturadas e contaram com a participação de todos, pais e
filhos.
Os encontros aconteceram nas casas dos alunos.
O SOE, Serviço de Orientação Escolar, selecionou as famílias que,
aparentemente, apresentavam algumas desordens em termos vinculares. Esse
Serviço fez o primeiro contato com os referidos grupos, o que ajudou e possibilitou a
compreensão dos mesmos a respeito do que fariam na realização desse trabalho.
Isso facilitou e auxiliou os primeiros encontros, assim como favoreceu a aceitação
das famílias quanto aos objetivos da pesquisa.
Os métodos utilizados nesse trabalho foram os seguintes:
a) contato com a escola, Serviço de Orientação Escolar, no qual demonstrei
a relevância dessa pesquisa para entender o desempenho escolar dos
alunos. O SOE acolheu essa solicitação por compreendê-la recomendável,
que a escola deve conhecer as dificuldades dos alunos, principalmente,
às que advém de questões familiares, (ver Anexo A) apresenta-se a
autorização para realizar a entrevista;
b) levantamento das características familiares, dados fornecidos pelo SOE,
relacionadas com a aprendizagem escolar dos alunos.
Nesse processo percebi a importância do Serviço de Orientação
Educacional organizado e empenhado, para compreender as realidades e
necessidades dos alunos com dificuldades de aprendizagem.
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c) elaboração da entrevista para as famílias. Tive o cuidado para formular
poucas perguntas, com informações necessárias, para não expor, ou trazer
constrangimento aos familiares. Dessa forma, os questionamentos foram
cuidadosos, mas possibilitaram que cada um descrevesse seu envolvimento na
aprendizagem dos filhos. Inicialmente foram solicitados dados de identificação como:
número de pessoas na família;
situação econômica (trabalho);
condições psicossociais (situação do casal, responsabilidade sobre os filhos).
Com os dados de identificação foi possível visualizar as condições
econômicas, sócio-culturais e também compreender a dinâmica familiar, por
exemplo, se o casal mora junto, quem desenvolve a função organizadora da família.
Isso ocorreu informalmente, em conversas preliminares a entrevista, evitando a
exposição da família, porém norteando a conversa para que fosse possível
compreender o papel dos pais nas questões educacionais.
A seguir, vieram os questionamentos sobre as relações familiares e
aprendizagem escolar. Essas questões eram expostas de tal forma que evitassem o
constrangimento das pessoas envolvidas. Essa forma de abordagem facilitou a
confiança e também a descontração do grupo.
As questões da entrevista foram as seguintes:
1) Como se estabelecem as comunicações em termos de regras,
organização de tarefas, hábitos de estudo?
2) De que modo percebem as influências das vivências familiares sobre o
desempenho escolar do seu filho(a)?
3) Como mantém a individualidade de cada membro da família considerando
os limites e potencialidades de cada um?
4) Que estímulos são oferecidos para aperfeiçoar as capacidades e
interesses demonstrados pelos filhos?
5) Qual a relação mantida com a escola, os professores, tendo em vista o
rendimento e a participação dos filhos nas atividades escolares?
6) Que aspectos você considera importantes e a melhorar em termos de
vínculos familiares para o crescimento e amadurecimento pessoal e
escolar do seu filho(a)?
Após a entrevista, com todos os dados necessários à compreensão da
realidade da família, foi possível elaborar um texto de análise qualitativa. Segundo
44
os estudos de Moraes (2002, p. 191),
a pesquisa qualitativa pretende aprofundar a compreensão dos fenômenos
que investiga a partir de uma análise rigorosa e criteriosa desse tipo de
informação, isto é, não pretende testar hipóteses para comprová-las ou
refutá-las ao final da pesquisa; a intenção é a compreensão.
d) Análise do material coletado, com base nos objetivos, problema e
questões de pesquisa para realizar essa dissertação.
Nessa fase do trabalho foi solicitado, com um termo de consentimento, a
autorização das famílias. Suas identidades foram mantidas em sigilo.
Durante as etapas de realização desse estudo, elaborou-se um relatório, com
a coleta e análise dos dados, como uma espécie de retorno ao ponto de partida, na
busca de novos questionamentos para serem refletidos e considerados. Algumas
situações, durante a entrevista, não foram completamente expostas, pois em uma
dessas entrevistas o clima ficou constrangedor diante das discussões que se
estabeleceram entre pais e filho.
Um dos participantes declarou que “é vendo e ouvindo sobre o erro dos outro
que se aprende”.
Segundo Ramos (1999) as entrevistas devem ser gravadas e posteriormente
degravadas, o que facilita a compreensão das informações e o favorecimento na
formação do texto, a partir da escuta dos participantes do processo.
A ida as casas dos estudantes, favoreceu a comunicação e a compreensão
das relações familiares, bem como a verificação da situação econômica do grupo,
seus hábitos, potencialidades, capacidades e o relacionamento da família com a
escola na qual os filhos estudam.
Com essa estratégia foi possível conhecer cada grupo familiar, as relações
existentes entre as pessoas e as possíveis causas das dificuldades de
aprendizagem dos filhos.
Assim, organizou-se a análise das informações contidas nas entrevistas,
destacando as particularidades de cada família em relação aos processos de ensino
e aprendizagem.
45
8 ANÁLISE DESCRITIVA DAS ENTREVISTAS
Como forma de proteger as famílias, que aceitaram participar dessa pesquisa,
irei chamá-las de famílias A, B, C, D e E, seus nomes são fictícios.
A medida que apresento cada grupo, também analiso o material comunicado
pelos membros da família com base nos referenciais teóricos que sustentaram essa
pesquisa.
Em todas as situações apresentadas o(a) filho(a) tem dificuldades de
aprendizagem na área da Matemática, assim como em outras disciplinas.
a) Família “A”
Essa família é composta pelos pais e cinco filhos, dos quais três são adotivos.
O casal mora junto e mostra dificuldades na educação dos mesmos. Pareceu-me
que os adultos não fazem distinção entre os filhos biológicos e os adotivos.
Irei deter-me em um membro da família que será chamado “João”, 13 anos,
aluno da rie do Ensino fundamental. O mesmo não apresenta nenhum motivo
aparente para suas dificuldades, porém seu aprendizado não se desenvolve de
maneira satisfatória, na perspectiva escolar.
Devo destacar a ausência da matriz familiar biológica e a conseqüente
repercussão dessa separação no que se refere ao seu aprendizado. Penso que essa
separação pode ter ocasionado certa falha na construção da subjetividade e por
conseqüência na aquisição do conhecimento. Acredito ser necessário salientar o
empobrecimento pessoal de João em relação aos seus irmãos. Tal situação pessoal
pode ser devida ao sentimento de abandono sofrido na infância.
João tem todas as condições necessárias para o bom desempenho escolar.
Estuda em escola particular em zona nobre de Porto Alegre. A família passa por
certos problemas, pois mora em uma casa alugada. Os ganhos dos pais não são
suficientes para ter uma vida confortável, têm limitações, principalmente no lazer,
mas procuram não deixar faltar nada para seus filhos, principalmente no que se
refere aos estudos e à alimentação.
Essa família considera as regras fundamentais em uma grande família. Elas
são as mesmas para todos os filhos, sejam biológicos ou adotivos. Na casa cada um
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possui suas tarefas e responsabilidades e estas, segundo eles, devem ser
rigorosamente cumpridas.
Quanto aos estudos, cada um tem o dever de estudar pelo menos duas horas
a cada dia. Nos períodos de avaliações esse tempo aumenta de acordo com a
necessidade de cada um.
João o gosta de estudar, então é liberado das tarefas domésticas para
fazê-lo. Essa foi uma forma que os pais encontraram de incentivá-lo a estudar.
Na visão dos pais é muito importante completar o Ensino Médio para poder se
encaixar no mercado de trabalho.
Essa família considera que é importante estreitar os laços de conhecimento
entre pais e filhos, especialmente para conhecer a vontade de cada filho no que se
refere a uma profissão.
João quer ser um policial e esse desejo é estimulado pela família. Os pais
conseguem orientá-lo de forma que continuidade aos estudos, mesmo com os
problemas que enfrenta em relação ao abandono sofrido por parte da família
biológica, o que o torna resistente à aceitação do amor dos pais adotivos. Ele
enfrenta dificuldades de relacionamento dentro da família, e em determinados
momentos não consegue chamar a mãe por este nome. Ele está em tratamento
psicológico para aprender a enfrentar situações que o desagradam relacionadas a
professores e colegas. Parece não tolerar frustrações.
O desejo de João de ser policial pode ser em função do que passou na
infância. Seu desejo de segurança e, possivelmente, de encontrar na lei algo que lhe
proporcione segurança devido a sua vivência infantil de maus tratos e abandono.
Acredito que, com o passar do tempo ele possa encontrar essa segurança na família
que o acolheu como filho.
Percebi um sentimento filial precário em João. Destaco que esses pais o
adotaram e lhe proporcionam todas as condições necessárias para que ele se sinta
como filho, mas parece que João ainda não consegue os adotar como pais, embora
essa relação esteja em processo avançado e logo possa acontecer.
Segundo Maldonado (1995), a constituição do caráter na infância, vai estar
presente pela vida toda. Um tipo problemático, rebelde, pode tornar-se assim devido
a uma história de vida na infância. Os sentimentos de João apóiam esta hipótese,
possivelmente por ainda não expressar sentimentos de aceitação e afeto por seus
pais.
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É importante salientar que esses pais relataram que o amor e o carinho que
João encontrou fizeram diferença na vida dele. Desta forma, hoje João os vê
como sua família e possivelmente breve os verá como pais.
Vargas (1994), investigou as dinâmicas familiares de adoções tardias, ele
afirma que elas têm características especiais que necessitam ser observadas; com a
devida preparação e acompanhamento, mas estas adoções são perfeitamente
possíveis. Nas palavras dele: “Na adoção tardia, tanto como na vida, as chances de
sucesso ou fracasso das relações dependem da capacidade de suporte, de entrega,
de trocas afetivas profundas, verdadeiras, entre os protagonistas”.
João é uma criança batalhadora e sempre procura ajudar, mas é necessário
ter seus limites bem determinados. Se deixado à vontade, apresenta reações das
quais se arrepende posteriormente. Percebi que os pais respeitam essa
característica de João, porém mostram-lhe a necessidade de auto-controle como
algo fundamental para a profissão que almeja.
Alguns estudiosos desse tema procuram destacar a preparação e o apoio na
adoção Andrei (1977); Maldonado (1995); Motta (1997); Vargas (1994). Ressalto
que, de acordo com esses autores, na verdade, a “preparação” deveria acontecer
com todos aqueles que pretendem ter um filho, mesmo que esse seja biológico, mas
isto poucos levam a sério. O que quero esclarecer, de acordo com o que penso, é
que não famílias perfeitas, por não existirem pessoas perfeitas e, se houvesse,
como elas seriam?!
Conversei com alguns pais adotivos, porém não possuo registros, e penso
que muitas vezes o tipo de escolha realizada na adoção sugere que haverá uma
situação ideal, e, realmente, essas famílias esforçam-se para conseguir o filho
pretendido. De acordo com Maldonado (1995, p. 20), o ato de adotar envolve uma
enorme responsabilidade e o medo de errar deve ser muito grande. Na maioria das
vezes, para esse autor, “os candidatos à adoção não passam por uma
conscientização e apoio frente à sua decisão, mas somente por um processo de
cadastramento e seleção”.
Apesar dos poucos recursos de que dispõem, os pais dessa família procuram
incentivar os filhos a buscar informações sobre o que pretendem do futuro em
relação à profissão. Nos relatos, percebi que os pais querem muito que os filhos
completem pelo menos o Ensino Médio. Destacaram que é importante completar o
Ensino Médio ou um curso técnico para poder trabalhar e ter recursos para fazer
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uma faculdade, que não possuem recursos para o pagamento de uma. Hoje eles
não vêem condições para seus filhos fazerem uma faculdade pública, pois julgam
que esta seja para quem possui condições financeiras de “bancar” os filhos apenas
estudando, o que não é o caso deles, segundo suas comunicações.
Estes pais procuram acompanhar o rendimento dos filhos na escola, porém,
pareceu-me um acompanhamento ocasional, que acontece quando uma entrega
de boletins. Não uma procura sistemática pela escola para ter retorno claro do
desenvolvimento de João. O pai destacou que quando João está mal em uma
disciplina, ele se recusa a estudá-la, possivelmente por não saber lidar com a
frustração. Para sanar esse problema, existe uma espécie de aconselhamento sobre
a necessidade de maior dedicação na disciplina em que está com baixo rendimento.
O fato de João não querer estudar a disciplina que não está tendo bom rendimento
pode ser por uma possível negação quanto a dificuldade ou negação da realidade
em virtude de não saber lidar com o insucesso, tendo como possível conseqüência o
abandono da disciplina.
Os pais não possuem dificuldades de relacionamento com a escola. Sempre
foram bem atendidos, inclusive com aulas de reforço. O que é frustrante para a
família é a questão financeira que os restringe quanto as atividades pedagógicas em
que há custos, como passeios, por exemplo.
Fazendo uma auto-análise, a família concluiu que possivelmente precise de
uma integração maior. Como a família é muito grande, torna-se complicada essa
integração em função das necessidades relacionadas ao trabalho. A mãe quase não
pára em casa, devido às suas tarefas profissionais. O pai nem no final de semana
dispõe de tempo, mas considera que isso seja fundamental em uma família, pois
trata-se da educação dos filhos.
b) Família “B”
A composição familiar desse grupo é pai, no caso padrasto, cerca de 20 anos
mais velho do que a esposa, mãe biológica, a filha, que chamarei de “Ana”, e a avó,
que no fim da vida é cuidada pela filha e neta. Ana é uma garota de 17 anos e está
no 2º ano do Ensino Médio de uma escola particular de Porto Alegre.
Moram todos juntos, porém apresentam um histórico familiar que cabe
ressaltar. Os pais na juventude foram namorados, casaram-se e separaram-se em
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virtude do rompimento matrimonial por parte da e. Esta, separada, gerou a filha
proveniente de outro relacionamento. Foi abandonada pelo pai biológico de Ana e,
sem ter como sustentar-se e a filha, voltou para o marido, que a aceitou juntamente
com a filha. A menina cresceu em meio a um relacionamento conturbado, sua mãe
assumiu o alcoolismo, cio que carrega desde a juventude, hoje se diz em
recuperação. Sua avó, por problemas de saúde, passou a morar junto, necessita de
cuidados especiais em virtude de problemas visuais provocados pela diabete.
Pareceu-me que o padrasto gosta da “filha”, mas cobra além das
possibilidades que esta pode oferecer. Ana é responsável por cuidar de sua avó e
resolver problemas ocasionados por sua mãe, que, aparentemente, apresenta um
transtorno emocional e faz tratamento psiquiátrico.
Possuem uma condição financeira razoável, sem aparentar necessidades.
Moram em um bom apartamento, amplo e com boa qualidade.
A família praticamente não conversa, o pai é o único que trabalha para manter
o nível familiar. Sai cedo e chega tarde, querendo apenas relaxar.
A mãe relatou que cobra da filha boas notas, mas esta não responde às suas
cobranças por não gostar de estudar. Nessas palavras da mãe, percebe-se que a
cobrança é maior que o incentivo, que provavelmente não há.
Quanto à organização de tarefas, Ana é esforçada, pois controla a casa e os
compromissos escolares, mas não demonstra bom rendimento em relação ao que é
cobrado pela escola.
Mencionaram que sempre procuraram oferecer o melhor à filha,
aconselhando-a a ter bom desempenho escolar. É importante ter apoio e
destacaram perceber a responsabilidade da família na educação, por isso pagam
uma escola particular que a eduque e ofereça as condições necessárias.
Sobre o ambiente familiar em relação ao desempenho escolar, Fergusson e
Cols (1996), apontam indicadores de desvantagem na aprendizagem de alguém em
meio a um grupo com problemas não resolvidos. Desta forma, penso que o grupo
com problemas tem seu ambiente de desenvolvimento prejudicado pela presença de
circunstâncias adversas não resolvidas, que afetam e geram insegurança, receio e
dúvida.
Pareceu-me que nem o padrasto, nem a mãe possuem serenidade suficiente
para compreender e poder expressar-se sobre o relacionamento familiar. Parece
não haver sintonia familiar, apenas moram juntos sem responsabilidades maiores.
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Acredito que isto ocorre devido à sua história passada. Trata-se de uma família
disfuncional, com vínculos frágeis e denegridos por situações do passado que
levaram à separação e à conseqüente desorganização familiar hoje vivenciada.
Quando questionei sobre como é tratada a individualidade de cada pessoa da
família, houve um desabafo do pai ao expor a falta de comprometimento da mãe na
educação de Ana. O padrasto fez o seguinte comentário: “como alguém irá conhecer
limites se não lhe é ensinado?”
Acredito que o respeito à diferença e reconhecimento praticamente não
existem nessa família. O que existe em grande escala é cobrança de resultados e a
interferência, privando a individualidade de cada sujeito. Creio que isso ocorra por
conseqüência da condição familiar no passado, refletindo-se no presente.
Quando analiso as falas específicas dessa família e o conhecimento que
adquiri sobre os mesmos, eles mostram-me que essa desvantagem de Ana pode
estar presente em diferentes aspectos da vida familiar. Percebo que Ana sofre de
um acúmulo de condições adversas que podem estar deixando-a vulnerável a ponto
de não progredir na aprendizagem. Rutter (1977) destaca que o acúmulo de funções
pode provocar baixo rendimento escolar, pois nessa fase da vida crianças ou
adolescentes, ainda não estão prontos para lidar com muitas situações ao mesmo
tempo. Acredito ser o que está acontecendo com Ana. Também ressalto a confusão
de papéis e os ressentimentos que talvez não foram elaborados pelos adultos
Quanto à necessidade de estudo de Ana, declararam ser importante para o
seu futuro.
Novamente, pareceu-me não haver incentivo algum. O que fica claro o as
cobranças sem uma meta definida para as mesmas. Essa família aparenta apenas
morar sob o mesmo teto e conviver diariamente com um erro do passado.
Quando foi abordado o tema escola, a mãe destacou que nem sempre
comparece na escola quando é chamada. Disse que sua saúde é precária e não
pode deixar sua mãe só, no caso a avó de Ana. O pai afirmou que a escola é cara e
deve fazer a parte dela em ensinar.
Não conhecem os professores, pois geralmente tratam com a orientação
escolar, quando necessidade. Gostariam que Ana tivesse melhores notas, mas a
mesma não se esforça.
Não houve clima para que pudesse questionar o que seria esforço, na visão
deles, em virtude da forma como vivem e como se relacionam. Acredito que Ana não
51
teria condições em um contexto como esse de se dar bem nos estudos, ou mesmo
querer esforçar-se.
Ambos querem que Ana estude, pois com o estudo é que se consegue
algo na vida, destacou o padrasto.
Ana parece ser uma boa menina. Sua bondade pode ser para compensar a
realidade que vive, para tentar ser estimada e aceita pelo grupo. Ela precisa que
outros gostem dela, mas ela não faz o mesmo por si. Não circulação de afeto,
cuidado material, físico, sem envolvimento afetivo. Ana parece viver carregando uma
culpa que não é sua, estereotipada por um passado vivenciado pelos pais que
refletem nela as conseqüências.
Silva e Sá (1997), sugerem que estratégias de aprendizagem podem abrir
novas perspectivas para a vida pessoal e, até mesmo, permitir a estudantes, como
no caso de Ana, ultrapassar as dificuldades promovidas pelo ambiente, de forma a
conseguirem obter um maior sucesso escolar. Mas, para tanto, penso que essa
família necessita de acompanhamento e de um tratamento especializado.
c) Família “C”
Essa família é composta por três pessoas: a mãe, um filho e uma filha.
Na juventude a mãe engravidou de seu namorado, mas foi abandonada pelo
mesmo; optou por não interromper a gravidez, motivo da separação. Seus pais lhe
deram apoio, mesmo possuindo poucos recursos. Passou a trabalhar como faxineira
e, com dificuldades financeiras, criava seu filho.
O tempo passou e ela conheceu alguém com quem começou a viver, nos
fundos da casa de seus pais, onde mora até hoje. Desse companheiro teve uma
filha, hoje com 11 anos. Quando essa tinha apenas 3 anos, esse companheiro a
abandonou. Ela, então, decidiu não ter mais nenhum tipo de relacionamento e
passou a dedicar-se a seus filhos.
O garoto mais velho, hoje com 17 anos de idade, o chamarei de “Carlos”, está
no 2 º ano do Ensino Médio. Carlos teve em seu avô a figura paterna e, sentiu muito
a perda do mesmo há oito anos atrás.
Essa família possui dificuldades financeiras e devido a essas não compartilha
momentos de troca afetiva no grupo. A mãe trabalha m
52
As dificuldades de aprendizagem, segundo Romero (1995), podem ser
causadas por variáveis pessoais, por ambientes desfavoráveis e por uma
combinação interativa de ambos. Esse autor chega destacar a pobreza como um
dos principais vilões em relação a aprendizagem escolar.
Essa família o apresenta regras, pois percebi que os filhos possuem
liberdade de fazer as tarefas escolares na frente da TV. A mãe destacou que orienta
para que não façam dessa forma e, quando é necessário, é usada a autoridade
de mãe para que o estudo seja de forma adequada. Segundo ela, nãoimposição,
existem conselhos.
A família, no caso o avô quando vivo e a avó, influenciaram de forma positiva
tanto a vida particular como a vida escolar de Carlos em todas as suas fases. Até
hoje existem coisas que ele comenta apenas com a avó e não com a mãe. Isso
talvez se deve ao fato dele ter sido criado praticamente pela avó, em função de sua
mãe trabalhar o dia todo e chegar em casa tarde da noite. Durante algum tempo,
Carlos chegou a morar com a avó e ser cuidado somente por essa.
A mãe acha que a avó fez um excelente trabalho com seu filho exercendo
uma influência benéfica na vida de dele. Afinal, ele é um bom garoto, segundo ela.
Para Piletti (1984), assim como outros autores, as primeiras experiências
educacionais da criança geralmente são proporcionadas pela família, e no caso de
Carlos foi pela avó, com uma grande diferença de idade em relação a ele. Essa
diferença de idades entre o que educa e o que é educado, segundo o autor, pode
causar dificuldades para o educando aceitar orientações de pessoas mais novas,
aqui podemos citar os professores e até mesmo a mãe. Através das influências
familiares, ele destaca, vai-se paulatinamente moldando o comportamento de quem
está nesse meio, mas para tanto torna-se necessário conhecer esse histórico, ele
comenta.
Mouly (1970), enfatiza que a criança precisa ser educada em um ambiente
emocionalmente estável e consistente, no qual tenha experiência de aceitação e
amor incondicionais. Carlos teve essa relação com sua avó, não com sua mãe,
como ela mesma relata.
Carlos é um garoto querido por todos, devido à sua presteza em ajudar. Ele
se sente bem e gosta muito de fazer tarefas para outras pessoas, mas não em casa.
Ele sempre se recusa a participar nas tarefas domésticas. Esse é um ponto de atrito
e discussões entre mãe e filho. Acredito que isso se pelo fato de Carlos ter sido
53
criado segundo as orientações da avó, talvez ele possua um sentimento de rejeição
pelo fato da mãe não ter participado nessa etapa de sua vida.
Eles possuem liberdade de falar sobre tudo e discutirem sobre situações da
vida cotidiana. Esse relacionamento parece mais de amigos do que de mãe e filhos,
conforme a mãe de Carlos.
Esse relacionamento parece não ser firme com regras e papéis definidos, pois
a mãe relatou que entra no quarto do filho quando é extremamente necessário.
Em entrevista, percebi que é o próprio Carlos que cuida de suas roupas, o mesmo
não ocorre com a filha, ou seja, parece que o sentimento de rejeição é recíproco
entre Carlos e sua mãe.
Como forma de incentivo para os familiares, a mãe procura usar o elogio e
agir com recompensas no grupo familiar. Parece uma espécie de troca para
conseguir algo. Um exemplo: no caso de um passeio, para que o mesmo aconteça
os filhos devem merecer, do contrário, ele não acontece. Ela usa esse argumento
em relação ao rendimento escolar.
Ficou claro em suas palavras que a mãe procura valorizar o ser humano,
destacou que errar é normal, mas aconselha para que não aconteça novamente.
Carlos é um garoto firme e decidido nas suas posições, então a mãe tenta
usar a autoridade para fazê-lo estudar, pois ela acredita que ele não goste de
estudar.
Carlos quis parar de estudar, mas não teve sucesso. Sua mãe não permitiu e
ressaltou que o futuro depende somente dele e de mais ninguém, pois ela não
possui condições financeiras para poder mantê-lo. Ela espera que Carlos estude e
tenha sucesso em sua vida e, quem sabe um dia, possa ajudá-la.
Carlos é um garoto atencioso, mas pouco participativo nas atividades
escolares, devido, possivelmente, à vergonha de perguntar.
Quanto à participação e relacionamento com os professores, a mãe destacou
que praticamente não há, devido ao seu trabalho. Só vai à escola quando é intimada
a participar, geralmente por causa de trabalhos, notas ou provas, nunca por
indisciplina.
O relacionamento de Carlos com a irmã é um pouco tumultuado. Ambos têm
ciúmes um do outro, mas sem agressões. A mãe diz que Carlos precisa ajudar em
casa, visto que a mesma sai de casa às 8 horas da manhã e volta à noite e, aos
domingos, faz faxinas para complementar a renda.
54
Bossa (1998)
, ressalta que a criança depende totalmente dos adultos, seja na
orientação quanto nos estudos, ou no que se refere à parte financeira. Essa
dependência se especialmente de seus pais ou daqueles que exercem a função
paterna e materna, como é o caso de Carlos, que depende de sua mãe, porém, foi
praticamente educado pela avó. Ressalto que a própria mãe mostra a necessidade e
a carência de um companheiro na educação dos filhos.
A mãe destacou que é importante a presença masculina, especialmente a
figura do pai. Pois muitas vezes ela precisa fazer o papel de pai e mãe, mesmo sem
saber se está correto, isto principalmente na fase da adolescência. Então ela julga a
escola como importante na educação dos filhos. Sabe que a escola não vai suprir a
falta do pai, mas acredita que possa auxiliar na orientação de Carlos.
d) Família “D”
Essa família é composta por cinco pessoas, os pais e três filhos. Todos
moram juntos e possuem uma condição financeira baixa, porém aparentam esforço
para manter a educação dos filhos. O mais velho, com 19 anos, sempre estudou em
escola particular. Irei deter-me em “Júlia”, garota de 17 anos de idade, cursando o
ano do Ensino Médio. A filha mais nova ainda não está em idade escolar.
O casal mora junto, mas aparentemente o mantêm diálogo quanto à
educação dos filhos. Mudam-se de residência com muita freqüência, devido à
situação financeira. Discutem seus problemas na frente dos filhos e, estes, por sua
vez, sentem-se culpados por tais problemas.
Consideram a situação econômica como sendo o grande empecilho e julgam
que, se os filhos não estudarem, não terão as condições necessárias para enfrentar
as exigências da sociedade.
Moreno & Cubero (1995), atribuem à família a garantia de sobrevivência de
seus filhos e destacam que é dentro da família que se realizam as experiências
básicas, as quais serão imprescindíveis no desenvolvimento e nas aprendizagens
posteriores.
Júlia não tem apresentado bom desempenho escolar este ano. A mãe relatou
que não a cobra em relação aos estudos. Porém, quando percebeu que sua filha
corria o risco de reprovar, colocou limites, no sentido de Júlia perceber a
necessidade de estudar. Para tanto, tirou algumas regalias que esta possuía até que
55
apresente melhora nos estudos. Destacou que não cobra que seus filhos sejam os
melhores nos estudo, mas quer que estes acompanhem com obrigação a
aprendizagem e tenham bom desempenho escolar.
Os pais propõem regras, mas, segundo eles, seus filhos não gostam de
estudar. A mãe evidencia que ao cobrar e acompanhar o estudo dos filhos, o retorno
é certo. Em outras palavras, ela deixou claro que, quando coloca limites, estes
devem ser cumpridos.
O pai salientou que muitos têm facilidade em estudar e outros necessitam
seguir regras.
Celidonio (1998) observa que as tensões acumuladas nas relações familiares
certamente ressurgirão na escola, a partir destas relações, sob a forma que a
aprendizagem assume na vida escolar.
É fundamental, segundo a mãe, que os pais acompanhem de perto o
desempenho dos filhos na escola e, quando necessário, devem orientá-los.
Eles destacaram que sempre que a escola os chama, eles comparecem.
Porém, nesse ano, não estão tendo muito tempo para acompanhar o desempenho
de Júlia. Como conseqüência, essa optou por parar de estudar e trabalhar para ter o
seu dinheiro, porém, os pais não permitiram e estabeleceram regras que deverão
ser seguidas.
Foi dito pelo pai que o filho mais velho nunca precisou ser orientado quanto
aos estudos, apresentando facilidade. Destaco que, nessa época, a família
praticamente não possuía problemas financeiros, como hoje. Porém, Júlia, necessita
de acompanhamento e orientação, devido às suas dificuldades.
Valmaseda (1995) refere-se à diferença de classes sociais, e chega a afirmar
que crianças oriundas de ambientes familiares que oferecem maiores oportunidades
para a aprendizagem chegarão à escola mais preparadas para aprender os
conteúdos ministrados pelos professores. Pode não acontecer o mesmo com quem
passa por uma experiência de maior ou menor pobreza, pois terá maior propensão
ao fracasso escolar.
Ficou evidente que os pais procuraram dar o mesmo tipo de educação aos
filhos, mas hoje percebem que isso o foi correto, pois estes são pessoas
diferentes e com personalidades distintas.
Quanto ao estímulo para os estudos, procuram argumentar sobre a
necessidade de estudar. Dizem a Júlia que tenha paciência e estude para que no
56
futuro possa ter o que deseja e, que no momento, não é possível. O pai afirmou
que ela quer acompanhar a moda das demais colegas, mas a situação atual não
permite.
Seu relacionamento em família é perfeito e com as demais pessoas também,
mas é inibida na escola, possivelmente por o acompanhar a condição social das
demais colegas. Parece sentir-se inferiorizada e isto talvez interfira na imagem e na
estima de si mesma.
O sonho de lia é ser veterinária. Quando ela optou por parar de estudar,
conforme a mãe relatou, ela usou como argumento o sonho dela em relação à
profissão, questionando-a sobre como ela iria realizá-lo se não estudasse.
Os pais têm pouco contato com a escola e, quando este ocorre, é com a
orientação. Em nenhum momento tiveram contato com os professores. Destacaram
que, segundo a orientação escolar, todos os professores apreciam o comportamento
de Júlia e, sua única dificuldade, é quanto ao rendimento em algumas matérias,
embora todos assegurem que Júlia apresenta todas as condições para ter um bom
desempenho.
A mãe destacou que a família é muito importante e, quando os pais não
estão bem um com o outro em seu relacionamento, os filhos ficam bloqueados para
tomarem decisões e ilustra com as dificuldades de Júlia.
Situações adversas com relação à economia familiar atrapalham o estudo dos
filhos. Júlia parece sentir-se culpada pelos problemas financeiros dos pais.
Perceberam que o diálogo mútuo entre eles e com os filhos deve melhorar e
que necessitam relacionar-se com a escola e professores.
e) Família “E”
Essa família é composta por quatro pessoas. Os pais e duas filhas, uma
casada. Os pais não moram juntos, separaram-se três anos. A filha mais velha
casou-se quando estava ainda no ano do Ensino Médio, ficou grávida do
namorado, hoje seu marido. A filha mais nova cursa o primeiro ano do Ensino Médio,
irei chamá-la de “Lúcia”. É uma menina que aparentemente não apresenta motivos
para ter dificuldades de aprendizagem, porém, não se desenvolve satisfatoriamente,
de acordo com a visão atual de aprendizagem.
57
Os pais, hoje separados, não têm muitas posses, mas também não passam
necessidades.
Os problemas que levaram o casal a separar-se foi a bebida e, segundo a
mãe, a falta de comprometimento do ex-marido com a família. Foi relatado que o pai
até mesmo chegou a espancar a mãe na frente das filhas. O pai não tem
relacionamento com a família e, quando marca um encontro com a filha, na maioria
das vezes, não comparece. Essa sente-se rejeitada pelo pai.
Todo ser humano necessita de um ambiente saudável, que propicie
desenvolvimento, principalmente os filhos, que, acredito, merecem o respeito dos
pais, para que possam amadurecer e ter independência. Dessa forma, penso que a
criança passa a ter referências seguras, consistentes e consciência de suas
possibilidades, quando é capaz de sentir segurança interna, auto-estima,
estabelecendo uma relação de trocas e acreditando em si. Diz Buscaglia (1993), que
não é preciso que os pais sejam perfeitos, eles apenas devem ser atentos, sensíveis
e humanos. Acredito que esse autor destaca o que exatamente o que falta para
Lúcia, devido à desatenção de seu pai.
A mãe, como professora e, tendo experiência em sala de aula, diz não saber
o que fazer para ajudar a filha a não se sentir rejeitada. Grande parte dos problemas
que a filha sofre na escola, segundo a mãe, é devido à rejeição que a mesma
enfrenta, pois sente-se e com saudades do pai que não comparece aos
encontros.
Essa mãe procura orientar a filha quanto às regras, e destaca que elas são
importantes, pois colocam limites na vida. Segundo a mãe, Lúcia não esconde nada
dela, mas não tem vontade de estudar e fazer as tarefas. Ela tenta ajudar, mas nem
sempre a filha está disposta. Ficou claro que a mãe não consegue controlar os
hábitos de estudo da filha, pois trabalha o dia todo. Ambas saem cedo e à tarde
Lúcia fica e dorme a tarde toda, segundo a mãe. À noite, Lúcia quer apenas
assistir TV. Ambas têm conversado sobre a importância de estudar, mas está difícil
de Lúcia dar retorno, de acordo com as exigências educacionais.
Com respeito às influências da família, a mãe destacou que foram
tremendamente negativas, pois suas duas filhas cresceram vendo o pai desprezá-
las e também a ela, conclui ser em virtude do álcool. Elas nunca tiveram o hábito de
estudar, e tão pouco ambiente para estudo. Enfrentaram um período que ficaram
aproximadamente três meses sem luz em casa devido à falta de dinheiro, pois tudo
58
que o pai ganhava gastava em bebida e obrigava a mãe a dar o que ganhava para
pagar dívidas.
Hoje separada, orienta melhor a filha, mas ainda não consegue fazer com que
ela queira estudar. Ela acredita que a auto-estima de Lúcia esteja baixa devido a
rejeição paterna. A filha mais velha casou-se cedo, a mãe pensa que foi para sair de
casa. Ela odeia o pai, segundo sua mãe.
Lúcia está fazendo terapia, a mãe espera que isso a ajude a
compreender
melhor as coisas e a aceitá-las. cia é muito amiga do namorado de sua mãe,
ambos conversam muito, segundo ela.
Lúcia tem total liberdade com sua mãe e vice-versa; somente as duas moram
juntas e, à noite, tempo para conversar, mas a TV atrapalha. Ultimamente, Lúcia
está muito fechada e não tem-se aberto muito, segundo a mãe. A mãe destacou que
tem medo das amizades de Lúcia, disse que a orienta quanto ao que o é bom,
pois ela é uma adolescente de 15 anos. Não quer que Lúcia siga os mesmos
passos da irmã e pare de estudar.
Lúcia possui condições para estudar e é orientada para isso, mas ela parece
não reagir. Apresenta grande potencial, precisa apenas saber lidar com tudo isso,
ressalta a mãe, um pouco emocionada.
Lúcia recebe estímulo da mãe, que procura conversar sobre tudo com ela, e
sobre os estudos, principalmente. A mãe é professora, e diz saber como é um aluno
com problemas de aprendizagem. Destaca que sua filha não tem problemas para
aprender, ela não está motivada para estudar. A mãe frisou que esse problema tem
a ver com ela e com o pai dela, devido às suas dificuldades de relacionamento em
função da bebida. A mãe disse ter pedido várias vezes ao pai que, pelo menos,
trate Lúcia com respeito, que é o mínimo que um filho merece. A mãe destacou que
Lúcia ama o pai, mas ele enxerga a bebida, e acrescentou: “ele destruiu nossa
família e percebe que está acabando com nossa filha”.
Lúcia tem recebido a ajuda da mãe para estudar, mas a mãe enfrenta
dificuldades, pois é professora de séries iniciais e faz muito tempo que não tem
contato com o que Lúcia está estudando. Disse não ter condições de pagar aulas
particulares, pois paga aluguel, escola particular e terapia para Lúcia, o que sobra é
para alimentação. A mãe diz: “faço todo o possível para não deixar faltar nada para
ela”.
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A mãe de Lúcia tem ótima relação com a escola, pois trabalha no mesmo
local onde a filha estuda, assim, encontra-se com os professores praticamente todos
os dias. Segundo a mãe de Lúcia, todos dizem não compreender os motivos pelos
quais Lúcia não consegue se desenvolver. Alguns chegam até a dizer que ela tem
tudo para se dar bem. A mãe desabafa: “eles não entendem o que nós passamos”.
A mãe de Lúcia contou que ela tem conversado muito com a orientadora
escolar. Isso tem ajudado cia. Na conversa ela é orientada sobre os estudos e
matérias que não está bem e necessitam de estudo.
Chamou-me a atenção a seguinte frase: “Sei que Lúcia pode perder o ano,
não é o que quero, mas talvez possa ser melhor ela repetir, pois ela realmente o
está aprendendo quase nada”.
Fica evidente que a mãe de Lúcia gostaria que o pai percebesse a filha que
tem e lhe desse o valor que ela merece, e acrescentou: “Isso não é fácil, ele precisa
querer e não acredito que isso ocorrerá”.
A mãe espera que a terapia ajude Lúcia a compreender melhor tudo isso.
Quanto a ela, disse que pretende se esforçar cada vez mais para oferecer o melhor
às filhas e ao netinho. Mas ao mesmo tempo parece “preza” ao ex-marido e sob a
influência dos danos que causou a ela e as filhas.
60
9 UMA REFLEXÃO FINAL
Nessa pesquisa, verifiquei a importância da família na aprendizagem escolar.
E também, procurei aprofundar a discussão desse tema, uma vez que o mesmo tem
sido pouco abordado no contexto escolar.
Nesse sentido, considero esse trabalho de fundamental importância, pois
oferece contribuições às famílias que enfrentam dificuldades na aprendizagem
escolar dos filhos, por isso, trouxe idéias de autores que referenciam a relação entre
a aprendizagem escolar e o contexto familiar.
Nos relatos, a partir das entrevistas, percebi a existência dessa relação, por
isso mantive inalteradas algumas falas, por considerá-las relevantes nesse estudo.
Proponho com essa pesquisa a formação de um grupo de apoio às famílias.
Observei o quanto é necessário que pessoas especializadas possam lidar com
esses casos, nos quais a dificuldade de aprendizagem não deve ser tratada com
demérito, mas, com a devida atenção.
A educação é um processo sério, que exige comprometimento e
disponibilidade tanto dos pais quanto dos professores.
Acredito que a educação necessita de trabalhos e discussões como as
que
proponho. Nunca se viu tantos problemas relacionados ao ensinar e ao aprender
como em nossos dias.
Acredito que essa pesquisa pode colaborar para que o ensino e a
aprendizagem tenham o devido reconhecimento, tanto na família quanto no contexto
escolar. Destaco esse tema, pois muitos professores e pais agem como se aprender
fosse uma função tão natural quanto respirar ou andar.
É fácil encontrar, em inúmeros livros e artigos, conselhos sobre como agir em
relão ao ensino e a aprendizagem de criaas e adolescentes. Entretanto, penso que
muito deve ser construído, questionado e estudado sobre o modo como preparamos as
novas gerações para o futuro, para a vida em sociedade. E quando me refiro à
sociedade, reporto-me à organizão familiar e escolar.
O desenvolvimento e os problemas na infância e adolesncia podem nos
ameaçar de muitas maneiras. Precisamos, primeiramente, aprender a lidar com nossas
limitões e sentimentos de maneira honesta e verdadeira.
61
Deixarei algumas dicas, não minhas, mas de Kahlil Gibran (2003), para a
orientação dos filhos, e, como educadores que somos, tanto pais como professores,
acredito, nos seo válidas.
Como professor, vejo essas criaas e adolescentes como filhos, não meus,
mas a mim confiados, assim os adoto como se meus fossem.
FILHOS
Vossos filhos o são vossos filhos.
o os filhos e as filhas pela aspirão divina pela vida.
m por vosso intermédio, mas o de vós;
E embora estejam convosco, o vos pertencem.
Podeis conceder-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos;
Pois m seus próprios.
Podeis abrigar seus corpos, mas o suas almas;
Pois elas abrigam-se no amanhã, que o podeis visitar nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis tor-los iguais a vós.
Pois a vida o segue para trás nem retarda-se com o ontem.
Sois os arcos com os quais seus filhos são laados qual setas vivas.
O Arqueiro aponta na direção do infinito, e vos curva Sua força para que Suas flechas
sejam laadas, rápidas e certeiras, para bem longe.
Ao deixar-se encurvar pelas mãos do arqueiro, sede felizes;
Pois assim como Ele ama a seta que voa, ama também o arco que é esvel.
(O profeta - Kahlil Gibran)
62
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66
APÊNDICES
67
APÊNDICE A - Entrevista para as famílias
1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
Número de pessoas na família.
Situação econômica (trabalho),
Condições psicossociais - O casal mora junto, responsabilidade sobre os
filhos.
2. QUESTÕES
1) Como se estabelecem as comunicações em termos de regras, organização
de tarefas, hábitos de estudo?
2) De que modo percebem as influências das vivências familiares sobre o
desempenho escolar do seu filho(a)?
3) Como mantêm a individualidade de cada membro da família considerando os
limites e potencialidades de cada um?
4) Que estímulos são oferecidos para aperfeiçoar as capacidades e interesses
demonstrados pelos filhos?
5) Qual a relação mantida com a escola, os professores, tendo em vista o
rendimento e a participação dos filhos nas atividades escolares?
6) Que aspectos você considera importantes e a melhorar em termos de
vínculos familiares para o crescimento e amadurecimento pessoal e escolar
do seu filho(a)?
68
APÊNDICE B - Entrevista com a
Família “A”
Essa família é composta pelos pais e cinco filhos, dos quais três são adotivos.
O casal mora junto e mostra comprometimento na educação de seus filhos.
Pareceu-me que os mesmos não fazem distinção entre os filhos biológicos e os
adotivos.
Irei deter-me em um indivíduo, será chamado João. O mesmo não apresenta
nenhum motivo aparente para suas dificuldades, porém seu aprendizado não se
desenvolve de maneira satisfatória na visão educacional.
Em entrevista, inicialmente, questionei os pais sobre a situação econômica da
família. Foram relatadas dificuldades, pois moram em casa alugada. Seus ganhos
não são suficientes para terem uma vida confortável, apresentam limitações,
principalmente no lazer.
OS QUESTIONAMENTOS:
1) Como se estabelecem às comunicações em termos de regras, organização de
tarefas, hábitos de estudo?
Dentre os itens citados no questionamento, destaco que o mais abordado foi
as regras. Os pais colocaram as regras como sendo as mesmas para todos os
filhos, sejam biológicos ou adotivos. Na casa cada um possui suas tarefas e
responsabilidades e estas, segundo eles, devem ser rigorosamente cumpridas.
Quanto aos estudos, cada um tem o dever de estudar pelo menos duas horas
a cada dia. Nos períodos de avaliações, esse tempo aumenta de acordo com a
necessidade de cada um. O João não gosta de estudar. Então é liberado das tarefas
domésticas para fazê-lo. Essa foi a forma que os pais encontraram para que ele
estude.
Na visão dos pais, é muito importante completar o Ensino dio, para se
encaixar no mercado de trabalho.
69
2) De que modo percebem as influências das experiências familiares sobre o
desempenho escolar do seu filho(a)?
A influência é total, especialmente na utilização de seu desejo de ser policial
como forma de estimulá-lo a estudar. A família vem conseguindo orientá-lo de forma
que ele continuidade aos estudos, mesmo com os problemas que enfrenta em
relação ao abandono sofrido pela família biológica, o que proporciona resistência em
aceitar o amor dos pai (pais adotivos). Ele enfrenta problemas de r:úúOiA(íMú:?:Os AQ)íJJ:“ deonúúOnAQ)í“É:úúOfAQ(íMú:?:OrA)íJJ:“úàà)OáAQ)í“àOrA)íJJ:“MOmAMÉ:úú:úúOmA)íJJ:“OmAM)íJJ:“OaAQ)í“É:úú:úúOlA(íMú:?:OmAM)íJJ:“úOeAQ)í“É:úúO AQMà(íMú“OAQ)í“É:úúOlA(íMú:??:OêAQ)í“à(àÉOnAQla famígitgitJíúÉ;Tdt[O AQM(?íMú“OAQ)í“É:úúOlA(íMú:?eúúOlA(íMú:?:OmAM)íJJ:“eúúOlA(íMú:úOeAQ)à)::OaAQ)í“É:OcoAQ)í“É:úúOnAúíMà()OaAQ)í“É:úúOiA(íMú:?:Os AQMà(íMú“sMú“OAQ)í“É:OoAQ)í“É:úúO AQMà(íMúmOeAQ)í“É:úúOnAQ)íMú::úúOlA(íMú:?:OmAM)íJJ:“OoAQ)í“É:úúOOnAOgAQ)í“É:úúOiA(íMà()ÉO:úúOlA(íMú:ãçãAQ)í“É:úúOoAQ)í“É:úúreorno q deonOceAQ)í“É:úúOiA(íMú:?:OtAíMà()ÉOsuúOlA(íMú:??:OêAQ)í“à(àÉOnAAQ)í“É:OoAQ)í“É:úã(“(í(É;J;Tdtà)OáAQ)í“àOrA)íJJ:“MOmAMÉíM?“É:úúOmAM)íJJ:àú)OpAQ)í)à?)“OrA)íJJ:“MOoAàíúúÉ()ÉOAQ)í“É:úúOciAM(íMús)ÉO AQ“(nOAQ)í“É:nçãoeonúúOnAQ)í“É:OvoAQ)í“É:úúOsOAQ)í“É:“MO)A)íÉ?úJ?O.AQ(íMú:?:O AQMà(íMú“AMÉ:í“É:úúOciAM:úúOú“OrA)íJJ:“MOá“(AQ)í“à(àÉOnOJQ)í“É:úúOciAM(íMúúúOeAQúàÉúúOsOAQ)í“É:?:OmAM)íJJ:“úOeAQ)í“É:?:OêAQ)í“à(àOaAQ)í“É:úúOceAQ)í“É:úúúOciA(íMú:?:OaAQ)í“É:úúOlA(íMú:?:OmAM)íJJ:“o“(AQ)í“à(àÉOnOJQ)É:úúOtA:í“úMà(:úúO AQM(íMc:úúO AQM(íMú“ObAQ)í“É:úúOiA()í“É:úOoAQ)í“É:úúOlA(íMú:?úàà)OáAQ)í“àJMMà(íMú“OdAQ)í“É:úúOoAQ)í“ÉíJJ:“MOfAQ(íMú:?:OoAQ)í“É:úúOrAQ(íMú:?:O.AQ)í“É:ÉúúO AQMà(ÉOuAQ)í“É:úúOeAQ)í“É:úúOuAúíMà()ÉOeAQ)í“É:úúOlA(íMú:?eúúOlA(íMú:“MOoAàíúúÉ()ÉOJQ(íMú:?:OêAQ)í“à(àÉOnOJQ)í“É:úúOciA AQ)íJJ:“ AQMà(íÉO AQMà(íMú“OeAQ)í“É:úúOoAQ)í“É:úúOrA)íJJ:“aAQ)í“É:úúOceAQ)í“É:úúOiaAQ)í“É:úúO AQM(íMú“Oí“É:Éúúú:úúOmA)íJJ:“s(Jí:ú;Tdt[OaAQ)í“É:úúuúOlA(íMú:??:OêAQ)í“à(àçõí:(;J;Tdt[Os AQMÉ(íMsMú“Q)í“É:úú“OaA]TJt)àMí:(;J;Tdt[Os AQMÉ(íMú“OOtAQ(íMúàà)OáAQ)í“àJOoAQ)í“ÉúÉÉOfAQ(íMúú“OdAQ)í“É:úúOeAQrúúOiA()í“É:úà)OáAQ)í“OeAQ)?J:“MOeAQ)í“É:úúúúOlA(íMú:??:OêAQ)í“à(àOoAQ)í“Éà((O AQMà(íMú“OeAQ)à)::úúOeAQ)í“É:úúO AQMà(íMú“OrA)íJMJ(àO:úúOiA(íMú:?:OsQ)í“É:úúOlA(íMú:?OeAQ)í“É:úúúúOnAQ)í“É:úús AQMÉ(íMsMú“Q)í“É:úú?:OêAQ)í“à(àÉO:íí“ÉíúàÉOuAQ)í“É:úúOeAQ)í“É:ú:?:Os JMíÉO AQMà(íMúúúOciAM(íMús)oeAQ)í“É:úúOiaAQ)í“É[Os AQMÉ(íMsMú“Q)í“É:úú[Os AQMÉ(íMú“OOtAQ(íMcúOnAQ)í“É:úí“É:úú.AQ)í)JQ)ícoAQ)í“É:úúOnAQ)í“É:úOnAQ)í“É:úús AQMÉ(íMsúOdAQ)í“É:úúíMú“Oe?Éí))):úúOmAM)íJJ:ÉMO)A)íÉ?úJTftM:íÉJà?;Q(JíúÉ;TdmnAQ(AQ)í:àú)OpAQ)í)à?)“OrA)íJJ:“MOoAàíúúÉ“aAQ)í“É:úúOceAQ)í“É:úú:úúOlA(íMú:?:OmAM)íJJ:“OeAQ)í“É:úúOnAà?É;J;Tdt[OeAQ)í“É:úúOuAúíMà()?:OrA)íJJ:“MOeAQ)í“É:úúcOceAQ)í“É:úúOiaAQ)í“É:úAà?É;JJJ:“OaA] JMít(“(í(É;J;Tdt[O AQM(íMú“O“Q)í“É:úúOciAM(íMús)[Os AQMÉ(íMsMú“:AúíMà()ÉOuAQ)í“É:ú:àO AQMà(íMú“O(A(íàM?à)OpA“úíMà()ÉOnAQ)í“É:úúOaAQ)í“ÉúúO AQMà(íMú“OrA)íJMJ(“aAQ)í“É:úúOceà)OáAQ)í“OeAQ)í“É:?:OêAQ)ííMú:miaAQ)í“É:úAà?É;J“::O A(::í“)(]TJtQ)Jàí:ú;Q[O AQM(íMú“O“Q)í“É:oQ[O AQM(íMú“O“Q)í“É:MO AQMà(íMú“OoAQ)í“É:úúO AQMà(íMú“O.AQ)í(rA)úúO,AQ(íMú:?“Q)í“É:úúOciAM(íMúú“O“Q)í“É:oQ[O AQM(íMú“O“Q)í“É:cOnAJnOceAQ)í“É:úúOiA(íMà)::“O(A(í)(?í:úúOlA(íMú:hJ:“ AQMà(íoQ[O AQM(íMú“O“Q)í“É:íMú“OoA]TJt(“(í(É;J;Tdtà)OáAQ)í“àOrA)íJJ:“MOmAú))í“É:úúOmA)íJJ:“JoQ[O AQM(íMOeAQ)í“É:úúOlA(íMú:?:OaA(JQ)í“É:úúOoAQ)í“É:úúOrA)íJJ:ú“OdAQ)í“É:úúOêAúíMà()ÉO AQMÉ(íMú“OoAQ)í“É:úúOs AQMÉ(íúulA(íMú:?:OaA(JQ)í“É:ÉO AQMà(íMúúúOtAQ(íMú:?:OieúúOlA(íMú:“MOoAàíúúÉ(J)OoAQ)í“É:mOeAQ)?J:“aA(JQ)í“É:dO AQMà(íMú“O(A(íàM?àÉO AQMà(íMúúúOciAM(íMúÉOnAQ)í“É:úúOaA JMí:úúOrA)íJJ:ç?:OêAQ)í“à(àÉOn(JQ)í“É:núOnAQ)í“É:úús AQMÉ(íMÉOn(JQ)í“É:vMJOoAQ)í“ÉúÉÉOfAQ(íMú?:OêAQ)í“à(àÉOnA??É;J;Tdt[OeAQ)í“É:úúOuAúíMú:)J(íÉ;J;Tdt[OoAQ)í“É:OvoAQ)í“É:úúOs(JQ)í“É:DJ(íÉ;J;Tdt[OoAQ)í“É:)?:OrA)íJJ:“MOeAQ)í“É:úúaA(JQ)í“É:ÉO AQMà(íMúúO AQMà(íMú“O.AQ)í(MÉ:úúO,AQ(íMúúOeAQúOonOceAQ)í“É:úú,voAQ)í“É:úúOs(JQ)í“É:hJ:“ AQMà(íoQ[íMú“OdAQ)í“É:úúOeAeeAQ)í“É:úúaA(JQ)í“É:JoQ[O AQM(íMOeAQ)í“É:úúOlA(íMú:?:OaA(JQ)úà?Q)í“É:úúOeAáeAQ)í“É:úúaA(JQ)í“É:s AQMà(íMú“sMú“(JQ)í“É:vúOnAêtà)OáAQ)í“àOrA)íJJ:“MOmA(MÉ:úú:úúOmAM)íJJ:ú:?:O A(::í“)(]TJtQ)(M;Q(JíúÉ;Tdt[Oc(A(íàM?à)eOs AQMÉ(íúulsMú“Q):úúOeAÉOuAQ)í“É:ú:àO AQMà(íMú“O(A(íàM?à)OvoAQ)í“É:úúOOVAQ)í;TdtO ATjtM;Jú:úúOmAM)íJ;?í?ú;QtM;Jú:úúOmAM)íJ[OúO AQMà(íMúRMú;M(;TftJ;:(“íMú;TdnO(A(íàM?àã?:O A(::í“)(;AQ)í“É:úúOAQ)í“É:úúOlAA??É;J;TmOeAQ)í“É:V[OoAQ)í“É:OvoQ)í“É:úúúúrA)íJJ:“j?:O A(::í“)(OãAQ)í“É:úúOJQ)í“É:VOAQ)í“É:úúOlAOJQ)í“É:Q))(íM:OVAQ)í“É:úúOr)ÉOoA(::í“)Q))(íM:OVAxúOnãAQM()Q))(íM:OVA)ÉOoA(::í“)?:OpAQ)í“É:VúOaA JMíMú“OVAúíMà()ÉOmAQúí?S:OpAQ)í“É:VúOaA)í“É:)ÉOoA(::í“)(]TJtQ)(àí“OlAA??É;J;T)ÉOoA(::í“)(]TJtQ)(àí“OlAOJQ)í“É:OãAQ)VúOaA)í“É:)ÉOoA(::í“)VçãAQ)í“É:úúOA??É;J;TmO;AQ)í“É:úQ(JíúÉÉ:?TmO;AQ)í“É:úMOpAQ)í“É:úúOroAQ))(íúOAQ)í“É:úúOlAA??É;J;T)ÉOoA(::í“)VçãAQ)í“É:úú.r
70
5) Qual a relação mantida com a escola, os professores, tendo em vista o
rendimento e a participação dos filhos nas atividades escolares?
A família procura acompanhar o rendimento dos filhos comparecendo à
escola sempre que uma distribuição de boletins. Não uma procura sistemática
pela escola para ter retorno claro do desenvolvimento de João. O pai destacou que
quando João está mal em uma disciplina, ele se recusa a estudá-la, possivelmente
por não saber lidar com a frustração. Para sanar esse problema, existe uma espécie
de aconselhamento sobre a necessidade de maior dedicação na disciplina em que
está com baixo rendimento.
Quanto à escola, esses pais não possuem problemas de relacionamento com
a mesma. Sempre foram bem atendidos, inclusive com aulas de reforço. O que é
frustrante para a família é que a questão financeira os restringe quanto a atividades
pedagógicas em que há custos, como passeios, por exemplo.
6) Que aspectos você considera importantes para melhorar os vínculos familiares
com vistas ao crescimento, amadurecimento pessoal e escolar do seu filho(a)?
Sempre algo a melhorar, possivelmente, uma integração maior. Como a
família é muito grande, isso se torna um pouco complicado em função das
necessidades quanto ao trabalho. A mãe destacou que quase não ra em casa,
devido às suas tarefas profissionais. O pai nem no final de semana dispõe de tempo
e considera que isso seja fundamental em uma família, pois trata-se da educação
dos filhos.
71
APÊNDICE C - Entrevista com a Família “B”
A composição familiar desse grupo de pessoas consiste em pai, no caso
padrasto, cerca de 20 anos mais velho do que a esposa, mãe biológica, filha, que
chamarei de Ana e avó, que no fim da vida é cuidada pela filha e neta.
Moram todos juntos, porém apresentam um histórico que cabe ressaltar. Os
pais na juventude foram namorados e casaram-se, separaram-se em virtude do
rompimento matrimonial por parte da mãe, que separada gerou a filha proveniente
de outro relacionamento. Esta foi abandonada pelo pai biológico de Ana e, sem ter
como sustentar-se e a filha, voltou para o marido, que a aceitou juntamente com sua
filha. A menina cresce em meio a um casamento conturbado, sua mãe tornou-se
alcoólatra, hoje está em recuperação. Sua avó, por problemas de saúde, passou a
morar junto, pois necessita de cuidados especiais em virtude de problemas visuais
provocados pela diabete.
Pareceu-me que o padrasto gosta da “filha”, mas cobra além das
possibilidades que esta pode oferecer. Destaco que a Ana se responsabiliza por sua
avó e problemas ocasionados por sua e, que, aparentemente, apresenta
descompasso emocional. Ficou claro que esta faz tratamento psiquiátrico.
Possuem uma condição financeira razoável, sem aparentar necessidades.
Moram em um bom apartamento, amplo e com boa qualidade.
OS QUESTIONAMENTOS:
1) Como se estabelecem às comunicações em termos de regras, organização de
tarefas, hábitos de estudo?
A família praticamente não conversa, pois o pai é o único que trabalha para
manter o nível familiar. Sai cedo e chega tarde, cansado, querendo apenas relaxar.
A mãe destacou que cobra da filha boas notas, mas esta não responde às
suas cobranças por não gostar de estudar. Nessas palavras da mãe, percebe-se
que a cobrança é maior que o incentivo, que provavelmente não há.
Quanto à organização de tarefas, Ana é esforçada, pois controla a casa e
seus compromissos escolares, apesar de não demonstrar bom rendimento.
72
2) De que modo percebem as influências das experiências familiares sobre o
desempenho escolar do seu filho(a)?
Afirmaram que sempre procuraram oferecer o melhor à filha, aconselhando-a
a ter bom desempenho escolar. É muito importante ter apoio e responsabilidade
familiar na educação, por isso pagam uma escola particular que a eduque e ofereça
as condições necessárias.
O que ficou claro, é que nem o padrasto nem a mãe possuem serenidade
suficiente para esse tipo de questionamento. Parece não haver sintonia familiar, mas
apenas moram juntos sem responsabilidades maiores. Acredito que isto ocorre
devido à sua história passada.
3) Como mantêm a individualidade de cada membro da família considerando os
limites e potencialidades de cada um?
Nesta pergunta o clima ficou um pouco tenso, houve um desabafo do pai ao
expor a falta de comprometimento da mãe na educação da Ana. O padrasto fez o
seguinte comentário: “como alguém irá conhecer limites se não lhe é ensinado?”
Pareceu-me que a individualidade e reconhecimento praticamente não
existem. O que existe em grande escala é cobrança de resultados e interferência na
individualidade de cada sujeito. Acredito que isso ocorra por conseqüência da
organização familiar no passado, refletindo-se no presente.
4) Que estímulos são oferecidos para aperfeiçoar as capacidades e interesses
demonstrados pelos filhos?
Destacaram que procuram mostrar a necessidade do estudo para o futuro
profissional. Afinal só irá se dar bem na vida quem tiver estudo.
Novamente destaco, pareceu-me o haver estímulo algum. O que fica claro,
são cobranças sem um fundamento claro para as mesmas. Essa família aparenta
apenas viver junta e conviver diariamente com um erro do passado.
73
5) Qual a relação mantida com a escola, os professores, tendo em vista o
rendimento e a participação dos filhos nas atividades escolares?
Sempre que a escola chama a mãe disse comparecer. A escola é cara e deve
fazer a parte dela em ensinar.
Disseram o conhecer bem os professores, pois geralmente tratam com a
orientação escolar. Gostariam que Ana tivesse melhores notas, mas a mesma não
se esforça.
Não houve clima para que pudesse questionar o que seria esforço, na visão
deles, em virtude da forma como vivem e como se relacionam. Acredito que Ana não
teria condições, em um local como esse, de se dar bem nos estudos.
6) Que aspectos você considera importantes para melhorar os vínculos familiares
com vistas ao crescimento, amadurecimento pessoal e escolar do seu filho(a)?
Incentivá-la nos estudos, pois é com ele que se consegue algo na vida,
destacou o padrasto.
74
APÊNDICE D - Entrevista com a Família “C”
Essa família é composta por três pessoas. A mãe, um filho e uma filha.
Na juventude a mãe engravidou de seu namorado e, abandonada pelo
mesmo, optou por não interromper a gravidez, motivo da separação. Seus pais lhe
deram apoio, mesmo possuindo poucos recursos. Passou a trabalhar como faxineira
e, com dificuldades financeiras, estava criando seu filho.
O tempo passou e ela conheceu alguém com quem começou a viver, nos
fundos da casa de seus pais, onde mora até hoje. Desse companheiro teve uma
filha, hoje com 11 anos. Quando essa tinha apenas 3 anos, esse companheiro a
abandonou. Ela, então, decide não ter mais nenhum tipo de relacionamento e
dedicar-se a seus filhos.
O garoto mais velho, hoje com 17 anos de idade, o qual chamarei de Carlos,
sempre teve em seu avô a figura paterna. Carlos sentiu muito a perda do mesmo
oito anos atrás.
QUESTIONAMENTOS:
1) Como se estabelecem às comunicações em termos de regras, organização de
tarefas, hábitos de estudo?
Na realidade não regras bem determinadas, eles possuem liberdade e
fazem as tarefas de casa na frente da TV. Porém, sempre a orientação para que
não façam dessa forma, só quando é necessário, é usada a autoridade da mãe. Não
há imposição, há conselhos.
2) De que modo percebe as influências das vivências familiares sobre o
desempenho escolar do seu filho(a)?
As influências foram positivas tanto na vida particular como na vida escolar
em todas as fases de sua vida. Até hoje existem coisas que comenta apenas com a
avó e não com a mãe. Isso, talvez, se deva ao fato dele ter sido criado praticamente
pela avó, em função de sua mãe trabalhar praticamente o dia todo e chegar em casa
tarde da noite. Durante algum tempo até morou com a avó e foi cuidado somente por
essa.
75
A mãe acha que a avó fez um excelente trabalho com seu filho exercendo
uma influência benéfica na vida de Carlos.
3) Como mantém a individualidade de cada membro da família considerando os
limites e potencialidades de cada um?
Disse que seu filho gosta muito de fazer tarefas para outras pessoas e não
em casa, como tarefas domésticas. Esse é um ponto de atrito e discussões.
Possuem liberdade de falar sobre tudo e discutirem situações da vida. Disse
que o relacionamento parece mais de amigos do que de mãe e filhos.
A mãe disse que entra no quarto do filho quando é extremamente
necessário. É o próprio filho que cuida de suas roupas.
4) Que estímulos são oferecidos para aperfeiçoar as capacidades e interesses
demonstrados pelos filhos?
Usa o elogio e agir como grupo familiar. É uma espécie de troca para
conseguir algo. Um exemplo: no caso de um passeio, para que o mesmo aconteça o
grupo deve merecer, caso contrário não ocorre. Ela valoriza o ser humano, errar é
normal, mas aconselha para que não aconteça novamente.
Ele é um garoto firme nas suas posições e ela usa a autoridade para mandá-
lo estudar, pois ela julga que ele não gosta de estudar.
Carlos teve o desejo de parar de estudar, porém não lhe foi permitido; e a
mãe diz que seu futuro depende somente dele e de mais ninguém, pois ela não
possui dinheiro para poder mantê-lo sem que ele, mais tarde, possa ajudá-la.
5) Qual a relação mantida com a escola, os professores, tendo em vista o
rendimento e a participação dos filhos nas atividades escolares?
A colaboração de Carlos com os professores é boa, porém o mesmo não tira
dúvidas com os professores, devido à vergonha em perguntar.
Quanto ao relacionamento da mãe com os professores, praticamente não há,
devido ao seu trabalho; vai à escola quando é intimada a participar, geralmente
por causa de trabalhos, notas ou provas, nunca por indisciplina.
76
6) Que aspectos você considera importantes e a melhorar em termos de vínculos
familiares para o crescimento e amadurecimento pessoal e escolar do seu
filho(a)?
O relacionamento dele com a irmã, ambos possuem ciúmes um do outro, sem
agressões. É importante que ele queira ajudar em casa, devido ao pouco tempo da
mãe em casa, visto que ela sai às 10 da manhã e volta à noite e aos domingo faz
faxinas.
Destacou que a presença masculina faz muita falta em uma casa,
especialmente a figura do pai. Pois, muitas vezes, a mãe precisa fazer o papel de
pai e mãe, mesmo sem saber se está correto, isto principalmente na fase da
adolescência. Então ela julga que a escola é muito importante. A escola não vai
suprir a falta do pai, mas auxilia na orientação.
77
APÊNDICE E - Entrevista com a Família “D”
Essa família é composta por cinco pessoas, sendo os pais e três filhos. Os
pais moram juntos e possuem uma condição financeira baixa, porém aparentam
esforço para manter a educação dos filhos. O mais velho, com 19 anos, sempre
estudou em escola particular. Irei deter-me em “Júlia”, garota de 17 anos de idade,
cursando o ano do Ensino Médio. A filha mais nova ainda não está em idade
escolar.
O casal mora junto, mas aparentemente não tem diálogo quanto a educação
dos filhos. Mudam-se de residência com muita freqüência e discutem seus
problemas financeiros na frente dos filhos e, estes, por sua vez, sentem-se culpados
por tais problemas.
Destacam a situação econômica como sendo um grande empecilho e julgam
que se os filhos não estudarem não terão as condições necessárias para enfrentar
as exigências da sociedade.
OS QUESTIONAMENTOS:
1) Como se estabelecem às comunicações em termos de regras, organização de
tarefas, hábitos de estudo?
Esse ano a Júlia está indo mal devido à mãe tê-la largado, no sentido de não
cobrá-la nos estudos. Porém agora foram postos limites, no sentido de colocá-la na
obrigação de estudar. Para tanto, tirou algumas regalias que Júlia possuía até que
ela retorno. Disse que não cobra que seus filhos sejam os melhores, mas quer
que estes acompanhem com obrigação a aprendizagem.
Os pais impõem regras, mas seus filhos não gostam de estudar, segundo
eles. A mãe destacou que é cobrar e acompanhar que o retorno é certo. Deve-se
colocar limites e cobrá-los.
O pai declarou que muitos têm facilidade em estudar e outros necessitam
seguir regras.
78
2) De que modo percebem as influências das vivências familiares sobre o
desempenho escolar do seu filho(a)?
São fundamentais, segundo a mãe, os pais têm obrigação de acompanharem
de perto o desempenho dos filhos e orientá-los.
Destacaram que sempre que a escola chama eles comparecem à escola.
Porém nesse ano não estão tendo muito tempo de acompanhar o desempenho de
Júlia. Como conseqüência, Júlia optou por parar de estudar e quis trabalhar para ter
o seu dinheiro, porém os pais não permitiram que ela parasse de estudar e
estabeleceram regras.
3) Como mantêm a individualidade de cada membro da família considerando os
limites e potencialidades de cada um?
Nenhum é igual ao outro. Foi destacado que o filho mais velho nunca precisou
ser orientado quanto aos estudos, apresentando facilidade. Porém Júlia, necessita
de acompanhamento e orientação, devido às suas dificuldades.
Ficou claro que os pais procuraram dar o mesmo tipo de educação aos filhos,
mas hoje concluem que isso não foi correto, devido a serem pessoas diferentes.
4) Que estímulos são oferecidos para aperfeiçoar as capacidades e interesses
demonstrados pelos filhos?
O pai afirmou que procura argumentar sobre a necessidade de estudar e que
eles devem ter paciência de estudar para que no futuro possam ter o que no
momento não é possível. Ele informou que Júlia pensa muito em poder acompanhar
a moda das demais colegas, mas a situação atual não permite.
Seu relacionamento é perfeito com as demais pessoas, mas é inibida,
possivelmente por não poder acompanhar a condição social das demais colegas.
O sonho de Júlia é ser veterinária. Quando esta optou por parar de estudar, a
mãe usou como argumento esse sonho, questionando-a sobre como ela iria realizá-
lo se não estudasse.
79
5) Qual a relação mantida com a escola, os professores, tendo em vista o
rendimento e a participação dos filhos nas atividades escolares?
Os pais têm tido contato com a orientação, mas em nenhum momento tiveram
contato com os professores. Disseram que todos os professores a apreciam e sua
única dificuldade é quanto a aprendizagem, embora todos afirmem que Júlia
apresenta todas as condições para ter um bom desempenho.
6) Que aspectos você considera importantes e a melhorar em termos de vínculos
familiares para o crescimento e amadurecimento pessoal e escolar do seu
filho(a)?
Segundo a mãe, a família é muito importante e, quando os pais não estão
bem um com o outro no seu relacionamento, os filhos bloqueiam quanto ao
desenvolvimento da aprendizagem. Situações adversas como a economia familiar
atrapalham o estudo dos filhos.
Destacaram que o diálogo mútuo entre os pais e com os filhos deve melhorar
e que devem buscar relacionar-se mais com a escola e professores.
80
APÊNDICE F - Entrevista com a Família “E”
Essa família é composta por quatro pessoas. Os pais e duas filhas, sendo
uma casada. Os pais o moram juntos, separaram-se fazem três anos. A filha
mais velha casou-se ainda quando estava no ano do Ensino Médio, ficou grávida
do namorado, hoje seu marido. A filha mais nova cursa o primeiro ano do Ensino
Médio, irei chamá-la de Lúcia. É uma menina que aparentemente não apresenta
motivos para ter problemas de aprendizagem, porém não se desenvolve
satisfatoriamente, de acordo com a visão atual de aprendizagem.
Os pais, hoje separados, não têm muitas posses, mas também não passam
necessidades.
Os problemas que levaram o casal a separar-se foram a bebida e, segundo a
mãe, a falta de comprometimento com a família. Foi relatado que o pai até mesmo
chegou a espancar a mãe na frente das filhas. O pai o apresenta relacionamento
com a família e, quando marca um encontro com a filha,
81
2) De que modo percebe as influências das vivências familiares sobre o
desempenho escolar do seu filho(a)?
As influências foram tremendamente negativas, minhas duas filhas cresceram
vendo o pai desprezá-las e também a mim, em virtude do álcool. Elas nunca tiveram
o hábito de estudar, e tão pouco ambiente para estudo. Lembro que em uma
determinada época ficamos aproximadamente três meses sem luz em casa, devido
à falta de dinheiro, pois tudo que ele ganhava gastava na bebida e me obrigava a
dar o que eu ganhava a ele para pagar dívidas.
Hoje, separada, posso orientar melhor minha filha, mas ainda não consegui
fazer com que ela queira estudar. Acredito que sua auto-estima esteja baixa devido
a sentir-se rejeitada pelo pai. Minha filha mais velha casou-se cedo, acredito que
para poder sair de casa, ela odeia o pai.
Lúcia está fazendo terapia, espero que isso a ajude a compreender melhor as
coisas e a aceitá-las melhor. Ela é muito amiga do meu namorado, ambos
conversam muito.
3) Como mantém a individualidade de cada membro da família considerando os
limites e potencialidades de cada um?
Bom, Lúcia tem total liberdade comigo e eu com ela, moramos somente nós
duas numa casa e, à noite, temos tempo para conversar. Ultimamente ela está muito
fechada e não tem-se aberto muito. Tenho medo das amizades dela, oriento muito
quanto ao que não presta, mas ela é só uma adolescente de 15 anos.
Sempre procuro deixar claro que ela possui todas as condições para estudar
e a oriento para isso, mas ela parece não reagir. Sei que ela tem um grande
potencial, conheço minha filha, basta que ela saiba lidar com tudo isso.
4) Que estímulos são oferecidos para aperfeiçoar as capacidades e interesses
demonstrados pelos filhos?
Procuro conversar sobre tudo com ela, e sobre os estudos principalmente,
sou professora, sei como é um aluno com problemas de aprendizagem. Minha filha
não tem problemas para aprender, ela não está motivada para estudar. Sei que isso
tem a ver
comigo e com o pai dela. pedi a ele que pelo menos a trate com
respeito, que é o mínimo que um filho merece. Ela o ama, mas ele enxerga a
bebida, destruiu nossa família e percebe que está acabando com nossa filha.
82
Tenho tentado estudar junto com ela, mas enfrento dificuldades, sou
professora de séries iniciais e já faz muito tempo que não vejo o que ela está
estudando. Não tenho condições de pagar aulas particulares, pago aluguel, escola
particular e terapia para Lúcia, o que sobra é para alimentação. Faço todo o possível
para não deixar faltar nada para ela.
5) Qual a relação mantida com a escola, os professores, tendo em vista o
rendimento e a participação dos filhos nas atividades escolares?
83
ANEXO
84
ANEXO A - Autorização
85
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