
FABULARIO
101
Enlaçou-a, prendeu-a nos braços, ia beijá-la, mas
a donzella escapou-se-lhe ligeira, em gritos
assustados.
Lesta, chegou á margem, foi-se ribanceira
acima, e, sem pensar na nudez em que se achava,
deitou a correr fugindo ao ransor ousado.
Corria o Zephiro mal lhe acompanhava os
passos e, seguindo-a, com ânsia, lá ia o namorado e,
pós elle, em cachoes convulsos e atropelladas ondas
espumantes, o rio, alagando campos e convalles,
circumvagando cerros, encharcando pacigos,
assolando pomares.
Entrou a nympha em uma caverna, cujo
labyrintho descia pela terra a dentro ; seguiu-a
Alpheu e, com elle, sepultaram-se as aguas
fragorosas. Adiante reappareceram á luz.
Arethusa chegara á praia, ante o mar immenso,
sem uma vela, apenas com as alcyones volti-vagas.
Voltou-se a nympha e viu ao longe Alphen.
Então, intrepidamente, metteu-se ao mar. Deu-
lhe a vaga no ventre, chegou-lhe ao seio, subiu-lhe a
garganta, Estirou-se, poz-se a nadar e, graças á
Dictynna, a casta irman de Apollo, abordou á ilha
de Ortygia, perto de Syracusa, e ali Diana, para
defendê-la, tocou-a de leve.
Metrificou-se-lhe o corpo, mudaram-se-lhe os
cabellos em cannas sussurrantes, os olhos torna-
4